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Boletim Técnico da Escola Politécnica da USP Departamento de Engenharia de Construção Civil
ISSN 0103-9830
BT/PCC/333
Vanessa Montoro Taborianski Racine T.A. Prado
São Paulo – 2003
Avaliação da contribuição das tipologias de aquecimento de água residencial para a
variação dos balanços de gases de efeito estufa na atmosfera
Escola Politécnica da Universidade de São Paulo Departamento de Engenharia de Construção Civil Boletim Técnico – Série BT/PCC Diretor: Prof. Dr. Vahan Agopyan Vice-Diretor: Prof. Dr. Ivan Gilberto Sandoval Falleiros Chefe do Departamento: Prof. Dr. Alex Kenya Abiko Suplente do Chefe do Departamento: Prof. Dr. Orestes Marraccini Gonçalves Conselho Editorial Prof. Dr. Alex Abiko Prof. Dr. Francisco Ferreira Cardoso Prof. Dr. João da Rocha Lima Jr. Prof. Dr. Orestes Marraccini Gonçalves Prof. Dr. Paulo Helene Prof. Dr. Cheng Liang Yee Coordenador Técnico Prof. Dr. Alex Abiko O Boletim Técnico é uma publicação da Escola Politécnica da USP/ Departamento de Engenharia de Construção Civil, fruto de pesquisas realizadas por docentes e pesquisadores desta Universidade. O presente trabalho é parte da dissertação de mestrado apresentada por Vanessa Montoro Taborianski, sob orientação do Prof. Racine Tadeu Araújo: “Avaliação da contribuição das tipologias de aquecimento de água residencial para a variação do estoque de gases de efeito estufa na atmosfera.”, defendida em 12/09/2002. A íntegra da dissertação encontra-se à disposição com o autor e na biblioteca de Engenharia Civil da Escola Politécnica/USP.
FICHA CATALOGRÁFICA
Taborianski, Vanessa Montoro Avaliação da contribuição das tipologias de aquecimento de água residencial para a variação dos balanços de gases de efei- to estufa na atmosfera / V.M. Taborianski, R.T.A. Prado. – São Paulo : EPUSP, 2003. 22 p. – (Boletim Técnico da Escola Politécnica da USP, Departamento de Engenharia de Construção Civil, BT/PCC/333) 1. Instalações prediais hidráulicas e sanitárias 2. Sistemas de aquecimento de água (Uso residencial) I. Prado, Racine Ta- deu Araújo II. Universidade de São Paulo. Escola Politécnica. Departamento de Engenharia de Construção Civil III. Título IV. Série ISSN 0103-9830 CDU 696.11/.14 696.4
1. Introdução
A revolução industrial trouxe, ao mundo contemporâneo, novas máquinas que
substituíram muitos trabalhos manuais. Junto com essas máquinas surgiram, no decorrer
dos anos, aparelhos e equipamentos que melhoraram a qualidade de vida das pessoas.
Entretanto, essa nova tecnologia necessitava de alguma forma de energia para seu
funcionamento. Os combustíveis fósseis e a energia elétrica foram os energéticos
escolhidos para tal finalidade. Essa nova perspectiva fez com que o consumo energético
crescesse exponencialmente. Segundo Martins (1999) no último século o homem médio
consumiu mais energia do que em toda a história da humanidade.
A indústria da construção civil é uma das principais fontes emissoras de
poluição devido ao alto consumo de energia em seu ciclo de vida. Conforme
Goldemberg (1998) as casas e edifícios (residenciais e comerciais) utilizam uma
quantidade substancial da energia não apenas enquanto estão sendo construídos mas
também para o funcionamento de seus equipamentos de aquecimento, refrigeração,
iluminação e utensílios, etc. Os processos de construção e operação dos edifícios foram
responsáveis por um terço do consumo total de energia em 1992; 26% desta quantidade
eram devidos à queima de combustíveis fósseis, Filippín (2000).
Dentro desse contexto, faz-se necessário estudar o impacto ambiental dos
sistemas de aquecimento de água, pois esta é uma das atividades que mais requerem
energia dentro dos edifícios. Segundo Prado; Gonçalves (1998) o aquecimento de água
realizado por chuveiros elétricos é responsável por aproximadamente 46,7% da
demanda de energia, durante 18 e 19 horas, no Brasil.
Um outro agravante para o consumo de energia pelos sistemas de aquecimento
de água é o uso extensivo de chuveiros elétricos no Brasil. No universo brasileiro, o
chuveiro elétrico provoca tanto um impacto ambiental, contribuindo com o aumento do
efeito estufa, como um impacto econômico, pois sobrecarrega a rede de transmissão de
energia elétrica nos horários de pico, isto é, entre 6 e 8 horas e 18 e 21 horas. Além
disso, a vazão obtida em um aquecedor a gás ou aquecedor solar é maior e resulta em
um banho mais confortável para o usuário.
