BORDERLINE (Stop Walking on Eggshells)

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PARE DE ANDAR EM CASCAS DE OVOS Recuperando sua vida quando alguém que é importante pra você tem Transtorno de Personalidade Borderline Você poderia ser uma salvação? Você poderia ser uma ajuda? Você poderia ser um abrigo seguro? Você promete acreditar? Quando eu lhe contar estas histórias Todo sofrimento e duramente alcançada glória Carregar testemunho para uma vida Vivida com boas intenções tão longe Então acredite em mim, cure-me Acredite em mim, é tudo verdade. -Carrie Newcomer, ¨Carregando testemunho¨ de O único filho de meu pai Prenda seus cintos de segurança, porque será uma noite dura. -Bette Davis, Tudo sobre Eve Não importa quão confuso, incerto ou ambivalente nós somos sobre o que está acontecendo em nossas interações com outras pessoas, nós nunca silenciaremos totalmente a voz interna que nos diz sempre a verdade. Nós podemos não gostar do som da verdade, e nós deixamos isso murmurar freqüentemente justo fora de nossas consciências, não parando o suficiente para escutar. Mas quando nós damos atenção a isso, conduz-nos para a sabedoria, saúde e claridade. Essa voz é a guardiã da nossa integridade. -Susan Forward, Ph. D. Esse livro é para as crianças, jovens e idosos, cujas vidas estão sendo afetadas pelo BPD (Borderline Personality Disorder). E pra nossos professores: centenas de pessoas que nos contaram suas histórias, dividiram suas lágrimas, e nos ofereceram seus claros entendimentos sobre isso. Vocês tornaram esse livro possível. Prefácio Pessoas com Transtorno de Personalidade Borderline desafiam aqueles perto deles com seus freqüentes e desorientadores deslocamentos de humor e comportamento imprevisível. Para aquelas pessoas que tem ligações com pessoas com BPD, quer sejam parentes, amigos, cônjuge, pais, ou filhos, esse livro deve se provar uma dádiva de Deus. Ele delineia os modos em que o comportamento e as comunicações dos indivíduos (BPs) frustram e perplexam aqueles ao redor deles, mas vai além disso por articular estratégias específicas para que aqueles perto da pessoa com Borderline (não-BPs, como são denominados neste livro) possam lidar eficazmente com estes tipos de comportamentos. Os autores, Paul Mason, M.S., e Randi Kreger, são aptos para orientar a delicada tarefa de avaliar com precisão os dilemas que os não-bps enfrentam cada dia, embora ao mesmo tempo não simplesmente culpem a pessoa com BPD em um padrão simplista. Eles sugerem modos o qual amigos e parentes podem tentar trazer o BP ao tratamento reconhecendo que isto não pode ser possível sempre, e eles esboçam também uma variedade de tratamentos apropriados que provaram ser de ajuda para pessoas com BPD desde a terapia farmacológica à terapia cognitiva comportamental, como por exemplo, a Terapia Dialética Comportamental de Marsha Linehan (Linehan 1993). Os autores também mencionam algumas das supostas causas do BPD, das sensibilidades temperamentais no regulamento das emoções ou controle dos impulsos (provavelmente moídos na biologia do cérebro) aos precoces fatores ambientais. Como reconhecemos algumas das bases biológicas desse transtorno, que são discutidos no meu recente livro A Nova Visão de Si Mesmo (Siever e Frucht 1997), assim como percebemos as experiências freqüentes de abuso que pessoas com essa desordem tiveram em suas infâncias, começamos a perceber que os BPD representam uma série de traços de adaptação inadequados que se originaram das 1

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PARE DE ANDAR EM CASCAS DE OVOS

Recuperando sua vida quando alguém que é importante pra você tem Transtorno de

Personalidade Borderline

Você poderia ser uma salvação?Você poderia ser uma ajuda?Você poderia ser um abrigo seguro?Você promete acreditar?Quando eu lhe contar estas históriasTodo sofrimento e duramente alcançada glóriaCarregar testemunho para uma vidaVivida com boas intenções tão longeEntão acredite em mim, cure-meAcredite em mim, é tudo verdade.

-Carrie Newcomer, ¨Carregando testemunho¨ de O único filho de meu pai

Prenda seus cintos de segurança, porque será uma noite dura.

-Bette Davis, Tudo sobre Eve

Não importa quão confuso, incerto ou ambivalente nós somos sobre o que está acontecendo em nossas interações com outras pessoas, nós nunca silenciaremos totalmente a voz interna que nos diz sempre a verdade. Nós podemos não gostar do som da verdade, e nós deixamos isso murmurar freqüentemente justo fora de nossas consciências, não parando o suficiente para escutar. Mas quando nós damos atenção a isso, conduz-nos para a sabedoria, saúde e claridade. Essa voz é a guardiã da nossa integridade.

-Susan Forward, Ph. D.

Esse livro é para as crianças, jovens e idosos, cujas vidas estão sendo afetadas pelo BPD (Borderline Personality Disorder). E pra nossos professores: centenas de pessoas que nos contaram suas histórias, dividiram suas lágrimas, e nos ofereceram seus claros entendimentos sobre isso. Vocês tornaram esse livro possível.

Prefácio

Pessoas com Transtorno de Personalidade Borderline desafiam aqueles perto deles com seus freqüentes e desorientadores deslocamentos de humor e comportamento imprevisível. Para aquelas pessoas que tem ligações com pessoas com BPD, quer sejam parentes, amigos, cônjuge, pais, ou filhos, esse livro deve se provar uma dádiva de Deus. Ele delineia os modos em que o comportamento e as comunicações dos indivíduos (BPs) frustram e perplexam aqueles ao redor deles, mas vai além disso por articular estratégias específicas para que aqueles perto da pessoa com Borderline (não-BPs, como são denominados neste livro) possam lidar eficazmente com estes tipos de comportamentos. Os autores, Paul Mason, M.S., e Randi Kreger, são aptos para orientar a delicada tarefa de avaliar com precisão os dilemas que os não-bps enfrentam cada dia, embora ao mesmo tempo não simplesmente culpem a pessoa com BPD em um padrão simplista. Eles sugerem modos o qual amigos e parentes podem tentar trazer o BP ao tratamento reconhecendo que isto não pode ser possível sempre, e eles esboçam também uma variedade de tratamentos apropriados que provaram ser de ajuda para pessoas com BPD desde a terapia farmacológica à terapia cognitiva comportamental, como por exemplo, a Terapia Dialética Comportamental de Marsha Linehan (Linehan 1993). Os autores também mencionam algumas das supostas causas do BPD, das sensibilidades temperamentais no regulamento das emoções ou controle dos impulsos (provavelmente moídos na biologia do cérebro) aos precoces fatores ambientais. Como reconhecemos algumas das bases biológicas desse transtorno, que são discutidos no meu recente livro A Nova Visão de Si Mesmo (Siever e Frucht 1997), assim como percebemos as experiências freqüentes de abuso que pessoas com essa desordem tiveram em suas infâncias, começamos a perceber que os BPD representam uma série de traços de adaptação inadequados que se originaram das estratégias de sobrevivência desenvolvidas cedo na vida dos BPD, isso, então, pareceu o único método viável para conseguir satisfazer suas necessidades. Por exemplo, na infância ou juventude quem é muito sensível emocionalmente às idas e vindas de suas mães e outros cuidadores podem responder à separação de suas mães, por exemplo, pelo choro, particularmente se eles são inclinados a expressar suas emoções melhor que as inibindo. Os pais podem reagir ao choro por tentar fazer a vontade da criança ou alternativamente ignorá-los, na verdade aumentando a probabilidade destes comportamentos recorrentes. A criança pode aprender que estas manifestações violentas de emoção ou temperamentais acessos de raiva são a única maneira que eles conhecem para receber atenção quando se sentem frustrados ou aflitos e esses padrões continuam na idade adulta. Pais que raramente não são experientes em lidar com essas tempestades afetivas podem cair em uma das armadilhas, tolerância exagerada ou, em outras vezes, ignorando a criança. Pais que tendem a ser deprimidos podem negligenciar a criança, enquanto aqueles que são impulsivos e agressivos podem igualmente ser abusivos. Estes traumas tendem a piorar estes padrões de comportamento. Os BP conseqüentemente são inclinados a manifestarem o abandono e podem usar ¨meios desesperados¨ para despertar esse sentimento (Gunderson 1984).

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Deste modo, quando nós vemos o adulto BP, nós vemos um indivíduo que aprendeu uma variedade de ¨técnicas¨ para controlar sua própria auto-estima e oscilações emocionais por tentar controlar os comportamentos daqueles de que dependem e que querem que fique próximo deles. Eles têm dificuldade em enxergar como seus controles comportamentais são destrutivos para seus relacionamentos porque eles não conhecem outra alternativa. O ponto crucial que os autores enfatizam vez após vez, particularmente nos últimos estágios do livro, é a necessidade do BP tomar a responsabilidade por seus comportamentos e para os não-BP também tomarem a responsabilidade de seu papel no relacionamento. O que quer que aconteça antes para ambas as partes, é somente tomando a responsabilidade sobre estes comportamentos como um adulto é que a possibilidade de mudança verdadeira pode ocorrer. Maison e Kreger são aplaudidos por seus esforços em fazer o comportamento frustrante e desorientador do BP mais compreensível e por fornecerem ferramentas extraordinariamente úteis para os não-BPs usarem em tratar dos paradoxos e dos dilemas destes atuais relacionamentos.

-Larry J. Siever, M.D.

Compreensão do comportamento BPD

Andando em cascas de ovos:

Alguém que você se importa tem BPD?

Depois de cinco anos de casamento, eu ainda não consigo imaginar o que fiz de errado. Eu fiz

pesquisas em bibliotecas, conversei com médicos, falei com conselheiros, li artigos, e conversei com

amigos. Eu passei cinco anos querendo saber, atormentado, e acreditando muito no que ela dizia-me

sobre mim mesmo. Eu duvidei de mim mesmo e me magoei muito sem saber por que – sem saber a

verdade.

Então um dia, eu finalmente achei as respostas na internet. Eu comecei a chorar de alívio.

Apesar de eu não poder de modo significante fazer minha Borderline admitir que precisa de ajuda, ao

menos eu finalmente entendi o que está acontecendo. Não é minha culpa. Agora eu conheço a verdade.

-Do grupo de suporte não-BP da internet

-Alguém que é importante pra você está te causando muito sofrimento?

-Você notou que está escondendo o que pensa ou sente porque tem medo da reação da

outra pessoa ou porque isso não vale a terrível luta ou os sentimentos feridos que vão se seguir?

-Você sente que qualquer coisa que você diz ou faz será distorcido e usado contra você? É

você responsabilizado e criticado por tudo errado no relacionamento – Mesmo quando isso não faz

nenhum sentido lógico?

-É você o foco de raivas intensas, violentas, e irracionais, alternando com períodos em que

a outra pessoa age perfeitamente normal e amorosa? Ninguém acredita em você quando explica o que

está acontecendo?

-Você sente manipulado, controlado, ou mesmo mentiu algumas vezes? Você sente como

se fosse a vítima de uma chantagem emocional?

-Você sente que a pessoa que é importante pra você o vê como totalmente bom ou

totalmente mau, com nada no meio? Há às vezes nenhuma razão racional para a mudança?

-Você está com medo de perguntar por coisas no relacionamento porque será dito que você

exige demais ou que há algo errado com você? É dito a você que suas necessidades não são

importantes?

-Está a pessoa sempre denegrindo ou negando seu ponto de vista? Você sente que as

expectativas dele em relação a você estão mudando constantemente, então você nunca pode fazer nada

certo?

-Você é acusado de fazer coisas que você nunca fez e dizer coisas que nunca disse? Você

se sente mal entendido grande parte do tempo, e quando você tenta explicar nota que a outra pessoa

não acredita em você?

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-Você está sendo constantemente colocado para baixo? Quando você tenta deixar o

relacionamento a outra pessoa tenta impedir que você saia de várias maneiras (qualquer declaração de

amor e promessas mudam para ameaças implícitas ou explícitas)?

-Você passa muito tempo planejando qualquer coisa (reuniões sociais, etc..) porque a outra

pessoa é mal humorada, impulsiva, ou imprevisível? Você arruma desculpas para o comportamento dele

ou tenta se convencer de que está tudo bem?

- Agora mesmo, você está pensando, ¨Eu não tinha idéia de que alguém mais estava

passando por isso?¨

Se muitos desses comentários soaram de maneira familiar, nós temos boas notícias para você. Você não está ficando louco. Não é tudo sua culpa. E você não está sozinho. Estas coisas podem estar acontecendo porque alguém perto de você tem os traços associados com o Transtorno de Personalidade Borderline (BPD). Seguirão três histórias reais de pessoas que descobriram que alguém que amavam tinha o transtorno. Como com todos os exemplos neste livro, as histórias são baseadas naquelas compartilhadas nos grupos de apoio da Internet embora nós tenhamos mudado muitos detalhes para esconder suas identidades.

Jon (não-BP)

Estar casado com alguém com BPD é o céu em um minuto, o inferno no outro. O humor da minha esposa muda em segundos. Eu estou andando em cascas de ovos tentando agradá-la e evito uma briga por não falar breve demais, rápido demais, no tom errado, ou com a expressão facial errada.

Mesmo quando eu faço exatamente o que ela pede, ela fica furiosa comigo. Um dia ela me mandou levar as crianças para algum lugar porque ela queria ficar um tempo sozinha. Mas no momento em que nós partimos, ela jogou as chaves em direção à minha cabeça e me acusou de odiá-la muito por não ficar na casa com ela. Quando eu e as crianças voltamos do cinema, ela agiu como se nada tivesse acontecido. Ela se surpreendeu quando eu me descontrolei e me disse que eu tinha problemas para deixar a minha raiva.

Isso não foi sempre assim. Antes de casarmos, nós éramos um furacão, namoro fantástico. Ela me idolatrava – dizia que eu era perfeito para ela de muitas maneiras. O sexo era incrível. Eu escrevia poesias de amor para ela e comprava presentes caros. Nós ficamos noivos depois de quatro meses, e um ano depois estávamos casados e numa lua-de-mel de dez mil dólares.

Mas logo depois do casamento ela começou a pegar pequenas coisas sem sentido e transformá-las em montanhas de desaprovação, interrogatório, e sofrimento. Ela me acusava constantemente de querer outras mulheres e indicava “exemplos” imaginários para provar suas alegações. Ela se tornou receosa com os meus amigos e começou a cortá-los. Ela disse coisas más sobre meus negócios, meu passado, meus valores, meu orgulho – qualquer coisa a meu respeito.

Todavia, de vez em quando seu “passado” retorna – a pessoa que me ama e que me acha o melhor cara do universo. Ela ainda é a mulher mais inteligente, divertida, e sensual que eu conheço, e eu continuo muito apaixonado. O conselheiro matrimonial acha que minha esposa pode ter BPD, mas ela insiste que eu sou o único que atrapalha nosso relacionamento. Ela acha que o conselheiro é um charlatão e quer ir embora. Como eu posso fazê-la buscar a ajuda de que precisa desesperadamente?

Larry (não-BP)

Nós descobrimos que havia algo de errado com nosso filho adotivo, Richard, quando ele tinha dezoito meses de idade. Ele era irritável, gritava muito, e chorava por três horas seguidas. Aos dois anos, ele começou a ter diversos acessos de raiva por dia – algumas duravam horas. Na nossa condição, Marcus Welby – um tipo de doutor simplesmente dizia, “Garotos serão garotos”.

Quando Rich tinha sete, nós achamos um bilhete em seu quarto dizendo que ele iria se matar quando chegasse aos oito. Seu professor da escola básica nos indicou um psiquiatra local, que nos disse que ele precisava de mais estrutura e estabilidade. Nós tentamos um reforço positivo, forte amor, e modificação para uma dieta equilibrada. Mas nada funcionou.

Durante o tempo em que Rich estava na terceira série, ele era mentiroso, roubava, faltava a escola, e enfurecia-se fora do controle. A polícia ficou envolvida quando ele tentou suicídio, começou a se cortar, e ameaçou nos matar. Ele discava para o disk-abuso de menores cada vez que nós o disciplinávamos por mandá-lo para o seu quarto.

Nosso filho manipulava seus professores, sua família, e até mesmo a polícia. Ele poderia ser muito esperto e encantava as pessoas com sua inteligência, bons olhares, e senso de humor – sua avó o chamava de político nato. Todo conselheiro estava convencido de que seu comportamento era nossa culpa. Quando eles enxergavam completamente a sua fraude, ele se recusava a voltar. E cada novo terapeuta nunca tomava tempo para compreender completamente seu quadro, o que agora já estava algumas polegadas adiante.

Finalmente, depois de ameaçar a vida de um professor na escola, ele internou-se no primeiro de quatro centros de tratamento a curto prazo. Em várias ocasiões foi-nos dito que ele era bipolar, tinha transtorno da deficiência de atenção, ou sofria de transtorno do stress pós-traumático por algum trauma desconhecido. Um psiquiatra disse que ele estava sofrendo de “depressão com transtorno psicótico”. Muitas pessoas nos disseram que ele era apenas uma criança má.

Depois de quatro hospitalizações, nossa companhia de seguro nos disse que eles não pagariam mais. O hospital disse que ele estava muito doente para voltar para casa. E os psiquiatras locais nos recomendavam a ir até a corte e nos declarar pais desqualificados. De qualquer maneira, nós

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encontramos um hospital de internação subsidiado pelo estado onde ele recebeu seu primeiro diagnóstico oficial BPD. Eles lhe deram vários remédios, mas disseram que aquela era uma pequena esperança de ele ficar melhor.

Rich foi orientado a graduar-se na escola avançada e entrar na faculdade, que ultimamente era um desastre. Seu nível de maturidade agora é de uns 18 anos de idade, embora tenha vinte e três. Alcançar a idade adulta o ajudou um pouco, mas ele continua temendo o abandono, não consegue sustentar um relacionamento duradouro, e deixou quatro empregos em dois anos. Seus amigos vêm e vão porque ele pode ser arrogante, detestável, manipulador, e teimoso. Então ele depende de nós para conseguir dinheiro e apoio emocional. Nosso relacionamento com ele é forçado ao máximo. Até agora nós somos tudo o que ele tem.

Ken (não-bp)

O amor da minha mãe por mim era condicional. Quando eu não fazia o que eu pretendia fazer – pequenas tarefas ou tanto faz – ela costumava enfurecer-se, derrubar-me e dizia que eu era uma criança horrível que nunca teria qualquer amigo. Mas quando ela precisava de amor, ela costumava ficar carinhosa e abraçava-me e falava sobre como éramos próximos. Nesse respeito nunca teve qualquer modo de predizer com qual humor ela estaria.

Minha mãe parecia ofender-se se uma pessoa qualquer parecia ocupar muito do meu tempo e da minha energia. Ela era igualmente ciumenta em relação ao nosso cachorro, Snoopy, que eu amava mais do que qualquer pessoa. Um dia eu estava abraçado com Snoopy e ela veio a nossa frente e começou a gritar que eu não tinha vida porque tudo que eu fazia era sentar perto de casa e mimar o cachorro. Eu sempre pensei que eu era o único que tinha feito alguma coisa errada – ou eu pensava que eu era uma pessoa má.

Ela tomava a si mesma para corrigir-me por dizer constantemente a mim como eu precisava mudar. Ela procurava alguma coisa errada com meu cabelo, meus amigos, meus modos à mesa, e minha atitude. Ela parecia exagerar e mentir para justificar suas afirmações. Quando meu pai reclamava, ela rejeitava-o por fazer um sinal com a mão. Ela sempre tinha o direito.

Através dos anos, eu tentei satisfazer suas expectativas. Mas quando eu conseguia, elas mudavam. Apesar dos anos de ardentes críticas, eu nunca cheguei a acostumar com isso. Eu me torno insensível por dentro quando alguém – especialmente uma mulher – começa a criticar-me. Hoje, tenho problemas em me aproximar das pessoas. Eu não posso acreditar em ninguém completamente – nem mesmo na minha esposa. Quando eu me sinto especialmente próximo dela, eu reforço a mim mesmo para a inevitável rejeição que eu sei que virá. Se ela não faz nada que eu possa classificar como rejeição, eu irei rejeitá-la de algum modo – tipo ficando furioso com ela por qualquer coisa estúpida. Intelectualmente, eu sei o que está acontecendo. Mas eu me sinto impotente para parar isso.

O extremo e a intensidade do comportamento do BPD

Pessoas com BPD sentem as mesmas emoções que as outras pessoas. Eles fazem as mesmas coisas que outras pessoas fazem – ou gostariam de fazer. A diferença é que eles sentem as coisas de modo mais intenso, agem de maneiras que são mais extremas, e têm dificuldade em ajustar suas emoções e comportamento. O BPD não causa fundamentalmente o comportamento diferenciado, mas esse comportamento é muito diferente do ponto de vista da estatística. As pessoas com BPD não estão no limite de nada. Pesquisadores inventaram o termo "Borderline"; na primeira metade deste século, quando pensavam que essas pessoas que apresentavam comportamentos que nós agora associamos com o BPD estavam na beira entre a neurose e a psicose. Embora este conceito tenha sido rejeitado nos anos 70, o nome ficou. Se seguem os pensamentos, as emoções, e as ações comuns às pessoas com BPD. Ninguém com BPD vai – ou até poderia - ter todos esses. De qualquer modo, o número de respostas "sim" reforçam, a probabilidade de que esta pessoa pode ter o BPD.

Pensamentos que podem indicar o BPD

Esta pessoa:

__ Vê as pessoas alternadamente como perfeitas ou más? Tem dificuldade de lembrarem das coisas boas

sobre a pessoa a quem deram papel de vilão? Acham impossível lembrarem de qualquer coisa negativa

sobra a pessoa que eles tornaram herói?

__ Vê as pessoas alternadamente como completamente à favor deles ou contra eles?

__ Vê as situações alternadamente como desastrosas ou perfeitas?

__ Vê eles mesmos alternadamente como desprezíveis ou perfeitos?

__ Têm dificuldades em lembrar-se do amor de alguém quando este não está perto?

__ Acreditam que outras pessoas são completamente certos ou totalmente errados?

__ Mudam suas opiniões sendo influenciados por quem está com eles?

__ Alterna entre idealizar as pessoas e desvalorizá-las?

__ Recorda situações de modo muito diferente de outras pessoas, ou se acham incapazes de lembrar

tudo?

__ Acreditam que outros são responsáveis por suas ações – ou exigem muita responsabilidade pelas

ações de outros?

__ Parecem relutantes em admitir um erro – ou sentem que tudo que eles fazem é um erro?

__ Baseiam melhor suas opiniões em sentimentos do que em fatos?

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__ Não percebem os efeitos que o seu comportamento causa em outros?

Os sentimentos que podem indicar BPD

Esta pessoa:

__ Sente-se abandonada por um motivo insignificante?

__ Tem extremos de mau-humor em ciclos muito rápidos (em minutos ou horas)?

__ Tem dificuldade de controlar suas emoções?

__ Sente emoções tão intensamente que é difícil colocar as necessidades dos outros – até mesmo de

seus próprios filhos - a frente de si próprio?

__ Sente-se desconfiado e receoso grande parte do tempo?

__ Sente-se ansioso ou irritável grande parte do tempo?

__ Sente-se vazio ou como se eles não tivessem personalidade grande parte do tempo?

__ Sente-se ignorado quando não é o foco da atenção?

__ Expressa raiva inapropriadamente ou tem dificuldade em expressar a raiva em tudo?

__ Sente-se como se nunca fosse receber amor, afeto e atenção o suficiente?

__ Freqüentemente sente-se fora do ar, irreal ou fora de si?

Os comportamentos que podem indicar BPD

Esta pessoa:

__ Tem problemas observando os limites pessoais dos outros?

__ Tem problema em definir seus próprios limites?

__ Age impulsivamente em áreas que são potencialmente prejudiciais para si mesmo, tais como

gastando muito, atraindo-se por sexo perigoso, lutando, jogando, abusando de drogas ou álcool,

dirigindo de modo negligente, roubando, ou apresentando distúrbio alimentar?

__ Mutila-se – por exemplo, cortando-se propositadamente ou queimando sua pele?

__ Ameaça matar se – ou tentou suicidar-se recentemente?

__ Entra nos relacionamentos baseado em idealizações fantasiosas do que gostariam que a outra pessoa

fosse no relacionamento?

__ Muda suas expectativas de tal maneira que a outra pessoa sente que nunca pode fazer nada certo?

__ Tem raivas assustadoras, imprevisíveis que não fazem nenhum sentido lógico - ou tem problema em

expressar raiva em tudo?

__ Abusa fisicamente de outros, tal como os golpeando, batendo, e arranhando-os?

__ Cria crises desnecessariamente ou tem um estilo de vida caótico?

__ Age inconseqüentemente ou imprevisivelmente?

__ Às vezes quer estar perto de outros, outras vezes quer estar longe? (Os exemplos incluem brigas

quando as coisas estão indo bem ou às vezes terminam relacionamentos e em seguida tentam voltar

atrás)?

__ Corta pessoas de sua vida por problemas que parecem triviais?

__ Age de modo apropriado e controlado em algumas situações mas extremamente fora de controle em

outros?

__ Abusa verbalmente de outros, criticando e acusando-os no ponto que é cruel?

__ Age verbalmente abusivo perto de pessoas que eles conhecem muito bem, enquanto age de modo

agradável na frente de outros? Podem mudar de um modo para outro em segundos?

__ Age de maneira extrema ou controladora para ter suas próprias necessidades satisfeitas?

__ Faz ou diz algo impróprio para focalizar a atenção nela quando se sente ignorada? __

__ Acusa outros de fazer coisas que não fizeram, de ter sentimentos que não sentem, ou de acreditar em

coisas que não acreditam?

Se você descobrir que ele tem BPD

Pessoas que amam alguém com Transtorno de Personalidade Borderline ficam geralmente espantadas quando descobrem que o BPD talvez seja a raiz do comportamento irregular, prejudicial e confuso dessa pessoa. Nós chamamos este momento de compreensão chocante de “efeito lâmpada elétrica”. As

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pessoas se surpreendem porque nunca ouviram falar de BPD antes – especialmente se eles procuraram a ajuda do sistema mental de saúde. Há diversas explanações possíveis para porque o BPD não é reconhecido extensamente. Primeiro, a associação americana de psiquiatria não reconhecia formalmente o BPD em seu Manual de Diagnóstico e Estatística (uma referência padrão para o diagnóstico e o tratamento de doenças psiquiátricas) até 1980 . Muitos profissionais de saúde mental não encontram sinais do BPD em seus pacientes simplesmente porque eles não foram informados o bastante sobre o transtorno. Também, alguns clínicos discordam com a informação no DSM; alguns não acreditam que o BPD realmente exista. Alguns profissionais rejeitam o diagnóstico como uma designação inútil ou uma nova moda para descrever pacientes difíceis. Outros clínicos acreditam que o BPD foi muito estigmatizado e por isso não classificarão pacientes com o transtorno por medo de que serão banidos do sistema mental de saúde. Também, muitos clínicos fazem um diagnóstico formal do BPD no quadro dos pacientes, mas escolhem mantê-lo um segredo para o paciente. Ou, mencionam-no momentaneamente, mas não o explicam.

Uma última possibilidade é que, como escrevemos, nenhuma celebridade admitiu ter o transtorno (embora muitas mostrem os traços). Certo ou errado, questões como distúrbios alimentares, violência doméstica, AIDS, e o câncer de mama não entram na vanguarda da consciência nacional dos ESTADOS UNIDOS até que afetem alguém famoso.

Dizer ou não dizer?

Após ter lido as seções precedentes, você pode estar ansioso para falar sobre o BPD com a pessoa que você pensa que o tem. Isto é compreensível. Aprender sobre a existência do BPD é uma experiência poderosa, que transforma. Parece lógico que outro se beneficiará da informação também. A ilusão acontece assim: A pessoa será grata a você e apressar-se-á na terapia para vencer seus demônios. Infelizmente, isto geralmente não acontece. Quase todos os que nós entrevistamos disseram que seu amor foi correspondido com raiva, negação, e uma tempestade de críticas. Freqüentemente, o possível Borderline acusa o membro da família de ser o único com o transtorno. (nós explicaremos as razões disto no capítulo 3.) O completo oposto também pode acontecer: a possível pessoa com Borderline pode sentir tanta vergonha e desespero que tenta se ferir. Ou podem usar a informação para negar a responsabilidade pelo seu comportamento – “Eu não posso me ajudar, eu sou Borderline”. Em nossa entrevista com John M. Grohol, Psy. D., ele disse, "Você não pode forçar alguém a querer mudar seu comportamento. Apesar de tudo, não são só ‘comportamentos’ para a pessoa que sofre do transtorno - são os mecanismos que usaram por toda sua vida." Tenha isso em mente quando falar com um BP. As questões aqui são extremamente complexas. Não se precipite em nada. Discuta seus pensamentos com um terapeuta qualificado que é experimente em tratar pessoas com o BPD. Geralmente, é preferível que a pessoa aprenda sobre o BPD de um terapeuta e não de você. Se a pessoa for um adulto e estiver consultando atualmente um terapeuta, o terapeuta provavelmente não discutirá o BPD com você por razões confidenciais. Você pode, entretanto, descobrir se estão familiarizados com o tratamento do BPD e discutir seus interesses com eles (veja o apêndice A). Finalmente, esteja ciente de que outras pessoas na vida do BP também podem responder com negação e acusações - especialmente a família de origem do Borderline (mãe, pai, irmãos). Mantenha na mente que não é seu trabalho convencer qualquer um de qualquer coisa. Quando uma pessoa está pronta para aprender, um professor geralmente aparece.

A exceção

Há uma situação em que você pode com cuidado discutir o BPD com o Borderline em potencial da sua vida: se estiverem procurando ativamente por respostas a respeito do que sentem e a maneira que agem; se ambos não estiverem jogando o “jogo da culpa” e se você puder fazer isso de uma maneira carinhosa, amorosa e assegurar a pessoa de que você pretende apoiá-lo nos seus anos de tratamento. Não faça esta promessa levianamente. Fazê-lo e quebrá-lo pode ser mais doloroso do que não prometer nada.

