Boletim técnico Manejo de Nematoides no SPD Cerrados_2008
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MANEJO INTEGRADO DE NEMATÓIDES EM SISTEMA DE
PLANTIO DIRETO NO CERRADO
Roberto G. Torres(1)
, Neucimara R. Ribeiro(2)
, Carlos Adriano Boer(3)
, Odnei
Fernandes(4)
, André G. Figueiredo(5)
, Antonio Ferreira Neto(6)
,
Introdução
Em países com clima tropical e subtropical os nematóides encontram condições como
umidade e temperaturas ideais para reprodução e alimentação. Tais fatores são agravantes no
controle destes patógenos, os quais após terem se estabelecido em uma área, são de
erradicação muito difícil. No Brasil, as espécies que causam os maiores danos às grandes
culturas como soja, algodão, cana-de-açúcar e milho são Meloidogyne javanica, Meloidogyne
incognita, Heterodera glycines, Pratylenchus brachyurus e Rotylenchulus reniformis.
Obrigatoriamente, o controle de nematóides em culturas extensivas, que possibilitem a
redução populacional para tornar viável o cultivo de determinadas culturas, deve ser planejado
e sistematizado de modo a integrar vários métodos e apresentar baixo custo. De um modo
geral, são considerados os princípios fitopatológicos da:
- Exclusão (evitar a infestação de áreas indenes por espécies ou novas raças, na propriedade
ou numa região geográfica maior, ou seja, evitar a introdução e a disseminação);
- Erradicação (rotação de culturas com espécies de verão e de inverno não hospedeiras e/ou
antagonistas, objetivando a redução da densidade populacional do nematóide);
- Regulação (modificação do ambiente e nutrição das plantas);
- Imunização (utilização de cultivares resistentes a determinadas espécies ou raças).
Métodos culturais, a exemplo da rotação de culturas com espécies não hospedeiras
e/ou antagonistas, têm sido efetivos como prática de manejo de nematóides (Santos e Ruano,
1987; Costa e Ferraz, 1990). Alguns trabalhos também mostram que o cultivo de plantas não
hospedeiras apenas na entressafra (maio a agosto) não apresentou ser uma boa opção para
redução da população de nematóides e que apenas a semeadura de cultivares resistentes não
devem ser a única opção de controle de nematóides. Contudo, a rotação de culturas não deve
ser substituída pela sucessão de culturas e além da rotação de culturas deve-se trabalhar
também com a rotação de culturas de cobertura (Fotos 1,2,3 e 4) em sistema de plantio direto
(SPD = Sistema em Equilíbrio = M.O elevada + inimigos naturais). Com isso, o controle de
nematóides não se dá apenas por meio de uma única ação, mas através de um conjunto de
boas práticas agronômicas que irá manter as populações dos nematóides abaixo do limiar de
dano econômico, elevando a produtividade da cultura sem oferecer riscos ao meio ambiente,
promovendo no campo uma relação de convivência com estes patógenos. Já que sua
eliminação em áreas infestadas é muito difícil e existem as particularidades de cada gênero de
nematóides a serem respeitadas e tratadas diferencialmente para o seu manejo, sendo assim
deve-se conhecer melhor sua ocorrência, biologia, formas de dispersão, sobrevivência,
hospedeiros e manejo de cada uma delas e assim melhorar a relação de convivência.
- Alternativas de culturas de coberturas para o cerrado brasileiro.
Foto 1: B. ruziziensis Foto 2: Mulch de B. ruziziensis
Foto 3: Crotalária spectabilis Foto 4: Cober Crop (Híbrido de sorgo)
1) Nematóide de Cisto da Soja (Heterodera glycines)
Ciclo Biológico: Heterodera
J2
infestando o
hospedeiro
J2
iniciando a alimentação J2
J3
J4
abandonando a
cutícula do
estágio anterior
J4
Adultos
começando a produzir
ovos
abandonando a raizFêmea alimentando-se
na raiz e realizando
postura fêmea morta
cheia de
ovos
formação dos
juvenis (J1) na
fêmea morta
eclosão e saída
dos juvenis
J2
livres para
futuras
infestações
Desenho: Patrícia Milano
Ciclo Biológico: Heterodera
J2
infestando o
hospedeiro
J2
iniciando a alimentação J2
J3
J4
abandonando a
cutícula do
estágio anterior
J4
Adultos
começando a produzir
ovos
abandonando a raizFêmea alimentando-se
na raiz e realizando
postura fêmea morta
cheia de
ovos
formação dos
juvenis (J1) na
fêmea morta
eclosão e saída
dos juvenis
J2
livres para
futuras
infestações
Desenho: Patrícia Milano
Cistos de H. glycines Ovos de H. glycines
- CARACTERÍSTICAS BIOLÓGICAS do nematóide H. glycines.
1. Ovo: Depositado pela fêmea no estado unicelular. Desenvolvimento embrionário (J1)
2. J1: Sofre primeira ecdise no interior do ovo (J2)
3. J2: Eclode livremente e assume forma infectiva, passando por mais duas ecdises (J3 e
J4)
4. J3 e J4: (forma salsichóide) passa para a quarta ecdises (adulto).
- Macho: Retorna a forma vermiforme, sai da raiz e fecunda a fêmea
- Fêmea: aumenta de tamanho, endoparasito sedentário, corpo exteriorizado para que haja
fecundação.
Seu CICLO pode ter duração de aproximadamente 3 semanas, produzindo de 5 a 6 gerações
do nematóide/ciclo da soja. Sua REPRODUÇÃO se dá por reprodução cruzada (Anfimixia
obrigatória) Quando a fêmea é fecundada, apenas 20-30% dos ovos ficam na matriz
gelatinosa o restante é retido no interior do corpo. Logo após a produção dos ovos torna-se
coreáceo e morre. Cada Cisto poderá conter em média 300 ovos. Os Ovos entram em diapausa
natural, ou seja, não eclodem bem nos meses de março a agosto (em locais onde as
temperaturas são baixas no inverno). Alguns fatores podem interferir no seu ciclo de vida, tais
como, temperaturas abaixo de 10ºC e baixa umidade do solo (< 40% da capacidade de
campo). Tendo PREFERÊNCIA por solos arenosos, temperaturas em torno de 20 a 30ºC e
umidade do solo entre 40 e 60% da capacidade de campo. O pH do solo não deve ser elevado,
pois nessa condição a população do NCS sempre permanece mais alta e os danos são maiores
(Garcia et al., 1999).