Como se vê, o elevado consumo de energia tende a ser uma grande fonte de
preocupação mundial não só pelo esgotamento das fontes não-renováveis, mas também
pelo crescimento da emissão de poluentes no meio ambiente. Segundo Flavin (1990) os
sistemas de geração de energia são responsáveis por mais da metade do efeito estufa,
liberando não somente 21 bilhões de toneladas de dióxido de carbono na atmosfera
anualmente como também substanciais quantidades de dois outros importantes gases
de efeito estufa, o metano e o óxido de nitrogênio. O carbono contido nos combustíveis
fósseis fornece quase quatro quintos da energia mundial e seu uso contínuo cresce 3%
anualmente.
O principal problema ambiental causado pelo excesso de carbono na atmosfera é
o efeito estufa que tende a provocar um aumento da temperatura média do planeta, com
conseqüências catastróficas para o meio ambiente.
Atualmente a indústria da construção civil também tem se preocupado com as
questões ambientais. Para que um edifício seja considerado ecologicamente correto é
essencial que sejam avaliados os impactos ambientais de todas as suas partes
constituintes. Sob este aspecto, a Análise do Ciclo de Vida (LCA) é uma ferramenta
importante para avaliar as edificações. A Análise do Ciclo de Vida (LCA) é uma
metodologia que surgiu na década de 60 voltada, inicialmente, para produtos industriais
com tempo de vida de semanas ou meses e que tem sido adaptada para a indústria da
construção.
2. Descrição dos sistemas analisados
Segundo Ilha et al. (1996) a geração de água quente consiste no processo de
transferência de calor a partir de uma fonte energética para obtenção de água a uma
dada temperatura, podendo haver reservação do volume a ser aquecido ou não.
Os sistemas de aquecimento de água não se limitam somente ao aquecedor, eles
compõem-se também das tubulações, dos registros, das válvulas e dos acessórios. Desse
modo, a análise do ciclo de vida para estes sistemas é mais complexa pois envolve
vários equipamentos com diversos tipos de materiais.
Outro aspecto que deve ser destacado é que o tipo de sistema e a quantidade de
material empregada em um sistema de aquecimento de água variam conforme o tipo de
habitação adotado. Por um lado, de acordo com o projeto arquitetônico, pode-se optar
por alguns tipos de sistemas de aquecimento, dentre os existentes, sendo que outros
fatores como sociais, econômicos ou mesmo climáticos, tem papel fundamental na
escolha do sistema de aquecimento de água a ser empregado. Por outro lado, conforme a
distribuição arquitetônica tem-se caminhamentos diferentes para a tubulação, a
localização da caixa d’água e o emprego de certos acessórios hidráulicos. Desse modo,
um estudo comparativo, entre diversas tipologias de aquecimento de água, só se justifica
com a adoção de um mesmo modelo arquitetônico para os diversos sistemas. Além
disso, a mudança do sistema de aquecimento requer modificações não só nas instalações
hidráulicas, mas também nas instalações elétricas da habitação adotada.
Sendo assim, para a realização desse estudo, foi necessário escolher um modelo
de habitação para analisar as alternativas de sistemas de aquecimento de água.
Consultou-se a CDHU – Companhia de Desenvolvimento da Habitação Urbana - que é
uma empresa pública responsável pela construção de habitações populares do Estado de
São Paulo e decidiu-se por uma tipologia oferecida por esta companhia. Escolheu-se
uma habitação térrea formada por dois quartos, um banheiro, sala e cozinha.
Logo após, definiu-se que os sistemas utilizados neste estudo seriam o chuveiro
elétrico, o aquecedor a gás de passagem e o aquecedor solar.
O chuveiro elétrico é um pequeno aparelho revestido de material metálico ou de
plástico. Dentro do chuveiro tem-se uma resistência elétrica que é ligada
automaticamente pelo próximo fluxo de água. O usuário pode alterar a temperatura do
jato de água através de uma chave situada no topo do chuveiro que, dependendo do
modelo, possui várias posições, as quais regulam a resistência do mesmo.
No projeto considerou-se o uso de um chuveiro elétrico de 220 V, com potência
de 5.200 W e resistência blindada, por ser este um aparelho que fornece uma boa
qualidade de banho e segurança para o usuário.
Ao se utilizar um chuveiro elétrico como aparelho aquecedor de água para
banho, há um grande aumento na potência de energia demandada pela habitação. Desse
modo, houve necessidade de fornecimento bifásico e utilização de diâmetros maiores
para o cabo de cobre para isolação, para o condutor terra, na entrada de energia, e para
os eletrodutos. Além disso, foi necessário prever um circuito para abastecer o chuveiro
elétrico.
Para o aquecimento a gás, utilizou-se um aquecedor instantâneo, onde a água
aumenta sua temperatura, por condução, à medida que passa pela serpentina de cobre,
sem requerer acumulação. Por ser uma habitação popular e projetada para abrigar um
pequeno número de moradores, o modelo utilizado, nesse estudo, foi um aquecedor com
vazão de água de 12 L/min.
Outra característica do projeto do sistema por aquecedor a gás foi o uso de tubos
de CPVC para a tubulação de água quente com a finalidade de reduzir o custo das
instalações. Foram utilizadas tubulações metálicas apenas para a distribuição do gás até
o aparelho.
