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  • Histria do Brasil Repblica

    Roberto Sousa Santos

  • Jouberto Ucha de MendonaReitor

    Amlia Maria Cerqueira Ucha Vice-Reitora

    Jouberto Ucha de Mendona JniorSuperintendente Geral

    Ihanmarck Damasceno dos SantosSuperintendente Acadmico

    Eduardo Peixoto RochaDiretor de Graduao

    Jane Luci Ornelas FreireGerente de Educao a Distncia

    Ana Maria Plech de BritoCoordenadora Pedaggica de Projetos Unit EAD

    Lucas Cerqueira do ValeCoordenador de Tecnologias Educacionais

    Equipe de Produo de Contedos Miditicos:

    AssessorRodrigo Sangiovanni Lima CorretoresAncjo Santana ResendeFabiana dos Santos

    DiagramadoresAndira Maltas dos Santos Claudivan da Silva SantanaEdilberto Marcelino da Gama Neto Edivan Santos Guimares

    IlustradoresGeov da Silva Borges JuniorMatheus Oliveira dos Santos Shirley Jacy Santos Gomes

    WebdesignersFbio de Rezende CardosoJos Airton de Oliveira Rocha JniorMarina Santana MenezesPedro Antonio Dantas P. Nou

    Equipe de Elaborao de Contedos Miditicos: SupervisorAlexandre Meneses Chagas

    Assessoras PedaggicasKalyne Andrade Ribeiro Lvia Lima Lessa

    Redao:Ncleo de Educao a Distncia - NeadAv. Murilo Dantas, 300 - FarolndiaPrdio da Reitoria - Sala 40CEP: 49.032-490 - Aracaju / SETel.: (79) 3218-2186E-mail: [email protected]: www.ead.unit.br

    Impresso:Grfica GutembergTelefone: (79) 3218-2154E-mail: [email protected]: www.unit.br

    Banco de Imagens:Shutterstock Copyright Sociedade de Educao Tiradentes

    S237h Santos, Roberto Sousa. Histria do Brasil repblica. /

    Roberto Sousa Santos. Aracaju: UNIT, 2011.

    176 p.: il. : 22 cm.

    Inclui bibliografi a.

    1. Brasil - Histria - Repblica. 2. Getlio Vargas. 3. Ditadura militar. I. Universidade Tiradentes Educao a Distncia II. Titulo.

    CDU : 981.07/.08

  • Prezado(a) estudante, A modernidade anda cada vez mais atrelada ao tempo,

    e a educao no pode ficar para trs. A prova disso so as nossas disciplinas on-line, que possibilitam a voc estudar com o maior conforto e comodidade possvel, sem perder a qualidade do contedo.

    Por meio do nosso programa de disciplinas on-line

    voc pode ter acesso ao conhecimento de forma rpida, prtica e eficiente, como deve ser a sua forma de comunicao e interao com o mundo na modernidade. Fruns on-line, chats, podcasts, livespace, vdeos, MSN, tudo vlido para o seu aprendizado.

    Mesmo com tantas opes, a Universidade Tiradentes

    optou por criar a coleo de livros Srie Bibliogrfica Unit como mais uma opo de acesso ao conhecimento. Escrita por nossos professores, a obra contm todo o contedo da disciplina que voc est cursando na modalidade EAD e representa, sobretudo, a nossa preocupao em garantir o seu acesso ao conhecimento, onde quer que voc esteja.

    Desejo a voc bom aprendizado e muito sucesso!

    Professor Jouberto Ucha de Mendona

    Reitor da Universidade Tiradentes

    Apresentao

  • Sumrio

    Parte 01: A Repblica: Da espada ao perodo demo-crtico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11Tema 01: A Repblica no Brasil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13

    1.1 A proclamao da repblica e os militares no poder . . . . 14

    1.2 A Repblica dos Coronis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23

    1.3 As cidades e as fbricas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33

    1.4 As Revolues e Revoltas Republicanas . . . . . . . . . . . . . . 43

    Resumo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54

    Tema 02: Era Vargas e o Perodo Democrtico . . . . . . . . . . . . . . . . . .55

    2.1 Vargas: Do Golpe ao Estado Novo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56

    2.2 A radicalizao poltica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65

    2.3 A Vitria da democracia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73

    2.4 O colapso do populismo e o governo Jango . . . . . . . . . . . 81

    Resumo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .91

    Parte 02: A Repblica Recente: dos militares a re-democratizao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 93

    Tema 03: A Ditadura Militar no Brasil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .95

    3.1 O golpe de 1964 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 96

    3.2 O enrijecimento do regime . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 104

    3.3 A Abertura lenta e gradual do regime . . . . . . . . . . . . . . . . 114

    3.4 A Cultura: dos anos vinte ao Regime Militar . . . . . . . . . .124

    Resumo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .133

    Tema 04: A Nova Repblica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 135

    4.1 A redemocratizao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .136

    4.2 O Incio da Democratizao: Governos de Jos Sarney . 144

    4.3 A Consolidao da Democracia: de Fernando Collor a FHC . . 154

    4.4 O Governo de Luis Incio da Silva . . . . . . . . . . . . . . . . . . 164

    Resumo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .172

    Referncias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 173

  • Concepo da Disciplina

    Ementa

    A Repblica no Brasil: A proclamao da re-pblica e os militares no Poder; A repblica dos coronis; As cidades e as fbricas; As revoltas re-publicanas. Era Vargas e o Perodo Democrtico: Vargas: Do Golpe ao Estado Novo, A Radicalizao da Poltica, A Vitria da Democracia, O Colapso do Populismo e o Governo Jango. A Ditadura Militar no Brasil: O Golpe de 1964, O Enrijecimento do Regime, A Abertura Lenta e Gradual do Regime, A Cultura: dos anos vinte ao Regime Militar. A Nova Repblica: A Redemocratizao, O Incio da Demo-cratizao: Governos de Jos Sarney, A Consolida-o da Democracia: de Fernando Collo a FHC, O Governo de Luis Incio da Silva.

    Objetivos:

    Geral

    O curso privilegiar a Histria cultural e po-ltica do Brasil Repblica. A questo da cidadania ser o fio condutor, bem como os temas da cultura popular e das condies de vida da classe traba-lhadora, sempre atravs do debate em sala de aula, visando a elaborao de um pensamento crtico.

    Especficos

    Compreender a estrutura poltica e eco-nmica dentro da qual nasce a Repblica no Brasil.

  • Reconhecer a estrutura de funcionamento do governo no incio da repblica e seu papel intervencionista na economia e os interesses dos cafeicultores brasileiros.

    Distinguir a formao da classe trabalha-dora e urbana da poca.

    Identificar as relaes de trabalho e as causas da revoluo de 1930.

    Apresentar as caractersticas do governo Vargas, suas relaes polticas e a consti-tuio de 1934.

    Relacionar as condies polticas brasilei-ras que levaram ao golpe militar.

    Expor a necessidade de respeitar as dife-rentes posies polticas aplicadas pelos militares no Brasil.

    Identificar as principais caractersticas po-lticas do perodo de redemocratizao;

    Apreciar os regimes polticos democrti-cos, destacando a participao popular.

    Orientao para Estudo

    A disciplina prope orient-lo em seus proce-dimentos de estudo e na produo de trabalhos cientficos, possibilitando que voc desenvolva em seus trabalhos e pesquisas o rigor metodo-lgico e o esprito crtico necessrios ao estudo.

    Tendo em vista que a experincia de estudar a distncia algo novo, importante que voc

  • observe algumas orientaes:

    Cuide do seu tempo de estudo! Defina um horrio regular para acessar todo o contedo da sua disciplina disponvel neste material impresso e no Ambiente Virtual de Aprendi-zagem (AVA). Organize-se de tal forma para que voc possa dedicar tempo suficiente para leitura e reflexo.

    esforce-se para alcanar os objetivos propos-tos na disciplina.

    utilize-se dos recursos tcnicos e humanos que esto ao seu dispor para buscar escla-recimentos e para aprofundar as suas re-flexes. Estamos nos referindo ao contato permanente com o professor e com os co-legas a partir dos fruns, chats e encon-tros presenciais. Alm dos recursos disponveis no Ambiente Virtual de Aprendizagem AVA.

    Para que sua trajetria no curso ocorra de forma tranquila, voc deve realizar as atividades propostas e estar sempre em contato com o professor, alm de acessar o AVA.

    Para se estudar num curso a distncia deve-se ter a clareza que a rea da Educao a Distncia pauta-se na autonomia, responsabilidade, coopera-o e colaborao por parte dos envolvidos, o que requer uma nova postura do aluno e uma nova forma de concepo de educao.

    Por isso, voc contar com o apoio das equi-pes pedaggica e tcnica envolvidas na operaciona-lizao do curso, alm dos recursos tecnolgicos que contribuiro na mediao entre voc e o professor.

  • Parte 1

    A REPBLICA: DA ESPADA AO PERODO DEMOCRTICO

  • 1 A Repblica no BrasilBem vindo aos estudos do perodo Republicano Brasileiro.Ao estudarmos o Brasil Imprio, buscvamos entender uma po-

    ltica baseada no unitarismo, ou seja, essa necessidade vem da busca pelo entendimento e compreenso dos motivos para que o regime Republicano fosse implantado no Brasil.

    Agora estudando as fases do perodo Republicano Brasileiro, entenderemos as causas e as consequncias das polticas e acordos adotados durante esse perodo da histria do Pas. No estudo do pe-rodo republicano, analisaremos os acordos entre os grupos polticos vigentes e divergentes, que fizeram da poltica brasileira, um singular estilo de representatividade, dentro de um todo, que aqui podemos caracterizar como sistema capitalista.

    Sistema esse que dominava ou guiava as polticas de muitos pases, fazendo muitos desses se aproximarem das polticas domi-nadoras e imperialistas da Inglaterra e dos EUA, ao longo do fim do sculo XIX e incio do sculo XX.

    Ao longo da disciplina entenderemos como as polticas ado-tadas no Brasil tinham sempre nas entrelinhas o interesse de algum grupo poltico ou econmico. Deslumbraremos a estrutura dos regi-mes polticos desenvolvimentistas implantados em alguns governos, quase sempre configurados pelo sistema autoritrio ou capitalista, que tem nas transformaes e inquietaes, traado os caminhos pelo qual segue o Brasil.

  • Histria do Brasil Repblica14

    1.1 A proclamao da repblica e os militares no poder

    No final do perodo imperial muitas mudan-as ocorreram e que foram expressivas para o en-saio poltico em territrio brasileiro. As dcadas finais foram fundamentas para distinguir as mudan-as no regime poltico como: abolio da escravi-do; a perda do apoio poltico que enfraqueceu o regime imperialista e fez crescer as ideias republi-canas; a chegada da mo de obra imigrante e todas as mudanas trazidas por esses imigrantes para a produo rural e industrial no Brasil.

    Afinal a proposta do sistema republi-cano parecia ser adequada para materializar as pretenses de mudanas dessas ideolo-gias trazidas da Europa. Dando assim, fora as agitaes republicanas que fervilhavam na segunda metade do sculo XIX. Ao mesmo tempo em que o sistema Imperialista perdia apoio e legitimidade entre os poderosos grupos polticos, que se sen-tiam prejudicados pelas medidas tomadas pelo po-der imperial.