Há uma elevada DIVERSIDADE GENÉTICA para este nematóide o que ocorre sob pressão
de seleção, favorecendo a ocorrência de novas raças através da reprodução anfimixia e
diferenciadas pelos cultivares do hospedeiro que ela infecta. No Brasil já foram encontradas
11 raças do NCS (1, 2, 3, 4, 4+, 5, 6, 9, 10, 14 e 14+). Com o objetivo de identificar as raças,
utiliza-se para soja hospedeiras diferenciadoras sendo: Peking, Pickett, PI88788, PI90763,
Lee = suscetível a todas, Hartwig* = resistente a todas (* 4+ e 14+ quebraram a resistência de
Hartwig)
A OCORRÊNCIA do nematóide de cisto da soja (NCS) foi detectado pela primeira
vez no Brasil na safra 1991/92. Atualmente, está presente em 10 estados brasileiros (MG, MT,
MS, GO, SP, PR, RS, BA, TO e MA), cobrindo mais de 2.500.000 ha (Dias et al., 2007). Em
solos arenosos, esse nematóide causa perdas de 10% a 30% quando em baixas infestações,
podendo chegar a 70% ou mais quando em alta incidência (Inomoto – ESALQ).
Em áreas onde o NCS já foi identificado, o produtor deve conviver com o mesmo,
uma vez que sua erradicação é difícil e economicamente inviável. Algumas medidas ajudam a
minimizar as perdas, destacando-se a rotação de culturas com plantas não hospedeiras e o uso
de cultivares resistentes.
O planejamento da rotação de culturas e de coberturas para controle do NCS é
relativamente simples, em função da sua limitada gama de hospedeiros. (Tabelas 1 e 2).
Entretanto, a adoção dessa prática é muitas vezes, limitada pela viabilidade econômica
das culturas em determinadas regiões, porém extremamente necessária. Avaliações sobre o
impacto do cultivo de espécies botânicas de verão, não hospedeiras de H. glycines, (milho,
sorgo, arroz, algodão, mamona e girassol) na população do nematóide, mostraram que a
substituição da soja por uma delas, em uma safra, geralmente reduz a população a nível que
permite o retorno da soja na safra seguinte. Com um único cultivo de soja suscetível, a
população do NCS volta a crescer, havendo a necessidade de, na safra seguinte, retornar à
rotação com a espécie não hospedeira ou semear uma cultivar de soja resistente. Por sua vez,
com dois ou três anos seguidos de milho, pode-se, na maioria das vezes, voltar com a soja
suscetível por dois anos seguidos, sem riscos de perda. O cultivo de plantas não hospedeiras
na entressafra (maio a agosto) não mostrou ser boa opção para redução da população do
nematóide. Assim, a rotação de culturas não deve ser substituída pela sucessão de culturas.
Por outro lado, a presença de soja voluntária (“tiguera”) ou de espécies hospedeiras na área,
durante a entressafra, contribui para aumentar o inóculo para a safra de verão seguinte (Garcia
et al., 1999).
Além da rotação de culturas com espécies não hospedeiras e da utilização de cultivares
resistentes, recomenda-se ainda, nas áreas infestadas com o NCS, a adoção da semeadura
direta. Esse modo de cultivo potencializa a ação de inimigos naturais do nematóide e dificulta
a dispersão dos cistos, em função da redução da movimentação de máquinas e,
principalmente, de solo. A utilização dessa prática também reduz o risco de disseminação pelo
vento, sobretudo nas regiões dos chapadões, onde grandes quantidades de solo são carregadas
na época do preparo convencional do solo.
> 2000 espécies > 2000 espécies Soja Abacaxizeiro Abacaxizeiro
Arroz Algodão Feijoeiro comum Algodão Algodoeiro
Aveia Acerola Caupi Amendoim Bananeira
Batata Algodoeiro Feijão de Fava Batata Cafeeiro
Beldroega Batata Ervilha Brachiaria spp. Feijão
Cana-de-açucar Beterraba Tremoço Cafeeiro Mamoneira
Caruru Cafeeiro Cana-de-açucar Maracujazeiro
Corda-de-viola Cana-de -açucar Ervas daninhas Soja
Feijão Cenoura Feijão Tomateiro
Frutíferas Cravo Labe-labe
Fumo Feijão Milheto
Gerânio Figueira Milho
Guanxuma Fumo Mucuna Preta
Hortaliças Mamoeiro Mucunas
Joá-bravo Melão Pessego
Mentrasto Pepino Quiabeiro
Soja Pessegueiro Soja
Tomate Quiabo
Trigo Soja
Tomate
Videira
Rotylenchulus
reiniformes
Tabela 1. Plantas hospedeiras dos principais gêneros de nematóides
M. javanica (Galha) M. incognita (Galha) H. glycines (Cisto) Pratylenchus (Lesões)
Algodão Amendoim Algodão Crotalária juncea Amendoim
Amendoim Brachiaria spp. Amendoim Crotalária spectabilis Brachiaria spp.
Brachiaria spp. Crotalária juncea Arroz Girassol Milheto
Crotalária juncea Crotalária spectabilis Aveia B. decumbens Milho
Crotalária spectabilis Crotalárias spp. Brachiarias Guandu Sorgo
Crotalárias spp. Milheto Cana-de açucar Girassol Arroz
Mamona Milho Cevada Aveia Preta Forrageiros
Milho Mucuna Preta Crotalária Pé-de-Galinha
Mucuna Preta Nabo Forrageiro Girassol
Nabo Forrageiro Sorgo Mamona
Sorgo Mandioca
Milheto
Milho
Mucuna
Sorgo
Trigo
Tabela 2. Plantas não e má hospedeiras dos principais generos de nematóides (Rotação/Suscessão)
M. javanica (Galha) M. incognita (Galha) H. glycines (Cisto) Pratylenchus (Lesões)Rotylenchulus
reiniformes
Quanto à SINTOMATOLOGIA observar-se sintomas diretos e sintomas reflexos. No
direto o sistema radicular fica muito pobre ou deficiente, já os reflexos são: o Nanismo
Amarelo da Soja (o mais comum), plantas de tamanho reduzido e cloróticas, geralmente
ocorre em reboleiras, deficiência nutricional (nitrogênio), redução na nodulação por
bradirhyzobium e redução na produção. Normalmente pode estar assossiado a outros
organismos como Fusarium solani f.sp. Glycines e apresntar a Sindrome da morte súbita,
causado por Fusarium oxysporum e Macrophomina faseolina.