Quando você souber e ele não

As cascas-de-ovos tornam-se mesmo mais frágeis quando você está ciente de um diagnóstico possível do BPD e a outra pessoa não está. Sam, por exemplo, diz que por não poder discutir o BPD com sua esposa possivelmente Borderline, Anita, ela não se responsabiliza por suas ações. Falar sobre o tratamento, obviamente, não é uma opção. Ele também se sente como se estivesse sendo desonesto porque usa um endereço separado para enviar e receber informação impressa sobre BPD. Wesley diz, "Desde que encontrei algo sobre o BPD, minhas interações se tornaram mais suaves e mais compassivas - mas certamente só me decepcionando. Às vezes, sinto como se o tremendo volume de informação que eu tenho esteja me matando." A maioria das pessoas esperam um grau elevado de intimidade em seus relacionamentos achegados. Isto é difícil de conseguir quando você não pode conversar sobre algo tão significativo quanto o BPD. Assim se você sente que deve fazer seu amado ficar sabendo de que você suspeita de BPD, esteja ciente de que sua situação imediata pode ficar pior - não melhor. Nós sugerimos que você termine este livro primeiro, e então explique sua situação a um profissional de saúde mental qualificado e discuta como prosseguir. Certifique-se de escolher este terapeuta usando as guias no apêndice A. Uma outra alternativa é desenfatizar o diagnóstico. Em vez disso, ajude a pessoa a ver que em qualquer relacionamento ambas as pessoas carregam a responsabilidade pelo jeito como as coisas são (você pode achar que o BP é responsável por todos os problemas, mas deixe isto de lado por hora). A mensagem deve ser de que quando há problemas no relacionamento, ambos precisam trabalhar junto neles.

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Se a pessoa com BPD ainda não estiver no ponto onde podem fazer uma aproximação cooperativa para o bem do relacionamento, você pode simplesmente se focalizar em ajustar limites (capítulo 6). Como você verá, pedir que observem seus limites não depende de sua disposição em admitir ter problemas. Lembre-se, a outra pessoa pode ou não ter o BPD. E mesmo se tiver, isso não pode explicar totalmente seu comportamento. Mude o foco por imaginar as possíveis causas das ações deles para resolver o problema baseado nas questões que incluam os resultados de suas ações. Assim, você pode ser mais eficaz.

Como usar este livro

Este livro está cheio de informação. Leia devagar, e não tente absorver tudo de uma vez. Ele destina-se a ser digerido em pequenos bocados.

Vá passo-a-passo

Nós sugerimos que você leia este livro em ordem, ao invés de ficar saltando ao redor. O conhecimento que você ganha em um capítulo será necessário no seguinte. Isto é verdade em especial nos capítulos da parte 2. Nós temos reinteirado alguns conceitos fundamentais em capítulos diferentes; isto é para ajudar você não só a conhecê-los, mas para realmente integrá-los num novo modo de pensar sobre si mesmo e seu relacionamento.

Entendendo termos

Nós criamos alguns novos termos e definições em ordem para tornar este livro mais legível. Nós sugerimos firmemente que você se familiarize com eles antes de ler o resto do livro.

Não-borderline

O termo "não-borderline” (non-Non-BP) não significa "pessoa que não têm BPD." Antes, é usado

para "parente, parceiro, amigo, ou outro indivíduo que é afetado pelo comportamento de alguém com

BPD." Não-BPs podem estar em qualquer tipo de relacionamento com alguém que tem o BPD. Os Não-

BPs que nós entrevistamos eram parceiros casados, parceiros não-casados, amigos, crianças, pais,

irmãos, filhas adotivas, tias, primos, e colegas de trabalho de pessoas com BPD.

Os não-BPs são um grupo diverso de pessoas que são afetados por BPs de diversas

maneiras. Alguns não-BPs são de muito auxílio para pessoas com BPD em suas vidas; alguns podem ser

verbal ou fisicamente abusivos. Os Não-BPs podem ter interesse na saúde mental de seus próprios, tais

como a depressão, abuso de substâncias, transtorno de deficiência de atenção, e transtorno de

personalidade Borderline. As pessoas com BPD são considerados também não-BPs se estiverem lidando

com o alguém em sua vida que também tem o BPD (veja o apêndice B).

Uma nota importante: Algumas pessoas com BPD foram abusados sexualmente, fisicamente,

e emocionalmente por seus pais. Outros tiveram pais muito bons que dedicaram suas vidas para buscar

o tratamento para seus filhos Borderline. Os pais que nós entrevistamos neste livro estão na última

categoria. Não eram pais perfeitos. Mas seu comportamento não era de nenhuma forma abusivo. Por

esta razão, neste livro quando nós discutimos pais não-borderline, estamos nos referindo a pais normais

que cometem erros normais, não os abusivos. Todas as exceções serão descritas como tal.

Borderline

Neste livro, nós usamos termo "Borderline" (BP) para indicar "a pessoa que foi diagnosticada

com transtorno de personalidade Borderline ou que parece se ajustar na definição para o BPD no Manual

Diagnóstico e Estatístico IV (DSM-IV) (1994), publicada pela Associação Americana de Psiquiatria.”

Você pode nunca saber com certeza se a pessoa que você ama tem realmente o BPD. Eles

podem recusar ser avaliado por um profissional de saúde mental - de fato, eles podem negar que estão

tendo dificuldades. Ou, podem consultar um terapeuta, mas escolher não compartilhar de seu

diagnóstico com você.

Se a BP estiver sob o cuidado de diversos profissionais de saúde mental, é completamente

possível que cada um tenha uma opinião diferente sobre seu diagnóstico. Isto é comum porque o BPD é

7

Page 8: BORDERLINE (Stop Walking on Eggshells)

freqüentemente mal diagnosticado e porque coexiste freqüentemente com outras preocupações de

saúde mental.

Na ausência de um diagnóstico formal - ou mesmo um consenso de opinião - você pode se

sentir desconfortável chamando esta pessoa de Borderline. Mesmo ler este livro pode parecer como uma

traição da pessoa que você ama. Este sentimento é especialmente comum entre os filhos de pais

Borderline - muitos dos quais têm mantido o comportamento dos pais como um segredo de família por

muitos anos.

Você não deve diagnosticar as pessoas baseado na informação de um livro. Um diagnóstico

pode somente ser feito por um profissional que seja experiente em avaliar e tratar pessoas com o BPD.

Entretanto, este livro é sobre você, não o BP. Sejam quais forem suas circunstâncias, você tem o direito

de procurar a ajuda. E se você estiver sendo confrontado com os padrões de comportamento como

aqueles alistados nas páginas anteriores, você poderá beneficiar-se das estratégias neste livro

independentemente da presença ou da ausência do diagnóstico do BPD.

Borderline Versus Pessoas com BPD

Alguns profissionais preferem a frase "pessoa com BPD." Eles acreditam que chamar alguém

de "Borderline" implica que eles são seu diagnóstico. Estes clínicos afirmam que a essa frase mais longa

"pessoa com BPD" deve ser usada sempre.

Nós concordamos que o termo "pessoa com o BPD" é menos estigmatizado do que o nome

"Borderline." Entretanto, nosso objetivo é produzir um livro que seja legível, breve, e conciso,

respeitando assim as pessoas com transtornos mentais. Ao contrário de outros livros que focalizam

principalmente a pessoa com o transtorno, nós examinaremos as interações complexas entre BPs e não-

BPs. Para fazer isto, nós precisamos constantemente diferenciar-los - às vezes diversas vezes na mesma

sentença. Este é um desafio que outros livros sobre o BPD não enfrentam. Por essa razão, se utilizar a

frase mais longa faria deste livro difícil de ler e excessivamente verboso, nós usaremos o "Borderline" ou

"BP" no lugar.

Ter em mente nosso foco

Conforme você lê, pode parecer como que nós damos a impressão de que a pessoa com o

BPD é responsável para todos os problemas no relacionamento. Mas realmente, nós não estamos

discutindo o relacionamento como um todo. Nosso foco é muito limitado: lidar com o comportamento do

BPD.

Na vida real, os relacionamentos são variados. As centenas de fatores não relacionados ao

BPD afetam-nos. Nós não nos dirigimos a estes fatores porque estão fora de alcance deste livro. Nós

acreditamos que o BP é responsável por 50 por cento do relacionamento e o non-Non-BP é responsável

por outra metade. Ao mesmo tempo cada pessoa é responsável por 100 por cento de seus próprios 50

por cento.

Saiba Que Há Uma Esperança

O BPD é provavelmente o mais mal compreendido diagnóstico psiquiátrico. E a maior idéia

errada é que as pessoas com BPD nunca alcançarão qualquer melhora. Na realidade, a nova pesquisa

sugere que o comportamento do BPD pode estar associado com os distúrbios nos neurotransmissores

(mensageiros químicos) dentro do cérebro. Os medicamentos estão ajudando a reduzir a depressão, o

mau humor, e a impulsividade. O tratamento Cognitivo Comportamental tem mostrado ser eficiente na

pesquisa empírica. E nós temos encontrado muitos Borderline recuperados que por longo tempo não se

sentem obrigados pelos impulsos a ferir a si mesmos, que se sentem bem em relação a si mesmos, e

que dão e recebem o amor alegremente.

Mas como se o BP recusar a ajuda e o tratamento? Nesse respeito ainda há esperança, porque

embora você não possa mudar a pessoa com BPD, você pode mudar a si mesmo. Por examinar o seu

8

Page 9: BORDERLINE (Stop Walking on Eggshells)

próprio comportamento e modificar suas ações, você pode sair do rolo compressor emocional e

recuperar sua vida.

Capítulo 2

O mundo interno do borderline:

definindo o BPD

Tentar definir o BPD é como olhar fixamente em uma lava luminosa: o que você vê está

mudando constantemente. A doença não somente causa a instabilidade mas é a simbolização dela.

-Janice Cauwels, Confusão: Progredindo em direção aos Desafios do Transtorno de

Personalidade Borderline

Compreensão dos Transtornos de Personalidade

De acordo com o DSM-IV, um transtorno de personalidade é um padrão duradouro da prática

interna e comportamento que desvia-se notadamente da expectativa da educação do indivíduo, é difuso

(falta precisão) e inflexível (improvável mudar), é estável por muito tempo, e conduz à aflição ou ao

dano em relacionamentos interpessoais.

A real definição de um transtorno de personalidade é que essa causa a aflição para ambos, a

pessoa que tem o transtorno e aqueles que interagem com ela. Uma vez que a descrição do BPD parece

tão negativa, as pessoas diagnosticadas com BPD frequentemente sentem-se muito condenadas. É

crucial ter em mente que o Transtorno de Personalidade Borderline e a pessoa que o tem não são a

mesma coisa. O Transtorno de Personalidade Borderline é algo que as pessoas têm, não algo que são.

Quando você está vivendo com alguém com BPD, entretanto, pode ser difícil separar o BPD da

pessoa que sofre dele, embora você possa saber que eles não são a mesma coisa. Os Borderlines se

recuperam. Os sintomas desagradáveis tais como o mau-humor, a raiva, e a auto-mutilação podem ser

extremamente aliviados ou podem desaparecer com a medicação e a terapia certas.

Finalmente, a única pessoa que pode controlar os pensamentos, os sentimentos, e os

comportamentos da pessoa com BPD são os borderlines mesmos. Vir a ter uma compreensão equilibrada

disso é vital para a recuperação deles – e a sua própria.

Os critérios do DSM-IV para o BPD

Os critérios diagnósticos do DSM-IV para o transtorno de personalidade borderline são os

seguintes:

Um difuso padrão da instabilidade de relacionamentos interpessoais, auto-imagem, e

sentimentos [mal humor], e impulsividade marcante que começa no princípio da idade adulta e está

presente em uma variedade de contextos, como indicado por cinco (ou mais) dos seguintes:

1- Esforços frenéticos para evitar abandono real ou imaginário. Nota: não inclui os comportamentos

suicídas ou de auto-mutilação citados no (5).

2- Padrão de relacionamentos interpessoais instável e intenso caracterizado por alternar entre

extremos de idealização e desvalorização.

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Page 10: BORDERLINE (Stop Walking on Eggshells)

3- Perturbação da identidade: instabilidade acentuada e resistente da auto-imagem ou da percepção de

si mesmo.

4- Impulsividade em pelo menos duas áreas potencialmente prejudiciais à si próprio (Ex. gasto, sexo,

abuso de substâncias, roubos, direção imprudente, comer compulsivamente). Comportamentos resultam

de sentimentos momentâneos intensos. Nota: não inclui os comportamentos suicidas ou de auto-mutilação

citados no (5).

5- Ameaças, gestos ou comportamento suicida recorrente e auto-mutilante.

6- Instabilidade afetiva devido a acentuada reatividade do humor (episódios de intensa disforia,

irritabilidade ou ansiedade, que habitualmente duram algumas horas e, só raramente, alguns dias).

[Disforia é o oposto da euforia. É uma mistura de depressão, ansiedade, raiva, e desespero.]

7- Sentimento crônico de vazio.

8- Raiva intensa e inadequada ou dificuldade em controlar a raiva (demonstrações freqüentes de

irritação, raiva constante, lutas corporais recorrentes).

9- Ideação paranóide transitória relacionada a situações estressantes ou severos sintomas dissociativos.

Segue-se uma explanação adicional dos critérios de DSM-1V, bem como exemplo de pessoas com BPD

e seus familiares. Nós explicaremos a falta da identidade e sentimentos de vazio (3 e 7) na mesma seção

porque acreditamos que estão relacionados. Inversamente, nós separamos a auto-mutilação e o suicídio

(5) porque acreditamos que as motivacões para cada um são muito diferentes.

DSM-IV critério 1

Esforços frenéticos para evitar abandono real ou imaginário.

Imagine o terror que você sentiria se você tivesse sete anos de idade e estivesse perdido e

sozinho no meio da Times Square em Nova York. Sua mãe estava lá um segundo atrás, segurando sua

mão. De repente a multidão a arrastou para longe e você não conseguiu mais vê-la. Você olha ao redor,

freneticamente, tentando encontrá-la. Os desconhecidos olham de maneira ameaçadora para você.

Assim é como as pessoas com BPD se sentem quase toda a hora. Isolados. Ansiosos.

Estarrecidos com a idéia de ficarem sozinhos. Felizmente, pessoas apoiadoras são como rostos

amigáveis no meio da multidão, oferecendo sorrisos, ajuda, e um abraço aconchegante. Mas no

momento que fazem algo que sugere uma partida iminente - ou fazem qualquer coisa que o BP

interprete como um sinal que eles vão partir - o BP apavora-se e reage de diversas formas, desde uma

explosão de raiva a implorar para que a pessoa permaneça.

É preciso muito pouco para engatilhar o medo do abandono – uma mulher borderline se recusa

a deixar sua companheira de quarto sair do apartamento para a lavanderia. O medo do abandono pode

ser tão forte que pode oprimir o BP e o conduzir a reações ultrajantes. Por exemplo, quando um homem

disse a sua esposa BP que tinha uma doença potencialmente fatal, ela enfureceu-se com ele pra ver um

doutor.

Às vezes a pessoa com BPD lhe dirá francamente que está com medo de ser abandonado. Mas

mais freqüentemente, este medo se expressará de outra maneira - raiva, por exemplo. Sentir-se

vulnerável e fora do controle pode ser uma situação provocadora de raiva.

Se um BP foi negligenciado quando criança ou cresceu em uma família severamente

disfuncional, pode ter aprendido a lutar negando ou suprimindo seu terror de ser abandonado. Após

muitos anos de prática, eles não sentem mais a emoção original. Quando o BP da sua vida se torna

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Page 11: BORDERLINE (Stop Walking on Eggshells)

descontrolado ou irritado, pode ser de ajuda pensar se alguma coisa que aconteceu tenha provocado

seus medos de abandono.

Armin (não-BP)

Se eu estou cinco minutos atrasado pra voltar do trabalho para casa, minha esposa irá me ligar para

saber onde eu estou. Eu tenho que carregar um bipe para o trabalho, e ela me manda mensagens

constantemente. Eu não posso mais sair sozinho com meus amigos porque ela reage fortemente – ela

me manda mensagens mesmo quando eu estou assistindo um filme. Isso é tão estressante que eu

acabei parando de sair com meus amigos a não ser que ela venha junto.

Tess (BP)

Quando eu me sinto abandonada eu sinto uma combinação de isolamento, terror, e alienação por todos

à minha volta. Eu entro em pânico. Me sinto traída e usada. Eu acho que estou morrendo.

Uma noite eu liguei para o meu namorado e ele disse que me ligaria depois porque estava

assistindo algo na tv. Então eu comecei a passar a roupa para passar o tempo. Ele não ligou. Eu esperei.

Ele não ligou. Esse sentimento terrível de estar sendo abandonada veio de novo. Eu não podia aliviá-lo.

Isso machuca tanto porque no dia anterior, tinha começado a acreditar que ele realmente me amava.

Quando o telefone finalmente tocou às 22:00 hs, eu tinha decidido terminar com ele – me livrar

dele antes que ele se livrasse de mim. Isso mudou enquanto ele ainda estava assistindo o filme. Eu me

senti tão ridícula, mas a dor, o medo, e a dor torcida nos intestinos era muito real.

DSM-IV critério 2

Padrão de relacionamentos interpessoais instável e intenso caracterizado por alternar entre

extremos de idealização e desvalorização.

Pessoas com BPD olham para outros para conseguir coisas que acham difícil de suprir para si

mesmos, tais como a auto-estima, a aprovação, e um senso de identidade. Sobretudo, estão procurando

por um cuidador atencioso cujo amor-eterno e a compaixão preencha o buraco negro do vazio e do

desespero dentro deles.

Beverly (BP)

Eu me acostumei a aproximar-me de cada pessoa com um olhar amigável na esperança profunda de

que cuidariam de mim. Então eu comecei a perceber ( com uma grande dor ) que nenhum deles era

capaz de cuidar de mim da maneira que eu queria porque embora eu me sentisse como uma criança por

dentro, eu me parecia como um adulto por fora.

A intensa necessidade da pessoa com BPD pode colocar um peso em qualquer relacionamento –

mesmo quando o não-BP é o pai e o BP é o seu filho.

Roberta (não-BP)

Cuidar de minha filha de oito anos de idade (com BPD) era sempre como uma jornada de vinte e quatro

horas de trabalho por dia, todo dia. Ela esta deprimida e precisa ser consolada. Ela precisa de ajuda para

pensar em soluções satisfatórias para os problemas de cada dia. Ela vem para minha cama à meia-noite,

chorando e sangrando por causa do corte auto-inflingido. Eu a amo muito, mas não vejo um fim para isso

e eu não sei o que fazer. Todo meu tempo e energia vai para ela, e meu outros filhos se ressentem

disso.

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Page 12: BORDERLINE (Stop Walking on Eggshells)

Para alguém com BPD, a perda potencial de um relacionamento pode ser como enfrentar a

perda de um braço ou pé - ou mesmo a morte. Ao mesmo tempo, seu sentido de auto-estima é tão baixo

que realmente não compreendem porque qualquer um ia querer viver com eles. As pessoas com BPD

são hiper-vigilantes, procurando qualquer dica que possa revelar que a pessoa que gostam não o ama

realmente depois de tudo e está a ponto de abandoná-la. Quando seus medos parecem ser confirmados,

podem estourar com raiva, fazer acusações, chorar, procurar vingança, mutilar-se, ter um caso, ou fazer

inúmeras coisas destrutivas.

Isto conduz-nos à principal ironia do transtorno de personalidade borderline: As pessoas que

sofrem disso querem desesperadamente a relação e a intimidade. Mas as coisas que fazem para

conseguir isso frequentemente afasta as pessoas deles. Do mesmo modo como isto pode ser

atormentador para você, imagine como é para a pessoa que tem o transtorno. Você pode dar uma pausa

e ficar longe disso por algum tempo – se divertir, ir a uma festa, ler um livro, fazer uma longa caminhada

na praia. Mas o BP vive com o medo e o pânico vinte e quatro horas por dia.

Muitos BPs flutuam entre os extremos da idealização e desvalorização, chamados (splitting)

"efeito divisor." As pessoas com BPD percebem as outras pessoas como uma bruxa má ou um fada

madrinha, um santo ou um demônio. Quando você parece ter encontrado as necessidades deles,

moldam-no no papel do super-herói. Mas quando percebem que você falhou com eles, o transformam no

vilão demoníaco.

Devido às pessoas com BPD terem uma dificuldade em integrar os traços bons e maus de uma

pessoa, sua opinião atual de alguém é baseada frequentemente em sua última interação com ele –uma

pequena partícula como "Sr. Memória a Curto-Prazo" do show de TV Saturday Night Live. A brincadeira

principal era que cada momento era uma nova marca do Sr. Memória de Curto-Prazo; durante o almoço

ele se reapresentaria continuamente a seu companheiro de jantar e faria seu pedido repetidas vezes. A

memória emocional das pessoas com BPD é um pouco parecido com isso.

Jerold J. Kreisman (1989) explica o “efeito divisor” desse modo:

As pessoas normais são ambivalentes e podem experimentar dois estados contraditórios de

uma vez; os borderlines caracteristicamente mudam para a frente e para trás, inteiramente inconsciente

de um estado de sentimento a outro... Uma criança emocionalmente, o borderline não é capaz de tolerar

inconsistências e ambigüidades humanas; não é capaz de reconciliar qualidades boas e más de outros

dentro de um conhecimento coerente e constante de uma outra pessoa. Em cada momento particular,

alguém é “bom” ou é “mal”; não há nada no meio, nenhuma área cinzenta. As nuanças e as variações

são compreendidos com grande dificuldade, se em tudo.... planejou proteger o borderline de uma

barragem de sentimentos e imagens contraditórios - e da ansiedade de tentar harmonizar essas

imagens - o mecanismo do “efeito divisor” consegue frequentemente o efeito oposto: As batalhas na

estrutura da personalidade se tornam como rasgar um pano; o sentido de sua própria identidade e as

identidades dos outros mudam mais dramaticamente e freqüentemente.

Pensamentos de tudo-ou-nada podem aparecer em outras áreas da vida do BP – não só

relacionamentos. Quando há um problema algumas pessoas com BPD podem sentir como se existisse

apenas uma solução. Uma vez que a ação é feita, não há retorno. Por exemplo quando uma mulher

borderline recebeu novos deveres no trabalho ela não gostou, sua solução foi deixar seu emprego.

Também, uma conquista BP pode ser tudo ou nada. Por exemplo, um estudante de faculdade borderline

se tornou tão envolvido com uma campanha política que reprovou em todas suas aulas. No semestre

seguinte, ele caiu fora de todas suas atividades políticas para se concentrar em suas aulas. Era incapaz

de equilibrar seu tempo e de fazer um pouco de ambos.

As pessoas com BPD podem sentir que os relacionamentos devem ser claramente definidos.

Alguém é seu amigo ou é seu inimigo, seu amante apaixonado ou um companheiro platônico. Esta é uma

razão porque as pessoas com BPD podem ter dificuldades em ser amigos platônicos após o fim de um

romance. Esta necessidade de definição não se aplica apenas a outros; as pessoas com BPD vêem-se

12

Page 13: BORDERLINE (Stop Walking on Eggshells)

também em preto e branco. Em seu livro de auto-ajuda para borderlines, Richard Moskovitz (1996)

escreve:

Você [ a pessoa com BPD ] pode lutar corajosamente por perfeição e sente, às vezes, que você

conseguiu isso, somente para se condenar quando a menor falha aparece. Quando você é bom, você

pode sentir que tem direito a um tratamento especial e vive fora das regras feitas para outros. Você

pode se sentir no direito de pegar tudo o que quiser e ter tudo de bom para si mesmo.

Quando você está mau, pode sentir que não tem direito a nada. Você pode se sentir responsável por

tudo que é mal e esperar a punição. Se a punição não vier, você talvez provoque isso de outros ou inflija

isso a si mesmo.

A prática do “efeito divisor” pode transformar-se um ciclo contínuo. É muito difícil, se não

impossível, cumprir todas as necessidades e expectativas de um borderline. Porque eles podem nunca

estar claramente determinados - ou porque a pessoa com BPD tem problema em pronunciar-se

nitidamente ou porque o BP nem mesmo sabe que elas existem. Ou, uma vez que você dá passos para

satisfazer as necessidades do borderline, eles podem decidir que querem algo mais. Seu papel pode

mudar de herói a bandido diversas vezes em um dia, ou pode levar anos para a pessoa com BPD passar

com ciclos através do padrão santo/pecador. Às vezes o BP pode encontrar um novo “objeto de amor";

uma vez que o velho provou ser "defeituoso," somente para repetir o ciclo com alguma outra pessoa.

Quando isto acontecer é seu trabalho manter uma opinião consistente, equilibrada de si mesmo

em todas as ocasiões. Isto pode ser difícil porque o BP tem muita certeza de que você fez algo terrível - e

em resultado podem ser muito convincentes. Não é um papel (de teatro). Eles acreditam nisso. É

também crucial que você mantenha uma perspectiva racional quando a pessoa com BPD o vê brilhando,

no sentido positivo. Isto lhe ajudará a permanecer em um barco equilibrado durante aquelas épocas em

que você estiver em maus lençóis.

Parcialmente por causa de seu hábito do “efeito divisor”, pessoas com BPD - em especial

aqueles que foram abusados quando crianças - acham extremamente difícil confiar nos outros. Esta falta

da confiança causa muita turbulência nos relacionamentos; por exemplo, quando o virem como um vilão

eles podem acusá-lo de não os amar ou de estar tendo um caso.

Os não-BPs nesta situação frequentemente tentam mostrar de maneira firme sua fidelidade,

mas geralmente sem nenhum efeito. Isso é porque os sentimentos de desconfiança se encontram dentro

da pessoa com BPD, e muitas vezes não há nada a fazer com respeito às ações específicas do BP.

Jenice (BP)

Eu sempre tinha esse desejo insaciável por algo que não conseguia definir, exceto chamar isso

de abismo incompreensível de necessidade. Algo que me tornava diferente e envergonhada. Algo que

me fazia ter medo de me aproximar de qualquer um por receio de que descobrissem que eu era podre e

transtornada. Então eu diversifiquei. Eu tinha uma porção de amigos e não me aproximava de nenhum

deles. Se eu baixasse minha guarda e um amigo descobrisse o quão estranha eu era e recuasse – bem,

eu tinha outros cinqüenta e nove.

Mas agora um relacionamento romântico estava retrocedendo. E com isso, estreitando. As

apostas eram altas, com uma pessoa significando tanto. E a necessidade de intimidade jorrava de mim

como a água de uma barragem quebradiça - eu me agarrei a tudo o que tinha para não deixar romper

totalmente. Ah, mas agora é diferente – o rapaz precisa de mim, também. Então talvez seja seguro aqui.

Então eu arremessei uma grande pedra na barragem que segurava as águas tempestuosas. E isso me

varreu nas suas correntezas, me arremessou em todas as direções, pulando como um pinball. Girando.

Não posso controlar isso – é como começar uma vida em si mesmo. Fique comigo, por favor. Todo dia e

toda noite. Olhe para mim, me escute. Eu estou aqui. Pode me ver? Estou aqui! Estou aqui! Estou aqui...

Oh, isso é incrível! Finalmente, finalmente, a única pessoa que tem tudo o que eu preciso! Que alívio!

Ei... espere um minuto! Ele está resistindo a isso – diz que quer assistir TV em paz, diz que tem uma

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Page 14: BORDERLINE (Stop Walking on Eggshells)

outra coisa pra fazer. Mas o que é que eu faço agora? Preciso interromper! Ooohhh, estou frustrada...

que droga! Eu odeio esse cara! Eu deixei baixar minha guarda – será que ele não sabe o quão difícil foi

para mim fazer isso? Como ele ousa preferir assistir TV do que conversar comigo? Como ele ousa preferir

sair como seus amigos do que ficar aqui mesmo, agora mesmo? Como ele ousa descobrir que tipo de

pessoa completamente transtornada eu sou? Estou furiosa. E estou embaraçada como o inferno. Eu vou

pega-lo com as calças arriadas – ele verá o abismo incompreensível de necessidade. Ele me fez de tola!

Embarassada, eu vou atacar. Deixe-o ter isso! Deixe a sacudida mostrar com quem ele está brincando.

Ei, adivinhe camarada – eu não me importo com você. Não, eu não dou a mínima para você! Peque isso –

pegue aquilo! Veja, estou calma. Eu sou uma criança brigona. Eu não preciso de uma droga de pessoa e

eu certamente não preciso de você! Eu brigo, eu choro até desmaiar de esgotamento. E em seguida eu

acordo e vejo como eu o machuquei. E eu me desprezo mais do que eu possa imaginar. Estou assustada

até a morte. Porque ele está indo caminhar, eu só sei que ele está indo caminhar. Estou tão vulnerável.

Eu não sou brigona. Por favor não me deixe – sinceramente, eu não sou a criança brigona. Eu preciso de

você. Como posso mostrar a você?

Eu choro, eu imploro, eu digo para ele que homem incrível ele é, quão paciente ele é. Eu sei que

você me odeia! Você deveria me odiar! Eu sou melhor morta. Você ficará melhor sem mim! Não, eu

quero dizer – eu queria que eu estivesse morta... ele está afrouxando um pouco. Oh, por favor, deixe-me

fazer isso por você. Vamos fazer uma amor incrível em qualquer lugar, qualquer hora! Deixe-me

cozinhar pra você uma refeição deliciosa, ser sua agradável concumbina – deixe-me te mostrar o melhor

lado da minha paixão. Caramba! Ele voltou. Ele continua aqui. Obrigada Deus por eu não destruir tudo

permanentemente. Eu me sinto tão bem com ele. Ele se importa. Eu preciso dele.

Quando eu percebo que causei um estrago irreparável – quando o círculo começa a se repetir

por si mesmo então eu me convenço que destruí tudo irreparavelmente – quer ele tenha ou não chegado

a essa conclusão – eu corto o cordão e encontro outra pessoa. E vou por toda coisa maldita de novo.

!!!!!!!

DSM-IV Critérios 3 e 7

Perturbação da identidade: instabilidade acentuada e resistente da auto-imagem ou da

percepção de si mesmo.

Sentimentos crônicos de vazio.

Quando a pessoa atinge os 20 ou 30 anos de idade, sua auto-imagem é normalmente mais

consistente. Algumas pessoas também atravessam uma crise de meia-idade em seus 40 anos, quando

eles questionam as escolhas que fizeram. Mas a maioria de nós aceita certas coisas como determinadas,

como nossos gostos e desgostos, nossos valores, nossa opinião religiosa, nossas posições em assuntos

importantes, e nossas preferências de carreira.

