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N°24 - Ano VII - Trimestre: Julho/Agosto/Setembro - 2010 - R$ 1,00 24 3 editorial / 4 situação nacional / 6 regionais / 7 internacional Código Florestal As enchentes no nordeste Pg.04 Pg.06 Resistência ao narco-Estado colombiano e o imperialismo. ZONA DE CONSENSO Para além da concorrência eleitoral, Dilma e Serra são partidários do lucro dos bancos e do sistema financeiro. pg. 05 Pg.07 O novo código florestal que está sendo empurrado no Congresso nacional por uma aliança inusitada do PC do B e da CNA, o sindica- to das oligarquias rurais, para o de- leite e as ganâncias do agronegócio. Veja os dois lados nessa disputa. Depois da indústria da seca, o es- quema que desviava verbas para o socorro do povo do nordeste, foi inventada a das cheias. As enchen- tes foram transformadas em opor- tunidade para negócios e multipli- cação de dividendos eleitorais. Contra a direita, as oligarquias e a colaboração de classes governista um programa de soluções para os trabalhadores e o povo só pode vencer fora das urnas. pg.03, 05 e 06 CONSTRUIR UM POVO FORTE! Tão logo assumiu o novo presidente colombiano, Juan Manuel Santos, e a Venezuela se lançou entusiasmadamente a restabelecer relações diplomáticas, pouco se atentou ao fato de Santos ser a continuidade do projeto urubista. Esse vai e vem nas relações entre ambos os países tem deixado as atitudes da Venezuela como uma resposta muito mais midiática do que política às conspirações vindas em conjunto por parte de Bogotá-Washington para desestabilizar o país.

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N°24 - Ano VII - Trimestre: Julho/Agosto/Setembro - 2010 - R$ 1,00

24

3 editorial / 4 situação nacional / 6 regionais / 7 internacional

Código Florestal

As enchentes nonordeste

Pg.04

Pg.06

Resistência ao narco-Estado colombiano e o imperialismo.

ZONA DE CONSENSOPara além da concorrência eleitoral,Dilma e Serra são partidários do lucrodos bancos e do sistema financeiro. pg. 05

Pg.07

O novo código florestal que estásendo empurrado no Congressonacional por uma aliança inusitadado PC do B e da CNA, o sindica-to das oligarquias rurais, para o de-leite e as ganâncias do agronegócio.Veja os dois lados nessa disputa.

Depois da indústria da seca, o es-quema que desviava verbas para osocorro do povo do nordeste, foiinventada a das cheias. As enchen-tes foram transformadas em opor-tunidade para negócios e multipli-cação de dividendos eleitorais.

Contra a direita, as oligarquias e a colaboração de classesgovernista um programa de soluções para ostrabalhadores e o povo só pode vencer fora das urnas.

pg.03, 05 e 06

CONSTRUIR UM POVO FORTE!

Tão logo assumiu o novo presidentecolombiano, Juan Manuel Santos, e aVenezuela se lançou entusiasmadamentea restabelecer relações diplomáticas,pouco se atentou ao fato de Santos ser acontinuidade do projeto urubista. Esse vai

e vem nas relações entre ambos os paísestem deixado as atitudes da Venezuelacomo uma resposta muito mais midiáticado que política às conspirações vindas emconjunto por parte de Bogotá-Washingtonpara desestabilizar o país.

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Quemsomos nós?O Fórum do AnarquismoOrganizado (FAO) é umainstância criada em 2001 para odebate e coordenação de grupose organizações anarquistasentorno de um projeto militantepara a realidade brasileira.A Carta de Intenções, oselementos de análise e acordopolítico dos encontros nacionaisconstituem seu pactoassociativo.

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SocialismoLibertárioórgão do anarquismoorganizadoÉ um periódico nacionalcoeditado pelos grupos aderidosao FAO e seus colaboradores.Todos os artigos são de suaresponsabilidade, salvo osassinados por colaboradores oureproduzidos de outros lugarespara informação e debate.

Outrasreferências:anarkismo.netnestormakhno.infonodo50.org/fauelaopa.orgeditorafaisca.netanarquismosp.orgpassapalavra.info

m u r a l Libertário

Georges Fontenis,PRESENTE!

Nova publicação para mov. sociais

Faleceu no dia 9 de agosto, na cidadede Tours, interior da França, GeorgesFontenis, aos 94 anos. Fontenis foi umhistórico militante do anarco-comunismo (corrente que na Europatem fortes semelhanças com o nossoespecifismo latino-americano) naFrança. Muito próximo dos militantesexilados da CNT-FAI, Fontenis teveuma grande participação dentro domovimento sindical na causaanticolonialista, prestandosolidariedade à luta pela libertação daArgélia, além de ter sido um dosprotagonistas dos episódios do Maio de68 na cidade de Tours. Participou dafundação de diversas organizaçõesespecíficas anarquistas, entre elas aUnião de Trabalhadores ComunistasLibertários. Até seus últimos dias devida esteve vinculado à AlternativeLibertaire, organização anarquista comimportante presença no movimentosindical francês e integrante doconselho editorial de Anarkismo.net.Fontenis também nos deixou umaconsiderável obra teórica, comdestaque ao seu texto “ManifestoComunista Libertário”, que hoje é umadas muitas de nossas referências nodebate em busca de um anarquismoorganizado politicamente e cominserção nas lutas dos oprimidos.

Deixamos aqui nossa singelahomenagem a essa importante figurado anarquismo.

2009-2010Não esquecemos Elton Brum.

Não perdoamos seus assassinosNa sexta-feira 20 de agosto o centenas de manifestantes

do MST lembraram Elton Brum, o companheiroassassinado pelas forças policiais a mando do governo doEstado, com uma ocupação do Incra em Porto Alegre. A

ação teve a solidariedade de sindicatos,Movimento dos Trabalhadores Desempregados,

Resistência Popular, movimento Negro.Em 21 de agosto faz um ano de crime do estado contra o

trabalhador que fazia a luta pela terra em São Gabriel.

outracampanhabrasil.blogspot.com [email protected]

Outra campanha, para convocar a luta ea organização popular, não para pedirvotos, é o trabalho que nos mobiliza parafazer política. Porque a política não éassunto só para especialistas ourepresentantes. Porque a política é aarticulação do povo organizado e a criaçãode outra estrutura de exercício do poder.Porque os direitos se conquistam na basee na rua.

Outra campanha para lutar por umprograma de emergência que atenda asnecessidades do povo e enfrente osproblemas sociais mais graves dosbrasileiros e brasileiras. Para recuperar adignidade do que sofre na vida o preço dapromessa não cumprida, pois somente aação direta dos de baixo contra os queoprimem é capaz de fazer JUSTIÇA.

