Brasil Teme Invasão Por Riquezas Naturais

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Brasil teme invasão por riquezas naturais SILVIO NAVARRO da Agência Folha, em Brasília THIAGO GUIMARÃES da Agência Folha Um levantamento divulgado ontem pela Renctas (Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres), em parceria com o Ibope, aponta que, para 75% dos brasileiros, o país corre o risco de ser invadido por outros devido às suas riquezas naturais. A pesquisa mostra que 19% descartam a possibilidade de uma invasão estrangeira e 6% não souberam responder ou não opinaram. O objetivo da pesquisa, segundo o instituto, era "levantar opiniões relacionadas ao tráfico de animais silvestres e a questões ambientais". O Ibope entrevistou 2.002 pessoas maiores de 16 anos, entre os dias 8 e 13 de abril. Foram selecionados 143 municípios em todas as regiões do Brasil. A margem de erro é de 2,2 pontos percentuais para mais ou para menos, e o nível de confiança estimado é de 95% (se a pesquisa fosse repetida cem vezes, 95 delas dariam o mesmo resultado). O temor de uma intervenção estrangeira nas florestas é maior entre os mais jovens, aqueles que possuem ensino médio, e com renda familiar variável de cinco a dez salários mínimos. Os mais velhos e com baixo poder aquisitivo formam a maioria dos que não opinaram. A parcela dos que rechaçam essa hipótese é distribuída homogeneamente. A mesma sondagem questionou os entrevistados sobre a forma como o país age em relação às questões ambientais. Para 71%, o Brasil é um país que não respeita o ambiente. Outros 29% responderam o contrário. A pesquisa foi divulgada ontem, em Brasília, pelo coordenador-geral da Renctas, Dener Giovanini. Para ele, o dado mais relevante diz respeito à posse de animais silvestres, especialmente nas regiões Norte e Nordeste. Segundo o levantamento, 30% dos entrevistados admitiram que têm ou já tiveram um animal silvestre, contra 70% que disseram o inverso. No Nordeste, o índice de pessoas que afirmaram ter um animal desse tipo atinge 39%. "Esse número aponta para um universo de 60 milhões de pessoas. E essas pessoas estão sempre repondo o pássaro quando ele morre", afirma Giovanini.

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Brasil teme invaso por riquezas naturais

Brasil teme invaso por riquezas naturais

SILVIO NAVARROda Agncia Folha, em BrasliaTHIAGO GUIMARESda Agncia Folha

Um levantamento divulgado ontem pela Renctas (Rede Nacional de Combate ao Trfico de Animais Silvestres), em parceria com o Ibope, aponta que, para 75% dos brasileiros, o pas corre o risco de ser invadido por outros devido s suas riquezas naturais.

A pesquisa mostra que 19% descartam a possibilidade de uma invaso estrangeira e 6% no souberam responder ou no opinaram.

O objetivo da pesquisa, segundo o instituto, era "levantar opinies relacionadas ao trfico de animais silvestres e a questes ambientais".

O Ibope entrevistou 2.002 pessoas maiores de 16 anos, entre os dias 8 e 13 de abril. Foram selecionados 143 municpios em todas as regies do Brasil. A margem de erro de 2,2 pontos percentuais para mais ou para menos, e o nvel de confiana estimado de 95% (se a pesquisa fosse repetida cem vezes, 95 delas dariam o mesmo resultado).

O temor de uma interveno estrangeira nas florestas maior entre os mais jovens, aqueles que possuem ensino mdio, e com renda familiar varivel de cinco a dez salrios mnimos. Os mais velhos e com baixo poder aquisitivo formam a maioria dos que no opinaram. A parcela dos que rechaam essa hiptese distribuda homogeneamente.

A mesma sondagem questionou os entrevistados sobre a forma como o pas age em relao s questes ambientais. Para 71%, o Brasil um pas que no respeita o ambiente. Outros 29% responderam o contrrio.

A pesquisa foi divulgada ontem, em Braslia, pelo coordenador-geral da Renctas, Dener Giovanini. Para ele, o dado mais relevante diz respeito posse de animais silvestres, especialmente nas regies Norte e Nordeste.

