Boletim Observatório Econômico - Abril 2013

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Boletim Observatório Econômico - Análise de Conjuntura

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EconomiABC Análise de Conjuntura

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Abril/2013

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EconomiABCAnálise de Conjuntura

Universidade Metodista de São PauloFaculdade de Administração e Economia

Curso de Ciências EconômicasObservatório Econômico

ReitorProf. Dr. Márcio de Moraes

Diretor da Faculdade de Administração e EconomiaProf. Dr. Luciano Venelli

Coordenadora do Curso de Ciências EconômicasProf. Ma. Silvia Cristina da Silva Okabayashi

ProfessoresProf. Me. Sandro Renato Maskio

Prof. Me. Walter Grecov

EstagiáriaBruna Romualdo Teixeira

www.metodista.br/observatorio-economico

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As opiniões emitidas nesta publicação são de exclusiva e inteira responsabilidade dos autores, não exprimindo, necessariamente, o ponto de vista do Observatório Econômico ou da Faculdade de Administração e Economia da Universidade Metodista de São Paulo.

É permitida a reprodução deste texto e dos dados nele contidos, desde que citada a fonte. Reproduções para fins comerciais são proibidas.

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SUMÁRIO

PANORAMA ECONÔMICO 6

INFLAÇÃO 11

COMÉRCIO EXTERIOR 16

MOVIMENTAÇÃO FINANCEIRA 9

MERCADO DE TRABALHO 13

OPINIÃO 18

APRESENTAÇÃO 5

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APRESENTAÇÃOA segunda edição do Boletim EconomiABC traz importantes números e análises acerca da economia da Região do Grande ABC paulista no encerramento do ano 2012 e no primeiro bimestre de 2013. E ainda conta com a participação do Prof. Dr. Carlos Eduardo Ferreira de Carvalho, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, na coluna Opinião.

Vale ressaltar a participação de alunos do curso de Ciências Econômicas na elaboração desta edição, participação esta de suma importância para a integração do ensino e da pesquisa, da teoria e da prática.

Alunos envolvidos na elaboração do boletim:

MERCADO DE TRABALHOLeandro Aparecido Sanches de AlmeidaCristiane Tieme Sá Silva Ganaka INFLAÇÃOAnne Caroline Silva OliveiraBruno Alves dos Santos

FINANÇASWillian Alves de Souza

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Silvia Cristina da Silva OkabayashiCoordenadora do Curso de Ciências Econômicas

Universidade Metodista de São Paulo

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PANORAMA ECONÔMICODentro de alguns meses, fará 5 anos desde a primeira eclosão da crise econômica financeira do século XXI. Para quem duvidava dos efeitos provocados pela marola da crise, ainda encontramos diariamente, nas manchetes de jornais, repetidas discussões sobre os gargalos financeiros de alguns países, as dificuldades de articulação de políticas que estimulem a atividade econômica, eventuais probabilidades de insolvência de alguma instituição financeira, entre outros assuntos.

Esses efeitos têm provocado uma estagnação da atividade econômica ao longo do tempo. Analisando os últimos 10 anos a economia mundial cresceu em média 4,74% a.a entre 2003 e 2007; e apenas 2,98% a.a. entre 2008 e 2012.

No quadro abaixo, obervamos que, no ano de 2012, as maiores taxas de crescimento foram apresentadas pelas economias em desenvolvimento, com destaque para a China e a Índia. Já as economias desenvolvidas apresentaram menores incrementos em seus PIBs, e uma taxa de desemprego mais elevada, em especial na Zona do Euro.

