Boletim Informativo MPI n.º 34
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Nesta edição:
Agosto de 2015
Ano 11, N.º 34
www.mpica.info
BOLETIM INFORMATIVO
Estamos em plena “Década Internacional para a Biodiversi-
dade” (2011-2020) lançada pela ONU, mas poucos saberão
dessa efeméride, assim voltamos à temática da biodiversidade
neste boletim mas de uma forma mais destacada.
Biodiversidade significa diversidade de seres vivos, e nós,
espécie humana, pela nossa actividade nas últimas décadas
estamos a causar a sua diminuição a um ritmo centenas de vezes
mais rápida do que a natural. Mas como somos parte integrante
da biodiversidade, directa e indirectamente somos afectados e seremos muito mais
à medida que o problema se agudizar, se nada fizermos para inverter a tendência.
Nunca é demais salientar aquilo que realmente e no concreto podemos fazer.
A presidente da direcção
Alexandra Azevedo
Editorial
Últimas actividades 2
Transgénicos 2
Herbicida e cancro 3
Biodiversidade 4
Borboletas 4
Abelhas em extinção 5
Floresta 6
Eco-Receita 7
Espaço Jovem Atento 8
Na natureza não há prémios nem castigos. Há apenas consequências! James Mc Neil Whistler, 1834-1903.
BIODIVERSIDADE
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OFICINA DAS ERVAS COMESTÍVEIS
À semelhança do ano passado realizou-se no dia 29 de Março uma oficina das Ervas Comestíveis na sede da Quercus, no parque florestal de Monsanto. Desta vez contámos com a colaboração de Fernanda Botelho na saída de campo e a ementa foi mais variada e agradou a todos os participantes. Mais uma vez o interesse pela actividade foi grande, como as fotos bem demonstram, e várias inscrições tiveram de ser recusadas.
É muito gratificante constatar o entusiasmo de muitos para com um recurso natural que é desprezado e mal tratado com herbicidas usados de forma indiscriminada e sistemática pela sociedade em geral, nomeadamente por muitas autarquias locais, o que condiciona o acesso a estes alimentos gratuitos e tão ricos do ponto de vista nutricional.
O direito a um ambiente limpo e sadio consagrado pela C o n s t i t u i ç ã o P o r t ug u e s a depende também da atitude de maior respeito de todos nós pe-rante a natureza que nos rodeia.
Alexandra Azevedo
Este momento era ansiado pela Plataforma Transgénicos Fora há muitos anos e está agora disponível online o mapa em www.stopogm.net/cultivos com a identificação e a localização dos campos onde se cultiva milho transgénico em Portugal. O Ministério da Agricultura recolhe anualmente esta informação desde que se iniciou o cultivo continuado de OGM mas só divulga dados muito incompletos e tem vedado o acesso do público às locali-zações exactas dos terrenos: foram precisas 5 acções em tribunal para obter os dados completos de 2005 até 2014.
Esta informação é importante para pessoas com alergias ao pólen transgénico e os agricultores e apicultores, sobretudo em produção biológica, se precaverem.
De notar que na região Oeste são identificados cultivos em Alcobaça e Caldas da Rainha.
FORMAÇÃO DE PROFESSORES
"ESTILOS DE VIDA SAUDÁVEL"
Uma felicitação muito especial ao Prof. Emanuel Vilaça, director do Agrupamento de Escolas Fernão do Pó (Bombarral) por ter conseguido organizar uma interessante formação para professores. Com foco na alimentação e na actividade física um programa diversificado preencheu os dias 25 e 26 de Março, 9 de Maio e workshops opcionais mediante inscrição. Foi criado um site de apoio http://vida-saudavel.aefp.pt, onde se pode aceder a todas as informações, nomeadamente um texto de apoio em pdf com a minha comunicação sobre Alimentação Natural.
