BOLETIM GRALHA AZUL No. 52 - NOVEMBRO 2014

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GRALHA AZUL - No. 52 - NOVEMBRO - 2014 - SOCIEDADE BRASILEIRA DE MÉDICOS ESCRITORES - SOBRAMES - PR GRALHA AZUL GRALHA A ZUL A MEDICINA E A COMPAIXÃO JOÃO CARLOS SIMÕES Expresidente SOBRAMES PR Fundador e Editor Cien9fico da Revista do Médico Residente ‘‘À vida do médico não se propõem recompensas, mas deveres.’’ Medicina, derivada do laGm ars medicina, significa a arte da cura. A Medicina é a grande paixão do dia a dia e será a eterna companheira do médico vocacional. Para se fazer Medicina é preciso ter curiosidade e compaixão. A curiosidade é inata no ser humano. A compaixão precisa ser ensinada ao estudante de medicina. Rubem Alves escreveu que “ afinal de contas, a primeira condição de um médico, anterior à sua competência técnica, é a sua compaixão. Compaixão é senGr, de alguma forma, aquilo que o outro está senGndo. ReGrada a compaixão o médico não passa de um mecânico que manipula carros sem senGr nada porque carros nada sentem. Pergunto agora à vocês, médicos amigos, professores, modelos a serem imitados, responsáveis pela formação dos novos médicos: qual é o lugar, nos currículos de medicina, onde tanta coisa complicada se ensina, para uma meditação sobre a compaixão? É na compaixão que a éGca se inicia e não nos livros de éGca médica. Ah! dirão os responsáveis pelos currículos – compaixão não é coisa cien9fica. Não entra na descrição de casos clínicos. Não pode ser comunicada em congressos. Portanto, não tem dignidade acadêmica. Certo. Mas acontece que não somos automóveis a serem consertados por mecânicos competentes. Somos seres humanos. Amamos a vida, queremos viver. Sofremos de dores \sicas e de dores de alma: o medo, a solidão, a impotência, a morte.” Ter compaixão precisa ser ensinado nas escolas médicas todos os dias! Que força estranha é esta que nos faz pousar as mãos sobre o corpo enfermo e, pelo menos, amenizar o sofrimento? Que força tamanha é esta que nos impregna de cuidar dos doentes mesmo se esquecendo de nós mesmos e de nossa família? Onde se encontra esta vontade de estudar todos os dias? Cuidar e gostar de gente é a razão de ser da vida do estudante e do médico vocacional. É a sua grande moGvação. Ensinar aos estudantes de medicina é a outra vocação do médico professor. Ser professor de medicina é conGnuar se transformando e aprendendo com os seus estudantes. Ensinar aos estudantes de medicina e aos residentes como se ensina aos filhos é hipocráGco. Ensinálos, como disse o professor Adib Jatene, que o médico precisa ser especialista em gente, compreender como as pessoas são diferentes e o quanto a sua atenção e dedicação a elas é fundamental no tratamento. Fonte: Rev. Med. Res. | CuriGba | N. 3/4 |Jul Dez 2014| 159

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GRALHA AZUL - No. 52 - NOVEMBRO - 2014 - SOCIEDADE BRASILEIRA DE MÉDICOS ESCRITORES - SOBRAMES - PR

GRALHA AZULGRALHA AZUL              A  MEDICINA  E  A  COMPAIXÃO  

  JOÃO  CARLOS  SIMÕES     Ex-­‐presidente  SOBRAMES  PR     Fundador  e  Editor  Cien9fico  da  Revista  do  Médico  Residente  

              ‘‘À  vida  do  médico  não  se  propõem  recompensas,  mas  deveres.’’    

Medicina,  derivada  do  laGm  ars  medicina,  significa  a  arte  da  cura.  A  Medicina  é  a  grande  paixão  do  dia  a  dia  e  será  a  eterna  companheira  do  médico  vocacional.  Para  se  fazer  Medicina  é  preciso  ter  curiosidade  e  compaixão.  A  curiosidade  é  inata  no  ser  humano.  A  compaixão  precisa  ser  ensinada  ao  estudante  de  medicina.  Rubem  Alves  escreveu  que  “  afinal  de  contas,  a  primeira  condição  de  um  médico,  anterior  à  sua  

competência  técnica,  é  a  sua  compaixão.  Compaixão  é  senGr,  de  alguma  forma,  aquilo  que  o  outro  está  senGndo.  ReGrada  a  compaixão  o  médico  não  passa  de  um  mecânico  que  manipula  carros  sem  senGr  nada  porque  carros  nada  sentem.  

