Bolhas de Realidade

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7/18/2019 Bolhas de Realidade http://slidepdf.com/reader/full/bolhas-de-realidade 1/10 Bolhas de realidade  Anotações de Gustavo Gitti “Todos os fenômenos são e deveriam ser vistos como uma bolha, uma sombra, um fantasma, um relâmpago, uma gota de orvalho, uma chama oscilante, uma nuvem, um sonho, uma ilusão.” —Buda, no Sutra do Diamante Bolhas de realidade são experiências condicionadas, construídas e coemergentes, mas vivenciadas por nós como se fossem a própria realidade — externa, separada, rígida, séria, sólida, densa, pré-existente, lá fora, autosustentada. Sob o efeito de avidya, sem sabedoria, sem abrir o olho de prajna, não vemos as coisas como elas são (vazias, luminosas, plásticas, mágicas, lúdicas). Perdemos a realidade vajra. Uma bolha surge sempre que uma construção, um sonho, um filme, um fenômeno, uma aparência não é reconhecida como tal. As bolhas não são os fenômenos em si, mas o não reconhecimento dos fenômenos. O sofrimento só existe em meio a bolhas de realidade. Portanto, ser capaz de reconhecer e de se posicionar no espaço livre além das bolhas é o caminho mais direto de liberação. Breve descrição do que precisamos fazer A mente livre, nossa verdadeira natureza (com todas as qualidades do lung primordial) começa a operar sob condições enquanto estamos rodando o software do samsara, então as bolhas também podem ser descritas como aquilo que apoia a experiência das qualidades condicionadas e restritas de terra, água, fogo, ar e éter. De modo cognitivo, o samsara é descrito por avidya, pelo não reconhecimento na nossa verdadeira natureza. Da perspectiva não cognitiva, da energia, Lama

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Bolhas de realidade Anotações de Gustavo Gitti

“Todos os fenômenos são e deveriam ser vistos como uma bolha,uma sombra, um fantasma, um relâmpago, uma gota de orvalho,

uma chama oscilante, uma nuvem, um sonho, uma ilusão.” 

—Buda, no Sutra do Diamante

Bolhas de realidade são experiências condicionadas, construídas ecoemergentes, mas vivenciadas por nós como se fossem a própria realidade —externa, separada, rígida, séria, sólida, densa, pré-existente, lá fora,autosustentada.

Sob o efeito de avidya, sem sabedoria, sem abrir o olho de prajna, não vemosas coisas como elas são (vazias, luminosas, plásticas, mágicas, lúdicas).Perdemos a realidade vajra.

Uma bolha surge sempre que uma construção, um sonho, um filme, um

fenômeno, uma aparência não é reconhecida como tal. As bolhas não são osfenômenos em si, mas o não reconhecimento dos fenômenos.

O sofrimento só existe em meio a bolhas de realidade. Portanto, ser capaz dereconhecer e de se posicionar no espaço livre além das bolhas é o caminhomais direto de liberação.

Breve descrição do que precisamos fazerA mente livre, nossa verdadeira natureza (com todas as qualidades do lungprimordial) começa a operar sob condições enquanto estamos rodando osoftware do samsara, então as bolhas também podem ser descritas comoaquilo que apoia a experiência das qualidades condicionadas e restritas deterra, água, fogo, ar e éter.

De modo cognitivo, o samsara é descrito por avidya, pelo não reconhecimentona nossa verdadeira natureza. Da perspectiva não cognitiva, da energia, Lama

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Samten muitas vezes descreve o samsara como sendo o movimento da energiana dependência de condições externas.

Esses são dois jeitos de descrever o que acontece quando estamos em umabolha: não só não vemos mais a realidade, não só perdemos a visão ampla eprofunda, mas nos condicionamos, viramos dependentes de energia porqueagora precisamos que tal e tal coisa aconteça, precisamos ganhar algum jogopara equilibrar nossa energia.

Como estamos cegos para a coemergência, nosso critério para ver se vamospor uma direção é o quanto nossos olhos brilham, mas quando os olhosbrilham, nós não vemos isso, nós vemos a coisa externa brilhando e entãodizemos: “Sim, vou por aí”.