Segundo o levantamento, 30% dos entrevistados admitiram que tm ou j tiveram um animal silvestre, contra 70% que disseram o inverso. No Nordeste, o ndice de pessoas que afirmaram ter um animal desse tipo atinge 39%.

"Esse nmero aponta para um universo de 60 milhes de pessoas. E essas pessoas esto sempre repondo o pssaro quando ele morre", afirma Giovanini.

A sondagem tambm analisou o conhecimento dos entrevistados sobre a legislao que trata da posse (sem registro no Ibama) de animais silvestres. Para 72%, ter uma espcie dessas errado, contra 25% que no vem problema.

Alm disso, 84% disseram saber que possuir esses animais crime. Outros 11% disseram no considerar crime, e 5% no responderam ou no souberam responder.

"No precisa mais dizer para a sociedade que se trata de um crime ambiental porque a maioria j sabe. hora de mudar o foco das campanhas; afinal, mesmo sabendo que crime as pessoas seguem comprando", afirma Giovanini.Os dados da pesquisa foram considerados "surpreendentes" pelo presidente da CPI da Biopirataria, instalada no Congresso Nacional, deputado Mendes Thame (PSDB-SP).

Ele afirmou que os nmeros "so reflexos de uma legislao ambiental branda e leniente" e que o fato de "somente 30% acreditar nas polticas ambientais sinaliza que a maioria est esperando mais do governo federal".

O coordenador da Renctas ressaltou ainda o descrdito da populao em relao ao trabalho das organizaes no-governamentais ambientais. Do total, 57% disseram que a atuao das ONGs "pouco ou nada confivel". Do outro lado, 29% afirmaram confiar, e 14% no souberam ou se recusaram a avaliar.

Na lista dos animais mais visados pelo trfico esto espcies de diversos tamanhos e habitats, como o tamandu-mirim (Tamandua tetradactyla), a preguia (Bradypus variegatus), a jibia (Boa constrictor constrictor) e o papagaio verdadeiro (Amazona aestiva), alm de uma variedade de pssaros e tartarugas.

Floresta regenerada perde diversidade, afirmam pesquisadores

REINALDO JOS LOPESda Folha de S.Paulo

Mesmo nas condies ideais, pode ser praticamente impossvel fazer com que uma floresta se regenere mantendo a diversidade que tinha antes de ser derrubada. Esse o resultado preocupante de um estudo feito por pesquisadores nos EUA, com uma espcie de palmeira comum em florestas tropicais, inclusive no Brasil.

O pesquisador turco Uzay Sezen e seus colegas da Universidade de Connecticut em Storrs verificaram que mais da metade dos exemplares de palmeira-barriguda ou paxiubo (Iriartea deltoidea) que colonizaram uma rea de pastagem abandonada descendiam de s duas rvores.

Trata-se de uma reduo brutal na diversidade gentica da espcie --e um perigo dos grandes para a sobrevivncia da floresta renascida.

O estudo, publicado na edio de hoje da revista americana "Science", revela mais uma faceta dos problemas que seguem a destruio de matas ecologicamente maduras, que ocuparam o mesmo lugar durante centenas ou at milhares de anos.

"Estudos anteriores mostraram que, em vrias reas de mata secundria [onde a floresta se recuperou depois de ser cortada], a riqueza de espcies entre as rvores maduras menor, mas est no mesmo nvel da vegetao original para os brotos e mudas", conta Sezen, 32.

"Ento, tem-se a impresso de que a riqueza de espcies est voltando para a floresta secundria. Mas as aparncias enganam. Voc pode ter uma regenerao vigorosa, mas um panorama gentico extremamente pobre", diz o pesquisador, que estudante de doutorado.

Vida fcil

O trabalho foi conduzido numa rea de 30 hectares (com 20 de mata primria e 10 de mata secundria) na Estao Biolgica La Selva, na Costa Rica. A espcie de palmeira escolhida, muito abundante por l, tambm ocorre em boa parte das florestas tropicais da Amrica Central e da Amrica do Sul, e se d melhor na sombra.