Alexandra Azevedo
PELA PRIMEIRA VEZ EM DEZ ANOS É POSSÍVEL CONHECER LOCALIZAÇÕES
DOS CULTIVOS DE MILHO TRANSGÉNICO
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LEITES INFANTIS EM PORTUGAL: COMO EVITAR TRANSGÉNICOS
MESMO SEM HAVER RÓTULO
A Plataforma Transgénicos Fora divulgou em comunicado a 9 de Junho de 2015 a pesquisa que dá finalmen-
te a possibilidade de escolher as marcas de leite infantis à venda em Portugal proveniente de animais que não
foram alimentados com rações transgénicas. Nos leites de produção convencional baseados em leite de vaca,
nenhuma das marcas mais conhecidas está em condições de garantir que os animais são alimentados sem recurso
a rações transgénicas, incluindo a Nutribén, Milkid, Nutrilon, Aptamil, Milupa, Blédina, Novalac, Enfalac, Nan,
Nidina, Nestlé Júnior e Mimosa Bem Essencial, entre outras. De acordo com as informações fornecidas pelas
próprias empresas, apenas a marca Miltina (da empresa alemã Humana) pode garantir que os animais são
alimentados exclusivamente a pasto e rações livres de transgénicos. Esta será portanto a única alternativa para
além dos leites 100% vegetais em que é obrigatória a rotulagem se contiverem transgénicos e os leites biológicos
que garantem por definição a não utilização de rações transgénicas na alimentação animal, entre outros critérios,
as marcas Holle (suíça) e Babybio (francesa). Mas tanto os leites vegetais como os biológicos representam
apenas uma pequenina fracção do mercado português.
A Organização Mundial de Saúde, através da sua estrutura especializada IARC - Agência Internacional para a
Investigação sobre o Cancro sediada em França, declarou o glifosato (junto com outros pesticidas organofosfora-
dos) como "carcinogénio provável para o ser humano". Um dos impactos concretamente identificados pela
IARC foi entre exposição ao glifosato e um cancro do sangue: o Linfoma não Hodgkin (LNH). Portugal tem
uma taxa de mortalidade claramente superior à média da União Europeia: é o sétimo país europeu onde mais se
morre de LNH. Além disso, a nível nacional o LNH é o 9º cancro mais frequente (1700 novos casos por ano),
de 24 avaliados.
Porque as decisões da IARC não são vinculativas, e estando o glifosato em processo de reavaliação na Euro-
pa, cabe agora aos governos e outras organizações internacionais tomar as medidas adequadas para proteger as
populações, restringindo ou proibindo este tóxico.
HÁ MILHO TRANSGÉNICO NA TRADICIONAL BROA PORTUGUESA
No âmbito de um projecto científico europeu,
o programa PRICE, envolvendo vários países e destina-
do a avaliar se as medidas para manter OGM
e não-OGM separados são eficazes, análises a amostras
recolhidas nalguns pontos do país revelam que nos
distritos de Braga, Porto e Viana do Castelo há broa com
milho transgénico em quantidades que obrigam a uma
rotulagem específica. Qualquer produto que tenha na
sua composição mais de 0,9% de material transgénico
tem de ter no seu rótulo ou no expositor onde está a ser
vendido a mensagem: "Este produto contém organismos
geneticamente modificados".
O Ministério da Agricultura e do Mar está a investi-
gar esta situação. Fonte: Ricardo Garcia, http://goo.gl/wg4zSz
AGÊNCIA INTERNACIONAL DO CANCRO ACABOU DE PUBLICAR NOVA
CLASSIFICAÇÃO
O HERBICIDA MAIS VENDIDO EM PORTUGAL AFINAL PODE
CAUSAR CANCRO EM HUMANOS
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Revelou uma análise da IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza, devido ao forte impacto
da actividade humana.
Portugal, Grécia e Espanha são os
pa íses com maior proporção
de espécies ameaçadas de extinção:
21% das 2032 espécies avaliadas em
Espanha estão ameaçadas, 15% das
1215 espécies avaliadas em Portugal
estão ameaçadas e 14% das 1684
espécies avaliadas na Grécia estão
ameaçadas.
A União Europeia tem muito
trabalho pela frente para poder
cumprir os objectivos da Estratégia
para a Biodiversidade de 2020.
Entre as principais causas
de ameaça às espécies está a perda,
f r a g m e n t a ç ã o e d e g r a d a ç ã o
dos habitats devido à expansão
agrícola intensiva e híper-intensiva,
expansão urbana, abandono de sistemas agrícolas de Alto Valor Ambiental (montados, estepes cerealíferas, pas-
tagens extensivas, prados de montanha, olivais extensivos) construção de barragens e poluição das águas.
A intensificação agrícola, reconstrução industrial e desregulamentação da legislação ambiental são algumas
das apostas mais fortes para a recuperação económica nos países com maior biodiversidade, mas que mal feita e
desordenada mais põe em causa as espécies ameaçadas na Europa. Os danos causados à maior riqueza que se
encontra nesses países serão irreversíveis e de valor incalculável a médio-longo prazo.