Por uma combinação do treino em shamatha e também em prajna,começamos a abrir a visão da sabedoria, que vê o conteúdo junto com oaspecto construído e mágico daquilo (“Uau, como pode a gente ficar tantotempo vendo isso como sólido”, “Uau, como eu pude ficar tanto tempo comaquela pessoa ou naquela empresa!”), inseparável de nosso conteúdo interno,o que nos dá a seguinte clareza: são nossos olhos que brilham coemergentescom as coisas, não as coisas que parecem brilhantes em si mesmas. E então agente começa a ganhar autonomia, a fazer esse equilíbrio de modo não-causal, direto, sem precisar de estímulos. E começa a também visualizar apossibilidade de entrar nos mundos sem avidya e sem que nosso movimentode energia venha dali, que venha dessa base mais ampla, que venha dacompaixão.

Entramos com sabedoria, prajna, o que nos faz ver o aspecto construído e nãose perder (manter sempre um sorriso por trás, de êxtase, de “Uau”). Eentramos com compaixão, o que faz com que o movimento da energia venhade outro lugar. É parecido com o tio jogando futebol com o sobrinho: ele nãoestá jogando futebol, ele está se relacionando com o sobrinho. E ele vai sofrerna medida em que se perder ali, vai ficar irritado se perder na medida em quenão mais operar com compaixão, na medida em que for envolvido por algumabolha.

A gente sorri para a esposa, mas sorri também para a natureza livre que não éa esposa e pela magia que faz ela ser a esposa não sendo a esposa. Então agente sorri para ela e também sorri por trás: “Uau!”. Assim a gente vaimantendo prajna e manter prajna ajuda a manter autonomia de energia — domesmo modo, o equilíbrio autônomo da energia ajuda a manter prajna, ao nos

emancipar das bolhas. Parar nos leva a olhar. Olhar nos leva a parar. E tudo

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isso resulta em maior capacidade de agir naturalmente, sem esforço, comamor, compaixão, alegria, equanimidade, as seis perfeições e as cincosabedorias. A partir do reconhecimento do espaço livre, não mais a partir debolhas (ou seja, do não reconhecimento do espaço livre).

Atributos ou elementos coemergentes em uma bolha(item 2b)

Nenhuma experiência surge de modo isolado. Ela é sempre coemergente epodemos reconhecer a bolha por diversos elementos:

•  fenômeno ou aparência (dharma, 5 skandhas, 6 sentidos, 18 dhatus,

qualquer coisa que surge dentro ou fora);•  mente;

•  pensamentos, ideias, conteúdos discursivos;

•  emoções perturbadoras, medos, esperanças, culpas, 3 animais...;

•  energia, 5 lungs condicionados;

•  corpo;

•  paisagem, espaço sutil, mundo correspondente;

•  observador;

 

identidade, autoimagem, sensação de ser alguém, de estar vivo;•  micro expressões, acionamentos internos;

•  causalidade operativa, visão estratégica, planejamento, metas,ocupação;

•  propósito, motivação, sentido, ideal de felicidade ou sucesso;

•  visão de mundo, cultura, referenciais, teorias sobre a vida;

•  possibilidades restritas de ação, inteligências, habilidades;

•  sensação de ganhar ou perder, jogos sutis, 8 preocupações mundanas;

•  criação dinâmica de significado, conceituação, criatividade;

•  narrativas, coerências, histórias;

•  linguagem consensual;

•  urgências, prioridades;

•  temporalidade, passado, presente, futuro;

•  localização espacial;•  experiência de nascer e de morrer...

Todas essas coemergências são resumidas pela palavra “bolha”. Aprender a

reconhecer as bolhas é crucial porque isso corresponde a perceber ainsubstancialidade daquilo que parece ser o mundo, a vida, a realidade, o fato.

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O resultado é um sorriso, mesmo que seja apenas 1% de sorriso e 99% desofrimento, que nos leva a uma confiança de que aquilo não é realmente sério,absoluto, intransponível, sisudo. Só isso já libera boa parte do sofrimento:desconfiar de que talvez não exista uma causa real para ele. Pelo menos não

nos matamos. ;-) E essa confiança nos leva a praticar mais.

Exemplos de bolhas (item 2c)

Qualquer experiência de realidade condicionada é um excelente exemplo debolha e pode ser iluminada, transformada em lucidez. O lama lista o queprecisamos contemplar com o olho de prajna:

 

seis reinos;•  seis bardos;

•  intersubjetividade;

•  complementaridade e história da ciência;

•   jogos de tabuleiro, esportes;

•  samsara em geral;

•  12 elos;

•  qualquer visão de mundo ou narrativa...

