Brasilia Utopica

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 Departamento de História Programa de Pós-Graduação em História

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As imagens utópicas na criação da cidade capital de Brasília.

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D P-G Denise Bomtempo Birche de Carvalho
D I C H Estevão Chaves de Rezende Martins
C D H  José Otávio Nogueira Guimarães
V- Daniel Barbosa Andrade de Faria
C P-G/PPGHIS  Albene Míriam Ferreira Menezes
 
COORDENAÇÃO GERAL – ANPUH Rosangela Patriota Ramos (UFU) GT de História Cultural/ANPUH Nacional
COMISSÃO CIENÍFICA  Alcides Freire Ramos (UFU)  Antônio Herculano Lopes (FCRB) Maria Izilda Santos Matos (PUC-SP) Mônica Pimenta Velloso (FCRB) Nádia Maria Weber dos Santos (GTHC/RS) Rosangela Patriota Ramos (UFU)
COMISSÃO EXECUIVA  Alcides Freire Ramos (UFU)  Anderson Oliva (UnB)  Antônio Herculano Lopes (FCRB) Cléria Botelho Costa (UnB) Daniel Faria (UnB) Diva do Couto Muniz (UnB)
 Jaime de Almeida (UnB) Maria Izilda Santos Matos (PUC-SP) Mercedes Kothe (UPIS) Mônica Pimenta Velloso (FCRB) Nádia Maria Weber dos Santos (GTHC/RS) Rosangela Patriota Ramos (UFU)
COMISSÃO EXECUIVA LOCAL Cléria Botelho da Costa (UnB) Eloísa Pereira Barroso (SEEDF/UnB)
COMISSÃO ORGANIZADORA LOCAL  Aldanei Menegaz de Andrade (UnB)  Alexandre de Carvalho (UnB)  Anderson Oliva (UnB) Cléria Botelho da Costa (UnB) Clerismar Aparecido Longo (UnB) Daniel Faria (UnB) Diva do Couto Muniz (UnB) Eloísa Pereira Barroso (SEEDF/UnB) Edriane Madureira Daher (UnB) Hélio Mendes da Silva (UnB) Ivany Camara Neiva (CET/UnB)
 Jaime de Almeida (UnB) Maria Eva de Oliveira Holanda (UnB) Maria Helena Oliveira Freire De Medeiros (UnB) Maria Helenice Barroso (UnB) Maria Veralice Barroso (UnB) Mariangeles Guerin (UnB) Robson Nunes da Silva (UnB) Sainy Coelho Borges Veloso (FA/UFG) Tiago Luis Gil (UnB)
PROMOORES GT Nacional de História Cultural - ANPUH/ nacional Universidade de Brasília - UNB Universidade Federal de Uberlândia - UFU
AGÊNCIAS DE FOMENO CAPES/CNPq
COLABORADORES  ANPUH/DF FAP/DF EAPE/DF Media Lab – UFG Comissão Brasília 50 anos (UnB)
COMISSÃO ORGANIZADORA
APRESENAÇÃO
O V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais integra as comemorações do cinquentenário de Brasília, cidade que serviu de berço à UnB. Nesta quinta edição o referido simpósio busca divulgar pesquisas e suscitar debates tanto em torno de temas já consagrados no âmbito da História Cultural, quanto de perspectivas teóricas e metodológicas que visam a ampliar os campos de inter- locução do historiador da cultura.
 A proposta do V Simpósio Nacional de História Cultural é particularmente, pensar como as subjetividades afetaram e foram historicamente afetadas pelas mudanças ocorridas nos comportamentos e nas visões de mundo, nas formas de conheci- mento do real e na concepção de valores e verdades, nas experiências estéticas e nas expressões artísticas, nas crenças e mitos, na moral e na norma, nas formas de agre- gação dos indivíduos e dos grupos, no sentido do público e do privado. Que razões e sentimentos estão contidos nessas transformações que ocorrem na história?
Por D. R P R - (UFU)
D. C B C – (UB)
 
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V Simpósio Nacional de História Cultural ANPUH - Brasília 50 anos: Ler e Ver - Paisagens Subjetivas, Paisagens Sociais
A paisagem cartográfica de uma fronteira: breve exercício de leitura de um mapa colonial Benone da Silva Lopes Moraes (UFMT) [email protected]
 A “Carta Geográca dos Extensos Territórios e Principais Rios do Governo da Capitania Ger- al do Mato Grosso (...)” foi um documento confeccionado em 1781 pelo então governador da capitania de Mato Grosso, Luís de Albuquerque de M. Pereira e Cáceres a partir de viagens uviais que empreendeu para reconhecer a região. Nesta peça cartográca, se representou a área que se transformava na fronteira, que demarcava os domínios ibéricos na América do Sul; e, de fato, há no seu desenho uma linha divisória que separa os dois territórios. Este mapa, elaborado após a assinatura do Tratado de Santo Ildefonso (1777), traz uma cartela explicativa na qual se explicita que o mesmo faz parte da “Ideia Geral”, ou seja, que se trata de um documento pertencente ao conjunto de cartas e textos que Pereira e Cáceres fez con- struir, visando alterar os termos daquele tratado de limites. O governador pretendia manter o domínio português sobre os territórios espanhóis que os lusos haviam ocupado no inte- rior da América Meridional. Nesta comunicação tem-se como proposta fazer uma leitura analítica desta carta geográca olhando-a como uma paisagem de fronteira; o objetivo é o de adentrar na sua simbologia e interpretá-la a partir do contexto no qual foi criado.
Palavras-chave: Cartograa, Fronteira Oeste, capitania de Mato Grosso.
Carta aos Kraiuá: Koch-Grünberg e as leituras do legado humano desde o território Pemon Bruno Martins Morais - (UFMT) [email protected]
Quem é o viajante? Quem é o observado? Este artigo é uma reexão a respeito do legado humano e sua consolidação numa história de tempos desiguais: os índios macuxi do circunroraima recon- hecem em Makunaimî o primeiro a cruzar de ponta a ponta o território Pemon, organizando e transformando o mundo como legado às gerações seguintes; Theodor Koch-Grünberg, por sua
 vez, corta a Guiana Ocidental de 1911 a 1913 e relata seus feitos nos três volumes do monumental “Vom Roraima zum Orinoco” como primeiro kraiuá (i. e., “aquele que vem de fora”) a oferecer sua leitura dos feitos deste herói mitológico, e consolidá-las também às gerações futuras. Na forma escrita, Makunaimî pôde ganhar ares alheio aos seus, e ser alvo de um novo conjunto de transfor- mações: lhe trocam o nome, Macunaíma, lhe trocam a cor, enm, lhe dão uma signicância que
 já é uma terceira coisa, e que pode vir a ser uma quarta, leitura das demais.
 A partir desse mito heróico, colhido em fonte histórica e em trabalho etnográco de campo,
 
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a investigação deste artigo percorre o itinerário de transformações a que se sujeita este reg- istro de Koch-Grünberg, legado de um viajante do circunroraima. Sob diferentes olhares no tempo, recebe ele agora uma leitura inédita a partir das comunidades: com o advento do le- tramento e com o auxílio das recentes traduções, os povos do circunroraima podem hoje opi- nar a respeito, e produzir sua própria versão dessas obras. Se, conforme Mário de Andrade, de São Paulo o Imperador do Mato Virgem escreve uma carta empolada às Icamiabas, ver- emos como desde o território macuxi seus súditos, no momento em que alcançam a escrita, produzem uma próxima leitura dos viajantes, misturando tradição e mudança, letramento e oralidade, devorando as versões passadas e subvertendo o próprio conceito de hist ória.
Impresiones de la Francia Antártica en el pensamiento francés de la modernidad temprana Carolina Martínez Doutoranda pela Universidad de Buenos Aires, Argentina. [email protected]
Son dos los relatos de viaje que sobrevivieron a la frustrada fundación de la primera colonia francesa que hacia 1556 intentó establecerse en la Bahia de Guanabara bajo el nombre de la Francia Antártica: Les singularitez de la France Antartique del padre capuccino André Thevet, publicada en 1558, y L´Histoire d´un voyage fait en la terre du Brésil, obra del pastor hugonote Jean De Léry publicada a su vez en 1576. En una enconada disputa por la representación de la realidad, ambos relatos darán cuenta de sus experiencias en tierras lejanas como así de aquello que vieron y sobre todo, de aquellos con los que compartieron, aunque más no haya sido brevemente, un período de su existen- cia. Si es el testimonio involuntario encerrado en el texto el que realmente hecha luz acerca de la mentalidad de quien lo escribió (Bloch, 1949), devienen estas fuentes de capital impor- tancia para comprender no solamente las primeras impresiones francesas acerca del Nuevo Mundo y de los habitantes allí encontrados sino también los complejos debates y entrama- dos de poder que en una Francia signada por las guerras de religión, se tejían a mediados del siglo XVI. Son estos algunos de los aspectos que el presente trabajo se propone analizar.
Palabras clave: expansión ultramarina – Francia – Siglo XVI
 