A riqueza de biodiversidade é um valor inestimável, com serviços prestados aos ecossistemas naturais
e humanos, às actividades agrícolas e florestais, ao turismo e à saúde pública.
CRISE DA BIODIVERSIDADE: MEDITERRÂNEO É A ZONA MAIS RICA DA
EUROPA E AQUELA COM MAIS ESPÉCIES AMEAÇADAS
Proporção de espécies ameaçadas em países europeus
As populações de borboletas das
pastagens declinaram cerca de 50%
em duas décadas. Este declínio
drástico ocorreu entre 1990 e 2011
causado pela intensificação da agri-
cultura e falha à gestão apropriada
dos ecossistemas de pastagem, se-
gundo o relatório da Agência Euro-
peia de Ambiente (European Envi-
ronment Agency - EEA).
Nos EUA investe-se 3,2 milhões
de dólares para proteger a borboleta
monarca. Um dos símbolos da Amé-
rica que surpreende pelas suas mi-
grações que concentra milhares de
borboletas.
Fontes: http://goo.gl/uXtdCP ;
http://goo.gl/uw9QWf
DECLÍNIO DAS BORBOLETAS
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É o que diz a primeira avaliação às abelhas selvagens pelo UICN (União Internacional para a Conservação da
Natureza). Esta avaliação foi publicada em Março como parte da Lista Vermelha
Europeia das Abelhas e do Estado e Tendências dos Polinizadores Europeus (projecto STEP), e fornece,
pela primeira vez, informação sobre 1965 espécies de abelhas selvagens na Europa.
A alteração de práticas agrícolas e intensificação crescente da agricultura levaram à perda e degradação, em
grande escala, de habitats de abelhas – uma das muitas ameaças à sua sobrevivência.
Por exemplo, a produção intensiva de silagem causa a perda de prados ricos em ervas e flores que constituem
uma importante fonte alimentar para os polinizadores. O uso generalizado de insecticidas também prejudica as
abelhas selvagens e os herbicidas reduzem a disponibilidade de flores das quais elas dependem. O uso de fertili-
zantes promove uma vegetação pobre em flores e leguminosas – os recursos alimentares preferidos de muitas
espécies de abelhas.
As alterações climáticas, a expansão urbana e a maior frequência de incêndios são outras ameaças.
“A nossa qualidade de vida – e o nosso futuro – dependem dos muitos serviços que a Natureza fornece
gratuitamente”, diz Karmenu Vella, Comissário do Ambiente, dos Assuntos Marítimos e das Pescas.
“A polinização é um desses serviços, pelo que é muito preocupante tomar conhecimento de que os nossos
maiores polinizadores estão em risco! As abelhas são essenciais tanto para os ecossistemas selvagens como para
a agricultura. Elas fazem a polinização das culturas, um serviço estimado em 153 mil milhões de euros a nível
global e 22 mil milhões de euros a nível Europeu, a cada ano. Dos principais cultivos na Europa para consumo
humano, 84% requerem a polinização por insectos para melhorar a qualidade e quantidade dos produtos (por
exemplo, muitos tipos de frutos, vegetais e frutos secos). A polinização é prestada por uma variedade de insec-
tos, incluindo abelhas selvagens e domésticas, abelhões, muitas outras espécies de abelhas e outros insectos.
Resumo do texto de Ricardo Marques que adaptou e traduziu o comunicado da IUCN de 19 de Março de 2015,
publicado in Quercus Ambiente n.º70
Campanha SOS Polinizadores - http://polinizadores.quercus.pt
Esta campanha foi lançada pela Quercus com o objectivo de sensibilizar para a protecção dos insectos polinizadores.
QUASE 1 EM 10 ABELHAS SELVAGENS
A CAMINHO DA EXTINÇÃO NA EUROPA
No âmbito da Década Internacional para
a Biodiversidade foi editado um guia prático com
conselhos sobre o que cada um de nós pode fazer
para preservar a Biodiversidade. Pequenas acções
como comer alimentos locais sazonais, diminuir os
desperdícios de água, efectuar a compostagem dos
resíduos alimentares ou ficar a conhecer melhor as
espécies animais e vegetais que vivem perto de
nós... Se todos seguirmos alguns destes passos sim-
ples, faremos uma grande diferença na preservação
dos recursos naturais para as gerações futuras.