    O pensamento republicano foi surgindo no Brasil primeiramente junto s elites urbanas cario-cas e paulistas, que mesmo assim divergia quanto a alguns fatores importantes da poltica em vigor, como a escravido. Ao mesmo tempo em que dese-javam uma poltica mais centralizada e um sistema federalista, eles no chegavam a um acordo sobre o fim ou manuteno da escravido.

    Outra caracterstica do final do sculo XIX era a diviso de pensamentos sobre qual sistema re-publicano implantar no governo do Brasil, os parti-dos republicanos de So Paulo e do Rio de Janeiro, divergiam sobre as ideias republicanas, desejadas pelos militares. Todos discordavam quanto a ca-

  • 15Tema 1 | A Repblica no Brasil

    rter e ideologia do regime, e sobre as questes sociais, mas eram unnimes quanto necessidade da mudana do sistema imperial pelo republicano.

    O grupo civil ligado aos republicanos queria uma Repblica liberal, dando maior liberdade para as provncias brasileiras, sem a interveno esta-tal e com autonomia administrativa e em questes polticas. Essas ideias ficaram ainda mais claras atravs do Manifesto Republicano de 1870, lide-rados por Quintino Bocaiva (1836-1912) e Joaquim Saldanha (1816-1895), membros do partido liberal e que foi aceito por muitos profissionais liberais e autoridades descontentes com o regime imperial (SANTOS, 2008, p. 14).

    J para os militares da repblica deveria se-guir em direo a centralizar o poder poltico, ca-racterizando um maior controle poltico-administra-tivo e at mesmo civil. Contrariando as ideias do Manifesto Republicano que no desejavam uma unidade nacional centralizada no poder central, o que para muitos dificultaria o progresso do Pas.

    Aps o golpe que proclamou o fim do Imp-rio, teve incio o regime republicano, que aconteceu graas unio entre os dois projetos republicanos (civil e militar), j que nos primeiros momentos da repblica no existia ainda um modelo de repblica para se implantado no Brasil. Uma vez que existiam divergncias na forma organizacional dessa rep-blica implantada. Gerando as seguintes perguntas, qual sistema republicano seguir? Quem assumiria o poder aps a queda do imprio? E quais seriam as caractersticas dessa nova repblica?

    Um grupo de oficiais de alta patente que participaram da guerra do Paraguai, e ligados ao Marechal Deodoro da Fonseca (1827-1892), criou um imaginrio oficial dele como sendo o pai da repblica, sendo esse um ato unicamente militar,

  • Histria do Brasil Repblica16

    como se no houvesse a participao dos polticos civis da poca, e encerrando assim a Questo Mi-litar iniciada no final do regime imperial. Mas foi o controle sobre as tropas que tornou possvel a criao desse imaginrio sobre Deodoro como um heri militar.

    Esse ato fez com que o projeto dos militares tomasse forma e vez, facilitando a permanncia de Deodoro da Fonseca, a frente do novo sistema po-ltico brasileiro. Mas, em contra partida, existiam outros projetos para a repblica brasileira, entre elas a Repblica Sociocrtica de Benjamim Cons-tant (1767-1830) e a Repblica Liberal de Quintino Bocaiva, como descrito claramente no Manifesto republicano.

    Em seu projeto esse positivista ortodoxo de-fendia que a caracterstica principal de uma rep-blica, que desejava o progresso, consistia princi-palmente em substituir a hereditariedade teocrtica pela hereditariedade sociocrtica, com cada fun-cionrio determinando a escolha de seu sucessor, sempre sob a fiscalizao direta de seu superior hierrquico e da sociedade. Assim, inciou uma abertura para uma repblica onde a democracia re-presentativa deveria ser deixada de lado em nome de uma repblica ditatorial.

    A construo dos smbolos e imaginrios repu-blicanos nos anos iniciais foi de uma forma criada graas participao desse positivista no poder. Isso s foi possvel porque eles absolveram uma viso in-tegrada da histria com perspectiva sociocrtica de evoluo da humanidade e de progresso, com base na ideia de que a interpretao do passado e presen-te estava ligada, a uma evidncia do futuro, nascendo assim heris como Joaquim Jos da Silva Xavier, o Tiradentes (1746-1792), entre outros que desejavam mudanas no regime predominante no Brasil.

  • 17Tema 1 | A Repblica no Brasil

    Outro personagem importante dos ideais re-publicanos foi Quintino Bocaiva (1836-1912), que no obteve tanto status como os atores acima des-critos, uma vez que, a participao da elite civil acabou em segundo plano devido atuao dos militares, servindo apenas para legitimar o ato con-tra o imprio. Quintino Bocaiva defendia a unio entre civis e militares, e sempre foi referncia para os historiadores desde meados do sculo XIX, de-vido a sua participao efetiva na propaganda e divulgao das ideias republicanas no Brasil.

    Inicialmente o Brasil foi conduzido por um governo provisrio, liderado pelo Marechal Deodo-ro da Fonseca, desde o dia 15 de novembro de 1889, anos aps foi eleito nesse mesmo ano nas eleies indiretas, como presidente da repblica, e teve com como vice Floriano Peixoto (1839-1895).

    Os anos iniciais do seu governo foram dif-ceis, tendo que lidar com os conflitos ideolgicos acima apresentados, e mesmo assim deu incio ao governo provisrio, e da construo das institui-es republicanas que governariam esse Pas.

    Diante da crise, as presses

    polticas e sociais garantiam

    que temas da elaborao de

    uma constituio aparecesse

    com fora nas discusses na-

    cionais, ao exigir a convoca-

    o da Assembleia Nacional

    constituinte. No entanto, o

    governo provisrio, com suas

    medidas centralizadoras, con-

    seguiu que boa parte dessa

    Assembleia lhe declarasse opo-

    sio (SANTOS, 2008. p. 33).

  • Histria do Brasil Repblica18

    Esse governo provisrio e seu lder, Deodoro da Fonseca deveriam ficar no poder at a promul-gao de uma nova constituio, a primeira da era republicana, que aconteceu logo aps a proclama-o da repblica, no ano de 1891, e teve como principal nome na sua elaborao Rui Barbosa (1849- 1912), essa que ao contrrio da antecedente, teve a participao de representantes da populao brasileira, que agrupados em um Congresso consti-tuinte, objetivaram e organizaram um regime liberal e democrtico.

    Mas as estratgias do governo de Deodoro da Fonseca contrariavam o projeto da elite civil, j que seu governo se baseava na centralizao do poder. Contrariando o projeto das elites locais, que desejavam maior autonomia para os agora estados, provocando uma srie de conflitos, nas prticas do Estado e na ideia de representao poltica neces-sria para uma nao democrtica.

    A oposio no deixou barato e se organizou para eleger o vice da chapa de Prudente de Moraes (1841-1902), o Marechal Floriano Peixoto, que dis-putou contra o vice de Deodoro, o Almirante Wan-denkolk (1838-1902). Havia no ar uma forte certeza que Deodoro perderia a eleio, e alguns setores militares j preparavam um golpe para torn-lo di-tador, uma vez que o apoio da maioria das foras militares era visvel. Pensando assim, os opositores articularam-se para pelo menos eleger Floriano, e assim teve fim a eleio presidencial, que elegeu em uma chapa o Presidente e da outra o vice.

    Saindo da rea poltica e entrando em outro ponto que gerou um desgaste ainda maior no go-verno de Deodoro da Fonseca, uma vez que, graas ao plano econmico de acelerar o crescimento do Brasil, acabou gerando uma grande crise. J que o entendimento que se tinha sobre um projeto de

    Deodoro da Fonseca

    Floriano Peixoto

  • 19Tema 1 | A Repblica no Brasil

    desenvolvimento industrial passava pelo exemplo de outros pases do mundo, como o exemplo utili-zado, que foi o dos Estados Unidos.

    Esse projeto econmico, conhecido como en-cilhamento, foi implantado pelo primeiro ministro da economia do Brasil republicano, Rui Barbosa (1849-1923). Um fervoroso partidrio das ideias li-berais afasta todas as formas de polticas protecio-nismos, avaliando-as como preconceito mercanti-lista (SANTOS, 2008, p. 28).

    Com o intuito de ampliar o parque industrial brasileiro ele liberou alguns bancos a emitirem di-nheiro (confeco de papel moeda) que deveriam ser emprestados a empresrios que desejavam edi-ficar fbricas. Essa medida s foi tomada porque o capital vindo da maior fonte de renda, as fazen-das, no geravam toda a renda necessria para o ministrio da Fazenda financiar essa ampliao do parque industrial brasileiro.

    Mas a falta de controle sobre esses emprs-timos e as devidas aplicaes desses dinheiros fez muitas empresas abrirem uma linha de crdito, re-ceberem o dinheiro e no aplicarem nada na cons-truo dessas fbricas. Alm das ofertas de aes dessas empresas fantasmas nas bolsas de valores, gerando um prejuzo ainda maior para a economia do pas. Essas especulaes quando foram percebi-das, provocaram uma crise, j que os valores camu-flados eram diferentes dos valores legtimos, o que fez muitos investidores perderem muito dinheiro.

    Por outro lado, muitos foram os que conse-guiram lucrar muito com essas manobras econmi-cas, mais as perdas atingiram vrios setores entre os investidores, que iam dos mais especializados aos pequenos investidores. Assim, o otimismo deu lugar a uma crise sem precedentes na histria re-cente do Brasil.

  • Histria do Brasil Repblica20

    O resultado das emisses, po-

    rm, um desastre. Em vez

    de financiar a industrializao,

    gera um dos maiores surtos

    inflacionrias do pas e tam-

    bm desenfreada especulao

    financeira na bolsa de valo-

    res, pois o dinheiro fora des-

    viado de seu propsito inicial

    para toda a sorte de negcios,

    muitos deles fictcios. Fortu-

    nas surgiram da noite para

    o dia, enquanto a economia

    brasileira sofre violento co-

    lapso (SANTOS, 2008, p. 29).

    Junto com a insatisfao dos brasileiros com o governo de Deodoro, vieram os desagrados popula-res. Sinal de anos de dificuldades pelas quais passa-ram o governo, em meio a desafios e agitaes de ordem socioeconmicas e polticas.

    Todos esses problemas acima citados fizeram com que os rumos polticos do governo, seguido por um desgaste gerados pelas polticas e aes do go-verno provisrio, que divergiam dos interesses das elites civis, fizeram com quer as presses polticas e sociais apontassem para uma derrota nas eleies seguintes. Com os problemas na eleio, Deodoro viu sua situao ficar cada vez mais complicada, uma vez que, a discrdia com os outros setores do poder, como legislativo e judicirio estava insuportvel.

    Essa situao fez Deodoro decretar estado de sitio e dissolver o congresso ampliando ainda mais a crise, que fez crescer politicamente o nome de seu vice. Seguindo a coao civil, juntaram-se os militares descontentes com as medidas tomadas pelo presi-dente, fazendo a esquerda da Marinha, voltar-se para

  • 21Tema 1 | A Repblica no Brasil

    a capital do pas, exigindo a renncia do presidente. Essa revolta foi o que faltava para a oposio pressio-nar ainda mais Deodoro e, no dia 23 de novembro de 1891, ele renunciou ao cargo de presidente do Brasil, assumindo seu vice, o Marechal Floriano Peixoto.