Nesse sistema, supôs-se que o aquecedor a gás, tanto a gás natural quanto a GLP
(gás liquefeito de petróleo), não utiliza eletricidade, pois se considerou que, no modelo
escolhido, não havia nem sensores e nem ignição eletrônicos. Desse modo, o
fornecimento pode ser monofásico e as fiações, com diâmetros menores.
Para o aquecimento solar, utilizaram-se coletores planos, sendo necessário uma
área total de 2 m2 para este modelo de residência. A radiação é captada nas horas de
insolação, convertida em calor e transferida para a água, sendo esta armazenada para
utilização, quando necessário. Em situação decorrente de vários dias sem insolação ou
com insolação insuficiente recorre-se a um aquecedor auxiliar que utiliza energia
elétrica para suprir eventuais necessidades. Esta energia auxiliar é composta por uma
resistência de 2000 W localizada no interior do tanque de armazenamento da água
quente. Neste caso, utilizou-se um sistema de reservação contendo um boiler cilíndrico
de aço inoxidável com capacidade para 200 L.
Utilizaram-se tubos de cobre para a rede de água quente, isto porque no sistema
solar a temperatura da água quente pode ultrapassar a temperatura máxima de suporte
dos tubos plásticos.
3. Metodologia
A metodologia para análise da contribuição para o efeito estufa dos sistemas de
aquecimento de água foi baseada na Análise de Ciclo de Vida (ACV).
3.1. Análise do Ciclo de Vida dos Sistemas de Aquecimento de Água
A ACV é uma metodologia utilizada na avaliação dos efeitos ambientais de um
produto, processo ou atividade ao longo de todo o seu ciclo de vida. Segundo o Grupo
de Prevenção da Poluição da Escola Politécnica da USP (2001) a metodologia da ACV
é composta de quatro partes:
• definição de metas e escopo;
• inventário de ciclo de vida;
• análise de impactos, e
• interpretação.
3.1.1. Definição de Metas e Escopo
A proposta desta ACV é avaliar comparativamente a contribuição para o
aquecimento global dos sistemas de aquecimento de água, através de chuveiros
elétricos, aquecedores solares, a gás natural e a GLP, de uma habitação modelo durante
20 anos. Optou-se por um indicador de efeito estufa para medir a variação de estoque
desses gases na atmosfera. Espera-se com isso que esse estudo possa contribuir para a
criação de políticas efetivas de preservação do meio ambiente pelas indústrias e pelas
autoridades nacionais.
A função deste sistema é aquecer água para banho. Desse modo, definiu-se
como unidade funcional o número de banhos ocorridos durante os 20 anos, ou seja,
29.200 banhos. Adotaram-se banhos com duração de 7 minutos e com vazão de 0,20
L/s.
O tempo de estudo foi definido de 20 anos pois se considerou que as tubulações
e os aquecedores a gás e solar tinham esse mesmo tempo de vida. Desse modo, foi
necessário apenas fazer a troca do chuveiro elétrico e das resistências elétricas durante
esse período. Para se calcular o número de vezes que o chuveiro elétrico e as
resistências devem ser trocadas utilizou-se a seguinte fórmula, Adalberth (1997):
Tempo de vida da construção – 1 (1) Tempo de vida do material
Sendo assim, como o chuveiro elétrico tem um tempo de vida aproximado de 10
anos, o número de trocas será 1 vez. Para a resistência elétrica do chuveiro e do
reservatório de água quente do sistema solar temos um tempo de vida de 5 anos, o que
nos fornece 3 trocas de resistência.
Inicialmente propô-se um fluxograma com as entradas e saídas do ciclo de vida
para os sistemas de aquecimento de água. Entretanto devido à dificuldade na obtenção
de dados das empresas envolvidas nesses processos, optou-se por estudar somente os
estágios de mineração, processo de transformação e uso. Como dado de entrada
considerou-se somente a energia gasta nesses estágios e, como dado de saída, somente
as emissões atmosféricas relacionadas ao aquecimento global. O fluxograma é mostrado
na figura 1. As fronteiras para esses sistemas estão quadriculadas.
MINERAÇÃO
PROCESSO DE TRANSFORMAÇÃO
Energia FABRICAÇÃO E Emissões Atmosféricas MONTAGEM
Materiais INSTALAÇÃO Resíduos
USO Efluentes
DISPOSIÇÃO
FINAL
Figura 1: Fluxograma do ciclo de vida dos sistemas de aquecimento de água.
Nos estágios de mineração e transformação também foi necessário selecionar os
materiais que seriam estudados. Decidiu-se analisar os materiais que, por sua
quantidade presente nos sistemas, fossem relevantes para o resultado final da pesquisa.
Outro ponto que deve ser observado é que foram feitas algumas simplificações
para o estudo desses estágios. Em primeiro lugar, considerou-se a mesma composição
química para o PVC e o CPVC, pois este último é um composto do PVC, utilizado nas
tubulações de água quente, em que são incorporados aditivos para se obter resistência a
temperaturas maiores de 70 °C. Em segundo lugar, não se estimou a energia gasta para
fabricação da nafta, no processo de transformação do PVC. Supôs-se somente a energia
gasta no refino do petróleo e a energia necessária para a fabricação do eteno e do cloro.
