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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS
FACULDADE DE VETERINÁRIA
RELATÓRIO DE ESTÁGIO EXTRACURRICULAR
SUPERVISIONADO EM MEDICINA VETERINÁRIA
BOVINOCULTURA LEITEIRA
MÁRCIO ERPEN LIMA
PELOTAS, ABRIL DE 2011
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MÁRCIO ERPEN LIMA
RELATÓRIO DE ESTÁGIO EXTRACURRICULAR
SUPERVISIONADO EM MEDICINA VETERINÁRIA
ORIENTADOR TÉCNICO: ELIO RAVAZI DE OLIVEIRA
ORIENTADOR ACADÊMICO: MARCIO NUNES CORRÊA
LOCAL: PREFEITURA DE SÃO JOÃO DO OESTE - SC
PERÍODO: 03 DE FEVEREIRO A 03 DE MARÇO DE 2011
PELOTAS, ABRIL DE 2011
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Banca examinadora:
Ana Rita Tavares Krause, Médica Veterinária, Mestranda em Zootecnia
Viviane Rohrig Rabassa, Médica Veterinária, Professora da Faculdade de Veterinária
UFPel, Doutoranda em Veterinária
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Resumo
O estágio extracurricular foi realizado junto à Secretaria da Agricultura do Município de
São João do Oeste – SC, sob orientação do Médico Veterinário Elio Ravazi de Oliveira,
do dia 03 fevereiro ao dia 03 de março de 2011, totalizando um período de 200 horas.
Durante o período de estágio foram acompanhadas atividades pertinentes à produção
de bovinos leiteiros, com foco principalmente na rotina clínica do rebanho. O sistema de
trabalho baseava-a no dia-a-dia do Médico Veterinário pertencente à prefeitura do
município, em regime de dedicação exclusiva junto ao suporte técnico ao rebanho
bovino. Dentre as principais atividades exercidas, ressalta-se a grande importância dos
atendimentos clínicos ao rebanho, em segundo plano, também eram realizadas
indicações de manejos, em âmbito nutricional, sanitário e zootécnico. Desta forma,
pôde-se reforçar e aprimorar os conhecimentos a respeito da casuística clínica de
rebanhos leiteiros, bem como angariar estratégias de prevenção e/ou controle de
algumas enfermidades que afetam o desempenho produtivo desses animais. Contudo,
através da rotina vivenciada foi possível conhecer os pontos críticos e promissores da
atividade leiteira na região oeste de SC, como também avaliar o desenvolvimento
pessoal para atuar junto a um sistema de produção leiteira.
Palavras-chave: Bovinocultura, leite, manejo, clínica.
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LISTA DE FIGURAS
Figura 1. Demonstrativo da inserção dos dados de campo obtidos no período de
estágio em uma planilha do Microsoft Excel®. ............................................................... 19
Figura 2. Tabelas e gráficos dinâmicos formados a partir dos dados de campo obtidos
no período de estágio, inseridos em uma planilha do Microsoft Excel®. ....................... 19
Figura 3. Demonstrativo do número de atendimentos realizados em relação ao
momento parto em vacas, no município de São João do Oeste - SC. ........................... 20
Figura 4. Demonstrativo do número de casos de TPB atendidos em relação ao
momento do parto em fêmeas multíparas e nulíparas gestantes, durante o período de
estágio no município de São João do Oeste - SC. ......................................................... 22
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LISTA DE TABELAS
Tabela 1. Movimento econômico Agropecuário por produto no ano de 2009, município
de São João do Oeste SC...............................................................................................10
Tabela 2. Principais atendimentos clínicos acompanhados, número de casos e seus
respectivos percentuais, durante o período de estágio em São João do Oeste SC.......14
Tabela 3. Principais afecções de Glândula Mamária atendidas, número de casos e seus
respectivos percentuais, durante o período de estágio em São João do Oeste SC.......15
Tabela 4. Principais afecções Obstétricas atendidas, número de casos e seus
respectivos percentuais, durante o período de estágio em São João do Oeste SC.......15
Tabela 5. Principais doenças metabólicas atendidas, número de casos e seus
respectivos percentuais, durante o período de estágio em São João do Oeste SC.......16
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SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 7
2. MUNICÍPIO DE SÃO JOÃO DO OESTE - SC .............................................................. 9
3. SISTEMA DE TRABALHO ......................................................................................... 11
4. ATIVIDADES DESENVOLVIDAS ............................................................................... 14
4.1. CONTROLE DE DIAGNÓSTICOS ...................................................................... 16
5. ESTUDO DE CASUÍSTICA CLÍNICA ......................................................................... 20
6. PONTOS PROMISSORES ......................................................................................... 23
7. CONCLUSÃO ............................................................................................................. 25
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................... 26
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1. INTRODUÇÃO
Historicamente, a economia brasileira possui como base a produção primária,
sendo essa responsável pela manutenção e desenvolvimento desta nação desde o
descobrimento. Atualmente, incorporando-se toda evolução da estrutura de vida e
valores do mundo cotidiano, a necessidade da alimentação à base de proteína animal e
cultivares vegetais persiste e ainda possui forte tendência de aumento de demanda,
pelo fato do crescimento populacional e consolidação da necessidade de nutrição
adequada para repleta saúde humana.