Mas a procura nunca termina para pessoas com BPD. Falta neles um sentido essencial de si

mesmos, assim como lhes falta um sólido senso sobre outros. Sem um sentido de si mesmo para

apegarem-se, eles são como passageiros na plataforma de um navio durante um furacão, sendo

danificado e lançado pra lá e pra cá. No meio da fúria, olham freneticamente ao redor, procurando por

algo – qualquer coisa – para se agarrarem. Mas tudo que vêem são outros passageiros usando salva-

vidas, agarrados ao mastro por segurança. Enquanto mais uma onda brame sobre a plataforma, eles se

agarram firme no mastro de alguém por sua preciosa vida. Mas o salva-vidas é somente para uma

pessoa. E o poste não pode resistir à união dos pesos e está começando a rachar.

Robert J. Waldinger (1993) discute o problema da difusão da identidade, uma característica

que conduz aos sentimentos de vazio:

A difusão da identidade refere-se ao profundo e frequentemente apavorante senso dos pacientes

borderline de que não sabem quem são. Normalmente, nós conhecemos a nós mesmos de forma

constante devido ao tempo em ambientes diferentes e com pessoas diferentes. Esta continuidade de si

não é experimentada pela pessoa com BPD.

14

Page 15: BORDERLINE (Stop Walking on Eggshells)

Em vez disso, os pacientes borderline são enchidos com imagens contraditórias de si mesmos

que não podem integrar. Os pacientes relatam geralmente que sentem o vazio interior, que nesse

respeito é "nada para mim, " que são pessoas diferentes dependendo de com quem estão.

Um sentimento de vazio e caos submete o paciente borderline a depender de outros para

sugestões sobre como comportar-se, o que pensar, e como ser; visto que são solitários ficam sem uma

percepção de quem são ou com o sentimento de que não existem. Isto, em parte, é a razão de estes

pacientes frenéticos e geralmente impulsivos se esforçarem para evitar ficar sozinho, bem como as suas

descrições de pânico, enfado esmagador, e [ dissociação ].

Quando um BP tem dificuldade com auto-definição, ele também sente que, não importa qual a

sua identidade, ele nunca será bom o bastante. Na seção do “efeito divisor”, nós explicamos que as

pessoas com BPD podem basear suas opiniões em uma de suas interações mais recentes. Não podem

não ter nenhuma idéia de como é o relacionamento como um todo; isso constantemente, "Mas o que

você têm feito por mim ultimamente?"

As pessoas com BPD fazem o mesmo consigo mesmas, baseando seu auto-valor em sua mais

recente realização - ou na falta dela. E julgam-se tão severamente como julgam outros, assim qualquer

coisa que façam nunca será bom o bastante. Por causa disto, algumas pessoas com BPD tornam-se

extremamente bem sucedidas no que fazem. Tornam-se conhecidos por suas realizações no trabalho,

em sua comunidade, ou em casa. Mas se sentem frequentemente como os atores que recitam suas falas.

Quando a audiência vai para casa, deixa de existir.

Talvez como parte de seu dilema de identidade, algumas pessoas com BPD vêem-se

frequentemente como vítimas desamparadas das pessoas - mesmo quando seu próprio comportamento

afetou o resultado de uma situação particular. Por exemplo, durante uma terapia de grupo um homem

borderline queixou-se de que seu proprietário expulsou-o e não tinha nenhum lugar para viver. Após

vinte minutos de piedade, os membros do grupo começaram a perguntar porque isto tinha acontecido.

Ele foi expulso porque havia violado muitas regras do apartamento, incluindo estacionar na vaga do

proprietário. Uma outra mulher borderline golpeou repetidamente seu marido, teve casos numerosos, e

teve seu marido preso erroneamente por possessão de drogas depois que as colocou em sua mala de

viagem. Posteriormente, propôs o divórcio. Seu ex-marido começou a encontrar uma mulher com quem

trabalhou. No entanto, quando a mulher descreveu o rompimento a seus amigos, disse-lhes que seu

marido a havia abandonado por causa de uma colega de trabalho. Estes dois BPs recusaram reconhecer

seu papel nas situações.

Algumas pessoas com BPD podem jogar o papel de vítima porque isso atrai a atenção

solidária, fornece uma identidade, e lhes dá a ilusão de que não são responsáveis para suas próprias

ações. Os borderlines com históricos de abuso podem repetir o roteiro do passado. Podem se sentir

continuamente vitimados porque estão condicionados a esperar o comportamento cruel das pessoas em

que confíam. Quando crianças, podem ter se sentido responsáveis pelo seu comportamento abusivo.

Podem ter vindo a acreditar que algo neles levou as pessoas a agir de uma maneira cruel ou negligente.

Então como adultos, estas crianças anteriormente abusadas esperam o pior das pessoas. Interpretam o

comportamento normal como cruel ou negligente e reagem com a raiva, desespero, ou vergonha

intensa. As pessoas em torno deles ficam confusas porque não podem ver o que realmente provoca o

seu comportamento.

Um outro papel comum entre pessoas com BPD é aquele do ajudador ou do protetor. Este

papel mais positivo pode ajuda-los a fornecer uma identidade, elevando sentimentos de controle, e

diminuindo sentimentos de vazio.

DSM-IV Critério 4

Impulsividade em pelo menos duas áreas potencialmente prejudiciais à si próprio (Ex. gasto,

sexo, abuso de substâncias, roubos, direção imprudente, comer compulsivamente).

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Page 16: BORDERLINE (Stop Walking on Eggshells)

Todos tem impulsos que amariam ceder se pudessem: comer cada chocolate da caixa,

comprar um grande suéter novo de várias cores, beber um último copo de champanhe para brindar o

ano novo. A maioria das pessoas têm diversas habilidades para controlar seus impulsos e adiam a

gratificação imediata. Eles estão cientes das conseqüências a longo prazo - neste caso, ganho de peso,

uma dívida maciça no cartão de crédito, e uma ressaca horrível. Mas algumas pessoas com BPD

encontram muita dificuldade para resistir ou controlar estes impulsos. Se uma pessoa se sente vazia e

ansiosa na maior parte do tempo, atividades agradáveis são uma diversão bem-vinda. Drogas que

alteram o humor fornecem um alívio imediato e podem conseqüentemente ser uma distração poderosa.

As atividades prejudiciais podem ser uma maneira de expressar a raiva ou o ódio-próprio.

As pessoas com BPD podem também tentar encher o vazio e criar uma identidade para si

mesmos através dos comportamentos impulsivos tais como farras e tomar purgante, atividade sexual

indiscriminada, roubar lojas, compras compulsivas, beber, ou abuso de drogas.

O BPD e os transtornos de abuso de drogas andam frequentemente de mãos dadas (Oldham

et al. 1995). Um outro estudo (Links et al. 1988) relatou que aproximadamente 23 por cento dos

pacientes borderlines tiveram um diagnóstico de abuso de substâncias. Os borderlines abusadores de

substâncias são propensos a abusar de mais de uma droga (uma combinação freqüente é abuso de

drogas e de álcool), são mais propensos à ser deprimidos, têm frequentemente mais tentativas de

suicídio e acidentes, têm menos controle dos impulsos, e parecem ter mais tendências anti-sociais

(Nance et al. 1983) (Link et o al. 1995). Se o seu BPD está abusando ativamente de drogas e álcool, pode

ser difícil determinar que comportamento está relacionado ao BPD e que comportamento está

relacionado com o abuso de substâncias.

DSM-IV Critério 5

Ameaças, gestos ou comportamento suicida recorrente e auto-mutilante.

De acordo com o DSM-IV aproximadamente 8-10 por cento de todos as pessoas com BPD

cometem suicídio. Isto não inclui os BPs que se empenham em comportamento de risco que resulta em

morte, tal como beber e dirigir. Marsha M. Linehan (1993) explica que o suicídio (e outros

comportamentos impulsivos, disfuncionais) são vistos como soluções para a opressão, incontrolável dor

emocional:

O suicídio, naturalmente, é a última maneira de mudar o [ mal humor ] deles. ... De outra

maneira, comportamentos menos letais podem também ser completamente eficazes [ em mudar o

humor do borderline]. A overdose, por exemplo, conduz geralmente a períodos longos de sono; o sono,

por sua vez, tem uma influência importante em regular a vulnerabilidade emocional....

O comportamento suicida, incluindo ameaças de suicídio, também é muito eficaz em extrair

comportamentos do ambiente – a ajuda que possa ser eficaz em reduzir a dor emocional. Em muitos

exemplos, tal comportamento é a única maneira em que um indivíduo acha para motivar outros a lhe dar

atenção e tentar melhorar sua dor emocional...

Tony (não-BP)

Minha esposa chegou em casa chorando, desesperada porque seu namorado havia terminado

com ela. Inacreditável, ela pensou que eu não ficaria bravo com o acontecimento, e que eu a ampararia

por causa da dor que ela estava sentindo. Quando eu não a amparei o bastante, ela começou a ameaçar

suicídio na frente de nosso filho de dez anos de idade, que se tornou extremamente cínico para com o

comportamento de sua mãe.

Comportamento de auto-mutilação

A auto-mutilação é outro comportamento BPD que é muito difícil para os familiares entenderem.

Os exemplos incluem cortar, queimar, quebrar os ossos, dar pancadas na cabeça, espetar com agulha,

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Page 17: BORDERLINE (Stop Walking on Eggshells)

arranhar a pele, arrancar os cabelos, e rasgar cicatrizes – tudo sem a intenção de se suicidar. Algumas

vezes, um comportamento compulsivo ou perigoso pode ser um tipo de auto-mutilação – comer demais

ao ponto da obesidade, por exemplo, ou provocar lutas físicas com outros.

O auto-ferimento é um mecanismo de defesa que os BPs usam para liberar ou controlar sua

esmagadora dor emocional – geralmente sentimentos de vergonha, raiva, tristeza e abandono. a auto-

mutilação pode liberar seu próprio narcótico corporal, conhecidos como beta-endorfinas. Estes agentes

químicos conduzem a um sentimento geral de bem estar.

As razões Borderlines para a auto-mutilação variam tremendamente e incluem:

Para se sentir vivo, menos entorpecido e vazio

Para se sentir mais entorpecido

Para expressar raiva por outros

Para punir a si mesmos ou expressar auto-repugnância (provavelmente mais freqüentes entre

BPs que foram abusados)

Para provar a alguém que eles não são “maus” como eles estão pensando

Para aliviar o stress ou a ansiedade

Para sentir que tem o controle sobre sua dor

Para trazer de volta um senso de realidade

Para se sentir “real”

Para procurar alívio para a dor emocional, frustração e outros sentimentos negativos por

alimentar a dor física

Para transmitir a dor emocional para outros ou pedir ajuda

Aqui estão algumas palavras de BPs que praticavam a auto-mutilação:

"Para dizer a verdade, eu acho que fazia isso para que alguém observasse o fato de que eu

precisava de ajuda."

"Quando me cortava, eu não estou tentando explicar quão mau eu me sinto. Eu posso mostrar

isso."

"Quando eu fico furioso com alguém, eu quero destruir, machucar ou matar ele. Mas eu sei que

eu não posso machucar essa pessoa de verdade. Então eu tiro a raiva por me cortar ou arrancar

meus cabelos. Isso faz eu me sentir melhor no momento, mas depois disso eu fico

envergonhado comigo mesmo e eu desejo não ter feito isso."

"Quando meu pai parou de me abusar, eu tive que compensar a ferida que desapareceu

rapidamente."

“Para mim, as cicatrizes são como pinturas externas do que meus pais fizeram”

O auto-dano pode ser planejado de maneira antecipada ou feito impulsivamente. Pode ser

executado intencionalmente ou inconscientemente - quase como se a pessoa estivesse em uma neblina

e não percebe o que está fazendo. Uma pessoa que se mutila pode ou não sentir dor quando está

fazendo isso. Algumas pessoas escondem sua auto-mutilação, só desfigurando as áreas que são

escondidas normalmente pela roupa. Algumas pessoas que nós entrevistamos até mesmo aprenderam a

costurar suas feridas para que não tenham que procurar a atenção médica e revelar seu segredo. Outras

pessoas são mais abertas sobre os resultados do seu auto-ferimento - talvez porque essa é uma maneira

de pedir ajuda ou um método de comunicar sua dor.

As pessoas com BPD que nós entrevistamos estavam frequentemente muito cientes de suas

próprias razões para o auto-ferimento. Mas um conhecimento intelectual não fez com que ficasse mais

fácil parar. A maioria sentiam que a auto-mutilação se tinha transformado um hábito difícil de largar,

assim como o cigarro, e o impulso para fazer isso pode ser tão poderoso como o impulso de fumar um

outro cigarro.

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Page 18: BORDERLINE (Stop Walking on Eggshells)

Há um mal-entendido de que todas as pessoas com BPD ferem a si mesmos ou são suicidas.

Muitos BPs auto-funcionais não são . Os BPs que se ferem, entretanto, podem procurar a ajuda

profissional mais frequentemente do que aqueles que não .

DSM-IV Critério 6

Instabilidade afetiva devido à acentuada reatividade do humor (episódios de intensa disforia,

irritabilidade ou ansiedade, que habitualmente duram algumas horas e, só raramente, alguns

dias).

Quando a maioria das pessoas se sente mal, podem tomar medidas para se sentir melhor. Eles

podem também controlar, até certo grau, o quanto seu humor afeta seus relacionamentos com outros.

As pessoas com BPD têm uma grande dificuldade em fazer isso. Seu humor pode variar de raiva intensa

à depressão, da depressão à irritabilidade e da irritabilidade à ansiedade dentro de algumas horas. Os

não-BPs muitas vezes acham isso exaustivo e imprevisível.

Dina (não-BP)

Viver com meu marido borderline é como o céu num minuto e o inferno no outro. Eu chamo

suas personalidades de Jekyll Alegre e Hyde Horrível. Eu piso em cascas de ovos tentando agradar uma

pessoa que explode só porque eu falo breve demais, rápido demais, no tom errado, com a expressão

facial errada – o que quer que seja!

DSM-IV Critério 8

Raiva inapropriada, intensa ou dificuldade de controlar a raiva.

Se você cuida de alguém com BPD, você provavelmente está bem familiarizado com este

traço. A raiva do borderline é geralmente intensa, imprevisível, e não afetada pelo argumento lógico. É

como uma inundação torrencial, um terremoto repentino, ou um relâmpago em um dia ensolarado. E

pode desaparecer tão rapidamente como apareceu. Alguns borderlines, entretanto, têm o problema

oposto: se sentem incapazes de expressar totalmente a sua raiva. Marsha M. Linehan (1993) escreveu

que os indivíduos borderlines que expressam de maneira insuficiente a sua raiva "sentem que perderão

o controle se expressarem mesmo a mais leve raiva, e em outras vezes eles temem que os alvos de

cada pequena raiva seja retaliada.”

Jane G. Dresser, RN, que é especialista em BPD, nos disse numa entrevista que ela acredita que

pessoas com BPD sentem todas as emoções de maneira intensa, não só a raiva. Ela teoriza que a raiva

era destacada no critério DSM porque é tipicamente o sentimento que causa a maioria dos problemas

para as pessoas próximas do borderline. Linehan repetiu essa opinião, dizendo, “pessoas com BPD são

como pessoas com queimaduras de terceiro grau em 90 por cento de seu corpo. Sem a pele emocional,

eles sentem agonia ao mais leve toque ou movimento.”

Se você está sendo atacado verbalmente ou fisicamente por alguém com BPD, tenha em mente

que mesmo profissionais de saúde mental experientes, ás vezes, receberam a fúria borderline em

pessoa e ficaram descontrolados. Nós explicaremos com tomar passos para se proteger no capítulo 8.

Jeremy (BP)

Quando eu sinto que não posso controlar meu ambiente, eu fico nervoso e furioso. Isso fica

muito pior quando eu estou sob estresse. Qualquer coisa negativa vem a todo vapor e me domina

completamente. Quando disparado, eu posso ir de perfeitamente calmo à totalmente explosivo, furioso

em uma fração de segundo. Eu sinto como se estivesse sendo sitiado que todo mundo só me provocasse

para que eu exponha minha raiva e então me meta em encrencas.

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Eu acho que meu temperamento vem do abuso que eu sofri quando era criança. Em algum

ponto, eu decidi que não iria mais sofrer abuso dos meus pais. A fúria posterior se tornou uma questão

de sobrevivência.

Agora, é difícil pra mim me preocupar com o sentimentos dos outros – de fato, eu quero

machuca-los porque eles me machucam. Eu sei que isso soa mal, mas eu me sinto desse jeito quando

estou no meio de um acesso de raiva. Eu só estou tentando sobreviver do melhor jeito que eu sei.

Laura (BP)

Eu acho que os borderlines estão preocupados com uma única coisa: amor perdido. Quando

estou em apuros, eu fico muito assustada e eu demonstro isso por ficar furiosa. É mais fácil sentir fúria

do que medo e me faz sentir menos vulnerável. Eu bato antes de ser golpeada.

Não- borderlines concordarão em admitir que a raiva é realmente o medo de ser ferido.

Quando eu estou furiosa, toda a compreensão intelectual do mundo não me ajuda. A única coisa que

ajuda é quando meu marido me diz, “Eu sei que você está assustada e não com raiva.” Nesse momento

minha raiva desfaz-se pra longe e eu posso sentir meu medo de novo.

A verdadeira raiva – a raiva que pessoas normais sentem quando são tratadas injustamente –

eu não sinto muito. Isso exigiria personalidade; um ser completo. Já que não tenho uma personalidade –

ou já que eu joguei minha própria personalidade tão fundo que eu não posso mais alcançar – eu não

posso ficar com raiva.

DSM-IV Critério 9

Ideação paranóide transitória relacionada a situações estressantes ou severos sintomas

dissociativos.

Você já chegou em casa do trabalho sem lembrar como você chegou lá? Você fez o caminho

tantas vezes que seu cérebro teve sua própria pequena aventura enquanto seus olhos e reflexos

estavam dirigindo. Esse sentimento “fora de si” é um suave tipo de dissociação.

As pessoas com dissociação severa, porém, se sentem irreais, estranhas, entorpecidas ou

separadas. Elas talvez não se lembrem exatamente o que aconteceu enquanto “foram”. O grau de

dissociação pode variar desde a “viagem de carro para casa” até a dissociação extrema caracterizada

pelo Transtorno de Múltiplas personalidades (esse é o motivo de isso ser chamado agora de “Transtorno

de Identidade Dissociativa”).

Pessoas com BPD podem dissociar em diferentes graus para escapar de sentimentos ou

situações dolorosas. Quanto mais estressante a situação, o mais parecido com isso é como a pessoa irá

dissociar. Em casos extremos, pessoas com BPD talvez percam mesmo todo o contato com a realidade

por um curto período de tempo. Se seu borderline apresenta lembranças de situações em comum

diferentemente de você, a dissociação talvez seja a única explicação possível.

Karen (BP)

Às vezes me sinto como um robô andando com suas engrenagens. Nada parece real. Meus

olhos turvam-se e isso é como se estivesse passando ao meu redor. Minha terapeuta disse que eu olho

desorientada, como se eu estivesse longe em um lugar onde mesmo ela não podia me alcançar. Quando

eu volto, as pessoas me dizem que eu fiz ou disse certas coisas que eu não consigo lembrar.

Traços adicionais comuns ao BPD

Pessoas com BPD talvez tenham outros atributos que não são parte da definição DSM, mas que

pesquisadores acreditam serem comuns ao transtorno. Muitos desses talvez sejam relacionados ao

abuso físico ou sexual no BP que experimentou o abuso cedo na vida.

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Vergonha penetrante

O livro de John Bradshaw (1998) Curando a Vergonha que Constrange Você não é sobre o

Transtorno de Personalidade Borderline, mas sim uma explanação resumida da vergonha tóxica e dos

sentimentos e comportamentos BP resultantes. Bradshaw escreve:

Vergonha tóxica é experimentada como um sentimento todo-penetrante de que sou inútil e

defeituoso como um ser humano. Isso não durante uma emoção que sinaliza nossos limites; é um estado

de ser, a essência da identidade. A vergonha tóxica lhe dá um senso de inutilidade, o sentimento de

estar isolado, vazio e completamente sozinho. Expõe mentiras de si mesmo como o centro da vergonha

tóxica. Uma pessoa baseada na vergonha irá precaver-se contra expor seu eu interior a outros, mas mais

significantemente, irá precaver-se contra expor a si mesmo para si mesmo.

Bradshaw vê a vergonha como a raiz de problemas tais como a raiva, a crítica e a culpa, o

cuidado e a ajuda, a co-dependência, o comportamento compulsivo, ser uma pessoa excessivamente

agradável e distúrbios alimentares. Em seu típico jeito tudo-ou-nada, ou a pessoa com BPD é consumida

por sua vergonha ou nega para si mesmo e para outros que isso realmente exista. A vergonha também é

um problema central para muitos não-BPs – especialmente aqueles que acharam melhor sobreviver, em

relacionamentos abusivos.

Limites indefinidos

Pessoas com BPD tem dificuldades com limites pessoais – tanto seus próprios como os de

outros.

Tom (BP)

Eu estava trazendo a tona pensamentos de que o relacionamento íntimo perfeito não tinha

limites. Limites só significavam uma brecha entre as pessoas. Limites significavam que eu tinha que

estar sozinho, separado, sem nenhuma identidade. Eu não me sentia bom o bastante para ter uma

identidade distinta. Eu precisava estar ou totalmente emaranhado ou totalmente isolado.

Vamos discutir mais os problemas com limites no capitulo 6

Problemas de controle

Os Borderlines talvez precisem se sentir no controle de outras pessoas porque eles se sentem

muito fora do controle de si mesmos. Adicionalmente, eles talvez estejam tentando fazer seu próprio

mundo mais previsível e controlável. As pessoas com BPD talvez inconscientemente tentem controlar

outros por colocá-los em situações de nenhuma-vitória, criando confusões que ninguém consegue

imaginar, ou acusando outros de tentar controla-los. De modo inverso, algumas pessoas com BPD talvez

lutem com sentimentos de estar fora de controle por desistir de seu próprio poder; por exemplo, eles

talvez escolham um estilo de vida onde todas as escolhas são feitas para eles, como um exercito ou um

culto religioso, ou eles talvez se associem com pessoas abusivas que os tentam controlar através do

medo.

Bradshaw acredita que a vergonha talvez conduza à super-manipulação:

Existem aqueles que precisam controlar todo medo de ser vulnerável. Por quê? Porque ser

vulnerável torna acessível um estado vergonhoso. Durante toda a minha vida eu usei todas as minhas

energias para ser sempre cauteloso. O medo era que eu seria exposto. E quando exposto, todos veriam

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que eu era inútil e defeituoso como pessoa... Controle é um modo de garantir que ninguém possa

realmente nos envergonhar de novo. Isso envolve controlar nossos próprios pensamentos, expressões,

sentimentos e ações. E isso envolve tentar controlar os pensamentos, sentimentos e ações de outras

pessoas. O controle é o principal vilão em destruir a intimidade. Nós não podemos compartilhar

livremente a menos que sejamos idênticos.

Falta do objeto estável

Quando estamos solitários, a maioria de nós consegue se confortar por relembrar o amor que

outros têm por nós. Isso é muito confortante mesmo que estas pessoas estejam bem longe – às vezes,

mesmo que elas não estejam mais vivas. Essa habilidade é conhecida como objeto estável.

Algumas pessoas com borderline, contudo, acham difícil evocar qualquer imagem de alguém

amado para se confortar quando se sentem perturbados ou ansiosos. Se a pessoa não está fisicamente

presente, ela não existe em um nível emocional. O borderline talvez lhe chame frequentemente só para

ter certeza de que você ainda está lá e continua se importando com ele. (Uma não-borderline nos disse

que todo o tempo seu namorado a chamava no trabalho, ele se apresentava usando juntamente seu

primeiro e último nome). O borderline talvez mantenha uma foto sua à mão ou leve consigo alguma

coisa que você lhe deu para se lembrar de você, do mesmo modo que uma criança usa um ursinho de

pelúcia e o cobre com um cobertor para se lembrar do amor de seus pais. Essa estratégia é

frequentemente sugerida por terapeutas para ajudar o borderline a entender e lutar melhor contra seus

medos de abandono. Cartas, fotos, perfumes (aroma que traga ao BP lembranças de seu companheiro)

são tipicamente usados. Não-borderlines precisam entender que essas estratégias ajudam o borderline,

muitas vezes reduzindo seu medo e ansiedade. Usualmente, o resultado é um relacionamento menos

pegajoso, que frequentemente traz algum alívio ao não-borderline.

Sensibilidade interpessoal

Muitos indivíduos tem observado que algumas pessoas com BPD tem uma habilidade incrível

de ler pessoas e descobrir seus gatilhos e vulnerabilidades. Um clínico brincando as chamou de BPs

paranormais.

A sensibilidade interpessoal pode ser melhor entendida pelo não-BP em termos de astuta

habilidade do BP para identificar e usar dicas sociais e não verbais de outros. Os BPs conseguem mostrar

bastante empatia para com outros e muitas vezes entendem e respeitam seus sentimentos, e eles

podem usar essas habilidades para “ver através de outros”. A opinião é de que muitos adultos que foram

repetidamente abusados de maneira física e/ou sexual quando crianças desenvolveram essa “antena

social e emocional” como uma estratégia de sobrevivência. Isso os ajudava a predizer e

consequentemente se preparar (usualmente pela dissociação) para o que seus abusadores estavam

prestes a fazer. Como adultos, os BPs continuam a usar essa antena social para descobrir os gatilhos e

vulnerabilidades nos outros que possam usar como vantagem em diversas situações. Terapeutas que

trabalham com BPs podem atestar que os BPs possuem um “dom” de saber como seu terapeuta está

passando naquele dia (i.e., cansado, aborrecido, triste ou zangado) e muitas vezes trazem isso à atenção

durante a sessão.

Competência situacional

Algumas pessoas com BPD são competentes e sob controle em algumas situações. Por

exemplo, muitos cumprem muito bem seu trabalho e são excelentes empreendedores. Muitos são muito

inteligentes, criativos e artísticos. Isso pode ser muito confuso para membros da família que não

entendem porque a pessoa pode agir de modo tão seguro em uma situação e desmoronar em pedaços

em outra. Essa habilidade de ter competência em situações difíceis quando se é incompetente em

tarefas fáceis ou aparentemente idênticas é conhecida como competência situacional.

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Como meio de explanação, uma mulher borderline disse, “Nós sabemos profundamente no

íntimo que somos defeituosos. Então nós tentamos severamente agir de maneira normal porque

queremos muito agradar a todos e manter as pessoas em nossas vidas para que não nos abandonem”.

Mas essa competência é uma espada de dois gumes. Devido a eles conseguirem parecer tão normais, os

borderlines auto-funcionais geralmente não obtém a ajuda que precisam.

Exigências narcisistas (egocêntricas)

Algumas pessoas com BPD frequentemente trazem o foco da atenção para si mesmos. Eles

reagem à maioria das coisas baseado somente em como isso os afeta. Algumas pessoas com BPD puxam

a atenção para si mesmos por ficar se queixando de doença; outros talvez ajam inapropriadamente em

publico. Essas características auto-envolvidas são definidas como componentes de narcisismo; o

comportamento narcisista pode ser sobrecarregante especialmente para os não-BPs, visto que o BP nem

mesmo considera como suas ações afetarão o não-BP.

Jack (não-BP)

A percepção da minha mãe de mim, meu irmão e meu pai era como se fosse uma extensão

dela. Todos os meus relacionamentos eram percebidos por ela e a afetavam ou por criar um reflexo dela

(bom ou mal) como uma mãe ou por ameaçar minha eficácia em prover a ela apoio emocional e

aprovação.

Minha mãe também via todos os meus amigos como ameaças para ela. Ela fez tudo o que pôde

para sabotar minhas amizades. As únicas pessoas “aceitáveis” eram aquelas que nunca poderiam ser

amigos achegados, como aqueles que não eram de nossa fé (nós éramos uma família conservadora

muito religiosa).

Manipulação ou desespero?

Não é um segredo que os não-BPs geralmente se sentem manipulados e acuadas por seus amados borderlines. Em outras palavras, eles se sentem controlados ou tiram vantagem por meio de recursos tais com ameaças, situações de não-vitória, o “tratamento do silêncio”, brigas e outros métodos que lhes pareça injusto. Nós acreditamos que, na maioria dos casos, o comportamento do BP não é intencionalmente manipulativo. Antes, esse tipo de comportamento pode ser visto como tentativas desesperadas de lidar com sentimentos dolorosos ou de satisfazer o que necessitam – sem ter o objetivo de prejudicar outros.

O ponto de vista do não-BP

Susan Forward (1997) define a chantagem emocional como uma ameaça direta ou indireta de alguém punir alguém se ele não faz o que a pessoa quer. “O âmago da [chantagem emocional] é uma ameaça básica, que pode ser expressa de diferentes maneiras: se você não se comportar do jeito que eu quero, você vai sofrer”. Forward explica que pessoas que usam essas técnicas – que são amplamente usadas por todo tipo de pessoas, não só BPs – podem mascarar habilmente a pressão que exercem nas pessoas, que geralmente suportam isso de maneiras que os fazem questionar sua percepção do que está acontecendo.Quase universalmente, os não-BPs dizem que se sentem manipulados pelos BPs em suas vidas. Se o não-BP não faz o que o BP quer que eles façam, os BPs talvez ameacem romper o relacionamento, chamar a policia ou até mesmo se matar.

O ponto de vista do BP

Os termos “manipulação” e “chantagem emocional” envolvem alguns tipos de desvios, planejados intencionalmente. Embora isso talvez seja verdade para algumas pessoas, os borderlines que parecem ser manipulativos geralmente agem de maneira impulsiva por medo, solidão, desespero e desânimo – não malignidade. Marsha Linehan (1993) escreve:

As pessoas com BPD influenciam outros, tal como através de ameaças de suicídio iminente ou através de comunicações de dor e agonia intensas. Mas isso, por si só, não é evidência de manipulação. Caso contrário, teríamos que dizer que pessoas que estão sofrendo ou que tem crises estão nos “manipulando” se reagirmos a eles.

Na nossa entrevista com o psiquiatra Larry J. Siever, ele disse:

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Apesar de [as pessoas com BPD] poderem ser aparentemente manipulativas, eles não pensam sobre o comportamento como tal. Eles estão tentando conhecer suas necessidades da única maneira que sabem. Alguém tem que aliviar sua fúria ou ansiedade ou angústia ou sensação de aniquilamento iminente agora mesmo. Eles estão tentando trazer a tona uma resposta que os acalme, que os ajude a se sentir melhor.

Graus de Consciência

Em nossa experiência, as pessoas com BPD tem diversos graus de consciência de que seu comportamento pode ser percebido como manipulativo – como a maioria das pessoas fazem.

J. Mahari (BP)

Meus dias e pensamentos não são consumidos por planos de como apertar qual botão em quem. Minhas ações são relativas à sobrevivência e preservar minha identidade; eles não são algum esportista ativamente pré-planejado.

