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N o 1.578 - Ano 33 - 21.5.2007 Boletim Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG Com quatro conferências – uma magna, proferida pelo professor Sérgio Pena, do ICB – e três por pesquisadores ligados ao progama Professor Visitante do Instituto de Estudos Avançados Transdisciplinares (IEAT), a UFMG abre, oficialmente, nesta terça-feira, dia 22, no auditório da Reitoria, as comemorações dos seus 80 anos de fundação. A festa já vai começar Felipe Zig Bol 1578.indd 1 1/10/2007 15:59:06

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No 1.578 - Ano 33 - 21.5.2007

BoletimUniversidade Federal de Minas Gerais - UFMG

Com quatro conferências – uma magna, proferida pelo professor Sérgio Pena, do ICB – e três por pesquisadores ligados ao progama Professor Visitante do Instituto de Estudos Avançados Transdisciplinares (IEAT), a UFMG abre, oficialmente, nesta terça-feira, dia 22, no auditório da Reitoria, as comemorações dos seus 80 anos de fundação.

A festa já vai começar

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Esta página é reservada a manifestações da comunidade universitária, através de artigos ou cartas. Para ser publicado, o texto deverá versar sobre assunto que envolva a Universidade e a comunidade, mas de enfoque não particularizado. Deverá ter de 4.000 a 4.500 caracteres (sem espaços) ou de 57 a 64 linhas de 70 toques e indicar o nome completo do autor, telefone ou

correio eletrônico de contato. A publicação de réplicas ou tréplicas ficará a critério da redação. São de responsabilidade exclusiva de seus autores as opiniões expressas nos textos. Na falta destes, o BOLETIM encomenda textos ou reproduz artigos que possam estimular o debate sobre a universidade e a educação brasileira.

Opinião

Uma identidade em afirmação Ronaldo Tadêu Pena*

A comemoração dos 80 anos da UFMG inicia-se neste mês de maio. Na progra-

mação, estão incluídas atividades que fazem menção à história que esta instituição já exibe, ao lado de outras que apontam para seu propósito de inserção na comuni-dade acadêmica mundial – e que, ao mesmo tempo, reafirmam o seu vínculo com a cidade que a abriga e com o país a que pertence.

A palestra de um convidado internacional ou de um professor da UFMG cujo trabalho científico marcou seu campo do conhe-cimento; a instalação, em cada rua do campus, de placas que permitem ao transeunte saber quem foi o professor que lhe deu o nome; o lançamento de livros de memórias da instituição; a apresentação de grupo artístico mineiro de projeção internacional – essa diversidade de tópicos tem como fio condutor a identidade desta instituição universitária. O que ela foi, o que ela pretende ser, articulada pela no-ção da multiplicidade das suas formas de manifestação definidas desse ser imaterial que se projeta para o futuro: a cultura da UFMG.

Na escala humana, o passar de cada ano motiva a celebração da existência do indivíduo e as passagens, ao longo da existência, medidas em décadas: a adolescência, a juventude adulta, a maturidade, a meia-idade. Comemorar 80 anos é um gesto que celebra a vida. Ao contrário, da escala do correr da vida humana para uma universidade, 80 anos denotam um estágio ainda inicial – uma afirmação de identidade, na forma de promessa, até mais que a celebração de feitos passados. Por enquanto, a UFMG ainda segue o compasso das décadas

– assim como a cidade de Belo Horizon-te, assim como o Brasil republicano.

Talvez as mudanças de etapas, nes-ses casos, ocorram no horizonte de um século – horizonte este já vislumbrado pela UFMG. Até �0�7, a UFMG deverá diplomar mais de 100 mil alunos de graduação, 40 mil mestres, 15 mil doutores. Deverá publicar cerca de 60 mil artigos científicos, e algumas cen-tenas de eventos científicos nacionais e internacionais serão organizados por seus docentes. Os alunos egressos de seus quadros se envolverão na elabora-ção e execução de muitas das políticas públicas que definirão a face deste país. Participarão, ainda, da aventura do avanço do conhecimento científico e tecnológico, elemento crucial para a emancipação de nosso povo. Como docentes irão formar, em todos os ní-

veis do ensino, os especialistas para o domínio e o usufruto do conhecimento e cidadãos para o inarredável exercício da democracia. A população projetada da Região Metropolitana de Belo Ho-rizonte, nesse período, será atendida de alguma forma, pela área de saúde da UFMG. A atividade econômica dessa mesma região irá se alterar em relação à sua estrutura atual, migrando para uma base de maior agregação tecnológica, em grande parte ligada à presença da UFMG. O que terá mudado, então?