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Nesta comunicação examinaremos a dimensão histórica da paisagem através da análise do olhar dos missionários dominicanos sobre as paisagens do Brasil Central no nal do século
 XIX. Em 1881, os Dominicanos de Toulouse se engajam numa missão no Brasil e se esta- belecem na Diocese de Goiás. Ao estudar as cartas, relatórios e livros deles, se encontra nu- merosas descrições e fotograas da região e das suas paisagens. Estas descrições nos falam da geograa e dos povos do Goiás e nos permite estudar o ponto de vista desses missionários franceses e de situar seus testemunhos nas correntes de pensamento da Europa do século
 XIX. De fato existe na descrição duma paisagem uma projeção intelectual, uma interpretação que permite destacar os pensamentos e preconceitos do autor. Procuraremos aqui, mostrar como as descrições dos missionários reforçam a imagem de uma região “selvagem”, onde a “civilização” ainda não chegou e participam da justicação da obra civilizadora deles.
Palavras-chaves: Paisagem - Missão religiosa - Olhar europeu
Fernando Pessoa, viajante Daniel Faria [email protected]
Segundo Hans Ulrich Gumbrecht, uma das marcas da experiência da viagem no século XX, foi a restrição, ao mínimo possível, do tempo e da sensação de deslocamento durante o tra-
 jeto. Se os relatos de viagem tradicionais tematizam o ato de viajar em si, o trânsito, os meios de transporte e comunicação contemporâneos tendem a reduzir o trânsito a um ponto quase
 vazio entre a partida e a chegada. Assim, por exemplo, espera-se que um bom avião trans- mita, aos passageiros, a sensação de que eles estão parados. Além disso, os aeroportos são ex- tremamente parecidos entre si. Tudo isso conui para a lógica do turismo (termo inventado no século XIX, indicando um tipo de viagem leve e supercial). Neste contexto, Pessoa e seus heterônimos propuseram outra experiência de viagem: viajar como “sentir de tudo de todas as maneiras”, sem sair do lugar. Estaríamos então diante de um novo limiar para o conceito e a prática da viagem?
Paisagens cartográficas de um conde revolucionário Daniela Marzola Fialho Professora Adjunta - UFRGS [email protected]
 
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planta da cidade de Porto Alegre, de 1833, é o foco desse estudo. Feita às vésperas da Rev- olução Farroupilha (1835-1845), constitui-se numa leitura muito particular da paisagem da cidade, ao localizar, na planta, as casas dos amigos revolucionários. O legado de Zambec- cari inclui, além dessa planta, trabalhos grácos e cartográcos sobre o Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro. Através de uma ótica que expressa o seu engajamento político, apreende e xa o momento histórico daquela época em uma diversidade de paisagens grácas.
Palavras-chave: História Cultural; Cartograa Urbana; Revolução Farroupilha.
Guia bibliográfico Hercule Florence: projeto Dirceu Franco Ferreira Mestrando pela FFLCH-USP [email protected]
Nesta comunicação apresentarei o projeto para confecção de um guia biobibliográcodedi- cado a Hercule Florence (1804-1879). Viajante de origem franco-monegasca, aportou no Rio de Janeiro em 1824. Com destino incerto, trabalhou nas empresas de P. Dillon e P. Plancher até seu ingresso, como “geógrafo”, na Expedição Langsdor. Pintor etnográco, produziu importante conjunto de retratos das tribos visitadas durante a Expedição Langsdor. Desta produziu também o mais completo, porque continuo, diário de viagem. Radicado em Campi- nas, antiga São Carlos, onde se casou por duas vezes, Florence é personagem de trajetória plural e, por assim dizer, singular. Considerado um dos inventores do processo fotográco, dedicou-se também a outros inventos, como a “poligraa”, a “zoophonia”, “estereopintura”, “pulvograa”, “papel inimitável” e “noria hidrostática”. Além de inventor, Florence foi propri- etário da tipograa que fez a impressão de “O Paulista”, considerado o primeiro jornal impres- so no interior da Provincia de São Paulo. Nas muitas viagens que fez pela Provincia,produziu importante iconograa: retratou fazendas, festas, escravos, negociantes, paisagens e os céus. Registrou mais de 200 obras pictóricas, feito que inspirou Aons de Taunay a atribuir-lhe o título de “pai da iconograa paulista”. Classicar, descrever e comentar esta vasta e het- erogênea produção é o propósito deste projeto.
Paisagem e Cotidiano no “Livro das Fortalezas” do viajante Duarte de Armas (Portugal, 1509) Edison Bisso Cruxen Doutorando em Arqueologia Coimbra, Portugal [email protected]
 
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inseridas. Dessa forma, foram registradas as utilizações dos rios, áreas de cultivo, vestuários dos habitantes, características da organização espacial dos povoados e a conguração geográca das regiões. Essa obra se destaca como uma das mais importantes fontes iconográcas para estudo da paisagem e cotidiano do início do século XVI, em Portugal.
Palavras-Chave: Livro das Fortalezas, Paisagem, Portugal no Séc. XVI.
“À margem da história” e “Amazonas Amazonas”: as ruínas amazônicas na literatura de Euclides da Cunha e no cinema de Glauber Rocha Glauber Brito Matos Lacerda (UESB) Mestrando em “Memória: Linguagem e Sociedade”pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia. [email protected]
Euclides da Cunha e Glauber Rocha tiveram a Amazônia como cenário de suas respectivas obras. O primeiro escreveu o livro À margem da história (1909), que seria a primeira parte de uma obra maior que ele não concluiu. Já o segundo realizou o documentário em curta-metragem
 Amazonas Amazonas. Ambas são marcadas pela descontrução de uma Amazônia imaginária, criada pelo relato de antigos viajantes que, desde o século XVI, escreveram sobre a região, e pelo destaque dado às ruínas. Sendo Glauber Rocha um assumido admirador do sentido trágico da literatura euclidiana, a presente comunicação traça um paralelo na maneira como as ruínas amazônicas são mostradas no lme glauberiano e na obra de Euclides da Cunha.
Maximiliano de Wied-Neuwied e a paisagem étnico-social Igor de Lima e Silva Universidade Federal de Mato Grosso [email protected]
 
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aquarela, Puris em sua cabana. Fevereiro de 1816. Intenta-se revelar, a partir dessa imagem, como se deu toda a reelaboração do quadro e como ela foi publicada na versão alemã (1820- 1821) e na tradução italiana (1821-1823).
Palavras-chave: Viajantes, Representações Indígenas, Paisagem.
A viagem como narrativa da natureza: o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e a invenção da paisagem nacional
 Janaina Zito Losada (UFU) Doutora em História pela Universidade Federal do Paraná.
 [email protected]
O século XIX no Brasil foi marcado pelo cienticismo romântico e pelo academicismo insti- tucionalizado, tornando a história, a geograa e a etnograa o tema de atuação de institu - ições como o Instituto Histórico e Geográco Brasileiro. Interessam as muitas compreensões que os homens tiveram sobre a natureza e as instituições que as abrigaram. A leitura dos documentos de viagens como a memória de Martim Francisco Ribeiro de Andrada por São Paulo ou o itinerário da viagem à cidade de Palma de Vicente Ferreira Gomes, deixam ver a importância do mundo natural como obstáculo ou como fonte de riquezas, como paisagem e arrebatamento. Também analisaremos a viagem à Colônia Holandesa do Suriname escrito por José Francisco Ribeiro Barata de 1799. Na mescla de viagens losócas e românticas e dos processos de reapropriação discursiva, as Revistas do IHGB marcaram a construção de um imaginário nacional que entrelaçou a natureza, a nação e a história.
Palavras chaves: Viajantes oitocentistas; idéia de natureza; discursos do IHGB.
Duas Áfricas: As Construções Histórico-Retóricas da África e dos Africanos na Crônica da Guiné (1453)
 Jerry Santos Guimarães (UESB). Mestrando do Programa de Pós-Graduação em “Memória: Linguagem e Sociedade”, da Uni-
 versidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB)  [email protected]@gmail.com
 