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Indicadores Macroeconômicos de 2012

PIB (% ) Inflação (% a.a) Desemprego (%)EUA 2.2 1.7 7.8Zona do Euro (27 países) -0.3 2.6 11.8Alemanha 0.7 2.1 5.3França 0 2.2 10.5Inglaterra 0.2 2.8 7.7China 7.8 3.13 ****Índia 6.57 8.02 ****Rússia 3.54 6.6 5.8Brasil 0.9 5.84 5.4Chile 5.6 3.01 6.1Argentina 1.9 10.84 6.9

FONTES: EUROSTAT ; NATIONAL BUREAU OF STATISTICS OF CHINA; INSTITUTO NACIONAL DE ESTADÍSTICAS Y CENSOS - ARGENTINA; BANCO CENTRAL DO CHILE; STATISTICAL YEAR BOOK, INDIA 2013; IBGE

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Dentro de alguns meses fará 5 anos da primeira eclosão da crise econômica financeira do século XXI. Para quem duvidava dos efeitos provocados pela marola da crise, ainda encontramos diariamente, nas manchetes de jornais, repetidas discussões sobre os gargalos financeiros de alguns países, as dificuldades de articulação de políticas que estimulem a atividade econômica, eventuais probabilidades de insolvência de alguma instituição financeira, entre outros assuntos. Esses efeitos têm provocado uma estagnação da atividade econômica ao longo do tempo. Analisando os últimos 10 anos a economia mundial cresceu em média 4,74% a.a entre 2003 e 2007; e apenas 2,98% a.a. entre 2008 e 2012.

A economia brasileira apresentou um modesto crescimento de 0,9% em 2012. Esse foi o menor desempenho comparado aos demais países do BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China), e um dos menores comparados a outros países da América Latina, que cresceu em média 3,1% em 2012.

Na composição do PIB brasileiro, enquanto o consumo das famílias e do governo cresceu 3,1% e 3,2%, respectivamente, o investimento caiu 4%. Esse resultado reflete a composição do modelo econômico implantado pela atual equipe econômica do governo, que procurou estimular a atividade econômica através do consumo, privilegiando o lado da demanda em detrimento da oferta, esta sim, geradora de empregos e riqueza.

A queda no volume de investimentos é preocupante porque, inevitavelmente, provoca uma estagnação da capacidade produtiva, agravada pelo fato do país apresentar historicamente uma pequena taxa de investimento.

Setorialmente, os valores adicionados gerados pela agropecuária e pela indústria no Brasil, recuaram -2,3 e -0,8%, respectivamente. Neste último, a queda maior foi da indústria de transformação, com uma retração de -2,5%. Já o setor de serviços cresceu 1,7%, que é composto também pelo sub-setor de comércio, que cresceu 1,0%.

O baixo desempenho da atividade econômica refletiu-se no ritmo de geração de empregos. Ao longo de 2012, houve uma redução de 33% na geração de empregos formais no Brasil. Uma das reduções mais significativas ocorreu na indústria de transformação. Regionalmente, esse comportamento não foi diferenciado. Na economia paulista, a geração de empregos formais diminuiu aproximadamente 39%, com uma perda de 6.000 empregos na indústria, o que representa uma diminuição de mais de 50% no volume de empregos gerados em 2012.

No Grande ABC, somente a indústria perdeu mais de 7.000 empregos em 2012, o que é muito preocupante, pois o nível de renda da indústria é muito mais elevado se comparado a outros setores da economia.

Os questionamentos sobre a eficácia das medidas de estímulo a economia em 2012, centradas nos mecanismos de crédito e reduções tributárias para impulsionar o consumo, infelizmente, em grande parte revelaram-se verdadeiros.

Atualmente, a equipe econômica tem o desafio de estimular a economia brasileira, diante de um contexto preocupante que combina baixo crescimento e aceleração da inflação, que poderá chegar ao teto da meta de 6,5% a.a.

Como se isso não bastasse, o baixo nível de desemprego associado à valorização do salário real tem trazido reflexos positivos sobre o aumento do custo da mão de obra no Brasil, impactando a inflação e se constituindo em mais um ingrediente no cenário econômico brasileiro.

Há fortes indícios de que o principal dilema da equipe econômica neste momento está entre aumentar a taxa de juros, e que parece ser indispensável para o momento, ou valorizar o Real, para inibir a aceleração da inflação. Ao mesmo tempo, é urgente adotar mecanismos para impulsionar os investimentos, dada a pouca efetividade das últimas medidas de impulso ao consumo. Para tal, tanto a elevação dos juros quanto a valorização do real caminham de encontro ao desafio de ampliar o volume de investimentos.