Desta forma, pode-se creditar ao setor agropecuário brasileiro a perspectiva de
demanda interna e externa de produtos primários, ciente da apropriação do país para
tal produção.
Nessa realidade sustentável, de altíssimo giro de informações dentro de uma
economia globalizada, surge a necessidade de formação e extenso aprimoramento de
profissionais capacitados para o fomento da base econômica deste país. Os
responsáveis pelo crescimento desta cadeia produtiva devem vislumbrar esse futuro
como alicerce para evolução da população mundial, assim como uma oportunidade de
um próspero futuro de crescimento e realização profissional.
Nesse contexto, pode-se afirmar que existe a necessidade da otimização do
período da academia para a futura incorporação adequada no mercado de trabalho. O
estágio extracurricular torna-se uma importante ferramenta para o treinamento e
capacitação do profissional.
Devido à linha de interesse pessoal para desenvolvimento, optou-se pelo
acompanhamento da rotina de um Médico Veterinário responsável pelo alicerce técnico
a propriedades leiteiras em um município no extremo oeste do estado de Santa
Catarina. No presente local, a atividade leiteira possui suma importância econômica e
social, sendo uma das principais fontes de renda de grande parte da população
pertencente ao município.
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Atualmente a bovinocultura leiteira apresenta alta representatividade tanto
cenário nacional como mundial. A assistência técnica a estes sistemas produtivos tem
sido requisitada para alavancar a produtividade dos rebanhos leiteiros. Contudo, a
demanda no mercado busca desde o auxílio técnico através de atendimentos clínicos e
manejos cruciais, até incorporações de novas tecnologias ao sistema. Assim, os
profissionais interessados em participar e promover o desenvolvimento dessa cadeia
devem aprimorar seus conhecimentos diariamente, pois as exigências e
responsabilidades exigem uma qualificação diferenciada.
Junto a esta demanda da bovinocultura os interesses de graduandos podem ser
contemplados de forma potencial para ambos os lados. Pois através do estágio, o aluno
tem a possibilidade de treinar, aperfeiçoar e vivenciar o futuro profissional frente aos
desafios da profissão. Já a pecuária leiteira, auxilia na formação dos profissionais que
em um futuro próximo podem ser responsáveis pelo seu alicerce e competitividade no
mercado.
Neste contexto, o estágio extracurricular foi realizado junto à Secretaria da
Agricultura do Município de São João do Oeste – SC, sob orientação do Médico
Veterinário Elio Ravazi de Oliveira. O objetivo principal do estágio foi acompanhar
atividades pertinentes à produção de bovinos leiteiros, com foco principalmente na
rotina clínica do rebanho. O período compreendeu desde o dia 03 fevereiro até o dia 03
de março de 2011, totalizando uma carga horária de 200 horas.
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2. MUNICÍPIO DE SÃO JOÃO DO OESTE - SC
O município está localizado no extremo Oeste Catarinense, consta com uma
população atual de 6.035 habitantes, dos quais 25% residem em um perímetro urbano
e 75% em zonas rurais (IBGE, 2009). O território compreende uma área total de 162
km2 e quanto ao relevo, pode ser classificado em 50% de terras acidentadas, 30%
terras onduladas e 20% terras suavemente onduladas, o que permite concluir que
apenas 20% das terras são mecanizáveis.