Petrova (BP)

Geralmente eu percebo minhas motivações só depois que o incidente já acabou. Uma vez, eu fiquei tão descontrolada por meu marido estar me ignorando no natal que, bem na frente dele, eu comecei a destruir todos os presentes que ele tinha me dado. Meu marido me parou no momento em que eu estava prestes a rasgar em pedaços o presente que eu mais amava: um livro de poesias de amor. Quando eu vi o livro, isso clareou em mim que eu nunca o teria arruinado. Eu estava mais interessada em ver meu marido tentando me parar. Se eu estivesse vivendo sozinha, todo aquele episódio nunca teria acontecido. Então porque eu fiz isso? A resposta era feia e cruel, vergonhosa e repulsiva. Manipulação. Eu me senti profundamente envergonhada.

Laurey (BP)

Enquanto outros manipulativos se sentem fortes, eu me sinto fraca. Às vezes eu me magôo dolorosamente pelas coisas que as pessoas me fazem, real ou imaginária, ou eu estou me sentindo tão desesperadamente abandonada que eu me retiro e faço beiço e ando silenciosa. Até o ponto em que as pessoas ficam de saco cheio e fartas dessa bosta e vão embora e então eu fico abandonada com nada e tudo acaba de novo.

É importante que você entenda as diferenças entre manipulação e desespero. O comportamento do BP é mais relativo à eles do que a você. Por exemplo, isso talvez ajude a ser capaz de olhar para um comportamento BP de auto-mutilação como auto-punição, ao invés de um meio de “enlaçar” o não-BP dentro do relacionamento. No capítulo 7, nós vamos explicar técnicas de comunicação que podem ser usadas para responder ao comportamento que você percebe como manipulativo.

Alto funcionamento, baixo funcionamento

As pessoas com BPD mudam muito em seu funcionamento: isto é, em sua habilidade para viver um estilo de vida normal, trabalhar dentro e fora de casa, lidar com os problemas de todo dia, interagir com outros e assim por diante. Algumas pessoas com BPD são tão incapacitadas pela sua doença que são incapazes de trabalhar. Eles talvez passem grande parte do tempo no hospital devido à auto-mutilação, transtornos alimentares severos, abuso de substâncias ou tentativas de suicídio. O BPD faz com que seja muito difícil para eles formar relacionamentos, de modo que talvez tenham um fraco sistema de apoio. Eles talvez sejam tão incapazes de lidar com o dinheiro que não tem como comprar comida ou um lugar para viver. Pessoas que estão próximas de borderlines de baixo-funcionamento frequentemente se acham vivendo de crise em crise. Eles geralmente se sentem manipulados pela auto-mutilação e tentativas de suicídio. De qualquer modo, devido ao borderline estar obviamente doente, os não-BPs usualmente recebem compreensão e apoio da família e amigos. Borderlines de auto-funcionamento agem de maneira perfeitamente normal a maior parte do tempo. Bem-sucedidos, extrovertidos e de bom gosto, eles talvez mostrem seu outro lado apenas para as pessoas que conhecem bem. Contudo, esses borderlines talvez se sintam por dentro do mesmo modo que seus correlativos de baixo-funcionamento, mas tem ocultado isso muito bem – tão bem, de fato, que eles podem ser estranhos até para si mesmos. Os não-borderlines envolvidos com esse tipo de BP precisam ter suas percepções e sentimentos confirmados. Amigos e membros da família que não conhecem o borderline tão bem talvez não acreditem nas histórias de raiva e abuso verbal. Muitos não-BPs nos disseram que mesmo seus terapeutas recusaram-se a acreditar neles quando eles descreveram o comportamento fora-de-controle do BP. Naturalmente, existe um grande espaço entre o auto-funcionamento (às vezes referido como o borderline “borderline”) e os BPs de baixo-funcionamento. Eventos estressantes na vida estão muito provavelmente provocando mecanismos de defesa disfuncionais, assim como aquelas explicadas no próximo capítulo.

Agindo para dentro, agindo para fora

A maior parte do comportamento borderline se refere a uma coisa: tentar lidar com sua angústia interna. De qualquer modo, as pessoas com BPD podem fazer isso de maneiras diferentes. Em nossa experiência, o comportamento de pessoas com BPD tende a cair em duas categorias: “agindo para fora” e “agindo para dentro”. Essas não são categorias oficiais, empiricamente pesquisadas. Contudo, elas são uma maneira conveniente do mundo-real de olhar para as diferenças.

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Comportamentos agindo para fora são tentativas de aliviar a dor descarregando isso em alguém – por exemplo, por brigar, culpar, criticar, fazer acusações, tornar-se fisicamente violento e insinuando em abuso verbal. Comportamentos agindo para fora causam angustia direta para amigos, membros da família e companheiros. Por exemplo, uma mulher borderline, Kiesha, ficou muito furiosa quando ela achou que seu marido a estava ignorando na festa de natal. Então ela subiu nele, jogou sua bebida na sua cara e andou com arrogância para fora. Comportamentos agindo para dentro machucam principalmente a pessoa com BPD, contudo os não-BPs também são afetados. Alguém com BPD que aja principalmente dentro do admissível sente-se extremamente culpado por toda transgressão imaginada. Eles talvez se mutilem, tentando segurar sua raiva e se acusam por problemas que não são sua culpa. O suicídio é também uma possibilidade.

Denise (BP)

Eu me lembro de um sentimento diferente na escola. Eu decidi não dizer pra ninguém, porque

eu não queria que as pessoas pensassem que eu era louca como minha avó. Ela acabou numa instituição

mental. Eu aprendi a controlar minha raiva interna na sétima série. Algumas pessoas pensavam que eu

era melancólica, mas ninguém decifrava minha agonia interna. Como minha raiva se transformou em

sentimentos suicidas, cada dia se tornou uma luta para continuar viva. Isso continua assim.

Alguns BPs parecem agir principalmente para dentro. Alguns principalmente para fora. E alguns agem tanto para dentro como para fora. Veja Kiesha, por exemplo; depois que ela embaraçou seu marido na festa de natal, ela se sentiu muito culpada. Ela andou da festa para casa, uma distância de várias milhas. Quando chegou em casa, ela agarrou vários ornamentos da árvore e os triturou com suas mãos, causando um grande sangramento.

Mitos e realidades sobre o BPD

Mito 1: pessoas com BPD nunca conseguirão melhorar.

Realidade: muitas pessoas com BPD relatam bons resultados com o tratamento apropriado

É verdade que traços de personalidade enraizados não são fáceis para as pessoas mudarem. Mas o comportamento BPD que foi aprendido pode ser desaprendido. E muitos sintomas de BPD que são naturalmente biológicos ou químicos podem ser tratados eficientemente com medicação. Porque é, então, que esse mito persiste – apesar do fato de que pesquisadores tem demonstrado tratamentos eficazes? O problema é o estigma do BPD e a falta de consciência. A pesquisa de tratamentos eficientes para o BPD é tão nova que muitos clínicos veteranos não foram expostos a ela durante seu treinamento. Em adição, os clínicos são bombardeados com pesquisas contraditórias sobre o tratamento do BPD, o que pode deixá-los confusos sobre que tratamentos propostos são mais eficientes. Desde então muitos profissionais de saúde mental acham que trabalhar com pacientes borderlines é difícil e exaustivo, os novos estudos promissores geralmente passam despercebidos pelos clínicos que não são especializados em BPD. Isso se torna um círculo vicioso: os clínicos não lêem estudos que podem ajuda-los a trabalhar com pacientes borderline porque eles acreditam que os pacientes borderlines serão sempre difíceis de trabalhar. Outro problema é que muitos planos de seguro não cobrem o tratamento para BPD – novamente, por causa do mito de que o tratamento raramente funciona. Isso age como uma barreira para os clínicos aprenderem sobre os tratamentos avançados do BPD. Os clínicos confiam então em informações desatualizadas, em indicações enganosas e em informação falsa sobre o BPD que eles ouvem de seus associados. (veja o apêndice A para mais informações sobre tratamentos para BPD)

Mito 2: O BPD é um “definição cesta-de-lixo”. Isto é, os clínicos dão aos pacientes

este diagnóstico quando eles não conseguem imaginar o que há de errado com eles.

Realidade: O BPD será diagnosticado apenas quando o paciente satisfazer o critério

clinico específico.

Janice Cauwels (1992) escreveu:O BPD é até agora um diagnóstico cesta-de-lixo, um rótulo empurrado nos pacientes por

terapeutas que estão tentando fingir que sua doença é entendida. Isso é também usado para ponderar erros ou fracassos de tratamento, para evitar prescrever drogas ou outros tratamentos medicamentosos, para justificar problemas sexuais que talvez sejam levantados na terapia, para expressar aversão aos pacientes e para justificar o comportamento resultante de tais reações emocionais.

Em outras palavras, alguns clínicos usam a palavra “borderline” como alguns escolares usam a palavra “piolho”. Mas o fato de que o BPD é usado como uma definição cesta-de-lixo não faz dele uma definição cesta-de-lixo, não mais que chamar a grapefruit de maçarico recheado faz dela um maçarico recheado. Um paciente será diagnosticado como borderline apenas se ele satisfazer o critério clinico e somente depois de um clinico ter trabalhado com o paciente por muito tempo para verificar que os sintomas BPD são persistentes, extremos e de longa duração.

Mito 3: Mulheres tem BPD; homens tem Transtorno de Personalidade Antisocial

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Realidade: Embora o BPD seja diagnosticado mais frequentemente em mulheres,

também existe em homens.

De acordo com o DSM-IV, aproximadamente 75 por cento daqueles diagnosticados com BPD são mulheres e a maioria das pessoas diagnosticadas com Transtorno de Personalidade Antisocial (ADP) são homens. Mas embora os transtornos de personalidade tenham algumas similaridades externas (i.e., dificuldades com relacionamentos, tendência de culpar outros), suas condições internas são notavelmente diferentes. Os borderlines sentem vergonha, culpa, angústia emocional e vazio; pessoas com APD geralmente não.

Então porque as mulheres são mais diagnosticadas com BPD do que os homens? Ninguém sabe, mas

várias teorias são levantadas:

O abuso sexual, que é comum nas histórias de infância dos pacientes borderlines, acontece

mais frequentemente com mulheres do que com homens.

As mulheres experimentam mais mensagens inconscientes e inválidas dessa sociedade.

As mulheres são mais vulneráveis ao BPD porque elas são socializadas para ser mais

dependentes de outros e mais sensíveis à rejeição.

Os clínicos são parciais. Estudos tem mostrado que os profissionais de saúde mental tendem

a diagnosticar o BPD mais frequentemente em mulheres do que em homens, mesmo quando o perfil do

paciente está indicando exceção para o sexo do paciente.

Os homens geralmente procuram menos ajuda psiquiátrica.

É mais provável que os homens sejam tratados apenas pelo seu alcoolismo ou abuso de

substâncias; seus sintomas de borderline passam despercebidos porque o BPD é supostamente um

transtorno de mulheres.

As borderlines femininas estão no sistema de saúde mental; os masculinos estão na cadeia.

Mito 4: Não existe tal coisa de BPD.

Realidade: Mais de trezentos estudos e pesquisas e três mil documentos clínicos

provêem ampla evidência de que o BPD é uma doença psiquiátrica diagnosticável e válida.

Os clínicos podem alegar que o BPD não exista por várias razões. Eles talvez não tenham se mantido atualizados com as pesquisas e estão mal-informados. Eles talvez acreditem que o BPD não é um transtorno separado, mas parte de outra doença como o Transtorno Bipolar ou o Transtorno do stress pós-traumático. Eles talvez simplesmente rejeitem a idéia de rotular alguém como “borderline” porque acham que isso é muito estigmatizado, ou eles talvez achem que quase todos os psiquiatras diagnosticam de maneira restritiva e enganosa. Neste capítulo, nós explicamos o BPD como o DSM-IV o descreve. Nós também esclarecemos outros traços que pessoas com BPD parecem ter em comum, mas que não são mencionados no DSM-IV. Como você viu, o BPD é penetrante: ele une de certa maneira sentimentos, pensamentos e comportamentos dolorosos. Mas o BPD não existe isolado. No próximo capitulo, discutiremos o que acontece quando você entra em cena.

Capítulo 3

O caos fazendo sentido: Entendendo o comportamento BPD

Borderlines e não-borderlines vivem em dois mundos diferentes que coexistem no mesmo espaço, mas não sempre no mesmo tempo. Compreender o mundo “real”, para mim, é uma tarefa descomunal assim como entender o mundo borderline é para você.

- A. J. Mahari (BP) (tirado do grupo de apoio de não-BPs na internet)

No capitulo anterior, nós definimos as peças do quebra-cabeça que compõe o BPD. Neste capítulo, vamos juntar essas peças e explicar porque algumas pessoas com BPD parecem:

Experimentar a realidade diferentemente de como você experimenta.

Fazer acusações falsas.

Culpa-lo por coisas que não são sua culpa.

Criticá-lo todo o tempo.

Mudar seus desejos e opiniões num piscar de olhos.

Coloca-lo em situações de não-vitória.

Empurra-lo para longe justamente quando você está se sentindo próximo.

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Agir de maneiras que você se sinta manipulado.

Negar os efeitos de seu comportamento em outros.

Negar que seu comportamento é problemático.

Tenha em mente, contudo, que cada pessoa com BPD é única. Se algo que ler lhe soar verdadeiro, considere isso cuidadosamente. Se não parecer se aplicar em seu caso, não tente encaixa-lo. Adicionalmente, lembre-se que pessoas com BPD, como qualquer um, vão às vezes ter reações que são ou muito exageradas ou como se não tivessem base na realidade. De qualquer modo, não culpe o BPD por tudo. Depois de concluir que somente o BPD é responsável pela forte reação da pessoa amada, nós recomendamos que você primeiro se pergunte se o seu comportamento está provocando uma reação humana natural. Por exemplo, digamos que você decidiu lidar com o comportamento BPD por passar o máximo de tempo possível longe de casa. Você trabalha até tarde, e quando vai para casa você fala muito pouco com a pessoa com BPD. Você talvez esteja tentando se proteger, o que é compreensível. Porém, se sua distância provoca o medo de abandono e isso é expresso em ações, você talvez precise dar uma olhada em como suas próprias ações estão afetando a situação. Você não só tem uma parte de culpa no que está acontecendo. Por ignorar sua contribuição e rejeitar os sentimentos da outra pessoa você está sendo contra produtivo. Então pergunte a si mesmo se existe alguma verdade no que a pessoa com BPD está dizendo. Pessoas com BPD conseguem ser muito intuitivas. Muitas são extremamente sensíveis ao tom da voz e linguagem corporal. Eles podem até mesmo descobrir algo que você está sentindo antes de você se aperceber disso. Admitir e confessar o que é realmente sua responsabilidade pode muitas vezes neutralizar uma situação potencialmente explosiva. De qualquer modo, você deve apenas assumir a responsabilidade pelas suas ações. É muito improvável que suas ações sejam a única causa do problema. Contudo, você pode ser um exemplo saudável para o BP por admitir que seu comportamento talvez tenha contribuído para o problema.

O mundo BP

A maioria das pessoas acham o comportamento BPD difícil de entender porque supõe que a pessoa com BPD pensa e sente da maneira que age. Isso é um mal entendido. Borderlines de auto-funcionamento conseguem agir totalmente normais quando seus comportamentos BPD não estão sendo provocados. Eles não olham ou soam como se tivessem um transtorno. Tentar conciliar os aspectos aparentemente malévolos da personalidade do Sr. Hyde com o exterior amigável do Dr. Jekyll pode ser como brincar de esconde-esconde com um camaleão. Algumas pessoas com BPD – geralmente aquelas em terapia – podem ter um excelente entendimento intelectual do BPD. Eles conseguem recitar o critério DSM de trás para frente e apontar precisamente os traços que os descrevem. Quando não são dominados pelas emoções intensas, eles talvez entendam que seus sentimentos não refletem sempre a realidade como os outros vêem. Mas essa erudição não preenche o buraco dolorido dentro deles. Entender as causas de sua dor não necessariamente os faz sentir alguma melhora e talvez não torne mais fácil para eles mudar seu comportamento. Isso também não os previne de sentimentos de vazio mal compreendidos quando não BPs irritados lhes dizem, “só colabore consigo mesmo”. A fim de entender o comportamento borderline, você terá de deixar seu próprio mundo confortável e viajar para dentro do deles. E você deverá, já que está pedindo ao BP de sua vida para entrar no seu. Assim como leu, tenha em mente que esses comportamentos são geralmente inconscientes. Eles tem o propósito de proteger a pessoa com BPD da intensa dor emocional – não de machuca-lo.

Pensamentos comuns do BP

Quando você viaja para outro país, é importante conhecer os costumes locais. Similarmente, quando você interage com alguém com BPD, é crucial entender que as suposições inconscientes deles podem ser bem diferentes das suas. Tenha em mente que estas não refletem o pensamento de cada pessoa com BPD. Você precisa decidir qual é pertinente à sua circunstância individual.

Estas suposições podem incluir:

Eu tenho que ser amada por todas as pessoas importantes na minha vida o tempo todo senão eu sou desprezível.

Algumas pessoas são boas e tudo sobre elas é perfeito. Outras pessoas são inteiramente más e devem ser severamente censuradas e punidas por isso.

Meus sentimentos são sempre causados por eventos externos. Eu não tenho controle sobre meus sentimentos ou as coisas que faço em conseqüência deles.

Ninguém se importa comigo tanto quanto eu me importo com eles, então eu sempre perco todos com quem me importo – apesar das coisas desesperadas que eu tento fazer para impedi-los de me abandonar.

Se todos me tratam mal, eu me torno má..

Quando eu estou sozinha, eu me torno ninguém e nada.

Eu serei feliz somente quando conseguir achar uma pessoa perfeita e toda dedicada para amar e cuidar de mim não importa de que maneira. Mas se alguém se aproxima de ter esse amor por mim, então algo deve estar errado com ele.

Eu não consigo parar a frustração que eu sinto quando necessito algo de alguém e não sou capaz de receber isso. Eu tenho que fazer alguma coisa para fazer isso ir embora.

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Sentimentos criam fatos

Em geral, pessoas emocionalmente saudáveis baseiam seus sentimentos em fatos. Se seu pai chega em casa bêbado toda noite (fato) você talvez se sinta aborrecido ou preocupado (sentimento). Se seu chefe lhe elogia por um grande projeto (fato) você se sentirá orgulhoso e feliz (sentimento). As pessoas com BPD, contudo, talvez façam o oposto. Quando seus sentimentos não se ajustam aos fatos, eles podem inconscientemente revisar os fatos para que se ajustem aos seus sentimentos. Essa pode ser uma razão pela qual a percepção deles dos eventos é tão diferente das suas. Vamos dar uma olhada em Minuet (BP) e seu marido Will. Numa sexta-feira à tarde, Will ligou para sua esposa para dizer que ele iria chegar em casa tarde porque iria tomar cerveja com os rapazes depois do trabalho. Minuet se sentiu ansiosa, rejeitada e ciumenta. As emoções de Minuet eram confusas e esmagadoras para ela. A fim de compreendê-los, ela concluiu que Will estava fazendo alguma coisa para trazê-los à tona. Ela acusou Will de ter um problema com bebidas. Disse que ele era uma pessoa terrível por preferir estar com seus amigos em vez de com ela depois de uma semana de trabalho difícil. Ela inconscientemente revisa os fatos para que seus sentimentos façam sentido.

Extremos mecanismos de defesa

Como todo mundo, as pessoas com BPD usam mecanismos de defesa. Os mecanismos de defesa são processos inconscientes que protegem a pessoa de ansiedade e impulsos ou idéias dolorosas. As pessoas com BPD, contudo, usam alguns deles mais freqüentemente e com muito mais intensidade do que a maioria de nós.

Negação

A negação é um mecanismo de defesa comum. Por exemplo, se uma mulher sente um caroço no seu seio, mas está com medo de que isso seja examinado porque pode ser câncer, ela talvez escolha negar e decidir que isso não é nada e rapidamente se esquece disso. Ou, um membro da família talvez negue que o comportamento de uma pessoa com BPD está fora do normal.

Racionalização

A racionalização é outro mecanismo de defesa comum. Você sabe que deve se exercitar, mas isso parece ser muito trabalhoso. Então você diz para si mesmo que está muito ocupado para fazer exercícios – mesmo que sempre tenha tempo suficiente para assistir seu programa de TV favorito. Alguns membros da família usam a racionalização para explicar um comportamento BP – por exemplo, “Ele só está agindo desse modo porque está muito estressado no trabalho”. É possível que algumas pessoas com BPD desenvolvam esses intensos mecanismos de defesa cedo na vida, quando eles usualmente repeliam o medo, a vergonha e outras emoções negativas. Na vida adulta, essas estratégias não funcionam mais porque isso impede o BP de se confrontar e vencer seus medos. É difícil, porém, desistir da racionalização e de outros mecanismos de defesa porque eles vêm automaticamente e trabalham no passado.

Dividindo

No último capítulo, nós explicamos que as pessoas com BPD podem ter dificuldades em enxergar áreas cinzentas. Para eles, as pessoas e as situações são todos brancos ou pretos, maravilhosos ou maldosos. Esse processo de dividir serve como outro mecanismo de defesa. Peter, que era BPD, explica: “dividir o mundo em bom ou mal o faz mais fácil de entender. Quando eu me sinto mal, isso explica porque eu sou do jeito que sou. Quando você é mal, isso explica porque eu penso coisas más a seu respeito”.

Alexandra (não-BP)

Meses depois de eu terminar com meu namorado borderline, ele ligou e me pediu para almoçar com ele. Quando eu cheguei ao restaurante ele me bombardeou com fotos de nós apenas para me lembrar de todos os “bons momentos” que tivemos juntos. Então ele me pediu para lhe dizer exatamente o que ele havia feito de errado em nosso relacionamento.

Eu expliquei pacientemente que eu sentia que eu não estava em posição de falar a ele sobre seus problemas, mas que era seu trabalho explorar seu próprio comportamento. Mas não, ele me implorou – me suplicou – para explicar o que aconteceu para o seu próprio bem.

Finalmente, eu disse a ele exatamente o que eu pensava. Quase inédito. Ele aceitou isso como um homem – assim, impassível, sério e sem muitos comentários. Nós partimos sob alguns termos de paz.

Naturalmente, dois dias depois eu recebi a carta mais sarcástica e odiosa que já tinha recebido dele, jogando tudo em cima de mim e me deixando saber que bruxa eu era e me dizendo como eu tinha contribuído para o fim do relacionamento. De qualquer maneira, eu não me surpreendi.

Rótulo, você é isso: Um Jogo de Proteção

Algumas pessoas com BPD que agem para fora podem usar um tipo de mecanismo de defesa mais complicado – nós chamamos de ‘Rótulo, você é isso’ – para aliviar sua ansiedade, dor, e sentimentos de vergonha. É mais complexo porque combina vergonha, dividir, negação e projeção. Rótulo é um jogo divertido de seis anos atrás. Mas não é um jogo para as pessoas com BPD. Faltando um sentido claro de quem são, e se sentindo vazios e inerentemente defeituosos, as pessoas com BPD se sentem como “o centro das atenções” o tempo todo. Outros parecem fugir deles, os quais são solitários e excruciantemente dolorosos. Então os borderlines lidam com isso por tentar “rotular” alguém mais. Isso se chama projeção. Projeção é negar seus próprios tratamentos, comportamentos ou sentimentos desagradáveis por atribuí-los (geralmente de uma maneira acusativa) à mais alguém. Em nossa entrevista com Elyce M. Benham, M. S., ela explicou que a projeção é como olhar fixamente para si mesmo com um espelho de

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mão. Quando você acha que olha feio, você vira o espelho ao contrário. Voila! Agora o olhar rústico no espelho pertence a outra pessoa. Às vezes a projeção é um exagero de algo que tem uma base na realidade. Por exemplo, o borderline talvez lhe acuse de o “odiar” quando você apenas está se sentindo irritado. Ás vezes a projeção pode vir inteiramente da imaginação deles: por exemplo, ela lhe acusa de flertar com uma balconista quando você está apenas perguntando como chegar na loja de calçados. O inconsciente do BP espera que por projetar essa matéria desagradável em outra pessoa – por rotular outra pessoa e mascarar seu “centro das atenções” – a pessoa com BPD irá se sentir melhor consigo mesma. E eles se sentem melhor, por um curto espaço de tempo. Mas a dor volta. Então o jogo é jogado frequentemente. A projeção também tem outro propósito: a pessoa que ama inconscientemente teme que você descubra que ela não é perfeita, e que você irá abandona-la. Como em O Mágico de Oz, ela vive num terror constante de que você vai descobrir a pessoa por trás da cortina. Projetar os sentimentos e tratamentos negativos em você é uma maneira de manter a cortina fechada e redirecionar sua atenção na imagem perfeita que ela está tentando criar para si mesma. Sua tarefa é examinar o que a pessoa com BPD está dizendo e determinar se ela tem ou não razão. Lembre-se, nem tudo é projeção. Mas, se o borderline está projetando, você precisa parar de jogar o jogo e diminuir o ser “o centro das atenções” de uma maneira respeitosa. Nós vamos explicar como fazer isso na segunda parte desse livro.

Como o jogo é jogado

Quando alguém com BPD lhe rotula, ele está tentando inconscientemente transferir seus comportamentos, sentimentos ou características percebidas para você. Quando projeta suas características em você, a pessoa com BPD se acha defeituosa, então ela o acusa de ter alguma coisa errada com você. Às vezes a falha que ela vê em outros é a mesma falha que ela não conseguiu ver em si mesma. Ás vezes não.

Sharon (BP)

Eu me odeio por não conseguir apenas ver de modo correto. Quando eu estou transbordando de raiva isso inunda tudo e todos, e eu me sinto tão justificada por sentir tal repugnância por todos – principalmente meu marido. Ele parece tão repulsivo; tão lamentavelmente estúpido.

Aqui estão algumas projeções de características, seguido pelos dolorosos pensamentos inconscientes e sentimentos subjacentes à projeção:

Você é uma pessoa horrível. Ninguém nunca vai amar você além de mim. (Eu sou uma pessoa tão podre que qualquer um que me amar deve ser defeituoso também).

Você é tão puxa-saco, não é de admirar que mamãe goste mais de você. (Eu me sinto tão imperfeita que nem mesmo minha mãe me ama).

Você é um pai tão terrível que não deveria estar perto de seus filhos. (Eu me acho um pai terrível).

Vocês dois são os piores pais do mundo. Não é de admirar que eu tenha BPD. (Eu me sinto como a pior criança do mundo).

Eu não tenho BPD, você tem. (A idéia de que eu possa ter BPD me aterroriza). Você me fez ter este caso e ficar grávida porque você é um marido nojento. (Eu tive esse

caso porque eu acho que sou uma esposa nojenta e não mereço ser amada).

Quando projeta comportamentos, o BP talvez lhe acuse de estar fazendo algo que eles estão fazendo atualmente. Ou, eles talvez usem seu comportamento real ou imaginário para absolver a si mesmos da responsabilidade por suas ações, ou os impedir de sentir vergonha por ter se envolvido no comportamento. Aqui estão algumas típicas projeções comportamentais, seguidas pelos dolorosos pensamentos inconscientes e sentimentos subjacentes à projeção:

Você me fez fazer isso. (Eu fiz isso por razões que não entendo). Você pensa que sou controladora? Você é o único que é controlador! (Eu sinto que estou

perdendo o controle agora mesmo e isso me assusta). Pare de gritar comigo! (estou com tanta raiva que preciso gritar com você agora mesmo). Você nunca considera minhas necessidades. Você está sempre pensando em si mesmo.

(minhas necessidades são tão esmagadoras que eu não consigo pensar nas suas). Você é o único que deixou este casamento. Você nunca mais foi a pessoa por quem me

apaixonei. (Eu lhe mostrei meu eu real e defeituoso e isso me assustou tanto que eu tive que te rejeitar antes que você me rejeitasse).

Se você tivesse me atendido no trabalho, eu não teria que ter ligado para sua casa às 3 horas da manhã. (Eu preciso falar com você de maneira tão urgente que vou fazer qualquer coisa para te alcançar).

Uma outra maneira em que uma pessoa com BPD pode projetar em você é por acusá-lo de estar tendo sentimentos e pensamentos que realmente pertencem a ela.

Ellen (BP)

Quando eu acuso meu psiquiatra de me odiar e me dizer “saia dessa”, isso era porque eu me odiava e queria poder sair dessa. Meus medos e sentimentos profundos de ódio-próprio eram aqueles que eu projetava em outros porque eles eram muito assustadores e perturbadores de admitir para mim mesma.

Aqui estão mais exemplos de BPs projetando seus sentimentos:

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Você me odeia. (Eu me odeio). Você não me acha bom o suficiente. (Eu não me acho bom o suficiente). Quando você diz “está frio lá fora”, você está na verdade me criticando pela maneira que eu

vesti as crianças para a escola nessa manhã. ( Eu tenho uma opinião tão fraca de mim mesmo que eu questiono minhas habilidades paternais).

Você passa muito tempo no trabalho porque não quer estar perto de mim. (Eu não quero estar perto de mim mesmo, então porque alguém mais gostaria de ficar perto de mim?).