Outra campanha para construir um povoforte, para organizar os desorganizados,para unir os movimentos populares quelutam, para fazer política com as própriasmãos com independência do governo, dopartido e do patrão, pela decisão dasassembléias e da luta popular em unidade.Outra campanha para dar voz a quemnão é deixado falar, para construirparticipação popular onde o poder fazexclusão, para criar capacidade políticapelos lugares de trabalho, estudo, moradia,pela cultura e os meios de comunicaçãolivres e comunitários.Outra campanha para construir o poderdo povo, o Poder Popular, para acumularforças com democracia de base e tomar apolítica de volta; arrancando a legitimidadedas garras dos corruptos, das oligarquiase dos grupos dominantes do poder.

O Movimento dos TrabalhadoresDesempregados – RJ “MTD Pela Base”em conjunto com a Universidade Popularlançou recentemente a cartilha“Capitalismo, Anticapitalismo eOrganização Popular”.

A cartilha faz parte da coleção“cadernos sociais” e aborda diversostemas, desde a estrutura do sistemacapitalista aos possíveis caminhos deorganização popular. Com uma linguagemdidática, acessível e recheada de desenhos,a cartilha sistematiza alguns temas semdeixar de aprofundá-los e é uma ótimaopção aos movimentos sociais e grupos quese preocupam com a auto-formação deseus/suas militantes.

A cartilha pode ser adquirida pelosite da editora Faísca:

www.editorafaisca.net

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Editorial

Em tempo de eleições...Em tempo de eleições...Em tempo de eleições...Em tempo de eleições...Em tempo de eleições...AAAAA

GT NACIONAL FAO

Especial

FFFFFGeorges Fontenis

edição 24 do SocialismoLibertário aparece em meio às

disputas eleitorais. O país, a partir doEstado e seus partidos políticos, da mídiae setores da chamada “sociedade civilorganizada”, convoca a população paravotar.

Se eles não cansam de clamar apopulação a votar, nós também nãocansamos de dizer que nas eleições muitacoisa está em jogo, menos a que é maiscara aos anarquistas: o poder do povopara decidir e construir o seu destino. Masisso não significa que somos alheios àdisputa eleitoral, aos passos dasrepresentações do inimigo de classe enem nos furtamos do debate com ostrabalhadores.

Programas iguais, discursos iguais

O sistema brasileiro é“democrático e pluripartidário”, mas adobradinha de PT e PSDB já dura 16 anose irá se repetir. E esta dobradinha, comum no apoio do outro, reforçou e armouainda mais nossos inimigos de classe. OPSDB, com Fernando Henrique,“mostrou” ao PT qual modelo econômicoseguir, qual o caminho dagovernabilidade, garantindo “crescimentoe estabilidade econômica”.

A equação tem um resultado jáconhecido: o povo continuou na sua crisediária, oprimido pelo enriquecimento debanqueiros, pelo avanço do agronegócioe pelas privatizações de setores-chave.Com Lula da Silva, não foi à toa que oBanco Central tem o tucano HenriqueMeirelles à sua presidência.

Mas o Governo Lula, além demanter a fórmula econômica, agregouuma política social que vem garantindo

seus altos índices de popularidade. Osmaiores da história, diga-se de passagem.A sua história de vida e a base social deseu partido foram também fundamentais

para que Lula tenha se tornado maior queo próprio PT.

Fazendo escola, essa linha deconduta está claramente traçada naestratégia eleitoral de José Serra, quealém de se abster de atacar Lula, jáiniciou seu programa eleitoral dizendo queagora “sai o Silva e entra o Zé”, sepreocupando também em mostrar que éuma pessoa de origem humilde. É tambémbatendo no mesmo ponto que MarinaSilva vai tentar ganhar voto.

Crescimento econômico susten-tável com desenvolvimento social é afórmula da moda e a síntese do“programa” dos três candidatos

preferidos da mídia, diferenciando apenasna ênfase dada a cada ponto. E essa é alinguagem atual do capitalismo queprocura ganhar um rosto humano. Foraisso, o diferencial de cada, e é o que vaidecidir as eleições, fica por conta dacapacidade de cada um em mobilizarrecursos (materiais e simbólicos) ecosturar as alianças, principalmente comos grandes grupos econômicos e asoligarquias. Nessas condições, osoprimidos de norte a sul do país estão foradesse debate e o voto é quase que apenasuma homologação do que é desenhadonos bastidores.

A mudança que queremos seprocessa fora das urnas

As várias “alternativas eleitorais”à esquerda que se lançam na disputa nãose cristalizam e, pra nós, não possuemqualquer capacidade de operar asmudanças, vendendo apenas ilusões, poisas saídas para conquistar as urgências dopovo não vêm das urnas. A nossaalternativa, a qual abraçamos e militamos,é a luta de cada dia, construindo um projetode longo prazo e trabalhando, nas basesdos movimentos e tendências; não parapedir votos, mas para criar povo forte eabrir, na luta, os cenários de mudanças.

É com este norte que atuamosem tempos de eleições, continuando afazer o que é feito nos anos não-eleitoraise por isso nossa militância social se vêinserida na construção d’A OutraCampanha. As energias do povo nãopodem ser dissipadas numa urna, mas simpotencializadas onde ele se reconhece, nobairro, na vila, na escola, no trabalho. Nosreclamos e na organização de suas lutascom independência de classe.

“(...) os oprimidos denorte a sul do país estãofora desse debate e ovoto é quase umahomologação do que édesenhado nos bas-tidores.”

oi no século XIX, quando o capitalismo sedesenvolvia e as primeiras grandes lutas da

classe operária tinham lugar- e para ser maisprecisos, foi no seio da Primeira Internacional (1864-1871)- que uma doutrina social chamada “socialismorevolucionário” (em oposição ao socialismo legalista,estatista ou reformista) apareceu. Também eraconhecida como “socialismo anti-autoritário” ou“coletivismo”, e mais tarde como “anarquismo”,“comunismo anárquico” ou “comunismo libertário”.

Esta doutrina, ou teoria, aparece como reação

dos trabalhadores socialistas organizados. Está, emtodo caso, ligada a una progressiva agudização da lutade classes. É um produto histórico que se origina decertas condições na história, à raiz do desenvolvimentoda sociedade de classes (...).

O papel dos fundadores da doutrina,principalmente de Bakunin, foi expressar a verdadeiraaspiração das massas, suas reações e experiências, enão criar artificialmente uma teoria, confiando em umaanálise puramente ideal e abstrata ou em teoriasanteriores. Bakunin - e com ele James Guillaume,depois Kropotkin, Reclus, J. Grave, Malatesta e outros- começaram a observar a situação das associaçõesde operários e os movimentos de camponeses, e comose organizavam e lutavam.O programa

Como o anarquismo é uma doutrina social, sefaz conhecido graças a um conjunto de análises eproposições que expõem metas e tarefas, em outraspalavras, através de um programa. E é este programaque constitui a plataforma comum a todos os militantesna organização anarquista. Sem esta plataforma, aúnica cooperação que poderia haver estaria baseadaem desejos sentimentais, vagos e confusos, e nãohaveria uma unidade real de perspectivas.