A região que constitui o atual município de São João do Oeste foi colonizada por
alemães, oriundos de regiões centrais do Rio Grande do Sul. A base do
desenvolvimento das antigas colônias foi efetuada por esses colonizadores, que
adquiriram a área e a lotearam em chácaras com aproximadamente 15 há. A
comercialização dessas chácaras ocorreu através de incentivos e facilidades para
ocupação, atraindo agricultores de diversos municípios do Rio Grande do Sul.
O município emancipou-se no ano de 1992, sendo a base de sua economia a
agricopecuária, cujos principais produtos estão dispostos na Tabela 1. De forma geral,
a maioria das propriedades rurais trabalha com o consórcio entre duas atividades, entre
elas as criações de suínos, aves e bovinos. O rebanho bovino possui 26.227 cabeças
(IBGE, 2009), desses aproximadamente 75% possui como fim a produção leiteira.
Dentre a genética do rebanho leiteiro, pode-se caracterizar em aproximadamente 50%
Holandês, 40% Jersey e um restante de 10% para animais cruzados. Importante
destacar que, desde a emancipação do município, trabalha-se com uso de Inseminação
Artificial (IA), podendo-se afirmar que cerca de 90% dos nascimentos de bovinos são
frutos dessa biotécnica reprodutiva. Todavia, o alto nível de utilização de IA torna-se
possível pelo auxílio do setor público, onde este subsidia desde a aquisição do sêmen,
até os profissionais habilitados para tal tarefa. Em suma, os atuais custos ao produtor
com uso da IA, restringe-se a R$ 10,00 por animal inseminado.
As propriedades leiteiras possuem um intermediário uso de tecnologias.
Observa-se como base da mão-de-obra a agricultura familiar, esporadicamente ou em
um reduzido número de produtores utilizam mão-de-obra contratada. Foi notável o alto
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envolvimento desses proprietários com seu próprio negócio, onde desempenham todas
as atividades com muita dedicação e boa vontade. Os sistemas pecuários leiteiros
possuem um rebanho médio de 20-30 UA, sendo essas constituídas de rebanhos não
controlados, com médias de produção de aproximadamente 14 litros por dia.
Tabela 1. Movimento econômico Agropecuário por produto no ano de 2009, município
de São João do Oeste - SC.
Produto Unidadade Valor Total (R$) %
Frango Kg 38.787.338,45 31,46
Suíno/Abate Kg 38.294.611,79 31,06
Leite L 20.267.484,62 16,44
Leitão Kg 15.280.312,35 12,39
Fumo Kg 3.610.096,07 2,94
Outros 6.952.252,93 5,71
TOTAL 123.192.096,21 100
Fonte: Unidade conveniada da Fazenda Estadual.
Na produção leiteira ressalta-se um árduo trabalho para proporcionar uma
adequada nutrição das vacas, sendo esta constituída principalmente por pastagens
tropicais implantadas, como o tifton (Cynodon spp.), capim pioneiro (Pennisetum
purpureum Schum. cv. Pioneiro) e brachiaria (Brachiaria spp.). Também se utiliza
complemento no fornecimento de volumosos, através de alimentos como a silagem de
milho (Zea mays L.) ou sorgo (Sorghum bicolor L. Moench). Além disso, o fornecimento
de alimentos concentrados é realizado, principalmente: milho em grão (Zea mays L.),
farelo de soja (Glycine max L.), farelo de trigo (Triticum spp.), etc.
Em suma, o município de São João do Oeste possui uma alta representatividade
no cenário nacional da mesorregião do Oeste Catarinense, principalmente pela
produção agropecuária. Dentre os destaques ao município pode ser referida a evidente
característica de ativa dedicação da população ao crescimento econômico, bem como o
adequado auxílio do setor público ao desenvolvimento da produção rural.
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3. SISTEMA DE TRABALHO
A prefeitura de São João do Oeste disponibilizava um Médico Veterinário para as
propriedades rurais pertencentes ao município. Este servidor era concursado e
trabalhava sob regime de dedicação exclusiva à prefeitura. De acordo com o equilíbrio
entre as necessidades da prefeitura em âmbito rural e os interesses do Veterinário a
prestação de serviço foi definida como restrita a espécie bovina.