Fotos: Jaime Maia dos Santos - UNESP
A DISSEMINAÇÃO do Heterodera glicynes pode ser ativa (ineficiente) ou passiva
(dispersão dos cistos), através do vento, água, maquinários, movimentação do solo, sementes,
sapatos, sacaria, aves migradoras.
Como MEDIDAS de CONTROLE pode-se optar pelo método da exclusão, adotando
medidas quarentenárias e através da utilização de variedades resistentes. O controle químico
tem apresentado alto custo e resultados insatisfatórios, além de promover contaminação do
solo e lençol freático e intoxicação de homens e animais, por se tratarem de produtos que
apresentam em sua composição os ingredientes ativos Aldicarb, Carbofuran, Oxamil e
Fenamifós. Das opções de controle encontradas uma das mais eficientes é a rotação de
culturas e a associação de rotação de culturas ao sistema de plantio direto com a utilização de
variedades resistentes, plantas não hospedeiras e plantas antagonistas. (Plantas antagonistas:
são as plantas nas quais o nematóide penetra, mas não se desenvolve e/ou apresenta efeito
estimulatório sobre a eclosão dos ovos dos nematóides. Exemplo: Crotalária Spectabilis e
Mucuna).
Na Tabela 3, observam-se algumas opções economicamente viáveis, para a rotação de
culturas dentro do contexto de plantio direto e de acordo com os principais seguimentos de
mercado e também pelo nível de infestação e de novas raças de H. glicynes.
Sistema I: Baixa Infestação para H. glicynes
VERÃO I SAFRINHA/COBERTURA VERÃO II
Soja Resistente Milho / B. ruziziensis Algodão
Soja Resistente Sorgo Soja Resistente
Soja Resistente B. ruziziensis Milho
Soja Resistente Cober Crop Soja Resistente
Soja Resistente Milho Soja Resistente
Soja Resistente Milheto Soja Resistente
Soja Resistente Crotalária Milho
Milho SP Algodão Soja Resistente
Milho Crotalária Soja Resistente
Milho / B. ruziziensis ILP - Int. Lavoura Pecuária Soja Resistente
Sistema II: Alta Infestação e novas raças para H. glicynes
VERÃO I SAFRINHA/COBERTURA VERÃO II
Algodão Manejo de pós-colheita Milho
Cober Crop Algodão Milho
Crotalaria Sorgo Milho
Crotalaria Milho / B. ruziziensis Crotalaria
Crotalaria Milho Crotalaria
Milheto Algodão Milho
Milho Mucuna Algodão
Milho Algodão Milho
Milho Crotalaria Algodão
Milho Cober Crop Algodão
Milho ILP - Int. Lavoura Pecuária Algodão
Tabela 3. Sistemas de plantio em rotação/sucessão de culturas para controle de NCS
2) Nematóide de Galhas (Meloidogyne spp.)
- CARACTERÍSTICAS BIOLÓGICAS dos nematóides do gênero Meloidgyne spp.
Ciclo Biológico: Meloidogyne
J2
infestando
a raiz
J2
iniciando a
alimentação
J2
Adultos
permanece no interior
da galha
rompe a cutícula e
abandona a galha
juvenil
eclodindo
realizando postura
J2
livres a procura do
hospedeiro
J4
desenvolvimento
do aparelho
reprodutor
Desenho: Patrícia Milano
Ciclo Biológico: Meloidogyne
J2
infestando
a raiz
J2
iniciando a
alimentação
J2
Adultos
permanece no interior
da galha
rompe a cutícula e
abandona a galha
juvenil
eclodindo
realizando postura
J2
livres a procura do
hospedeiro
J4
desenvolvimento
do aparelho
reprodutor
Desenho: Patrícia Milano
Com seu CICLO de aproximadamente de 25 a 40 dias este nematóide compreende as fases de
ovo em quatro estádios juvenis e adulto, sendo:
1. Ovo: massa de ovos colocadas no solo ou no córtes da raiz;
2. J1: primeira ecdise no interior do ovo;
3. J2: fase infectiva (sai do ovo e inicia sua movimentação no solo em busca de
alimento, penetra as raízes até atingir a região central (estelo) daí inicia-se a sua
alimentação (4 a 8 células nutridoras);
4. J3 e J4: o nematóide cresce e perde a mobilidade, trocando de pele mais três vezes;
5. Fase Adulta:
- Macho: recupera mobilidade e adquire a forma esbelta e a Fêmea continua
sedentária com a região posterior do corpo na epiderme da raiz aguardando para ser
fecundada. Cada fêmea pode colocar de 200 a 1000 ovos por (média 400 ovos). Os
machos não são necessários para reprodução.
Fases do ciclo de ovo a adulto do Meloidogyne spp.
Foto Monsanto. Penetração de
Juvenis J2 nas raízes.
OVO J 2 J 2 a J3 FÊMEAOVO J 2 J 2 a J3 FÊMEA
Juvenis do 2º Estádio Fêmea de Meloidogyne na raíz
Fêmea de Meloidogyne na raiz com Ooteca Galhas com massa de ovos
Fêmea com ovos e região perineal de Meloidogyne
Juvenis do 2o EstádioJuvenis do 2o Estádio
Massa de ovos( OOTECA )
Fêmea
Massa de ovos( OOTECA )
Fêmea
Deposição de ovos para dentro da OOTECA Deposição de ovos para dentro da OOTECA
Massa de ovosMassa de ovos
O gênero Meloidogyne compreende um grande número de espécies. Entretanto, M.
javanica e M. incognita são as que mais limitam a produção das grandes culturas como a soja
e algodão (Tabela 4). No Brasil a OCORRÊNCIA do M. javanica (soja) é generalizada,
enquanto M. incognita predomina em áreas cultivadas anteriormente com café ou algodão
(PR, SP, MG, MS, MT, BA). O nematóide Meloidgyne spp. tem PRFERÊNCIAS por solos
arenosos ou médio-Argilosos ( > 25% de argila ). As maiores PERDAS, da ordem de 10% a
40%, são observadas em soja cultivada em solos arenosos. (Prof. Dr. Mario Inomoto,
ESALQ/USP).