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que parece variáveis e hierarquizáveis segundo os povos que as habitavam. Objetiva-se ainda demonstrar como Zurara, no seu labor historiográco, fez uso de preceptivas retóricas para descrever e caracterizar tanto as terras africanas quanto os seus habitantes, segundo conven- ções bebidas diretamente em obras retóricas de origem latina e, indiretamente, grega. Pre- tende-se, pois, evidenciar tais convenções retóricas para entender como as mesmas foram utilizadas pela historiograa lusitana do Quatrocentos na construção de uma memória o- cial sobre a África e os africanos segundo os interesses da Coroa Portuguesa.
Palavras-Chave: África, Memória, Retórica.
Bartolomé Bossi e as paisagens urbanas sul-americanas Kátia Eliana Lodi Hartmann (UFMT) [email protected]
O genovês Bartolomé Bossi (1819-1890) mudou-se em 1837 para a América do Sul e aqui desenvolveu várias atividades, foi marinheiro, comerciante, escritor e empresário; dono da Companhia de Navegação Rioplatense, em sociedade com seu compatriota Camuirano, na década de 1840 passou a manter uma rota comercial entre Montevidéu e Buenos Aires trans- portando produtos portenhos. Em 1862, também se tornou viajante-explorador, tendo real- izado seu primeiro trajeto no Brasil, percorrendo a então província de Mato Grosso. No ano seguinte publicou, em Paris, as aventuras deste périplo. Posteriormente, Bossi empreendeu outras viagens, desta feita ao Chile e à Terra do Fogo, andanças que também foram levadas ao público em três diferentes narrativas. Ao ler estes livros chama atenção a maneira com a qual o nosso personagem descreveu as paisagens urbanas que encontrou em seu caminho. Nesta comunicação temos como objetivo analisar as viagens empreendidas por Bartolomé Bossi na América Meridional, dando especial atenção ao modo como o mesmo descreveu as cidades e seus habitantes.
Palavras-chave: Bartolomé Bossi, narrativas, paisagens urbanas.
Henri Coudreau e o futuro da Amazônia Kelerson Semerene Costa Professor Adjunto do Departamento de História da Universidade de Brasília [email protected]
 
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discutidos os motivos e as implicações de tal deslocamento que, entre outros fatores, está as- sociado ao crescimento da economia da borracha (que impulsionava a ocupação de territórios para além dos limites aos quais, historicamente, a sociedade regional esteve connada) e às possibilidades abertas pelas inovações tecnológicas, em particular as ferrovias, vetores do progresso e da modernidade, para a superação dos obstáculos da natureza.
Palavras-chave: Henri Coudreau; Amazônia; Viajantes.
O historiador viajante em “Como se deve escrever a História do Brasil?” de von Martius Luís César Castrillon Mendes Mestrando em História pela Universidade Federal de Mato Grosso [email protected]
O texto de Carl Friedrich Phillipp von Martius (1794-1868), publicado na Revista do Instituto Histórico e Geográco Brasileiro (IHGB) em 1844, torna-se emblemático para se perceber as intenções do Instituto num momento de construção de uma História para a Monarquia brasileira. Objetiva-se, com a presente comunicação, trazer alguns resultados, ainda que ini- ciais, de uma pesquisa que utiliza como fonte a Revista do IHGB durante o Segundo Reinado (1840-1889). Pretende-se situar a monograa de Martius no contexto de sua produção e ob- servar o modo como este viajante selecionou e tratou de temas que estavam em evidência à época. A análise do IHGB, por meio de seu periódico, pode contribuir para o entendimento de um dos momentos cruciais de nossa história; aquele em que se tentou forjar uma idéia de nação “civilizada” nos trópicos.
Palavras-chave: Von Martius – IHGB – História do Brasil
Los ecos visuales de la incipiente colonización de Virginia: John White y Teodoro De Bry (1585-1590) Malena López Palmero Universidad de Buenos Aires, Argentina. Doctorado sobre la temprana colonización de Virginia. [email protected]
 
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ampliamente difundidas por De Bry, a partir de su publicación en los libros de viajeros de Richard Hakluyt.
El trabajo se sostiene sobre dos pilares de análisis: por un lado, el problema de la percepción  visual y la representación, cuestiones que intentan explicar de qué manera White y De Bry representaron a los nativos de Virginia. Por otra parte, se ofrece un análisis propiamente histórico, que se nutre de relatos de viajeros y de otras producciones de los artistas, para dar cuenta de la compleja trama de signicados que encerraban las imágenes de White y de De Bry: las disputas monárquicas, la necesidad de propaganda y la creciente importancia del mercado editorial, entre otros. Palabras clave: Virginia - De Bry - Siglo XVI
Carl F. P. von Martius e a Paisagem Jurídica do Século XIX: “O Estado de Direito entre os Autóctones do Brasil” (1867) Marcele Garcia Guerra Mestre em Direito - USP [email protected]
Figura central no rol dos “olhares estrangeiros do séc. XIX” – cunhou a célebre metáfora do Brasil como um rio caudaloso onde deságuam dois auentes que misturados faziam o país branco, negro e indígena –, o viajante botânico Von Martius representa o processo de como o Brasil foi denido desde o imaginário europeu. Inserida em um contexto das primeiras in -
 vestidas e preocupações do governo central imperial em consolidar a “identidade nacional” e da consolidação do ideário de Estado Moderno e de Direito, a obra O Estado de Direito entre os Autóctones do Brasil vem contribuir para a análise da imagem do indígena impressa na legislação do séc. XIX. Isso porque o projeto da identidade nacional pressupõe homoge- neização cultural e eliminação da diversidade sujeitando, desta forma, as populações indí- genas a políticas de invisibilização segundo a idéia de inferioridade indígena e necessidade de “civilização”.O artigo propõe – a partir da análise da obra - atentar à gênese de elementos que irão, no séc. XIX, se cristalizar na mentalidade jurídica e no tratamento do indígena pela legislação. Reserva-se a pretensão de contribuir para – através da relativização histórica – alterar o legado de discursos preconceituosos, evolucionistas e de exclusão com relação aos povos indígenas.
Palavras-chave: História do Direito e do Indigenismo, Séc. XIX e Estado Moderno, Direito dos Povos Indígenas.
 
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 [email protected]
O texto investiga o consumo indígena de bebidas fermentadas entre os Tupinambá do Brasil colonial. Analisa de que modo as beberagens conguravam-se como instâncias de social- ização fundamentais na estruturação do cotidiano; situa as beberagens no contexto de uma história cultural das práticas alimentares; identicar as diversas ocasiões em que elas ocor- riam e descrever a sua cultura material. Pesquisa histórica baseada em crônicas de viagens e cartas de missionários, além de estudos arqueológicos sobre as culturas indígenas do pas- sado. Apóia-se nas análises sobre educação como uma prática sociocultural cotidiana e nas contribuições do campo da história cultural. Como lugares de encontros e relações sociais, as beberagens funcionavam como mediadores culturais da transmissão dos saberes da coletivi- dade indígena, congurando-as como uma prática educativa que possibilitava a sobrevivên- cia do universo de signicados produzidos pelos grupos.
Palavras-chave: história cultural; alimentação; educação
A paisagem do Brasil nas “Vistas e Cenas” de Francis Castelnau Maria de Fátima Costa (UFMT)  [email protected]
Entre 1843 e 1847 o naturalista Francis de Castelnau visitou a América Meridional cheando uma caravana cientíca. Projetada e nanciada pelo governo francês, esta expedição - que contou com um engenheiro de minas, um médico e botânico, e um preparador de historia natural – percorreu o interior do Brasil, da Bolívia e do Peru. Pretendia estudar os grandes rios, conhecer os produtos da Amazônia e as facilidades para sua circulação comercial, e ain- da estender a inuência francesa sobre as jovens nações sul-americanas. Os resultados desta
 viagem foram publicados em Paris entre 1850-1859, na monumental Expedição as partes centrais da América do Sul, que totalizou quinze volumes, entre textos, imagens e cartogra- a. Nesta apresentação tem-se como foco a segunda parte desta obra, o livro intitulado “Vis- tas e Cenas”, publicado em 1852. Trata-se de um pequeno Atlas, no qual guram paisagens naturais e sociais, que oferecem uma síntese visual dos lugares visitados. Interessam-nos, particularmente, perceber e discutir as representações do Brasil que a expedição Castelnau criou e divulgou através desta obra.
Palavras chave: Expedição Castelnau; América Meridional; Iconograa.
 