O sistema de trabalho do veterinário junto à prefeitura era realizado através de
visitas agendadas às propriedades rurais. Para otimizar a prestação do serviço era
disponibilizado ao veterinário uma secretária, pertencente à secretaria de agricultura,
sendo essa responsável pelo agendamento e formação da lista de requisições de cada
dia, como também um automóvel e os matériais básicos necessários para realização
das atividades. Em suma, quando solicitado o auxílio Médico Veterinário por um
produtor rural, todos os encargos eram responsabilidade da prefeitura, exonerando-se
apenas os gastos com tratamentos medicamentosos. Contudo, a prefeitura municipal
através da secretaria de agricultura buscava subsidiar o suporte técnico mínimo aos
produtores com o intuito de propiciar o desenvolvimento da região.
As atividades desenvolvidas pelo veterinário baseavam-se em sua maioria em
situações emergênciais, ocorrendo da seguinte forma: o proprietário que suspeitava de
algum animal enfermo informava via telefone à secretária do veterinário, que apontava
o caso em uma planilha formando uma lista de atendimentos diários. O sistema pode
ser caracterizado como funcional, pois apresentava dinamismo e eficiência com custo
relativamente baixo. Em média eram realizados aproximadamente 7 consultas por dia,
podendo chegar até 13, facilitadas devido ao tamanho e infraestrutura do município,
praticidade de comunicação via telefones móveis e otimização do tempo pelo
veterinário.
Nestas situações, quando solicitada a visita do veterinário à propriedade, a
conduta baseava-se primeiramente no diálogo com o produtor para informação do
motivo da requisição. A partir disso, era realizado o levantamento do caso clínico,
prosseguindo, quando necessário, com o tratamento dos animais. O diagnóstico era
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realizado através da anamnese e exame clínico do paciente. Quanto ao tratamento dos
animais, este era recomendado e efetuado inicialmente pelo Médico Veterinário, já a
evolução do caso era monitorada pelo solicitante e quando necessário, o atendimento
era realizado novamente.
Como comentado anteriormente, o produtor solicitante não ficava
responsabilizado por nenhum dispêndio pelo atendimento. Comumente, havia alguns
custos com uso de tratamento medicamentoso, esses variavam da seguinte maneira,
uma minoria dos produtores possuíam seus próprios medicamentos na propriedade, ou
seja, um estoque particular, que era utilizado para o tratamento dos animais. Entretanto,
a grande maioria dos produtores não possuía os medicamentos necessários para o
tratamento, assim com o intuito de facilitar a logística dos atendimentos o próprio
Médico Veterinário transportava em seu automóvel os medicamentos de uso
corriqueiro, uma farmácia básica. Nestes casos, os medicamentos eram consignados
pela cooperativa/agropecuária ao veterinário, que a partir da utilização dos mesmos,
repassava os custos para o respectivo responsável pelo animal.
Em segundo plano das atividades realizadas, devido à alta demanda de
atendimentos clínicos do rebanho, havia uma minoria de outros serviços prestados,
dentre esses eram realizadas algumas esporádicas atividades ou orientações quanto
ao manejo nutricional, sanitário, zootécnico e reprodutivo do rebanho. Infelizmente,
essas orientações não representavam muito na rotina, pois se sabe que o
desenvolvimento e competitividade da atividade leiteira é dependente de orientações
em todos âmbitos, como o fomento, a gestão e planejamento, entre outros. Essa pauta
foi discutida, sendo sugerido que caso exista o real interesse do setor público, seria
necessário mais um Veterinário para exercer tal função. Entretanto, torna-se uma
questão que leva em consideração algumas particularidades, principalmente por
envolver a verdadeira responsabilidade da prefeitura com os produtores, pois em outras
bacias leiteiras este tipo de serviço é realizado por profissionais não vinculados ao setor
público. Talvez, em um futuro promissor, a secretaria de agricultura consiga investir e
implementar estratégias de prevenção para os distúrbios clínicos atuais, acarretando na
13
possibilidade de dedicação do serviço prestado pelo veterinário em um âmbito mais
atual.