É neste sentido que o programa não é umconjunto de aspectos secundários que agrupam aquem pensa de modo semelhante, senão que é umcorpo de análise e propostas que somente é adotadopor quem acredita nele e decide difundir este trabalho

e transformá-lo em realidade.O drama é que muitas organizações

reclamam ser as verdadeiras representantes daclasse trabalhadora - organizações socialistasreformistas e comunistas autoritárias, tanto comoorganizações anarquistas. Só a experiência poderesolver a matéria, pode definir de formaconclusiva qual é a correta.As massas e a minoria ativa

Há uma ideia que postula a iniciativaespontânea das massas como suficientepossibilidade revolucionária.

É certo que a história nos ensina que emdeterminados eventos podem ser vistos avançosespontâneos das massas, e estes eventos sãovaliosíssimos, pois mostram as habilidades erecursos das massas. Mas isso não nos leva a umconceito generalizador da espontaneidade - issoseria fatalista.

Em oposição a isto, encontramos uma ideiapuramente voluntarista que entrega a iniciativarevolucionária somente a organização devanguarda. Tal ideia leva a uma avaliaçãopessimista do rol das massas, a um ressentimentoaristocrático (...) Esta ideia contém, de fato, ogerme da contra-revolução estatista e burocrática.

Igualmente afastados do espontaneísmo, doempirismo e voluntarismo, reforçamos anecessidade de uma organização revolucionáriaanarquista.

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çsituacão nacional

nal

4.PERIÓDICO SOCIALISMO LIBERTÁRIO

Novas dores da mesma doença.“Vossa excelência defende o comunismo. Eu sou de outro espectro político, defendo o capitalismo, mas tenho que reconhecer que fez um bom trabalho.”Luiz Carlos Heinze (PP/RS), expoente da bancada ruralista em célebre frase de louvor ao texto base do deputado Aldo Rebello (PC do B) momentos apóssua aprovação.“A recuperação ambiental é uma piada de mau gosto ao Brasil!”.Moreira Mendes (PPS/RO)

Código Florestal

o dia 6 de julho de 2010 a ofensivado Estado e da burguesia rural

brasileira aprovou em comissão especialpor 13 votos a 5 o documento que propõeas modificações no código florestal (Lei4.771/65), necessárias ao avanço doagronegócio no país. De maneira geral, otexto apóia-se no mesmo argumentocentral da Revolução Verde1: “Protegerrecursos naturais é contrário aodesenvolvimento nacional”, pressupostoque de forma alguma é oriundo darealidade camponesa que historicamentevem trabalhando com agrobiodiversidade,mas sim da ganância dos latifundiários emultinacionais que degradam a saúde detoda a população mundial.

O atual Código Florestal foiformulado em 1965, após décadas dediscussões e modificações no primeirodocumento que data de 1934. O caráterdeste instrumento é regular por meio delei as intervenções em áreas florestais erespectivas influências naturais diretas eindiretas das florestas em territórionacional. Obviamente desde sua criaçãoé instrumento de disputa entre o interessedo povo que sobrevive da terra e omodelo rural agroexportador de grandesempresas e governo. Do lado doscamponeses estão os movimentos sociaisorganizados como a Via Campesina, e dolado dos patrões rurais estão a CNA(Confederação Nacional de Agricultura)e FPA (Frente Parlamentar daAgropecuária). Mas afinal o que queremambos os lados e quais são as propostasde modificação neste instrumento queregula a utilização de nossas florestas?

Começando pelo lado sombrio dosrepresentantes do agronegócio, vejaabaixo de maneira resumida2 algumas dasaprovações da bancada ruralista quemodificarão o código florestal caso sejamaprovadas no Senado:

· Anistia de multas oriundas dedesmatamento ou da nãopreservação de áreas de ReservaLegal3 para quem regularizarsuas terras;

· Pequenas propriedades, com atéquatro módulos rurais, não serãoobrigadas a fazer arecomposição das áreas jádesmatadas de sua reserva legal.Nas áreas maiores, arecomposição florestal tem que

ser feita em áreas do mesmobioma e no prazo de 20 anos.

· Possibilidade de recomposição deAPP (Área de PreservaçãoPermanente) e Reserva Legalcom espécies exóticas (comoDendezeiro, para biodiesel,Eucalipto, Pinus e Acácia Negra)em qualquer parte do territórionacional;

· Redução das áreas de APP;· Garantia de autonomia estatal

para flexibilizar a legislaçãoambiental a favor de interesseseconômicos locais;

· Diminuição de 50% da faixaobrigatória de proteção davegetação ao redor de corposd’água, as matas ciliares.

Em resumo, as proposições atuamno sentido de lubrificar os motores domaquinário capital que cada vez maisavança sobre a natureza e a populaçãotrabalhadora do campo consolidando osmeios em que o agronegócio se aprofundanos solos brasileiros.

Entretanto, do outro lado desta luta,as propostas dos movimentos sociaistornam-se mais sólidas e coerentes coma vida e a soberania alimentar dos povos,apontando as atrocidades contidas nestainvestida do capitalismo. Abaixo seguemapenas algumas reivindicaçõesrelacionadas ao código florestal oriundas

das vozes dos camponeses que compõema Via Campesina, o que nos possibilitaestabelecer um panorama das reaisnecessidades dos que trabalham dia a diana terra:

· Interromper a devastaçãoflorestal imediatamente e criarcondições e prazos compatíveispara a adequação eregularização dos que estão emdesconformidade com o Código,pois a maioria foi induzida a estadesconformidade por políticasdo próprio Estado, vide o PACe as políticas de colonização nadécada de 60;

· Um programa amplo comcréditos para reflorestar;constituir agroflorestas, sistemasagroflorestais e agrosilvipastorispara as pequenas propriedadesou posse rural familiar;

· Recursos não retornáveis paraacompanhamento técnico eassistência técnica nascomunidades camponesas efamiliares e para coleta desementes e construções deviveiros de mudas em todo oterritório nacional;

· Criação de um fundo nacionalde adaptação às mudançasclimáticas com imposto sobregrandes fortunas, indústriaspoluentes e eletrointensivas,empresas acumuladoras de lixo,sobre produção e consumo deprodutos petrolíferos ecarboníferos, sobre a indústria docimento, empresas do

agronegócio, etc... Este fundofinanciaria o pagamento porserviços ambientais naspequenas propriedades e oscustos da adequação daagricultura familiar às exigênciasambientais.