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O tema da viagem oferece à literatura uma de suas mais fecundas matérias-primas. No caso da literatura brasileira é recorrente desde os primeiros cronistas responsáveis pela construção de imagens carregadas de olhares “de fora” que, nos séculos XIX e XX, reaparecem sob distin- tas formas de construção narrativa, conrmando-as ou negando-as. Como gênero polêmico (de fronteira), a literatura de viagem tem construído arquétipos temáticos e simbólicos, cu-
 jos discursos dela decorrentes interpõem a subjetividade na objetividade do real e carrega consigo discussões sobre o sócio-histórico e o político-cultural nas discussões de/sobre as identidades nacionais de “trânsito”. Nesta comunicação proponho discutir o diálogo que se estabelece entre as anotações da viagem e a transformação delas em textos de cção a partir do resultado narrativo de duas obras singulares: Inocência, de Alfredo Taunay e O turista aprendiz, de Mário de Andrade, representantes de dois momentos de tomada de consciência de brasilidade, numa espécie de esforço de modernização e atualização do Brasil. Busco, com isso, re-congurar os complexos entrelugares de produção discursiva, observando a forma como os discursos são transpostos na dialética entre o testemunho e a invenção.
Palavras-chave: Literatura – Viagem - Identidades.
“Quadro Físico da Corrente do Amazonas”: Ciência e Estética em Martius Pablo Diener Professor Adjunto da UFMT  [email protected]
O botânico alemão C. F. Ph von Martius em companhia do zoólogo J. B. von Spix realizou uma expedição cientíca ao Brasil entre os anos de 1817 e 1820. Esta viagem será uma fonte inesgotável de projetos que o naturalista desenvolverá com persistência, durante quase meio século, até a sua morte em 1868. Além da narrativa de viagem, entre as suas publicações se encontram obras tão monumentais como a Historia Naturalis Palmarum e a Flora Brasil- iensis, porém há também estudos sobre a população e as perspectivas históricas do Brasil. Nesta apresentação se discutirá um opúsculo datado em 1843, que tem o evocativo título de “Quadro físico da corrente do Amazonas”. Neste escrito, Martius se propôs a caracterizar a paisagem tropical sul-americana, tomando a rede hidrográca como foco de atenção, emu- lando a proposta de Humboldt, que havia organizado a compreensão da paisagem em função da cordilheira andina.
Palavras-chave: Martius, Amazonas, Ciência e Arte
 
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Rosa Helena de Santana Girão de Morais Doutora em História das Ciências e das Técnicas pela Ecole des Hautes Etudes en Sciences Sociales-França. [email protected]   O presente trabalho tem como objetivo descrever e analisar a viagem do médico francês Al- phonse Rendu, encarregado, entre os anos de 1844 e 1845, pelo ministro da instrução públi- ca, da França, « de estudar as doenças do Brasil que acometiam mais freqüentemente os indígenas e os europeus estabelecidos no país ». Figura emblemática de sua época, A. Rendu
 veio para o Brasil num momento em as autoridades médicas tinham grande interesse pelos tratamentos e diagnóstico de doenças, ditas tropicais, as quais acometiam as colônias e pos- sessões européias. O olhar dos médicos franceses sob as cidades brasileiras correspondia a uma imagem ‘criada’ a partir do que eles esperavam da Europa e de Paris, espaço familiar dos
 viajantes franceses e modelo, por excelência, de urbanidade e de civilidade.
 Alphonse Rendu procurou ‘descortinar’ as paisagens brasileiras, sob o ponto de vista estético e econômico, e também descreveu o aspecto físico, as doenças e os costumes da população brasileira. Sob o olhar atento do médico, imbuído da idéia de superioridade da ‘raça’, termo comumente empregado naquele momento especíco, e da medicina européia, podemos perceber como se constituía o espaço urbano brasileiro e os elementos essenciais da salubri- dade, ou seja, os hospitais, residências, ruas e também o corpo.
O álbum ilustrado de Jean-Baptiste Debret Thiago Costa (UFMT) [email protected]
 
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História, Cinema e TransdisciplinaridadeS 2
Imagens do passado nos filmes de autoria femi- nina do período de redemocratização (Brasil e Argentina, década de 1980)
 Alcilene Cavalcante Doutora em Literatura pela UFMG [email protected]
 Ao considerar que os lmes são capazes de plasmar o passado em imagens, de acordo com Robert Rosenstone (1997), e de apresentarem elementos do tempo em que foram realizados, conforme Miriam Rossini (2008:128), tratar-se-á, nessa comunicação, as representações do passado e do presente nos lmes Camila, de Maria Luisa Bemberg, e Paraíba, mulher macho, de Tizuka Yamazaki – lmes realizados e estreados no período de transição democrática e de engendramento de cultura política feminista, no Brasil e na Argentina.
Palavras-chave: redemocratização, representação, cinematograa feminina
Bandidos de um cinema-história: os fora da lei no faroeste hollywoodiano (1939-1959)
 Alexandre Maccari Ferreira Professor do Curso de História do Centro Universitário Franciscano [email protected]
Os bandidos do velho oeste possuem diversas representações no cinema hollywoodiano. Desde o cinema mudo há uma grande aura construída sobre os foras da lei, elemento esse que se acentuou entre as décadas de 1930 e 1950 e que, após esses períodos, foi revista de diversas formas pelo cinema norte-americano. Neste trabalho pretendemos estudar as con- struções heroicas dos foras da lei, em especial a imagem dos irmãos James, nos lmes Jesse
 James (1939), A Volta de Frank James (1940), Matei Jesse James (1949) e A verdadeira História de Jesse James (1957). Esses lmes têm em comum a construção de heróis-bandidos miti- cados, que fornecem uma interpretação social dos Estados Unidos de acordo com o período de produção dos lmes, a partir de um posicionamento ideológico das obras. Assim, as con- struções político-sociais de mitos do oeste lendário histórico norte-americano permitem um estudo do cinema-história, tratando o cinema como ponto de partida de análise de questões do imaginário e do banditismo social apresentado no cerne das obras cinematográcas.
 
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 Ana Luisa de Castro Coimbra Mestranda do Programa de Pós-Graduação em “Memória: linguagem e sociedade” da Uni-
 versidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB [email protected]
Lívia Diana Rocha Magalhães Doutora em Educação, docente e vice-coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Memória: Linguagem e Sociedade da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB [email protected]
Entendemos o lme como um dispositivo de valor cultural e histórico capaz de registrar referências a identidades de grupos e aspectos de uma época. Sendo assim, pode ser consid- erado como um testemunho importante de aspectos sócio-culturais que pode contribuir para o registro de memórias para a educação e a formação de gerações que se sucedem. Nesta comunicação estamos apresentando a pesquisa que vem sendo desenvolvida sobre as obras do documentarista Alexandre Robatto, considerado o pioneiro do cinema baiano, que deixou um importante legado de lmes com registros dos aspectos sociais da Bahia. O cotidiano da capital em choque com seu desenvolvimento, manifestações culturais, paisagens geográcas e humanas, aspectos da vida no interior são alguns dos registros que compõem a obra de Robatto e está propiciando uma leitura sobre a memória e a história social da capital e do Es- tado. Não só imagens são registradas, mas os costumes, as idéias e as ações cam retidas em um suporte tangível podendo ser considerados documentos passíveis de serem analisados e capazes de ajudar na compreensão de uma Bahia que parece resistir, mesmo aderindo, aos impulsos de um “ideal” de modernidade homogêneo nacionalmente.
Palavras-chave: documentário, memória, história.
Autoria no cinema dos grandes estúdios: o caso de Blade Runner
 Ana Paula Spini Professora do Instituto de História da Universidade Federal de Uberlândia [email protected]
Esta comunicação tem como objetivo analisar comparativamente duas versões existentes do lme Blade Runner do diretor Ridley Scott: a de 1982, versão do lançamento mundial do lme, caracterizada pela interferência da Warner Brothers na edição e montagem, e a de 2007, versão do diretor. Com isto procura-se investigar em que sentido as modicações na narrativa operada pela indústria à época do lançamento do lme incide sobre a visão de mundo expressa no mesmo. Assim, além de possibilitar a reexão sobre os limites e pos- sibilidades da autoria no cinema dos grandes estúdios, esta análise permite ainda discutir a relação do cinema de Hollywood com a construção de uma narrativa melodramática da
 America intergalática no século XXI.
Palavras-chave: cinema; Hollywood; autoria.
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Um chorinho universalizado – tico-tico no fubá Cláudio Galvão (UFRN) [email protected]   Se os lmes biográcos abordassem as vidas que focalizam seguindo apenas os critérios da História acadêmica, decerto poderiam parecer mais verdadeiros, porém dicilmente alcan- çariam o gosto popular.
É o caso do lme Tico-Tico no Fubá, apresentado como uma biograa do compositor Ze- quinha de Abreu. O roteiro foi montado seguindo um percurso biográco correto, re- speitando-se os marcos essenciais da sua história. Somente isto, entretanto, levaria a uma descrição linear, carente dos lances emocionais que prendem as atenções e marcam as lembranças. É o momento em que entra a fantasia, quando a livre criação ornamenta e amplia um fato antes banal, conferindo-lhe nova visualização e enredo mais agradável. O lme “Tico-Tico no Fubá” é assim; não foi a primeira nem será a última obra de arte a re- ceber a ajuda da cção. É, portanto, uma biograa romanceada.
Representações e construção da realidade do conflito árabe-israelense através das comédias Denise de Oliveira De Rocchi Mestranda em Relações Internacionais pela UFRGS [email protected]
O humor é uma das formas de que a sociedade dispõe para lidar com temas difíceis, como o preconceito e a violência. Zohan e Brüno, produções recentes de grandes estúdios cine- matográcos, utilizam-se desta linguagem em sua forma mais exacerbada para tratar do conito árabe-israelense, questão histórica que se mantém entre os grandes problemas con- temporâneos mundiais. Considerando relações cada vez mais midiatizadas, o Cinema é uma das artes com maior poder para inuenciar opiniões e visões de indivíduos a respeito de outros povos, permitindo que qualquer um tome posição sobre um tema, mesmo que não o tenha vivenciado diretamente. Através de uma abordagem multidisciplinar, com elementos da Psicologia, Comunicação e Relações Internacionais, este estudo propõe a análise do dis- curso destes lmes e da representação que fazem do conito e seus participantes.
Cinema e Moral Sexual no Brasil (1950-1970) Dennison de Oliveira (UFPR) [email protected]
 