Além disso, considerou-se que o aço galvanizado utilizado nesses sistemas
contém 98,99% de ferro gusa, 0,01% de carbono, 0,5% de manganês e 0,5% de silício e
que o ferro galvanizado contém 95,2% de ferro gusa, 2,5% de carbono, 1,5% de silício e
0,8% de manganês. Finalmente, como a indústria do aço é bastante complexa, decidiu-
se considerar somente a quantidade de energia gasta na extração do minério de ferro, na
transformação do minério de ferro em ferro metálico e na siderurgia do aço,
desconsiderando a energia empregada na fabricação do ferro gusa e na mineração dos
materiais adicionados na fabricação do mesmo (minério de manganês, calcário, etc).
Considerou-se que a composição do latão utilizado nos sistemas de aquecimento
de água é de 67% de cobre e 33% de zinco e do bronze é de 82% de cobre, 8% de zinco,
7% de chumbo e 3% de estanho.
Outro aspecto que deve ser ressaltado é que o mercado de chumbo, no Brasil,
apresenta excelente reciclagem, especialmente de baterias automotivas, da ordem de
90%. Desse modo, considerou-se que, somente no caso do chumbo, todo o chumbo
utilizado nos sistemas de aquecimento de água vem da reciclagem deste produto.
3.1.2. Inventário de Ciclo de Vida
Nesta fase foi avaliada a quantidade de poluentes, que contribui para o aumento
do efeito estufa, emitida pelas usinas geradoras de energia elétrica. A seguir são
apresentadas as etapas para o cálculo do potencial de aquecimento global produzido
pelos sistemas de aquecimento de água.
Etapa 1 – Cálculo da energia final consumida em cada sistema
A energia final consumida foi quantificada para cada tipologia de aquecimento
de água e para cada fase do ciclo de vida. Para isso, adotaram-se os valores indicados
em Bermann (1991) e calculou-se a quantidade de energia elétrica gasta na produção
dos materiais constituintes de cada sistema.
Por sua vez, a energia elétrica brasileira é essencialmente de origem hídrica.
Mais de três quartos são gerados por este tipo de usina. O restante divide-se em
termelétricas a carvão, a gás natural, óleo combustível, óleo diesel, usina nuclear e
alguns outros materiais utilizados como energéticos, como lenha e bagaço de cana. A
figura 2 mostra a porcentagem de energia elétrica gerada no Brasil.
Esse sistema de geração de energia é subdividido em três sistemas:
• sistema isolado;
• sistema interligado sul/sudeste/centro-oeste, e
• sistema interligado norte/nordeste.
O sistema isolado é representado por pequenas usinas, geralmente termelétricas,
situadas principalmente na região norte do país e utilizadas para produção de energia em
uma pequena área.
Os sistemas interligados são assim denominados porque podem fornecer energia
para toda a região interligada e não só nas proximidades de sua localização. Além disso,
quando uma usina não produz eletricidade suficiente para atender a demanda local, a
energia produzida por outras usinas é retransmitida para os locais com pouca produção.
88,1
2,3 1,9 0,6 1,2 2,2 3,7
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
Con
trib
uiçã
o (%
)
Geração de Energia Elétrica no Brasil
HidráulicaÓleo combustívelÓleo dieselGás naturalNuclearCarvão vaporOutras
Fonte: Baseado no Balanço Energético Nacional (2000).
Figura 2: Geração de energia elétrica no Brasil, em %.
Segundo Fadigas1 a partir do ano de 1998 o sistema sul/sudeste/centro-oeste
passou a ser interligado também com o sistema norte/nordeste. A grande vantagem
dessa interligação é que o país consegue atender 30% a mais da demanda de energia do
que seria capaz somente com sistemas isolados.
Outra característica do sistema energético brasileiro é que, devido à interligação
entre os sistemas, não é possível definir com exatidão onde foi gerada a energia
consumida em uma localidade. 1 FADIGAS, E. (Escola Politécnica da USP, São Paulo). Comunicação verbal, 2001.
Por sua vez, antes da crise energética de 2001, as termelétricas geralmente
funcionavam apenas em épocas de baixa de água nos reservatórios das hidrelétricas,
com o objetivo de suprir o fornecimento de eletricidade. Entretanto, elas poderão entrar
em funcionamento contínuo com o aumento do consumo de energia.
Consideraram-se, também, as perdas na distribuição da energia elétrica. No
Brasil, segundo Reis2, as perdas de eletricidade nas linhas de transmissão estão entre 6 e
10%. Nesse trabalho, optou-se por adotar o valor médio de 8%.
Deve-se observar que na natureza os metais se encontram na forma de minérios
que contém uma quantidade, geralmente, pequena de metais. A tabela 1 fornece a
quantidade de matéria prima considerada em cada mineral ou produto.
Tabela 1: Quantidade de metal contido, no Brasil, em algumas matérias primas.