 Jeitos de introduzir prajnaparamita

Vamos ouvir essa classe de ensinamentos de muitos professores e muitasprofessoras, em diferentes abordagens. É crucial reconhecermos que se tratade prajnaparamita para que possamos mais rapidamente não apenascompreender, mas posicionar nossa mente no lugar de onde os mestres veeme ensinam.

•  Pelo roteiro dos 21 itens.

•  Pelas três bases da prática e da realização: 1) equilíbrio da energia; 2)lucidez ou sabedoria; e 3) compaixão.

•  Pelas 4 ações da mente: resolver, ter disciplina, mudar de paisagem,liberar.

•  Pela leitura e contemplação linha a linha (PCR) do Sutra do Coração.

•  Pela roda da vida (seis reinos, três animais, lokas, 12 elos, bolhas).

• 

Pela descrição da operação de avidya.•  Pelo ensinamento sobre os bardos.

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•  Pelos ensinamentos de shunyata, dupla verdade, vacuidade, vipassana.

•  Por dukkha e pelas Quatro Nobres Verdades.

•  Pela afirmação “Forma é vazio, vazio é forma”.

•  Pelas afirmações “É”, “Não é”, “É”.

• 

Pela liberdade da operação não-causal, atravessar paredes, estalar dededos, dar calote no carma.

•  Pelo éter: olhos limpos, claros, sem conteúdos atrás ou à frente,sóbrios, que não se fixam, que não surtam, que não se perdem em meioaos sonhos, que não perdem o reconhecimento do céu.

•  A partir de shamatha:o  Limite de shamatha e verdadeira raiz de todas as aflições, causa

do sofrimentoo 

Tecnologia contemplativa (samatha), ciência da mente(vipassana), via Alan Wallaceo 

Sila (ética), samadi (equilíbrio mental), prajna (sabedoria)o 

Equilibrar a própria energia diretamente sem precisar controlarsituações, pessoas, objetos é impossível dentro de bolhas

•  3 aspectos de qualquer experiência: grosseiro, sutil e secreto

•  Pelas metáforas de uma peça de teatro, de um filme e de um sonho.Melhorar o sonho (bodicita relativa) e despertar do sonho (bodicitaabsoluta: prajnaparamita, vacuidade, sabedoria).

• 

Por perguntas sobre a realidade: Quem somos? Onde estamos? O queestá acontecendo?

•  Pela compaixão: sem sabedoria, não somos capazes de realmente ajudaros outros

•  Pela natureza primordial. Refúgio no Buda (natureza primordial) em vezde refúgio na roda da vida. Usualmente tomamos refúgio emconstruções específicas (bolhas, ideias, crenças, teorias sutis sobre oque é a vida ou quem somos nós, visões de mundo, filosofias). Mas a

prática é tomar refúgio na natureza livre que constrói.•  Por guru ioga. Onde está a mente do lama? O que o lama vê? Como a

energia circula? Os Budas estão sempre no mesmo lugar fazendo uma sócoisa, por isso a energia não oscila e nenhuma aparência é capaz decausar engano.

•  Pelo sorriso (mágica, luminosidade, ludicidade).

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Lembretes e citações úteis

O mundo não é senão minha experiência do mundo. Cada coisa não é

senão a minha experiência de cada coisa. Não dá para falar de algo, apontandoo dedo, sem falar de nossos conteúdos internos coemergentes, de nossoposicionamento sutil, de como construímos aquela experiência (nãoconfundir "construir a experiência de realidade" com "construir a realidade",visão new age The Secret / What the bleep).

Mesmo quando buscamos pela unidade fundamental da matéria sóencontramos informações detectadas por aparelhos específicos de medição(Alan Wallace). Não há nada além de aparências e não há nenhuma aparência

separada que exista por si só, de modo separado e autosustentado.

A ação livre não é uma atitude específica. 

“Hogen, do Mosteiro Seiryo, estava em vias de dar sua palestra antes do jantarquando percebeu que a cortina de bambu, abaixada para a seção demeditação, não tinha sido levantada. Ele apontou para ela, sem falar. Doismonges levantaram-se da audiência e juntos a levantaram com movimentos

idênticos. Hogen, observando o momento concreto, disse: ‘Os gestos doprimeiro monge são corretos, mas não os do segundo.’”

...

 Jornalista: As pessoas acharam você muito mudada depois que você saiu doretiro?”

Karma Wangmo (Suzy Joy Albright), que completou um retiro fechado de 12anos: “Quando eu voltei da Índia como uma "meditadora" em 1976, minha

irmã disse que esperava ver essas mudanças profundas, mas foi a mesmaantiga pateta que voltou! Esse é o segredo, é claro.”