Como podem as pessoas com BPD negarem que estão projetando quando isso é tão obvio para todos? A resposta é que a vergonha e o dividir podem combinar com a projeção para tornar o mecanismo de defesa “Rótulo, você é isso” um jeito mais poderoso de negar a posse de sentimentos e pensamentos desagradáveis. Como esse processo, que pode ocorrer em apenas alguns segundos, funciona? Algumas pessoas com BPD sentem vergonha – defeituosos no âmago do seu ser. Como todo mundo, as pessoas com BPD tem sentimentos, comportamentos e características negativas. Mas por causa do dividir – modo de pensar branco e preto – eles geralmente negam qualquer falha, porque isso os faria menos perfeitos. E se eles não são perfeitos, são inúteis. A projeção então completa a foto. O raciocínio BPD funciona assim: Lá parece haver um problema. Isso não é minha culpa. Consequentemente, o problema deve ser seu. Existe mais uma peça do “Rótulo, você é isso” que é importante que você entenda. Depois de muitos jogos de rótulo, você pode vir a acreditar atualmente nas acusações da pessoa com BPD. Você pode até mesmo começar a se comportar de uma maneira que torne as acusações do borderline verdadeiras. Isso se chama identificação projetiva. Digamos que a fim de lidar com seus próprios sentimentos de vergonha e inutilidade, Edith (BP) diz constantemente para sua filha de cinco anos de idade, Joanie, que ela é uma pessoa horrível e que ela nunca vai ter qualquer amigo. Consequentemente, Joanie conclui que ela é uma pessoa terrível. Convencida de que é inerentemente imperfeita, ela evita qualquer contato com outras pessoas. Quando tentam alcança-la, ela as rejeita antes que elas a rejeitem. A identificação projetiva traz à mente o chavão policial, “se você repetir uma mentira o suficiente, as pessoas irão acreditar em você”. Isso também é um pouco parecido com um auto-cumpridor de profecias: A profecia de Edith se cumpriu: Joanie não teve amigos, não porque ela é uma pessoa repugnante, mas porque ela sente como se fosse. As crianças são especialmente vulneráveis à identificação projetiva porque elas ainda estão formando sua própria identidade. De fato, num nível subconsciente elas talvez sintam que podem perder o amor de seus pais caso não façam tudo o que mamãe ou papai aparentemente esperam deles – incluindo agir com maldade. A identificação projetiva talvez tenha mais impacto nos adultos cuja auto-estima seja baixa e cuja própria identidade seja fraca. Em nossa entrevista com Elyce Benham, M. S., ela explicou, “mesmo como adultos, nós recebemos credenciais do que outras pessoas nos dizem a respeito de nós mesmos. Se nós nos encontramos num relacionamento importante com alguém que constantemente corrói aquilo que nós sabemos ou acreditamos sobre nós mesmos, vamos começar a acreditar nisso”. Aqui estão alguns exemplos adultos de projeção e identificação projetiva:

Sua namorada BP acusa você muitas vezes de não amá-la e de querer abandoná-la. Por anos, você tentou faze-la acreditar que isso não é verdade, mas não funcionou. Exausto, você percebe que o relacionamento está acabando e que precisa prosseguir com sua vida – por “abandona-la”.

Seu filho adolescente borderline acusa você de não amá-lo o suficiente para deixá-lo morar em casa. Quando ele vem para casa para uma visita de facilidade residencial, ele é fisicamente violento. Ele traz amigos drogados para dentro da casa e ameaça sua irmã com uma faca. Você se deita à noite, prometendo nunca mais deixa-lo morar em casa novamente – por meio disso parecendo cumprir a acusação de seu filho.

Sua irmã borderline acusa você de “puxar o saco” de mamãe e papai, que sempre “te amaram mais”. Você gasta muito tempo com seus pais porque você gosta de ficar com eles e eles gostam de ficar com você. Eles amam sua irmã, mas se esquivam dela por causa do seu comportamento imprudente que coloca um terrível peso neles. Conforme o tempo passa, você se maravilha se seus pais de fato preferem ficar com você.

Alguns adultos que entraram em relacionamentos com borderlines sentem-se vítimas de lavagem-cerebral pelas acusações e críticas do BP. Benham diz: “As técnicas de lavagem-cerebral são simples: isolando a vítima, a expondo a mensagens constantes, confundindo com a privação de sono, adicionando algumas formas de abuso, levar a pessoa a duvidar do que ela sabe e sente, mantê-las sujeitas, esgota-las e comover bem”.! A pessoa com BPD ganha mais da identificação projetiva do que um depósito de seus sentimentos dolorosos. Quando as predições negativas do BP se cumprem, a pessoa com BPD pode “tirar vantagem” de outras maneiras. Em primeiro lugar, o BP tem agora seus sentimentos justificados. Edith tem uma razão mais socialmente aceitável para ficar descontrolado: Joanie está depressiva e é uma desajustada social. A identificação projetiva pode também possibilitar ao BP se sentir melhor quando os papéis são invertidos. Edith não é mais “o centro das atenções” no jogo do rótulo. Agora Joanie consegue ser “o centro das atenções”. O efeito secundário é que Joanie está agora mais dependente de Edith em sentido emocional, já que faltam outras pessoas em sua vida. Edith se sente menos abandonado. Finalmente, a identificação projetiva pode possibilitar que o BP se sinta mais no controle. Se Edith sente que o mundo está contra ele, o fato de sua filha ter problemas pode confirmar sua visão de si mesmo como vítima – paradoxalmente possibilitando que ele se sinta mais no controle. Seu papel como vítima é validado pelo “fato” de que sua filha tem problemas. Se isso atrai a atenção e simpatia de outros, o papel de vítima pode ser reforçado. Sua identificação projetiva é inconscientemente causada no papel da pessoa com BPD. O BP pode se sentir extremamente culpado e infeliz quando ele percebe como suas ações tem afetado você.

Tudo é sua culpa

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Críticas e acusações contínuas são outros mecanismos de defesa que algumas pessoas com BPD que agem para fora usam como um instrumento de sobrevivência. A crítica talvez seja baseada num problema real que a pessoa com BPD tem exagerado, ou isso pode ser pura imaginação por parte do borderline. Os familiares que nós entrevistamos têm sido devastados e castigados por certos acontecimentos tais como carregar uma sacola de mercado do jeito errado, ser muito afligidos pelos pontapés do BP e ler um livro que o BP exige que eles leiam. Um não-BP irritado disse que se por um acaso ele não cometer um erro imperdoável no dia, sua esposa provavelmente irá brigar com ele por ser tão perfeito. Outros familiares perguntaram, “se um não-BP está parado lá fora na floresta fazendo uma declaração – e seu parceiro borderline não está por perto para ouvir isto - o não-BP está errado?” Como em o “Rótulo- você é isso”, esse mecanismo de defesa talvez esteja realmente relacionado com o abandono. O processo inconsciente de pensar do borderline talvez trabalhe dessa maneira: “Se existir apenas uma coisa errada comigo, então tudo está errado comigo. Se tudo está errado comigo, eu realmente sou tão defeituosa como eu pareço. E quando as pessoas descobrirem que eu sou defeituosa, elas vão me abandonar. Então não pode haver nada de errado comigo – isso tem que ser a culpa de outra pessoa!”. Geralmente, o que parece ser raiva, impulsividade e comportamento manipulativo é na realidade uma tentativa mal-orientada de extrair envolvimento e afeição.

Patty (BP)

Às vezes eu criticava cada movimento do meu noivo, dizendo a ele que se ele me amasse ele não faria aquilo. Quando o depreciava e culpava-me sentia que podia ser abandonada ou constrangida, ou que ele por algum motivo não me demonstrava amor. Eu ficava assustada, tanto que toda minha feição mudava. Eu me descontrolava ao ponto de berrar e gritar e derrubar objetos. Meu jeito de tomar decisões era ineficiente.

Ontem mesmo eu joguei meu anel de noivado no lixo durante minha fúria contra ele. Hoje, eu percebi que estarei perdida sem ele. Ele estava constantemente provando seu amor por mim. Ele não conseguiu me dizer que me amava o suficiente. Eu esperava que ele me traísse embora não tivesse nenhuma razão lógica para isso. Eu procurava em seus bolsos e na sua agenda. Eu o surpreendia no trabalho para ter certeza de que ele estava lá. Quando eu percebia que as coisas estavam bem, eu me sentia muito tranqüilizada e constrangida e jurava a mim mesma que eu nunca mais me sentiria desse modo novamente. Mas eu sempre me sinto assim.

Se você se opõe à crítica ou tenta se defender, sua amada talvez lhe acuse de estar sendo defensivo, muito sensível ou incapaz de aceitar uma crítica construtiva. Já que sua própria sobrevivência parece estar em jogo, ela talvez defenda a si mesma com a ferocidade de uma mamãe-urso protegendo seus filhotes. Quando a crise passou e a pessoa com BPD parece ter ganhado, ela talvez fique surpresa de que você ainda continue descontrolado. Do seu ponto de vista, sua reação o impediu de ver seu vazio âmago interior. Ela talvez pense que isso deve puxa-lo para perto dela ou pelo menos impedi-lo de retirar-se. Ela também pode ter dissociado, o que genuinamente a fez relembrar de coisas de maneira diferente. Você, naturalmente, se sente pior. Só que agora, você também está perplexo porque a pessoa com BPD não parece entender o impacto do que ela tem feito. Você também pode se sentir frustrado porque ela nunca parece aceitar a responsabilidade pelo seu próprio comportamento. O ciclo se repete constantemente.

Quando a acusação se transforma em abuso verbal

Quando a pessoa com BPD lhe ataca verbalmente, ela é consumida por suas próprias necessidades. Ela pode também estar deslocando para você a fúria e a raiva que são o resultado do abuso que ela sofreu no passado. Se ela parece ser controladora, ela pode estar tentando ganhar controle sobre a própria vida dela – não a sua. E mesmo quando ela parece ter vencido algum argumento, na verdade ela perdeu. Por um lado, ela tem destruído seu relacionamento com você – alguém que ela está aterrorizando e que irá abandona-la. Quando as coisas se acalmam, a pessoa com BPD talvez se sinta envergonhada pelo jeito que ela se comportou com você. Isso se junta à espiral decrescente de vergonha, culpa e baixa auto-estima. Ela talvez se arrependa e implore pelo seu perdão, e em seguida negue que alguma vez tenha admitido que seu comportamento estava fora do limite. Mas mesmo que seu comportamento não seja realmente relativo à você, a crítica e culpa excessiva pode cruzar a linha e se tornar abuso verbal. Berbely Engel (1990) escreve:

O abuso emocional é qualquer comportamento que é projetado para controlar outra pessoa através do uso de medo, humilhação e ataques verbais ou físicos. Isso pode incluir desde abuso verbal e constante crítica até táticas mais sutis como intimidação, manipulação e repulsa por nunca estar satisfeito. O abuso emocional é como uma lavagem cerebral onde isso sistematicamente desgasta a auto-confiança, o senso de valor-próprio, a confiança em suas percepções e o auto-conceito da vítima. Se isso for por constante repreensão severa e depreciação, por intimidação ou em forma de “conselho” ou ensino, os resultados são similares. Eventualmente, o recebedor perde todo o senso de si e tudo o que resta de valor pessoal.

Engel classifica o abuso verbal de várias maneiras. Algumas dessas definições são redigidas como no critério para BPD do DSM-IV, embora o livro de Engel nunca se refira ao transtorno. Conforme ler, tenha em mente que não estamos discutindo as intenções da pessoa com BPD. Estamos falando sobre os efeitos de suas estratégias de defesa em você.

Dominação: A pessoa recorre a ameaças para que as coisas aconteçam do seu próprio jeitoAtaques verbais: Isso inclui repreender, humilhar, criticar, xingar, gritar, ameaçar, culpar

excessivamente e usar sarcasmo de um modo cortante. Isso também envolve exagerar seus erros e fazer piada de você na frente de outros. No fim, esse tipo de abuso mina seu senso de auto-confiança e auto-valor.

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Expectativas abusivas: A outra pessoa faz exigências e expectativas desarrazoadas de que você considerará como prioridade máxima – não importa o que. Isso inclui denunciar suas necessidades de atenção e apoio.

Reações imprevisíveis: isso inclui mudanças drásticas de humor ou explosões emocionais súbitas. Viver com alguém assim provoca extrema ansiedade. Você talvez se sinta aterrorizado, inquieto e sem equilíbrio. Essa hiper vigilância pode até mesmo levar à angústia física.

Iluminação à gás: isso envolve a outra pessoa negar suas percepções dos eventos e conversações.

Caos constante: O BP pode deliberadamente levantar argumentos e isso em constante conflito com outros. Ele também pode ser fanático por drama, desde que isso crie agitação. (Muitos não-BPs também podem ser fanáticos por drama).

Moldes Comportamentais do BPD

Situações de Não-Vitória

A maioria dos familiares que nós entrevistamos disseram que se sentiam como se a pessoa com BPD os colocassem em situações de não-vitória.

Jack (não-BP)

Se eu lhe perguntava sobre sua infelicidade, eu estava dizendo que era muito sensível e paranóico. Se eu ignorava a infelicidade, eu estava dizendo que não me importava com ela.

Se eu a elogiava, ela pensava que eu estava tramando alguma coisa. Se eu a criticava, eu estava tentando magoá-la.

Se eu passava tempo conversando com seu filho de quatro anos de idade, ela queria saber o que eu estava perguntando a ele. Se eu jogava um simples jogo com ele, eu era criticado se ganhasse.

Se eu quisesse fazer sexo, ela queria que isso fosse sua idéia – depois. Se eu não queria fazer sexo, eu era homossexual.

Se eu passasse tempo sozinho, eu estava “tramando alguma coisa”. Se eu passasse muito tempo com ela, eu era carente.

Se eu não estivesse trinta minutos adiantado, eu estava atrasado. Se ela não estivesse pronta e eu me sentava para ler, eu a estava apressando.

Algumas das pessoas com BPD que entrevistamos nos deram algumas possíveis razões para seu comportamento. Paige (BP) sugeriu que isso talvez fosse uma variação de “tudo é sua culpa”, dizendo, “colocar outras pessoas em situações de não-vitória me permite ter auto-aprovação, quando a aprovação tem sido pouco suprida em minha vida. Então talvez isso seja um modo de agarrar alguma coisa que eu sentia que não possuía antes, mesmo que isso afaste outros e me prejudique no final das contas. Outra possível explicação para a criação de situações de não-vitória é que a pessoa com BPD talvez esteja dissociando. Alguém que está dissociando ou sob um grande estresse emocional pode não se lembrar o que disseram ou fizeram anteriormente. Muitas pessoas com BPD que entrevistamos não se lembravam de ter colocado seus amigos e familiares em situações de não-vitória – mesmo que os não-BPs que entrevistamos pudessem citar muitos exemplos. A pessoa com BPD pode ser contraditória, assim aparentemente causando situações de não-vitória, devido a terem um senso contraditório de si. A fim de afirmar suas preferências, a pessoa deve ser capaz de identificar claramente seus sentimentos e opiniões. Somente quando conseguem eles comunicam esses a outros. Mas como você sabe, algumas pessoas com BPD tem um senso contraditório de si. Quando o BP lhe diz o que ele quer, isso provavelmente é o que ele quer – no momento. Depois, ele pode querer outra coisa. Mas talvez eles não sejam capazes de admitir para você – ou para si mesmo – que ele está sendo contraditório devido a vergonha e ambivalência. Ele pode até mesmo tentar retratar você como o único que está desesperadamente confuso.

Medo de abandono, medo de ser subjugado

Às vezes isso pode parecer como se o BP estivesse esperando que você “mantivesse distância um pouco próximo”. Essa exigência impossível não é um mecanismo de defesa como “rótulo, você é isso” e “Tudo é sua culpa”. Contudo, esse é um molde comportamental que resulta de dois principais e conflitantes medos: o medo de ser abandonado e o medo de ser subjugado ou controlado por outros. Como bebês, todas as pessoas experimentaram o medo do abandono. Bebês tem duas necessidades básicas: se sentir seguros e desenvolver um senso de confiança com seus cuidadores. Quando eles choram, eles precisam saber que alguém irá reagir com amor, comida ou uma troca de fraldas. Quando mamãe e papai vão embora, eles precisam saber que um deles irá retornar. Conforme as pessoas crescem, eles equilibram suas necessidades de dependência com outro objetivo: se tornar independente e se aventurar fora do útero protetor da família. Você pode ver isso nos dois anos de idade quando vaidosamente correm no parquinho, caem, e voltam chorando para a mamãe e papai. Conforme o tempo passa, a necessidade de correr de volta para os pais diminui e a necessidade de distinguir uma identidade separada se torna mais importante. Os dez anos de idade são o tempo mais distinto de teste, como adolescentes experimentando as regras dos adultos sob uma constante redução de conselhos da escola e da família. De maneira ideal, a vida adulta traz uma independência que não é dominada por medos de abandono ou de ser subjugado. As pessoas com BPD ainda continuam lutando diariamente com problemas de abandono e subjugamento. Divididos entre o desejo de união e o anseio por independência, elas talvez se sintam – e olhem – como uma contradição ambulante. Suas ações talvez não façam sentido porque metade do tempo elas procuram intimidade e apoio e no resto do tempo parecem ser compelidos a te expulsar. O que acontece é o seguinte: Um borderline pode começar a se sentir subjugado ou com medo de estar perdendo o controle quando uma pessoa se aproxima demais dele. Ele não sabe como estabelecer limites de maneira saudável, e a intimidade genuína pode fazê-lo sentir-se vulnerável. Ele talvez esteja com medo de que você possa ver o que seu “verdadeiro” eu, fique enojado e o abandone. Então ele começará a se distanciar para evitar se sentir vulnerável ou controlado. Ele pode comprar uma briga

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com você, “esquecer” alguma coisa importante ou fazer algo dramático ou explosivo. Mas então a distância o faz se sentir solitário. Os sentimentos de vazio pioram e seu medo de abandono se torna forte. Então ele faz esforços frenéticos para se aproximar novamente e o ciclo se repete. Durante uma discussão, pode levar apenas alguns segundos para sua amada saltar de abandono para subjugamento. Ou o ciclo pode levar dias, semanas, meses ou anos. Eventos externos geralmente desempenham um papel; por exemplo, ir para a faculdade pode facilmente provocar medos de abandono num adolescente borderline, enquanto um pai borderline idoso e doente morando com um filho adulto pode se sentir subjugado. Adicionalmente, conforme o nível de intimidade aumenta, isso ocasiona problemas severos de abandono/subjugamento, que resultam em comportamentos mais dramáticos. Essa é uma razão de pessoas que não conhecem o borderline, tão bem como você conhece ,talvez não acreditarem nos seus relatos desse comportamento.

Testando seu amor

A dança do “Mantenha distância um pouco próximo” é inacreditavelmente frustrante para amigos e familiares.

Beth (não-BP)

Na difícil tentativa de apaziguar a fera selvagem dentro do meu marido borderline, suas reações ferozes vinham; no momento em que eu desistia e começava a me afastar, ele se transformava numa planta trepadeira. Isso se parece com aquela rotina cômica do palhaço apanhando seu chapéu. Toda vez que ele se curva para apanha-lo, acidentalmente o chuta para mais longe. Finalmente, ele desiste em ódio. E conforme ele se afasta, o vento sopra seu chapéu atrás dele!

Herein encontra ainda outra ironia a respeito do BPD: do seu ponto de vista, a pessoa com BPD está no controle. Ela é a coreografia da dança do abandono/subjugamento e você apenas está sendo rodopiado de todos os lados, ficando progressivamente mais atordoado. Mas do ponto de vista dela, você é o único que tem todo o poder. Ela não consegue predizer como você reagirá ao seu comportamento. Você continuará dançando conforme a música? Será esse o tempo em que você desistirá e irá para casa – para o bem? Não saber pode fazê-la se sentir em perigo e insegura. (E tenha em mente que ela já se sente em perigo e insegura). Lembre-se, para uma pessoa com BPD, todas as coisas são tudo ou nada. Uma vez que a dança pare, ela irá parar para sempre. E uma vez que você foi embora, ela cessará de existir por não ter identidade própria. Se sentindo indefesa devido às suas próprias emoções e reações imprevisíveis, ela talvez tente prender o controle do único jeito que sabe: por agir para fora de maneiras que, para você, parecem intensamente manipulativas. Ela pode ameaçar suicídio. Então, uma vez que você se rende, a música começa e a dança se inicia mais uma vez. Algumas pessoas com BPD também talvez procurem ganhar o controle da dança por constantemente lhe testar para ver o quanto você realmente se importa com elas. O raciocínio funciona assim: Se você realmente a ama, você estará disposto a colocar de lado todos os seus próprios desejos e se concentrar em preencher o buraco negro de necessidade dentro dela. Por exemplo, se você e a outra pessoa combinaram de se encontrar num certo lugar em certa hora, ela talvez apareça uma hora atrasada. Se você “falhar” no teste por ficar irritado ou por desistir e ir para casa, a pessoa com BPD pode sentir que sua inutilidade esta sendo confirmada. Isso torna o mundo mais previsível e, portanto, mais seguro. Se você “passa” no teste por tolerar suas ações, ela talvez intensifique seu comportamento (talvez por aparecer muitas horas atrasada na próxima vez) até que você finalmente exploda em fúria. Então você se torna o cara mau e ela se torna a vítima indefesa. Você pode estar perguntando a si mesmo: “Que tipo de teste é esse? Não importa o que acontecer, ambos iremos falhar!”. Você está certo. Isso não faz sentido algum em seu mundo. Mas faz sentido no mundo borderline.

Uma visão infantil do mundo

Muitos borderlines adultos – especialmente aqueles com crianças pequenas – tem relatado que sua visão do mundo pode ser bem infantil. Ambivalência, problemas constantes de objetivo, problemas de abandono/subjugamento, problemas de identidade, exigências narcisistas, aparente falta de empatia e aparente manipulação são todos pensamentos borderlines que imitam estágios de desenvolvimento nas crianças.

Laura (BP)

Quando minha filha de dois anos quer alguma coisa, ela quer isso agora, não amanhã. Quando eu estou fazendo compras eu sou assim. Eu não consigo dizer não a mim mesma, então eu compro, mesmo que eu esteja com dívidas.

Para uma criança, a coisa mais importante é a segurança. Para mim, também. Para mim, segurança significa ser o que os outros querem que eu seja para que eles não me rejeitem. O interior permanece escondido – mesmo para mim. Mas por baixo de toda a delicadeza e gentileza se esconde uma criança furiosa e aterrorizada.

Meu marido precisa da pequena garota prejudicada dentro de mim para estabelecer prioridades por dizer, “Sim, eu estou zangado, mas quando converso com você eu estou tentando ser razoável”. Você não pediria isso para uma criança de dois anos de verdade, então não peça isso para mim, também. Não é que eu não queira. Eu apenas não consigo.

Algumas pessoas com BPD se sentem tratadas com ar de superioridade ou insultadas quando as pessoas ressaltam essas similaridades.

Janet (BP)

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Eu definitivamente pareço uma criança, eu apenas não quero admitir isso! As pessoas dizem para mim, “Cresça”. Elas me acusam de ser uma bebê chorona e de ter chiliques de raiva. Será que elas pensam que eu quero agir desse jeito? Será que elas pensam que é divertido ter suas emoções controlando você? Será que eles realmente acreditam que eu consigo amadurecer vinte anos em alguns minutos?

Heidi (BP)

Eu me senti insultada quando eu li pela primeira vez as comparações entre crianças e as pessoas com BPD. Além disso, minha família nunca teve nenhum respeito por crianças. Elas eram algo inferior para mim.

Na terapia, contudo, eu aprendi que não há nada vergonhoso em ser como uma criança. As crianças são carinhosas. E quando as pessoas que amamos entendem como nós somos, elas conseguem levar menos nossas ações para o lado pessoal e tentam nos perdoar ao invés de nos condenar.

O mundo do borderline difere marcantemente do seu de vários modos. As pessoas com BPD podem inconscientemente revisar os fatos a fim de justificar seus sentimentos. Algumas pessoas com BPD usam mecanismos de defesa para controlar seus sentimentos dolorosos. Adicionalmente, as pessoas com BPD podem se sentir alternadamente abandonadas e subjugadas, o que os faz mudar intermitentemente seu comportamento em 180 graus. Finalmente, de muitos modos, algumas pessoas com BPD vêem o mundo através dos olhos de uma criança. Mas eles possuem a habilidade de afetar o mundo de modos mais sérios e adultos.

No capítulo 4, iremos explicar os efeitos do comportamento BPD em você.

Vivendo dentro duma panela de pressão: Como o comportamento BPD afeta os n-BPs

Por anos eu apenas suportava com um coração abertoAgora eu estou apenas procurando pela parte fácil .

- Carrie Newcomer, “Streamline” de Um Anjo em Meu Ombro

Viver com um BP é como viver numa panela de pressão com paredes finas e uma válvula de segurança defeituosa.

Viver com um BP é como viver num perpétuo paradoxo.Isso é aparentemente uma multidão interminável de contradições.

Eu sinto como se tivesse acabado de dar um ciclo em parafuso numa máquina de lavar roupa. O mundo está girando de todos os lados e eu não tenho idéia de onde é encima, embaixo ou lado.

Cheia de auto-ódio, a pessoa com BPD talvez acuse outros de odiá-la. Com medo de ser abandonada, ela pode se tornar tão crítica e facilmente enfurecida que as pessoas por fim desejam abandona-la. Então, incapaz de enfrentar a causa de sua dor devido a isso faze-la se sentir tão mal consigo mesma, a pessoa com BPD pode culpar outros e se colocar no papel de vítima. O BPD não é contagioso. Não é como o sarampo. Mas as pessoas que são expostas a esse comportamento podem inconscientemente se tornar uma parte integral do transtorno. Amigos, parceiros e familiares geralmente levam esse comportamento para o lado pessoal e se sentem presos num ciclo tóxico de culpa, auto-acusação, depressão, fúria, negação, isolamento e confusão. Eles tentam lidar com isso de maneiras que não funcionam a longo prazo eu mesmo façam a situação ficar pior. Enquanto isso, o comportamento doentio do borderline é reforçado porque o não-BP aceita a responsabilidade pelos sentimentos e ações que na verdade pertencem ao borderline. Nesse capítulo, iremos discutir algumas maneiras comuns de os não-BPs reagem ao comportamento BPD. Então iremos fornecer a você algumas questões para ajudá-lo a determinar como o comportamento BPD pode o estar afetando pessoalmente.

Pensamentos comuns dos não-BPs

Essas opiniões não refletem o pensamento de cada pessoa com um borderline em sua vida. Você precisa julgar qual é apropriado em sua circunstância individual.

Eu sou responsável por todos os problemas nesse relacionamento. (Na verdade, cada pessoa é responsável por 50 por cento do relacionamento)

As ações da pessoa com BPD são todas a meu respeito. (As ações do BP podem não ter nada a ver com você)

É minha responsabilidade resolver os problemas dessa pessoa, e se eu não fizer isso ninguém mais irá. (cada um de nós precisa tomar a dianteira em resolver seus próprios problemas. E por tentar tomar conta da vida do borderline, você pode estar dando a mensagem de que ele não pode cuidar de si mesmo).

Se eu convencer a pessoa com BPD que eu estou certo, esses problemas irão desaparecer. (O BPD é um transtorno sério que afeta profundamente o modo como a pessoa pensa, sente e se comporta. Você não irá convence-la disso não importa o quão persuasivo seja).

Se eu conseguir provar que suas acusações são falsas, ela irá confiar em mim novamente. (A falta de confiança é uma marca registrada do BPD. Isso não tem nada a ver com seu comportamento; isso tem a ver com o modo como a pessoa com BPD vê o mundo).

Se você realmente ama alguém, você aguentará seu abuso físico e emocional. (Se você ama a si mesmo, não deixará as pessoas abusarem de você).

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Essa pessoa não consegue ajuda tendo BPD, então eu não a deterei por conta desse comportamento. (O borderline em sua vida não pediu para ter BPD, é verdade. Mas com ajuda eles podem aprender a controlar seu comportamento sobre outros e podem até mesmo saber como agir sob certas circunstâncias).

Ajustar limites pessoas magoa a pessoa com BPD e é errado. (Ajustar limites pessoais ajuda tanto a você como o BP).

Quando eu tento fazer algo para ajudar minha situação e isso não funciona, eu continuarei tentando exatamente a mesma coisa até que isso funcione. (Se você examinar seu comportamento, talvez perceba que está se comportando com se você aceitasse isso. Um plano melhor é aprender de seus erros e tentar algo novo).

Não importa o que o BP faça, eu lhe oferecerei meu amor, compreensão, apoio e aceitação incondicional. (Existe uma grande diferença entre amar, apoiar e aceitar a pessoa e amar, apoiar e aceitar seu comportamento. De fato, se você apoiar e aceitar o comportamento você pode estar contribuindo para que isso continue).

Se eu ignorar os sinais de guerra, tudo vai ficar bem. (Você provavelmente já sabe a resposta para isso. O comportamento BPD não irá embora por si só).

A dor do não-BP sob o comportamento do borderline

Os não-BPs que são desvalorizados por alguém com BPD tem lembranças claras e poderosas dos tempos em que o borderline os amava incondicionalmente e achavam que eles não faziam nada de errado. Alguns familiares dizem que se sentem como se a pessoa que os amava tivesse morrido e que alguém que eles não conhecem assumiu o corpo do BP. Um não-BP disse, “Socorro! Os alienígenas tomaram o corpo da minha esposa!” Outro não-BP disse, “Se eu tivesse câncer, ao menos eu morreria apenas uma vez. Esse abuso emocional assegura que eu morra muitas, muitas vezes e que eu sempre viva nervoso, esperando pela próxima bomba estúpida”. Elizabeth Kubler-Ross (1975) delineou cinco estágios de aflição, que são apropriados para pessoas que cuidam de alguém com BPD. Nós adaptamos esses estágios para discutir diretamente os problemas do BPD.

Negação

Os não-BPs dão desculpas para o comportamento do BP ou se recusam a acreditar que seu comportamento é anormal. Quanto mais isolado o não-BP, maiores as chances de ele adotar o proceder de negação. Isso acontece porque sem as influências externas, os não-BPs perdem seu senso de percepção sobre o que é normal. As pessoas com BPD podem ser habilidosas em convencer outros que seu comportamento é culpa do não-BP. Isso ajuda a manter o não-BP em um contínuo estado de negação.

Raiva

Alguns não-BPs reagem à raiva por contra-atacar. Inicialmente, isso pode ajudar o não-BP a desviar a repreensão, crítica e acusação. Mas essas discussões não trazem uma solução real e são repetidas continuamente. Elas podem se intensificar, levando a violência por parte de ambos. Outros não-BPs afirmam que a raiva é uma reação inapropriada ao comportamento borderline. Alguns dizem, “você não ficaria furioso com alguém por ter diabetes – porque você ficaria furioso quando alguém tem BPD”? Pessoas que sentem culpa por sua raiva ou outras emoções negativas podem então canaliza-las em emoções mais “aceitáveis”, porém potencialmente mais destrutivas, como a depressão. Sentimentos não tem QI. Eles apenas existem. Tristeza, raiva, culpa, confusão, hostilidade, aborrecimento, frustração – todos são normais, e também esperados por pessoas confrontadas com o comportamento borderline. Isso é verdade não importa qual seu relacionamento com a pessoa com BPD. Isso não significa que você deva reagir ao BP com raiva. Mas isso não significa que você precise de um lugar seguro para desabafar todas as suas emoções e se sentir aceito, não julgado.