De forma geral, observava-se um alto grau de satisfação entre membros da
comunidade pelo serviço prestado. Era marcante a importância do Médico Veterinário
junto à cadeia produtiva, sendo sua participação considerada representativa e essencial
por todos. Todavia, algumas particularidades mínimas de aprendizado devem ser
ressaltadas, como a necessidade de treinamento e adequação das verdadeiras
responsabilidades do veterinário na secretaria de agricultura, pois alguns produtores
solicitavam alguns serviços que não exigiam a alocação do profissional e que
acabariam prejudicando o auxílio aos demais produtores. Entretanto, com o tempo e
dedicação do profissional esses tipos de requisições foram controladas.
14
4. ATIVIDADES DESENVOLVIDAS
Durante o período de estágio no município de São João do Oeste foi
acompanhado um total de 120 atendimentos clínicos (Tabela 2). A maior parte dos
diagnósticos apresentados são presuntivos. Nas tabelas 3, 4 e 5 estão especificadas as
enfermidades que integram as atividades mais representativas.
Tabela 2. Principais atendimentos clínicos acompanhados, número de casos e seus
respectivos percentuais, durante o período de estágio em São João do Oeste - SC.
Atividade Nº de atendimentos Percentual (%)
Doença Parasitária 42 35,00
Afecções Glând. Mamária 18 15,00
Obstétrica 15 12,50
Doença Metabólica 14 11,67
Distúrbio Sist. Locomotor 9 7,50
Outros 9 7,50
Trauma 8 6,67
Distúrbio Nutricional 4 3,33
Distúrbio Sist. Respiratório 1 0,83
Total Geral 120 100,00
Na Tabela 2 pode-se notar uma alta representatividade dos casos de doenças
parasitárias. Dentre este item, foi observado que todos os casos de doenças
parasitárias foram de Tristeza Parasitária Bovina (TPB). Neste âmbito, não foi realizado
diagnóstico diferencial entre Anaplasmose e Babesiose. Todavia, sabe-se que no
exame clínico, a diferenciação entre anaplasmose e babesiose nem sempre é possível,
dada a similaridade entre os sintomas (febre, anemia, prostação). Entretanto, um
sintoma típico que se observa em estágios avançados de parasitemia por Babesia
bigemina e terminais de Babesia bovis é a ocorrência de hemoglobinúria, situação esta
nunca observada em casos de anaplasmose. Para diagnóstico diferencial, recomenda-
se o uso de provas laboratorias, sendo o esfregaço sanguíneo uma prova de alta
praticidade e baixo custo (IICA, 1987), podendo ser realizada a campo a partir da
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colheita de sangue periférico do paciente suspeito e exame direto de lâminas coradas
com Giemsa e visualizadas em microscópio óptico (FARIAS, 1995).
Tabela 3. Principais afecções de Glândula Mamária atendidas, número de casos e seus
respectivos percentuais, durante o período de estágio em São João do Oeste SC.
Atividade Nº Atendimentos Percentual (%)
Mastite clínica 15 83,3
Obstrução do esfíncter 3 16,6
Total Geral 18 100,00
Tabela 4. Principais afecções Obstétricas atendidas, número de casos e seus
respectivos percentuais, durante o período de estágio em São João do Oeste SC.
Atividade Nº Atendimentos Percentual (%)
Parto distócico 4 26,67%
Metrite 4 26,67%
Aborto 2 13,33%
Prolapso uterino 1 6,67%
Prolapso de vagina 1 6,67%
Retenção de Placenta 1 6,67%
Indução de parto 1 6,67%
Piômetra 1 6,67%
Total Geral 15 100,00%
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Tabela 5. Principais doenças metabólicas atendidas, número de casos e seus
respectivos percentuais, durante o período de estágio em São João do Oeste SC.
Atividade Nº Atendimentos Percentual (%)
Hipocalcemia 10 71,43%
Deslocamento de abomaso 3 21,43%
Cetose 1 7,14%
Total Geral 14 100,00%
Dentre os procedimentos cirúrgicos realizados no período de estágio ressalva-se
duas reversões de casos de deslocamento de abomaso a esquerda (DAE). Estes
casos, ocorreram em vacas da raça holandês, ambas em pós parto recente,
aproximadamente 20 dias. Na anamnese, foi observado que estas vacas apresentavam
falta de apetite e emagrecimento progressivo. Já através do exame clínico, o
diagnóstico de DAE foi confirmado através da auscultação com percussão na região
dorsal esquerda entre o 9 e 13º espaços intercostais, onde foi observado o som
metálico “ping” característico do deslocamento de abomaso. Os tratamentos foram
realizados com sucesso através do procedimento cirúrgico de omentopexia pelo flanco
esquerdo.