Nessa festa de 80 anos, ao lado de um tributo ao passado, aos homens e mulheres que deram o melhor de si para que a UFMG seja hoje uma referência e uma promessa, impõe-se vislumbrar o trajeto à frente. O caminho até aqui não

foi resultado do determinismo das leis da natureza, mas da conjugação de vontades hu-manas, que se permitiram participar do sonho brasileiro da criação de uma civilização

nesta parte da América do Sul. Talvez não seja dado aos homens

de hoje o acesso às formas do mundo do futuro, de �0�7, de �1�7, ou de um horizonte ainda mais distante. Mas cabe-lhes a tarefa, apresentada hoje em forma de escolha, de balizar o percurso até lá, de escutar atentamente a realidade do povo e, na reflexão in-terpretativa acerca dos condicionantes, de intervir nessa realidade. Assim, cabe-nos manter o princípio identitário que vem caracterizando a UFMG ao longo de sua existência: a busca incondicional do saber, como requisito para a sobera-nia, liberdade e a democracia do povo a que pertence.

*Reitor da UFMG

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“Temos muito a comemorar”Maurício Guilherme Silva Jr.

"Quando penso no futuro, não esqueço o passado”. Os versos de Paulinho da Viola, citados pela vice-reitora Heloísa Starling, resumem com propriedade o ideal das comemorações dos 80 anos da UFMG, trabalho que envolveu duas

comissões (veja boxe). Celebrar as oito décadas da Instituição é resgatar os princípios que a fundaram, como forma de antever novos horizontes: “O que podemos preparar, nos próximos 80 anos, para que a UFMG concretize o sonho de ser a melhor universidade pública do Brasil, no ensino, na pesquisa e na extensão?”, indaga a professora.

A Universidade chega ao seu 80o ano de existência devidamente estruturada segundo os ideais de seus fundadores: a democracia, a solidariedade e o mérito. Esses princípios são detalhados pela vice-reitora nesta entrevista ao BOLETIM.

Qual o eixo conceitual das comemora-ções dos 80 anos?

Quem resume bem o conceito norteador da comemoração dos 80 anos é Paulinho da Viola, quando diz que “quando penso no futuro, não esqueço o passado”. Ao pensarmos as comemorações, também imaginamos os próximos 80 anos. Qual é o futuro? Quais serão as áreas de ponta? Como podemos preparar a UFMG para que ela concretize nosso sonho de ser a melhor universidade pública brasileira no ensi-no, na pesquisa e na extensão?

Hoje, temos muito a comemorar. A UFMG é uma Instituição com inúmeros ganhos e vitórias. E com uma história mui-to bonita. Por isso, não podemos esquecer

nosso passado. Isso significa resgatar os princípios que fundaram a UFMG e pensar a importância da questão do público. Essa é uma Universidade pública fundada por Francisco Mendes Pimentel segundo os princípios da democracia, da solidarieda-de e do mérito.

Que legado os pioneiros da UFMG deixaram a seus sucessores?

A UFMG é uma instituição dotada de estrutura de poder absolutamente demo-crática, representada por seus conselhos superiores. A experiência de participar desses conselhos é de grande importância para a vida de qualquer professor. Todos aprendemos que neles é construído o bem-estar comum.

Quando se pensa nos princípios de-mocráticos que orientam os conselhos, lembramos que hoje e para o futuro, democracia significa inclusão. Já quan-do se pensa em solidariedade, falamos da necessidade de criar – e aperfeiçoar – , por exemplo, nossa política de assis-tência. Ao discutir o mérito, devemos pensar em como afinar os mecanismos de avaliação da graduação e de desen-volvimento da pesquisa. Quando pen-samos no público, imaginamos como a Universidade pode oferecer os frutos do conhecimento aqui gerado a Belo Hori-zonte, a Minas Gerais e ao Brasil.

Entrevista / Heloísa Starling

A organização das comemorações dos 80 anos da UFMG ficou a cargo de duas comissões de professores da Instituição. Uma delas, composta por pesquisadores sêniores – Francisco César de Sá Barreto (presidente), Nívio Ziviani (ICEx), Égler Chiari (ICB), Alcino Lázaro (Faculdade de Medicina), Wander Melo Miranda (Fale), Newton Bignoto (Fafich), José Renan Cunha Melo (Facul-dade de Medicina), Maria Lúcia Malard (Escola de Arquitetura) e Maria Elisa de Souza Silva (Faculdade de Odontologia) –, entregou ao reitor Ronaldo Pena, no ano passado, sua proposta de cele-bração dos 80 anos.