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FONTE: FMI, IBGE e SEADE

No setor externo, em 2012, a economia brasileira apresentou o pior saldo da Balança Comercial dos últimos 10 anos. Neste início de 2013, o resultado da balança comercial no bimestre de janeiro e fevereiro foi deficitário em US$ 5.314,1 milhões, o que não ocorria desde 2001. Neste mesmo período, a geração de empregos formais no Brasil diminuiu 40% em relação aos meses de janeiro e fevereiro de 2012. Isso reforça a importância do setor externo na geração de empregos e nos ajuda a compreender a relação destes no ano de 2012.

Este ambiente também afeta as economias regionais, como ocorreu com o Estado de São Paulo, que apresentou uma redução de 20% na geração de empregos neste primeiro bimestre de 2013, após ter fechado o ano com uma projeção de crescimento de pouco mais de 1%, segundo as estimativas trimestrais do SEADE.

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FONTE: BANCO CENTRAL DO BRASIL

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Mesmo com todos os esforços da política econômica para estimular o crédito, como a redução da taxa de juros, o ritmo de expansão destas operações no Grande ABC diminuiu significativamente em 2012, em comparação aos anos de 2010 e 2011.

A expansão das operações de crédito, que evoluiu a um ritmo médio de aproximadamente 2% a.m. no biênio 2010 e 2011, caiu para cerca de 1% a.m. em 2012. Nesta mesma comparação, a expansão das operações de financiamento diminuiu seu ritmo de expansão de 1,81% a.m. para 0,54% a.m., e as operações de crédito imobiliário, de 2,59% a.m. para 0,56% a.m..

A desaceleração da expansão das operações de crédito no Grande ABC em 2012 alterou o comportamento do consumidor. As Pesquisas de Intenção de Compras realizadas para o Dia das Crianças e o Natal revelaram uma disposição para o gasto menor dos consumidores, comparada ao ano de 2011, acompanhada da diminuição da preferência pela utilização do cartão de crédito para as compras.

Segundo dados do IBGE, em 2012 a atividade comercial cresceu 8,45% no Brasil e 9,64% no Estado de São Paulo.

MOVIMENTAÇÃO FINANCEIRA

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FONTE: IBGE

FONTE: SERASA EXPERIAN

É interessante observar que a expansão da atividade comercial ocorrida no primeiro semestre de 2012 foi maior que no segundo semestre. Em parte, esta é explicada pela ascensão da inadimplência a partir de abril do ano passado, em função do elevado endividamento das famílias e o comprometimento de suas rendas.

Embora os índices de inadimplência tenham diminuído levemente nos últimos meses do ano, em fevereiro de 2013, a inadimplência total atingiu 5,58% das operações de crédito, sendo mais elevada junto às pessoas físicas, 7,70%, segundo dados do Banco Central. As operações via cartão de crédito foram as que registraram maior inadimplência no período, de 26,26%.

Na Região Metropolitana de São Paulo, segundo a Serasa Experian, nos últimos 12 meses, a inadimplência cresceu 10% no total das operações de crédito, e 29% junto às financeiras e cartões de crédito.

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Mesmo com a recente diminuição, os índices de inadimplência vêm registrando os níveis mais elevados dos últimos 5 anos. Embora esta seja uma discussão polêmica, o aumento da inadimplência é explicado pelo elevado comprometimento da renda que enrijeceu o orçamento de grande parte das famílias e, também, pelas elevadas taxas de juros, compostas também por amplos spreads.

Quando o IBGE divulgou o desempenho da economia brasileira em 2012, ficou clara a opção pelo estimulo à demanda agregada para impulsionar a atividade econômica, revelada pela ampliação de 3,1% no consumo das famílias e de 3,2% no consumo do governo.