4.1. CONTROLE DE DIAGNÓSTICOS
Uma das grandes peculiaridades e um dos pontos críticos da bovinocultura, tanto
de corte quanto de leite, são as dificuldades e resistências encontradas para
implementação de um sistema de banco de dados sólido. Infelizmente, essas
dificuldades são observadas por parte de muitos proprietários e alguns técnicos que
participam desta atividade. Atualmente, sabe-se da importância de um sistema de
dados para propiciar um adequado desenvolvimento e gestão de uma propriedade
rural, pois através desses é possível realizar um diagnóstico de rebanho de maior
confiabilidade, assim como sua participação fundamental em processo de tomada de
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decisões. Porém, hoje em dia observa-se uma tendência de maximização da
incorporação desta tecnologia aos sistemas produtivos. No entanto, este processo
somente está integrado em uma minoria dos estabelecimentos rurais.
A organização de um sistema inicia a partir da escrituração zootécnica, que
consiste no conjunto de práticas relacionadas à organização da empresa rural através
das anotações da propriedade que possui atividade de produção animal. Em um
sentido restrito, escrituração zootécnica consiste nas anotações de controle do
rebanho, como fichas individuais por animal, registrando-se sua genealogia,
ocorrências e desempenho produtivo. Nestas anotações são registradas as datas, a
condição e a extensão de importantes ocorrências como nascimento, coberturas,
partos, enfermidades, morte, descarte, etc.
Algumas práticas de manejo são fundamentais para a garantia de um adequado
controle dos animais e possibilidade de projeções futuras. A escrituração zootécnica
compreende a tarefa mais importante perante a necessidade de monitoramento da
eficiência produtiva. Através da identificação dos animais e subsequente formação de
históricos, torna-se possível uma avaliação segura do rebanho, como também a
possibilidade de comparações com demais sistemas produtivos.
O método utilizado para o controle do rebanho pode variar conforme as
particularidades de cada propriedade rural. Entretanto, o que se almeja é que esta
metodologia apresente praticidade, segurança e viabilidade econômica.
A formação de um banco de dados eficaz deve ocorrer a partir da escrituração
zootécnica. Assim, é necessário a incorporação do hábito de formação e manutenção
de fichas e planilhas de campo. A partir disso, esses dados obtidos no campo devem
alimentar um sistema de banco de dados, que será capaz de gerar informações e
relatórios confiáveis, desde um âmbito de manejo até de controle financeiro. Contudo,
apesar do exemplo citado anteriormente, alguns indivíduos ainda acreditam que são
necessários altos dispêndios econômicos para realização de tal incorporação.
Entretanto, o essencial para efetuação da formação de um banco de dados é a
dedicação e organização por parte do interessado, pois este pode ser realizado a partir
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de um simples planilhamento de dados em cadernos, seguido da organização periódica
dos mesmos. Desta forma, sendo essencial e aplicável a qualquer propriedade rural.
Esses bancos de dados também são essenciais para profissionais ligados ao
negócio rural. Da mesma forma, vão facilitar o controle e eficácia das atividades
realizadas. Desta maneira, foi possível acompanhar um profissional a campo realizando
o gerenciamento adequado dos seus dados. O sistema acompanhado poderia ser
caracterizado como eficaz e simples, sendo baseado em fichas de campo básicas que
eram atualizadas perante a rotina dos atendimentos. Assim, todos os atendimentos
eram inseridos na ficha, sendo eles individualizados e especificados em quesitos como:
data, propriedade, comunidade, animal, sexo, idade, raça, número de partos, dias em
relação ao parto, gestante, diagnóstico, etc. Posteriormente, esses dados alimentavam
um sistema próprio, ou seja, um software que foi desenvolvido em parceria com um
programador especializado em banco de dados.