Concluindo, afirmamos que éabsurdamente falsa a prerrogativa de quea manutenção de áreas em equilíbrioecológico e de práticas camponesasagroecológicas são empecilhos aodesenvolvimento. Ao contrário, são estasreivindicações populares as verdadeirasações responsáveis pelo desenvolvimentode uma sociedade harmoniosa,entendendo que somente as vozes detrabalhadores e trabalhadoras ruraisorganizados possuem a mais perfeitaexpressão dos rumos políticos da terra,pois estão inteiramente conectados aosrecursos naturais para a sobrevivência desuas famílias, ao contrário de quem ostraça apenas com objetivos econômicos.

Desta forma, enquanto após aaprovação deste texto base os ruralistasao som do hino nacional gritavam osnomes infames “Aldo! Aldo! Aldo!”,seguido por “Micheletto! Micheletto!”4 e“Colatto! Colato!”5, o grito dos excluídosfoi e sempre será: BASTA!!

Notas:1- Processo de modernização daagricultura responsável pela degradaçãodos solos oriunda da utilização deagrotóxicos e maquinário pesado, peloêxodo rural e intensificação dos latifúndiosmonocultores.

2- Veja com detalhes as propostas demodificações em: http://www.mst.org.br/node/9406

3 - A Reserva Legal (RL) é umaexperiência única no mundo. Pelo fatodas florestas e as demais formas devegetação serem um bem de toda asociedade brasileira, a propriedadeprivada de uma terra não pode ter totaldireito sobre a natureza. Assim, aReserva Legal é um direito da sociedadebrasileira, maior que o da propriedadeprivada. Fonte: Cartilha Código Florestal- Associação Brasileira de Estudantes deEngenharia Florestal.

4 - Moacir Micheletto (PMDB-PR).Presidente da comissão especial.

5- Valdir Colatto (PMDB-SC). Ex-presidente da Frente Parlamentar doAgronegócio.

PC do B e CNA unidos pelo novo código florestal que quer o agronegócio.

NNNNN

“as proposições atuam no sentido de lubrificar osmotores do maquinário capital que cada vez maisavança sobre a natureza e a populaçãotrabalhadora do campo”

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ç.5PERIÓDICO SOCIALISMO LIBERTÁRIO

situacão nacional

A zona de consenso de Dilma e Serra.A opção preferencial pelos bancos e o sistema financeiro não vai ser modificada na disputa dosprincipais candidatos.

comum ouvirmos da crítica deesquerda que existem zonas de

consenso entre as campanhas e propostasdas coligações encabeçadas, respecti-vamente, por Dilma Rousseff – MichelTemer (PT-PMDB-PC do B-PSB e o PPsem muita intensidade) e a de José Serra– Índio da Costa (PSDB-DEM-PPS-PTB e fragmentos de outras legendas).De forma sintética e didática, poderíamosdefinir ao menos três zonas da políticaonde ambas as candidaturas são quase omesmo. Estas são: - o leque de aliançaspara consolidar maioria e governabilidadea qualquer custo (literalmente!); - a opçãopelo endividamento público como modelode financiamento do Estado no curtoprazo; - e, a permissão do aumento dapresença das forças de mercado pordentro do aparelho de Estado, levando,

obviamente, à perda de direitos e do poderde compra do salário.

Como o primeiro e o últimoconsenso são mais fáceis de seremcompreendidos, vamos prestar maisatenção na política econômica comum,através da assim chamada: opçãopreferencial pelos Bancos e o SistemaFinanceiro. Isto implica em ter, porexemplo, um banqueiro tucano (Mr.Henrique Meirelles) no comando doBanco Central por oito anos. Meirellesfoi o Pedro Malan de Lula. E, assim comona composição de maioria, fez mais emelhor para o sistema financeiro comoum todo e os bancos em particular. Osnúmeros oficiais são de arrepiar. OProduto Interno Brasileiro (PIB, umíndice contestável, mas aplicado peladireita econômica) totalizou em 2009 R$

arte de um reconhecimento queexistem mudanças marginais,

variáveis dentro de uma margem seguraque coexistem com as estruturas do poderda nossa formação social.

O PT governista tirou grandesvantagens com a liderança carismáticade Lula, dos vínculos afetivos e solidáriosda sua história com a do povo brasileiro.Mas não é só isso. O modo petista ousouser uma forma superior de administração,de técnicas de poder que puderam seguiraplicando um modelo de dominação pelamobilidade social da cooptação, pelodiálogo dissuasivo, pela compensação dascarências. É um governo que leva amarca do “tá bom mas tá ruim” ou do

Um balanço crítico do projeto político do PT e do presidente Lula exige um critério de análise quenos pede para ler as singularidades, o que tem de específico, de doutrina própria, a experiência de 8anos de administração e como chefe do executivo nacional.

As marcas na política que deixam Lula e o PT governista

3,143 trilhões de reais. Já o orçamentoda União para o mesmo período, segundodados oficiais do SIAFI (SistemaIntegrado de Administração Financeirado Governo Federal) foi de R$ 1,068trilhão (ou seja, quase a metade dasriquezas do país). Deste total, 35,57%foram gastos com serviços da dívida, quesomados com o refinanciamento(rolagem), atingem 48% dos recursos

Para além do consenso bipartidário queestará posto entre Dilma e Serra, para rasgar com acrítica e independência de classe,a camisa de forçasda política burguesa, a esquerda e os movimentos daclasse oprimida devem buscar mudanças para alémdo quadro eleitoral. O “menos pior” como táticarecorrente, tem uma lógica implacável e uma produçãoideológica própria que conduzem à derrota, querebaixam as exigências programáticas e tornam aestratégia cada vez mais…conservadora. Pra mudara sociedade, alterar a estrutura social, enfrentar opoder e suas classes dominantes, os atalhos do menospior, do possibilismo, nunca conduzirão até outrasrelações de força para os oprimidos mudarem de vida.Não cremos tampouco que pedir votos, seja qual for alegenda, seja a atitude política mais adequada paraproduzir ideologia de transformação. Somos partidáriosdo poder popular, de uma construção pela base com osprocessos de luta e organização popular, de

“menos pior”, não por contingências dacorrelação de forças, mas por inflexãodefinitiva à ideologia dominante. Não

opera uma mentalidade de mudança, masde possibilismo como elite dirigente.

Não por acaso, a maior obra

do governo de Lula e do PT, para asforças dominantes no país, foi quebrarpoliticamente a unidade das lutas deresistência ao capitalismo neoliberal.Recrutando a experiência dos velhosquadros sindicais para a máquina daburocracia, fez a correia de transmissãoque criou rupturas no movimento sindical.Atochou, por exemplo, nos trabalhadoresdo setor público,uma reforma daprevidência que os governos anteriores,de outra procedência político-partidária eoutras relações com os sindicatos, nãotinham forças pra fazer. Por outra parteconseguiu adesão entre os mais pobres,resultante dos gastos assistenciais e adependência criada pelas medidaspaliativas em um povo tão carente demelhores condições de vida. Mas quemganha mesmo são os banqueiros, oagronegócio e as empreiteiras.