    Com a renncia de Deodoro da Fonseca, Floria-no assume o poder, levando junto para cargos impor-tantes um grupo de polticos ligados ao PRP (Partido Republicano Paulista), essa aliana garantiu a abertu-ra para as elites civis chegar ao executivo nas eleies consequentes.

    Com a chegada de Floriano ao poder, alguns governadores indicados por Deodoro foram depostos, j que o tinham apoiado na dissoluo do congresso. Essas mudanas chegaram at mesmo ao poder judi-cirio e as assembleias legislativas dos estados, onde muitos foram substitudos por polticos da situao. Muitos foram substitudos por bancadas aliadas nos estados, mas essa situao causou uma revolta, essa ocorreu no Rio Grande do Sul, chamada a Revol-ta Federalista, uma pedra no sapato do governo de Floriano, que foi solucionada pela fora da presena militar na defesa do papel principal dos militares no controle das revoltas ocorridas no perodo.

    Aps organizar suas bases aliadas nos esta-dos, Floriano comeou a pensar na sucesso, indi-cando para isso Prudente de Moraes, que tinha sido um aliado no episdio do contragolpe das eleies passadas. Mas essa eleio acabaria com toda a organizao poltica nacional e nos estados, cons-truda por Floriano, favorecendo seu grupo, mesmo sendo contrrias as organizaes e arrumaes pol-ticas feitas por Floriano, j que o grupo dos Jacobi-nos (grupo formado por aliados de Floriano ou PRF partido republicano florianistas) defendia a manu-teno dessas condies e acordos. Mesmo assim Prudente de Moraes chega ao poder em 1894.

  • Histria do Brasil Repblica22

    INDICAO DE LEITURA COMPLEMENTAR

    Para obter maiores informaes sobre esse perodo de transio consulte o captulo A crise do Imprio Brasileiro, do livro Histria do Brasil

    FAUSTO, Boris. Histria do Brasil. So Paulo: Edito-ra da Universidade de So Paulo, 2009.

    Nesse captulo do livro, Boris Fausto faz uma anlise narrativa dos principais fatos ocorridos nos cenrios po-lticos, econmicos, administrativos e sociais do Brasil.

    Outras informaes sobre o perodo de transio, como o evento da proclamao, que narra uma su-posta crise de identidade no momento da transi-o, voc pode encontrar no tema I, intitulado As Repblicas do livro Histria do Brasil Repblica.

    SANTOS, Walderfrankly Rolim de Almeida. Histria do Brasil Repblica. Aracaju: Unit, 2008.

    Nesse livro, o autor faz uma discusso sobre as con-sequncias e as dvidas que nascem em um momen-to de transio, que nesse caso se resume a passa-gem do perodo Imperial para o perodo Republicano.

    PARA REFLETIR

    Aps a realizao da leitura desse contedo e dos textos complementares sugeridos, voc entende que a Repblica era uma necessidade? Compartilhe suas concluses com seus colegas e oua as deles.

  • 23Tema 1 | A Repblica no Brasil

    1.2 A Repblica dos Coronis

    Com a vitria de Prudente de Moraes uma nova era se inicia no Brasil. A repblica dos coro-nis, um momento da histria que evidenciou o carter ruralista da nossa sociedade. Assim, temos em destaque indivduos que mantinha uma parte da populao sobre seus domnios, deixando as caractersticas democrticas de uma repblica bem longe da realidade desse povo interiorano. Sua eleio sinaliza a chegada da oligarquia ao poder, substituindo dessa forma o poder militar, que ini-cialmente governava o Brasil.

    Durante o incio de seu governo, Prudente de Moraes sofreu uma dura oposio do grupo conhe-cido como Jacobinos, principalmente com a diviso dos representantes dos estados no congresso, en-tre os que o apoiavam e os opositores, dificultando seus planos governamentais. Os seus quatro anos de governo foram marcados por uma srie de agi-taes poltico-partidria e com algumas revoltas como Canudos e a Federalista.

    Nos anos de seu governo Prudente de Mo-raes lutou para resolver esses levantes e contra os seus opositores, principalmente ligados a Floriano, e alguns ainda ligados as ideias monarquistas. Ao longo dos anos foi tomando medidas para diminuir a presena dos florianistas e as prprias medidas do ex-presidente, como o caso de seu vice que era um defensor das ideias de Floriano Peixoto. Essas medidas acabaram beneficiando os cafeicultores, que aos poucos foram retirando os militares da jo-gada e levando o governo o mais prximo possvel das necessidades desse grupo civil.

    Outras medidas positivas de seu governo fo-ram operao financeira conhecida como fun-ding loan, onde renegociou a divida externa brasi-

  • Histria do Brasil Repblica24

    leira, facilitando a busca de crdito para os novos projetos dos cafeicultores.

    Prudente de Moraes acaba tendo que se afas-tar do poder, por causa de uma cirurgia, passando ao seu vice o poder. Mas retorna renovado, e toma novas medidas. Essas medidas tambm foram uma manobra, j que as lutas contra a oposio e a crise gerada pelas derrotas em Canudos tinham ge-rado um grande estrago poltico. Esses desgastes no conseguiram bilhar nem mesmo aps a vitria sobre os insurgentes de Canudos, o que fez a sua deteriorao poltica cada vez mais evidente.

    Mas Prudente usufrua de uma grande notorie-dade junto s classes sociais, e at mesmo poltica, quando um grupo de polticos comea a defender seu governo, junto aos opositores, o grupo dos jacobinos. E logo no final do ano de 1898 passa o cargo para Cam-pos Sales (1841-1913), seu sucessor, eleito na eleio daquele mesmo ano e aliado nas buscas por mudanas polticas e um poltico ligado as oligarquias cafeicultoras.

    Iniciando um perodo de ordem e estabilidade para a repblica, o presidente Campos Sales conse-gue organizar o Congresso Nacional, mesmo perante um congresso fragmentado ele busca o apoio da ban-cada federalista de outros estados, graas doutrina de organizao da poltica em um sistema federalista, em que o governo federal, passou a reconhecer os domnios oligrquicos de grupos que vencedores das disputas locais, mas que em compensao determina-va uma aliana com o poder central.

    Nessa mesma poca alguns instrumentos legais foram criados para facilitar a manuteno dessa poltica importantssima, para manter esses grupos oligrquicos no poder. Por exemplo, pode-mos citar o voto aberto que facilitou a prtica co-nhecida como voto de cabresto que era muito sutil, facilitando as manipulaes, como a compra e

  • 25Tema 1 | A Repblica no Brasil

    as trocas de favores, em troca dos votos para os candidatos ligados aos coronis. O processo era to frgil que os coronis designavam capan-gas para os locais de votao, assim verificando se as pessoas beneficia-das ou que esta-vam sobre sua proteo votariam realmente nos seus candidatos. E desta forma, Vilaa descreve os coronis do nordeste brasileiro:

    Foram donos de vastas exten-ses de terra, de numerosos rebanhos, de muitos outros negcios. Tornaram-se os chefes patriarcais de famlias estendidas, englobando toda a parentela e inmeros outros agregados, alm de constan-temente ampliadas pelos afi-lhados gerados nos muitos compadrios. Tiveram a seu servio milcias de capangas, prepostos de suas vontades. Comandaram o processo po-ltico pelo controle quase completo, em suas reas de influncia, das eleies. Con-solidaram-se, com o tempo, como senhores absolutos, in-contestados, donos tambm do comrcio, da indstria local (VILAA, 2003, p. 26).

  • Histria do Brasil Repblica26

    Essas medidas antidemocrticas eram co-muns em muitas reas rurais, mas tambm acon-teciam nas cidades e at mesmo nas capitais dos estados. Formando verdadeiros currais eleitorais, onde as pessoas que tinham direito a votar eram tratadas como animais que como no serto eram conduzidas para os currais para serem controladas, e assim no se dissiparem pelos pastos.

    Todos esses absurdos acabaram estabele-cendo a supremacia de alguns setores da economia nacional sobre a poltica brasileira, que desejavam levar a poltica a esse momento. Esse grupo forma-do por grandes proprietrios de terra e fazendeiros, ligados ao PRP (Partido Republicano Paulista) e o PRM (Partido Republicano Mineiro), dando incio a poltica conhecida como caf-com-leite. Essa polti-ca ligada diretamente poltica dos governadores, assim dominando os outros setores da sociedade e economia brasileira.

    Rodrigues Alves (1848-1919) foi o sucessor de Campos Sales e governou o Brasil pensando na am-pliao das exportaes do caf que teve um signi-ficativo aumento da produo durante seu mandato. Isso resultou essencialmente da ampliao da pro-duo do estado de So Paulo, que passou a exigir uma infraestrutura melhor para escoar essa crescen-te produo, que utilizava o porto de Santos. Tudo isso facilitado pela queda na produo de alguns importantes concorrentes da poca, mais que foram beneficiados pelo convnio de Taubat.

    O convnio de Taubat foi uma poltica de valorizao do caf, pensado em um encontro dos trs maiores estados produtores do pas, sendo eles So Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, es-tados esses que tambm dominaram a poltica do caf-com-leite. Essa poltica mantinha o preo do caf artificialmente alto, beneficiando assim os pro-

  • 27Tema 1 | A Repblica no Brasil

    dutores de caf, tentando diminuir a produo, coi-sa que no ocorreu. Sendo mantida uma crescente produo, o governo foi obrigado a pegar emprs-timos para continuar comprando o caf excedente.

    Outra caracterstica muito importante do go-verno de Rodrigues Alves foi a reurbanizao da ca-pital federal e a revolta da vacina. Essas medidas foram tomadas pensando na melhoria da estrutura sanitria e na conteno de uma srie de epidemias que estavam ocorrendo na cidade do Rio de Janeiro.

    Seu sucessor foi Afonso Pena (1847-1909), que foi eleito quase que unanimemente pelos polticos da base aliada do sistema poltico do caf-com-leite. Ele foi responsvel pela primeira compra de caf, modernizao do exrcito e marinha. E um grande visionrio e investiu muito na ampliao da malha ferroviria nacional, alm de ter composto um minis-trio com muitos intelectuais da juventude urbana, o que lhe rendeu uma crise com as oligarquias tradi-cionais, que fizeram que sua indicao para seu su-cessor no fosse aceita por essa poltica oligrquica.

    Com seu falecimento em meio a crise para sua sucesso, foi empossado Nilo Peanha (1867-1924), que era seu vice na eleio de 1906, go-vernando at 1910. Seu governo foi todo marcado por mudanas na educao, na agricultura e nas relaes exteriores, e pela crise poltica, causada pela suas desavenas com membros do partido re-publicano conservador. Mesmo abalado com a crise poltica, conseguiu eleger seu sucessor, o Marechal Hermes da Fonseca (1855-1923), que disputou essa eleio contra Rui Barbosa.

    Segundo Santos (2008), nesse processo elei-toral conhecido como poltica da salvao, Minas Gerais deveria sugerir o nome do prximo presi-dente da Repblica, mas Pinheiro Machado (1851-1915) do PRR queria um candidato que seduzisse

  • Histria do Brasil Repblica28

    os interesses do governo Central, assim indicou Rui Barbosa, j que o candidato de Minas Gerais, Joo Pinheiro (1860-1908), no empolgava muitos pol-ticos da poca. Ainda tinha um terceiro nome, o Marechal Hermes da Fonseca que, depois de muitos acordos e desacordos acaba sendo o nome indica-do e vence a eleio para ser o novo presidente da repblica.

