Boletim do - CVV · Na nossa vida cotidiana, quan - do precisamos recorrer a um pro - fissional...

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1 Boletim do editorial Órgão informativo do CVV - programa de valorização da vida - Jan. 2013 - Ano 49 - nº 453 Arnaldo Jabor, numa das suas crônicas recentemente publicadas no Jornal do Commercio (PE) re- lembra “a leveza perdida de Oscar Niemeyer” face o seu falecimento no início de dezembro passado. Ícone da arquitetura brasileira, com obras espalhadas por todos os continentes o “poeta das curvas” -, como ficou conhecido, afirmava do alto de sua sabedoria e inegável simplicidade que “a vida é mais importante do que a Arquitetura”. E não estava enganado. Mas o ato de viver nem sempre ocupa lugar de destaque, prioritário, na vida de tantos seres. O inesquecível compo- sitor Cole Porter possui uma letra de música que revela: “Questões confli - tantes rondam minha cabeça/devo pedir cianureto ou champanha?” De imediato, esse trechinho musi- cal nos faz lembrar a tão conhecida ambivalência vivida com insistência por muitas pessoas que telefonam para o CVV: estender a mão para ingerir cianureto ou para a champa- nha? São gestos que simbolizam a busca da morte ou da vida. Por essa razão, enquanto houver alguém em qualquer ponto do país ou até mesmo do planeta com pen- samentos desse teor, valerá a pena todo empenho para que o CVV exis- ta e amplie, como vem fazendo, os seus canais de comunicação com o outro, tais como chat, VoIP, skype. Enfim, todo e qualquer labirinto da internet que utilizado pelo plantonis- ta x outra pessoa, possa apontar para uma saída em prol da proposta de viver. E essa Proposta de Vida foi ex- perienciada com entusiasmo pelos voluntários que estiveram presentes no 33º Conselho Nacional (CN) rea- lizado em outubro de 2012, em São Paulo, por ocasião das comemora- ções das cinco décadas da fundação do Centro de Valorização da Vida (C.V.V.) - órgão mantenedor respon- sável pela execução do Programa CVV em todo o Brasil. Cinco décadas de luta, de esforço empreendido, de solidariedade, de dedicação, de desafios. Cinco déca- das de amor fraterno e comprome- timento com a valorização da vida externados a cada dia, a cada passo, a cada momento pelos que constituí- ram e constituem esta instituição. Cinco décadas vivenciando o di- fícil e, ao mesmo tempo, prazeroso exercício da cooperação mútua en- tre as pessoas. O ato de cooperar – já disse alguém - consiste na “ca- pacidade de entender e mostrar-se receptivo ao outro para agir em con- junto, de modo que nessas relações de troca todos se beneficiem”. Ao longo de sua caminhada, o CVV vem cultivando esta coopera- ção, a fraternidade, o diálogo esclare- cedor, a direção centrada no grupo, que pautam-se na prática da empa- tia, quando saber ouvir, colocar-se no coração do outro, entender antes de falar, praticar o respeito, represen- tam a legítima arte da compreensão para que exista a indispensável rela- ção de ajuda num clima de harmo- nia e partilha de sentimentos. Construir a cooperação em tor- no de projetos e estratégias de va- lorização da vida visando ao bem estar comum é atribuição de todos os que fazem o CVV. É um desafio que, em equipe, torna menos difícil realizar as tarefas propostas e, con- sequentemente, há menos dispêndio de energias. As ações desenvolvidas - vale reiterar - em nível institucional estão sob a responsabilidade de todo o vo- luntariado que acaba de comemorar o Jubileu de Ouro do CVV, quando se sabe que a ética e o sentimento de incondicional amor ao próximo são sua marca registrada. Bartyra I Recife - PE expediente O Boletim do CVV é um orgão de comuni- cação de Centro de Valorização da Vida e dos seus programas de franquia social e filantropia: Programa CVV, CVV Comunidade, CVV-Web e Hospital Francisca Júlia. Publicação conforme o artigo 220(parágrafo 6º), capítulo V da Constituição Federal, sob responsábilidade do Conselho Diretor do CVV e Comissão Redatora do Boletim. Central de Comunicação R. Abolição, 411 - Bela Vista CEP: 01319-010 - SP - SP Fone: (11) 3107-2152 Fax: (11) 3101-2329 e-mail: [email protected] Centro de Valorização da Vida Estr.Dr. Bezerra de Menezes, 703 Parque Interlagos São José dos Campos - SP CEP: 12229-380 Impressão: São Francisco Gráfica e Editora Ltda http://www.saofranciscograf.com.br O CVV e sua marca registrada editorial O CVV e sua marca registrada................1 matérias painel livre Boatos: uma comunicação negativa........2 Preferência x dependência ....................3 Desabafo de um coração para outro coração....................3 II Simpósio Internacional de Prevenção do Suicídio (2/2)..............4 Todos somos céticos (1/2)......................5 de olho na noticia O clima de ameaça zero.........................6 Características sociodemográficas atribuições dos voluntários.....................6 Bullying na escola..................................7 O voluntário e a identificação com a comunidade afetiva do CVV ...................8 nossas comissões Dia Internacional de Prevenção do Suicídio...........................9 Posicionamento da marca CVV .............10 Rio + 20..............................................11 CVV Comunidade aproxima e informa sobre suicídio no Distrito Federal...............................12 espírito samaritano: ontem, hoje, amanhã 51º Preceito: O sigilo é a base do trabalho................12 ly_boletim_453_janeiro.indd 1 16/01/13 11:16