Como consequência, no ano passado, a inflação registrada pelo IPCA registrou 5,84%. O mais preocupante é a trajetória ascendente que a inflação apresenta desde junho de 2012. Em março de 2013, a inflação acumulada em 12 meses atingiu 6,59%. Na Região Metropolitana de São Paulo o IPCA registrou uma inflação de 4,72% em 2012 e, em março de 2013, o índice acumulado em 12 meses já apontava 5,97%.

Mesmo com a trajetória de queda nos últimos 24 meses, a taxa de juros no Brasil é uma das maiores do mundo. Neste mesmo período, o spread também apresentou uma trajetória de queda, ainda que num ritmo bem mais lento, segundo dados do Banco Central.

INFLAÇÃO

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FONTE: BANCO CENTRAL DO BRASIL

TAXA DE JUROS (% a.a.)

Dez - 10 Dez - 11 Dez - 12 Jan - 13 Fev - 13Selic 10.75 11 7.25 7.25 7.25TJLP 6 6 5 5 5

Capital de Giro 21.4 20.21 15.05 16.45 16.19Cheque Especial 170.71 169.6 138.04 137.98 138.52

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FONTE: IBGE

Nas últimas semanas, a discussão sobre as ações de política econômica a serem adotadas para conter a inflação tem incomodado o governo e sua equipe econômica. A principal expectativa pesa sobre uma provável elevação da taxa básica de juros na economia, o que tenderá a provocar uma elevação dos custos dos mecanismos de financiamento.

Essa deverá ser uma decisão difícil para o governo, dado que este também tem o desafio de estimular a atividade econômica. Tudo isso em um contexto em que a eficácia das ações de estímulo ao consumo tem diminuído, em boa parte, devido à rigidez na capacidade de oferta. Vale lembrar que combater a inflação, pela repressão à demanda, pode trazer algum resultado a curto prazo, mas cobrará um preço alto da sociedade ao longo do tempo.

Um dos reflexos desta elevação da inflação tem sido sentido pelas famílias no custo das despesas mensais, especialmente com alimentação. No Grande ABC, a cada mês, o custo da cesta básica tem registrado novos recordes. Em fevereiro, a cesta básica atingiu o preço de R$ 433,93, segundo levantamento da Companhia Regional de Abastecimento de Santo André (CRAISA). Um aumento de mais de 21% nos últimos 12 meses.

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A conjuntura econômica brasileira hoje é marcada pelo baixo ritmo de crescimento econômico, queda no nível de investimento, aceleração da inflação e deterioração do saldo de comércio exterior, o que, em tese, deveria provocar o desaquecimento do mercado de trabalho e a ampliação das taxas de desemprego.

Entretanto, o mercado de trabalho brasileiro registra um baixo nível de desemprego, o que tem provocado aumento do custo da mão de obra aos empregadores, considerando os devidos ajustes temporais necessários para que as decisões econômicas se efetivem.

Para completar o quadro atual do mercado de trabalho, não podemos deixar de considerar o problema da qualificação da mão de obra brasileira, que, em média, é bastante baixa, ampliando o desafio dos empreendedores que necessitam contratar.

Embora o governo tenha procurado adotar ações que minimizem esse problema, os resultados ainda são pouco efetivos, pois essa situação é fruto de décadas de degradação do sistema educacional brasileiro, incluindo a formação profissional.

Essa conjuntura não é diferente no Grande ABC. A taxa de desemprego regional, medida pelo SEADE, registrou 9,5% da população economicamente ativa.

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FONTE: CRAISA

MERCADO DE TRABALHO

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FONTE: SEADE

Entretanto, em 2012, o ritmo de geração de empregos formais diminuiu cerca de 33% na economia brasileira, e aproximadamente 40% na Região Metropolitana de São Paulo. Somente a indústria de transformação perdeu cerca de 7.000 empregos formais no Grande ABC.

Em toda a região, a geração de empregos formais em 2012 caiu 63% em relação a 2011. Setorialmente, a indústria de transformação e a construção civil apresentaram as maiores quedas na geração de empregos. O município de Santo André se destacou por ser o único município da região no qual a geração de empregos aumentou em 2012.