Negociação

Quando aplicado a relacionamentos borderline/não-borderline, esse estágio é caracterizado por o não-BP fazer concessões a fim de trazer de volta o comportamento “normal” da pessoa que ama. O raciocínio funciona assim: “Se eu fizer o que essa pessoa quer, eu vou receber o que preciso nesse relacionamento”. Nós todos nos comprometemos em um relacionamento. Mas os sacrifícios que a pessoa faz a fim de satisfazer o borderline que amam podem custar muito caro. Além disso, as concessões nunca são o suficiente. Pouco tempo depois, precisam-se de mais provas de amor e outra negociação precisa ser acertada.

Depressão

A depressão se instala quando o não-BP percebe o verdadeiro custo da negociação que ele fez: perda de amigos, família, respeito próprio, hobbies, etc. A pessoa com BPD não tem mudado. Mas o não-BP sim.

Sarah (não-BP)

Por três anos ele me disse que o problema era eu – que minha imperfeição arruinou tudo. E eu acreditei nele. Eu virei as costas para alguns de meus bons amigos porque ele não gostava deles. Eu me apressava para casa depois do trabalho porque ele dizia que precisava de mim. Eu constantemente

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vigiava o modo como eu dizia as coisas, pois assim ele não as tomava como um insulto. Então nós tivemos uma grande briga, e agora eu estou sozinha e com depressão porque não tenho mais ninguém.

Sonhos morrem de maneira muito séria. O filho de um pai borderline talvez passe décadas tentando ganhar o seu amor. Quando nada parece ser bom o bastante, pode levar anos para ele lamentar a perda do incondicional amor paterno que na verdade nunca teve.

Fran (não-BP)

Eu passei muitos anos chorando por meu filho borderline quando eu percebi que os sonhos que eu tinha para ele poderiam nunca se realizar. Eu comecei a lamentar mesmo quando o terapeuta do meu filho perguntou o que eu faria se meu filho precisasse viver em uma casa de recuperação pelo resto da vida. Eu apenas comecei a soluçar de tanto chorar. O terapeuta explicou que o filho que eu achava que tinha havia morrido, junto com o futuro que eu tinha imaginado para ele. Mas quando eu terminasse de chorar, eu teria um novo filho, e eu teria novas aspirações para ele.

Aceitação

A aceitação vem quando o não-BP integra os “bons” e os “maus” aspectos do borderline que ama e percebe que o BP não é nem um nem outro, mas ambos. Os não-BPs nesse estágio tem aprendido a aceitar a responsabilidade por suas próprias escolhas e deixar as outras pessoas por conta de suas próprias escolhas também. Cada um pode então fazer suas próprias decisões sobre o relacionamento com um claro entendimento de si mesmos e da pessoa com BPD.

Reações não-BP ao comportamento borderline

O comportamento borderline causa muitas reações em não-BPs. Algumas das reações mais comuns são enfocadas nessa seção.

Confusão

Phil (não-BP)

De início tudo parecia e soava tão normal como uma torta de maçã. Então, inesperadamente, mudanças estranhas e reversões da realidade ocorreram; mudanças de estado num tempo-espaço contínuo me arremessaram no chão. Repentinamente, eu percebi que tinha cruzado a zona borderline!

Perda da auto-estima

Berbely Engel (1990) descreve o efeito do abuso emocional na auto-estima:

O abuso emocional corta o próprio âmago da pessoa, criando cicatrizes que podem ser muito mais duradouras do que as físicas. Com o abuso emocional, os insultos, insinuações, críticas e acusações lentamente consomem a auto-estima da vítima até que ela seja incapaz de julgar a situação realisticamente. Ela se torna tão derrotada emocionalmente que culpa a si mesma pelo abuso. A vítima de abuso emocional pode se tornar tão convencida de que é imprestável que ela acredita que ninguém mais vai quere-la. Ela continua em situações de abuso porque acredita não ter mais ninguém para ir. Seu maior medo é ficar totalmente sozinha.

Se sentindo preso e indefeso

O comportamento borderline causa grande agonia, mas abandonar o borderline parece impossível ou improvável. Nada que o não-BP faça parece ter algum efeito positivo duradouro. Os não-BPs podem se sentir presos no relacionamento porque ou eles se sentem excessivamente responsáveis pela segurança do BP ou se sentem excessivamente culpados por talvez estar “causando” que o BP se sinta e se comporte desse jeito. As ameaças do BP de suicídio ou de prejudicar outros podem, ás vezes, paralizar o não-BP e fazê-lo se sentir como se terminar o relacionamento fosse muito arriscado.

Retirada

O não-BP talvez abandone a situação, ou emocionalmente ou fisicamente. Isso pode incluir trabalhar longas horas, permanecer em silêncio por medo de dizer alguma coisa errada ou terminar o relacionamento. Isso talvez resulte em a pessoa com BPD se sentir abandonada e agir para fora de maneira mais intensa. Tambem, o não-BP talvez deixe as crianças sozinhas com o BP por longos períodos de tempo. Se o BP age abusivamente para com as crianças, o BP não estará lá para protege-las.

Culpa e vergonha

Repetidas acusações podem ter um efeito de lavagem-cerebral. O não-BP pode vir a acreditar que ele é a fonte de todos os problemas. Isso é extremamente destrutivo quando aplicado às crianças, que olham para os pais como se fossem deuses e que não tem a capacidade de questionar uma acusação ou suposição de um adulto borderline. Pais de pessoas com BPD também são vulneráveis a isso. Eles acreditam que tem sido pais horríveis quando simplesmente cometem os mesmos erros que a maioria dos pais comete. Algums pais que nós entrevistamos se repreendem severamente e de maneira interminável, colocando seus erros em um microscópio num esforço de imaginar o que fizeram para causar o transtorno de seus filhos. Quando eles não encontram a “arma fumegante”, eles concluem que o problema deve ser biológico. Mas isso também não os tira do anzol, visto que se sentem responsáveis pela “falha” biológica hereditária dos filhos. (A menos que a criança seja adotada).

Adotando hábitos doentios35

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Isso inclui comer ou beber excessivamente, abuso de substancias e assim por diante. Esses hábitos doentios são maneiras típicas de muitas pessoas, não apenas não-BPs, tentarem lidar com o estresse. Inicialmente, comer e beber em excesso e o abuso de substâncias aliviam a ansiedade e o estresse. Conforme essas estratégias se tornam mais habituais e arraigados, o não-BP começa a experimentar as conseqüências negativas do hábito, que são então misturadas com os estressores originais, compondo a situação.

Isolamento

O comportamento e o humor imprevisível da pessoa com BPD pode tornar as amizades difíceis. Dar desculpas ou encobrir o comportamento borderline pode ser tão emocionalmente exaustivo que algumas pessoas acham que não vale a pena o esforço para sustentar amizades. Muitos não-BPs dizem que os amigos frequentemente sugerem soluções que são simplistas ou inaceitáveis, que deixam o não-BP se sentindo mal compreendido. Alguns dizem que perderam amizades porque seus amigos não acreditavam neles ou ficaram cansados de ouvir a respeito de suas brigas. Frequentemente, o não-BP fica isolado porque o BP em sua vida insiste que ele corte todos os laços com outros. Muito freqüentemente, o não-BP concorda. Uma vez que o não-BP se torna mais isolado, várias coisas podem acontecer. Ele pode se tornar mais emocionalmente dependente do BP. Devido a ele estar sem contato com o mundo real, o escândalo do comportamento BP pode parecer normal, uma vez que não há nada para se comparar. Os amigos não obstante podem observar o relacionamento e falar com o não-BP sobre os componentes doentios do relacionamento. Com coisas contidas no seu interior, o não-BP é deixado sozinho com seus problemas com o BP.

Hipervigilância e doenças físicas

É muito estressante estar perto de alguém que pode lhe repreender severamente à qualquer momento sem nenhuma provocação visível. Numa tentativa de ganhar algum controle sobre o que parecem ser comportamentos BP muito imprevisíveis, o não-BP geralmente se encontra “em alerta” para prever a ocorrência de comportamentos angustiantes do BP. Se ele conseguir predizer quando esses comportamentos irão ocorrer, então o não-BP pode se preparar para ou defender a si mesmo ou evitar ser invadido pela raiva e pelo agir para fora. Contudo, estar em alerta requer um senso elevado de excitação tanto física como psicologicamente que, muitas vezes, pode esgotar as defesas naturais do corpo contra o estresse. Como resultado, sintomas físicos de estresse começam a se manifestar na forma de dores de cabeça, úlceras, alta pressão sanguínea e outras doenças.

Adoção de pensamentos e sentimentos do BPD

O mal humor e a combinação de emoções que os não-BPs experimentam são o resultado de sua incapacidade de utilizar mais estratégias efetivas de separar, proteger e cuidar de si mesmos diante das emoções e do stress intenso. Os não-BPs geralmente começam a ver as coisas em preto e branco e ver soluções de tudo ou nada para os problemas. O mal humor é também extremamente comum em não-BPs, uma vez que eles frequentemente estão de bom humor quando o borderline está para cima e de mal humor quando o borderline está para baixo. Até certo ponto, a pessoa com BPd carrega o não-BP consigo no passeio de montanha-russa que é a sua vida. Se isso acontece com você, você talvez deseje usar essa experiência para vislumbrar o que é ter BPD de verdade.

Co-dependência

O não-BP geralmente interpreta atos de bondade corajosos e heróicos, não importa qual o preço para si mesmo. Num esforço de ajudar a pessoa que amam, ele engole sua raiva, ignora suas próprias necessidades, aceita um comportamento que a maioria das pessoas acharia intolerável e perdoa as mesmas transgressões repetidas vezes. Essa é uma armadilha comum para não-BPs – especialmente se o borderline teve uma infância infeliz e o não-BP está tentando compensar isso. Muitos não-BPs presumem que por subordinar suas próprias necessidades pelo bem do borderline (ou simplismente par evitar uma briga), eles estão ajudando. Embora a motivação do não-BP seja elogiável, isso na verdade torna possível, ou reforça, comportamentos inapropriados na pessoa com BPD. O borderline aprende que suas ações terão poucas conseqüências negativas; portanto, não terão motivação para mudar. Também, continuar a suportar o comportamento BPD raramente torna o BP realmente feliz. E mesmo se o não-BP agüente esse comportamento, o BP pode ficar isolado porque não irão tolerar isso. Além disso, quanto tempo o não-BP será capaz de manter isso? Um familiar que acalmou as coisas por anos a fim de compensar a terrível infância de sua esposa disse: “eu estava determinado a não abandona-la, não importa o que ela fizesse. Um dia, eu percebi que ao invés disso, eu tinha abandonado a mim mesmo”.

Dean (não-BP)

Eu sentia como se tivesse falhado no relacionamento. Eu achava que se apenas persuadisse minha esposa a receber a ajuda que ela precisava, tudo iria ficar bem.

Apesar do abuso, eu sentia que não podia deixa-la. Como eu poderia abandonar alguém que já tinha sofrido tantas desgraças na vida? Eu achava que se eu apenas tentasse um pouco mais, conseguiria conserta-la e compensar todo o abuso que ela sofreu quando era criança. Isso me foi confirmado uma vez quando eu tentei partir. Eu nunca vou esquecer o olhar no seu rosto no momento em que ela me dizia com grandes olhos tristes que estava feliz por eu ter voltado. “Porque você está alegre?” eu perguntei. Ela respondeu: “Por que quem mais iria tornar minha vida melhor?”

Eu decidi consultar um conselheiro, e contei toda a historia para ele por muitos meses. Um dia ele me disse: “Você não está sendo um pouco pretencioso? Quem você pensa que é, Deus? Bem, você não é Deus. Você não é responsável. E você não poderá mudar isso. Seu trabalho é aceitar esse fato. Viva com isso. E tome as decisões que você tem que tomar para viver a sua vida”.

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Efeitos no relacionamento

Comportamentos borderlines tais como Abuso verbal, notável manipulação e mecanismos de defesa geralmente destroem a confiança e a intimidade. Eles tornam o relacionamento inseguro para o não-BP, que pode não confiar mais que seus profundos sentimentos e mais internos pensamentos serão tratados com amor, preocupação e cuidado. Suzan Forward e Donna Frazier (1997) explicam que as pessoas que são alvos da chantagem emocional podem se tornar muito reservadas sobre certos assuntos e parar de compartilhar grande parte de suas vidas, tais como coisas embaraçosas que fizeram, sentimentos pavorosos ou inseguros, esperanças para o futuro e qualquer coisa que mostre que eles estão mudando e se desenvolvendo.

O que resta quando precisamos andar constantemente sobre ovos com alguém? Conversa pouca e superficial, silencio forçado, montes de tensão. Quando a segurança e a intimidade se vão de um relacionamento, nós ficamos acostumados a fingir. Nós fingimos que estamos felizes quando não estamos. Nós dizemos que tudo está bem quando não está. O que era uma dança elegante de cuidado e intimidade se torna um baile de máscaras em que a pessoa envolvida está escondendo cada vez mais seu verdadeiro eu.

Isso é normal?

Pode ser muito difícil determinar que tipo de comportamento é normal ou não. As questões que se seguem podem ajudar. Quanto mais respostas “sim” você der, mais nós recomendamos que você de uma boa olhada em como o comportamento do BP em sua vida pode estar lhe afetando.

Pessoas com relacionamentos felizes e saudáveis lhe dizem que não entendem porque você continua agüentando o comportamento do BP? Você tenta evitar contato com essas pessoas?

Você sente a necessidade de encobrir alguns dos comportamentos do BP? Você tem traído outras pessoas ou contado mentiras para proteger o BP ou seu relacionamento com ele?

Você está se tornando isolado?

A idéia de passar tempo com o BP lhe dá uma sensação física desagradável? Você tem outras doenças possivelmente relacionadas com o stress?

O BP tem sempre expressado sua raiva por você por tentar causar dificuldades legais, sociais ou financeiras? Isso tem acontecido mais de uma vez?

Você esta ficando clinicamente depressivo? Os sinais de depressão incluem: se tornar menos interessado em atividades normais, ter menos prazer na vida, ganhar ou perder peso, ter dificuldades em dormir, pensar em suicídio, ter sentimentos de inutilidade, se sentir exausto todo o tempo e ter problemas de concentração.

Você tem pensado em suicídio? Você acha que amigos e parentes ficarão melhor sem você? (Se sim, procure ajuda imediatamente).

Você tem agido de maneiras que vão contra suas opiniões e valores fundamentais com resultado de seu relacionamento com o borderline? Você não é mais capaz de tomar posição a favor do que acredita?

Você está preocupado com os efeitos do comportamento dessa pessoa sobre as crianças? Tem você até mesmo intercedido para prevenir a ocorrência de abusos?

Você ou o BP tem até mesmo se colocado em perigo físico ou em uma situação onde o perigo físico é possível ou provável?

Você está tomando decisões principalmente por medo, obrigação ou culpa?

Seu relacionamento com o BP parece ser relacionado mais com poder e controle do que com bondade e preocupação?

Agora que discutimos o ABC do BPD, nós iremos lhe dar alguns passos na parte 2 para sair da montanha russa emocional e encarregar-se de sua vida. Você pode aplicar esses passos mesmo se a pessoa com BPD não mudar. Você precisará completar certos passos na parte 2 antes de começar outros. Como um exemplo, você precisará determinar seus limites pessoais antes de explica-los a mais alguém. Outros passos são parte de uma jornada pra toda a vida e precisam ser praticados numa base existente – por exemplo, despersonalizar as ações do BP, cuidar bem de si mesmo e entender a si mesmo e seu próprio comportamento. Conforme você ler, é importante ter em mente que nós estamos discutindo como lidar com o comportamento borderline – não com a pessoa borderline.

Jamie (BP)

É importante que amigos e parentes de pessoas com BP percebam que nós somos muito mais do que nosso comportamento. Nós não somos “coisas” que devem ser “manuseadas” ou “tratadas”, como se dissesse: “Como você manuseia um borderline?” As pessoas devem tentar sentir empatia, porque o comportamento e os sentimentos do borderline são apenas exageros bizarros de sentimentos e comportamentos normais.

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Parte 2

Retomando o controle de sua vida

Fazendo mudanças consigo mesmo

Negar nossos problemas é um mecanismo de defesa que ajuda nós borderlines a manter a dor e o medo sob controle. Quanto maior o medo, maior será a negação. Por favor, por favor, por favor, não tente arrancar a negação dos borderlines que não estão prontos para enfrentar a sua escuridão interior. Isso pode ser tudo que ainda os mantém vivos. - Palavras de um BP do grupo de apoio de não-BPs da internet

Ninguém pode fazê-lo se sentir inferior sem o seu consentimento. - Eleanor Roosevelt

Ultimamente tudo o que eu tenho rezado é por algum tipo de graça, para aceitar o que eu não posso mudar conforme eu encontrar isso face a face. E evocar algum tipo de coragem conforme eu andar suavemente aqui. Aceitar as coisas pelo que elas são e não pelo que elas parecem ser. - Carrie Newcomer, “Algum tipo de Graça”, de Visions and Dreams

Você não pode forçar o BP a procurar tratamento

Estas são as boas notícias: Você esteve certo com todas as suas opiniões, pensamentos e sentimentos. Bons ou maus, certos ou errados, eles são parte de você. Eles fazem de você quem você é. E estas são as más noticias: todo mundo está certo com suas opiniões, pensamentos e sentimentos também. Você pode não concordar com todo mundo, e eles podem não concordar com você. Mas está tudo bem. Não é seu trabalho convencer alguém a ver as coisas do seu jeito. Pode ser frustrante e desolador ver alguém que você ama agir de maneiras que machucam tanto a ela como a outros. Mas não importa o que você faça, você não pode controlar o comportamento de ninguém. Além do mais, não é seu trabalho – a menos, é claro, que a pessoa com BPD seja seu filho menor de idade. Mesmo assim, você consegue apenas influenciar o comportamento da criança – não controla-lo. Seu trabalho é conhecer quem você é, agir de acordo com seus próprios valores e crenças e comunicar quais são suas necessidades e desejos para a pessoa com BPD. Você sempre pode encorajar as pessoas a fazer o que você quer através de recompensas e punições sutis ou descaradas. Mas como agir continua sendo a decisão deles.

Razões para a negação do BP

Pode ser óbvio para você que a pessoa com BPD precisa de ajuda. Mas isso talvez não seja óbvio para ela. Para pessoas com BPD, admitir que alguma coisa a respeito delas é menos do que perfeito, sem falar em reconhecer que elas talvez tenham um transtorno de personalidade, pode manda-las para dentro de um espiral de vergonha e auto-desconfiança. Imagine sentir vazio, praticamente sem um eu. Agora pense em admitir que existe alguma coisa errada com aquele pouco eu que você ainda consegue reconhecer. Para muitas pessoas com BPD, isso é como deixar de existir – um sentimento terrível para qualquer um. Para evitar isso, as pessoas com BPD podem utilizar um mecanismo de defesa comum e poderoso: a negação. Elas talvez sustentem que não há nada de errado com elas, apesar da clara evidencia ao contrário. Elas prefeririam perder coisas muito importantes – empregos, amigos e família – do que perder a si mesmas. (Uma vez que você entender isso, você irá realmente apreciar a coragem das pessoas com BPD que procuram ajuda). Olhe isso de outro modo. Pense em algo que você concluiu que parece ser insuperável. Ganhar um diploma universitário, talvez, ou perder 30 quilos. Tente se lembrar como seu intenso desejo de alcançar essa meta tornou tudo isso possível. Agora, imagine que seu intenso desejo era evitar essa meta. Como seria possível alguém faze-lo ganhar aquele diploma ou perder aquele peso? Quase do mesmo modo, pessoas com BPD talvez procurem evitar confrontar problemas que outras pessoas querem enfrentar. Elas talvez peçam ajuda ou tentem alterar seu comportamento – mas não do jeito que você planeja. Se elas mudam, isso será no seu próprio tempo de do seu próprio jeito. De fato, pode ser prejudicial forçar alguém a admitir ter problemas antes que ele esteja pronto para isso.

Lynn (BP)

Ignorar e negar meus problemas era um mecanismo de defesa que me tornava capaz de manter o medo e a dor sob controle. Se você se importa com alguém com BPD, não subestime sua dor. Não subestime seu medo. Quanto maior o medo, maior a negação.

Nichelle (BP)

Eu consigo enxergar que tipo de inferno pode ser viver com um BP. Eu consigo entender o quanto os não-BPs desejariam cutucar aquela pessoa, fazer tudo o que é humanamente possível para que aquela pessoa mude. Afinal, isso irá ajudar o relacionamento e tornar a vida menos dolorosa para o borderline. Mas a negação é uma coisa estranha. Aquilo que alguns de nós talvez enxergem como “inferior” pode ser negado repetidamente – até o infinito em alguns casos.

Então, o BP está destruindo o relacionamento? Foi ela que mudou com o passar do tempo. Um BP perdeu seu emprego por causa de seu comportamento? O chefe foi o culpado. Ela perdeu a custódio dos filhos? É aquelemaldito tribunal.

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O medo de mudar e o medo do desconhecido são bastante fortes. Assim, a negação pode ser extremamente poderosa. E no caso do borderline, os medos são tão grandes, tão abrangentes e tão esmagadores que a negação pode ser absoluta.

Quando o BP irá procurar ajuda?

O que motiva pessoas com BPD a procurar ajuda? Em geral, as pessoas alteram seu comportamento quando elas acreditam que os benefícios de fazer isso superam os obstáculos para mudar. As pessoas com BPD são como todo mundo nesse respeito. O catalisador específico para mudar, contudo, varia grandemente. Para algumas pessoas, o insuportável tumulto emocional de viver com BPD é pior do que o medo de mudar. Para outros, é por perceber como seu comportamento está afetando seus filhos. Alguns encaram seus demônios depois de perder alguém importante devido ao seu comportamento.

Laura (BP)

Até eu realmente entender minha responsabilidade pessoal, eu acreditava que tudo o que aconteceu comigo era culpa de alguém. Enquanto eu empurrava os limites do decoro em cada curva, eu me sentia aniquilada quando as pessoas tentavam me convencer de que eu tinha controle sobre meu comportamento maluco. Eu resistia aquela idéia e ficava furiosa.

Finalmente, na terapia, eu percebi que eu odiei e julguei outras pessoas porque era assim que eu me sentia comigo mesma. Se eu não conseguisse respeitar a mim mesma, não conseguiria respeitar outros. Consequentemente, era fácil desvaloriza-los e bater neles. Por procurar o meio-termo e aceitar responsabilidade, eu era capaz de diminuir grandemente um monte de rejeição, abandono e medos imaginários.

Diane (BP)

Como um borderline padrão, eu acreditava que deveria existir algum tipo de choque ou susto que serviria como um catalizador para mudar. Em vários momentos da minha vida, eu fui forçado a fazer terapia. Eu não tinha o desejo sincero de mudar; eu só não queria perder alguma coisa. E isso não era suficiente.

Meu choque foi o olhar de meu filho de quatro anos de idade quando eu perdi a cabeça e comecei a bater nele até suas coxas e seu rosto ficarem vermelhos. Ele não tinha feito nada de errado. Eu o estava surrando por ser uma criança quando eu não me sentia como sendo uma mãe. Ecos do meu passado. E quando no início ele começou a gritar com toda a sua força, isso alimentou meu frenezi e me deixou mais furiosa. Eu bati mais forte nele e usei a velha frase do meu pai: “Eu vou te dar um motivo pra chorar”.

Finalmente, ele parou de chorar. Ele estava apavorado pelo que eu faria a seguir. E em seus olhos, bem abertos num olhar de total terror, eu vi o reflexo de meus próprios olhos de anos atrás – reflexos dos quais eu tinha passado um vida toda fugindo. Aquele foi meu choque. Eu não poderia jogar a culpa disso em ninguém. Eu não poderia jogar a culpa disso numa administração universitária que era muito provinciana e autoritária. Eu não poderia jogar a culpa disso em um marido que não ganha dinheiro suficiente, ou que não faz isso ou aquilo o suficiente para mim. Eu não poderia jogar a culpa disso em um chefe superzangado, num vizinho safado ou ninguém mais. Olhando para os olhos indefesos e apavorados do meu filho, eu pude ver que era eu. Completamente eu. E eu sabia que teria que mudar as coisas ou morrer. Porque eu não poderia mais conviver com a pessoa que tinha me tornado.

O que você pode fazer

Não há nada de errado em querer mudar a pessoa com BP. Você pode estar certo: ela pode ser muito feliz e seu relacionamento com ela pode melhorar se ela procurasse ajuda para seu BPD. Mas para que você saia da montanha russa emocional, você terá que desistir da fantasia de que você (e apenas você) conseguirá mudar alguém. Quando você abandonar essa crença, será capaz de assumir o poder do que é realmente seu: o poder de mudar a si mesmo. O exemplo de um farol, que alguém da internet nos mandou, esclarece a diferença entre proporcionar apoio a alguém e tomar a responsabilidade pela sua recuperação. Considere um farol. Ele fica parado na praia com sua luz sinalizadora, guiando os navios seguramente até o porto. O farol não pode arrancar a si mesmo, andar pela água, agarrar o navio pela popa e dizer: “Escute, seu tolo! Se você continuar nesse caminho vai partir nas rochas!” Não. O navio tem alguma responsabilidade pelo seu próprio destino. Ele pode escolher ser guiado pelo farol. Ou, pode ir pelo seu próprio caminho. O farol não é responsável pelas decisões do navio. Tudo o que ele pode fazer é ser o melhor farol que ele sabe ser.

Pare de levar todas as ações do borderline para o lado pessoal

Os borderlines enxergam o mundo em preto e branco. Mais do que isso, eles presumem que todos vêem as coisas do mesmo jeito. Diante disso, as pessoas que possuem um senso consistente de seu próprio valor têm facilidade em manter seu próprio senso da realidade. Não importa como o BP se sinta com respeito a elas em dado momento, esses não-BPs conseguem ser felizes e seguros com o conhecimento de que não são nem um deus nem um demônio. A maioria das pessoas, contudo, precisam de alguns conselhos para se manterem seguros e focalizados quando o BP divide (splits).

Interpretações alternativas

Os não-BPs geralmente não pedem ajuda quando os BPs em suas vidas os elogiam muito. Mas é importante lembrar que o lado de cima do splitting (idealização) também tem seu lado de baixo (desvalorização). Isso não significa que você deva ignorar as coisas boas que o BP está dizendo – sem dúvida, você deve desfruta-los. Mas seja cuidadoso a respeito de super declarações positivas e exageros que são difíceis de cumprir. Também, seja cauteloso a respeito de declarações de amor e promessas

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muito adiantadas, porque elas podem estar baseadas na imagem que o BP tem de você ao invéz do você de verdade. É importante manter sua interpretação das coisas em mente, já que os BPs geralmente são muito negativos ou muito idealizados. Às vezes não é o evento em si que provoca o splitting mas sim a interpretação que o borderline faz do evento. Considere um departamento de emergência médica que trata uma criança que esteve em um grave acidente de carro. Eles tentam salvar a vida da criança, mas ela já estava perto da morte quando os paramédicos a trouxeram. Obviamente, não há nada que eles poderiam ter feito. O doutor vai até a sala de espera e diz aos pais da garotinha que sua filha morreu. O pai não aceita isso bem. “Seu tolo incompetente!” ele grita. “Ela não estava seriamente ferida! Você deveria ser capaz de salva-la. Se o medico de nossa família tivesse tratado dela, ela teria sobrevivido. Eu estou indo denunciá-lo às autoridades!” Embora ninguém goste de ser ameaçado, a maioria dos médicos percebem que o trauma e o choque da morte da filha pode fazer com que o pai os ataque verbalmente e os culpe. Eles provavelmente não levarão essas palavras para o lado pessoal porque eles tem consolado milhares de pais afligidos e eles sabem que esse tipo de reação não é incomum. Em outras palavras, eles não tomarão a responsabilidade pelos sentimentos do pai. Eles irão perceber que sua reação tem tudo a ver com a situação e pouco a ver com eles. Nesse exemplo, o incidente que causou a reação do pai é externa, obviamente, e dramática. Uma criança morreu. Com o BPD, a causa de uma discussão não é necessariamente o evento real, mas a interpretação do borderline de tal evento. Como você provavelmente sabe, você e a pessoa com BPD podem chegar a conclusões bem diferentes sobre o que foi dito e feito. Seguem-se apenas dois exemplos:

Robert (não-BP) diz:Eu terei que trabalhar até tarde. Eu realmente sinto muito, mas vou ter que cancelar nossos

planos.

Kathryn (BP) escuta:Eu não quero sair com você esta noite porque eu não te amo mais. Eu não quero te ver nunca

mais.

Kathryn diz (em fúria ou com um tom de voz choroso):Como você pôde! Você nunca me amou! Eu te odeio!

Tom diz: Eu estou tão orgulhoso de minha filha! Ontem ela participou de uma corrida no campo e ganhou o jogo. Vamos ao cinema esta noite para comemorar.

Roxann escuta:Eu amo minha filha mais do que você. Ela é talentosa e você não é. A partir de agora, eu vou

dar todo meu amor e atenção a ela e ignorar você.

Roxann pensa:Ele percebeu que eu sou imperfeita e defeituosa. Então agora ele vai me deixar. Mas não, eu

não sou imperfeita e defeituosa. Não há nada de errado comigo. Então ele é o único defeituoso.

Roxann diz:Não, eu não quero ir ao cinema! Porque você pergunta o que eu quero fazer? Você nunca pensa

em mim. Você é tão incrivelmente egoísta e controlador!

Nós não sabemos porque Roxann e Kathryn interpretaram os comentários deles desse jeito. Talvez, elas estivessem com medo de serem abandonadas. Ou, talvez o comportamento BP como esse seja causado por uma falha na química do cérebro. Assim, embora possamos ver o que engatilhou o comportamento – os comentários de Tom e Robert – a causa pode ser desconhecida.

Gatilhos versus causas do comportamento BPD

Entender a diferença entre causas e gatilhos do comportamento borderline é crucial para parar de levar o comportamento para o lado pessoal. Você pode engatilhar o comportamento borderline muito facilmente conforme seu dia passa. Isso não significa, no entanto, que você causou o comportamento. Imagine que você esta tendo um dia muito ruim. Você chegou no trabalho e percebeu que esqueceu seu guarda-chuva novinho no ônibus. Você derrama café na sua roupa nova. Seu chefe lhe diz que o presidente cancelou seu projeto predileto. E quando você liga seu computador, você descobre que um vírus destruiu todos os seus arquivos. Você deveria ter feito um backup, mas nunca achou tempo para isso. Naquele momento, seu colega de trabalho sortudo passa com um grande sorrizo estampado na cara. “Hoh, que belo dia é hoje!” ele exclama. “Te faz ficar contente por estar vivo, não é?” “Na verdade não”, você rosna. “Eu estou tentando trabalhar. Pode parar de me humilhar?” Seu colega de trabalho engatilhou sua réplica rude. Mas ele não causou isso. Se você se importa com alguém com BPD, talvez precise aceitar que às vezes ela irá agir de maneiras que não fazem sentido para você. Isso é o que a pessoa com BPD e a mais evidente doença mental tem em comum. Cristine Adamec (1996) diz:

Uma vez que você comece a aceitar que uma pessoa mentalmente doente irá às vezes se comportar de maneira irracional, isso irá aliviar grandemente sua própria dor e stress internos... uma vez que fizer isso você começará a desenvolver mecanismos de defesa mais eficientes. Não mais sobrecarregado pelos “mas e se” ou “será” em sua mente, você conseguira concordar com o jeito que as coisas realmente são. E você se empenhará pelo que funciona.