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Boletim doeditorial

Órgão informativo do CVV - programa de valorização da vida - Jan. 2013 - Ano 49 - nº 453

Arnaldo Jabor, numa das suas crônicas recentemente publicadas no Jornal do Commercio (PE) re-lembra “a leveza perdida de Oscar Niemeyer” face o seu falecimento no início de dezembro passado. Ícone da arquitetura brasileira, com obras espalhadas por todos os continentes o “poeta das curvas” -, como ficou conhecido, afirmava do alto de sua sabedoria e inegável simplicidade que “a vida é mais importante do que a Arquitetura”.

E não estava enganado. Mas o ato de viver nem sempre ocupa lugar de destaque, prioritário, na vida de tantos seres. O inesquecível compo-sitor Cole Porter possui uma letra de música que revela: “Questões confli-tantes rondam minha cabeça/devo pedir cianureto ou champanha?”

De imediato, esse trechinho musi-cal nos faz lembrar a tão conhecida ambivalência vivida com insistência por muitas pessoas que telefonam para o CVV: estender a mão para ingerir cianureto ou para a champa-nha? São gestos que simbolizam a busca da morte ou da vida.

Por essa razão, enquanto houver alguém em qualquer ponto do país ou até mesmo do planeta com pen-samentos desse teor, valerá a pena todo empenho para que o CVV exis-ta e amplie, como vem fazendo, os seus canais de comunicação com o outro, tais como chat, VoIP, skype. Enfim, todo e qualquer labirinto da internet que utilizado pelo plantonis-ta x outra pessoa, possa apontar para uma saída em prol da proposta de viver.

E essa Proposta de Vida foi ex-perienciada com entusiasmo pelos voluntários que estiveram presentes no 33º Conselho Nacional (CN) rea-lizado em outubro de 2012, em São Paulo, por ocasião das comemora-ções das cinco décadas da fundação do Centro de Valorização da Vida (C.V.V.) - órgão mantenedor respon-sável pela execução do Programa CVV em todo o Brasil.

Cinco décadas de luta, de esforço empreendido, de solidariedade, de

dedicação, de desafios. Cinco déca-das de amor fraterno e comprome-timento com a valorização da vida externados a cada dia, a cada passo, a cada momento pelos que constituí-ram e constituem esta instituição.

Cinco décadas vivenciando o di-fícil e, ao mesmo tempo, prazeroso exercício da cooperação mútua en-tre as pessoas. O ato de cooperar – já disse alguém - consiste na “ca-pacidade de entender e mostrar-se receptivo ao outro para agir em con-junto, de modo que nessas relações de troca todos se beneficiem”.

Ao longo de sua caminhada, o CVV vem cultivando esta coopera-ção, a fraternidade, o diálogo esclare-cedor, a direção centrada no grupo, que pautam-se na prática da empa-tia, quando saber ouvir, colocar-se no coração do outro, entender antes de falar, praticar o respeito, represen-tam a legítima arte da compreensão para que exista a indispensável rela-ção de ajuda num clima de harmo-nia e partilha de sentimentos.

Construir a cooperação em tor-no de projetos e estratégias de va-lorização da vida visando ao bem estar comum é atribuição de todos os que fazem o CVV. É um desafio que, em equipe, torna menos difícil realizar as tarefas propostas e, con-sequentemente, há menos dispêndio de energias.

As ações desenvolvidas - vale reiterar - em nível institucional estão sob a responsabilidade de todo o vo-luntariado que acaba de comemorar o Jubileu de Ouro do CVV, quando se sabe que a ética e o sentimento de incondicional amor ao próximo são sua marca registrada.

Bartyra I Recife - PE

expediente

O Boletim do CVV é um orgão de comuni-cação de Centro de Valorização da Vida e dos seus programas de franquia social e filantropia: Programa CVV, CVV Comunidade, CVV-Web e Hospital Francisca Júlia.Publicação conforme o artigo 220(parágrafo 6º), capítulo V da Constituição Federal, sob responsábilidade do Conselho Diretor do CVV e Comissão Redatora do Boletim.