No primeiro bimestre de 2013, comparado a igual período de 2012, a geração de empregos formais desacelerou ainda mais, registrando uma queda de 40% no Brasil, 20% no Estado de São Paulo e de 10% na Região Metropolitana de São Paulo. Em parte, este reflete o baixo nível de atividade econômica, após 1 ano de fraco desempenho da economia brasileira.

No Grande ABC, diferentemente, a geração de empregos formais aumentou surpreen-dentemente no bimestre de janeiro e fevereiro deste ano. A diferença está no comporta-mento da indústria de transformação, que gerou quase 2.000 empregos formais. Após um ano de forte retração dos empregos formais no setor, a industria local dá sinais de recom-posição de sua força de trabalho, mas com níveis salariais menores.

As informações sobre os níveis médios de salários no Grande ABC estão detalhadas nos gráficos a seguir.

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FONTE: CAGED / RAIS – Ministério do Trabalho e Emprego 15

FONTE: CAGED / RAIS – Ministério do Trabalho e Emprego

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FONTE: MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO, INDÚSTRIA E COMÉRCIO EXTERIOR

A Balança Comercial do Grande ABC começou o ano de 2013 com déficits em janeiro e fevereiro, após uma retração de 50% no superávit registrado no ano de 2012. A Balança Comercial Brasileira também registrou déficit no primeiro bimestre deste ano, que somou US$ 5,3 bilhões (FOB). Esse foi o pior resultado para o período na série histórica do Banco Central, que tem início em 1959. O governo justificou o resultado ruim em função do atraso na contabilização da importação de petróleo e derivados e em função da crise internacional, que tem provocado uma lenta recuperação no ritmo de expansão do comércio internacional. Em 2012, o ritmo médio de expansão da corrente de comércio internacional foi de apenas 0,68% ao mês, registrando uma desaceleração em relação aos anos de 2010 e 2011.

Outro fator com efeitos desfavoráveis aos resultados da Balança Comercial é a taxa de câmbio, dada a cotação valorizada do real em relação ao dólar. Nos últimos 20 meses, a taxa de câmbio chegou a R$1,60 por dólar e, mais recentemente, tem estado em torno de R$2,00 por dólar. Ainda assim, essa cotação não é favorável para impulsionar as exportações.

Não há como almejar melhoras no resultado do comércio exterior se a taxa de câmbio não se mostrar competitiva. Embora o governo não admita, a manutenção da taxa de câmbio, nestes patamares, tem contribuido para diminuir a pressão sobre os preços, o que reduz a inflação.

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COMÉRCIO EXTERIOR

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Os fatores apontados anteriormente levaram a uma retração de 13,52% nas exportações do Grande ABC no ano passado e 4,75% nas importações.

Setorialmente, a comercialização de bens intermediários apresentou um resultado deficitário no ano de 2012, o que exprime a tendência de substituição dos fornecedores locais por fornecedores internacionais para atender às cadeias de produção de bens finais. Esse processo também contribuiu para entendermos a significativa diminuição dos empregos na indústria de transformação em 2012 no Grande ABC.

Os demais segmentos, embora tenham apresentado resultados comerciais positivos, no ano passado, tiveram reduções em seus superávits.

Merece destaque a observação sobre a queda nas exportações dos principais produtos comercializados pela região, como os automóveis e caminhões, com reflexos sobre a cadeia e produção e o resultado final da Balança Comercial.

O déficit comercial de U$ 94,17 milhões (FOB) apontado no primeiro bimestre de 2013 no Grande ABC foi formado especialmente pelo desempenho negativo dos municípios de Santo André, Diadema e Mauá.

A retração do superávit comercial do Grande ABC em 2012, acompanhada da retração na geração de empregos e queda no crescimento estimado da economia do Estado de São Paulo, corrobora com a expectativa de que a economia regional tenha apresentado um baixo crescimento econômico em 2012.