- Para descarregar o guia prático: http://goo.gl/yI9flj
52 GESTOS PELA BIODIVERSIDADE
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Em Janeiro de 2014 for formalmente constituída a Plataforma pela Floresta que congrega 20 organizações e
15 subscritores em nome individual exigem aos organismos responsáveis que promovam todas as iniciativas
necessárias para revogar o Decreto-Lei nº 96/2013, de 19 de Julho, considerando que o mesmo é um incentivo à
perpetuação da situação de descontrolo e desordenamento existente neste momento na floresta portuguesa.
Entre os subscritores estão organizações ambientalistas, associações profissionais de arquitectos paisagistas e
bombeiros, agricultores e de industriais da floresta.
O novo regime legal passou a considerar os eucaliptos como qualquer outra espécie florestal, deixando
de estar sujeito à regulamentação própria que existia desde 1988. Abaixo de uma área de 2 ha, basta uma
comunicação prévia e não uma autorização.
Eucaliptos continuam em expansão
Segundo os dados mais recentes do Inventário Florestal Nacional, os eucaliptos tiveram um crescimento de
13% entre 1995 e 2010 e são hoje a espécie dominante na floresta portuguesa. Portugal tem um nível
de incêndios superior a qualquer outro país do Sul da Europa, entre vários problemas temos uma massificação
de eucaliptos, da espécie exótica Eucalyptus globulus, que ocupa 26% do território florestal e 8,9% do território
nacional.
Tal como se temia, o novo Decreto-Lei nº 96/2013 veio incentivar mais cultivos de eucaliptos e dificultar a
florestação com espécies autóctones no país.
Apenas uma floresta diversa, ordenada e devidamente planificada de acordo com a aptidão ecológica do terri-
tório pode ter resiliência ambiental e económica para um futuro que apenas os incautos e temerários poderão
não considerar cheio de incertezas. Fontes: http://goo.gl/ZBSWQA
http://goo.gl/D8hZJO
POPULAÇÕES DE MORCEGOS ESTÃO A RECUPERAR De acordo com um novo relatório da Agência Europeia de Ambiente que considerou o estado das populações de
morcegos num amplo leque de países pela Europa, o número de morcegos aumentou mais de 40% entre 1993 e 2011, após um declínio de muitos anos, http://goo.gl/n1ZQxK
SITE INTERESSANTE: WWW.WILDER.PT Um projecto de jornalistas portugueses a escrever sobre natureza e ambiente, onde podemos encontrar notícias
sempre actualizadas.
BREVES
CRIADA A PLATAFORMA PELA FLORESTA
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Ficha técnica Directora: Alexandra Azevedo / Paginação: Nuno Carvalho Impressão com o apoio da Junta de Freguesia de Vilar Propriedade: MPI - Movimento Pró-Informação para a Cidadania e Ambiente Largo 16 de Dezembro, 2 / Vilar / 2550-069 VILAR CDV tel:/fax: +351 262 771 060 email: [email protected] Web site: www.mpica.info
Se queremos defender o nosso bosque e práticas agro-florestais sustentáveis, e uma alimentação saudável a
bolota tem de fazer parte definitivamente do nosso cardápio. Chamo a atenção do 1º Symposium - Bolota:
O futuro de um alimento com passado, organizado pela Herdade do Freixo do Meio, que se realizou no dia 20
de Março, e reuniu académicos, pasteleiros, cozinheiros, empresas agrícolas, ou simples activistas.
As interessantes comunicações podem ser consultadas aqui: http://goo.gl/AtxaJ8
Pão de bolota
Ingredientes:
400g de farinha de trigo sem fermento
200 g de farinha de bolota
350 ml de água
20 g de fermento de padeiro
uma colher de sopa de mel
7 g de sal.
Modo de preparação:
Depois de deitar os ingredientes na forma da máquina de fazer pão, escolho o programa para “massa”.
Quando terminado retiro a massa do pão da forma, modelo num tabuleiro de ir ao forno e cozo no forno eléctrico
a 190ºC, apenas com a resistência debaixo ligada, durante 40 minutos, ou no fogão de lenha.
Farinha de bolota:
Pode usar-se a bolota de qualquer árvore do
género Quercus! Não terei aqui espaço para
explicar todos os detalhes, será tema para um
livro que estou a escrever “Frutos Silvestres
Comestíveis – guia prático” irei assim apenas
fazer referência sobre como obtenho farinha de
bolota a partir de bolota de sobreiro assada.