    Esse retorno dos militares ao poder carac-teriza o retorno dos valores compartilhados pelos militares, dando incio a uma poltica de destruio das foras e atuaes das oligarquias locais, frag-mentadas na disputa poltico que no teve o final desejado. Afinal, a poltica da salvao deu incio crise, que tiraria as oligarquias do poder central da repblica do Brasil.

    A fragmentao das oligarquias ampliou o po-der central no Brasil, fortalecendo o sistema fede-rativo brasileiro, todavia, a centralizao trazia um problema quanto capacidade de impedindo um revezamento nesse poder. A poltica da salvao teve incio no estado de So Paulo e seguiu para o nordeste, mas sua mais danosa atuao foi o isola-mento poltico de Pinheiro Machado, o homem que articulou a vitria de Hermes da Fonseca ao poder.

    Essa situao fez Jos Gomes Pinheiro Ma-chado (1851-1915) apoiar alguns levantes, principal-mente no nordeste, onde ficou famosa a figura de Padre Ccero Romo Batista (1844-1934), um dos aliados dessas oligarquias nordestinas, dando in-cio Revolta de Juazeiro no estado do Cear. Um confronto entre as oligarquias locais e as tro-pas federais, motivado pela poltica de interveno do poder central nas polticas estaduais nos anos seguintes a eleio de Hermes da Fonseca. Essa luta contra Padre Ccero, Pinheiro Machado e as oligarquias que o apoiavam, acabou derrotando os

  • 29Tema 1 | A Repblica no Brasil

    interesses e o candidato da presidncia ao governo do estado do Cear.

    Essa poltica da salvao inciou um reveza-mento entre polticos nos estados, principalmente do nordeste, acabando com o domnio das velhas e poderosas oligarquias desses estados. Mas, em alguns casos, essa poltica foi conflitante uma vez que, o governo retira uma oligarquia e acaba colo-cando outra com caractersticas oposta no poder, passando a exercer sua fora de modo a contraria os interesses do governo central, ou simplesmen-te substitui um grupo oligrquico. Por outro com as mesmas caractersticas. Funcionando como uma troca e no uma mudana no domnio oligrqui-co local.Outro importante processo eleitoral para presidente ocorreu em 1922, quando ainda ocorria no Brasil uma forte crise regional, j que as medi-das da poltica da salvao haviam agravado essas tenses entre os interesses regionais, quando se tratava da presidncia da repblica. So Paulo e Minas continuavam aliados, mas agora os outros estados emergentes na poltica queriam seu lugar no governo central.

    Iniciando dessa forma a chamada reao re-publicana, movimento em que esses estados lan-ariam um candidato presidncia da repblica, sendo ele Nilo Peanha, contra o candidato de So Paulo e Minas, Arthur Bernardes (1875-1955). Essa manobra dos mineiros e paulistas tinha como prin-cipal objetivo garantir um retorno s velhas prticas da poltica de valorizao do caf e aos mtodos da poltica dos governadores.

    Essa tentativa de controle da mquina pbli-ca foi demonstrada na campanha poltica e houve vrias tentativas de evitar a vitria do candidato dessas oligarquias, at mesmo carta falsa, publica-da em jornal, onde ofensas a Hermes da Fonseca

  • Histria do Brasil Repblica30

    foram atribudas a Arthur Bernardes. Ainda assim no foi possvel deter o poder das velhas oligrqui-cas, que acabou elegendo Arthur Bernardes para a presidncia da repblica em 1922.

    Em seu governo, Arthur Bernardes agenciou as exclusivas alteraes da Constituio de 1891. Outras situaes nada agradveis vividas por ele na presidncia foram a guerra civil no Rio Grande do Sul, aps a eleio de Antnio Augusto Borges de Medeiros (1863-1961) pela quinta vez sucessiva, as perseguies polticas contra seus opositores e os movimentos operrios, que se enraizavam nova-mente nos centros urbanos como So Paulo. Seu sucessor foi Washington Lus (1869-1957) e sua es-colha foi vista como a soluo para os impasses e agitaes do governo anterior.

    Segundo Fausto (2009), Washington Lus so-lucionou boa parte desse caos poltico ao anistiar os presos polticos do governo de Arthur Bernardes. Alm de uma economia mergulhada em uma crise interna e externa muito grande, principalmente devi-do a uma diminuio nas exportaes causadas por essa dificuldade mundial, encarou essa crise interna-cional que culminou na crise de 1929. Crise essa que afetou as exportaes de caf do Brasil, tendo tam-bm que lidar com a falta de capital e emprstimos para as melhorias necessrias no pas.

    Na rea poltica diminuiu a atuao do es-tado de stio, implantado por Arthur Bernardes. Apenas alguns estados continuaram sobre esse sis-tema, por causa da coluna Prestes. Mas um dos fatores mais importantes foi a reforma nos siste-mas econmicos e monetrios, que ficou sobre a responsabilidade do seu primeiro ministro Getlio Vargas (1882-1954).

    Mas, politicamente, sua maior crise ficou para o final, quando teve que enfrentar o duro processo

  • 31Tema 1 | A Repblica no Brasil

    eleitoral de 1929, em meio a uma crise econmica e poltica gerada pelo colapso da poltica do caf-com-leite, j que era a vez de Minas ter indicado um nome para a presidncia, mas Washington Lus indica para sua sucesso Jlio Pestes (1882-1946), criando assim uma tenso, j que Minas, Paraba e Rio Grande do Sul no aceitavam essa ruptura do sistema poltico e do acordo entre So Paulo e Minas Gerais.

    Essa eleio vencida por Jlio Prestes no lhe garantiu o poder, j que antes de assumir um levante derrubou Washington Lus do poder. Esse levante armado foi liderado pelos estados acima citados e que fizeram oposio a eleio de Jlio Prestes. Com a vitria da oposio instala-se um governo provisrio, chefiado por Getlio Vargas.

    INDICAO DE LEITURA COMPLEMENTAR

    Para saber mais sobre o perodo oligrquico, leia o captulo A primeira repblica, do livro Histria do Brasil.

    FAUSTO, Boris. Histria do Brasil. So Paulo: Edito-ra da Universidade de So Paulo, 2009.

    Essa parte do livro aborda as lutas polticas para essas oligarquias dominarem o panorama poltico nacional, e os acordos e conchaves para se manter no poder durante as dcadas iniciais do perodo Republicano.

  • Histria do Brasil Repblica32

    Para entender o fenmeno coronelismo no Brasil, principalmente no Nordeste brasileiro, leia o livro Coronel, Coronis: apogeu e declnio do corone-lismo no Nordeste que trata desse grupo hege-mnico.

    VILAA, Marcos Vincius; ALBUQUERQUE, Roberto Cavalcanti de. Coronel Coronis. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003.

    Esse movimento dos grandes proprietrios de ter-ra do interior do Brasil, foi fortemente sentido na regio Nordeste, graas s dificuldades da popu-lao, aliadas ausncias do Estado, fizeram des-ses proprietrios grandes interventores da ordem vigente.

    PARA REFLETIR

    Aps leituras sobre a trajetria do coronelismo no Brasil, em especial na regio nordeste, o que voc pensa sobre esse movimento brasileiro? E como voc analisa as aes desse grupo na poltica na-cional? Aps reflexo discuta com seus colegas e oua as crticas feitas por eles.

  • 33Tema 1 | A Repblica no Brasil

    1.3 As cidades e as fbricas

    A partir desse momento, caro aluno, vamos analisar juntos os acontecimentos socioeconmicos que deram incio formao da populao urbana e rural brasileira.

    Em meados do sculo XIX, o Brasil tornou-se um dos maiores receptadores de imigrantes do mun-do, assim como os Estados Unidos, Canad, Argen-tina e outros pases. Muitos desses imigrantes eram de origem europeia ou asitica e buscavam novas oportunidades de vida e de trabalho, alm dos que sonhavam com uma ascenso social, impossvel de ser alcanada em suas terras de origem.

    Estima-se que aproximadamente quatro mi-lhes de imigrantes tenham chegado ao Brasil at a dcada de 1930. Sabendo que os perodos mais mo-vimentados dessas imigraes esto concentrados em anos anteriores emancipao poltica dos ne-gros e durante o processo oficial, que fazia parte da poltica nacional de branqueamento da populao.

    A imigrao para o Brasil teve uma crise na dcada de 1910, devido primeira guerra mundial e aps esta sofre um novo surto at o ano de 1930. Muitos imigrantes passam a ir para os Estados Uni-dos, j que esse se mostrou um pas mais propcio aos interesses de ascenso dos imigrantes. Sendo a nica exceo os japoneses, pois continuaram vindo para o Brasil, lembrando que os maiores ciclos imi-gratrios para nosso pas aconteceram na dcada de 1930 e 1940. (FAUSTO, 2009, p. 275-276).

    Os imigrantes que vieram para ao Brasil es-tabeleceram-se nas regies Sul e Sudeste do Pas, sendo que alguns foram deslocados pra o campo e outros ficaram em inmeras outras cidades do litoral. Mas, o destaque maior foi dado ao estado de So Paulo que sozinho detinha mais da metade

  • Histria do Brasil Repblica34

    desses imigrantes. Afinal, esse estado era o mais necessitado de mo-de-obra nas lavouras de caf e concedeu benefcios para esses imigrantes, princi-palmente aps a emancipao dos escravos.

    Esses imigrantes eram caracterizados por indivduos vindos principalmente da Itlia, Portu-gal, Espanha, Japo, Alemanha entre outros. Muitos desses grupos de imigrantes no seguiram para o campo e foram responsveis pelo inchao das cidades brasileiras no sculo XX. Tornando-se ini-cialmente funcionrios, profissionais liberais e at mesmo comerciantes e empresrios.

    Os italianos foram a principal mo-de-obra uti-lizada nas lavouras de caf de So Paulo, mesmo com a no fixao de muitos deles nas atividades camponesas. Muitos desses italianos vieram para o Brasil, principalmente por causa das pssimas con-dies de vida daquele pas. O fluxo de imigran-tes italianos s foi quebrado pelo Decreto Prinetti (1902), que passou a proibir as polticas brasileiras de captao de italianos para trabalharem no Brasil.

    J os portugueses se concentraram nas cida-des, principalmente So Paulo e Rio de Janeiro, que ofereciam melhores condies de trabalho, por cau-sa do seu comrcio e parque industrial. J acostu-mados com as inovaes tecnolgicas trazidas pela revoluo industrial, esses imigrantes obtiveram al-guns privilgios na indstria nacional, destacando-se da populao local, que no tinha qualificao. Mas no s no cenrio econmico podemos desta-car os imigrantes, foram vrias as suas contribui-es no campo cultural, costumes e alimentao.

    No campo, os imigrantes inicialmente foram submetidos s piores condies de trabalho, devi-do principalmente s prticas desses, anteriormen-te ligados ao escravismo. Essas prticas resulta-ram em condies subumanas geraram inmeras

  • 35Tema 1 | A Repblica no Brasil

    denncias dos representantes italianos no pas e geraram o Decreto Prinetti, citado anteriormente.