Material Quantidade de metal contido
Cromo 10 kg de cromo para cada tonelada de cromita
Níquel 16 kg de níquel para cada tonelada de minério de níquel
Zinco 35 kg de zinco para cada tonelada de minério de zinco
Estanho 0,5 kg de estanho para cada tonelada de cassiterita
Aço
Cobre
Alumínio
Eteno
Vidro
0,6 tonelada de aço para cada tonelada de minério de ferro
9 kg de cobre para cada tonelada de minério de cobre
5 toneladas de bauxita para cada tonelada de alumínio
0,03 tonelada de eteno para tonelada de petróleo
1,42 toneladas de vidro para cada tonelada de areia
Em relação à fabricação do vidro, decidiu-se fazer as considerações levando-se
em conta somente a quantidade de areia necessária, pois 70% da matéria prima utilizada
é areia.
Para avaliação da quantidade de energia gasta, em cada sistema, para estes
estágios do ciclo de vida, utilizaram-se os dados obtidos Bermann (1991) e os
fornecidos por Takano3. A tabela 2 mostra esses valores.
Devido ao fato da energia ser fornecida por tonelada de material, foi necessário
obter a massa de cada material. Essa obtenção de massa foi realizada de duas maneiras.
Primeiramente, contataram-se as empresas fabricantes de cada equipamento para que
2 REIS, L. B. (Escola Politécnica da USP, São Paulo). Comunicação verbal, 2002. 3 TAKANO, C. (Escola Politécnica da USP, São Paulo). Comunicação verbal, 2002.
elas fornecessem a massa de cada material constituinte do mesmo. A seguir,
desmontaram-se os equipamentos que não tiveram sua massa informada pelas empresas
e pesaram-se seus materiais constituintes. Por fim, contabilizou-se a quantidade de
matéria prima de cada sistema de aquecimento de água.
Tabela 2: Consumo de eletricidade para alguns processos industriais.
Processo Consumo de eletricidade
(kWh/t)
Mineração em geral
Refino da alumina
100
350
Siderurgia do alumínio 16000
Siderurgia do cobre eletrolítico 300
Siderurgia do vidro
Transformação do minério de ferro em ferro metálico
Siderurgia do aço (de ferro metálico para aço)
495
2800
500
No caso do estágio de uso dos sistemas de aquecimento de água a gás, definiu-se
que o consumo de gás natural e GLP, nos aquecedores a gás, era o valor indicado no
catálogo de um fabricante de aquecedores.
Para o estágio de transporte contabilizaram-se as distâncias entre as minas de
extração e as siderúrgicas e entre as siderúrgicas e a cidade de São Paulo. Desse modo,
definiu-se o gasto de óleo diesel, se o transporte é feito por caminhões, e de energia
elétrica e óleo combustível, no caso de transporte ferroviário. Além disso, foram feitas
as seguintes considerações gerais, baseadas em Teixeira; Bizzo (2000):
• não foram considerados os trajetos de retorno dos meios de transportes;
• não foram considerados os gastos e emissões referentes à manutenção dos meios de
transporte;
• na caracterização do óleo diesel foram adotados os seguintes valores: PC = 45008
kJ/kg – peso específico = 852 kg/m3.
• a frota de caminhões foi homogeneizada como trucks de 14 t;
• o consumo de óleo diesel, no transporte por ferrovias, é de 425 km.t/L;
• para ferrovia a eletricidade, foi adotado o valor de 0,0325 kWh/km.t;
• para o transporte marítimo foi adotado o consumo de 0,20 MJ/km.t;
• o consumo de diesel no transporte rodoviário foi dado pela equação 1, modelo
representando o consumo apresentado por caminhões truck de 20 t rodando em
estradas brasileiras;
CaespC 0096,1*2487,0= (21)
Onde:
Cesp=consumo específico de diesel (L/km);
Ca=carregamento do caminhão (t), sendo o mínimo 0 e o máximo 14.
Para contabilizar a distância percorrida pelos meios de transporte no ciclo de
vida foi necessário estudar quais eram as empresas responsáveis pela extração e
siderurgia de cada matéria prima e onde elas se localizavam. Esses dados foram obtidos
no Sumário Mineral Brasileiro 2000, na ABM (Associação Brasileira de Metalurgia e
Materiais) e nas associações brasileiras de cada matéria prima (ABAL, PROCOBRE,
etc).
Etapa 2 – Cálculo das emissões de poluentes
Nesta etapa forma calculadas as emissões dos principais gases causadores do
efeito estufa (CO2, CH4, N2O). Foi necessário definir uma metodologia diferente para
estudar a emissão fornecida na geração de energia elétrica por hidrelétricas e
termelétricas.
Para uma usina hidrelétrica, primeiramente definiu-se a relação entre a área
alagada para construção dos reservatórios e a capacidade de geração de energia da
maioria das usinas brasileiras. A relação média obtida foi de 0,416 km2/MW. Esse dado
permitiu saber qual a quantidade de terras alagadas para fornecer a energia elétrica
necessária em cada fase do ciclo de vida.