A DISSEMINAÇÃO dos nematóides de galha se deram inicialmente através de mudas de
café, estacas enraizadas, mudas de frutíferas, ornamentais, batata semente (tubérculos), no
entanto, hoje pode-se contar com sementes e mudas fiscalizadas e certificadas, porém a
disseminação ainda continua sendo um dos grandes entraves no controle destes parasitas, pois
são facilmente levados através de máquinas e implementos agrícolas (terceirizados /
emprestados / transferidos), movimentações excessivas de solo, sementes, calçados, sacarias e
até mesmo enxurradas ou erosões.
Sua SOBREVIVÊNCIA pode variar de 6 a 12 meses e se torna menor em condições de
plantio direto, pois há maior teor de matéria orgânica, conseqüentemente maior presença de
inimigos naturais no solo. Além das características do solo, temperatura e umidade também
interferem na sobrevivência dos nematóides de galha.
M. M. M. M.
incognita hapla javanica arenaria
Crotalaria spectabilis crotalaria 0 (1)
0 0 0
Cucurbita pepo abóbora 4 (5)
4 4 4
Lectuca sativa alface 4 - 4 -
Medicapo sativa alfafa 3 4 3 3
Gossypium hirsutum algodão 3 0 0 0
Arachis hypogaea amendoim 0 4 0 4
Avena sativa aveia 1 (2)
0 1 1
Musa caverdishii banana - (6)
- 4 -
Solanum tuberosum batata 4 3 3 3
Impomoea batatas batata-doce 2 (3)
2 0 0
Beta vulgaris beterraba 4 2 4 4
Saccharum officinarum cana-de-açucar - - 3 -
Allium cepa cebola 4 1 3 3
Daucus carota cenoura 4 2 4 4
Phaseolus vulgaris feijão 3 (4)
4 4 4
Pelargonium sp. gerânio 0 1 0 0
Cajanus cajan guandu - - 4 -
Ricinus communis mamona 4 - - -
Arracacia xanthorrhiza mandioq. Salsa 4 4 - -
Citrullus vulgaris melancia 4 - - -
Zea mays milho 3 0 3 2
Fragaria sp. morangueiro 0 4 0 0
Hibiscus esculentus quiabo 3 0 3 1
Apium graveolens salsão 4 - - -
Glycine max soja 4 4 4 3
Lycopersicum esculentum tomate 4 4 4 4
Triticum aestivum trigo 4 0 4 3
Fonte: "Nematóides das Plantas Cultivadas" L. G. E. Lordello.
Legenda(1)
Grau 0 = não houve infestação; no caso de terem as larvas pré-parasita penetrado nos tecidos
não se desenvolveram até o estado de fêmeas maduras produtoras de ovos.(2)
Grau 1 = infestação extremamente leve, tendo apenas uma ou outra fêmea com massa de ovos
sido verificada no interior da raiz.(3)
Grau 2 = infestação leve, com fêmeas maduras com massas de ovos facilamente vistas, meso
ao olho nú.(4)
Grau 3 = infestação moderada, sendo as fêmeas maduras e massas de ovos moderadamente
abundantes.(5)
Grau 4 = infestação severa, sendo muito abundantes não só femeas maduras mas também ootecas.(6)
- = a ausência de um numero significa que a susceptibilidade não foi testada ou verificada
em amostra coligada na natureza
Tabela 4. Suceptibilidade de algumas culturas ao ataque de nematóides do genero Meloidogyne , por 4 espécies
Nome comumNome cientifico
Quanto a sua SINTOMATOLOGIA pode-se observar a partir do florescimento os
sintomas reflexos, como, a redução na área foliar, deficiências minerais e murchamento
temporário nos horários mais quentes do dia, clorose interneval, diferentemente da que ocorre
com Heterodera glicynes e em populações mais elevadas até mesmo um avermelhamento nas
folhas, crestamento generaliza (Carijó) e conseqüentemente baixas produtividades. Os
sintomas diretos apresentam redução e distúrbios no sistema radicular, através do
engrossamento das paredes celulares nas raízes promovendo baixa eficiência na absorção e
translocação de água e nutrientes.
Fotos Monsanto - Sintomas de galhas nas raízes da soja – Meloidogyne spp.