Este software foi formado com o intuito de aprimorar os diagnósticos realizados
no município, pois através dele era possível formar gráficos de incidência de doenças,
histogramas de atendimentos, assim como relações entre os dados inseridos, etc. O
software estava sendo utilizado há aproximadamente 24 meses. Dentre os objetivos do
software também se incluía a possibilidade de formação de futuros boletins a respeito
da casuística clínica, bem como identificar algumas relações encontradas entre
enfermidades ou manejos do rebanho leiteiro.
Como o software era de uso particular e não poderia ser instalado em outros
computadores, foi formada uma planilha simples do Microsoft Excel® para inserção e
aproveitamento dos dados colhidos durante o período de estágio (Figura 1). Com intuito
de otimizar as relações entre os dados obtidos, também foram formados tabelas e
gráficos dinâmicos nesta planilha do Microsoft Excel® (Figura 2). Esse material serviu
como base para formação dos dados citados no presente relatório.
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Figura 1. Demonstrativo da inserção dos dados de campo obtidos no período de
estágio em uma planilha do Microsoft Excel®.
Figura 2. Tabelas e gráficos dinâmicos formados a partir dos dados de campo obtidos
no período de estágio, inseridos em uma planilha do Microsoft Excel®.
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5. ESTUDO DE CASUÍSTICA CLÍNICA
A partir da utilização das planilhas de controle dos atendimentos foi possível
diagnosticar e caracterizar alguns momentos críticos para a produção leiteira. Na Figura
3 estão dispostos os atendimentos realizados durante o período de estágio, de acordo
com o momento do parto das vacas. Neste caso, pode-se observar uma elevada
concentração das atividades em fêmeas próximas ao parto, principalmente pós parto.
Figura 3. Demonstrativo do número de atendimentos realizados em relação ao
momento parto em vacas, no município de São João do Oeste - SC.
Com a caracterização deste momento crítico buscou-se referenciar algumas
citações encontradas na literatura para embasar e justificar esta casuística. Nesta fase,
ocorrem diversas alterações metabólicas e hormonais no organismo da vaca, sendo
esses eventos relacionados ao desenvolvimento final do feto, preparação para o parto e
início do período lactacional. Essas alterações, proporcionam uma redução na
capacidade de defesa do sistema imunológico, tornando-o mais frágil e incapaz de
enfrentar os desafios do momento, predispondo o animal a enfermidades (MOTA et al.,
2006).
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A crescente demanda energética para a produção leiteira após o parto não é
compensada pela capacidade de ingesta da vaca no período. Esse desequilíbrio entre a
energia demandada e a ingerida pelo animal acarreta ao conhecido Balanço Energético
Negativo (BEN) pós-parto, que reflete em uma perda de peso devido à mobilização de
reservas corporais. Este reduzido aporte energético ao qual o animal está submetido,
também constitui um fator predisponente às doenças periparturientes (BEEDE, 1998).
Dois parâmetros metabólicos são importantes ferramentas clínicas para medição do
status nutricional e da intensidade ao balanço energético negativo de vacas leiteiras
durante o período periparto, são eles os ácidos graxos não-esterificados (AGNES) e o
β-hidroxibutirato (BHB) (MELENDEZ et al., 2008). Esses metabólicos podem predizer o
risco às doenças do periparto, pois altas concentrações séricas de AGNES têm sido
associadas com um aumento na incidência de doenças periparturientes, como retenção
de placenta, cetose e mastite, e ainda com deslocamento de abomaso e
imunossupressão em rebanhos leiteiros (LEBLANC et al., 2005).
Como demonstrado na Figura 3, no período de estágio foi observado uma
acentuada concentração de atendimentos à vacas periparturientes. Entretanto,
acredita-se que essas ocorrências clínicas ainda foram incrementadas pelos 24 casos
de TPB acompanhados em fêmeas multíparas e nulíparas gestantes, pois certamente
também possuem uma relação com a competência imunitária do animal (Figura 4).