Um voto contra a direita ea tática do “menos pior”

mecanismos de democracia direta e federalismo, deum trabalho militante decidido a gerar capacidadespolíticas que gestam formas de autogoverno das massasem antagonismo ao poder constituído. Nem apolíticos,nem adictos das velhas estruturas de representaçãoburguesa, somos partidários de outra forma de fazerpolítica.

Em 2006 já se fez o cenário que volta agorapela agitação dos partidos governistas e a sua oposiçãoburguesa. Os órgãos de propaganda afiliados ao PT ealiados chantagearam a opinião da esquerda para seposicionar inapelavelmente com a sua política. Masagora já está descoberta a integração de Lula e do PTnas estruturas do poder e o reformismo de ontem já

era. O plebiscito sugerido entre direita e esquerda éum conto de vigário. Se o voto em Dilma Roussef, noestilo plebiscito é um voto contra a direita, como sevota contra Henrique Meireles, Hélio Costa, ReinoldStephanes, os conselhos de Delfim Neto, as oligarquiasaliadas, Odebrecht e as empreiteiras do clube do PAC,a transa do BNDES com o agronegócio, a trampafinanceira dos banqueiros, a liberdade de “empresa”dos monopólios da comunicação, etc.?

O voto contra a direita e o governismo“menos pior” que levamos pras urnas é um voto nulo.Mas a ingenuidade deve ser demitida dos nossos atos.Seja qual foro governo de turno,um programa de lutasque possa reunir o disperso e desorganizado num camposolidário em quea opressão de um é opressão de todosé uma construção estratégica.

Vem de baixo e pela ação direta popular, semcolaboracionismo de classe, a correlação de forças quepode gestar uma alternativa para os oprimidos.

públicos existentes no cofre do governocentral. A dívida neste ano de 2009, subiude R$ 1,565 trilhão para R$ 1,826 trilhão,crescendo 17% no último exercício fiscal.Para compararmos a definição deprioridades, na educação foram gastos2,88% e na Saúde 4,64%. Para 2010 asprevisões são as mesmas e ano que vem,assumindo Serra ou Dilma, neste itemnada vai se modificar.

Os banqueirosnão levamseus lucros avoto.

ÉÉÉÉÉ

PPPPP

A burocracia sindical trocou os interesses de classe pelas regalias da máquina.

Evandro Couto

BL Rocha

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r e g i o n a i sPERIÓDICO SOCIALISMO LIBERTÁRIO6.

Elton Brum, FAG e criminalização do protesto no RS

Uma situação que torna-se aindamais trágica dada a situação depobreza das cidades castigadas.Mas seriam as enchentes“desastres naturais”? E passadoa cheia, o que restará aosmilhares de pobres que ficaramapenas com a roupa do corpo?

Depois da indústria da seca,agora também a das cheias

No Nordeste, especial-mente no seu sertão, sempre seouviu falar da “indústria da seca”.Ou seja, o enriquecimento dealguns em razão da permanênciada seca da terra, se valendo dasituação para angariar recursose concentrar poder de diversasformas, inclusive com“caridade”.

O mesmo tem ocorridocom as enchentes, pois além dodesvio de recursos públicos, oumesmo de doações para usoeleitoral, as frequentes enchentesjá têm se tornado oportunidadede negócios e ainda de multi-plicação de dividendos eleitorais,visto que os governantes ficamisentos de responsabilidadequando se trata o caso como“causa natural”.

Ainda que o ocorridotenha sido acima dos “padrões”,desastres como o presenciado sótomam proporções dramáticaspor responsabilidade direta degovernantes e do Estado, tal comoa ação destruidora deempresários e grandes fazen-deiros, desmatando, assoreando

As enchentes que castigaram o Nordeste.As enchentes que castigaram o Nordeste.As enchentes que castigaram o Nordeste.As enchentes que castigaram o Nordeste.As enchentes que castigaram o Nordeste.

No fim do mês de junho os estados deAlagoas e Pernambuco sofreram com odesastre de enchentes que atingiram,principalmente, o chamado vale do Mundaúe Paraíba, deixando dezenas de cidades embaixo d’água. Muitas cidades ficaram quaseque completamente destruídas.

Coletivo Anarquista Zumbi dos Palmares

rios, construindo barragens, etc,de maneira a beneficiar antes detudo os empreendimentos einteresses de elites extrema-mente tacanhas.

Passada a cheia, vem afarra, ou a verba federal, sendoanunciada a liberação de cercade 1 bilhão e 500 milhões de reais,sendo 1 bilhão para linha decrédito a ser financiado peloBNDES. Para onde vai o grossodesse dinheiro: para o pequenoagricultor e comerciante queperdeu o pouco que tinha ou, porexemplo, para um usineiro comoJoão Lyra que teve uma usinadestruída em União dos Palmares(AL)? Não é difícil acertar comovai ficar essa equação e quais osresultados que ela gera.

Se tampouco as candidaturas para presidência da república estãorealmente debatendo projetos para a sociedade brasileira, não seriadiferente nas eleições regionais. Embora em ambas as esferas ascandidaturas, sobretudo as hegemônicas, representem, na verdade,forças sociais organizadas, e portando comprometidas com ossetores da sociedade que as sustentam, nenhum candidato debatede fato os temas mais prementes para o Brasil. No estado de SãoPaulo, temos 10 candidatos disputando o cargo para governo.Contudo, como as primeiras pesquisas de opinião têm apontado,a briga ficará entre o candidato pelo PSDB, Geraldo Alckimin, e ocandidato pelo PT, Aloízio Mercadante. O PSDB, que já governao estado há 16 anos, tem fortes chances de permanecer por maisum mandato. As outras candidaturas, principalmente as de partidosmais à esquerda que não conseguiram base social forte, como oPSOL e PSTU, terão peso eleitoral baixo. As eleições estãopraticamente decididas em favor de Alckimin, e a única possívelameaça à continuidade tucana é Mercadante.

Nas eleições de 2010, tudo indica que a tônica será o efeitoda continuidade nos cenários eleitoral nacional e estadual. Fato,em geral, esperado, pois o controle da máquina administrativa,associado à predominância de uma base aliada nas assembléiaslegislativas e prefeituras municipais, favorece as candidaturas dospartidos que estão no poder. No caso de São Paulo, centro industriale econômico do país, não seria diferente. Mas a questão, quandoo foco é São Paulo, se torna mais complexa. Apesar da popularidadedo governo Lula em todo o país, com uma margem de 82% deaprovação nacional, e da influência que o apoio do presidente tempara a decisão de eleições em outros estados, fica a pergunta: porque as duas eleições anteriores de São Paulo, e o que tudo indicaa próxima, não foram, de modo mais forte, influenciadas pelaconjuntura nacional?