Foto Guilherme L. Asmus, Embrapa –
CNPAO, Sintoma de M. incógnita em raiz
de algodão
Para o CONTROLE do nematóide de galhas podem ser utilizadas, de modo integrado,
várias estratégias, primeiramente deve-se interromper os mecanismos de dispersão entre e
dentro das propriedades rurais. Entretanto, as mais eficientes são a rotação/sucessão com
culturas não ou más hospedeiras e a utilização de cultivares resistentes. A rotação de culturas
para controle do nematóide de galhas deve ser bem planejada, uma vez que, a maioria das
espécies cultivadas podem ser atacada. Quase todas as plantas daninhas também possibilitam
a reprodução e a sobrevivência desses nematóides, assim, deve ser realizado o controle
sistemático dessas plantas principalmente nas reboleiras. A escolha da rotação adequada deve
se basear, também, na viabilidade técnica e econômica da cultura na região, sendo bastante
variável de um local para outro. Para recuperação da matéria orgânica e da atividade
microbiana do solo e possibilitar a manutenção populacional de inimigos naturais, também é
importante incluir, na rotação/sucessão, espécies de “adubos verdes” resistentes. Como existe
variação dentro das espécies vegetais com relação à capacidade de multiplicar as diferentes
espécies de Meloidogyne spp., somente a partir do conhecimento da reação de cultivares e
híbridos a esta espécie, é que se pode desenvolver um planejamento eficiente de
rotação/sucessão de culturas. Em soja a presença de galhas é positivamente correlacionada
com maior reprodução do nematóide e maior dano na planta. Há casos de formação de galhas
incitadas por Meloidogyne spp. em alguns híbridos de milho, mas a regra é a ausência, mesmo
quando ocorre o parasitismo. Os danos em milho são raros também. Mesmo em reboleiras de
elevada infestação, o milho apresenta desenvolvimento normal. Desta forma pode se dizer que
os genótipos de milho possuem elevada tolerância a danos causados por espécies de
Meloidogyne presentes no Brasil e podem ser de fundamental importância para a redução da
população desses nematóides. A escolha de híbridos de milho e soja resistentes para rotação,
auxiliam em manter a população dos nematóides em níveis baixos, evitando perdas de
produtividade (vide tabela das empresas). Os incrementos da população (FR) de M. javanica
em soja são, maiores do que aqueles observados em milho mesmo em cultivares de soja
resistentes, como Pequi, a Conquista e Garimpo. Em cultivares de soja suscetíveis o
incremento da população foi ainda mais elevado. (João Flávio Veloso Silva – EMBRAPA
Soja). O método de controle mais eficiente, barato e de fácil assimilação pelos produtores, é o
uso de cultivares e híbridos resistentes. Atualmente, cerca de 80 cultivares de soja com níveis
variados de resistência aos nematóides de galhas estão disponíveis no Brasil. Todas
descendem de uma única fonte de resistência: a cultivar norte-americana Bragg. Como os
níveis de resistência destes cultivares não são muito altos, em situações de populações
elevadas do nematóide, antes de semear uma cultivar resistente o agricultor deverá fazer
rotação de cultura com uma espécie vegetal não ou má hospedeira.
É preciso destacar que quanto maior a infestação do nematóide, mais difícil é seu
controle, ou seja, por mais tempo será necessário utilizar o milho ou o sorgo ou outra cultura
resistente para que a população do nematóide fique suficientemente baixa para não causar
perdas à cultura subseqüente de soja. O milho também pode ser utilizado em rotação ou
sucessão com a soja para o controle dos nematóides das galhas, no entanto, três ações são
importantes para se obter o controle dos nematóides das galhas por meio de rotação ou
sucessão de culturas (vide tabelas das empresas) 1- identificar a espécie de Meloidogyne spp.;
2- conhecer as cultivares ou os híbridos que são resistentes à espécie identificada; 3- verificar
a população do nematóide no final da safra (Prof. Dr. Mário Inomoto, ESALQ/USP).
3) Nematóide Reniforme (Rotylenchulus reniformis)
- CARACTERÍSTICAS BIOLÓGICAS do nematóide Rotylenchulus reniformis:
Este nematóide apresenta tipicamente quatro fases juvenis, onde sua primeira ecdise
acontece ainda dentro do ovo (J1).
1- J1: Primeira troca de pele (dentro do ovo);
2- J2: Eclosão (sai do ovo e entra movimentação no solo);
3- J3 e J4: Adultos imaturos (NÃO se alimenta nesta fase);
4- Fase Adulta:
- Macho: comuns no solo e aparentemente não se alimentam e permanecem móveis
no solo;
- Fêmeas imaturas: esbeltas e infectivas. Penetram a parte anterior do corpo no
Cortéx radicular, onde estabelece um sítio de alimentação e atraem os machos; Torna-se
sedentário, aumentando de tamanho (forma semelhante a um Rim). Cada fêmea coloca em
média 100 ovos (massa gelatinosa recobrindo as fêmeas).
Ciclo Biológico: Rotylenchulus
J2
livres no solo
J3
livres no solo
J4
livres no solo
Adultos sexualmente
imaturos
(1) Fêmea iniciando a
alimentação no
hospedeiro
(3) macho
permanece no solo
sem se alimentar (1)
(2)(3)
(2) Adultos
sexualmente imaturos
Fêmea
sedentária
Fêmea adulta (formato
de rim)
Fêmea madura
sexualmente pronta para o
acasalamento
e
em cópula
Fêmea realizando
postura J2
eclodindo
Desenho: Patrícia Milano
Ciclo Biológico: Rotylenchulus
J2
livres no solo
J3
livres no solo
J4
livres no solo
Adultos sexualmente
imaturos
(1) Fêmea iniciando a
alimentação no
hospedeiro
(3) macho
permanece no solo
sem se alimentar (1)
(2)(3)
(2) Adultos
sexualmente imaturos
Fêmea
sedentária
Fêmea adulta (formato
de rim)
Fêmea madura
sexualmente pronta para o
acasalamento
e
em cópula
Fêmea realizando
postura J2
eclodindo
Desenho: Patrícia Milano
Fotos: Guilherme L. Asmus, Embrapa CNPAO – Rotylenchulus reniformis na raíz
Muito embora o algodão seja a cultura mais afetada por R. reniformis, também tem
parasitado à cultura da soja, feijão, abacaxi entre outras (Tabela 1). Sua OCORRÊNCIA
está localizada principalmente nas regiões tropicais e subtropicais, em especial na região
Centro-Sul do Mato Grosso do Sul e Mato Grosso. No Brasil Central apresenta
PREFERENCIAS por solos médio-argilosos a argilosos (25 a 35% de argila) a (> 35% de
argila) respectivamente, nestas condições tem-se verificado perdas de 10 a 30% na cultura
da soja.
Apresenta alta capacidade de SOBREVIVENCIA na ausência de hospedeiros, pois
quando em condições de baixa umidade no solo entra em estado de Anidrobiose
(mecanismo de natureza fisiológica pelo qual, a escassez de umidade, induz o nematóide a
reduzir drasticamente seu metabolismo, quase ametabolismo), suportando melhor a
dessecação que outras espécies de nematóides (Dr. Guilherme Lafourcade Asmus,
EMBRAPA – CNPAO). Há relatos que mencionam sua sobrevivência acima de 29 meses.
Quando em estado de anidrobiose sua DISSEMINAÇÃO pelo vento é facilitada, além das
demais práticas de dispersão, como: qualquer prática que movimente o solo, através de
máquinas e implementos agrícolas (terceirizados / emprestados e/ou transferidos). Em
campos infestados durante operação de plantio e cultivo foram encontrados nos pneus do
trator 1.200 nematóides/200cm3 de solo aderido e durante a operação de colheita, nos
pneus da máquina foram encontrados 52 nematóides/200 cm3 de solo aderido.