A mente do Buda não tem conteúdo. A escola Prasangika Madhyamaka nãotem nada a afirmar. A sabedoria não é mais uma teoria sobre a realidade.Qualquer sonho pode virar um sonho lúcido, ou seja, qualquer linguagem podeser usada para apontar a lucidez: quanto mais fenômenos novos forem

surgindo, o caminho de liberação vai tomando novas formas e linguagens.Dharma é o que a lucidez diz para a confusão (Lama Padma Samten). Dharma

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é a própria realidade (Alan Wallace). O caminho espiritual é uma peça especialpela qual um personagem reconhece sua verdadeira natureza de ator.

“O problema não é a identidade — nem os mundos ilusórios, nem os mundos fantasmagóricos e luminosos, nem os sonhos. O problema é avidya, ou seja, aperda da lucidez. Quando nós, dentro de condições particulares, ficamos presosàs condições particulares e não conseguimos ultrapassar aquele limite. Aignorância, perda [não reconhecimento] de rigpa, está ligada diretamente aum movimento da nossa energia na dependência de fatores externos. Buda diz:a mente se divide em objeto e observador, e a mente começa a seradministrada pelo objeto que ela criou. Isso é a avidya. Então nós vamosescapar disso.

Podemos gerar os objetos, podemos gerar o observador, mas nós estamosequilibrados, não estamos manipulados pelas aparências que nós mesmoscriamos. É como alguém sentado em algum lugar imaginando um assaltosobre ele, ali mesmo. Começa a criar uma coisa com a mente e começa a termedo do que criou. Aí chega num ponto que a pessoa começa a tremer e nãoconsegue sair dali... Isso é um estado psicótico! Isso é avidya, a ignorância.Ficamos presos aos mundos que a gente propicia. Isso é tão complexo que agente tem a sensação de que o mundo não tem essa relação, de que o mundo éautosustentado. Essa sensação de que o mundo é autosustentado vai ter se ser

rompida.

Então tem essencialmente esses dois treinamentos: um que é o equilíbrio daenergia e o outro que é o desenvolvimento da visão, pelo qual nós vemos essesaspectos todos, que aquilo não é separado. Então quem entendeu isso, nãochorou nem fugiu, pode fazer um lanche.”

—Lama Padma Samten

Nossa prática nunca é isolada. Não nos iluminamos sozinhos. Atransformação é sempre coletiva e coemergente. Quanto mais avançam aspessoas ao nosso redor, mais avançamos sem esforço.

“Pensamos que são mundos e condições externas, mas não são mundosexternos: é a forma como nossa mente está operando. Então não pense que agente tenha a possibilidade de avançar sem que o mundo avance junto. Nostextos budistas, como o Sutra do Diamante, o Buda diz que a iluminação se dá

com todos os seres juntos. Quando há a iluminação, todos os seres seiluminam. O bodisatva, quando atinge a compreensão, vê todos os seres

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manifestando a natureza iluminada também. A gente pode pensar: “Bah, issonão vai dar! Todo mundo junto tem de atingir a iluminação… Isso não vaiacontecer nunca!” É porque temos essa visão externa… Mas o mundo já seiluminou muitas vezes. Cada vez que alguém se ilumina o mundo inteiro se

ilumina.

Com isso estou trazendo especialmente a importância de praticar metabavana:olhar para os outros seres, aspirar liberação do sofrimento, que eles sejam

 felizes, aspirar estabelecer relações positivas, não pensar que nossa prática éisolada. É completamente inseparável. Não há possibilidade de nósavançarmos em meio a seres odiosos, doentes, perturbados… Não há essapossibilidade. Se estamos olhando assim, é porque nós não estamosavançando. Essencialmente isso é sabedoria do espelho — ou seja, o mundo,

como ele aparece, espelha as dimensões pelas quais estamos operando. Sequeremos saber como é que estamos por dentro, a gente olha como é que está omundo fora.”

—Lama Padma Samten

A sabedoria nos ajuda a substituir perturbação por compaixão.

“Na medida em que nós vamos avançando no prajnaparamita, oprajnaparamita é devorador de demônios, ou seja, todos esses aspectos queparecem externos começam a ser vistos como internos, coemergentes. A gentevai começar trabalhando com as próprias pessoas, tangíveis. A gente olha umpara o outro e diz "Não é o que o outro seja irritante: eu é que me irrito". Não éque ele seja irritante, ele está perturbado. Agora, se ele está perturbado, por queé que eu vou importar a perturbação? Eu não vou me perturbar. Aí eu memantenho não perturbado e o ajudo a sair da perturbação. 