Diante do cenário que caracterizou o fechamento de 2012 e dos resultados dos principais indicadores econômicos da região do Grande ABC neste início de 2013, as expectativas não são animadoras. Não há evidências claras de que o mercado de trabalho irá acelerar o ritmo de contratações, de que o superávit comercial irá ampliar, ou de que o desempenho da economia será significativamente melhor que no último ano.

FONTE: MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO, INDÚSTRIA E COMÉRCIO EXTERIOR

BALANÇA COMERCIAL DO GRANDE ABC POR SETORESJan - Dez de 2012 (US$ FOB)

EXPORTAÇÕES IMPORTAÇÕES SALDOBENS DE CAPITAL 1,790,034,335 1,288,156,898 501,877,437 BENS INTERMEDIARIOS 3,885,849,217 4,027,486,420 (141,637,203)BENS DE CONSUMO 883,251,404 548,004,286 335,247,118 COMBUSTIVEIS E LUBRIFICANTES 48,890,743 16,652,560 32,238,183 DEMAIS OPERAÇÕES 240 - 240 TOTAL 6,608,025,939 5,880,300,164 727,725,775

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Já de olho no processo eleitoral do próximo ano, o governo demonstra ter urgência em encontrar alguma saída para ampliar o ritmo da atividade econômica. Uma tarefa que, por diversos fatores apontados nas páginas anteriores, se revela desafiador, diante do aparente esgotamento do modelo de estímulo ao consumo, especialmente pela evidente necessidade de ampliar o fluxo de investimento na economia, dado que esses estímulos demandam tempo para resultarem em decisões concretas e os resultados surgirão apenas a médio e a longo prazo.

OPINIÃOCRESCIMENTO BAIXO, DESINDUSTRIALIZAÇÃO, POLÍTICA ECONÔMICA

Os indicadores preliminares de fevereiro mostram PIB em queda e produção industrial com a mesma tendência de retração que prevaleceu no ano passado. Por enquanto, confirmam que a recuperação ensaiada em janeiro tinha pouca firmeza e colocam sob dúvida até mesmo a projeção de que a economia possa crescer 3% em 2013 e recuperar um ritmo mais forte. É uma situação desalentadora, depois de dois anos de expansão baixa que frustraram as expectativas de que o país encontraria uma rota de crescimento firme depois de superados os momentos mais agudos da crise internacional.

Mais do que o desalento, os resultados fracos colocam um cenário cada vez mais desafiador para a política econômica, como tem sido discutido. Trata-se da combinação de pressão inflacionária, renda em alta, quase pleno emprego e queda no superávit comercial, todos os sinais de superaquecimento, a exigir políticas contracionistas, de maior ou menos intensidade; combinação que encontra, na contramão, fraqueza na atividade produtiva, debilidade do investimento e ausência de sinais de que as evidentes pressões de demanda possam estimular decisões de investir e de produzir.

É uma armadilha perigosa para a política econômica, em qualquer situação. Ainda mais quando existe uma dificuldade considerável para um diagnóstico mais claro sobre o que está ocorrendo com a economia brasileira.

Há pelo menos três grandes processos de médio ou longo prazo em curso, sobre os quais há inúmeras divergências: desindustrialização; adaptação da economia ao movimento de preços

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elevados de produtos intensivos em recursos naturais; adaptação do país à abertura comercial e às condições de concorrência externa com o perfil produtivo de hoje. É importante avançar na discussão destas questões, seja por elas mesmas, seja para ampliar as agendas de pesquisa, seja para situar melhor as perplexidades e os desafios de curto prazo.

A acentuada queda da participação da indústria no PIB e nas exportações pode ser vista de duas formas simplificadas, até certo ponto excludentes, mas que se misturam no debate.

De um lado, essa “desindustrialização” pode ser tomada como indicador de amadurecimento da economia brasileira. Nas economias centrais de alta renda, a participação relativa da indústria declinou consideravelmente nas últimas décadas: enquanto a renda média cresceu, a transformação tecnológica se manteve ou se acentuou e a atividade produtiva se diversificou para o setor de serviços. Nesse sentido, e de forma simplificada, menos indústria tem significado mais renda, maior bem estar e melhoria das condições gerais de vida e de trabalho.