Suas SINTOMATOLOGIAS diferentemente dos demais nematóides não apresentam
galhas ou fêmeas visíveis a olho nu (NCS), mas da mesma forma apresenta como sintoma
direto um sistema radicular pouco desenvolvido, caracterizado por apresentar em alguns
pontos da raiz uma camada de terra aderida às massas de ovos do nematóide, que são
produzidas externamente, deixando com aspecto de raiz suja de terra mesmo após lavada
em água corrente e como sintomas reflexos apresenta reboleiras muito grandes, difíceis de
serem percebidas por um observador com pouca experiência, o porte de plantas ficam
menores que as normais (semelhante à compactação de solo) e sem apresentar cloroses,
plantas “Carijó”, somente em altas populações e conseqüentemente baixas produtividades
na cultura. O Nível de Dano: EUA – 600 nematóides/200cm3, porém no Brasil ainda não
há uma determinação.
Foto: Guilherme L. Asmus Foto: Jaime Maya dos Santos
Foto: Jaime Maia dos Santos
Para se efetuar um manejo adequado de R. reiniformis, é imprescindível que se adote
medidas integradas, não se limitando a apenas uma ação, mas há um conjunto de ações,
onde primeiramente deve-se Interromper os mecanismos de dispersão deste parasita,
através da lavagem dos equipamentos e máquinas, antes e após sua utilização; procurar
deixar as áreas mais infestadas serem trabalhadas por último e adotar medidas culturais
que neste caso são altamente eficientes, como a rotação/suscessão com culturas não
hospedeiras optando por qualquer cultivar ou híbrido de milho, sorgo, soja resistente.
Trabalhar o sistema de plantio direto associado à rotação de culturas, pois a maioria das
culturas de coberturas, tais como: braquiarias, sorgo, sorgo forrageiro, milheto, pé-de-
Rotylenchulus reniformisRotylenchulus reniformis
CARIJÓ TÍPICOCARIJÓ TÍPICO
galinha, mesmo em sucessão apresentou redução deste nematóide. Dentro deste manejo
integrado a escolha do método de imunização é altamente interessante, pois é facilmente
assimilado pelo agricultor, através da adoção de cultivares e variedades resistentes.
4) Nematóide das Lesões Radiculares (Pratylenchus brachyurus)
- CARACTERÍSTICAS BIOLÓGICAS do nematóide Pratylenchus brachyurus:
Seguindo praticamente as mesmas características do R. reniformis durante sua fase juvenil o
nematóide das Lesões Radiculares se diferem basicamente na sua fase adulta e seus ovos
podem ser colocados dentro das raízes e no solo.
1- J1: ocorre à primeira troca de pele ainda dentro do ovo;
2- J2: Eclosão e início da sua alimentação;
3- J3 e J4: continuam a crescer e passa por outras trocas de ecdise;
4- Estádio Adulto: nesta fase o P. brachyurus é composto basicamente por fêmeas, já
que o macho é muito raro para esta espécie e sua reprodução é do tipo partogênica.
- Fêmeas: completam o ciclo dentro da raiz; Após alimentar-se das raízes ou
por excesso de ocupação das mesmas, caminha no solo em busca de raízes em melhores
condições. Uma fêmea chega a colocar cerca de 80 ovos dentro das raízes. No geral seu
CICLO é completado em 3 a 4 semanas, podendo alongar-se em épocas mais frias.
No Brasil, as espécies de nematóide do gênero Pratylenchus, conhecidas como
“nematóides das lesões radiculares”, figuram em segundo lugar em termos de importância
para a Agricultura, sendo superadas apenas pelos chamados “nematóides de galhas”, do
Ciclo Biológico: Pratylenchus
Desenho: Patrícia Milano
Fêmeas adultas em busca
de novos hospedeiros
Fêmea infestação no
hospedeiro
Fêmea dentro do hospedeiro,
ovipositando
Juvenil eclodindoJ2J3
J4
Ciclo Biológico: Pratylenchus
Desenho: Patrícia Milano
Fêmeas adultas em busca
de novos hospedeiros
Fêmea infestação no
hospedeiro
Fêmea dentro do hospedeiro,
ovipositando
Juvenil eclodindoJ2J3
J4
gênero Meloidogyne. Dentro do gênero Pratylenchus, a espécie P. brachyurus (Godfrey)
Filipjev & S. Stekhoven é uma das mais destacadas em todo o mundo. Tal relevância está
associada a algumas características mostradas por esse nematóide, entre as quais: i) ampla
distribuição geográfica, ocorrendo na maioria dos países das regiões tropical e subtropical; ii)
alto grau de polifagia, ou seja, capacidade de parasitar e multiplicar-se em grande número de
plantas hospedeiras, filiadas a diferentes famílias botânicas; e iii) ação patogênica
pronunciada no caso de várias culturas de grande interesse agronômico, anuais e perenes,
podendo causar danos marcantes e perdas econômicas vultosas.
No Mato Grosso e no Norte do Mato Grosso do Sul, tornou-se mais favorável a este
nematóide, pois apresenta solos de textura média e sucessões constantes de culturas
suscetíveis (soja, milho e algodão), o que tem levado ao aparecimento de populações elevadas
nestas regiões. Levantamento feito em áreas produtoras de soja e algodão no estado do MT
apresentou 94% das amostras com Pratylenchus brachyurus (Silva, 2003). O que denota
importância subestimada deste parasita. Contudo, quase não existem estudos sobre os efeitos
do seu parasitismo nas diversas culturas. (Tabela 1). Sua PREFERENCIA é por solos médio-
arenosos (15 a 25% argila) e tem-se beneficiado muito com as culturas de soja e algodão,
além daquelas áreas degradadas, onde anteriormente era pastagem e foi incorporada para
lavoura de soja. Quando é único nematóide presente na cultura da soja, pode causar PERDAS
de 10 a 25%, porém pode ocorrer associado com outros nematóides (NCS e Galha).