Alguns analistas apontam o fato de que o desempenho daeconomia de São Paulo, na onda dos 8 anos de estabilidadeeconômica no governo Lula, contribuiu para a manutenção doPSDB no poder do estado de São Paulo. Outros lembram que, nocaso da atual eleição, a iminente derrota do PT em São Paulo eem outros estados está ligada ao fato de o próprio partidogovernista ter reduzido suas pretensões de vitórias estaduais afavor da candidatura de Dilma, com o objetivo de não competirregionalmente com aliados nacionais. Análise que em certa medidafaz sentido, se compararmos o número de estados nos quais oPT concorre este ano com as duas eleições anteriores. Em 2002o PT concorreu em 24 estados, em 2004 em 18, e em 2010concorre em apenas 10 estados. Ainda há quem diga que o eleitorbrasileiro aprendeu a diferenciar suas opções eleitorais nos níveisfederal e estadual, e que São Paulo seria um dos estados em queesse fenômeno tem se mostrado.

Afora as variáveis de uma eleição à outra, o certo é que atradição do PSDB em São Paulo foi sempre muito forte, e que ofato de representar claramente os interesses da burguesia industrialdo estado e, portanto, de uma parte importante da burguesianacional, tem sido determinante para a força histórica do PSDBno estado.

Uma correlação de forças em favor de conquistas sociaispor parte dos movimentos sociais passa, antes de mais nada, pelacapacidade de organização das massas a partir da base, sem esperarque a derrota de um candidato mais progressista signifique,necessariamente, menos poder de influência sobre os rumospolíticos. O que está na ordem do dia é o modelo de produção ereprodução que sistematicamente provoca pobreza e desigualdadesocial, e as vias eleitorais não têm se mostrado, historicamente, oprincipal caminho para a reversão desse cenário, evidenciandoque fazem parte do próprio cenário.

Por isso, os movimentos populares mais atentos ao nossotempo sabem que as urnas, muitas vezes, têm refletido de formadistorcida o que realmente está acontecendo nas ruas, e que aluta política é muito mais do que uma conquita eleitoral e aparenterepresentatividade legal.

Nossas urgências não cabem nas urnas!Por uma outra política, pela Outra Campanha!

Santana do Mundau - AL.

Federação Anarquista de São Paulo (FASP)

Eleições em São Paulo:mais do mesmo

C. Ávila também é responsável pela defesa dos 6militantes da Federação Anarquista Gaúcha que estãosendo processados pela governadora do estado doRio Grande do Sul, Yeda Crusius.

SOLI: O assassinato do Sem Terra Elton Brumcompletou um ano no dia 21 de agosto. Quais foramos desdobramentos judiciais deste caso? O Estadofoi responsabilizado?CA: Elton foi assassinado durante uma truculentaoperação de reintegração de posse efetuada pelaBrigada Militar. Foi comprovado que o disparo queo matou partiu de uma espingarda calibre dozepertencente à Brigada Militar, e que o tiro foi efetuadopelas costas da vítima, isto é, caracterizouexplicitamente um homicídio qualificado, Elton nãoteve chance de defesa. O Ministério Público ofereceudenúncia contra o policial militar que disparou o tiroincluindo as devidas qualificadoras. O juiz de SãoGabriel não aceitou as qualificadoras, entendeu setratar de homicídio simples. Estranhamente estemesmo juiz, que em 2006 atuava na comarca de Barrado Ribeiro, aceitou todas as qualificadoras que o MPentendeu atribuir naquele caso aos e às denunciadose denunciadas pela manifestação no horto florestalda Aracruz Celulose no “8 de março” daquele ano.Até pessoas que jamais estiveram em Barra do Ribeirorespondem por crime qualificado porque concederamentrevistas dizendo que apoiavam a luta das mulheres.

Voltando ao assassinato do Elton, o Tribunalde Justiça do RS reformou a decisão para que adenúncia fosse recebida em sua integralidade.

Concomitantemente a este processo que tempor réu o PM que disparou a arma, em razão de tãogritantes e inaceitáveis fatos, os quais constituematos ilícitos por parte do Estado, que resultaram namorte de um agricultor inocente, buscamos na justiça

civil a reparação dos danos materiais e moraissuportados pela família.

Muito resumidamente, podemos dizer quebuscamos indenização com base na prática de umato ilícito por parte de um servidor públicosubordinado ao Estado, que consistiu no homicídioqualificado do agricultor, considerando que o atopraticado por policial militar não se revestiu delegalidade, pois inexiste no ordenamento jurídicobrasileiro a possibilidade de um agente estatal possuiro condão de determinar a sentença de morte.

Nesta ação tivemos deferida a tutela antecipadaque minimamente garante à família uma pensão pagapelo Estado até que termine o processo e recebam adevida indenização.

Passado um ano da morte do Elton, tanto oprocesso-crime contra o policial que o assassinouquanto a ação cível reparatória contra o Estado,responsável objetivo pelo ato de seu agente,encontram-se em fase inicial.

SOLI: Que relação há entre esses acontecimentos eo processo judicial contra 6 militantes da FAG? Comoestá o andamento do processo?CA: Os seis militantes da FAG respondem a processo-crime originado por queixa da governadora Yeda queos acusa de calúnia em razão da divulgação de materialque apontava a governadora e o comandante daoperação como responsáveis pela morte de Elton. Omesmo Estado que mata quem reivindica, criminalizaquem exerce a livre manifestação do pensamento.

O processo está parado, porque pela ordemnecessária aos atos do processo na fase em que está,não pode prosseguir sem o depoimento da “vítima”,e a governadora, por razões óbvias, não quis deporneste momento, ficando seu depoimento adiado paradepois das eleições.

Jornal SOLI entrevista a advogada Cláudia Ávila dos Direitos Humanos do MST.

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i n t e r n a c i o n a l.7PERIÓDICO SOCIALISMO LIBERTÁRIO

No setor de transportesinaugurou-se o Gautrain,espécie de trem bala de luxo,enquanto a maioria dapopulação carece de meios detransporte. Em termos dehabitação, mais de 15 mil semteto e crianças de rua foramconfinadas em “abrigos”. Nacidade do Cabo tentou-se aexpulsão de 10 mil favelados,que moram às margens darodovia N2, com tráfego deturistas. Em outros lugares,populares foram despejados.A sede da FIFA foi embe-lezada, enquanto escolas emredor continuam em ruínas.