Por outro lado, o recuo relativo da indústria pode ser sinal de debilitação da estrutura produtiva e de regressão econômica em direção a atividades de menor produtividade, de menor capacidade de absorção e difusão de progresso técnico e menor capacidade de geração de empregos em atividades com produtividade ao menos razoável. Nesse quadro negativo, haveria declínio da produtividade geral da economia e redução da capacidade de crescimento, com aumento sustentado de emprego.

Há sinais dos dois processos na economia brasileira e a polêmica sobre qual deles predomina está longe de se esgotar. Os indicadores por enquanto apontam mais para a hipótese regressiva: não há sinais de aumento da produtividade na indústria, e muito menos na economia em geral, e a expansão dos serviços parece concentrada em atividades de baixa produtividade.

É verdade que há expansão da produtividade no setor primário da economia, em especial em alguns segmentos do setor agrário, e também atividades industriais e de serviços ligados à extração mineral. Ainda assim, são sinais pouco convincentes de que o país esteja de fato em uma trajetória de “desindustrialização virtuosa”.

Sobre a adaptação da economia ao movimento de alta dos preços de produtos primários e de produtos intensivos em recursos naturais, são conhecidas as preocupações com os efeitos desses movimentos sobre a estrutura econômica de um país, exemplificados pela chamada “doença holandesa”. No debate brasileiro, contudo, sempre se deu muito menos atenção aos países que alavancaram seu crescimento a partir de produtos com essas características. O caso mais notável é a trajetória dos Estados Unidos ao longo do século XIX. Além de outros casos relevantes, pode-se citar a própria Holanda, que está muito longe de ser um país problemático a essa altura, ou seja, a “doença holandesa” não parece ter deixado sequelas no país.

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Nos casos de sucesso, pode-se dizer, como uma referência genérica, que os efeitos positivos da elevação das rendas externas propiciadas pelo setor primário deram lugar a dois tipos de processos, ou pelo menos a um deles: (I) geração e difusão do progresso técnico a partir do próprio processo primário, inclusive com encadeamentos positivos no próprio setor ou em atividades diretamente relacionadas; (II) difusão das iniciativas produtivas em novos ramos, em especial na indústria, ou em serviços de alta produtividade, com elevada capacidade de absorção e difusão de tecnologia.

Por fim, cabe refletir sobre os efeitos da alta dos preços de produtos primários e intensivos em recursos naturais sobre a infraestrutura requerida para sua exploração e sobre a política macroeconômica mais adequada para estimular seu sucesso e para aproveitar seus efeitos benéficos, além de reduzir seus efeitos perniciosos. A abertura comercial ampliou muito o peso do comércio exterior na economia brasileira e há muito a indagar sobre as políticas que deveriam e deverão ser adotadas para explorar essa situação relativamente nova.

No caso da infraestrutura, é bastante amplo o debate sobre os efeitos negativos dos inúmeros pontos de estrangulamento do país, em transportes, energia e outros itens de alta relevância, essenciais para o aproveitamento do potencial de expansão das vendas externas. E sempre devem ser acrescentados problemas que afetam a estrutura produtiva em conjunto, como a composição complexa da carga tributária, os atrasos na educação básica, e os problemas diversos de legislação. O assunto tem sido debatido exaustivamente, com muito mais vigor do que a rapidez e a competência dos governos para promover as soluções requeridas.

No caso da capacidade da política econômica de responder aos desafios colocados pelas oportunidades e pelos desafios decorrentes das oportunidades abertas pelo quadro externo, a política econômica está diante do duplo desafio de responder aos problemas da conjuntura de curto prazo e de criar condições para que o país aproveite o vigor das exportações de bens primários e de bens intensivos em recursos naturais.

Carlos Eduardo Carvalho - Professor do Departamento de Economia da PUC/SP

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