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direção a uma maior liberalização dos costumes, quanto a um relativo nivelamento da moral que rege os papéis sexuais e sociais masculinos e femininos. As fontes privilegiadas no estu- do são alguns lmes de cção de longa metragem produzidos no período que enfocavam estas questões. Busca-se, através do exame das condições sociais de produção, distribuição e recepção destes lmes, interpretar de que forma as transformações na moral sexual vi- gente eram tematizadas, quais os conitos e contradições implícitos, como eram percebidas e valorizadas as novas formas que assumiam os papéis sociais e os arranjos familiares, bem como as implicações políticas, sociais e culturais daí decorrentes. Para tanto foi selecionado um número limitado de lmes brasileiros, considerados relevantes para o entendimento das transformações culturais associadas à moral sexual, através do estudo da relação entre este ramo da indústria cultural e a sociedade. Através do cinema se percebe de que forma representações fílmicas sobre a moral sexual foram afetadas pelas transformações históricas
 vividas no período, e vice-versa.
Palavras-chave: História e Cinema; Moral Sexual; Indústria Cultural
O Realismo Socialista e a Revolução Cultural na URSS: o caso do cinema 
Diogo Carvalho Mestrando do Programa Multidisciplinar em Cultura e Sociedade / UFBA  [email protected]
Este trabalho visa problematizar os impactos do uso do realismo socialista para construção do culto a personalidade de Stalin através do cinema. Serão abordadas as conseqüências da utilização do aporte teórico oriundo do realismo socialista e da revolução cultural soviética, na indústria e na estética fílmica. Também será objeto deste trabalho a análise da sacraliza- ção do espaço realizada pelo cinema soviético deste período, pois a cinematograa desta época contém elementos simbólicos nucelares da narrativa do realismo socialista, elabora- da ao longo dos anos 1930’s. Portanto, esta relação espaço-sujeito, baseada na reconstrução espacial, a partir de uma iconograa marxista-leninista foi um dos pilares da justicativa de criação do herói positivo, considerado elemento chave para uma compreensão mais apro- fundada da cultura soviética.
Palavras chave: cultura, soviética, cinema, realismo, socialista.
Cinema e Ensino de História: a Idade Média em O Nome da Rosa de Jean-Jacques Annaud Edlene Oliveira Silva Doutora em História e professora adjunta do Departamento de História da UnB [email protected]
 
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História Medieval nas escolas. Ao mesmo tempo em que constrói e reforça estereótipos e preconceitos sobre a Idade Média, o cinema pode ser fonte privilegiada de desconstrução desses estigmas, de aprendizagem e conhecimento na área de História, considerando as es- pecicidades da linguagem cinematográca e as possibilidades interpretativas e poéticas próprias da liberdade inerente à sétima arte.
Santiago: a escrita da história em documentário Eric de Sales Mestre em História Social pela UnB [email protected]
Pensar um documentário dentro de um documentário é ousado. Reetir como este oferece pos- sibilidades para a discussão da história da história, ou seja, a análise historiográca a partir de uma fonte audiovisual é proposta desaadora. Esta comunicação visa apresentar a relação entre o cinema documentário e a história a apartir do lme de João Moreira Salles, Santiago. A proposta é de analisar a película através de um olhar crítica, compreendendo que há subjetividades na abor- dagem do diretor, assim como na abordagem de um historiador. Através deste ponto, apresentar trabalho que vem sendo realizado nos estudos sobre documentários e historiograa.
De Rocha a Hamburgo: a análise da representação da classe média na ditadura militar vista a partir do cinema nacional Felipe Lima da Silva Graduado em História pela UFRRJ [email protected]
Durante o período da Ditadura Militar no Brasil (1964-85), a sociedade brasileira de classe média tem sido apresentada por diversas correntes históricas como um conjunto de indi-
 víduos controlados pelos militares que se encontravam no poder. Esta mesma parcela da so- ciedade é caracterizada como um grupo que se manteve a certa distancia dos eventos políti- cos dos 21 anos da ditadura, assistindo inerte a todas as medidas de repressão política que eram implantadas no país que cerceavam os direitos e liberdades mais comuns dos cidadãos brasileiros.
 
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fonte histórica.
Palavras-chave: Cinema; Ditadura; sociedade
Orson Welles no Brasil: a trilogia de Sganzerla Flávia de Sá Pedreira Professora do Departamento de História da UFRN [email protected]
No auge da Política da Boa Vizinhança, a imagem de Brasil para exportação idealizada pelo regime Vargas, com o apoio da RKO de Nelson Rockefeller, deveria ser divulgada a partir de um grande lme dirigido e roteirizado pelo cineasta e ator norteamericano Orson Welles. Convidado pelo governo brasileiro a fazer as malas e aterrissar no Rio de Janeiro, no mês de fevereiro de 1942, em pleno Carnaval, o realizador de Cidadão Kane iniciou as lmagens do seu It´s All True. Os descaminhos do grandioso projeto, que esbarrou na incompreensão das autoridades envolvidas e de seus nanciadores quanto à visão revolucionária para a época que Welles estaria imprimindo às cenas das favelas cariocas, ganharam uma criativa percep- ção através da trilogia de Rogério Sganzerla, quarenta anos depois: Tudo é Brasil; Nem tudo é verdade; O signo do caos. Nossa comunicação pretende explorar as cenas mais signicati-  vas sobre a trajetória do lme que caria inacabado, reetindo sobre os tênues limites entre cção e realidade na pesquisa histórica.
Palavras-chave: política da boa vizinhança; cinema; cção/realidade.
Airá - O cinema documental como método e técnica de observação na pesquisa de campo Frederico Mael Silva Marques Bueno Mestrando em História pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás [email protected] O cinema documental aborda a imagética do culto de Xangô com base na ritualização do sin- cretismo religioso brasileiro que incorpora em seu conteúdo histórico, a resistência da cultura africana no Brasil, submersa ao modelo escravista como forma proibida de armação de sua identidade cultural. Discutiremos as relações do cinema documental como método e técnica de observação na pesquisa de campo e sua função heurística na representação da história. A partir do método etnográco, construímos a imagem do Babalorixá Joaquim de Xangô e seu imag- inário na expressão do cinema documental, como forma de produção do conhecimento.
 