A outra comissão, de caráter executivo, é presidida pela vice-reitora Heloísa Starling. Também a integram os professores San-dra Goulart (secretária executiva), da Fale; Maria Céres Pimenta Spínola Castro, diretora do Cedecom; Mauro Braga, pró-reitor de Graduação; Carmela Maria Polito Braga, pró-reitora adjunta

de Graduação; Cecília Nogueira, diretora de Relações Institucionais; Maurício Campomori, di-retor de Ação Cultural; Carlos Antônio Leite Brandão, presidente do IEAT; e Ana Lúcia Starling, assessora especial para a área da Saúde.

Heloísa: estrutura democrática

Duas comissões organizam a festa dos 80 anos

Óleo sobre tela, de Gentil Garcez: aliança em torno da instalação da Universidade de Minas Gerais, em 7 de setembro de 1927

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Conferências abrem programação dos 80 anos

A UFMG abre oficial-mente, nesta terça-feira, dia ��, às 9h, no auditório da Reito-

ria, as comemorações de seus 80 anos de fundação. O primeiro evento será o descerramento de placas de sinalização das ruas do campus Pampulha (leia matéria à página 8 ), seguido de quatro conferências. Na primeira, o professor e geneticista Sérgio Pena, do ICB, fala sobre Darwin, a viagem do Beagle e as novas estratégias do conhecimento e da pesquisa.

As outras três conferências serão proferidas por pesquisa-dores vinculados ao Programa Professor Residente, do Instituto de Estudos Avançados Transdis-ciplinares (IEAT): Francisco Ma-rinho, da Escola de Belas-Artes, Júnia Furtado e Neuma Aguiar, da Fafich.

Entre portas e pontesAna Maria Vieira

A experiência transdisciplinar e o estrei-tamento de laços com a comunidade acadêmica internacional foram algu-

mas das estratégias adotadas por cientistas sociais para exercer a própria profissão e descaracterizar estereótipos durante o regime militar. O recurso, que visava à sobrevivência de suas atividades intelectuais num ambiente de perseguição política, imprimiu, inesperada-mente, marcos expressivos em diversos campos do conhecimento. Pouco difundida, essa face da constituição de áreas da ciência no país per-meia um dos projetos do Programa Professor Residente aprovados pelo Instituto de Estudos Avançados Transdisciplinares (IEAT), de autoria da socióloga Neuma Aguiar.

Denominado Ponte e Porta: fronteiras com o conhecimento sociológico, o trabalho consiste em publicação de livro contendo coletânea de artigos produzidos ao longo da carreira acadêmica de Neuma, professora do departamento de Sociologia e Antropologia da Fafich. A previsão é de que a edição reúna

Mapa para espanhol verFernanda Cristo

Embora tenha dividido, no final do século XV, o Novo Mundo entre Espanha e Portugal, o famoso Tratado de Tordesilhas não passava de mero acordo de cavalheiros entre os países ibéricos. Pelo Tratado, a parte brasileira onde

hoje se situam os estados de Amazonas e Mato Grosso pertencia aos espanhóis, apesar de colonizada pelos lusitanos. Já a colônia de Sacramento, que atualmente é território uruguaio, era propriedade portuguesa explorada por espanhóis.

Em meio a negociações entre os dois países, o embaixador português Dom Luís da Cunha vislumbrou a oficialização da troca de territórios e, para tanto, encomendou um mapa ao cartógrafo D’anville. O mapa deveria ter sido levado à mesa de negociações, em Madri, em 1750, se Dom Luís não tivesse morrido um ano antes. Ao final, outro mapa, bem menos preciso, acabou sendo produzido pelos lusitanos, para que os espanhóis não tivessem noção da quantidade de terras que perderiam no território brasileiro.

A história da confecção do mapa de D’anville, que jamais esteve em terra brasilis, é objeto de estudo da professora Júnia Furtado, do departamento de História, durante sua residência no IEAT.

Trapaça cartográficaConhecido como o mapa dos cortes, o documento apresentado na conferên-

cia de Madri, em 1750, “joga o Brasil para o leste, área de domínio português,

entre seis a oito textos, escritos, originalmente, em sua maior parte, para revistas científicas internacionais.