Surgiram 400 mil postosde trabalho, com empregos

África-Brasil. Quem ganha a copaÁfrica-Brasil. Quem ganha a copaÁfrica-Brasil. Quem ganha a copaÁfrica-Brasil. Quem ganha a copaÁfrica-Brasil. Quem ganha a copado mundo fora do campo.do mundo fora do campo.do mundo fora do campo.do mundo fora do campo.do mundo fora do campo.

precários, contratos porperíodo fixo, com trabalha-dores não sindicalizados erecebendo pagamentos muitoabaixo do salário mínimo.Manifestações públicas foramproibidas durante a realizaçãoda Copa, ou foram apenastoleradas para não atrair aatenção da mídia. A FIFArecebeu do governo sul-africano isenção de impostose exclusividade na venda deprodutos ligados à Copa. Asorganizações da mídiaassinaram contrato comcláusula que não permitiacrítica à FIFA. Tudo isto emnome de lucros exorbitantespara uma elite local e

internacional, que estariam naordem de 1,5 bilhões de euros.

No Brasil começa a seconfigurar quadro seme-lhante ao da África do Sulcom vistas a 2014 e àsOlimpíadas de 2016. Aevidência mais palpável de talfato é a tendência a uma“limpeza urbana” exercidapelas autoridades por meio dos“Choques de Ordem”. Esta éuma tática cujo objetivoestratégico é o de tornar o Riode Janeiro uma cidadeturística e aberta ao capitalinternacional. Ao proceder àadaptação da cidade àsexigências da FIFA, osgovernos aumentam o

ais acusações não cumprem outrafunção senão a intensificação de uma

guerra psicológica que visa desestabilizarpoliticamente o processo político que vivehoje a Venezuela, afinal de contas taisacusações ignoram a realidade cotidianada faixa de fronteira da região amazônica,onde diariamente transitam milhares depessoas entre as fronteiras de Brasil,Venezuela, Colômbia e Equador, incluindocolunas da insurgência colombiana,paramilitares deste mesmo país,quadrilhas ligadas ao narcotráfico esobretudo a população local.

Como era de se esperar, tão logoassumiu o novo presidente colombiano,Santos, e a Venezuela se lançouentusiasmadamente a restabelecerrelações diplomáticas, pouco se atentouao fato de Santos ser a continuidade doprojeto urubista. Esse vai e vem nasrelações entre ambos os países temdeixado as atitudes da Venezuela comouma resposta muito mais midiática do quepolítica às conspirações vindas emconjunto por parte de Bogotá-Washingtonpara desestabilizar o país. A cada retornonas relações presenciamos uma posturamais conciliadora com este narco-Estadocolombiano por parte da Venezuela.Chávez foi enfático ao exigir que ainsurgência se desmobilize o mais rápidopossível, alegando que esta tem sido umartifício para justificar a política demilitarização do estado colombiano.

Mas a principal questão a seanalisar não é a postura vinda do Palácio

A Copa do Mundo da África do Sul, representouum bom exemplo das farsas a que o capitalismosubmete os oprimidos. O governo daquele país

gastou o equivalente a cerca de R$ 2 bilhões sónos preparativos para a Copa. Isto em um paíscom uma taxa de desemprego de mais de 40%.

Direito de resistência ao narco-Estado colombiano e o imperialismo.

contingente da guardamunicipal e da polícia militar eelevam os salários egratificações desta última,enquanto os professoresestaduais possuem um dosmenores pisos salariais doBrasil. Instalam-se Unidadesde Polícia Pacificadoras nasfavelas, além de despejos eremoções de ocupações ecomunidades carentes. Ocorreainda a repressão aostrabalhadores informais(camelôs) e o avanço daespeculação imobiliária, com aexclusão daqueles que nãopodem pagar altos aluguéis oucomprar imóveis em áreassupervalorizadas.

Miraflores, mas a influência que estapostura tem tido em parte significativa daesquerda latino-americana. Cada vezmais se tem fortalecido a perigosaconcepção de que a insurgênciacolombiana é a verdadeira causa dapolítica de militarização, de saque,desalojamentos de povoados à força,dentre outras práticas execráveis daqueleEstado, e não um efeito destas práticasque persistem desde a formação doEstado, muito antes do surgimento dainsurgência entre os anos 1940.

Independente da existência ou nãoda insurgência colombiana, este Estadoseguirá organizado sobre as bases de umaoligarquia com profundos laços com onarcotráfico e com o paramilitarismo; umestado que historicamente se constituiu

mediante uma guerra suja contra os debaixo, vide os constantes casos deassassinatos de sindicalistas e o recenteescândalo dos falsos positivos (jovens dasperiferias colombianas assassinados peloexército e apresentados como guer-rilheiros mortos em combate).

As bases norte-americanasinstaladas neste país, por sua vez,cumprem com o claro objetivo de reforçara presença do imperialismo norte-americano em nosso continente, manobraque vem acompanhada da reabilitação daIV Frota, da ocupação militar da CostaRica e Haiti, dentre outras. A Colômbiahoje tem se prestado a cumprir a funçãoque faz o estado de Israel no OrienteMédio, ou seja, o principal escudeiro dosinteresses dos EUA na região. A

Recentemente presenciamos mais um capítulo de crisediplomática entre Venezuela e Colômbia. O estopim foram asacusações constantes, por parte do ex-presidente colombiano

insurgência colombiana é apenas um dosmuitos alvos a vista no processo demilitarização da região. O principal alvoé a quebra de um pequeno, masimportante e contundente, processo deavanço de consciência e mobilização dosde baixo no continente, que tem naVenezuela seu principal expoente.

A desmobilização da insurgênciacolombiana hoje, sem profundastransformações na estrutura socialcolombiana, seria uma grande derrotapara os de baixo em nosso continente.Em que pese nossas diferenças com estainsurgência deve ser reconhecido estefato para que se defenda o direito àresistência!

Tempos difíceis se aproximam paraa América Latina; se não houver umaatitude firme por parte dos setorespopulares organizados corremos sériorisco de cair em um “carnaval da reação”.A derrota da interferência imperialista emnosso continente e do narco-Estadocolombiano não virá com adesmobilização e desmoralização dainsurgência, tampouco a partir deformalismos jurídicos e apelos àresistência civil. Virá a partir de um amploprocesso de avanço das lutas sociais nocontinente, de uma mudança nacorrelação de forças que seja favorávelàs lutas populares. Seguir defendendo odireito à resistência por parte dos povosé um primeiro passo que temos de darpara vencer esta batalha.

Álvaro Uribe, de que o governo de Hugo Chávez abriga em territóriovenezuelano, mais especificamente na faixa de fronteira,guerrilheiros das FARC e ELN.

África do Sul e o golpe da máfia da bola.

TTTTT

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á no seu tempo, soube localizarcriticamente limites einsuficiências no pensamento

libertário e formular conceitos de políticaque hoje fazem parte das preocupaçõesda busca militante por ferramentasteóricas de renovação.