Procure apoio e aprovação

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Você provavelmente não conhece ninguém que cuida de alguém com BPD ou que até mesmo já tenha ouvido falar de BPD. Então talvez você tenha pouco ou nenhum apoio e ninguém para se “checar a realidade”. Por esta razão, nós criamos um grupo de apoio na internet citando uma lista de emails de não-BPs (veja o apêndice D). As pessoas na lista compartilharam suas histórias e falam sobre ter alguém com BPD em suas vidas. Para a maioria deles, esta é a primeira vez que fizeram contato com outra pessoa na mesma situação. Aqui está um exemplo de uma carta de Joellen para Bill, que os dois compartilharam com o resto da lista de membros. (Joellen cita as declarações anteriores de Bill por coloca-las entre “<<<” “>>>”, que é um hábito padrão na internet).

Joellen (não-BP)

Bill, você disse:<<<Um dia eu fui rotulado por ela como o mais amável, genuíno, sincero e gentil amante, e no

dia seguinte fui reduzido a ser o maldoso, satânico, fascista e porco bagunceiro. Não importa quão disponível eu estava ou quão amável eu tentasse ser, não havia simplesmente nada que eu pudesse fazer para preencher o profundo buraco de necessidade ou para parar a hemofilia emocional. Eu comecei a andar sobre ovos e a ficar receoso cada vez que eu expressava minha real opinião sobre qualquer coisa por medo de começar uma discussão.>>>

Isso é exatamente o que está acontecendo comigo. Você não sabe quão contente eu estou de encontrar alguém que passou pela mesma situação que eu passo agora. Me tranqüiliza saber que não estou sozinha. Eu sou constantemente repreendida se eu não paro tudo num instante e cumpro as suas exigências. Ele me compara a suas ex-esposas e namoradas passadas e diz que, assim como elas, eu tenho minha própria agenda secreta e sempre tenho uma desculpa. Dizer o que?!

Uma noite eu estava indo ao médico e ele explodiu porque eu não fui com ele até a casa de um amigo. Ele continua zangado com isso, embora não toque mais no assunto. Todo o raciocínio do mundo sobre o quanto eu tinha esperado pela consulta e como eu precisava ser pontual não ajudou porque, ele disse, eu apenas não sou confiável.

<<<Depois, eu comecei a perceber que no fim do expediente, eu chegava a ficar com dor de barriga só de pensar que dentro de algumas horas, eu teria que ir e ver minha esposa.>>>

Isso é o pior de tudo. Como você experimentou, eu agora nunca sei porque estou sendo atacada. Se ele olha com raiva, eu gostaria de estar em qualquer outro lugar ao invés de aqui porque eu sei o que está vindo. E, se ocorre uma discussão, eu vou embora porque apenas não suporto o quão loucamente furiosa ele me faz sentir por dentro. Até esse ponto, eu sou rotulada de “covarde” ou eu disse que estou constantemente abandonando ele. Quando ele fala, meus intestinos começam a revirar e a tensão aumenta. Droga, eu só não quero brigar mais sobre pequenas coisas estúpidas e bobas. Não quero mais ser abusada fisicamente e verbalmente.

<<<Se, por algum motivo, eu tentava e expressava um limite ou uma nessecidade, eu era ferozmente atacado pela minha “carência, comportamento controlador”. Em resumo, eu estava vivendo com Dr. Jekyll e Mr. Hyde, e eu era condenado se eu fizesse e condenado se não fizesse.>>>

Exatamente. Catch-22. Um cenário de não-vitória. Eu continuo dizendo a mim mesma: “Eu não posso vencer, eu não posso nem mesmo dar uma pausa, eu não posso nem mesmo abandonar o jogo”. Eu me sinto como uma passageira nesse ônibus BPD do inferno, eu só quero que a maldita coisa se exploda ou pare para que eu possa sair. Mas se eu sair do ônibus, eu estarei sozinha com minha auto-estima na sarjeta. Infelizmente, depois de quase quatro anos disso, eu fiquei acostumada a isso.

Therese (não-BP)

Eu achava que eu era o problema, porque o homem com BPD me disse que eu era. Eu continuei achando que se eu apenas conseguisse dizer ou fazer a coisa certa num certo momento, as discussões iriam diminuir. Os problemas iriam embora de maneira mágica. As coisas ficaram feias para mim, e eu tive que perceber que não importava o que eu dissesse ou fizesse ou o que eu não dissesse ou fizesse, o comportamento BPD não iria parar ou mesmo diminuir. Isso não era sobre quão perfeita ou responsável eu era. Isso era um verdadeiro problema comportamental do meu marido que não tinha nada a ver comigo.

Muitos membros do grupo nos disseram que a lista, mais do que qualquer outra coisa, os tem habilitado a despersonalizar o comportamento da pessoa com BPD em suas vidas. As histórias são tão similares que isso realmente reafirma que o comportamento não tem a ver com eles. Muitas pessoas acharam isso um grande alívio. Encontrar um grupo de apoio local ou na internet pode lhe ajudar a despersonalizar o comportamento da pessoa. Se isso não for possível, talvez um amigo ou um familiar possa emprestar um ouvido disposto. Contudo, é melhor falar com alguém que não irá se sentir colocado no meio de você e do BP em sua vida.

Não levar o comportamento BPD para o lado pessoal

Uma mulher que descobriu que seu marido borderline estava tendo um caso nos perguntou: “Como eu não irei levar isso para o lado pessoal quando meu marido me diz que foi infiel e que mentiu sobre isso durante todo o nosso casamento? Eu deveria me sentir bem quando ele diz que irá me abandonar por ela?” Nós explicamos que existe uma grande diferença entre trabalhar com sua dor e não levar as coisas para o lado pessoal. Imagine que você esteja planejando ter sua recepção de casamento no lugar mais bonito da cidade, mas dois dias antes do casamento um relâmpago cai sobre o salão e ele é incendiado até o chão. Quando você tenta achar outro lugar, você descobre que todos os outros salões estão reservados. Naturalmente, você irá ficar muito descontrolado e furioso. Você precisará soltar algum vapor, talvez chorando ou chamando todos os seus amigos para se queixar. Se você acabar no ginásio da escola, você continuara tendo a necessidade de lamentar a perda da perfeita recepção de casamento que estava aguardando. Mas você não se sentirá pessoalmente atacado, como se o relâmpago o conhecesse e estivesse deliberadamente tentando desgraçar a sua vida. Você não passaria horas tentando imaginar o que você fez para causar o fogo. Você não iria tentar mudar as leis da natureza. Em resumo, você não iria culpar a si mesmo por coisas fora do seu controle. Mas é exatamente isso o que muitas pessoas fazem quando

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confrontadas com as ações de uma pessoa com BPD. Elas passam anos presumindo que foram a origem do relâmpago quando, na verdade, elas só foram o para-raio.

Mantenha o senso de humor

Muitos familiares descobriram que ter um senso de humor ajuda.

Hank (não-BP)

Era outubro e minha esposa BP e eu estávamos indo a uma festa de Halloween dada pelo meu amigo, Buck. Eu estava vestido como Charlie Brown, completo com camisa listrada e com um beagle de pelúcia. Ela era Lucy. Em uma mão ela carregava uma bola de futebol, e na outra um letreiro que dizia, “Conselhos psiquiátricos, cinco centavos”. (Irônico, não é?) Mas a porta se abriu e uma terrível percepção veio sobre mim: aquela não era uma festa de Halloween! Todos estavam de sueters e jeans. Os três de nós – eu, minha esposa e sua amiga – todos percebemos meu engano exatamente ao mesmo tempo. Minha esposa ficou imediatamente muito furiosa e começou a trazer a tona quão estúpido eu era. Usualmente, eu reagiria a sua fúria e abuso verbal com medo, ansiedade e confusão. Mas dessa vez eu apenas não conseguia parar de rir! Então durante a fúria de minha esposa, nós dois nos partimos de tanto rir. Eu pensei nesse episódio na próxima vez que minha esposa perdeu a cabeça, e me senti melhor de perceber que eu tinha uma escolha sobre como eu reagiria.

Cuide de si mesmo

A pessoa com BPD não pediu para ter o transtorno. E você nunca pediu para alguém em sua vida ter BPD. Mas se você for um típico não-BP, tomará um pedaço enorme de culpa pelos problemas da outra pessoa, e provavelmente sentirá que você – e somente você – pode soluciona-los. Muitos não-BPs – especialmente aqueles que escolheram seu relacionamento com o BP – vivem tentando consertar as coisas para outras pessoas e salva-las. Isso lhes dá a ilusão de que eles podem mudar alguém. Mas isso é apenas uma fantasia que transfere a responsabilidade da única pessoa que tem o poder de mudar a vida do borderline – o borderline mesmo. Você pode passar 24 horas por dia sofrendo pelo seu borderline. Você pode colocar sua vida em espera, esperando por ele para retornar ao seu modo de pensar. Você pode deixar toda sua vida emocional ser ditada pelo seu humor do momento. Mas nada disso irá ajudar a pessoa com BPD. Em nossa entrevista com Howard I. Weinberg, Ph.D., ele disse: “Pessoas com BPD precisam que seus amigos e familiares sejam estáveis e claros – que não os rejeitem e nem os sufoquem. Eles precisam que você os deixe cuidar de si mesmos e que não faça coisas por eles que eles podem fazer por si mesmos. A melhor maneira de fazer isso e ajuda-los é por trabalhar em si próprio”.

Patrícia (BP)

Para aqueles de vocês que decidiram permanecer com seu familiar BPD, obrigada, obrigada! Nós precisamos muito de seu amor e apoio. Precisamos que você acredite em nós e nos encoraje em nossa recuperação. Mas se você decidiu permanecer, procure terapia se necessário e certifique-se de não perder a si mesmo no processo. Você não pode perder sua própria identidade. Você tem de vir primeiro. Porque, se você perder isso, então a pessoa com borderline não vai ter realmente um apoiador. Ela terá apenas outra pessoa em sua vida com um monte de problemas.

Se separe com amor

Alguns familiares praticam a separação com amor, um conceito promovido pela Al-Anon, uma organização para pessoas cujas vidas são afetadas por alguém que abusa do álcool. A Al-Anon desenvolveu uma lista de limites pessoais que são também apropriados para não-BPs, se você substituir “alcoolismo” por “comportamento BPD”. O texto diz, em parte:

Na Al-Anon nós aprendemos que um indivíduo não é responsável pela doença da outra pessoa ou sua recuperação disso. Nos temos de deixar nossa obscessão com o comportamento da outra pessoa e começar a liderar uma vida mais feliz e manejável, vida com dignidade e direitos. Na Al-Anon nos aprendemos que não devemos:

Sofrer devido às ações ou reações de outras pessoas. Permitir a nós mesmos ser usados ou abusados por outros pelo interesse em sua recuperação. Fazer por outros o que eles podem fazer para si mesmos. Criar uma crise. Impedir uma crise se isso está no curso natural dos eventos.

A separação não é nem bondosa nem maldosa. Isso não envolve julgar ou condenar a pessoa ou a situação que nós estamos separando. Isso é simplesmente um meio que nos permite separar a nós mesmos dos efeitos adversos que o alcoolismo [substitua por “comportamento BPD”] traz sobre nossas vidas.

A separação ajuda as famílias a olhar para sua situação de uma maneira realista e objetiva, deste modo tornando as decisões inteligentes possíveis.

Retome sua vida

Não delegue sua própria felicidade. Agarre isso agora mesmo. Existem muitas coisas que você pode fazer hoje para retomar sua vida. Tire algum tempo para refletir. Mesmo soldados em combate tem seu D e R (descanso e recuperação). Isso pode lembrar tanto você como a pessoa com BPD que vocês são

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dois indivíduos separados. O BP irá aprender que ele pode sobreviver a uma separação temporária e que você continuará se importando com ele quando retornar. Encorajar o retiro na verdade edifica o relacionamento. Também, não tente ser o terapeuta pessoal. Esse não é seu papel. Se a pessoa com BPD deseja esse tipo de ajuda, sugira que ela procure um profissional em saúde mental. Se você não tem mais contato com o BP, não passe horas o psicanalizando. Esse não é mais seu trabalho – na verdade, nunca foi.

Memorize os três Cs e os três Gs:

Eu não causei isso.Eu não posso controlar isso.Eu não posso curar isso.Desça das costas dele. (Get off their back)Saia do seu caminho. (Get out of their way)Entenda-se com a sua vida. (Get on with your own life)

Seja bom consigo mesmo. Visite uma galeria de arte, compre uma trufa de chocolate escandalosamente cara, ou faça uma massagem. Fique menos isolado. Procure amigos e familiares. Perceba que ninguém – doente ou saudável – pode satisfazer totalmente suas próprias necessidades. Se você deixou suas amizades vacilar, as resgate. E quando você sair, não gaste todo o seu tempo falando sobre a pessoa com BPD. Veja um filme. Experimente uma comida nova. Relaxe e se sinta bem consigo mesmo! Divirta-se. O mundo não irá parar se você tirar algum tempo para si. De fato, você será capaz de voltar revigorado e com uma perspectiva mais ampla. Se você estiver comendo ou bebendo muito ou se ocupando com outros hábitos destrutivos, pare. Procure ajuda profissional se precisar. Mantenha expectativas realistas. O comportamento borderline levou anos para se desenvolver; ele está enraizado. Não espere milagres. Comemore pequenos passos na direção certa e aprecia as coisas que você gosta na pessoa com BPD.

Tanya (não-BP)

Isso ajuda a lembrar a mim mesma que eu não posso concertar tudo. Nesse respeito não há muito que eu possa fazer. Eu continuo lembrando a mim mesma que estar em uma situação onde eu me sinta indefesa não significa que eu seja defeituosa.

Meu terapeuta me disse para não sentir culpa por cuidar de mim mesma. Vou tirar algum tempo para realmente sentir que tudo está bem. Eu sei que preciso chorar. Eu sei que tenho que tratar dos meus próprios sentimentos. Mas às vezes eu desejo ter minha vida de volta por um curto período de tempo.

Eleve sua identidade e auto-estima

Se a pessoa em sua vida o culpa e critica, sua auto-estima pode estar na sarjeta. Se você já tinha baixa auto-estima, a situação pode ser crítica. Alguns não-BPs com quem conversamos – especialmente filhos adultos de Borderline – deixaram outros tirar vantagem deles porque eles sentiam que não mereciam nada melhor. Eles permaneceram em situações abusivas ou despropositalmente sabotaram a si mesmos, como que confirmando a baixa opinião do BP sobre seu valor. Muitas pessoas com BPD são capazes de dar apoio a seus filhos e outras pessoas em sua vida. Mas algumas não. Se o relacionamento com o BP está danificando seu auto-valor, de passos imediatos para reparar isso. Não dependa da pessoa com BPD para confirmar ou validar seu valor, porque ela talvez não seja capaz disso. Não é que ela não se importe com você – é que apenas agora seus próprios problemas podem estar entrando no caminho. O capítulo 6 irá discutir as questões de ajustar limites e reagir à raiva, culpa e críticas. Leia isso cuidadosamente e pratique as técnicas de comunicação com um amigo antes de usa-las em uma situação de vida real. Você não deve escutar ninguém que diga que você é uma pessoa terrível. Você tem uma escolha. Faça coisas pelas quais você se sinta orgulhoso. Dedique-se a um novo hobby. Faça serviço voluntário ou se torne politicamente envolvido em algo maior que você. Esforce-se pelo sucesso na escola ou no trabalho. Não se deixe à deriva. Tenha alvos razoáveis e trabalhe em prol deles. Recompense a si mesmo por cada pequeno movimento na direção certa. Finalmente, procure terapia para tratar do stress de viver com alguém que tenha BPD. Numa pesquisa que realizamos com não-BPs, 75 por cento deles disseram que tinham procurado terapia para si mesmos.

Tome a responsabilidade pelo seu próprio comportamento

Você talvez se sinta como um jornal amassado dentro de um tornado, fustigado pelos caprichos da pessoa com BPD em sua vida. Mas você tem mais controle sobre o relacionamento do que provavelmente imagina. Você tem o poder sobre suas próprias ações. E você controla suas próprias reações ao incômodo comportamento BPD. Uma vez que você entenda a si mesmo e as decisões que fez no passado, será fácil fazer novas decisões que com o tempo serão mais saudáveis para você e para o relacionamento.

Suzan Forward (1997) discute como mesmo a evitação é uma ação adquirida:

Todo dia, nós ensinamos as pessoas a como nos tratar por mostrar o que iremos e o que não iremos aceitar, o que nós nos recusamos a confrontar e o que deixamos passar. Nós talvez acreditemos que podemos fazer o comportamento incômodo de outra pessoa desaparecer se não criarmos caso. Mas a mensagem que mandamos é: “Isso funciona. Faça novamente”.

Alguns não-BPs acham esse passo de admitir sua própria responsabilidade difícil porque eles escutam a voz do BP em suas cabeças dizendo: “Viu, tudo é sua culpa. Eu disse que tem alguma coisa errada com você”. Para esses não-BPs, tomar esse passo é quase parecido a concordar com as críticas do BP. Se isso acontece com você, silencie essas vozes agora mesmo. Nós não estamos sugerindo que você provoque

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ou cause o comportamento da pessoa – em vez disso, estamos propondo que você talvez esteja inconscientemente dando permissão ao BP de repetir comportamentos que tem funcionado no passado. Também, quando ouvir a voz acusadora do BP em sua cabeça, considere se você possa estar praticando o splitting – comprando a crença de que um de vocês precisa ser “errado” ou “mau” e o outro é “inocente” e “perfeito”. Lembre-se, no capítulo 4 nós explicamos que o splitting e outros comportamentos BPD podem ser “contagiosos”.

Considere como o relacionamento satisfaz suas necessidades

Em nossa entrevista com Howard I. Weinberg, Ph.D, ele disse: “Se você se importa com alguém com BPD, lembre-se de que você não escolheu o borderline porque estava doente. Você escolheu essa pessoa porque ela era importante para você”. Você não estaria lendo esse livro se o seu relacionamento fosse completamente negativo. Você apenas sairia dele. Então alguma coisa no relacionamento pode estar satisfazendo suas necessidades. A seguir estão algumas razões conscientes e inconscientes de alguns não-BPs adultos entrarem e permanecerem em relacionamentos com adultos BPs – mesmo quando isso causa um grande sofrimento. Essas razões podem variar dependendo se você está num relacionamento eleito (amigo, namorado, cônjuge) ou em um relacionamento não eleito (parente) com a pessoa com BPD. Muitas pessoas permanecem em relacionamentos com borderlines porque essa pessoa com BPD é incrivelmente interessante, atraente, inteligente, charmosa, divertida, espirituosa e sedutora. Uma mulher disse que quando ela conheceu seu namorado borderline, ela sentiu como se estivesse conhecendo um membro de sua própria espécie pela primeira vez.

Diane (BP)

Eu posso entender porque os não-BPs se ocupam em discussões a respeito das patologias, das brigas e das coisas más que os borderlines fazem. Um BP tem a capacidade de destruir a si mesmo e qualquer um perto dele. É saudável descarregar essa dor.

Mas às vezes, no andamento de livros, discussões e terminologias clinicas, essas razões de porque você começou o relacionamento se perdem. Você não se apaixonou pelo borderline porque tinha uma ânsia de ser destruído. Você se apaixonou porque existiam boas qualidades naquela pessoa. E essas boas qualidades são apenas características da pessoa assim como as más qualidades.

Quando as más qualidades destrutivas começam a se manifestar, você lida com isso por dizer a si mesmo que no fim as boas qualidades vão substituir as más. Bem, talvez elas irão, talvez não. Os não-BPs não são masoquistas, eles são otimistas – o que será ou não comprovado. É difícil desistir desse otimismo e deixar um relacionamento que é tão bom por outro lado.

Pare de dar desculpas e negar a gravidade da situação

Permanecer otimista é essencial. E é verdade que todo mundo tem boas e más qualidades. Mas o otimismo precisa ser temperado com uma visão realista da situação e uma avaliação da probabilidade de mudança. A namorada de Kevin, Judy, era brilhante, talentosa e muito atraente. E melhor que tudo isso, ela o amava. Então Kevin fez vista grossa para o comportamento que deveria ter sido examinado melhor. Por exemplo, um dia Judy apareceu no seu lugar de trabalho e começou a gritar com ele na frente do seu chefe e colegas de trabalho. Vários dias depois, ele ainda não conseguia imaginar porque ela tinha ficado zangada. Judy também comprou impulsivamente itens luxuosos como vasos de cristal e roupas da moda, mesmo estando na assistência publica e vivendo com Kevin e seu filho de nove anos num apartamento infestado de baratas. Ela deixava seu filho sozinho em casa para ir fazer compras. Cada vez que Judy e Kevin tinham um desacordo ela o expulsava do apartamento e destruía alguns de seus pertences. Isso se tornou tão rotineiro que ele começou a deixar seus pertences mais valiosos com seus pais. Quando os amigos de Kevin tentavam convence-lo de que o comportamento de Judy não era normal, Kevin apenas encolhia seus ombros e dizia: “Oh bem, ninguém é perfeito. Todo relacionamento tem problemas”. Kevin está usando a negação como um meio de manter o relacionamento e lidar com seus próprios sentimentos dolorosos. Até esse ponto, Kevin provavelmente fará qualquer coisa para evitar um conflito no relacionamento. Contudo, essa negação de problemas apenas capacita e reforça o comportamento negativo de Judy. Kevin precisará do apoio e da perspectiva de seus amigos para começar a enfocar esses problemas e enfocar a razão de ele permitir que Judy o trate tão mal. Kevin irá também precisar enfocar porque esse relacionamento com Judy é tão importante ao ponto de ele permitir que ela o trate tão mal.

Entendendo os efeitos do reforço intermitente

Digamos que você tenha um rato em uma caixa com uma alavanca. Você ensinou o rato a pressionar a alavanca. A cada quinta vez que a alavanca é pressionada, ele é recompensado com alguma comida. O rato rapidamente aprende a pressionar a alavanca cinco vezes para que possa reinvindicar sua recompensa. Mas se você parar de dar comida para o rato, ele rapidamente irá abandonar o exercício e voltará a fazer as coisas que os ratos fazem. Agora digamos que você intermitentemente reforça o rato com comida; isto é, você varia o horário da recompensa. Algumas vezes você recompensa o rato depois de duas pressionadas. Outras vezes você espera até a qüinquagésima pressionada. Você alterna o reforço de modo que ele nunca saiba quando esperar pela comida. Então, mais uma vez, você tira todas as bolinhas de comida. Mas o rato continua pressionando a alavanca. Ele a pressiona trinta vezes. Nada de comida. Ele pressiona mais um pouco. Ele pensa: “talvez o humano está esperando pela nonagésima nona pressionada dessa vez”. Quando um comportamento é intermitentemente reforçado, extinguir o comportamento leva muito mais tempo depois que a recompensa foi removida. O reforço intermitente pode funcionar de duas maneiras. Você é intermitentemente reforçado quando o BP está de bom humor. Você não pode predizer quando isso ocorrerá de novo – mas você sabe que pode ser logo. O BP pode também ser intermitentemente reforçado quando você ocasionalmente cede às suas exigências enquanto eles agem para fora ou para dentro.

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Molly diz: “Eu estou sendo surpreendido agora mesmo pelo comportamento charmoso de Sondra. Eu estou pensando: ‘Ah! Essa é a pessoa que eu costumava conhecer’. Meu pensamento lógico me diz para não me reconciliar com ela. Mas minhas emoções estão dizendo outra coisa”. Se você se sente “viciado” no BP apesar de ele lhe tratar duramente, considere se o reforço intermitente está fazendo parte do relacionamento.

Reconheça o estímulo do passeio de montanha-russa

Muitas pessoas dizem que quando as coisas estão boas, elas estão boas mesmo. A bajulação, atenção e obsessão são muito estimulantes para o ego. Se sentir tão importante para alguém pode ser muito excitante e empolgante. O estímulo pode ser reconhecido imediatemente, especialmente se o não-BP não estivesse em posição de ser um “ídolo” antes. O não-BP pode também começar a olhar para o estímulo – esperando a bajulação e atenção. E, depois de um tempo, quando a bajulação começa gradualmente a se desvanecer, o não-BP irá sentir falta disso e tentará conseguir que o BP o idolatre novamente. A lei do reforço intermitente aplica-se aqui novamente, uma vez que o BP talvez intermitentemente ocupe-se com a obsessão e a bajulação durante todo o relacionamento. Isso por sua vez reforça o compromisso do não-BP ao relacionamento.

Jim (não-BP)

Eu achei a obsessão inicial de minha esposa por mim muito agradável. Quero dizer, eu nunca achei que era merecedor desse tipo de atenção. Minha ex-mulher não prestava muita atenção em mim. Mas ela me adorava. É mais fácil se sentir bem consigo mesmo quando se está rodeado por alguém que o idolatra.

Mas nosso relacionamento era como um vício. Eu continuava voltando por mais, apesar de estar cheio de auto-desprezo e mesmo uma sutil vergonha: “eu me odeio por te amar”.

Eu a via como uma charmosa pessoa malévola que alimentava minhas fantasias desesperadas; somente semi-desacreditando sua bajulação, eu me orgulhava sobre a luz intensa e inesperada de sua atenção completa e deslumbrante. Então começávamos nosso relacionamento de montanha russa; vivendo vicariosamente através das sublimes e atordoantes alturas, eu era sacudido pelas descidas repentinas e desesperadoras, pelos ziguezagues, pelos loops de ponta cabeça, pelas paradas atordoantes, e depois, a ausência, o silêncio, a vulgaridade até o fim.

Pare de tentar resolver problemas de infância por meio de relacionamentos

Em nossa entrevista com Paul Hannig, Ph.D., ele disse (para todos os não-BPs), “se você se encontra envolvido com um BP, você pode apostar que tem negócios inacabados com um pai”. Filhos adultos de borderlines conseguiram agradar a seus pais poucas vezes na vida. Então eles se expões a seus pais idosos, às vezes agüentando abuso emocional, e tentando repetidamente fazer alguma coisa que irá agradar seus pais novamente. Às vezes, no esforço de (ou em adição a) tentar agradar o pai, o filhos adulto do BP escolhe uma parceira BPD que age como seu pai. Isso é uma tentativa inconsciente de duplicar a experiência a fim de resolver negócios inacabados com o pai. Infelizmente, o filho adulto geralmente se sente preso e abusado do mesmo jeito que eles se sentiam quando eram crianças. O restabelecimento do relacionamento paterno por meio do parceiro BP é um processo inconsciente. O típico trajeto para esse comportamento é a necessidade de ganhar um senso de controle ou o domínio da situação. Isso ocorre muito frequentemente com pessoas que foram fisicamente ou sexualmente abusadas. Eles essencialmente se colocam em posição de restabelecer o abuso num esforço de encontrar uma solução ou reação melhor ao abuso. O mantra “se eu tivesse feito algo diferente” geralmente é a base para o restabelecimento. Contudo, é difícil reconhecer isso porque é um processo inconsciente. São geralmente irmãos apoiadores, membros da família, amigos ou terapeutas que sugerem o restabelecimento como uma razão para o relacionamento problemático. Ficar na defensiva e negar são as típicas primeiras reações a esta sugestão. Contudo, com apoio e assistência, os não-BPs talvez comecem a aceitar essa possibilidade e explorar seu relacionamento tanto com seu parceiro como com seus pais.

Tome decisões para si mesmo

O conhecimento de que você tem a autoridade para fazer suas próprias decisões é o primeiro passo para fazer novas escolhas e mudar sua vida para melhor. Alguns não-BPs acham que são indefesos em seus relacionamentos quando, na verdade, eles estão se sentindo assustados. Medo e ansiedade não são a mesma coisa que ser indefeso. Os não-BPs estão tipicamente com medo de que seus esforços em ajustar limites e mudar serão recebidos com ódio e fúria. Portanto, num esforço de evitar as reações negativas do BP, os não-BPs irão se expor como “indefesos”. Além disso, a crença de que você é indefeso pode também servir ao propósito de livrar a si mesmo de qualquer responsabilidade de fazer mudanças ou de gerar uma vida melhor para si. Você talvez ache que se for “indefeso” isso significa que você é uma “vítima” – uma pessoa que os outros não podem culpar pela sua situação. Você precisa entender que você tem o poder de mudar seus relacionamentos e sua vida, mas isso provavelmente é assustador de início. A alternativa é viver uma vida bastante infeliz e insatisfatória em que o medo dita suas escolhas e seus relacionamentos.

Aqui estão duas questões que podem lhe ajudar a tomar os primeiros passos para mudar:

Você espera que as mudanças no relacionamento sejam de responsabilidade única do BP em sua vida?

Se você têm um papel de vítima no relacionamento, recebe alguma atenção especial de outros por isso?

Acredite que você não merece ser tratado mal

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Você às vezes acha que estar num relacionamento emocionalmente abusivo é melhor do que não estar em nenhum relacionamento? Pode ser que algumas vezes pareça ser mais fácil ser magoado do que ficar sozinho, mas com o tempo relacionamentos abusivos podem fazer com que você perca a si mesmo, o que é a solidão máxima. Pessoas com problemas de auto-estima são muito vulneráveis às acusações e críticas. Elas chegam a acreditar que merecem esse tratamento. Acham que se forem embora, ninguém vai querê-las. Mesmo pessoas emocionalmente saudáveis podem começar a questionar seu próprio valor.

Alex (não-BP)

Eu tive que examinar porque eu passei anos em relacionamentos abusivos. Eu tive que vencer meus medos, minhas vozes que diziam “você não merece ser feliz” e minha tendência de espancar a mim mesmo. Eu tive que aprender que eu era merecedor de estar em relacionamentos com pessoas que eram boas para mim e que me amavam genuinamente pelo que eu era – sem me colocar num pedestal nem me lançar na sarjeta.