Além de tornar disponível parte dessa pro-dução em português, o livro deverá expor o lado “ponte” de Neuma Aguiar, que, paradoxalmente, tornou-se referência na UFMG pela experiência disciplinar, nomeada por ela como sua fase “porta”. De fato, quem ainda não teve contato com a outra face de sua produção poderá se surpreender: o trânsito entre áreas do conheci-mento e a diversidade temática e metodológica presentes nos ensaios selecionados são aspectos reveladores da sintonia da pesquisadora com a experiência transdisciplinar, que abriu e fortale-ceu o campo das ciências sociais no país.

Esse traço de sua trajetória acadêmica ficará evidenciado durante sua conferência desta terça-feira, dia ��. Ela abordará Corporatismo e classe operária, tema de seu primeiro artigo publicado no exterior, e que será incluído na coletânea. “O texto busca desenvolver tipologia para analisar formas de relacionamento e de representação

Imagem do mapa do cartógrafo D´anville

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Conferências abrem programação dos 80 anos

deixando a impressão de que havia pouca terra a oeste para colonização espanhola”, esclarece Júnia. O mapa de D’anville, ao contrário, mostrava que grande parte do território pleiteado pelos lusitanos pertencia, até aquele momento, aos espanhóis. Segundo a professora, Dom Luís acreditava que o mapa era fidedigno e que a negociação deveria ser feita diplomaticamente, usando a colônia de Sacramento como moeda de troca.

“O mapa de D’anville é muito preciso. Algo que im-pressiona, pois ele nunca esteve no Brasil. Naquela época, a cartografia se expandia, mas, apesar da criação de apa-relhos de medição, o mapa foi feito, exclusivamente, com base em documentos repassados por Dom Luís da Cunha”, comenta Júnia Furtado. Seis documentos dão origem ao registro do cartógrafo francês, um deles na Alemanha, em um museu de obras raras sobre o Brasil, visitado pela pesquisadora há quatro anos.

O documento contém depoimentos de três cristãos-novos, os irmãos Nunes, que desembarcaram no Brasil como refugiados. Eles se radicaram no interior de Minas Gerais, em um povoado chamado Curralim, lugar que, por ser uma ramificação do caminho que ligava Minas e Bahia, favorecia a atuação de comerciantes. “Os três escreveram um roteiro de viagem destinado àqueles que quisessem chegar a Minas a partir da Bahia”, explica a pesquisadora.

Singrar os mares da cognição, não em busca de um porto, mas pelo simples prazer de imaginar e de navegar pelo desconhecido. É esta bússola que norteará a conferência Navegar é impreciso, viver..., a

ser proferida pelo professor Francisco Marinho, do departamento de Foto-grafia, Teatro e Cinema, da Escola de Belas-Artes. Ele discute a imprecisão que caracteriza a pesquisa livre, isto é, que navega por mares inexplorados sem o compromisso de resultados definidos a priori.

Tal imprecisão, aliás, “está presente também na natureza”, lembra o professor. Em analogia, Marinho ressalta a situação de um formigueiro, onde a maioria dos indivíduos busca alimento em fontes conhecidas e seguras. “Enquanto isso, outros tantos saem, errantes, à procura de fon-tes novas capazes de garantir a sobrevivência do grupo a longo prazo”, afirma o professor.

“As formigas têm análogos na academia: alguns professores são a fonte segura e outros têm o papel de explorar”, reitera, elogiando a iniciativa do Instituto de Estudos Avançados Transdisciplinares (IEAT) de lançar o edital Professor Residente, que dispensa temporariamente o pesquisador de suas atividades docentes para se dedicar com exclusividade à pesquisa.

Os conceitos que nortearão a conferência de Marinho têm base no pro-jeto Agentes colaborativos, que ele desenvolve, desde março, junto ao IEAT. A pesquisa traz, do mundo dos games para a arte, os chamados agentes adaptativos autônomos (non player characters), personagens não coman-dados pelo jogador. “Não estou me apropriando de personagens, mas de uma linguagem”, explica Marinho, ao acrescentar que, embora as teorias estéticas ainda não consigam lidar com a possibilidade da autonomia do objeto de arte, tais concepções começam a ser rompidas.