Para todos os efeitos, a floresta tinha as condies ideais para se regenerar. O processo acontece h 24 anos, desde que a antiga pastagem foi abandonada, e a mata madura ali do lado fornece os "jardineiros": abelhas que transportam plen e animais como tucanos, macacos e antas, que carregam suas sementes.

Os pesquisadores mapearam como esse processo estava se dando com ajuda de um tipo de "etiqueta" de DNA que permite identificar com preciso de 100% os "pais" de um ser vivo. Tambm investigaram as distncias em que o plen e as sementes das rvores da mata primria percorriam.

Foi a que surgiu a primeira surpresa: as sementes viajavam bem mais que o plen, embora ele seja carregado por animais voadores (270 m contra 100 m, respectivamente). "Acreditamos que esse um fenmeno tpico do incio da regenerao, especialmente em espcies cujas sementes so dispersadas por animais, como a I. deltoidea. Numa floresta madura, os dispersores provavelmente no viajam tanto", diz Sezen.

O resultado mais chocante, porm, veio dos testes genticos. Entre 66 rvores maduras da mata primria, apenas duas responderam por 56% das que nasceram na rea regenerada; 23 plantas geraram os outros 44%, enquanto 41 simplesmente no deixaram descendentes ali.

O leitor pouco familiarizado com gentica de plantas perguntaria: e da? O resultado, na verdade, sugere um problema srio para a sobrevivncia a longo prazo das florestas tropicais --embora no seja possvel generalizar os resultados, o pesquisador turco afirma que o caso poderia servir de modelo para outras matas.

Acontece que a variabilidade uma das chaves da sobrevivncia de qualquer espcie --quanto mais diversificada geneticamente, maior a chance de que ao menos uma de suas variedades seja capaz de resistir a uma doena ou a mudanas climticas bruscas.

"A diversidade gentica pode se recuperar se a floresta primria original continuar intacta --alis, o problema global manter esses recursos intactos", diz Sezen.

"Isso pode levar muito tempo, principalmente em espcies que levam centenas de anos para alcanar a maturidade. E, enquanto no acontece, a baixa diversidade gentica ficar pairando sobre elas como a espada de Dmocles", diz, referindo-se arma mtica que pairava sobre a cabea da pessoa presa a um fio de cabelo.Temperatura da Terra pode subir em at 11C, diz pesquisa

RICHARD BLACKda BBC Brasil

As temperaturas na Terra podem subir em at 11C, quase o dobro do que se previa, segundo uma das projees mais abrangentes j realizadas sobre o clima, pela Universidade de Oxford, no Reino Unido.

Os cientistas responsveis pela pesquisa, chamada Climaprediction.net ("Previses do clima", em traduo livre), dizem que no existe um nvel seguro de emisses de gs carbnico (CO2).

O estudo, que foi publicado na revista cientfica "Nature", usou computadores pessoais de todo o mundo para produzir dados: em vez de usar um supercomputador para rodar modelos climticos, o projeto pedia que usurios comuns de PCs baixassem um software que funciona quando o computador no est sendo usado.

Mais de 95 mil pessoas se registraram, em mais de 150 pases. Somados, esses computadores rodaram mais de 60 mil simulaes do clima no futuro.

Diferenas

Cada PC roda uma simulao ligeiramente diferente da outra, e cada uma examina o que acontece com o clima mundial quando os nveis de gs carbnico na atmosfera so duas vezes maior que os nveis pr-industriais --o que, segundo os cientistas, pode ocorrer em meados deste sculo.

O que variou mais entre as simulaes foi exatamente a natureza do processo fsico, como, por exemplo, o das correntes de ar dentro de nuvens tropicais, que rege o transporte do calor em torno do planeta.

Dessa forma, nenhuma simulao produziria exatamente os mesmos resultados.

De maneira geral, o projeto produz um retrato da possvel abrangncia de resultados, considerando-se os conhecimentos cientficos que se tem hoje.