John (não-BP)

Eu percebi que uma das maiores razões pela qual eu estava envolvido e permanecendo nesse relacionamento por tanto tempo era que eu achava que merecia esse tipo de dor e angústia. Isso era inconsciente, mas eu achava que merecia esse tipo de tratamento e encontrava uma mulher que me dava isso para reforçar minha falta de valor. Agora eu estou trabalhando nisso e não quero ficar atraído por uma mulher assim no futuro. Dois furacões já são o suficiente.

Todas a pessoas, não somente não-BPs, tem o direito a relacionamentos saudáveis. Contudo, depois de meses ou anos agüentando excessiva crítica, acusação e fúria borderline, a maioria dos não-BPs talvez comecem a questionar se eles merecem ter um relacionamento saudável. Você acredita que tem os seguintes direitos?

Se sentir respeitado como pessoa Ter as suas necessidades físicas e emocionais satisfeitas Ser estimado e não rejeitado Se comunicar eficazmente com seu parceiro Ter sua privacidade respeitada Não lutar constantemente por controle Se sentir bem a respeito de si mesmo e seu relacionamento De confiar, aprovar e apoiar um ao outro De crescer dentro e fora do relacionamento De ter suas próprias opiniões e pensamentos De tanto permanecer como deixar o relacionamento

Como você talvez saiba, os direitos não são nem respeitados nem reconhecidos a menos que alguém os defenda. Então pergunte a si mesmo, você está pronto para defender seus direitos?

Enfrente seus próprios problemas de carência

A perita em co-dependência Melody Beattie (1987) desenvolveu uma lista de questões para pessoas que sentem como se precisassem salvar outros. Parafraseadas, elas incluem:

1. Você se sente responsável pelos pensamentos, ações e sentimentos de outros?2. Quando alguém lhe fala a respeito de um problema que tem, você sente que é seu dever

soluciona-lo?3. Você engole sua raiva a fim de evitar um conflito?4. Você acha que receber é mais difícil do que dar?5. Por algum motivo você parece gostar mais da vida durante crises interpessoais? Você têm

evitado escolher parceiros cujas vidas parecem ser muito tranqüilas porque você se tornou entediado?6. As pessoas lhe dizem que você é um santo por estar suportando algo ou alguém? Faz parte

de você gostar disso?7. É mais tentador se concentrar nos problemas dos outros do que solucionar as dificuldades

na sua própria vida?

Examine suas crenças a respeito de casamento e família

Muitos não-BPs permanecem em relacionamentos abusivos porque eles acreditam que o casamento é um compromisso para a vida toda ou porque eles não querem que seus filhos tenham pais divorciados. Contudo, cônjuges que tomam essa posição geralmente tem que agüentar o comportamento mais extremo da pessoa com BPD. O cônjuge borderline talvez perceba que não importa como aja, a outra pessoa irá permanecer no relacionamento. Com nenhuma conseqüência real para seu comportamento, a pessoa com BPD talvez aja para fora de maneiras que a maioria das pessoas acharia intolerável. Por exemplo, uma mulher trouxe para casa parceiros sexuais extra-maritais enquanto seu marido estava em outro aposento da casa. Os não-BPs que são casados e tem filhos com um borderline abusivo dizem que eles se sentem como se estivessem numa situação de não-vitória. Se eles permanecem, serão abusados fisicamente ou emocionalmente, mas pelo menos conseguirão proteger seus filhos de qualquer comportamento prejudicial. Se eles abandonam o casamento, temem que seu parceiro irá conseguir a custódia e tentará impedir seu relacionamento com os filhos – ou pior, que na sua ausência, ele irá agir para fora afetando as crianças mais severamente. Se essa é a sua situação, pergunte a si mesmo se a outra pessoa está atualmente agindo de maneira abusiva para com as crianças. Se estão, então a crise já é uma emergência. Procure assistência de profissionais de saúde mental, agentes de serviço social e a execução da lei se precisar. A prioridade número um neste momento tem que ser a proteção das crianças apesar do efeito no relacionamento

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marital. Se não, o BP está realmente dando a você uma boa razão para acreditar que isso possa mesmo acontecer?

Focalize seus próprios problemas

Algumas pessoas acham que tentar mudar alguém é mais fácil do que mudar a si mesmas e que focalizar os problemas de outros ajuda a evitar seus próprios problemas. Você tem uma percepção firme de quem você é à parte da pessoa com BPD? Você está onde queria estar nesse ponto de sua vida? Existe alguma coisa em sua vida que você está evitando que na verdade deve ser examinado para ver se não esta se concentrando em seu relacionamento com o BP? Quanto tempo você passa se preocupando com esse relacionamento e o que você faria com esse tempo se a vida com essa pessoa fosse perfeita?

Nina (não-BP)

Devido a meus namorados serem tão obviamente fora da linha, eu tendia a fazer vista grossa para meu proprio comportamento. Então eu aprendi que minha responsabilidade era admitir imediatamente quando eu errava, ser honesta e aberta – mesmo diante das acusações e fúrias do BPD. Depois de uma ano maciço de terapia e doze passos completados, eu percebi que os problemas que eu enfrentava com parceiros borderlines eram versões aumentadas dos problemas que eu tinha comigo mesma.

Eu também era hipercrítica. Eu também tinha a tendência de acusar e evitar responsabilidade. Eu estava fora de alcance com meus verdadeiros sentimentos. Eu tinha um monte de vergonha acumulada. Eu tinha problemas para confiar em outros e me comunicar honestamente. Eu era a mestre em guardar rancor.

Era chocante perceber que meus comportamentos eram tão tortuosos e fora de controle. Eu continuei achando que isso era apenas aqueles homens loucos em minha vida e que se eles somente mudassem tudo iria ficar bem. Foi uma realização dolorosa acordar um dia e perceber que eu não era uma santa mártir pela causa do BPD e que não existiam medalhas que seriam distribuídas para sobreviventes entusiasmados como eu!

Para onde ir a partir daqui

Pergunte a si mesmo:

Como eu acabei nessa situação? O que eu aprendi sobre mim mesmo? Que escolhas eu fiz no passado, e elas são as melhores para mim agora? O que esta me impedindo de me levantar? O que eu posso fazer a respeito disso? Pelo que eu sou responsável nesse relacionamento? O que eu posso fazer a respeito disso?

Note que não estamos culpando você pelo que lhe aconteceu no passado ou pelas escolhas que fez. Nós simplesmente estamos ressaltando que somente você – não o BP, seu terapeuta, seus amigos, nem este livro – pode resolver esses problemas por você. Isso é na verdade com você. Muitos não-BPs introspectivos acham que o que eles descobriram a respeito de si mesmos foi valioso:

Alex (não-BP)

Esse foi o maior presente por estar próximo de alguém com BPD. Eu pude ver a mim mesmo e como eu interajo com outros. Tão dolorosos como estes relacionamentos são, eu precisei deles a fim de me tornar a pessoa que eu sou hoje.

Marilyn (não-BP)

Minha graça salvadora é que fui capaz de mudar de uma pessoa que vivia sua vida inconscientemente para uma pessoa que agora vive uma vida consciente. Alguns dizem que viver não vale pena. Eu sou feliz de dizer que minha vida vale muito a pena!

Russel (não-BP)

O que realmente ajuda é ver as situações como oportunidades de crescimento e educação pessoal. Ao invéz de ver cada conflito e tribulação como uma crise de proporções insolucionáveis, eu reconheço que sou o único como o problema – eu detesto o comportamento dessa pessoa – e eu estou aberto para aprender mais a respeito de mim mesmo. Isso se torna mais a respeito de minhas escolhas do que a respeito de minha impotência. E eu consigo aprender muito de minhas escolhas.

Neste capítulo, nós exploramos maneiras de lidar melhor com o comportamento BPD, simplesmente por fazer mudanças consigo mesmo: aceitar que você não pode fazer o BP procurar tratamento, não levar as ações do BP para o lado pessoal, cuidar de si mesmo e tomar responsabilidade pelo seu próprio comportamento. A seguir, iremos examinar como começar a mudar a maneira que você interage como o BP em sua vida.

Compreendendo sua situação: ajustando limites e desenvolvendo habilidades

Não é grande coisa o que eles dizemÉ apenas o tipo de loucura com que você está acostumadoMas para onde você fugirá quando o medo entrar em seus sonhosComo você medirá o peso dessas coisas? - Carrie Newcomer, “A loucura com que você está acostumado” de O Filho Único de Meu Pai

Identificando gatilhos para intensas reações emocionais47

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Quando você ou o BP tem uma reação intensa com alguma coisa, há grandes chances de que um de seus gatilhos ou “botões quentes” foram pressionados. Botões quentes ou gatilhos são ressentimentos acumulados, desgostos, inseguranças, fúrias e medos que doem quando tocados e causam respostas emocionais automáticas. Por identificar ações, palavras ou eventos específicos que parecem engatilhar reações emocionais – tanto em você quanto no BP em sua vida – essas reações podem ser mais fáceis de prever. Assim elas se tornam mais manejáveis.

Mantendo-se informado

Muitos familiares acham que manter um registro diário do comportamento da pessoa que amam os ajuda a entender e despersonalizar as ações dela. Pais de filhos borderlines, especialmente, acham que as gravações são extremamente úteis em ajudar a obter um diagnóstico e tratamento corretos para seu filho. Se você simplesmente observar o BP ou anotar seus estados de humor e comportamentos, sua intenção não será fazer julgamentos, mas parar de reagir ao comportamento de uma maneira emocional e começar a aprender disso. Se parece haver pouca relação entre suas ações e aquelas da pessoa com BPD, você verá mais claramente que o comportamento da pessoa não é a seu respeito. Se parece que algo externo ao BP está engatilhando o comportamento, dê um passo atrás e veja se consegue imaginar o que está acontecendo. Que fatores podem estar envolvidos, como o humor geral da pessoa, as condições do dia, a presença ou abstência de álcool, o meio ambiente imediato, e assim por diante? Se você conseguir encontrar padrões no comportamento da pessoa, ela pode se tornar mais previsível. O comportamento que é previsível é mais fácil de manejar.

Portia (não-BP)

Sandy e eu éramos pais de uma possível criança borderline. Nós na verdade usamos uma planilha para fazer um gráfico do comportamento e estado de humor de nosso filho. A escala variava de -10, para extremo desespero, até +10, para extremo otimismo. O zero indicava um humor neutro. O terapeuta de nosso filho foi movido pela nossa documentação e isso se tornou parte de seu gráfico. Isso também os ajudou a determinar se nosso filho tinha BPD ou transtorno bipolar.

Henry (não-BP)

Eu nunca fiz um diário, mas num período de dez anos, eu percebi que o humor de Bárbara ocorria em ciclos que pareciam se repetir a cada seis semanas. Isso funcionava mais ou menos assim:

1. fúria explosiva e violenta que durava de dez minutos à várias horas. 2. silêncio que durava de dois à cinco dias. 3. comportamento amigável, alegre e afetuoso que durava de três à quatro dias. (Quando as coisas

iam bem, Bárbara pedia desculpas e até mesmo me pedia para descobrir o que poderia estar causando seu “comportamento louco”).

4. uma longa deterioração que durava de quatro a dez semanas. Durante esse período, Bárbara se tornava cada vez mais crítica, condenativa e irritadiça. Ela negava seus anteriores comentários cheios de desculpas. Finalmente, ela tinha uma explosão de raiva e o ciclo se repetia novamente.

Uma vez eu eu reconheci os padrões, eu sabia o que esperar. Isso tornou as coisas mais manejáveis para mim.

Gatilhos do BP

Certos problemas parecem ser gatilhos para pessoas com BPD. Embora seja importante para você saber quais são, pode ser impossível e desaconselhável evitar todos eles. As ações da pessoa com BPD continuam sendo responsabilidade dela, não sua. (No capítulo 7 iremos mostrar como ter esses gatilhos em mente quando você se comunica como o BP em sua vida). Segue-se uma argumentação de gatilhos comuns de pessoas com BPD.

Sentir que outros são imprevisíveis

Ironicamente, embora elas pareçam agir imprevisivelmente, as pessoas com BPD geralmente desejam que outros sejam previsíveis. Isso pode ser devido às suas dificuldades com o objeto constante (discutido no capítulo 2).

Experimentar a inconsistência de outros

Novamente, enquanto os BPs agem inconsistentemente, quanto mais consistente e previsível for o seu comportamento, mais fácil será para a pessoa com BPD lidar com seu próprio comportamento e sentimentos.

Perceber abandono

Às vezes é fácil antecipar quando a pessoa com BPD poderá se sentir abandonada. Mas como você tem visto, esse gatilho é tão sensível que até mesmo a coisa mais delicada – ou mesmo coisa alguma – pode fazer o alarme emocional do BP disparar. Olhar para a situação da perspectiva dela em vez da sua própria pode ajuda-lo a enxergar quando o medo de abandono está fazendo parte da reação da pessoa.

Se sentir invalidado

Uma resposta invalidativa é algo que nega os sentimentos, pensamentos e comportamentos da pessoa, tais como: “Você não deveria se sentir desse jeito” ou “Você está exagerando”. Naturalmente, às vezes pode parecer que a pessoa com BPD não deveria se sentir ou agir daquela maneira ou que está

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exagerando. Assim o desafio é procurar pela intenção ou sentimento escondido na resposta do borderline (mais sobre como fazer isso será considerado no capítulo 7). Quando um BP se sente invalidado, o não-BP pode pedir para que o BP esclareça isso para que o não-BP possa entender melhor o que ele está sentindo. Aceitar alguma responsabilidade por não entender tudo é usualmente uma maneira segura de começar (por exemplo: “Me desculpe, eu provavelmente não entendi direito o que você queria dizer quando disse [fez, expressou] aquilo. Pode me dizer mais sobre isso?”) É difícil saber o que fazer quando um BP se sente invalidado. Mesmo dizer “eu sei como você se sente” pode deixar alguém com BPD furioso porque isso significa que seus sentimentos são idênticos aos dele. As chances são que, à menos que tenha BPD, você não entenda realmente como ele se sente, não mais do que eles conseguem entender o que é estar na sua posição.

Receber critica

Isso pode ser uma critica real (por exemplo: “eu gostaria que você não me ligasse tanto no trabalho”) ou uma critica percebida (por exemplo, você está calado e o BP pensa: “ele deve estar zangado comigo – o que foi que eu fiz?”). De qualquer modo, se sentir criticado pode engatilhar intensas reações emocionais.

Estar em situações onde outros são o foco das atenções

Alguns BPs tem dificuldades durante celebrações familiares onde todas as atenções estão focadas em outra pessoa. Esses BPs podem tentar puxar a atenção de volta para si por agir para dentro ou agir para fora. Vários não-BPs nos disseram que quando eles estão passando por uma crise – uma morte na família, por exemplo – o BP em sua vida fica furioso com eles e os acusa de serem muito carentes e manipulativos.

Ter qualquer reação atribuída ao BPD

Os BPs que aceitam seu diagnóstico BPD podem ser engatilhados quando as pessoas atribuem tudo o que eles fazem ao BPD. Como um BP disse: “As pessoas com BPD se sentem furiosas, deprimidas e amedrontadas pelas mesmas razões que todo mundo. Nossa carteira foi roubada. Tivemos um dia péssimo no trabalho. Estamos preocupados com um gato doente. Sim, às vezes somos muito sensíveis. Às vezes enxergamos muito através das coisas. Mas não jogue a culpa de tudo no BPD. Isso rouba nosso direito de sermos humanos”.

Ser rotulado e estigmatizado

Nós temos discutido o quão difícil é para alguém com BPD procurar tratamento. Nós recomendamos que você nunca use o BPD como uma arma contra a outra pessoa no calor de uma discussão, tal como: “Você não está fazendo sentido algum, isso é apenas o BPD falando!” Pense no seguinte, você gritaria para uma pessoa amada com medo de altura, “apenas pare de reclamar e ande através dessa ponte suspensa”? Depois, num momento calmo, você pode discutir (de uma maneira carinhosa em vez de acusativa) se o BPD contribuiu ou não para a reação da pessoa.

Wendy (BP)

Às vezes eu ficava furiosa por ter de lutar contra esse demônio (BPD). Ninguém gosta de um borderline. A sociedade não gosta. Os psicanalistas não gostam. Nós somos caóticos, agressivos, manipulativos e furiosos para o mundo. Mas olhe para dentro da alma de um borderline (se você consegue chegar lá) e irá encontrar algo muito diferente. Medo. Desespero. Abandono. Incrível sensibilidade.

Majilda (BP)

Já é difícil o bastante admitir que você sofre de depressão. As pessoas tendem a olhar com desprezo para você depois de uma revelação, como se esperassem que você fosse dar o bote com a arma carregada mais próxima. Então tente explicar o BPD a alguém. Você poderia muito bem tatuar uma suástica na testa e começar a gritar “confusão”.

Ser dito para “sair dessa”

Embora o comportamento BPD possa ser aliviado com ajuda profissional, isso não é algo que vai embora rapidamente ou facilmente. Pedir ao BP que apenas aja diferente é como pedir a um diabético que apenas produza mais insulina.

Jacob (BP)

Muitas vezes eu acho que minha família e amigos continuam não entendendo que alguma coisa errada está acontecendo dentro do meu cérebro. Eles parecem achar que eu ajo desse modo por vontade própria e que consigo mudar meu estado de humor a esmo. Eles continuam me dizendo para experimentar um remédio natural ou para me controlar ou apenas não pensar de certo modo, e eles não entendem o quão difícil é alterar isso depois de anos e anos de pensamento confuso.

Gatilhos do não-BP

Muitos não-BPs nos disseram que a pessoa com BPD em suas vidas parecia estar consciente dos gatilhos dos não-BPs. Quando o BP se sentia ameaçado, ele conscientemente ou inconscientemente protegia a si mesmo de sentimentos dolorosos de maneiras que pressionavam esses botões. Por exemplo, uma não-BP tinha uma auto-estima muito baixa. Ela não tinha namorado muito, e ela e seu marido borderline se casaram durante a escola secundária. O casamento era muito difícil porque seu

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marido era emocionalmente abusivo. Sempre que ela falava de partir, contudo, ele dizia a ela que ninguém iria quere-la e que ela nunca iria ser capaz de se sustentar porque não era inteligente ou talentosa o suficiente para encontrar um bom emprego. Algumas das coisas que o BP em sua vida diz ou faz podem ferir muito. Outras talvez não o preocupem. Em vez de apenas reagir, observe suas próprias respostas e as examine. A critica é verdadeira, ou tem um grão de verdade? Lembre-se, você não tem que aceitar ou rejeitar a declaração em sua totalidade. Considere o splitting (pensamento preto-e-branco), generalizações exageradas (“você sempre” ou “você nunca”) e associações ilógicas (“você não vai me levar à festa porque você me odeia”). Conforme o tempo passa, certos botões são pressionados tantas vezes que mesmo o mais delicado toque se torna doloroso. Habituais botões quentes para não-BPs incluem:

Ser acusado injustamente pelo BP Ter suas necessidades, sentimentos e reações ignoradas ou negadas pelo BP Ser muito adorado ou admirado pelo BP (porque isso pode ser um passo que antecede a

desvalorização e a critica) Outras situações e condições que usualmente precedem brigas ou comportamentos de agir

para fora (por exemplo, uma mulher começava a tramer sempre que o telefone tocava porque ela estava com medo de que fosse sua mãe borderline).

MEC – medo, obrigação, culpa

Suzan Forward (1997) acredita que os traços que tornam as pessoas vulneráveis à chantagem emocional incluem medo, obrigação e culpa – MEC para abreviar. O MEC obscurece suas escolhas e limita suas opções àquelas que o chantagista escolhe para você.

Medo: você talvez tema perder algo: amor, dinheiro, condição de vida, acesso à seus filhos ou o relacionamento em si. Você pode estar com medo de sua própria raiva ou de perder controle de suas próprias emoções.

Obrigação: Forward diz: “A recordação, conforme empregado pelo chantagista, se torna o canal obrigatório, com replays contínuos do generoso comportamento do chantagista sobre nós. Quando nosso senso de obrigação é mais forte do que nosso senso de auto-respeito e cuidado, a pessoa rapidamente aprende a como tirar vantagem”.

Culpa: quando nossas atividades normais engatilham o BP, eles jogam o jogo “Rótulo, você é isso” discutido no capitulo 3 e transferem a responsabilidade por seus sentimentos descontrolados para você. Eles talvez lhe acusem não apenas de desvios de comportamento mas de agir desse modo para deliberadamente os machucar. Ao invés de questionar essas suposições, você talvez reaja por sentir culpa.

Estratégias de defesa

Apenas ficar atento aos gatilhos pode tornar o comportamento borderline mais fácil de lidar. Outras estratégias incluem:

Trabalhar seu próprio eu. Por exemplo, a mulher com baixa auto-estima poderia procurar um terapeuta e explorar porque ela desvaloriza tanto a si mesma. Ou ela poderia fazer uma faculdade para melhorar suas habilidades profissionais ou tentar um emprego melhor. Desse modo, ela estaria em melhores condições de despersonalizar e desviar a critica do BP.

Checar a realidade com outros. Se o BP em sua vida o acusa de estar sendo ingrato ou inepto, ou de estar tendo outras qualidades negativas, pergunte a amigos se eles acreditam existir alguma verdade no que o BP está dizendo.

Minimizar sua exposição a situações que engatilham você. Você tem to direito de cuidar de si mesmo.

Minimizar qualquer reação visível. Se o BP sabe que pressionar o botão está tendo o efeito desejado – consciente ou inconscientemente – as chances são que o comportamento será repetido.

Perceber que você não pode controlar o que uma pessoa escolhe pensar. Você não pode agradar a todos – menos ainda alguém que está projetando sua própria infelicidade em você. Pare de tomar responsabilidade pelo mundo interno do BP e comece a tomar responsabilidade pelo seu próprio.

Determine seus limites pessoais

Os limites pessoais, ou fronteiras, lhe dizem onde você termina e onde outros começam. Os limites definem quem você é, o que você acredita, como você trata outras pessoas e como deixa que outros o tratem. Como a casca de um ovo, os limites lhe dão forma e o protegem. Como as regras de um jogo, eles trazem ordem para sua vida e lhe ajudam a tomar decisões que o beneficiem. Limites saudáveis são um tanto flexíveis, como uma peça leve de plástico. Você pode curva-lo e ele não quebra. Quando seus limites são muito flexíveis, contudo, as violações e intromissões de outros podem ocorrer. Você talvez empregue os sentimentos e responsabilidades de outros e perca de vista as suas próprias. Por outro lado, quando seus limites são muito inflexíveis, as pessoas talvez o vejam como frio e distante. Isso é porque limites inflexíveis podem agir como uma defesa – não apenas de outros, mas também de seus próprios sentimentos. Portanto, você pode ter dificuldades em sentir tristeza, raiva ou outras emoções negativas. A felicidade e outras emoções positivas podem também às vezes ser além de sua compreensão. Você talvez se sinta desconectado de outros e de suas próprias experiências.

Elena (BP)

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Eu me sentia como se estivesse vivendo dentro de um castelo com muros enormes e uma ponte elevadiça bem fechada. Lá fora, muitas pessoas estão fazendo uma festa no gramado. Mas eu não consigo ouvir o que dizem e não consigo usufruir da festa com eles, embora parte de mim queira isso. Então eu fico parada na janela olhando para fora.

Melody Beattie (1987) acredita que ajustar limites não é um processo isolado. Ela escreve:

Ajustar fronteiras diz respeito a aprender a cuidar de nós mesmos, não importa o que aconteça, para onde vamos ou com quem estamos. As fronteiras estão enraizadas em nossas crenças sobre o que merecemos e o que não merecemos. As fronteiras se originam de um profundo senso de nossos direitos pessoais – especialmente o direito que temos de ser nós mesmos. As fronteiras emergem conforme aprendemos a ouvir, valorizar e confiar em nós mesmos. As fronteiras naturalmente fluem de nossa convicção de que o que queremos, precisamos, gostamos e não gostamos é importante.

Os limites pessoais não dizem respeito a controlar ou mudar o comportamento de outra pessoa. De fato, eles não tem nada a ver com outras pessoas. Eles tem a ver com você, e o que precisa para cuidar de si mesmo. Por exemplo, você talvez não seja capaz de impedir que parentes intrometidos lhe perguntem repetidamente quando planeja começar uma família. Mas você pode controlar se vai ou não responder a essas perguntas e quanto tempo passará com essas pessoas. Às vezes você pode escolher fazer vista grossa a seus limites pessoais. Por exemplo, imagine que seu pai idoso escorregue em uma passarela congelada e pergunte se ele pode morar com você e sua família até que se recupere de seus ferimentos. Porque você ama seu pai, você diz sim – mesmo que valorize sua privacidade. A chave aqui é que você sabe que tem uma escolha. É como a diferença entre dar um presente a alguém e ser roubado.

Limites físicos

Limites físicos saudáveis o protegem de intromissões indesejáveis. Se alguém fica muito próximo de você em um elevador, você se afasta. Se seu parceiro quer fazer sexo e você não, você tem o direito de dizer não. Se você quer ficar sozinho, pode ir até outro quarto e trancar a porta. Muitas pessoas com BPD tiveram suas fronteiras físicas violentamente violadas (muitas vezes de maneira repetida) através de abuso físico ou sexual. Contudo, as violações de fronteiras físicas podem também ser tão sutil como um toque sugestivo no ombro de fonte inapropriada. O contexto também importa. Um beijo apaixonado de alguém amado pode ser apropriado em casa, mas está fora das fronteiras no lugar de trabalho. Ou, esse mesmo beijo pode ser maravilhoso depois de um “Eu te amo”, mas desconsiderado depois de uma discussão. Os limites físicos podem também ser violados devido à longa distância. Toque e afeição física são esperados em alguns relacionamentos, e problemas podem se desenvolver se eles forem privados (ou inexistentes). A seguir temos exemplos de como pessoas com bons limites físicos agem de maneiras que respeitam seus próprios pensamentos e sentimentos:

O marido de Pat, Bob, perdeu todo o interesse por sexo, toque e abraços. Ela não sabe porque. Em vez de cismar com isso, no entanto, ela se aproxima de Bob de uma maneira não ameaçadora e começa a discutir o assunto.

A amiga de Sandy, Bárbara, ganhou um novo emprego fantástico. Bárbara fica tão emocionada que ela agarra Sandy e lhe dá um grande abraço. Sandy é pega de surpresa pelo entusiasmo de Bárbara, mas gosta da felicidade de sua amiga – e do abraço. Ela até mesmo decide dar a Bárbara um abraço de vez em quando.

Limites emocionais

Os limites emocionais são as fronteiras invisíveis que separam os seus sentimentos dos sentimentos de outros. Essas fronteiras não apenas marcam onde seus sentimentos terminam e os dos outros começam mas também ajudam a proteger seus sentimentos quando você se sente vulnerável e fornece a outros acesso a seus sentimentos quando você está se sentindo íntimo e seguro com eles. Pessoas com limites emocionais saudáveis entendem e respeitam seus próprios pensamentos e sentimentos. Em resumo, elas respeitam a si mesmas e sua própria singularidade. Anne Katherine (1993) diz: “O direito de dizer ‘não’ fortalece as fronteiras emocionais. Produz assim a liberdade de dizer ‘sim’, o respeito pelos sentimentos, a aceitação das diferenças e a liberdade de expressão.”Seguem-se exemplos de como pessoas com bons limites emocionais agem de uma maneira que respeita seus próprios pensamentos e sentimentos:

Martha (BP) e Tom, que estão tendo dificuldades no casamento, tem uma filha de dezesseis anos de idade, Tanya. Numa tarde, Martha e Tanya estavam caminhando quando Martha começou a divulgar detalhes sobre seus problemas maritais para Tanya. A adolescente imediatamente pediu que sua mãe contasse isso a uma amiga ao invés dela, dizendo que ela preferia não saber os detalhes pessoais.

Dan acreditava que seu pai tinha Transtorno de Personalidade Borderline. Seu irmão mais novo, Randy, discordava. Dan já não via seu pai por um ano, enquanto Randy jantava com ele uma vez por semana. Dan e Randy se sentiam livres para discutir suas opiniões a respeito de seu pai embora tivessem pontos de vista diferentes. E ambos gostavam de seu relacionamento de irmãos, percebendo que isto está separado de seus relacionamentos com o pai.

Os benefícios dos limites pessoais

Os limites podem ser difíceis de ajustar e manter, mas existem incentivos valiosos para que se faça isso.

Os limites o ajudam a definir quem você é

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Page 52: BORDERLINE (Stop Walking on Eggshells)

Os limites e a luta por identidade estão firmemente entrelaçados. Pessoas com poucos limites geralmente possuem um desenvolvimento baixo de seu senso de identidade. Pessoas com limites escassos ou inexistentes podem ter dificuldades em distinguir entre suas próprias opiniões e sentimentos e aqueles que pertencem a outros. Elas tambem tendem a confundir seus problemas e responsabilidades com aqueles de outros. Deixadas com uma identidade incerta, elas geralmente assumem a identidade de alguém ou se identificam com apenas um papel familiar (ex. mãe, executiva ou mesmo borderline). As pessoas com limites bem desenvolvidos, por outro lado, distinguem apropriadamente a si mesmos dos outros. Elas conseguem identificar e tomar responsabilidade por seus próprios sentimentos, opiniões e valores e os vêem como partes importantes de quem são. Adicionalmente, as pessoas com limites saudáveis tem respeito pelas opiniões e sentimentos das outras pessoas – mesmo quando estas são diferentes. Elas entendem que os valores e opiniões da outra pessoa são igualmente importantes em definir quem elas são.

Os limites trazem ordem à sua vida

Se você está sempre sob a fantasia dos desejos de alguém, sua vida pode girar fora de controle. As pessoas com BPD tendem a mudar as regras, agir impulsivamente e exigir atenção na hora em que elas querem, não os outros. Os limites podem ajuda-lo a lidar com esses comportamentos para que você não se sinta como um fantoche num cordão. Os limites podem também ajuda-lo a clarear seus relacionamentos com outros. Se você é um gerente e alguém que você supervisiona entra em seu escritório e começa a discutir seus problemas maritais ou financeiros, as fronteiras e regras começam a diminuir. O que era puramente um relacionamento profissional se tornou pessoal. Enquanto uma amizade com um subordinado pode ser gratificante, também pode ser potencialmente perigosa. O que acontecerá ao relacionamento se o desempenho do seu subordinado no trabalho se deteriorar e você precisar discipliná-lo? Ajustar limites à tempo pode ajuda-lo a evitar problemas futuros.

Os limites lhe ajudam a se sentir seguro

Pessoas que não tem limites estão sempre

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