Inteligência artificialSegundo ele, a aplicação de padrões de inteligência artificial à arte pode

resultar em objeto capaz de perceber o usuário e se modificar em função das escolhas e preferências de quem frui a manifestação artística. “É como se, ao ser manuseado, o livro percebesse quem o está lendo e rearranjasse as palavras para cada leitor”, exemplifica. O projeto tem a arte como ponto de partida, mas envolve dimensões de outras áreas do conhecimento, como robótica, biologia e informática.

Em março de �008, quando se encerra seu período como Professor Residente, Marinho apresentará trabalho escrito e produzirá instalação de arte computacional com non player characters capazes de identificar e se auto-adaptar a preferências do público. Projeto nessa linha, elaborado no ano passado, durante o Festival de Inverno, será exposto em agosto, em San Diego (USA), na ACM Siggraph 2007, um dos mais importantes eventos de computação gráfica do mundo.

A imprecisa arte de navegarAna Rita Araújo

política entre classes, e o lugar do Estado nessa mediação, para a compreensão histórica do desen-volvimento do sistema de representação sindical no país”, resume. Lançado em 1968, na revista argentina Desarrollo Economico, o ensaio tornou-se modelo teórico para análises sobre o tema e, atualmente, passa por revisão.

Neuma Aguiar: diversidade temática

Marinho: automonia do objeto de arte

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A federação que virou universidade

Prédios dispersos, pesquisas esparsas e pouco contato entre unidades. Essa era a realidade da UFMG até o início dos anos 60, lembra o professor Aluísio Pimenta, reitor da Universidade entre 1964 e 1967. Durante sua gestão, ele promoveu

intensa reforma na instituição e em seu estatuto, ao criar os institutos centrais, fortalecer o papel do Conselho Universitário e investir em infra-estrutura e formação de recursos humanos para pesquisa.

A entrevista com Pimenta abre a série que o BOLETIM publicará, nos próximos meses, com os ex-reitores da Universidade, em comemoração aos 80 anos da instituição. Professor emérito da UFMG, ele é um entusiasta da presença feminina na Universidade, elogia o atual Reitorado e prevê, para os próximos 80 anos, que a UFMG empreenderá grandes esforços no desenvolvimento de pesquisas em nanociência e de estudos ambientais para conter o aquecimento global.

Como era a UFMG durante sua gestão como reitor?

Ao assumir a Reitoria, aos �9 anos, a UFMG era uma federação de escolas. Havia as faculdades de direito, medicina, arquitetura, filosofia, enfermagem, ciências econômicas, veterinária, engenharia, odon-tologia e farmácia - onde eu estudava. Nes-te contexto, o reitor tinha pouca influência nas unidades. Quando assumi a instituição, o objetivo era transformá-la, de fato, numa universidade, conferindo à figura do reitor e ao Conselho Universitário intensa atua-ção na gestão universitária. Durante meu Reitorado, criamos os institutos centrais e trabalhamos para estruturar uma institui-ção que pudesse dar um grande salto em pesquisa, ensino e extensão.

Qual o estágio da pesquisa desenvolvi-da na UFMG na época?

Cada escola desenvolvia suas pesqui-sas separadamente e não tínhamos como fazer grandes investimentos em laborató-rios. Tomemos como exemplo minha área, a química. Estudava-se química em várias faculdades (medicina, farmácia, engenha-ria, entre outras). Em cada uma, porém, as instalações de pesquisa eram relativamen-te fracas e os professores não podiam se dedicar em tempo integral. A pesquisa foi fortalecida na UFMG durante nossa gestão com a criação dos institutos centrais e pelo fato de termos enviado muitos professores para cursarem pós-graduação na Europa e nos Estados Unidos. Conseguimos muitas bolsas de estudo junto a instituições inter-

nacionais, como a Fundação Ford, além de empréstimo do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) que impulsionou muitos estudos. Criamos um conselho de pesquisa que gerenciava as verbas desti-nadas à área.

E o ensino?A graduação passou por um movimen-

to semelhante. Sempre trabalhamos com a idéia de que era preciso tornar o ensino um processo mais presente, para não fazer dele algo simplesmente livresco. Aqui vale destacar a participação da mulher na vida acadêmica. Quando assumi a Universida-de, não havia professoras de engenharia e medicina. Em economia, eram pouquís-simas e, em relação ao corpo discente, o cenário era o mesmo. Na administração central, todos os cargos de chefia eram ocupados por homens. Recrutei um grupo de mulheres que me ajudou muito na ges-tão da universidade. Homens e mulheres têm a mesma inteligência racional, mas as mulheres são dotadas de uma inteligência emocional que faz a diferença em ativida-des de ensino e pesquisa.