Entretanto, Martins (1999) observa que no caso de geração de energia elétrica,
na maioria dos países é difícil saber exatamente de onde ela vem, já que em um sistema
em rede, todas as geradoras estão interligadas e em alguns casos fica difícil de se
determinar se a energia elétrica com a qual se está trabalhando é proveniente de uma
termelétrica a carvão ou de uma hidroelétrica. Diante desse fato, foi necessário
considerar a contribuição de cada fonte de energia, mostrada na figura 2, para a
contabilização da energia gasta em cada sistema.
Para definir-se a quantidade de CO2 não capturada devido ao alagamento de
áreas verdes para a construção dos reservatórios das hidrelétricas utilizou-se os dados
encontrados em Grace et al. (1995), segundo o qual cada km2 de florestas tropicais
primitivas destruídas deixam de capturar 100 toneladas de carbono por ano4.
As represas das hidrelétricas também podem emitir dióxido de carbono pela
difusão do gás na água em direção à superfície e metano pela difusão e por bolhas
geradas na decomposição do sedimento no fundo do lago. Santos (2000) mediu as taxas
de emissão de CO2 e CH4 nos reservatórios de sete usinas brasileiras Desse modo,
utilizou-se a média desses valores, sendo de 4765 kg CO2/km2.dia e de 91 kg
CH4/km2.dia.
No caso de usinas termelétricas foram considerados como energéticos o carvão,
o gás natural, o óleo combustível e o óleo diesel. Para efeito da contribuição na parcela
de energia elétrica produzida foi utilizada, também, a porcentagem de eletricidade
fornecida em cada tipo de termelétrica, na matriz energética brasileira. Cabe ressaltar
que a quantidade de carbono emitida pelas termelétricas depende do tipo de combustível
utilizado e da eficiência da combustão do energético, sendo que 1 kg de carbono produz
3,67 kg de dióxido de carbono, segundo a secretaria executiva da Petrobrás5. Para a
emissão de carbono por termelétricas, utilizaram-se os dados da tabela 3.
Tabela 3: Emissões de carbono para diversos tipos de termelétricas.
Tecnologia Emissões específicas
(kg carbono/MWh)
Carvão – Ciclo Vapor 360
Óleo Combustível – Ciclo Vapor 238
Gás Natural – Ciclo Combinado 110
Fonte: CENBIO (2000).
4 Nos vegetais o carbono é transformado em carboidrato e incorporado em sua biomassa. Desse modo, florestas jovens capturam mais carbono do que florestas antigas. Para florestas tropicais em crescimento, Flavin (1990) utiliza o valor de 550 toneladas de carbono/ano.km2. 5 Comunicação via correio eletrônico.
Em relação à quantidade de poluentes emitida pelas usinas nucleares considerou-
se que elas não emitem gases que contribuem para o efeito estufa.
As emissões de CH4 obtidas, por escape, na exploração, armazenamento e
transporte do gás natural são chamadas de emissões fugitivas de metano. No entanto,
não se consideram as emissões fugitivas na fase de exploração e produção. Supõe-se
que todo o CH4 que não é reinjetado ou utilizado comercialmente é queimado no
"flare"6, e desta forma se torna CO2. Assim, para efeito de cálculo, considera-se que as
emissões fugitivas acontecem no transporte do gás natural, através de pequenos
vazamentos nas juntas existentes nas tubulações e seus componentes.
Para este trabalho considerou-se 4,7% de emissões fugitivas de metano, valor do
ano de 1999, obtido em dados da CEG7 e que as perdas ocorrem somente no transporte
do gás para ser utilizado como combustível no aquecedor a gás.
Para o estágio de transporte, adotou-se a emissão de 3,198 kg de CO2 por kg de
óleo diesel consumido, Teixeira; Bizzo (2000).
Para o estágio de uso dos sistemas de aquecimento de água a gás adotou-se que a
combustão do GLP emite 0,057 kg de carbono por kg de gás e a combustão do gás
natural, 0,055 kg de carbono por kg de gás.
Não foram consideradas as emissões de N2O porque, apesar dessas emissões
serem significativas devido ao fato do N2O ter um fator potencial de efeito estufa 296
vezes maior do que o do CO2, não há ainda um grande conhecimento sobre as
verdadeiras fontes emissoras desse gás.
3.1.3 Análise de Impactos
Na análise de impactos quantificou-se, por meio do cálculo do indicador de
efeito estufa, a poluição gerada em todas as fases do ciclo de vida de cada sistema de
aquecimento de água.
O indicador de aquecimento global de cada sistema é dado pela seguinte
equação:
6 O “flare” é um dispositivo constantemente aceso que queima gás quando ocorre algum problema durante a produção da refinaria. 7 Companhia Distribuidora de Gás do Rio de Janeiro.
∑=
=ONCHCOi
iiPAGEE mFI242 ,,
. (2)
Em que:
IEE: indicador de efeito estufa (kg equivalente de CO2);
mi: massa do gás (kg), e
FPAG: Fator potencial de aquecimento global, dado a partir da tabela 4.
Tabela 4: Fator de equivalência para o efeito estufa global.
Fórmula Substância FPAG
CO2 Dióxido de carbono 1
CH4 Metano 23
N2O Óxido nitroso 296
Fonte: IPCC (2001).