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Gabriel F. Marinho / (UFF) [email protected]
 A identidade dos anos JK como um período desenvolvimentista tem sua icnograa cine- matográca. Da mesma forma, a memória de um conturbado período de adversidades só- ciopolíticas, vinculada ao governo Jango, também possui uma visualidade audiovisual. A construção dessas e outras memórias ocorrem através inúmeras ferramentas de natureza simbólica. E o cinema é instrumento singular nesse processo uma vez que ganhou destaque dentre um conjunto de novas manifestações de representação, potencializadas em um sécu- lo marcado pela reprodutibilidade técnica dos bens culturais.
Nessa perspectiva, esse trabalho propõe uma analise comparativa da produção de documen- tários do cineasta Jean Manzon, realizados em dois períodos quase consecutivos: os anos JK (1956-1961) e o governo João Goulart (1961-1964). Utilizando-se dos conceitos de “otimismo” e “pessimismo”, trabalhados pelo historiador Carlos Fico, questionamo-nos sobre as diferen- ças de projetos de memória presentes nesses dois períodos de realização.
Perceber a construção de identidades através do enquadramento de um cineasta abre espaço para o debate a respeito do papel do cinema como lugar de memória. Questão que ultrapassa classicações como “verdade” e “inverdade”, ainda comuns nos debates a respeito de lmes documentários. A analise de peças lmicas é uma forma de questionar a naturalização das construções de identidade. E de apontar como elementos de natureza audiovisual colabora- ram para a construção de memórias distintas.
Leituras do cotidiano: a transformação do “mito do gaúcho” através do cinema regional Humberto Ivan Keske Professor Titular da UniversidaFEEVALE [email protected]
O presente texto visa reetir sobre o processo de construção do imaginário coletivo gaúcho em relação ao cinema regional. Utiliza como referencial teórico Cornelius Castoriadis, Mi- chel Maesoli e Castor Ruiz. Adota o estudo de caso como metodologia de análise. Procura delinear o atual panorama da cinematograa regional que abandona a égide do lme “cam - peiro” para assumir um percurso notadamente contemporâneo. Tal mudança, entretanto, reforça posicionamentos ideológicos e valores conservadores de uma nova identidade re- gional, exaltando e defendendo hábitos bairristas e familiares provincianos.
Palavras-chave: audiovisual, cinema gaúcho; imaginário, identidade regional.
 
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Izabel de Fátima Cruz Melo Professora de História na Universidade da Bahia [email protected]
Dialogando com as possíveis relações entre História e Cinema, neste artigo destacamos algu- mas das reexões encetadas na pesquisa e elaboração da dissertação “Cinema é mais do que lme: uma história do cinema baiano através das Jornadas de Cinema da Bahia (1972-1978)”, buscamos compreender as Jornadas como um espaço em que se entreteceram relações, po- larizações, disputas e tensionamentos que tornaram possível o orescimento de uma gera- ção de cineastas superoitistas baianos inseridos no contexto sócio-cultural dos anos 1970.
Construir Cidades em Imagens: Walter Hugo Khouri e Luís Sérgio Person edificam a metrópole cinematográfica brasileira na década de 1960
 Jaison Castro Silva (UFC)  [email protected]
O texto discute como a metrópole cinematográca brasileira encontrou expressão visual nas obras de Walter Hugo Khouri e Luís Sérgio Person, durante a década de 1960. Inserido na reexão sobre as maneiras como as imagens e práticas do olhar atuam na construção de signicados para as ações humanas, propõe-se que a metrópole imagética de ambos os cin- eastas, contidas em lmes como Noite vazia (1964) e São Paulo S. A. (1965), atuam em um denominador comum, a tentativa de captar a cidade real em imagens semi-documentais, mas, em contrapartida, dialogam com referenciais como o de progresso de modo bastante heterogêneo. Embora permaneça a ansiedade em mostrar a cidade brasileira célere e cos- mopolita, apresenta-se a hipótese de que o lme khouriano descortina uma perspectiva de progresso universal e simultâneo, enquanto o lme de Person estabelece uma metrópole  vencedora em vias de derrocada, que precisa rearmar seu papel de liderança. No entanto, tais pontos de vista fílmicos, apesar de dissonantes, fundam um projeto para a metrópole cinematográca brasileira sessentista, apresentando uma outra perspectiva de cidade, ainda que obliterada em prol de projetos concorrentes. A análise da fundação desse regime visual possibilita, assim, um olhar renovado sobre o cinema no período.
Palavras-chave: Cinema-história, Representação Urbana, Regimes visuais.
Régnault, Matuszewski e seus herdeiros. Leitores do cinema-história do século XX. Visionários de uma pedagogia do “futuro”.
 
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Ciências Sociais da UFBA   [email protected]
Na problemática que estamos trabalhando sistematicamente há quase duas décadas, a das relações complexas entre o cinema e a história, se torna, todavia, ainda mais difícil de “aceit- ar” o fato de que muito do que estamos denominando de um paradigma e uma pedagogia do “futuro” já existia em graus variados no passado, e isto desde que o cinema apareceu. Com relação à simples utilização da pintura, da escultura e mesmo da arquitetura, vários historiadores estudiosos do mundo antigo, do medieval e do moderno - muito embora mais
 voltados para questões ligadas à história da arte - já utilizavam as imagens. Mas é também bem verdade que tal prática não adquiriu o peso e valor epistemológico que passou a ter senão mais recentemente. Entretanto, atenção para a ênfase na etimologia palavra episte- mologia. Ela difere da palavra ontologia. Isto permite percebermos que vivemos num mundo dominado pelas imagens, mas no qual, muito contraditoriamente sua utilização sistemática e consciente por professores e pesquisadores das diversas áreas do conhecimento, nas suas múltiplas dimensões, se faz ainda enfrentando não somente o peso da inércia dos currículos institucionais, mas também a reação de muitos dos referidos agentes sociais às mudanças e inovações com a introdução de uma pedagogia que utilize as imagens, a fotograa e o cine- ma, mas também documentos fonográcos. É verdade, pois, que estudos em outros espaços, realizados por historiadores e cientistas sociais chamam a atenção também que é comum se escutar a armação de que o historiador não gosta das imagens. Recentemente uma polêmi- ca entre historiadores ingleses, falava do que denominavam a “invisibilidade do visível ”. Trata-se evidentemente do que alguns chamam de amnésia, fenômeno que se apropria de historiadores e cientistas sociais quando começam a avaliar suas praticas investigativas, seus paradigmas e objetos de estudo. Eles se esquecem completamente de que a utilização de fontes iconográcas é muito mais praticada do que eles são capazes de admitir.
 
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de pouco discernimento. Às vezes somos obrigados a constatar uma má vontade o que nos obriga a pensar na inutilidade de tal comportamento. É verdade que existem também os ar- gumentos mais renados de leituras produzidas por estudiosos da estética cinematográca. Mas muitos deles não admitem que o cinema, por ser ele obra de arte, possa construir uma
 visão passível de ser considerada pela investigação dos fenômenos humanos os mais subje- tivos, tanto quanto os sociais. O cinema e as imagens, de um modo geral, de há muito são estudados, mas como objeto cultural e estético. Muitas vezes são tomadas como objetos da história, quer dizer na produção da história do cinema ou da pintura ou da fotograa. É pos- sível mesmo encontrar grandes quantidades livros sobre tais fenômenos artísticos, inclusive de seus aspectos econômicos e técnicos. Encontramos com facilidade histórias das escolas estéticas. É possível comprarmos nas livrarias com certa facilidade livros sobre a história da arte observada do ponto de vista do seu condicionamento social, mas é quase certo que não encontraremos livros sobre algo distinto, que é ao mesmo tempo um objeto e uma prob- lemática: a relação cinema-imagem-história.
A crítica histórica de Paulo Emílio: alguns resultados de pesquisa
 Julierme S. M. Souza Mestre em História pela Universidade Federal de Uberlândia
 [email protected]
Esta comunicação visa trazer a público alguns resultados de nossa dissertação de mestrado intitulada Ecácia política de uma crítica: Paulo Emílio Salles Gomes e a constituição de uma teia interpretativa da história do cinema brasileiro. Tendo como preocupação fundamental a investigação acerca da formação de uma memória história do cinema brasileiro, essa pesqui- sa pretendeu contribuir na demonstração de que a trilogia de ensaios Panorama do Cinema Brasileiro: 1896/1966 (1966), Pequeno Cinema Antigo (1969) e Cinema: trajetória no subde- senvolvimento (1973), de Paulo Emílio Salles Gomes, constitui-se em uma teia interpretativa que envolveu a historiograa do cinema brasileiro devido a sua ecácia política.
Ensino de História e Cinema: possibilidades investigativas Kamila da Silva Soares (UFU) [email protected]
Este trabalho visa analisar a relação estabelecida entre ensino de história e cinema nas es- colas da cidade de Uberlândia. Trata-se de uma pesquisa focada nas perspectivas de profes- sores e alunos frente às práticas pedagógicas que propõe a incorporação do cinema como objeto pedagógico e objeto de pesquisa em sala de aula.
 