Pergunto  agora  à  vocês,  médicos  amigos,  professores,  modelos  a  serem  imitados,  responsáveis  pela   formação   dos   novos   médicos:   qual   é   o   lugar,   nos   currículos   de   medicina,   onde   tanta   coisa  complicada  se  ensina,  para  uma  meditação  sobre  a  compaixão?  

É  na  compaixão  que  a  éGca  se  inicia  e  não  nos  livros  de  éGca  médica.  Ah!  dirão  os    responsáveis   pelos   currículos   –   compaixão   não   é   coisa   cien9fica.   Não   entra   na   descrição   de   casos  clínicos.  Não  pode  ser  comunicada  em  congressos.  Portanto,  não  tem  dignidade  acadêmica.  Certo.  Mas  acontece  que  não   somos  automóveis  a   serem  consertados  por  mecânicos   competentes.   Somos   seres  humanos.  Amamos  a  vida,  queremos  viver.  Sofremos  de  dores  \sicas  e  de  dores  de  alma:  o    medo,  a  solidão,  a  impotência,  a  morte.”  

Ter  compaixão  precisa  ser  ensinado  nas  escolas  médicas  todos  os  dias!  Que  força  estranha  é  esta  que  nos  faz  pousar  as  mãos  sobre  o  corpo  enfermo  e,  pelo  menos,  amenizar  o  sofrimento?  

Que  força  tamanha  é  esta  que  nos   impregna  de  cuidar  dos  doentes  mesmo  se  esquecendo  de  nós  mesmos  e  de  nossa  família?  

Onde  se  encontra  esta  vontade  de  estudar  todos  os  dias?  Cuidar  e  gostar  de  gente  é  a  razão  de  ser  da  vida  do  estudante  e  do  médico  vocacional.  É  a  sua  

grande  moGvação.   Ensinar   aos   estudantes   de  medicina   é   a   outra   vocação   do  médico   professor.   Ser  professor  de  medicina  é  conGnuar  se  transformando  e  aprendendo  com  os  seus  estudantes.  

Ensinar   aos  estudantes  de  medicina  e  aos   residentes   como   se  ensina  aos  filhos  é  hipocráGco.  Ensiná-­‐los,   como   disse   o   professor   Adib   Jatene,   que   o   médico   precisa   ser   especialista   em   gente,  compreender   como   as   pessoas   são   diferentes   e   o   quanto   a   sua   atenção   e   dedicação   a   elas   é  fundamental  no  tratamento.  

          Fonte:  Rev.  Med.  Res.  |  CuriGba  |  N.  3/4  |Jul  -­‐  Dez  -­‐  2014|  159

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LANÇAMENTOS    SOBRAMES  PR

                                                           E  AGORA  DOUTOR?   José  Ephysio  Bigarelli  -­‐  médico  anestesiologista  da                                SOBRAMES  PR.             Paulista  de  Jaú  -­‐  SP  está  radicado  no  Paraná  desde  1955  e  neste           mês  lançou  seu  terceiro  livro,  cujo  prefácio  Gve  a  honra  de  escrever:                                          “Verbavolant,scriptamanent”               “As  palavras  voam,  mas  os  escritos  ficam”.                                                                                                                                            Provérbio  LaGno  

        Com  esse  provérbio,  José  Ephisio  Bigarelli  nos  confirma,  com             absoluta  clareza,  que  ao  contrário  de  um  Curriculum  vital  insípido,             cujo  desGno  são  as  prateleiras  e  os  arquivos  infindáveis  da  internet,                                    possa  estar  em  nossas  mesas  de  cabeceira,  cuja  leitura  nos  apraz,    nos  diverte  e  nos  faz  pensar  em  tudo  aquilo  que  preenche  a  vida  de  um  médico.  Em  pequenos   capítulos,   de   fácil   leitura,   somam-­‐se   viagens  pelo   tempo,   com   tempero  na  diversidade  das  dificuldades  da  profissão,  do  começo  da  sua  vida  familiar,  de  sua  postura  e  dedicação  às  amizades,  profunda   religiosidade,   enfim,   demonstra   um   grande   coração   e   uma   alma   consciente,   emoGva   e  intelectual.  A  leitura  desses  próximos  capítulos  fará  diferença  em  nossas  próprias  vidas.  A   mim,   pessoalmente,   regozijo-­‐me   com   a   possibilidade   de   ter   sido,   talvez,   o   segundo   a   ler   estes  rascunhos,  pois  com  certeza,  sua  alma  gêmea  Ilza,  que  o  acompanhou  em  todas  essas  aventuras,  tenha,  como  sempre,  o  inspirado  nestas  memórias.    