4. Resultados obtidos
Os dados inicialmente considerados para os sistemas de aquecimento de água
foram:
• vazão da água = 0,20 L/s;
• potência do chuveiro elétrico= 5200 W;
• aquecedor de passagem a gás de 12 L.
• tempo de banho= 7 minutos;
• número de pessoas= 4;
• temperatura inicial da água= 18 °C;
• temperatura final da água= 38 °C;
• potência da resistência elétrica do reservatório de água quente= 2000 W;
• coeficiente de perda de calor no reservatório de água quente= 3,26 W/°C
• porcentagem de uso da resistência elétrica do aquecedor solar= 23%;
• rendimento dos sistemas= 80%, e
• período de tempo analisado= 20 anos.
A tabela 5 mostra os resultados obtidos quanto à energia elétrica utilizada nos
sistemas, a emissão de carbono por termelétricas e a quantidade de carbono que deixa
de ser capturada pelo alagamento de áreas verdes para a construção dos reservatórios
das hidrelétricas.
Tabela 5: Inventário dos ciclos de vida
Tipo de aquecimento de água: chuveiro elétrico Estágio
Energia empregada
(kWh) Emissão de CO2
(kg) Emissão de CH4
(kg) CO2 não capturado
(kg) Mineração 28 43 1 9
Transformação 138 210 4 42 Transporte 0 6.950 0 0
Uso 3.798 10.707 106 1.166 Total 3.964 17.910 111 1.217
Tipo de aquecimento de água: aquecedor a gás natural Estágio
Energia empregada
(kWh) Emissão de CO2
(kg) Emissão de CH4
(kg) CO2 não capturado
(kg) Mineração 80 122 2 25
Transformação 244 371 7 75 Transporte 0 5.210 0 0
Uso 0 684 140 0 Total 324 6.387 149 100
Tipo de aquecimento de água: aquecedor a gás GLP Estágio
Energia empregada
(kWh) Emissão de CO2
(kg) Emissão de CH4
(kg) CO2 não capturado
(kg) Mineração 80 122 2 25
Transformação 244 371 7 75 Transporte 0 5.210 0 0
Uso 0 1.019 0 0 Total 324 6.722 9 100
Tipo de aquecimento de água: aquecedor solar Estágio
Energia empregada
(kWh) Emissão de CO2
(kg) Emissão de CH4
(kg) CO2 não capturado
(kg) Mineração 274 418 8 84
Transformação 268 397 7 82 Transporte 0 5.059 0 0
Uso 874 2.464 24 268 Total 1.416 8.338 39 434
Do mesmo modo, a tabela 6 apresenta os valores do indicador de efeito estufa.
Tabela 6: Indicadores de efeito estufa para os diversos sistemas.
Tipo de aquecimento: chuveiro elétrico Gases de efeito estufa GWP Contribuição (kg eq. de CO2)
CO2 1 17.909 CH4 23 2.534
Indicador de Efeito Estufa (kg eq. de CO2)= 20.443
Tipo de aquecimento: aquecedor a gás natural Gases de efeito estufa GWP Contribuição (kg eq. de CO2)
CO2 1 6.387 CH4 23 3.416
Indicador de Efeito Estufa (kg eq. de CO2)= 9.803
Tipo de aquecimento: aquecedor a gás GLP
Gases de efeito estufa GWP Contribuição (kg eq. de CO2) CO2 1 6.723 CH4 23 207
Indicador de Efeito Estufa (kg eq. de CO2)= 6.930
Tipo de aquecimento: aquecedor solar
Gases de efeito estufa GWP Contribuição (kg eq. de CO2) CO2 1 8.338 CH4 23 905
Indicador de Efeito Estufa (kg eq. de CO2)= 9.243
Com os resultados da tabela 5 é possível verificar que, para os aquecedores a
gás, o estágio que mais consumiu energia foi o processo de transformação, enquanto
que para o chuveiro elétrico e aquecedor solar foi o estágio de uso. Esse fato se deve ao
alto consumo de energia elétrica necessária ao funcionamento do chuveiro elétrico e da
resistência do reservatório de água quente do sistema solar, ocasionando uma taxa
elevada de emissões por meio das termelétricas e hidrelétricas. Por outro lado, o
aquecedor a gás, tanto através de GLP ou gás natural, não utiliza energia elétrica no
estágio de uso pois no modelo utilizado neste trabalho não se considerou o uso de timers
ou ignição eletrônica.
A emissão de dióxido de carbono através do chuveiro elétrico e do aquecedor
solar ocorre pela queima dos combustíveis fósseis (gás natural, óleo e carvão) para a
produção de energia elétrica em termelétricas e por meio da emissão de CO2 pelos
reservatórios das hidrelétricas.
Nos sistemas por aquecedor a gás e solar o estágio que mais emitiu CO2 foi o
transporte, devido ao extenso uso de óleo diesel, tanto para o transporte rodoviário
quanto para o ferroviário. No caso do chuveiro elétrico, o estágio que mais emitiu CO2
foi o uso.
Houve também uma grande emissão de CH4 pelo sistema por aquecedor a gás
natural por causa dos escapes de metano ocorridos na distribuição desse gás.