    Mas as condies no campo no foram de todo uma calamidade, muitos desses imigrantes conseguiram se tornar proprietrios rurais, alguns deles grandes proprietrios ao longo do tempo. Muitos se tornaram pequenos proprietrios de terras e passaram a viver da agricultura de sub-sistncia, que atende at hoje o mercado interno brasileiro. Tudo isso ligado ao papel econmico brasileiro da poca, que simbolizava a tendncia agrcola brasileira.

    No perodo final do Imprio e incio do per-odo republicano, o Brasil era predominantemente agrcola, o que caracteriza um perodo de poucas mudanas nas cidades, mas quando o assunto o campo as mudanas so significativas. Afinal, nes-se perodo, mais da metade da populao era rural e vivia ligada s atividades agrcolas.

    Outra parte da populao estava nas cidades, mas boa parte estava ligada s atividades de baixa produtividade, ligadas principalmente aos servios domsticos, ou aos trabalhos temporrios, principal-mente nas indstrias, comrcios e nos portos. Essas na maioria ligadas ao comrcio exportador cafeeiro, e a outras atividades internas, tambm utilizavam muita mo-de-obra qualificada e no qualificada, sendo esse ltimo predomnio no Brasil.

    Segundo Boris Fausto (2009), outra caracte-rstica desse processo foi o crescimento econmico no estado de So Paulo, principal foco das ativida-des econmicas do pas. Afinal, foi nesse estado que teve incio o movimento capitalista nacional, que passou a enxergar no caf a soluo para a entrada do Brasil na economia mundial. Mas no podemos esquecer que esses capitalistas tambm investiram em outros setores econmicos.

  • Histria do Brasil Repblica36

    O predomnio das oligarquias, em especial a cafeeira no poder, assegurou nos momentos de cri-se, as rendas para esses cafeicultores continuarem desenvolvendo suas atividades, que dependiam das oscilaes dos preos e do comrcio interna-cional e das bolsas de valores.

    Podemos entender melhor o

    crescimento econmico e as

    mudanas sociais ocorridas

    sobretudo no Centro-Sul do

    pas, analisando um pouco da

    histria regional. O estado de

    So Paulo esteve frente de

    um processo de desenvolvi-

    mento capitalista, caracteriza-

    do pela diversidade agrcola,

    a urbanizao e o surto indus-

    trial. O caf continuou a ser o

    eixo da economia e constituiu

    a base inicial desse processo.

    J vimos que nem tudo eram

    flores para os negcios cafe-

    eiros, mas a renda da cafeicul-

    tura foi assegurada, nos anos

    crticos de excesso de oferta e

    preos baixos, pelo apoio do

    governo paulista e, em me-

    nor medida, do governo fede-

    ral aos planos de valorizao

    (DEL PRIORE, 2010, p.236).

    Nesse processo de crise e articulao dos ca-

    feicultores com o governo central, podemos citar duas consequncias interessantes: a imigrao e a implantao do sistema de colonato. Como a

  • 37Tema 1 | A Repblica no Brasil

    imigrao j foi anteriormente analisada, agora va-mos ponderar sobre o colonato, que veio substituir o sistema de parceria, que havia fracassado por vrios motivos, entre eles os maus tratos sofridos pelos trabalhadores imigrantes e as constantes de-nuncias vindas desses e do governo italiano.

    No sistema de colonato, a responsabilidade sobre a produo era transferida para as famlias de imigrantes, agora chamados de colonos. Esses ficavam responsveis pela produo cafeeira, des-de o cuidar at a colheita, e o pagamento dependia da produo.

    Saindo do campo e agora entrando nas mu-danas urbanas, podemos dizer que todas as cida-des tiveram um crescimento enorme, mas nenhuma delas chegou perto da ocorrida no Rio de Janeiro e, principalmente, So Paulo. Ambos comearam a receber um fluxo cada vez maior de imigrantes e migrantes, vindos de vrias regies do pas. Afinal, a cidade tinha um vasto campo para as atividades comerciais e industriais, o que oferecia a todos in-meras oportunidades econmicas.

    So Paulo foi o grande centro econmico do pas na poca. Concentrando muitos dos negcios ligados importao, que seguiam depois para v-rias regies e reunia muitos setores ligados expor-tao, principalmente do caf, que saiam pelo porto de Santos. Alm de ser o local escolhido por impor-tantes bancos, empresas e reparties pblicas.

    A partir de 1886, So Paulo

    comeou a crescer em ritmo

    acelerado. A grande arranca-

    da se deu entre 1890 e 1900,

    perodo em que a populao

    paulista passou de 64.934 para

    239820 habitantes, registrando

  • Histria do Brasil Repblica38

    uma elevao de 260% em dez

    anos, a uma taxa geomtrica

    de 14% de crescimento anual.

    Em 1890, So Paulo era a quin-

    ta cidade brasileira, abaixo do

    Rio de Janeiro, Salvador, Recife

    e Belm. No incio do sculo

    chegaria ao segundo lugar, em-

    bora ainda muito distante dos

    688 mil habitantes da capital

    da Repblica. Em comparao

    com o Rio de Janeiro, So Pau-

    lo continuava a ser apenas a

    capital de uma grande provn-

    cia. (DEL PRIORE, 2010, p.237)

    Esses fatores fizeram com que a populao paulista se multiplicasse em apenas algumas dca-das, fazendo com que So Paulo sasse da quarta posio entre as maiores cidades do pas e passas-se a ser a segunda maior cidade do Brasil. Fato que gerou inmeros problemas populacionais bsicos, como saneamento, transporte, sade pblica, de-semprego entre outros.

    Antes mesmo do incio do perodo republica-no, alguns partidos j pensavam na defesa de pol-ticas sociais, j que esses estavam ligados s ideias socialistas que comeavam a permear a Europa. Es-ses projetos organizaram partidos e sindicatos nas principais cidades do pas, mudando radicalmente muitos jornais e pensamentos da intelectualidade da poca. Sem contar que com o fim do escravis-mo, novos elementos sociais surgiram no cenrio urbano, sendo esses trabalhadores, caracterizados pelos operrios e suas ligaes com os sindicatos.

    Segundo Del Priore (2010), a primeira cidade a ter um grande crescimento industrial no Brasil foi

  • 39Tema 1 | A Repblica no Brasil

    o Rio de Janeiro, que tambm foi a primeira cidade a ver acontecer uma manifestao do movimento operrio brasileiro, desmistificando a ideia sobre esses dois processos terem nascidos em So Pau-lo. Afinal, o processo de industrializao paulista aconteceu nas dcadas iniciais do sculo XX. Essas fbricas de tecido, calados, chapus, cermica e vidro, fizeram nascer os primeiros sindicatos, que surgiram das novas ideias polticas que chegaram ao Brasil no perodo.

    Os sindicatos foram surgindo durante o pe-rodo republicano, quando as ligas operrias co-mearam a seguir a industrializao. Os sindicatos comearam a usar a nica arma disponvel para eles naquele momento, a greve, que acabou sen-do a principal bandeira na hora de reivindicar seus direitos. Infelizmente os sindicatos no consegui-ram melhorias significativas com essas greves.

    Foram muitas as paralisaes reivindicatrias que buscavam melhores condies de trabalho e salrios. Fazendo surgir outra tendncia nos movi-mentos sindicais suavizados, esse de carter mais radical e que desde seu nascimento na Europa, j trazia o desejo de mudanas rpidas, isto , o anar-quismo. Esses sindicatos no tinham interesses po-lticos, ento no formaram partidos, j que no desejavam participar de discusses parlamentares, o desejo dos anarquistas era mudanas sociais e trabalhistas radicais.

    Os anarquistas enxergavam o Estado, inde-pendente da classe que estivesse no poder, como repressiva. Afinal, era um sistema de domnio e para eles deveria ser substitudo por associaes naturais, como as cooperativas ou comunas de tra-balhadores. Mas o anarquismo foi um movimento que fez ampliar os movimentos sindicais no Brasil, apesar do seu declnio anos depois.

  • Histria do Brasil Repblica40

    Entrando novamente no cenrio econmico, vamos analisar agora a industrializao no Brasil. De onde vieram os capitais iniciais da industriali-zao brasileira? De onde saram nossos primeiros empreendedores industriais?

    Temos que entender claramente que a in-dustrializao referida nesse perodo histrico teve incio no Rio de Janeiro, afinal essa era a capital federal do Brasil, e com certeza o palco financeiro do pas. Somente, depois de vrios anos que So Paulo passa a ter um parque industrial maior que o carioca. A indstria, nesse momento histrico, es-tava espalhada entre os quatro mais importantes estados do pas, Rio de Janeiro, Minas Gerais e So Paulo e Rio Grande do Sul, e economicamente a in-dstria era modesta, mas como o caf estava dan-do lucros significativos, nasce o interesse destes novos investidores capitalistas.

    Os fazendeiros paulistas comearam a investir os lucros na compra de maquinrio, apenas como um complemento da produo. Como os cafeicul-tores, para beneficiar o caf, o produtor de algodo investia em fiaes, entre outras atividades. Mas foi a lucrativa produo do caf que garantia um lucro significativo para a economia local, desenvolvendo o mercado consumidor e gerando a necessidade de mercadorias, aliadas a abundncia de recursos e matrias-primas, tudo isso faz aparecer uma srie de oportunidades de investimentos.

    A prosperidade tambm estava ligada vinda de imigrantes para o Brasil. Muitos deles ascenderam socialmente e tornaram-se importantes empresrios nacionais. Mas, tudo isso graas aos lucros advindos das produes recordes e do lucro do caf. Porque do lucro? Muitas vezes essas superprodues geravam prejuzos por causa da oferta, ento a nica sada dos cafeicultores era investir e assim transformarem

  • 41Tema 1 | A Repblica no Brasil

    capital em mais capital, ajudando a indstria nacional a crescer e se modernizar.

    Os recursos monetrios, que deveriam ser uti-lizados na ampliao do parque industrial brasileiro, foram utilizados para a reestruturao e urbanizao das principais cidades brasileiras (Rio de janeiro e So Paulo) e para a manuteno dos recursos reser-vados para ajudar a cafeicultura em momentos de crise. Dessa forma, entendemos as causas da indus-trializao paulista ter sido lenta, comparando com outros lugares no mundo, j que essa estava sempre ligada lavoura de exportao.

    INDICAO DE LEITURA COMPLEMENTAR

    Busque mais informaes sobre essas mudanas e reestruturaes no captulo Os fazendeiros indus-triais, do Livro Uma Breve Histria do Brasil

    DEL PRIORE, Mary, VENANCIO, Renato. Uma breve histria do Brasil. So Paulo: Planeta do Brasil, 2010.

    Esse texto trata de como a industrializao paulista ocorreu de forma tardia, alm de est atrelada a lavoura agroexportadora, que nesse momento era o carro chefe da economia nacional.

    Busque mais informaes sobre essas mudanas e reestruturaes no texto Ambiguidade do movi-mento operrio, do Livro Uma Breve Histria do Brasil.

  • Histria do Brasil Repblica42

    DEL PRIORE, Mary, VENANCIO, Renato. Uma breve histria do Brasil. So Paulo: Planeta do Brasil, 2010. Esse texto traa a trajetria do sindicalismo brasi-leiro, alm das suas confuses e conflitos na busca por uma identidade prpria, entre o socialismo e o anarquismo.