A bolota é apanhada no Outono quando cai,
selecciono, colocando-as em água e as que não
estão em boas condições vão boiar. Demolho
durante 2 dias e asso no forno a 200ºC durante
cerca de 15 minutos (quando começam
a estalar) para se conseguirem descascar
melhor. Descasco e basta picar na picadora
1,2,3. Para conservar a bolota podemos
congelar depois de descascadas, por exemplo,
como a castanha pelada.
ECO-RECEITA: PÃO E FARINHA DE BOLOTA Alexandra Azevedo
- “Esta não. Esta tem bicho. Esta ainda não está madura…Ah, esta é boa!”
Numa manhã outonal, num bosque de carvalhos, um gaio selecciona criteriosamente bolotas.
- “Esta também não… Esta é muito pequena… Esta é óptima!”
Pega nas bolotas seleccionadas com o seu bico preto e enterra-as no chão. Depois tapa-as cuidadosamente
para que ninguém as encontre. Estas serão as suas reservas de alimento para o Inverno que se aproxima.
Enquanto fala sozinho vai recolhendo as bolotas que abundam nesta época. Consoante amadurecem vão
caindo no chão, por baixo dos seus pais, os carvalhos. O gaio leva-as para outros locais e esconde-as estrategi-
camente para que só ele as possa encontrar mais tarde, quando houver menos comida. Por vezes esconde-as tão
bem que nem ele as encontra, mas não faz mal, porque essas bolotas voltam a germinar e a dar novos carvalhos.
Sem o saber, o gaio está a fazer um serviço muito útil para a floresta, pois ajuda a preservá-la!
- “Hum… que fome! Vou só apanhar mais duas bolotas e a seguir vou almoçar. Esta é perfeita!”
- “Ei! Essa bolota é minha!” Diz um esquilo vermelho chateado.
O gaio fica muito surpreendido pois não se tinha apercebido que tinha companhia.
- “Quem és tu? Alguma ave rara?” Pergunta o gaio sem reconhecer o ser à sua frente.
- “Achas que sou uma ave? Por acaso tenho penas ou bico?” Responde o esquilo cada vez mais irritado.
- “Pronto, pronto. Desculpa. É que nunca tinha visto um animal como tu por aqui…” Diz um pouco envergo-
nhado. “Deves ser mesmo raro!”
- “Por acaso até sou, mais ou menos. Em Portugal sou considerado raro, mas cada vez somos mais. Sabes,
nós já fomos muito abundantes há muito tempo atrás… Depois no XVI a nossa espécie desapareceu de Portugal,
extinguiu-se! Só nos anos 80, há 30 anos atrás, é que os meus familiares começaram a regressar vindos
de Espanha, já tenho família e amigos em toda a zona Norte, em Lisboa, … mas ainda há muitos sítios onde ainda
não há esquilos.”
- “Então isso quer dizer que vamos ter que começar a partilhar as bolotas destes carvalhos?” Pergunta o
gaio não muito contente com essa ideia.
- “Bem, eu não gosto muito de partilhar a minha comida até porque me vai fazer falta para o Inverno, mas
como eu não consigo digerir muito bem as bolotas, vou deixar estas para ti e vou ali para aquela zona
de pinheiros roer uma pinhas que eu até gosto mais.”
- “Ah, ainda bem. Eu também posso comer insectos e alguns frutos, e até ovos, mas durante o Inverno é
mais difícil encontrar essas coisas e preciso mesmo de bolotas.” Explica o gaio.
- “Eu também gosto de enterrar algumas bolotas para o Inverno mas recolho também outras sementes e
até cogumelos. Posso secar alguns e guardar no meu ninho.” Diz o esquilo.
- “Bem, gostei muito de te conhecer. Se não nos virmos mais passa um bom Inverno!”
- “Obrigada. Também gostei de te conhecer. Adeus!”
Em breve as temperaturas vão baixar e depois só terão as suas reservas para se alimentar. O Inverno
aproxima-se devagarinho…
Moral da história: Para o Inverno aguentar, as tuas reservas deves armazenar.
Adaptado de texto de Cláudia Silva, Quercus Ambiente n.º 61, Nov/Dez 2013
E tu? Também podes fazer como o gaio e o esquilo e enterrar algumas bolotas e outras sementes para os
animais terem mais alimentos, e nós também, pois alimentos não são só aquilo que cultivamos!
Já viste a receita de pão publicada neste boletim?
espaço
Jovem Atento
Conta da Natureza Preparativos para o Inverno