Os resultados da tabela 6 mostram que o sistema que mais contribui para o efeito
estufa é o tipo de aquecimento por chuveiro elétrico, seguido do aquecimento por
aquecedor a gás natural, aquecedor solar e a gás GLP.
Este fato se deve à alta demanda de energia elétrica necessária ao funcionamento
do chuveiro elétrico, ocasionando uma taxa elevada de emissões por meio das
termelétricas e hidrelétricas.
O sistema por aquecedor a gás natural também teve um indicador de efeito
estufa elevado, justamente devido aos escapes nas tubulações de distribuição de gás, isto
porque o CH4 tem um fator potencial de efeito estufa 23 vezes maior do que o do CO2.
Pode-se perceber, portanto, que o escape do metano proveniente do gás natural é
que têm contribuído para aumentar o efeito estufa desse tipo de aquecimento.
Entretanto, essas perdas têm diminuído ao longo dos anos, o que provavelmente
ocasionará a solução desse problema.
Do mesmo modo, o sistema por aquecedor solar teve um impacto para o efeito
estufa maior do que o gás GLP. Esperava-se que esse fosse o sistema com menor
impacto entre os analisados por haver utilização da energia elétrica somente em dias de
pouca insolação, no estágio de uso. Entretanto, observa-se que, para um maior conforto
de banho, utiliza-se a resistência elétrica durante um certo período de tempo que
contribuiu bastante nos resultados finais. Deve-se levar em consideração, também, que o
sistema por aquecedor solar é um sistema de acumulação que, normalmente, requer
mais energia para seu funcionamento.
Observa-se ainda que nos casos analisados, considerou-se que os aparelhos de
aquecimento funcionam com as mesmas vazões. Entretanto, Prado e Gonçalves [4]
chegaram a valores de vazão de até 0,05 L/s para chuveiros elétricos de 4.4 kW. Desse
modo, se utilizarmos o chuveiro elétrico de 4.4 kW, encontrado geralmente em
habitações populares, veríamos que, com um gasto energético menor, tanto as emissões
quanto o potencial de aquecimento global, diminuiriam. Entretanto, uma vazão menor
também implica numa qualidade de banho inferior. Assim, para chuveiros elétricos com
potências de funcionamento maiores, onde as vazões se assemelham com as dos
aquecedores a gás e solares, o consumo energético e, conseqüentemente, o impacto
ambiental é muito maior do que para os outros sistemas. A figura 3 compara a
quantidade de energia consumida em um banho por dia, durante um ano, utilizando
chuveiro elétrico e aquecedor solar, para diversas vazões de água.
Consumo de energia elétrica
0
200
400
600
800
1000
1200
00,0
20,0
40,0
60,0
8 0,1 0,12
0,15 0,2
Eletricidade (kWh/ano)
Vaz
ão (L
/s)
Sistema por chuveiroelétrico
Sistema poraquecedor solar
Figura 3: Consumo de eletricidade para um banho utilizando chuveiro elétrico e
aquecedor solar.
Essa figura mostra que para uma vazão de 0,05 L/s, utilizada em chuveiros de
habitações populares, o chuveiro elétrico emite aproximadamente a mesma quantidade
de gases de efeito estufa que um aquecedor solar com vazão de 0,20 L/s.
5. Conclusão
Em países que onde a energia hídrica tem grande participação na matriz
energética, como no Brasil, é importante, em avaliações de impacto ambiental,
considerar as emissões dos gases de efeito estufa dos reservatórios das hidrelétricas e o
carbono que deixa de ser capturado pelas árvores após o alagamento de florestas para a
construção dos reservatórios dessas usinas.
Para os aparelhos aquecedores vendidos no mercado brasileiro a vazão obtida
em um aquecedor a gás ou aquecedor solar, geralmente, é maior e resulta em um banho
mais confortável para o usuário.
O metano, proveniente do vazamento do gás natural nas tubulações de
distribuição do gás, tem contribuído para aumentar o efeito estufa provocado pelos
sistemas de aquecimento a gás natural. Esses vazamentos podem ocorrer por acidente
ou por operações de manutenção ou manobra no sistema de transporte e distribuição.
Assim, deve-se dar atenção aos escapes de gás natural nas tubulações, procurando-se
minimizar os vazamentos.
Ressalta-se, ainda, que na adoção de um sistema de aquecimento solar, quanto
mais quente e com menos nebulosidade for a região em que se implantará o sistema,
menos se utilizará a resistência elétrica para a manutenção da temperatura da água,
consumindo menos eletricidade e emitindo menos poluição.
Tanto o sistema de aquecimento de água solar e o a gás são interessantes para o
Brasil, por ser este um país tropical e que está tendo uma maior disponibilidade de
combustível, com o gás natural vindo da Bolívia. O chuveiro elétrico, apesar de ser um
aparelho mais barato que os outros e, em conseqüência, disponível para a maior parcela
da população brasileira, sobrecarrega a rede de energia durante os horários de pico e
provoca um impacto ambiental considerável, quando utiliza a mesma vazão dos outros
tipos de sistemas.
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