        Carlos  Homero  Giacomini,  médico  pediatra,  da  SOBRAMES  PR.  

        Valor,  Talento  e  Método;  Sociedade,  governos  e  eficácia  da  democracia             é  um  ensaio  sobre  o  papel  de  cada  um  e  dos  governos  diante  do  atual           cenário  políGco.  

  Enquanto  esperamos  por  grandes  reformas  não  há  nada  que  possamos  fazer?  Não  basta  que  declaremos   finalidades   nobres.   Existem   caminhos   que   podem   garanGr   avanços   pessoais   e   das  insGtuições  e  só  dependem  de  lideranças  patrocinadoras.  O  Brasil  precisa  de  reformas,  os  brasileiros  e  seus  Governos  precisam  de  renovação  de  valores,  métodos  eficazes  de  mudança  e  talentos  devotados  a  ela.  Afinal,  isso  nunca  deixou  de  ser  importante.  

  Hoje   em   nosso   país   a   políGca   prossegue   cada   vez   mais   isolada   das   mulheres   e   homens  comuns.  Todos  se  sentem  a  vontade  para  criGcá-­‐la  e  a  seus  mandatários  nos  quais  enxergam  apenas  a  defesa  da  perpetuação  de  privilégios.  O  lado  mais  flagrante  da  frustração  manifesta-­‐se  na  insaGsfação  com  a  baixa  qualidade  dos  serviços  públicos.  No  limite,  as  insaGsfações  eclodem  em  revolta.  A  políGca  é  repudiada,  os  governos  são  pouco  eficazes  e  a  democracia,  por  consequência,  pode  ser  ameaçada.             fonte:  hsp://www.carloshomerogiacomini.com.br/?p=19  

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GRALHA AZUL - No. 52 - NOVEMBRO - 2014 - SOCIEDADE BRASILEIRA DE MÉDICOS ESCRITORES - SOBRAMES - PR 3

  O   romance   “Na   Barriga   da   Baleia”,   do   médico  paranaense  SOBRAMES  PR  -­‐  Marco  Teixeira,  foi  lançado  no  dia  6  deste   mês,   na   Livraria   da   Vila   (PáGo   Batel).   Publicado   pela  Editora   Íthala,   o   livro   apresenta   fatos   ocorridos   durante   os   25  anos  de  vida  de  Jonas,  personagem  central  da  história,  desde  o  nascimento,   passando   pela   infância   e   adolescência   até   o  internamento  em  hospital  psiquiátrico.     Apesar  do  nome  fazer  alusão  a  uma  passagem  da  Bíblia,  “Na   Barriga   da   Baleia”   não   tem   nenhuma   conotação   religiosa,  ressalta  Teixeira.  O  autor  coloca  que  as  192  páginas  abordam  as  facetas   de   Jonas   como   jovem   problemáGco,   apaixonado   e  revolucionário,   sua  amizade  com  um  enfermeiro,  a  entrada  e  a  saída  do  hospital.  A  história  se  passa  na  época  atual  e  é  contada  com  linguagem  simples  e  acessível.     “Na  Barriga  da  Baleia”  é  um  romance  que  conta  a  história  de  um  adolescente  psicóGco.  O  livro  narra   infância   e   adolescência   de   Jonas,   relacionamento   familiar,   alterações   de   comportamento,  convívio   com   a   marginalidade,   vida   no   hospital   psiquiátrico,   paixão   pela   médica   e   rebelião   de  internos.

Marco  Teixeira  nasceu  em  1961,  na  cidade  de  Ponta  Grossa.  Estudou   medicina   na   Universidade   Federal   do   Paraná   –   UFPR   e  formou-­‐se   em   1985.   Especializou-­‐se   em   homeopaGa   e   trabalha  como  clínico  num  hospital  psiquiátrico.  Em  1992,  ganhou  o  segundo  lugar   no   VI   Concurso   Gralha   Azul   de   Literatura   Brasileira,   com   o  “Relato   Rápido   de   um   RessenGmento”.   Em   2009,   publicou  “Morrendo   de   Saudades   –   Cartas   de   Um   Pai   Separado”,   no   qual  relatava  uma  experiência  de  vida.     Durante  o  lançamento  do  seu  úlGmo  livro,  foi  convidado  para  parGcipar   da   SOBRAMES   PR.   Convite   aceito   prontamente.   Contou  que  há  algum  tempo  havia  buscado  informações  sobre  a  Sociedade  Brasileira  de  Médicos  Escritores  e  de  como  parGcipar  de  seu  quadro.  