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intuito de identicar a complexidade e a heterogeneidade dos olhares frente ao diálogo entre ensino de História e Cinema nos diversos espaços escolares.
O presente trabalho procura também entender como a linguagem cinematográca pode con- tribuir para a melhoria do ensino – aprendizagem da disciplina História na educação básica: ensino fundamental, além de compreender de que maneira, no olhar do docente, o recurso audiovisual pode ser um método pedagógico e, na perspectiva dos alunos, a possibilidade de  ver lmes dentro das salas de aulas como parte integrante dos conteúdos escolares.
Essa reexão contribui para a ampliação do campo em que atua o historiador e o profes - sor de história e permite uma abordagem interdisciplinar. Entendo como uma conquista da História Cultural que nos possibilita ampliar as fontes de pesquisa utilizadas pelo historia- dor. Sendo assim, uma aliança entre ensino de História e cinema propiciaria uma expansão nos olhares tanto sobre os métodos pedagógicos quanto sobre a arte cinematográca.
O Cinema Novo e a História Cultural do Político, em uma reflexão a partir de “Garrincha, Alegria do Povo” (1963), de Joaquim Pedro de Andrade
Luís Fernando Amâncio Santos Mestrando em História pela UFMG [email protected]
Existem importantes trabalhos sobre cinema e história política que enfocam, geralmente, a produção cinematográca de propaganda em determinados regimes ou, pelo contrário, o engaja- mento de oposição a partir da obra de certos diretores. O que nosso trabalho pretende é trazer essa problemática para o campo da história cultural do político. Ou seja, pensar as relações no cinema de produção, exibição e circulação de ideias por uma ótica cultural. Para isso, mobilizaremos o conceito de culturas políticas, no seu entendimento de que as relações com essa esfera englobam práticas, linguagens, imaginário, valores, entre outros sentidos. A partir dele, abordaremos a atu- ação dos cineastas do chamado movimento de Cinema Novo brasileiro e, mais especicamente, o caso de “Garrincha, Alegria do Povo” (1963), de Joaquim Pedro de Andrade.
Da metrópole à pós-metrópole: Matrix e a crise da modernidade no fim do século XX Marcelo Gustavo Costa de Brito Doutorando em História pela UnB. Professor de Teoria da História na UEG [email protected]
 
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experiência humana no tempo acena para uma abordagem teórico-metodológica em pleno desenvolvimento no campo historiográco. Fontes complexas, polissêmicas, as narrativas cinematográcas não se deixam apreender em seus sentidos (conscientes ou inconscientes) de maneira tão simples. É bem provável que uma compreensão mais densa dos discursos de uma fonte cinematográca só seja possível na medida em que as especicidades do suporte midiático audiovisual também estão se tornando mais conhecidas pelo historiador. Nesta apresentação, gostaria de propor uma análise fílmica que combina técnicas da narratologia e da interpretação psicanalítica dos sonhos. Tal abordagem referenda-se na hipótese de que, em certo sentido, a experiência do cinema aproxima-se da experiência do onírico, e quando se pensa nos lmes de grande circulação, pode-se visualizar o cinema como o meio privi - legiado para o fenômeno aqui chamado de “sonhar social”. O documento fílmico utilizado nesta análise será o longa-metragem Matrix (1999). A partir dessa cção futurista, pretendo discutir como em seu conteúdo manifesto alguns temas latentes do período em que foi pro- duzido se insinuam, em especial os conitos de identidade que alguns autores culturalistas percebem como principal sintoma do declínio das instituições modernas.
Palavras-chave – Cinema-história, modernidade, matrix
A Construção de São Paulo no cinema das décadas de 1930 e 1940 Márcia Juliana Santos Doutoranda em História Social pela PUC-SP
 [email protected]
Este trabalho é parte de uma pesquisa em andamento que analisa os lmes documentais de não-cção (institucionais, jornais cinematográcos e curtametragens) que registraram as transformações urbanas e sociais da cidade de São Paulo nas décadas de 1930 e 1940. A historicidade das lmagens, os temas abordados, os cenários da cidade, os enquadramentos, as locuções, os letreiros e outros elementos incorporados à narrativa fílmica vão constituir o foco da análise. O recorte apresentado é a apreciação de dois lmes: SÃO PAULO (1942), uma co-produção do Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), com o governo do Estado de São Paulo e o Departamento de Assuntos Interamericanos. PEQUENAS CENAS DE UMA GRANDE CIDADE (1944), do cineasta e fotógrafo Benedito Junqueira Duarte, um lme encomendado pelo Departamento de Educação da Prefeitura de São Paulo.
 A produção do lme SÃO PAULO (1942) estava inserida num contexto de estratégias diplomáticas da Segunda Guerra, cujo objetivo, era promover um maior intercâmbio cul- tural e político entre Brasil e Estados Unidos. No lme destacaram-se os símbolos de uma cidade industrial, com arranha-céus, grandes construções arquitetônicas e chaminés das fábricas, representando a industrialização e a urbanização crescentes. As imagens em mo-
 
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a feira livre, as rodas de conversa e as brincadeiras das crianças nos parques. O diretor esta- beleceu uma ligação entre a vida cotidiana e as instituições cientícas, ao conduzir a câmera pelas inúmeras Faculdades da cidade.
 A interpretação das imagens está aliada à contribuição teórico-metodológica de autores como Jean-Claude Bernardet, Maria Rita Galvão, Rubens Machado Jr. e José Inácio de Melo Souza que debatem a história do cinema brasileiro. Aliado a tal perspectiva, analisam-se também reportagens de jornais e revistas que noticiavam os lmes. Possibilita-se assim, observar a construção da narrativa de uma São Paulo em movimento, focalizada não só pelo cinema, mas pela imprensa da época. O percurso metodológico permite questionar percep- ções naturalizadas por diferentes discursos. É possível reetir a construção das imagens dos lmes, por meio das disputas de poder diante de inúmeros projetos políticos para a cidade. O estudo destes lmes não é, e nem deve sugerir, uma reprodução exata ou uma imagem do real inquestionável, mas uma expressão problemática da relação entre o cinema e a história de São Paulo.
Palavras-chave: cinema, São Paulo, B. J. Duarte
C’eravamo tanto amati. O cinema italiano, espelho e interpretação da história e da sociedade desde o período pós-guerra aos anos de chumbo Maurizio Russo Doutor em Historia Cultural pela Université Nancy 2 [email protected]
Fenômeno cultural fortemente ligado ao âmbito histórico no qual è produzido, o cinema italiano è produto de um determinado quadro social, econômico e cultural. Ele narra inter- pretando e por isso foi muitas vezes visto con desconança por parte de históricos italianos, que ainda pouco o utilizam, preferendo fontes mais tradicionais. Mas como as várias ver- tentes lmográcas descreveram a realidade histórica social italiana que se desenvolveram entre o pós-guerra e os anos 70? O Neorealismo de De Sica, Rossellini, Visconti; a Commedia all’italiana de Monicelli, Risi; o Spaghetti Western de Solima e Leone; o Giallo all’italiana (ou spaghetti-thriller) de Bava e Fulci; o cinema político de Petri; as críticas e desconfortáveis obras de Fellini, Scola, Pasolini, Ferreri, Rosi, Bolognini, Antonioni.
 
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perctivas deste campo de pesquisa, propondo chaves de leituras especícas de algumas das obras relevantes.
“Mulheres Choradeiras”: História cultural formada a partir dos mitos e da oralidade Mônica do Corral Vieira (UFPA) [email protected]
Mulheres Choradeiras é um conto de Fabio Castro presente no livro Terra dos Cabeçudos, de 1984. O estudo deste conto visa explorar os diferentes tipos de realismo existentes nesta obra, através do estudo dos mitos e da oralidade que envolve a criação do conto em questão e sua propagação.
Os mitos e a oralidade possibilitam uma (re)construção e desenvolvimento de conhecimen- tos que permeiam a atividade da leitura (conhecimentos artístico, cultural, social, losóco e histórico) e enriquecem/(re)armam a identidade latino-americana. Pretende-se estudar os elementos literários e tipos de realismo/realidade constituintes desta obra - e de seu curta metragem homônimo - para relacioná-los à outras leituras, tais quais sua aproximação/se- melhança a fatos históricos, mitos, representações, oralidade e outras literaturas em geral.
Palavras-chave: História, mito, oralidade.
As lentes da intolerância: representações do neo- fascismo e de skinheds no cinema do século XXI Paulo Roberto Alves Teles (UFS) [email protected]  
 