O menor aumento de temperatura que o estudo prev de 2C, podendo chegar a 11C.

Urgncia

A variao real vai depender da velocidade com que se duplicar a quantidade de CO2. Mas grandes aumentos s devem ocorrer dentro de pelo menos um sculo.

"Acredito que esses resultados sugerem que talvez mais urgente do que se pensa a necessidade de fazermos algo em relao s mudanas climticas", disse "BBC" o cientista David Stainforth, um dos autores do Climateprediction.net.

"Entretanto, com o que sabemos hoje, no podemos definir qual o nvel seguro de gs carbnico na atmosfera."

Na segunda-feira, a Fora-Tarefa Internacional para Mudanas Climticas, anunciou que uma concentrao atmosfrica de gs carbnico de mais de 400 ppm (partes por milho) seria "perigosa".

Atualmente, esse ndice est em torno dos 378 ppm, subindo cerca de 2 ppm por ano.

Os pesquisadores do Climateprediction.net acreditam que, por ser distribudo em computadores individuais, o projeto pode ajudar a informar as pessoas sobre o assunto --o que pode, para eles, acarretar em mudanas polticas.

O uso de PCs para pesquisas cientficas no novidade. Projetos como o Seti (Search for Extra-Terrestrial Intelligence ou "Busca por Inteligncia Extra-Terrestre", em traduo livre) contam com milhes de pessoas que baixaram seu software, permitindo aos cientistas analisar dados da observao de galxias distantes.

Cientistas estudam conseqncias de raios na camada de oznio

JOS EDUARDO RONDONda Agncia Folha

Em uma parceria entre a Agncia Aeroespacial Alem e a Unesp (Universidade Estadual Paulista), cientistas brasileiros e de outros sete pases esto reunidos em Araatuba, interior paulista, para um estudo sobre os efeitos que o xido de nitrognio liberado por raios podem causar ao homem e camada de oznio.

At o dia 25 de fevereiro, pesquisadores de Dinamarca, Alemanha, Sua, Reino Unido, Rssia, Itlia, Frana e Brasil faro estudos de quantificao e qualificao de gases provenientes de raios. Para isso, realizaro medies a bordo de trs aeronaves.

A parceria entre a universidade paulista e a agncia alem faz parte de um projeto denominado Troccinox (sigla inglesa para experimento de conveco tropical, cirros e xidos de nitrognio), que, segundo o diretor do Ipmet (Instituto de Pesquisas Meteorolgicas) da Unesp de Bauru e coordenador-cientfico da parte nacional do projeto, Roberto Vicente Calheiros, custou aos europeus cerca de R$ 35 milhes.

A regio de Araatuba foi escolhida por fazer parte de uma rea considerada de mxima ocorrncia de raios, informou Calheiros.

Uma das aeronaves, um MIG-55 de fabricao russa, voar a cerca de 20 mil metros de altitude, e foi aparelhado com equipamentos para captar dados na estratosfera (camada alta da atmosfera).

Alm da aeronave russa, um Bandeirante brasileiro e um Falcon da Agncia Aeroespacial Alem faro a coleta de dados relacionados composio dos raios.

No Falcon ser utilizado um radar a laser que capacitado para fazer o perfil de vapor d'gua na atmosfera --ou seja, saber como se distribui a umidade no ar--, que, segundo Calheiros, indito no Brasil.

Voltmetros

Alm do radar, as aeronaves contam com sistemas de bordo que so capazes de fazer medidas das descargas por amostragem. " possvel, por intermdio dos componentes instalados nas aeronaves, uma quantificao e qualificao dos gases provenientes dos raios", disse Calheiros.

Alm das aeronaves, na regio de Araatuba esto instalados cinco sensores de superfcie e radares que ajudaro os cientistas a identificar reas com possvel ocorrncia de tempestades.

Aps o trmino dos trabalhos, um conjunto completo de dados decodificados pelos cientistas ser enviado aos ministrios da Defesa e da Cincia e Tecnologia e ao banco de dados da Agncia Aeroespacial Alem.