E a área social?A atuação da fundação responsável pela

assistência estudantil, que à época se cha-mava Assistência aos Universitários Mendes Pimentel (Aump), foi fortalecida durante nossa gestão. Quando surgiu, sua única função era fazer empréstimos aos discentes, uma vez que a Universidade era paga. Depois que assumi a Reitoria, o órgão passou a atuar também na gestão dos restaurantes universi-tários. Quando administrados pelas próprias faculdades, eles eram muito caros. Mas ao as-sumir sua gestão, a entidade reduziu o custo de produção da refeição, porque passou a adquirir alimentos em grandes quantidades. Além disso, concedíamos um desconto de �0% aos alunos que compravam tíquetes para um mês de refeições e bolsa-alimenta-ção para aqueles que não podiam pagar.

Apesar desses avanços, sua gestão foi muito afetada pela situação política vivida pelo Brasil após o golpe militar...

O então general Guedes (Carlos Luís Guedes, 4ª Divisão de Infantaria, a ID4) mandou quatro coronéis e o delegado mi-litar de Juiz de Fora fazer uma intervenção federal e me tirar da Universidade. Tiraram, eu reagi, e o presidente Castelo Branco mandou que me reconduzissem ao cargo imediatamente. Eu me indispus várias vezes com o pessoal da ID4. Eles prendiam um estudante e eu ia atrás.

Como o senhor vê a UFMG hoje?Tenho grande orgulho de ter sido

aluno, professor, pesquisador e reitor da UFMG. A Universidade cresceu, ampliou as construções no campus. Também acho que a presença da mulher evoluiu muito. Tanto que, nos últimos anos, tivemos duas reitoras. Os dirigentes que me sucederam são pessoas sérias e trabalhadoras, incluindo os atuais reitor e vice-reitora, que estão fazendo muita coisa positiva pela UFMG.

Que Universidade o senhor projeta para os próximos 80 anos?

Imagino que a UFMG vai desenvolver muitos projetos nas áreas de nanociência e nanotecnologia. Até porque o nosso departamento de Física já tem estudos muito importantes nessas áreas. Penso que a Universidade também investirá em pesquisas na área de ciências am-bientais que possam contribuir para impedir o aquecimento global. A UFMG vai participar ativamente do desenvolvi-mento de Minas e do Brasil; vai preparar profissionais e cientistas não só nas áreas de ciências exatas, mas também em filo-sofia, sociologia, música... Além disso, vejo uma universidade que se preocupará com a formação de pessoas das classes menos favorecidas.

Aluísio Pimenta: pesquisa fortalecida

Entrevista / Aluísio Pimenta

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Acontece

Calendário preliminar dos 80 anos da UFMG*

DEZEMBRO

Conferência A emergência e o desenvolvimento da área de controle, com Karl Johan Åström, do Lund Institute of Technology (Suécia) Debatedores: reitor Ronaldo Pena e professor Fábio Jota

Lançamento de livros: Memórias da Medicina e Águas: Conservação e Desenvolvimento Sustentáveis

Exposição Memória Oral da Ciência na UFMG – campus Saúde

Encerramento das comemorações dos 80 anos da UFMG – Ato simbólico: Caixa do futuro – campus Pampulha

*Programação fechada até o encerramento desta edição (16/05)

MAIO

Dia 22 - Auditório da Reitoria 9h – Descerramento de placas de sinalização das ruas do campus Pampulha 9h30 – Abertura das comemorações dos 80 anos da UFMG e lançamento do Programa Professor Residente do IEAT 10h – Conferência magna do professor Sérgio Pena, do ICB, e conferências do Programa Professor Residente do IEAT/UFMG

Dia 23 - Auditório da Reitoria17h - Entrega do título de Doutor Honoris Causa ao antopólogo Marshall David Sahlins

Dia 30 – Auditório da Reitoria9h30 – Abertura do Ciclo de Conferências dos 80 anos da UFMG – Sentimentos do Mundo. Conferencista: Beatriz Sarlo – Cidades, itinerários Debatedoras: vice-reitora Heloisa Starling e professora Eliana Dutra, diretora de Relações Internacionais da UFMGLançamento da Cátedra de Estudos Ibero-LatinoamericanosLançamento da Revista Diversa – UFMG 80 anos

JUNHO

Dias 4 a 10 – Faculdade de Medicina Exposição Memória do Movimento Estudantil – 30 anos do III ENE.