O Pratylenchus brachyurus tem baixa capacidade de SOBREVIVÊNCIA na ausência
de hospedeiros, porém consegue sobreviver em restos culturais, tornado seu controle um
pouco mais complicado, pois é favorecido pelas áreas com sistema de plantio direto e cultivo
mínimo, nos quais a formação da palhada assegura no solo a manutenção do teor de umidade
adequado à sobrevivência e boa atividade dos nematóides durante boa parte do ano. É muito
comum e abundante em culturas irrigadas, onde há presença constante de hospedeiros.
Sua DISSEMINAÇÃO é umas das formas mais importantes para inibir sua dispersão, pois é
facilmente levado por máquinas e implementos, além das enxurradas e outros meios.
A SINTOMATOLOGIA causada por este nematóide apresenta o sistema radicular da
planta menos volumoso, pouco desenvolvido, e as raízes presentes mostram áreas parcial ou
totalmente escura, resultantes da coalescência das muitas lesões necróticas causadas
internamente pelo nematóide. Essas anomalias provocadas no sistema radicular limitam a
absorção e o transporte de água e de nutrientes, levando a planta atacada a exibir diferentes
sintomas reflexos na parte aérea, em especial enfezamento, nanismo, murcha nas horas mais
quentes do dia, clorose e outros indicativos de distúrbios nutricionais, desfolha, queda na
produtividade, etc. O ataque costuma ocorrer em reboleiras, nas quais os níveis populacionais
do nematóide são elevados e o porte das plantas é menor que o normal.
Interação com outros fungos agrava a murcha por Verticillium (algodão, batata,
morango e tomateiro), murcha por Fusarium e agrava problemas com Rhizoctonia,
Phytophthora e Pythium
Foto: Jaime M. dos Santos – UNESP Foto: Neucimara R. Ribeiro - APROSMAT
Foto: Neucimara R. Ribeiro – APROSMAT Foto: Prof. Dr. Mário Inomoto – ESALQ/USP
Foto: Jaime Maia dos Santos – Pratylenchus na cultura do algodão
Pratylenchus brachyurusPratylenchus brachyurus
Há várias medidas de MANEJO que podem ser cogitadas visando à solução de um
determinado problema de natureza nematológica, porém para Pratylenchus brachyurus a
maioria delas não se mostra tecnicamente eficaz ou economicamente exeqüível, ficando as
opções bastante restritas. O emprego do controle varietal, por exemplo, embora fosse o ideal,
não está ao alcance no momento, pois não se dispõe de cultivares de soja altamente resistentes
a P. brachyurus, haja visto que, nos últimos anos, as pesquisas nacionais na área de
melhoramento genético têm visado principalmente à resistência ao nematóide de cisto e aos
nematóides de galhas, assim como os estudos referentes aos híbridos e variedades de milho e
sorgo.
O controle químico também encontra objeções, em especial pelo fato de que os
produtos nematicidas, embora eficientes, não erradicam o nematóide, mas apenas reduzem-lhe
as populações temporariamente, aspecto conflitante com os objetivos do plantio direto e que,
ao longo do tempo, poderia onerar a produção.
A técnica que vem sendo mais indicada ao manejo de P. brachyurus é a rotação de
culturas, alternando plantios de soja com outras culturas de verão e de inverno que sejam
resistentes a esse nematóide (Tabela 5). A eficácia da técnica está ligada ao fato de que,
embora a lista de hospedeiros de P. brachyurus seja extensa, encontram-se ainda algumas
plantas nas quais a sua multiplicação não ocorre ou a taxa de reprodução é extremamente
baixa. Portanto, o cultivo de tais plantas, dentro de esquema bem planejado, poderá ensejar
ao produtor a redução da população desse nematóide na área a níveis toleráveis, a exemplo do
que já se tem buscado fazer em relação aos nematóides de galhas e ao nematóide de cisto.
Tabela 5: Sistema de rotação alternando plantio de soja e outras culturas
Além da soja e algodão, P. brachyurus pode parasitar a aveia, o milho, o milheto, o
girassol, a cana-de-açúcar, o amendoim, dentre outras, alguns adubos verdes e a maioria das
ervas daninhas. Entretanto, existe variabilidade entre e dentro das culturas ou espécies
utilizadas em cobertura ou adubação verde, com relação à capacidade de multiplicar o
nematóide (Tabela 6). Espécies, cultivares e híbridos resistentes ou que multiplicam menos o
parasita, devem ser preferidas para semeadura em rotação/sucessão com as grandes culturas
do cerrado, nas áreas infestadas.
Tabela 6. Fatores de reprodução (FR) de P. brachyurus em algumas espécies vegetais.
Médias de seis repetições. Embrapa Soja, março de 2007.
Espécies Vegetais FR* Espécies Vegetais FR
Aveia preta
Crotalaria spectabilis
Crotalaria breviflora
Crotalaria mucronata
Crotalaria ochroleuca
Crotalaria junceae
Brachiaria decumbens
Brachiaria brizantha
Milheto „ADR Lab 04-208‟
Milheto „ADR 300‟
Milheto „BN2‟0,0
Milheto „ADR 500‟
Mucuna cinza
Mucuna anã
Mucuna preta
0,9
0,0
0,0
0,0
0,0
1,3
0,6
1,7
0,2
0,2
0,0
1,8
2,6
3,3
11,4
Guandu Fava Larga
Guandu anão „IAPAR 43‟
Girassol „Hélio 251‟
Girassol „Hélio 358‟
Girassol „BRS 122‟
Girassol „IAC Uruguai‟
Girassol „Catissol‟
Labe-labe
Sorgo „IG 150‟
Quiabo „Santa Cruz‟
Soja „Peking‟
Soja „Essex‟
0,4
0,6
0,2
0,4
0,7
1,1
0,2
2,2
2,2
6,6
1,6
4,9
*FR= população final de nematóides recuperada em cada planta/população inicial (600 espécimes).
Algumas cultivares norte-americanas foram relatadas (www.soybean.ncsu.edu/soyvar)
como sendo resistentes (Cook, Davis, Deltapine 417, Essex, McNair 600, NK Coker 338 e
Ransom) ou moderadamente resistentes (Hutton, NK Coker 136, Pickett, Asgrow A5979 e
Bragg), porém o controle genético da resistência não foi esclarecido.