  Roberto  Antonio  Carneiro,  médico  reumatologista,  SOBRAMES  PR,  publicou  na  Antologia  Literária  Internacional,  organizada  por  Roberto  de  Castro  Del  Succhi.     O  brazão  estampado  na  capa  é  da  família  Del’Secchi,  correspondente  ao  9tulo  de  nobreza  conhecido  pelo  Rei  Carlo  Emanuele  III,  Sardenha,  Itália,  em  19  de  agosto  de  1731  a  Dom  Gavino  Secchi,  e  para  seus  filhos  e  descendentes.     A  família  Secchi  descende  em  linha  direta  de  Dom  Juan  de  Aragon  e  Dona  Eleonora  D’Arborea  (1388).  Entre  os  seus  descendentes  exisGram  alguns  ilustres  personagens  como  Papas,  pintores,  poetas,  astrônomos.  Entre  estes  foram  apontados  o  astrônomo  Pe.  ângelo  Secchi,  descobridor  da  espectrografia  estelar  do  Observatório  Romano  VaGcano.

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A  ALMA  DO  HOMEM  SOB  O  SOCIALISMO  OSCAR  WILDE  -­‐  1891    

(Fragmentos.  Título  original  THE  SOUL  OF  MAN  UNDER  SOCIALISM)  “Cumpre  observar  que  é  o   fato  de   ser  a  Arte  essa   forma   intensa  de   Individualismo  que   leva  o  público  a  

procurar  exercer  sobre  ela  uma  autoridade  tão  imoral  quanto  ridícula,  e  tão  aviltante  quanto  desprezível.  A  culpa  não   é   verdadeiramente   do   público.   Este   nunca   recebeu,   em   época   alguma,   uma   boa   formação.   Está  constantemente  pedindo  à  Arte  que  seja  popular,  que  agrade  sua  falta  de  gosto,  que  adule  sua  vaidade  absurda,  que  lhe  diga  o  que  já  lhe  disseram,  que  lhe  mostre  o  que  já  deve  estar  farto  de  ver,  que  o  entretenha  quando  se  senFr   pesado   após   ter   comido   em   demasia,   e   que   lhe   distraia   os   pensamentos   quando   esFver   cansado   de   sua  própria  estupidez.  A  Arte  nunca  deveria  aspirar  à  popularidade,  mas  o  público  deve  aspirar  a  se  tornar  arHsFco.  Há  nisso  uma  diferença  muito  ampla.  Se  disséssemos  hoje  a  um  cienFsta    que  os  resultados  de  seus  experimentos  e  as  conclusões   a   que   chegou   deveriam   ser   de   uma   tal   natureza   que   não   abalassem   as   noções   populares   firmadas  sobre  o  assunto,  nem  contrariassem  o  preconceito  popular  ou  ferissem  a  sensibilidade  dos  que  nada  entendam  de  ciência;  se  disséssemos  hoje  a  um  filósofo  que  ele  teria  o  pleno  direito  de  especular  nas  esferas  mais  elevadas  do  pensamento,  conquanto  chegasse  às  mesmas  conclusões  defendidas  por  aqueles  que  nunca  refleFram  em  esfera  alguma  –  bem,  o  cienFsta  e  o  filósofo  achariam  muita  graça  nessas  sugestões.  Mas,  alguns  anos  atrás,  a  filosofia  como  a  ciência  viram-­‐se  sujeitas  ao  brutal  controle  popular,  à  autoridade  quer  da  ignorância  geral  da  comunidade,  quer  do  terror  e  sede  de  poder  de  uma  classe  eclesiásFca  ou  governamental.    

Evidentemente,   conseguimos   em   grande   medida   nos   livrar   de   qualquer   tentaFva,   por   parte   da  comunidade,  da  Igreja  ou  do  Governo,  de  interferência  no  Individualismo  do  pensamento  especulaFvo,  mas  ainda  persiste  a  tentaFva  de  interferência  no  Individualismo  da  arte  da  imaginação.  Com  efeito,  faz  mais  do  que  persisFr:  é  agressiva,  ofensiva  e  embrutecedora.  […]  pg.  46.  