Dia 12 – 14 às 18h - Faculdade de Medicina – campus Saúde: Seminário com o professor Gregory Pence da Universidade de Alabama, Birmingham, sobre Medicina, ética e clonagem

Dia 13 – 9h30 - Auditório da Reitoria Conferência Trinta anos de bioética: o que apren-demos, para onde vamos? – Gregory PenceDebatedor: José Renan Cunha Melo

Exposição Memória da Arborização dos campi da UFMG – campus Saúde (em data a ser definida)

SETEMBRO

Dia 2 – Auditório da Reitoria 19h – Reunião conjunta dos Conselhos Superiores e Sessão Solene do Conselho Universitário em comemoração aos 80 anos da UFMGLançamento e entrega da insígnia de reconhecimento institucional Medalha Reitor Mendes PimentelHomenagens ao professor e ao funcioná-rio com mais tempo de serviço na ativa Lançamentos:– Álbum de Figurinhas – Cenas do Brasil - Geneviève Naylor– Vídeos de animação - EBA/UFMG

Dia 4 – Homenagem à UFMG na Câmara Municipal

Dia 7 – Campus PampulhaConcerto de Gala 80 anos da UFMG – Or-questra Sinfônica da UFMG e Coral Ars Nova Don Giovanni nas Ruas – ópera montada por alunos da Escola de Música

Dia 11 – Homenagem à UFMG no Congresso Nacional

Dias 16 a 19 – Auditório da Reitoria Congresso Internacional de Reitores Latino-Americanos e Caribenhos: O Compromisso Social das Universidades da América Latina e do CaribeMostra das Universidades latino-americanas e caribenhas – Saguão da Reitoria

Dia 19 – Auditório da ReitoriaConferência: Boaventura de Sousa Santos, Universidade de Coimbra (Portugal) Debatedor: professor Clélio Campolina

Dia 20 – Auditório da Reitoria Comemoração dos 40 anos da Pró-Reitoria de Pós-Graduação e premiação das melhores teses e dissertações da UFMG

Dias 22 e 23 – Museu de História Natural e Jardim Botânico da UFMG –Primavera no Museu

Dia 27 – Campus Pampulha18h30 – Apresentação do espetáculo Um Molière imaginário – Grupo Galpão

Dias 24 a 28 – Auditório e saguão da ReitoriaSeminário e exposição Memória Oral da Ciência na UFMG

OUTUBRO

Homenagem à UFMG na Assembléia LegislativaLançamento da Revista Diversa UFMG - 80 anos

Dia 24 – Auditório da Reitoria 9h30 – Conferência Alquimia no século 21: ciência, riqueza e bem-estar, com Fernando GalembeckDebatedor: José Caetano Machado

NOVEMBRO

Dia 7 – Auditório da Reitoria9h30 - Conferência Experiência da ficção, com Bernardo CarvalhoDebatedor: Carlos Antônio Leite Brandão

Dias 26 a 28 – Auditório da ReitoriaSeminário O Futuro da Universidade

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Universidade Federal de Minas Gerais

Boletim

Reitor: Ronaldo Tadêu Pena – Vice-Reitora: Heloisa Starling – Diretora de Divulgação e Comunicação Social: Maria Céres Pimenta S. Castro – Editor: Flávio de Almeida (Reg. Prof. 5.076/MG) – Projeto e editoração gráfica: Rita da Glória Corrêa – Fotografia: Foca Lisboa - Pesquisa Fotográfica: Elza F. Oliveira – Impressão: Sografe – Tiragem: 8 mil exemplares – Circulação semanal – Endereço: Diretoria de Divulgação e Comunicação Social, campus Pampulha, Av. Antônio Carlos, 6.6�7, CEP �1�70-901, Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil – Telefones: (�1) �499-4186 e �499-446� – Fax: (�1) �499-4188 – Correio eletrônico: [email protected] e homepage: http://www.ufmg.br É permitida a reprodução de textos, desde que seja citada a fonte.

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Diga-me por onde andas...Placas que identificam as ruas do campus Pampulha estampam

pequenas biografias das personalidades homenageadas

Mauricio Guilherme da Silva Jr.