“A política é cálculo e criaçãode forças que realizam a aproximaçãoda realidade ao sistema ideal,mediante fórmulas de agitação, depolarização e de sistematização quesejam agitadoras, atraentes e lógicasnum dado momento social e político.Um anarquismo atualizado, conscientedas suas próprias forças decombatividade e de construção, e dasforças adversas, romântico nocoração e realista no cérebro, plenode entusiasmo e capaz decontemporizar, generoso e hábil emcondicionar o seu apoio, capaz, emsuma, de economizar as suas forças:eis o meu sonho. E espero não estarsozinho.”

PERIÓDICO NACIONAL DO FAO

Conselho Editorial:Delegados do FAOAdministração:

secretariado geral da FAGDiagramação:Polidoro Santos

Revisão:Victor Calejon

Contato de distribuição:[email protected]

Tiragem: 1 mil exemplares.

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teoria & história

N°24 - Ano VII - Trimestre: Julho/Agosto/Setembro - 2010 - R$ 1,00

4 edições = R$ 3,00 (1 ano)8 edições = R$ 7,00 (2 anos)E/ou distribua você mesmo:10 jornais = R$ 8,0025 jornais = R$ 20,0050 jornais = R$ 40,00Depósito: Patrick Dias GomesCaixa Econômica FederalAg.0511 OP 013 C/C 6219-7*não incluídas despesas postais.

Pertencente à formação militante mais crítica e lúcida docomunismo anarquista que se deu na Itália das primeiras décadasdo século XX, Berneri foi um pensador afiado e reclamouatualização teórica para o projeto libertário.

Os conceitos políticos de Camillo Berneri.

A estratégia de Berneri na Espanha da guerra e revoluçãoNoam Chomsky: “Houve uma proposta séria de como ganhar a guerra revolucionária e erade Camillo Berneri, um proeminente anarquista italiano...”

Batalhão Malatesta, coluna internacional formada pelosanarquistas italianos para defender a Revolução Espanhola.

Fragmento de Noam Chomskyna entrevista cedida a Jórell A. Menéndez

Fonte: Anarkismo.net

A ideologia anarquista fora daspráticas políticas foi lançada ao terrenodas filosofias de vida ou dos rituaiscontemplativos do passado. E viu ahistória passar pelo costado, filosofandocomo uma ética humanista que flutua porcima da história e não se rebaixa, nem searrisca, nos conflitos mundanos. A políticacomo mediação entre as aspiraçõesfinalistas e as condições sociais-históricasconcretas em que nos batemos pormudanças é um conceito indispensávelpara quem quer atuar e fazer mudançasna sociedade.

“Fechado na instransigênciaabsoluta frente a vida política, oanarquismo ‘puro’ está fora do tempoe do espaço, uma ideologiacategórica, uma religião e uma seita.Fora da vida parlamentar, fora dasadministrações municipais eprovinciais, não sabe nem quer levarlutas concretas, suscitando, de vez emquando, consensos; não sabe agitarproblemas interessando grande partedos cidadãos. (…) De uma infinidade

de batalhas o movimento anarquista seapartou, sempre alucinado pela visãoda ‘Cidade do Sol’ , sempre perdidona repetição dos seus dogmas, semprefechado em sua propagandaestritamente ideológica.”

Polemista de primeira linha, comonas idéias sobre o regime dos sovietes ounas considerações sobre o partido no seioda União Anarquista Italiana, ele reclamada imaturidade e faz clarosdiscernimentos entre os elementosideológicos e o teórico-político.

“O anarquismo, se quiser atuarna história e tornar-se um grande fatorhistórico, deve ter fé na anarquia,como possibilidade social que serealiza por aproximações progressivas.A anarquia como sistema religioso(todo o sistema ético é por naturezareligioso) é uma ‘verdade’ de fé, logopela sua própria natureza, evidentesomente a quem a pode ver. Oanarquismo é mais vivo, mais vasto,mais dinâmico. É um compromissoentre a idéia e o fato, entre o amanhãe o hoje. O anarquismo procede demodo polimorfo, porque está na vida.E mesmo os seus desvios são buscasde uma rota melhor.”

“(…) o anarquismo deveconservar aquele conjunto deprincípios gerais que constituem abase do seu pensamento e o alimentopassional de sua ação, mas deve saberafrontar o complicado mecanismo dasociedade atual sem óculos doutrinais(…)”

“Eu entendo por anarquismocrítico um anarquismo que, sem sercético, não se contente com asverdades adquiridas, com as fórmulassimplistas; um anarquismo idealista eao mesmo tempo realista; umanarquismo, em definitivo, que enxerteverdades novas no tronco de suasverdades fundamentais, que saibapodar ramos velhos.”

O ideológico como lugar deprodução e reprodução dos valores, dosprincípios que formam a subjetividadeanarquista: o socialismo e a liberdade, asolidariedade com os oprimidos, ocombate às injustiças, os privilégios,contra toda relação de dominação, etc..O tronco das certezas que deita raízesfortes que dão identidade. Já a políticacomo o terreno sinuoso da vida, dahistória, dos conflitos sociais, onde oanarquismo opera a ideologia nascondições e possibilidades do quadrohistórico, da correlação de forças,auxiliado por um discurso teóricoatualizado e táticas adequadas segundoo contexto da luta. Podemos concluirsinteticamente que ideologia semcapacidade político-teórica deintervenção vira seita e religião. E políticasem ideologia, possibilismo, a arte de seadequar às circunstâncias ao preço dosprincípios. No bom português:oportunismo.

(…) que emigrou para a Espanha e foi assassinado peloscomunistas nos “Dias de Maio”. Ele propunha, em primeirainstância, que não se devia lutar como uma guerraconvencional militar, pois não poderiam obter a vitória. No

lugar, deveria ser criada uma guerra de guerrilhas naEspanha; combinada com o apoio a um levantamento militarno norte da África. Naquele momento havia uma revoluçãonacionalista ocorrendo no Norte da África contra osfranceses e os espanhóis; era ali onde estava a base doexército de Franco.

Ainda que não fosse uma revolução radical, sendomajoritariamente nacionalista, em busca de reformascamponesas e outras coisas mais, a proposta de Berneri erade que apoiando ela se poderia subjugar a base do bandofranquista, que era composta basicamente por tropas mouras.Eu não sei se teria funcionado, mas era a única possibilidadede um triunfo. Por outro lado, a República nunca a teriaconsiderado em razão de manter relações com França,Inglaterra e os Estados Unidos. Algo como isso teria causadohisteria dentro da comunidade ocidental, que não iria tolerar.

Naqueles dias a capacidade das guerras de guerrilhasde conseguir algum objetivo ainda estava desapercebida.Hoje é mais claro após as experiências dos últimos setentaanos, então penso que a estratégia de Berneri era a únicacom possibilidade de êxito.

J