Nós vamos começar a trabalhar desse modo. Mas eu poderia, por exemplo,pensar assim: "Eu tenho muita sensibilidade. Eu olho para o outro e vejo aenergia que ele produz sobre mim, então vá de retro!". Se olhamos desse modo,nesse momento prendemos o outro naquilo e nos prendemos na sensibilidade àação do outro. Parece que nós somos super espertos porque vimos o efeito que ooutro produz sobre nós. Se eu digo "Vá de retro!", eu consolido toda a situação.Tão pronto ele aparece ou surge uma foto, uma lembrança ou alguém que omenciona, eu digo: "É ele voltando!". Por outro lado, se olhamos para o outrocom compaixão, vendo que ele está perturbado por alguma coisa, eu não

consolido o ser nem consolido a relação nem a perturbação. Eu simplesmentenão vou me perturbar. Isso corresponde ao corpo translúcido, ao corpo de Guru

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Rinpoche, se a gente pudesse passar a mão por dentro do corpo dele. Issosignifica que as negatividades podem vir mas elas não nos afetam. Isso é umamistura de méritos relativos com méritos de sabedoria (absolutos).”

—Lama Padma Samten

Há uma fila de seres atrás de nós esperando pelo nosso florescimento. 

“..The stronger your cultivation of compassion is, the more committed you will feel to taking responsibility. Because of their ignorance, sentient beings do notknow the right methods by which they can fulfill their aims. It is the

responsibility of those who are equipped with this knowledge to fulfill theintention of working for their benefit. It is only by your showing living beingsthe right path leading towards omniscience, and by living beings on their parteliminating the ignorance within themselves, that they will be able to gainlasting happiness. Although you may be able to work for other sentient beingsto bring them temporary happiness, bringing about their ultimate aims ispossible only when these beings take upon themselves the initiative toeliminate the ignorance within themselves. The same is true of yourself: If youdesire the attainment of liberation, it is your responsibility to take theinitiative to eliminate the ignorance within yourself. You might feel that since

 fulfilling the wishes of other sentient beings and bringing about their welfarebasically depends upon them taking the initiative themselves, then whatparticular need is there for you to work for the achievement of enlightenment?

 After all, there are many buddhas who will be able to help the sentient beingsimmediately if these beings take the initiative.

However, the benefit from particular spiritual guides or teachers depends uponthe recipient having karmic links with these beings. Thus, some spiritualteachers can be most effective and beneficial to only a certain number ofdisciples, and not to other beings. In order to understand this, it is helpful toread the sutras, such as The Perfection of Wisdom in Eight Thousand Lines, inwhich the buddhas and bodhisattvas, having seen that a certain practitionerhad a stronger karmic link with another spiritual teacher, advised him to seekhis own spiritual master. There will be sentient beings who may be able to

see a buddha directly, but who may not benefit as much from that as they

 would from interaction with you, due to their having a deeper karmic link

 with you.

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 Although your achievement of the omniscient state may not be beneficial to allliving beings, it will definitely bring a lot of practical benefit to certain livingbeings. Therefore, it is very important that you work for your own achievementof the completely enlightened state. Because there might be living beings who

depend very much upon your guidance on the spiritual path, it is importantthat you take upon yourself the responsibility to work for the benefit of others.By thinking in such terms, you will be able to develop the strong belief thatwithout attaining the omniscient state you will not be able to fulfill what youset out to do and truly benefit others.”

—Sua Santidade o Dalai Lama | The Path to Bliss

...

"Eu acho justo a gente pensar que atrás de cada um de nós tem uma fila depessoas que só nós vamos poder ajudar. Então é melhor ir praticando. Praticarsignifica não só chegar nesse ponto [sabedoria], mas poder voltar a olhar osmundos cármicos onde a gente andava, agora com o olhar aberto, de tal modoque a gente encontre uma linguagem para fazer as pessoas entenderem oespaço livre da mente delas enquanto elas estão no meio daquilo mesmo que éonde elas podem estar. Se a gente pretender que as pessoas saiam do mundoonde elas estão para então começar a prática, isso é muito difícil. Além do

mais, isso não é Chenrezig. Chenrezig é justamente: o caminho começa onde apessoa está, na confusão onde ela está, ali mesmo. Não é tirando a confusão.Tirando a confusão não tem graça."

—Lama Padma Samten