Todavia, os aspectos epidemiológicos da TPB demonstram que há uma relação com o
clima e fatores inerentes ao animal, como por exemplo, a queda da imunidade no
período de inverno devido a redução do número de carrapatos em regiões de clima
temperado, bem como junto ao estresse ou desafios em que os animais são expostos
(ALONSO et al., 1992). Desta forma, foi possível cacacterizar a alta incidência de TPB
no rebanho do município nesta época do ano, pois sabe-se que em regiões de clima
temperado a população de carrapato apresenta um crescimento exponencial desde a
primavera, chegando ao seu ápice no final do verão e início do outono. Assim, neste
período aumenta-se os riscos de TPB, devido a exposição dos indivíduos a uma alta
carga parasitária.
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Também foi observado uma elevada incidência de TPB em novilhas com
aproximadamente 15 meses de idade, totalizando 17 casos atendindos. Esse fato foi
relacionado ao manejo dos animais na fase de cria e recria junto à época do ano.
Nestes criatórios leiteiros são comuns a criação dos animais em sistema de
confinamento, principalmente presos em estábulos ou free stall, sendo alocadas em
pastagens somente quando atingem em torno de 7 meses. Nesses casos, podem
ocorrer surtos de TPB em novilhas, pois essas não sofreram uma primo-infecção
essencial para formação da imunidade adquirida (MADRUGA et al., 1986). A infecção
precoce com os agentes da TPB é importante devido a menor susceptibilidade dos
animais jovens, pois essa resistência decorre da presença de anticorpos colostrais,
rápida resposta imune celular, maior eritropoiese da medula óssea e da presença de
hemoglobina fetal nos eritrócitos (JAMES et al., 1985). Sendo assim, quando as
terneiras não são expostas aos carrapatos quando jovens, sua resistência à TPB não é
desenvolvida, propiciando futuros riscos de apresentarem o quadro clínico quando
forem alocadas em pastagens contaminadas em uma idade avançada (WRIGHT, 1990).
Figura 4. Demonstrativo do número de casos de TPB atendidos em relação ao
momento do parto em fêmeas multíparas e nulíparas gestantes, durante o período de
estágio no município de São João do Oeste - SC.
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6. PONTOS PROMISSORES
A partir da oportunidade de vivência de uma bacia leiteira no extremo oeste
catarinense foi possível identificar alguns pontos promissores perante a atividade na
região, principalmente para fins de inserção do Médico Veterinário nesta localidade.
Abaixo seguem alguns breves relatos a respeito das possibilidades vislumbradas.
Nutrição;
A bacia leiteira do município possui um adequado suporte nutricional para os
animais. Entretanto, todo esse alicerce para produção leiteira pode ser otimizado
através da avaliação individual de cada propriedade e utilização das bases de nutrição
disponibilizadas na literatura, junto a um balanço custo benefício da dieta. Neste ponto,
o cenário atual demonstra uma alta interferência de empresas ligadas ao ramo da
nutrição animal sobre as definições das dietas.
Reprodução:
São marcantes as necessidades de profissionais especializados em reprodução
junto à produção pecuária local. Infelizmente, grande parte das indicações e manejos
reprodutivos são realizados esporadicamente por profissionais de outras
especialidades. Assim, foi comum observar o interesse dos produtores em contratarem
um prestador de serviço especializado e com potencial de dedicação exclusiva nesta
área.
Fomento:
A demanda por assistência técnica também foi marcante, pois atualmente os
profissionais do ramo atuam apenas em casos emergenciais devido à falta de tempo
para tal dedicação. Certamente, o desenvolvimento da bacia leiteira estará relacionado
a produtores que desempenham suas atividades com diagnósticos precoces e precisos.
Neste sentido, uma das linhas que necessitam da colaboração de profissionais
foi o direcionamento dos produtores. Logo, são necessários produtores especialistas,
como exemplo pode-se citar aqueles que façam somente cria e recria, e outros
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trabalhem exclusivamente com vacas em ciclo de produção. Atualmente isso não foi
observado, propiciando na ineficácia produtiva devido ao não direcionamento da
produção.
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7. CONCLUSÃO
O período de estágio junto ao Médico Veterinário de uma prefeitura agregou uma
série de conhecimentos que certamente vão ter fundamental papel para uma melhor
formação profissional. Neste âmbito, foi possível conhecer os pontos críticos e
promissores da atividade leiteira na região oeste de SC, como também avaliar o
desenvolvimento pessoal para atuar junto a um sistema de produção leiteira.
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8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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