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O cinema em Belém do Pará nos tempos da borracha (1896-1914) Pere Petit Penarrocha (UFPA) [email protected]
Esta comunicação faz parte da pesquisa atualmente em andamento sobre os pioneiros do cinema mudo em Belém do Pará, desde as primeiras exibições de imagens através do Vita- scope de Thomas Edison, em dezembro de 1896, e do cinematógrafo dos irmãos Augusto e Louis Lumière, um ano depois, até o que podemos denominar boom do cinema na capital do Pará a partir da inauguração de salas destinadas à exibição exclusiva de lmes e documen- tários e a criação da primeira produtora de documentários em 1911, a rma de The Pará Films. Também discutiremos o impacto no mundo cultural e cinematográco belemense da crise econômica que sofre a capital paraense após a queda do valor no mercado internacional do preço da borracha exportada pelo Brasil.
Bonnie e Clyde: uma biografia de contravenção (anos 1930 e 1960) Soleni Biscouto Fressato Doutora em Sociologia pela UFBA  [email protected]
Bonnie Parker e Clyde Barrow foram dois conhecidos ladrões de bancos e postos de gaso- lina que viveram os conturbados anos da depressão econômica nos Estados Unidos. A gang Bloody Barrow Gang fazia tremer o comércio, pois era sinônimo de brutalidade impiedosa, mas também vista como um sinal de revolta contra a miséria em tempos de crise. A partir de 1932, quando ocorreu o primeiro assassinato, eles começaram a ser perseguidos feroz- mente pela polícia norte-americana. Em 1934, num tiroteio com a polícia de Louisiana, eles foram assassinados. Em 1967, período em que os jovens contestavam e desaavam o poder, a história do casal vem novamente à tona com o lme Bonnie e Clyde. Warren Beatty (Clyde) e Faye Dunaway (Bonnie) se transformaram nos símbolos de uma mudança de atitute da
 juventude frente às imposições sociais e morais. Diante do exposto, a proposta da presente comunicação é analisar em que medida o lme Bonnie e Clyde é uma biograa do famoso casal de gângsteres norte-americano e, ao mesmo tempo, uma representação da juventude nos revolucionários anos 1960.
Palavras-chave: Biograas cinematográcas, Representações sociais no cinema, Revolução e contestação.
 
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cinematográfico baiano nas décadas de 1950-60 Thiago Barboza de Oliveira Coelho Mestrando do Programa Multidisciplinar de Pós-Graduação em Cultura e Sociedade da UFBA  [email protected]
 As décadas de 1950 e 1960 se conguraram como um período de grande efervescência das manifestações artístico-culturais na cidade de Salvador. Esta dinamização do campo cultural está associada diretamente à promoção de iniciativas pelo governo da Bahia e pela recém- criada UFBa. No entanto, o mesmo não se concretiza no campo das produções audiovisuais. Sem apoio de políticas públicas, a arte cinematográca na Bahia desenvolveu-se através de projetos e iniciativas implementadas pela sociedade civil. Neste contexto, Walter da Silveira emergiu como um dos mais relevantes fomentadores da cultura cinematográca no estado. Entre as diversas ações promovidas por este, destaca-se principalmente a criação do Clube de Cinema da Bahia. O presente trabalho tem como objetivo discorrer sobre os projetos ide- alizados por Walter da Silveira, evidenciando a importância destas atividades no desenvolvi- mento da cultura e da cinematograa no estado baiano.
Palavras-Chaves: Cinema Baiano; Walter da Silveira; Clube de Cinema da Bahia.
Caminhos que se cruzam: literatura e cinema em Cidade de Deus
 Valquíria Lima Doutoranda em Estudos Literários e Culturais pela Universidade Federal da Bahia  [email protected]
O momento histórico atual nos apresenta obras literárias diferentes, agressivas, que com- põem mosaicos para tematizar, radiografar e ressignicar a realidade capitalista, considera- da cruel. Entre estas, está o romance Cidade de Deus (1997), de Paulo Lins. Sua narrativa já traz em si a marca da rapidez cinematográca e requer novos olhares sobre o literário, que o entrecruzem com o cinematográco e com a história.
O que se coloca, então, para a crítica, nestes textos, é a impossibilidade de operar com os mes- mos elementos de análise de outrora. Este novo modelo de escrita – a que Roberto Schwarz chama arte compósita – requer uma análise que se movimente entre as áreas de literatura e as demais (Sociologia, História, Filosoa, Ciência Política e Economia), de modo que olhar para o literário não dissocie as suas diversas instâncias de composição. Em Cidade de Deus, a imaginação não é o único motor da escrita, nela, a relação com a realidade objetiva é a marca da literatura e, por isso mesmo, ela busca no cinema o motor da narrativa, provocando as- sim, um grande encontro.
 
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Memórias sobre homens e natureza – as representações do sertão brasileiroS 3
Incultos Sertões, Bárbaros e Civilizados: repre- sentações dos habitantes e dos espaços geográ- ficos da vila de Cimbres, localizados nos antigos sertões de Ararobá de Pernambuco (1762-1867)
 Alexandre Bittencourt Leite Marques Mestrando em História Social pela UFRPE [email protected]
Os informes mais antigos sobre as regiões que hoje são conhecidas como agreste e sertão de Pernambuco vêm desde o início da colonização portuguesa. Ao passo que avança a expansão colonial em direção ao interior, aparecem cada vez mais informações, descrições e relatos sobre as paisagens geográcas e os habitantes nela inseridos. O presente trabalho tem por objetivo analisar as representações feitas pela administração de Pernambuco sobre os habitantes e os espaços geográcos da vila de Cimbres, inserida nos antigos sertões de Ararobá. Utilizaremos como fontes documentais, alvarás petições, ofícios e cartas – localizados no Livro da Criação da
 Vila de Cimbres. Nesse sentido, os documentos administrativos constituem em uma rica fonte de representações, onde termos como incultos sertões, desertos sertões, vileza, honra, bons costumes, bárbaros, civilizados, simbolizavam designações dos espaços geográcos e identi- dades dos atores sociais envolvidos.
Palavras-chave: representações, sertão, colonização
Arthur Cézar Reis e as representações sobre ho- mens e natureza na história da cobiça estrangei- ra da Amazônia (Década de 1960)
 Alexandre Pacheco Doutor em Sociologia pela Universidade Estadual Paulista [email protected]
 
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curou expressar - a partir das escolhas literárias e cientícas presentes em sua memória sobre os fatos passados que analisou - a representação da tenacidade do elemento português, do luso-brasileiro e do próprio homem brasileiro em defender a Amazônia mesmo diante das precárias condições históricas destes povos para o domínio de sua natureza. Representação, enm, que na década de 1960, deveria servir para uso objetivo dos brasileiros em sua luta para defesa, manutenção e histórico esforço de integração da Amazônia ao restante do país.
Homens e natureza no sertão de Henry Koster Eduardo Girão Santiago Professor Adjunto do Departamento de Ciências Sociais da UFC [email protected]
O artigo pretende trazer à tona homens e paisagens do sertão nordestino, a partir de relatos de Henry Koster no início do século XIX. Será apresentado um “sertão legítimo, com seca, léguas sem-m, gado morrendo, solidão, resistência, heroísmo, primitividade”, como ates- tou Luís de Câmara Cascudo. Será analisada a interação homem e natureza no sertão, a sua cultura, o seu perl psicológico, a sua alimentação, as práticas de comércio e a vida de
 vaqueiro nas fazendas de gado. A leveza e naturalidade da narrativa do “exato” Koster será explicitada neste artigo, descortinando a comparação do sertanejo nordestino e do peão das terras vizinhas do Prata, o teor das conversas dos sertanejos e a sua intrigante moral num território sem lei. A fonte de pesquisa deste artigo será o livro Viagens ao Nordeste do Brasil, com prefácio e comentários de Câmara Cascudo, que reconhece em koster o pioneirismo na construção da etnograa tradicional do sertanejo nordestino no seu cenário.
Palavras-chave: Sertão. Etnograa. Henry Koster
O sertão brasileiro e a pós-modernidade: imagens na literatura e no cinema contemporâneos
Émile Cardoso Andrade Doutoranda em Literatura na Universidade de Brasília [email protected]
Este trabalho tem como objetivo investigar de que forma a literatura e o cinema brasileiro con- temporâneos representam o sertão; para isso utilizaremos o romance “Galileia” (2008) de Ron- aldo Correia de Brito e o lme “Árido Movie” (2006) de Lírio Ferreira. A ideia é discutir as rela- ções entre as representações artísticas do espaço sertanejo e as novas perspectivas políticas e estéticas que envolvem as mesmas. Outro intuito deste estudo é entender como a pós-moderni- dade compreende o sertão como lugar e não-lugar de uma possível identidade brasileira que se congura diferentemente de contextos anteriores, como a literatura de Euclides da Cunha e Graciliano Ramos e o Cinema Novo de Glauber Rocha e Nelson Pereira dos Santos.
Palavras chaves: sertão, literatura e cinema
 
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Paisagem-labirinto: notando espaços sertanejos Eudes Marciel Barros Guimarães Mestrando em H