    PARA REFLETIR

    Aps ter lido sobre a trajetria industrial brasilei-ra, analise as consequncias dessa industrializao para a economia nacional. Discuta com seus cole-gas e com o tutor as suas concluses.

  • 43Tema 1 | A Repblica no Brasil

    1.4 As Revolues e Revoltas Republicanas

    Durantes as dcadas iniciais da Repblica Federativa do Brasil, foram inmeras as revoltas causadas por distrbios de ordem poltica, econ-mica, religiosa ou social, fazendo desse perodo uma poca de muitas medidas extremas e absur-das, alm de muitas polticas errneas por parte do poder central e regional criada pelo coronelismo.

    Esse perodo da histria viu projetos indivi-duais serem tratados como coisa pblica e levan-do ainda mais misria e descontrole para um pas imenso e que sofria com lutas acirradas pelo poder nos estados da federao.

    J nos primeiros anos da repblica algumas revoltas tiveram uma participao macia na toma-da dos rumos polticos e sociais do pas, uma vez que elas alteraram a percepo dos rumos polticos e da condio de vida de parte da populao bra-sileira da poca.

    As primeiras rebelies republicanas foram s revoltas da armada e a primeira aconteceu j no pri-meiro governo republicano, de Deodoro da Fonseca. Essa foi a revolta da Armada, uma revolta ocorrida na capital federal (Rio de Janeiro), onde navios da Arma-da brasileira apontaram seus canhes para colocar fim em uma medida tomada por Deodoro, que dissol-veu o Congresso Nacional, violando a recm procla-mada constituio do Brasil. Essa medida dos oficiais da Marinha do Brasil acabou originando a renncia de Deodoro e assumindo o vice, que tambm era militar, e ligado aos revoltosos, o Marechal Floriano Peixoto.

    Conforme Fausto (2009, p. 26), no demo-rou muito, e um manifesto foi entregue por ge-nerais exigindo a convocao para novas eleies, previstas na constituio que tentaram usurpar o poder, e prvia eleio para governadores. Esses

  • Histria do Brasil Repblica44

    interesses polticos divergentes, entre governistas, com o apoio do exrcito e os militares da marinha que se viam com poucos privilgios no governo de Floriano, acabaram entrando em conflito. E com o apoio do exrcito e de mercenrios americanos contratados pelo presidente foram derrotados. Essa revolta poderia ter tido uma atuao melhor se no estivesse acontecendo no Rio Grande do Sul a re-voluo federalista, forando ao exrcito a atuar em duas frentes de batalhas.

    A revoluo federalista foi outra manifestao de descontentamento que aconteceu nos primeiros anos da repblica do Brasil e teve como origem a tentativa dos polticos federalistas de acabar com o domnio do ento presidente do estado do Rio Grande do Sul, Jlio de Castilho (1860-1903).

    Essa revolta aconteceu em meio a todas es-sas alteraes polticas, que tiveram pano de fundo turbulento, caracterizado por mudanas imprevistas e enraizadas, pela abolio da escravido, pelo gol-pe republicano, pelo fechamento do Congresso, pelo estado de stio, por dois levantes da Armada e por uma cruel Guerra Civil, que a populao urbana ou-viu com espanto a notcia, em novembro de 1896, de que uma expedio de soldados tinha sido vencida pelos jagunos no interior do estado da Bahia. Dan-do incio, portanto, Guerra de Canudos. Outro importante movimento revolucionrio ocorrido nos primeiros anos da repblica, mas que agora tinha caractersticas sociais (SANTOS, 2008).

    Essa guerra aconteceu em um momento difcil para o povo daquela regio, que, ao mesmo tem-po, enfrentava a seca e as polticas de atuao do coronelismo, simbolizado por vastos latifndios e terras improdutivas. Tudo isto agravava ainda mais as condies dos sertanejos e dos ex-escravos que viviam naquela regio do nordeste brasileiro.

  • 45Tema 1 | A Repblica no Brasil

    O fenmeno sociopoltico o

    mesmo, na Zona da Mata no

    Agreste e serto: exprime-se

    pelo exerccio de uma auto-

    ridade, de um poder, de um

    domnio quase total. O que

    os distingue o mundo que

    os cerca, diverso em suas pai-

    sagens, nos modos de pro-

    duo, nos nveis de riqueza

    acumulada, nas molduras so-

    ciais, nos hbitos de viver, em

    algumas representaes ide-

    ativas (VILAA, 2003, p. 26)

    Todos esses sertanejos e ex-escravos passa-ram a seguir um homem que se dizia messias, a servio de Deus, e quem o seguisse seriam ajuda-dos por ele. Assim se inicia a atuao messinica de Antnio Conselheiro (1830-1897) em uma regio onde as mudanas s eram possveis pelo vis re-ligioso. J que na rea social era cada vez mais difcil a situao daquele povo que, sobre o dom-nio dos coronis, eram submetidos a polticas de submisso e apadrinhamento.

    Segundo Vilaa (2003), muitos no tinham esse privilgio e viviam entregues as imposies do clima e das terras ridas do serto nordestino, que devido ao atraso tecnolgico era formado por terras improdutivas e mortes, devido seca. Dessa forma, as ideias de Antnio Conselheiro comearam a persuadir essas pessoas esquecidas pelo sistema poltico brasileiro, nesse perodo representado pela repblica, que tinha acabado de retirar a monar-quia do poder.

  • Histria do Brasil Repblica46

    O arraial de Canudos foi formado aps uma grande peregrinao feita por Antnio Conselheiro por alguns estados do nordeste, inclusive Sergi-pe. Assentando-se nesse arraial que fez chamar-se Belo Monte, uma regio afastada das principais cidades da poca e que, mesmo assim, sofria com a atuao dos coronis, que eram responsveis pelas pssimas condies de vida dos sertanejos recebidos por Antnio Conselheiro e seus segui-dores, que ali criaram uma terra para produo coletiva.

    Passando a incomodar o modo de vida e atuao da regio, os coronis solicitaram uma soluo por parte do governo central, que envia tropa para acabar com essa ruptura na estrutu-ra social da regio. Alegando ideias monrquicas para justificar o envio das tropas, o governo envia homens para l, mas esses acabam sendo surpre-endidos no caminho, por jagunos ligados a Ant-nio Conselheiro, que foram avisados da chegada dessas tropas na regio.

    A. LE

    AL/

    Arq

    uivo

    Pb

    lico

    Min

    eiro

  • 47Tema 1 | A Repblica no Brasil

    Essa batalha deixou muito mais baixas nas guarnies de Canudos que nas do exrcito brasi-leiro, mesmo assim as tropas se retiraram e meses depois tentaram uma nova expedio que nova-mente foi surpreendida por uma nova leva de fan-ticos que estava preparada para defender Canudos e seu lder. Assim aconteceu na terceira expedio contra Canudos, que mais uma vez, conseguiu evi-tar a destruio do sonho de Antnio Conselheiro.

    Mas esse sonho chegou ao fim com a quarta e maior expedio enviada para destruir Canudos. Essa havia sido muito bem estruturada e no deu condies dos rebeldes resistirem ao poder arma-mentista (canhes, metralhadoras, e at mesmo granadas) dessas tropas do exrcito, que tinham como meta destruir, ou melhor, aniquilar Canudos do mapa. As tropas do exrcito foram excessiva-mente cruis, matando mesmo os que se entrega-vam ou desertavam.

    Assim chega ao fim o sonho e seu sonha-dor, as tropas, aps eliminarem as foras rebeldes, acabaram com cada casa do arraial, assim elimi-nando os vestgios de uma das maiores lutas por mudanas sociais desse pas. Canudos sempre ser um marco na luta do povo sertanejo por melhores condies de vida e por direitos sociais, negados na poca pelo sistema coronelista implantado e controlado pelas oligarquias regionais.

    Outra revolta que envolveu uma crise polti-ca e social no Brasil, a guerra do Contestado, onde a populao pegou em armas para contestar contra as medidas tomadas pelo governo do estado e cen-tral. Essa era uma regio concorrida pelos estados de Santa Catarina e Paran. Regio rica em matria-prima e terras, o que motivou as lutas polticas entre os dois estados por sua posse.

  • Histria do Brasil Repblica48

    Segundo Fausto (2009), a disputa entre os dois estados causava um grande problema para os camponeses daquela regio que enfrentavam difi-culdades na legalizao de suas propriedades, alm das polticas oligrquicas autorizarem a construo de uma estrada de ferro, que faria muitas fam-lias desses camponeses perderem suas terras, em nome do progresso da regio, ou seja, em benefcio dos coronis da regio. Essas desapropriaes das terras ampliaram ainda mais os problemas desses camponeses, que ficaram sem ter onde trabalhar.

    Outro motivo foi expulso de muitas fam-lias para a implantao de uma empresa madeireira ligada a empresa que construiria a estrada de ferro. Essa adquiriu do Estado as terras que estavam sob a posse dos colonos, mas estes, devido a contes-tao dos dois estados, no tinham documentos comprovando a posse.

    Com a ideia da criao de mundo organizado e administrado pelas leis divinas e terras para todos trabalharem, o beato Jos Maria (1878-1903) comeou a conquistar os camponeses e desempregados da re-gio e os trabalhadores que ficaram na regio aps o fim da construo da estrada de ferro. Essa que era mais uma regio pobre do Brasil e passava por mais um conflito. Dessa forma nasce mais um movimen-to messinico brasileiro, responsvel por uma guerra entre esses camponeses e desempregados que segui-ram o Beato Jos Maria e as Tropas Federais.

    Preocupados com o crescente nmero de se-guidores desse novo processo messinico, os coro-nis regionais e o governo local e central tornaram o Beato Jos Maria em um inimigo da repblica. Alegando que ele desejava desestruturar a ordem e o governo da regio, enviaram tropas para reprimir e desarticular o movimento messinico, liderado por Jos Maria.

  • 49Tema 1 | A Repblica no Brasil

    Tentando recuperar a ordem e o controle so-bre aquela regio, as tropas enfrentaram os povo-ados que passaram a no aceitar as ordens vindas das autoridades da repblica. Sendo fortemente re-primido por essas tropas, o beato Jos Maria acaba morto, mas seus seguidores no desistiram da luta, o que desencadeou uma srie de batalhas entre os camponeses e as tropas oficiais. As lutas se in-tensificaram e foi necessrio um nmero maior de soldados e melhores armamentos, como o uso de metralhadoras, canhes e at avies. Mas a guerra s teve fim com a captura de muitos dos revoltosos e a morte de muitos dos lderes, que apareceram aps a morte do beato Jos Maria.

    Outra importante revolta foi motivada por mu-danas nas relaes sociais e hierrquicas da marinha brasileira, foi chamada A revolta da Chibata. Revolta essa que ocorreu em um momento de transio, mas tambm de manuteno da ordem social vigente, com a construo inicial da repblica brasileira, essa revolta est dividida em dois momentos distintos.