Prepare-se, leitor, para um passeio através do tempo. Contudo, antes que se imagine numa daquelas parafernálias tecnológicas de transporte intergaláctico, saiba que o fascinante retorno ao passado será possível apenas com o auxílio

de pés e olhos. Ávido pela viagem, calce um bom tênis e siga rumo à plataforma de embarque: avenida Antônio Carlos, 6.6�7. Feitos os ajustes finais (cadarços soltos são sempre perigosos), comece a caminhar pelo campus Pampulha. Com os olhos, em vez de paisagens naturais e arquitetônicas, centre-se nas “estrelas” da aventura: pequenas – e misteriosas – placas de identificação das ruas.

Diante delas, o viajante, num átimo, perceberá “dimensões”, às vezes invisíveis, da relação entre passado e presente. Afinal, que universo de realizações há por trás de nomes como Francisco Mendes Pimentel, José Baeta Vianna, Eduardo Frieiro, Afonso de Moraes, Fernando Melo Vianna, Moacir Gomes de Freitas, Samuel Caetano Júnior ou Eduardo Mendes Guimarães? À tarefa lançou-se o pesquisador Guilherme Meirelles da Costa, do Projeto República, do departamento de História, como parte das iniciativas de resgate das oito décadas de fundação da UFMG.

“Compreender um pouco da trajetória das pessoas que dão nome às ruas é uma das maneiras de resgatar a história da Universidade”, comenta a vice-reitora Heloísa Starling, ao lembrar que, entre os homenageados, há nomes de funcionários e pesquisadores que interferiram, com muita propriedade, na vida da Instituição.

Esboço biográficoComo forma de aproximar a comunidade universitária de vestígios da história

da UFMG, Guilherme da Costa investigou o histórico de nomeação das ruas do campus Pampulha. Para compreendê-lo, é preciso voltar ao ano de 1976, quando uma comissão especial encarregou-se de sugerir nomes para as vias da Instituição. De seu trabalho saíram os 1� homenageados, hoje bastante conhecidos de andarilhos atenciosos. À lista inicial somam-se, respectivamente em 1986, 1998 e �006, os professores Eduardo Frieiro, Amílcar Viana Martins e Francisco de Assis Magalhães Gomes.

Paralelamente à história das placas, Guilherme da Costa realizou, com auxílio dos departamentos de Planejamento Físico e Obras (DPFO) e de Administração de Pessoal (DAP), um “esboço biográfico” dos homenageados. Além de divulgadas no site especial dos 80 anos da Universidade (www.ufmg.br/80anos), elaborado pelo Núcleo Web do Centro de Comunicação (Cedecom) da UFMG, as biografias poderão ser vistas, por qualquer andarilho, nas próprias placas do campus Pampulha.

Agora, além de acesso aos nomes da rua, a comunidade universitária terá informações sobre quem foi, quando viveu e – através de pequeno verbete – o que realizou cada um dos homenageados. Ao leitor fica a sugestão: caminhe pelo campus como se palmilhasse a estrada do tempo.

Caminhos ilustres8Prof. Amilcar Viana Martins (1939-1969) – Um dos fundadores do ICB

8Prof. Baeta Vianna (1917-1964) – Pioneiro da Bioquímica e fundador da Fump

8Prof. Edmundo Lins (1897-1917) – Ministro do STF e professor nos primórdios da Faculdade de Direito

8Prof. Eduardo Frieiro (1929-1959) – Escritor, crítico literário e um dos criadores da Fafich

8Prof. Eduardo Mendes Guimarães (1948-1968) – Projetou o prédio da Reitoria e o estádio Mineirão

8Eduardo Rodrigues Affonso de Moraes (1931-1972) – Autor do livro História da Universidade Federal de Minas Gerais

8Fernando Melo Viana – Presidente de Minas Gerais entre 1924 e 1926

8Prof. Francisco de Assis Magalhães Gomes (1931-1976) – Um dos fundadores do ICEx

8Prof. Giorgio Shreiber (1948-1975) - Um dos fundadores do ICB

8Prof. Francisco Mendes Pimentel (1899-1931) – Fundador e primeiro reitor da UFMG

8Prof. Moacir Gomes de Freitas (1941-1977) – Primeiro diretor do ICB

8Prof. Pires e Albuquerque (1922-1952) – Reitor da UFMG entre 1946 e 1949

8 Samuel Caetano Júnior (1917-1967) – Porteiro da Faculdade de Direito. Emprestou seu nome a uma tradicional publicação da Unidade, o Sino de Samuel

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