A  única  coisa  de  que  o  público  não  gosta  é   inovação.  É  extremamente  avesso  a  qualquer  tentaFva  de  se  ampliar  o  universo  temáFco  na  criação,  quando,  no  entanto,  dessa  constante  ampliação  depende  em  larga  medida  a  vitalidade  e  o  progresso  da  Arte.    O  público  não  gosta  de  inovação  porque  a  teme.  […]  pg.  49.    

  A  evolução  do  homem  é  lenta,  e  é  grande  a  injusFça  dos  homens.  Foi  preciso  mostrar  a  dor  como  uma  forma  de  se  alcançar  a  perfeição  de  si  mesmo.  Mesmo  agora,  a  mensagem  de  Cristo  é  necessária  em  algumas  partes   do  mundo.  Ninguém  que   viva   na   Rússia   de   hoje   poderá   alcançar   a   sua   perfeição   a   não   ser   na   dor.   Uns  poucos   arFstas   russos   alcançaram-­‐na   na   Arte,   numa   ficção   que   ser   mostra  medieval   na   busca   de   se   aFngir   a  perfeição  através  da  dor.  Mas  aos  que  não  são  arFstas,  não  lhes  resta  nenhum  outro  modo  de  vida  senão  a  vida  real,  para  esses  a  dor  é  a  única  passagem  para  a  perfeição.  Um  russo  que  viva  feliz  no  atual  sistema  de  governo  de  seu  país,  ou  acredita  que  o  homem  não  tem  alma,  ou  que,  se  a  tem,  não  vale  a  pena  aperfeiçoá-­‐la.  (pg.  81).”  

  COMENTÁRIOS:       “Em  A  ALMA  DO  HOMEM  (tradução  de  Heitor  Ferreira  da  Costa)  existe  uma  vigorosa  tentaGva  de  sustentar  que  cada  indivíduo  –  não  só  o  homem  excepcional,  o  arGsta  –  pode  achar  e  expressar  a  si  próprio.  Trata-­‐se  de  um  libelo  em  favor  da  liberdade  de  expressão  do  homem  comum  na  verve  do  mais  ferino  dos  dândis”.    L&PM.  2003.       O  ensaio  A  alma  do  homem  sob  o  socialismo  é  uma  peça  peculiar  da  obra  do  escritor  irlandês  radicado  na  Inglaterra  Oscar  Wilde.  Publicado  no  periódico  The  Fortnightly  Review  em  1891,  trata-­‐se  de  um  texto  que  veio  a  público  no  despontar  da  carreira  do  autor.       A  alma  do  homem  foi  escrito  antes  da  experiência  que  viria  a  ser  o  divisor  de  águas  da  carreira  (e  da  vida)  daquele  que   foi   um  dos  maiores  observadores  da   vida  burguesa  e  da  natureza  humana  de   todos  os   tempos:  o  processo  e  a  condenação  a  dois  anos  de  encarceramento  com  trabalhos  forçados  por  crimes  de  natureza  sexual  em  função  de  seu  caso  com  o  jovem  Lord  Alfred  Douglas.     Depois  da  prisão,  um  novo  Wilde  surgiria,  dedicando-­‐se  mais  a  questões  como  éGca  humana,   liberdade,  políGca,  como  se  pode  ver  no  célebre  De  Profundis  (vol.  87  da  coleção  L&PM  POCKET)  e  em  A  balada  do  cárcere  de  Reading.     Portanto,   A   alma   do   homem   é   o   único   texto   de   certa   extensão   escrito   previamente   ao   processo   e  escândalo  no  qual  Wilde  –  aquele   cujos  únicos   compromissos  eram  com  a   ironia,   a  provocação  e  a  elegância  –  debruça-­‐se   deGdamente   sobre   a   políGca,   a   liberdade,   a   condição   social   humana.   Neste   ensaio,   Wilde   aborda  seriamente   a   então   promessa   socialista,   analisando   seus   prós   e   contras,   e,   como   um  profeta  maldito,   além   de  arGsta   para   o   qual   a   liberdade   pessoal   não   pode   ser   diminuída,   chama   a   atenção   para   a   importância   que   o  socialismo  precisaria  garanGr  à  individualidade  humana”.  

BOLETIM  GRALHA  AZUL  -­‐  SOBRAMES  PR  -­‐  EDITOR  RESPONSÁVEL:  Sérgio  Augusto  de  Munhoz  Pitaki