    Para Boris Fausto (2009), nesse primeiro mo-mento, ou no estopim dessa revolta, podemos des-tacar o marinheiro Marcelino Rodrigues, que sofrera o castigo, ou seja, foi chicoteado (ou chibatado) por ferir um colega de farda, dentro do navio que seria o palco dessa revolta, o encouraado Minas Gerais. Essa punio acabou causando a revolta tambm dos outros marinheiros que estavam in-satisfeitos com esses castigos. No motim inicia-do pelos marinheiros liderados por Joo Cndido (1880-1969), as insatisfaes dos marinheiros que eram tratados como escravos na poca dos pe-lourinhos, por seus superiores, tornaram-se um levante que saiu do convs do encouraado Minas Gerais e chegou ao So Paulo, outro encouraado da Marinha do Brasil.

  • Histria do Brasil Repblica50

    Aps dominar alguns navios da Marinha, os revoltosos resolvem enviar uma carta ao presidente da repblica Hermes da Fonseca, estabelecendo mu-danas e atitudes para acabar com os castigos e con-dies discriminatrios como eram tratados os mari-nheiros, em sua maioria formada por homens negros.

    A situao criou um caos na cidade do Rio de Janeiro, fazendo com que muitas pessoas fugissem da capital federal, uma vez que, os revoltosos ha-viam derrotado at mesmo navios leais ao governo. Dificultando assim, a situao do presidente, que de um lado tinha os oficiais da Marinha desejando punio para os amotinados e do outro os amoti-nados que tinham os navios tomados apontando armas para a capital federal.

    Outra revolta que aconteceu na capital fede-ral, ligada movimentao da massa popular, uma vez que, abordava mudanas no modo de vida e nas tradies sociais e familiares vigentes na po-ca, foi a Revolta da Vacina.

    Essa revolta teve como percussora as condi-es de higiene, sade e de saneamento da capital federal (Rio de Janeiro) no incio do sculo XX, j que o cenrio urbano da cidade era composto por cortios, amontoados de famlias, favelas, no centro e periferia da cidade, que sem planejamento deixa-vam a capital com um panorama de desordenada e sem planejamento. Isso sem levar em considerao o crescimento constante dos ndices de doenas e mortes por epidemias como a febre amarela, tifo, peste bubnica e varola, que estava afetando boa parte da populao do Rio de Janeiro.

    Tentando melhorar essa situao, a qual se encontrava a capital federal, o presidente Rodri-gues Alves e seus assessores decidiram implantar um projeto para a melhoria do centro do Rio de Janeiro, e para isso, nomeou o mdico e sanitarista

  • 51Tema 1 | A Repblica no Brasil

    Oswaldo Cruz (1872-1917), como chefe do Departa-mento Nacional de Sade Pblica, que em conjunto com a prefeitura da cidade, deu incio a um plano para solucionar os problemas de sade pblica do Rio de Janeiro.

    Nesses projetos de urbanizao da cidade, muitos cortios e favelas seriam demolidos e seus moradores seriam alojados em favelas j existentes na periferia da cidade, sem contar as brigadas, que auxiliados pela polcia invadiam as casas para di-minuir ou erradicar os focos das epidemias. Como se isso j no fosse uma afronta ao direito civil das propriedades e seus donos, ainda veio a mais com-plicada de todas as decises desses projetos para sanear a cidade: a vacinao obrigatria.

    A vacinao obrigatria era uma forma de di-minuir as mortes e a proliferao das epidemias, mas muitas pessoas no aceitavam ser vacinadas e as brigadas tinham ordens de usar a fora, gerando uma revolta popular, que saiu s ruas depredando patrimnios pblicos e privados. Esse movimento foi ampliado com a revolta dos cadetes da escola militar.

    A situao fez necessrio que Rodrigues Al-ves, coloca-se todos os agentes militares na rua. Mas a vacinao obrigatria acabou suspensa, sen-do mais tarde administrada uma nova campanha de vacinao, agora sem a obrigatoriedade e o uso da fora policial, o que acabou surtindo um efeito positivo, j que a varola e outras doenas acaba-ram sendo erradicadas ou controladas na cidade. E a reestruturao do centro da cidade foi concluda dando a cidade um ar europeu e bomio, com o passar dos anos.

    Segundo Boris Fausto (2009), outro movi-mento populacional e urbano foi o dos tenentes, tambm conhecido como Movimento Tenentista.

  • Histria do Brasil Repblica52

    Esse era baseado em uma mudana de pensamen-to e cultura poltica durante as primeiras dcadas do sculo XX e pode ser entendido tambm como um movimento que nasceu com a crise das oligar-quias rurais, que nesse momento sofriam com o declnio de seu poder.

    O Movimento Tenentista nasceu das ideias que nasciam nas escolas militares, permeadas de ideias liberais, usadas para formar esses que se-riam o alicerce do movimento, os tenentes, que estavam insatisfeitos, assim como a populao ur-bana, com os desmandos e a manuteno das po-lticas conservadoras lideradas por esses grupos na poltica nacional.

    O movimento dos tenentes no foi restrito aos estados do sudeste como alguns imaginam, ele se espalhou pelo pas como uma rapidez enorme, e durante a dcada de 1920, muitos foram os esta-dos da federao que tiveram participao nesses levantes, como foi o caso de Sergipe, que teve uma representativa participao na revolta tenentista que ocorrou em 1924.

    Os levantes tenentistas podem no ter con-seguido modificar as regras e condies da poltica no Brasil, mas foi fundamental para novas tentati-vas de mudanas que vo ocorrer com a Revoluo de 1930, e posteriormente no Golpe de 1964.

  • 53Tema 1 | A Repblica no Brasil

    INDICAO DE LEITURA COMPLEMENTAR

    Para saber mais sobre o movimento tenentista, um dos fenmenos polticos da dcada de 1920, leia o captulo O movimento tenentista do livro Hist-ria do Brasil Repblica

    SANTOS, Walderfrankly Rolim de Almeida. Histria do Brasil Repblica. Aracaju: Unit, 2008.Nesse texto voc encontrar uma anlise sobre os movimentos tenentistas que ocorreram na capital federal (Rio de Janeiro) e em outras cidades bra-sileiras ao longo da dcada de 1920. Esse que foi um movimento poltico de grande importncia na poltica nacional e que tinha implicaes na socie-dade brasileira.

    Para saber mais sobre os movimentos sociais no Brasil, leia o livro Uma breve histria do Brasil.

    Del Priore, Mary. Uma breve histria do Brasil. Mary del Priore, Renato Venancio, So Paulo, editora Pla-neta do Brasil, 2010.

    Nesse livro sero encontradas anlises crticas so-bre os principais movimentos de contestao popu-lar do perodo republicano, trazendo assim vrias possibilidades de apreciao que voc poder fa-zer, sobre os movimentos populares no perodo da histria do Brasil.

  • Histria do Brasil Repblica54

    PARA REFLETIR

    Aps a realizao da leitura desse contedo e dos textos complementares sugeridos, como voc ana-lisa o surgimento dos movimentos populares e sindicais no Brasil? Compartilhe suas concluses com seus colegas e com o tutor e oua as opinies deles.

    RESUMO

    No contedo 1.1, foi apresentada uma anlise da mudana do modelo poltico e administrativo do governo Brasileiro e as relaes polticas que im-plantaram o regime republicano. J no contedo 1.2, encontramos as disputas pelo poder entre os governantes civis do primeiro perodo Republica-no brasileiro, seguido pelos acordos e desacordos dos grupos oligrquicos que dominaram o cenrio poltico. No contedo 1.3, fizemos uma anlise da organizao urbana e rural do Brasil, durante as primeiras dcadas do perodo republicano, alm de analisar a formao dos movimentos sociais e sindicais, trazidos pelos imigrantes. No contedo 1.4, encontramos detalhes e controvrsias sobre as principais revoltas e revolues brasileiras do per-odo inicial da Repblica.

  • Era Vargas e o Perodo Democrtico2

    Como veremos a seguir, a formao e a consolidao do Estado Brasileiro estavam ligadas por uma srie de conflitos entre grupos polticos rivais, que em momentos distintos se fizeram ouvir durante o perodo republicano brasileiro.

    Destes conflitos resultou uma diversidade de tipos de organi-zao estatal, que sempre estavam ligados aos interesses de grupos, que muitas vezes, sofriam interferncia ou presso de agentes estran-geiros, ligados polticas imperialistas ou mesmo por novas formas de organizao em um mundo cheio de novas ideias e conceitos.

    O que passaremos a estudar so as condies e organizaes que levaram construo de um pas democrtico, que ainda assim manteve caractersticas conservadoras. Mas que no fugiam do proje-to de consolidao e modernizao do Estado Brasileiro.

  • Histria do Brasil Repblica56

    2.1 Vargas: Do Golpe ao Estado Novo

    Nas primeiras dcadas do sculo XX, o Brasil era controlado por acordos e conchaves dos pol-ticos militares e das oligarquias, ligadas poltica do caf-com-leite, diretamente ligadas as polticas regionais, conhecidas como coronelismo, que domi-nou a poltica nos estados e facilitou o controle do poder central. Essas polticas foram fortemente cen-tralizadas por esses grupos oligrquicos e suas pol-ticas de alianas, que durou at a revoluo de 1930.

    Aps uma tentativa de ruptura nessa polti-ca, encabeada por Washington Lus, que desejava manter o poder central nas mos dos republicanos paulistas, desagradando dessa forma os polticos de Minas Gerais, que pela poltica do caf-com-lei-te, indicariam esse candidato, que atravs das frau-des e acordos, ganharia a eleio para presidente.

    Conforme Fausto (2009), essa crise poltica, somada a crise econmica de 1929 e o assassinato do vice de Getlio Vargas, desgastaram ainda mais a situao de Jlio Pestes e Washington Lus, que acabaram sendo depostos do poder, assumindo assim Getlio Vargas. Esse o incio da era Var-gas, que ficar no poder por um perodo de quinze anos, que vai dura de 1930 at 1945, lembrando que esse perodo dividido em trs momentos dis-tintos. O governo provisrio (1930-1934), governo constitucional (1934-1937) e o governo ditatorial, tambm conhecido como Estado Novo (1937-1945).

    Sua permanncia no poder durante esse tem-po pode ser analisado atravs das medidas nacio-nalistas e populistas tomadas durante seu gover-no. Desde a liderana na revoluo de 1930, Vargas sempre foi um poltico carismtico e mostrou que poderia manter o poder nas mos de seu grupo de apoio, mas que ao mesmo tempo poderiam acon-tecer mudanas como as descritas.

  • 57Tema 2 | Era Vargas e o Perodo Democrtico

    Durante o governo provisrio, que caracte-rizou a primeira fase da era Vargas, no podemos deixar de citar a presena de polticos ligados ao movimento tenentista, que foi fundamental na re-voluo de 1930. Esses acabaram ocupando cargos importantes em seu governo e assumindo como interventores de alguns estados brasileiros, sendo essa uma atitude impositiva do governo central, para diminuir os poderes da oposio nos estados brasileiros. Alem da criao de outros importantes ministrios como o do trabalho e a concretizao das leis trabalhistas.

    As intervenes geraram uma srie de con-flitos com as velhas oligarquias que estavam no poder no momento da implantao das interven-es, como no caso paulista. Nesse estado as ve-lhas oligarquias convocaram a populao paulista a contestar a autoridade do governo provisrio, e da figura de seu presidente Vargas. Tendo incio a revoluo constitucional de 1932.