O comportamento das cultivares brasileiros de soja em áreas infestadas com P.
brachyurus não tem indicado a existência de materiais resistentes ou tolerantes. Todavia,
avaliações em casa-de-vegetação mostraram que as cultivares recomendadas no Brasil Central
diferem bastante com relação à capacidade de multiplicar o nematóide.
Conclusões/Recomendações
O controle dos nematóides no cerrado não se faz através de ações isoladas e sim
trabalha-se um conjunto delas, através de um bom planejamento técnico, sistemas produtivos
e estratégias adequadas que viabilizem a convivência econômica com estas pragas. E para isso
só se consegue ser assertivo no manejo dos nematóides começando por sua identificação e
quantificação das espécies presentes na lavoura, através de coletas de amostras de solos e
raízes, a uma profundidade de 0 a 30 cm, acondicionadas em sacos plásticos bem amarrados e
acondicionadas em caixas térmicas para que as amostras se mantenham frescas e úmidas, em
seguida encaminhar ao laboratório de sua preferência para as análises o mais rápido possível.
A rotação de culturas não deve ser substituída pela sucessão de culturas, esta é uma
das ferramentas mais eficientes no combate ao nematóide. E para alguns gêneros, raças e/ou
altas populações se faz imprescindível.
O cultivo de plantas não hospedeiras na entressafra (maio a agosto) não mostrou ser
boa opção para redução da população de nematóides, ainda sim se faz necessário à rotação de
culturas no verão.
A utilização de cultivares, variedades e híbridos resistentes no sistema produtivo é um
dos métodos mais seguros e econômicos, porém não deve ser a única opção de manejo de
nematóides, pois poderá haver quebra de resistência em situações de alta população de
nematóides, nestes casos antes de semear uma cultivar resistente, o agricultor deverá fazer
rotação de cultura com uma espécie não hospedeira.
A rotação de culturas é um forte componente do Sistema de Plantio Direto e um
agente que auxilia na menor disseminação dos nematóides, além de todos os demais
benefícios. Nematóides do gênero Pratylenchus brachyurus podem e devem ser manejados
em sistema de plantio direto com a adoção de culturas botânica resistentes, além de se buscar
variedades, cultivares e híbridos resistentes na recomendação da cultura subseqüente.
Como pode-se observar, que o manejo de nematóides é bastante complexo e tornou-se
imperioso e inadiável. Por se tratar de pequenos vermes microscópicos, a percepção das
perdas pelo produtor é bastante lenta e com isso facilita ainda mais sua dispersão e incremento
populacional, somente com este conjunto de ações e atitudes os agricultores conseguirão
aumentar suas produtividades e sua receita.
Autores e co-autores:
(1) Coordenador de Desenvolvimento Tecnológico, Monsanto do Brasil Ltda, Rondonópolis, MT
(2) Gerente de Pesquisa em Nematologia, Dra. em Nematologia, APROSMAT, Rondonópolis, MT
(3) Coordenador de Desenvolvimento Tecnológico, Monsanto do Brasil Ltda, Rio Verde, GO
(4) Gerente Técnico em Biotecnologia, Dr em Entomologia, Monsanto do Brasil Ltda, Piracicaba, SP
(5) Gerente Regional Desenvolvimento Tecnológico, Monsanto do Brasil Ltda, Goiânia, GO
(6) Gerente Nacional Desenvolvimento Tecnológico, Monsanto do Brasil Ltda, São Paulo, SP
- Andréa Luciana Sari Sampaio, Revisora, Especialista em linguagem e práticas de ensino da
Língua Portuguesa, UNIR/FAIR, Rondonópolis, MT
REVISÃO DE LITERATURA:
[1] DIAS, W.P.; SILVA, J.F.V.; GARCIA, A.; CARNEIRO, G.E.S. Nematóides de
importância para a soja no Brasil. In: Boletim de Pesquisa de Soja 2007.
Rondonopólis, Fundação MT (org.), 2007. p.173-183.
[2] INOMOTO, M. M; ASMUS, G. L.; SILVA, R. A.; MACHADO, A. C. Z. Nematóides
uma ameaça a cotonicultura brasileira, 2007.
[3] DIAS, W.P; RIBEIRO, N.R.; LOPES, I. O. N.; GARCIA, A.; CARNEIRO, G. E.S.;
SILVA, J. F. V. Manejo de nematóides na cultura da soja. 2007.
[4] CAMPOS, H. D. Manejo de nematóides na cultura da soja e do milho. FESULV, Rio
Verde, 2006.
[5] FERRAZ, L. C. C. B. O nematóide Pratylenchus brachyurus e a soja sob plantio
direto. Piracicaba: ESALQ/USP, Revista Plantio Direto, 2006.p. 26-27.
[6] INOMOTO, M. M. Principais nematóides na cultura da soja e seu manejo. Piracicaba:
ESALQ/USP, 2006.
[7] FERRAZ, L. C. C. B. As meloidogynoses da soja: passado, presente e futuro. In:
SILVA, J.F.V. (Org.) Relações parasito-hospedeiro nas meloidogynoses da soja.
Londrina: Embrapa Soja/Sociedade Brasileira de Nematologia, 2001. p-15-38.
[8] SILVA, J.F.V.; DIAS, W.P. et all Controle de nematóides de galhas em soja: O uso de
híbridos de milho na rotação. Embrapa Soja, 2001.
[9] GARCIA, A.; SILVA, J.F.V.; PEREIRA, J.E.; DIAS, W.P. Rotação de culturas e
manejo do solo para controle do nematóide de cisto da soja. In: Sociedade Brasileira
de Nematologia (Ed.) O Nematóide de cisto da soja: a experiência brasileira.
Jaboticabal: Artsigner Editores, 1999. p-55-70.
[10] ROBBINS, R.T.; RAKES, L. Resistance to the reniform nematode in selected soybean
cultivars and germplasm lines. Journal of Nematology, 28 (4S): 612-615, 1996.
[12] TOWNSHEND, J.L. Methods for evaluating resistance to lesion nematodes,
Pratylenchus species. In: STARR, J.L. (ed.). Methods for evaluating plant species for
resistance to plant-parasitic nematodes. Hyattsville: The Society of Nematologists,
1990.
[13] LORDELLO, L.G.E. Nematologia das plantas cultivadas.