    A reao dos polticos paulistas, contra as direes tomadas por Vargas nas suas polticas na-cionais, j que este alegava que acabaria com a supremacia das oligarquias nas polticas nacionais, acabou com a interveno no estado de So Paulo, que indicou um poltico que no era bem aceito pe-los aliados de Vargas. Alm dos problemas urbanos e econmicos pelo qual passava a capital paulista, um dos fatores que pode ser entendido na aceita-o popular para participar da revoluo.

    Antes do levante armado os paulistas tenta-ram fazer o governo voltar atrs, restaurar o Con-gresso Nacional e acabar com as intervenes esta-duais. Mas foi a tentativa de invaso de um jornal ligado a polticos que apoiavam o governo, que estourou o levante armado, j que esses jovens que invadiram a sede do jornal foram flagrados por

  • Histria do Brasil Repblica58

    tenentes. No conflito quatro dos estudantes foram mortos. A partir desse momento, os conflitos fo-ram se ampliando com o apoio de generais ligados a polticos opositores do governo, os revoltosos desejavam um ligeiro ataque sede do governo, forando-os a negociar ou, em ltimo caso, desti-tuir Vargas do cargo.

    Mas o apoio que o governo tinha na base po-ltica militar foi fundamental para impedir os planos dos revoltosos e que outros estados os ajudassem, j que a marinha tomou o porto de Santos e o exrcito e fronteiras do estado. Os planos de evitar apoio externo foram fundamentais para a vitria das tropas governistas sobre as constitucionais, j que em pouco tempo, essas tropas haviam invadi-do vrias cidades importantes, enfraquecendo os revoltosos. Essa superioridade das tropas governis-tas forou a rendio das tropas constitucionais no ms de outubro de 1932.

    A revoluo constitucional teve resultados positivos no mbito poltico e Vargas acaba ceden-do s presses polticas e convocando eleies, esse processo eleitoral acabou diminuindo a pre-sena dos militares nos governos estaduais, que haviam sido indicados pelo governo provisrio. To-das essas mudanas e desgastes no diminuram a crescente viso de Vargas como sendo o poltico da salvao.

    Segundo Fausto (2009), com a convocao das eleies foi criada uma nova assembleia cons-tituinte, que promulgaria a nova constituio de 1934. Essa eleio tambm consolidou a presena de Vargas no poder, que eleito, deu incio a segun-da fase do seu governo, caracterizado como gover-no constitucional.

    Esse novo governo de Vargas ficou caracteri-zado pelo crescimento de novos movimentos pol-

  • 59Tema 2 | Era Vargas e o Perodo Democrtico

    ticos no Brasil, esses representados principalmente pelos movimentos integralistas (AIB) que acredita-vam na solidificao do poder central na conduo de um destino melhor. J, o outro grande movimen-to poltico era o liderado pela Aliana Nacional Li-bertadora (ANL) que desejava mais liberdade pol-tica, uma reforma agrria e uma revoluo baseada na luta de classes, sendo que sua principal frente de luta era contra o imperialismo, fascismo e as ideias do movimento integralista.

    As alianas nacionais tentaram um golpe con-tra o governo de Vargas, essa revoluo conhecida como Intentona comunista, tentou colocar em prtica as ideias supracitadas no Brasil, com a aju-da do governo comunista sovitico.

    Esses movimentos polticos liderados pela Aliana Nacional Liberal foram os principais cau-sadores da nova fase do governo Vargas, j, que esses acontecimentos fizeram Vargas estabelecer um novo estado de stio no Brasil, perseguir seus opositores e desarticular o partido comunista, o maior responsvel pela tentativa de revoluo. Ou-tra medida tomada por ele foi o cancelamento das eleies que aconteceriam em 1937, a dissipao da assembleia constituinte e anulao da Constitui-o de 1934. Para isso, Vargas apresenta uma frau-dulenta tentativa de golpe, conhecida como Plano Cohen, que organizava uma tentativa de golpe con-tra seu governo. Dessa forma, inicia-se a terceira e mais polmica das fases da era Vargas, chamada de governo ditatorial ou Estado Novo.

    O golpe de estado decretado por Getlio Var-gas representou uma ruptura nos planos at mes-mo da base aliada de Vargas, que j se mobilizava para eleger seu substituto, tendo em vista que os aliados j estavam articulando as candidaturas de dois polticos ligados a revoluo de 1930.

  • Histria do Brasil Repblica60

    O Estado novo tinha como principal carac-terstica a resposta de Vargas a tentativa de golpe por parte dos comunistas, mas acabou legitimando o golpe e as medidas anticonstitucionais implanta-das pelo Estado Novo. Uma dessas medidas foi composio de uma nova constituio, ampliando os poderes do executivo sobre os demais poderes, ampliando ainda mais as caractersticas ditatoriais dessa fase de seu governo.

    Essas mudanas na constituio, segundo Boris Fausto (2009), foram redigidas por Francis-co Campos (1891-1968), um forte aliado poltico de Getlio Vargas, que alinhou essa nova constituio com ideias fascistas, mas como o prprio governo no tinha essas caractersticas na sua base, ficou s na constituio a ligao com esse sistema de governo. Outro importante ponto de seu gover-no foi a criao do Departamento de Propaganda (DIP), responsvel por uma censura a impressa da poca, e por ampliar a imagem popular do governo de Getlio Vargas.

    Claro Jansson

  • 61Tema 2 | Era Vargas e o Perodo Democrtico

    Outra medida bastante importante do governo Vargas, foi a poltica de aproximao com as clas-ses trabalhistas e sindicatos, tudo baseado na troca de favores. Os sindicatos e classes de trabalhadores apoiavam o governo e em contrapartida recebiam be-nefcios atravs de leis que defendiam os trabalhado-res. Essa unio trouxe muitos benefcios para ambos os envolvidos, j que as classes de trabalhadores no se rebelavam e eram apoiadas legalmente por Vargas, o que acabou ajudando a burguesia da poca a inves-tir maciamente na produo industrial.

    Por outro lado, o governo Vargas investia for-temente em uma srie de indstrias de base, para apoiar esse crescimento do parque industrial brasi-leiro. Essas indstrias so importantes sistemas de apoio, fornecendo matrias-prima para os outros se-tores industriais mais qualificados. Essas empresas estatais so conhecidas at os dias de hoje, como a Vale do Rio Doce, a Companhia Siderrgica Nacional (CSN), a Fbrica Nacional de motores (FNM) extin-ta e a hidroeltrica do Vale do So Francisco (hoje Chesf), fundamentais no fornecimento dessas mat-rias-primas e energia para o desenvolvimento dessas indstrias e suas regies, no esquecendo que algu-mas delas hoje esto nas mos da iniciativa privada.

    Inicialmente o governo de Getlio Vargas era sim-patizante das ideologias fascistas e Nazistas, dos pases do Eixo, denominao dada ao grupo formado principal-mente por Alemanha, Itlia, Japo e seus aliados, duran-te a segunda guerra mundial. Essa aproximao se dava graas ao fato de o governo Vargas ser baseado em um poder e uma constituio autoritria e centralizadora, ligando esses pontos s ideias do sistema poltico fas-cista, implantado por essas duas naes.

    O governo Vargas fez vrios acordos cola-borativos com o governo nazista, participando at mesmo de manobras militares, um fato que quase

  • Histria do Brasil Repblica62

    fez o Brasil romper laos diplomticos com a Ingla-terra, quando esta aprisionou um navio vindo de manobras com a marinha nazista. Outros exerccios militares foram efetuados por militares, junto a r-gos militares da Alemanha nazista.

    Francisco Campos, o poltico que nomeado por Getlio Vargas, redigiu a constituio de 1937, logo aps o fechamento do Congresso Nacional e assem-bleias legislativas e as intervenes nos governos estaduais, props uma exposio, que corroboraria com as polticas nacionais, para a disseminao da falncia do sistema comunista. Vista por muitos po-lticos na poca como uma ideia fantstica.

    Essa viso poltica de aliana com os pases do eixo era uma ideia ambgua, j que a economia brasi-leira era fortemente dependente da economia ameri-cana, e s foi possvel, pelo prprio fato dos Estados Unidos, no terem entrado na guerra. Fato que s vai acontecer com o ataque japons a Pearl Harbor, a base americana no meio do oceano Pacfico.

    As presses americanas poltica brasileira de apoio ao eixo foram intensificadas a partir da dcada de 1940, com as intensas manifestaes polticas e os ataques dos Alemes aos navios bra-sileiros, que seguiam para a Inglaterra e Estados Unidos. Fazendo assim, o governo do Brasil muda sua poltica de apoio ao eixo e assume uma postu-ra de contribuio com os pases aliados.

    Essas polticas foram ampliadas com a crescen-te necessidade de borracha e outras matrias-primas, produzidas no Brasil e que no poderiam mais ser exportadas das regies imperiais como frica e sia, que passaram a ser a partir desse momento da his-tria, palcos secundrios da segunda grande guerra mundial. Essa busca por borracha incentivou a migra-o para as regies do Acre e grande Amaznia, hoje formada pelos estados da regio norte do pas.

  • 63Tema 2 | Era Vargas e o Perodo Democrtico

    Voltando s condies polticas do Brasil em meio a segunda guerra mundial, podemos destacar os movimentos que desejavam o fim do Estado Novo de carter autoritrio, para um estado mais democrtico e de direito. Muitas eram as preocupa-es com as fraudes e com que as eleies ocor-ressem de forma democrtica, j outros pensavam em um processo que mantivesse Vargas no poder.

    A oposio comeou tambm a se mobilizar no s contra essa manobra e as questes eleito-rais, mas ao mesmo tempo, desejava o fim da cen-sura e o fim, ou diminuio da atuao dos rgos repressivos implantados por esse governo. Muitas foram s mobilizaes estudantis, polticos, ideo-lgicos contra o governo ditatorial implantado por Vargas, mas a resposta imediata do governo foram as prises e perseguies a esses grupos que pro-testavam contra seu governo.

    As vrias manifestaes, tenses polticas continuaram. A situao do governo cada vez mais se agravava, j que as oposies comearam a atuar mais fortemente com protestos e alianas com os militares, que mais uma vez, foram deci-sivos para as mudanas polticas do pas. Essas presses surtiram efeito e o governo promulgou uma lei que antecipava as eleies, agora basea-das no cdigo eleitoral, um mecanismo que, se-gundo o governo, eliminaria as fraudes eleitorais, muito comuns nas eleies republicanas anterio-res ao seu governo.

    As eleies marcadas foram um marco na redemocratizao do sistema poltico e eleitorais brasileiro, j que nesse perodo surgiram inmeros partidos polticos, alguns deles importantssimos para a poltica nacional desse perodo democrti-co, que teve fim com o golpe de 1964.

  • Histria do Brasil Repblica64

    INDICAO DE LEITURA COMPLEMENTAR

    Para saber mais sobre a revoluo de 1930, que colocou Getlio Vargas no poder, leia texto Os pri-meiros anos de governo: o poder e a incerteza, do livro Getlio Vargas, o Poder e o Sorriso.

    FAUSTO, Boris. Getlio Vargas o Poder e o Sorriso. So Paulo: Companhia das Letras, 2006.

    Nesse livro, voc poder encontrar outros questio-namentos e fatos relacionados a esse marco poltico e revolucionrio que colocou fim a um dos perodos mais impressionantes da nossa histria: o perodo oligrquico