Central de ComunicaçãoR. Abolição, 411 - Bela Vista CEP: 01319-010 - SP - SPFone: (11) 3107-2152Fax: (11) 3101-2329e-mail: [email protected]

Centro de Valorização da VidaEstr.Dr. Bezerra de Menezes, 703Parque InterlagosSão José dos Campos - SPCEP: 12229-380

Impressão: São Francisco Gráfica e Editora Ltdahttp://www.saofranciscograf.com.br

O CVV e sua marca registradaeditorial

O CVV e sua marca registrada................1

matérias painel livre

Boatos: uma comunicação negativa........2Preferência x dependência ....................3Desabafo de um coração para outro coração....................3II Simpósio Internacional de Prevenção do Suicídio (2/2)..............4Todos somos céticos (1/2)......................5

de olho na noticiaO clima de ameaça zero.........................6Características sociodemográficasatribuições dos voluntários.....................6Bullying na escola..................................7O voluntário e a identificação com a comunidade afetiva do CVV...................8

nossas comissõesDia Internacional de Prevenção do Suicídio...........................9Posicionamento da marca CVV.............10Rio + 20..............................................11CVV Comunidade aproxima e informa sobre suicídio no Distrito Federal...............................12

espírito samaritano: ontem, hoje, amanhã51º Preceito: O sigilo é a base do trabalho................12

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“Quem conta um conto, au-menta um ponto” - conhecido dito popular é reiterado de ma-neira bem-humorada por um es-critor pernambucano, Pelópidas Soares, que no seu livro A Nau do Cata-Vento, nos brindou com uma peça de teatro para bonecos focalizando o trajeto de uma no-tícia que de tanto correr de boca em boca acabou transformando--se num estapafúrdio boato: um homem havia posto um ovo!

O autor captou como nin-guém, as distorções acontecidas desaguando naquela conclusão inusitada, explorando o espírito de uma comunicação defeituosa, o que é corriqueiro entre nós, se-res humanos.

Isso acontece porque de todos os desejos humanos, o maior de-les e o mais persistente é o an-seio da conquista da atenção, do amor, do dinheiro e da saúde. Tudo é alimento para o fogo em-busca do reconhecimento e mui-tas vezes às custas de um boato.

Alguns psicólogos chegam a afirmar que o disse-me-disse das comadres, funciona quase como uma terapia grupal, embora às avessas. As pessoas transmitem os fatos oralmente, às vezes sem saber o que está realmente acon-tecendo. Elas confiam no seu poder pessoal, na sua habilida-

de verbal, nas coisas que dizem e como as dizem, simplesmen-te desconhecendo muitas vezes que há duas formas de boato: o jocoso e o pernicioso.

Do boato jocoso pode-se afir-mar que não causa danos perma-nentes, ao passo que o pernicio-so é capaz de iniciar uma guerra familiar, no ambiente de trabalho ou entre amigos.

Por tudo isso é necessário um certo cuidado em nosso compor-tamento no tocante à comunica-ção, principalmente em nossas relações interpessoais e intergru-pais.

É sabido que em toda organi-zação, regras existem para dis-ciplinar as ações. Algumas delas podem ser intuídas sem neces-sidade de uma regulamentação. Por exemplo:

- nunca repetir o que se ouve sem antes certificar-se de que é verdade;

- evitar o pré-julgamento das pessoas;

- manter um diálogo aberto com todos;

- não usar sempre a teoria do achismo: eu acho que... Eu ouvi dizer... Não sei bem quem dis-se...;

- falar claramente do que está acontecendo sem preconceitos ou opiniões formadas.

Se assim procedermos, ficare-mos apenas e, esporadicamente, com os boatos jocosos já que fazem parte da nossa bagagem emocional. Disso sabem muito bem os historiadores e jornalistas.

No CVV, a nossa convivência ditada pelas circunstâncias, é plu-ralista e diversificada.

Pessoas existem que trazem até nós um vasto repertório de frustrações, angústias, comple-xos vários que podem levar a um padrão destrutivo que corrói re-lações e destrói vínculos emocio-nais, sociais e outros.

Portanto, para desenvolver-mos uma comunicação saudável, é necessário aprimorarmos tam-bém boas maneiras que, em úl-tima instância, “significam com-portar-se com respeito próprio, comportamento que não seja agressivo, rude ou censurável”.

O ideal para nós será sem-pre a aceitação incondicional da capacidade de crescimento da outra pessoa, que acabará por certificar-se de que pertencemos todos, de forma igualitária e de igual importância, a um mesmo grupo. Criaremos, assim, um ní-vel de total colaboração e aber-tura de suma validade para todos.

Glória I Recife - PE

Boatos: uma comunicação negativa

painel livre painel livre

Desabafo de um coração para outro coração

Preferência x Dependência

Embora não sejamos profissio-nais da área de saúde, muitos de nós no CVV, somos “convidados” a participar de apoios difíceis e dolorosos. Por vezes é um côn-juge que solicita o divórcio sem motivo aparente. Em outras cir-cunstâncias é um filho que nasce com necessidades especiais. Há também as perdas de entes que-ridos, de emprego, financeiras, de amigos etc.

Todos esses são desafios que nos dão a consciência de que, quer no CVV, quer nas nossas vidas particulares, o exercício di-ário de bons sentimentos repre-sentam lições de que o amor e a dedicação são práticas relevantes para a aprendizagem do nosso dia a dia.

Os diálogos com base na Abordagem Centrada na Pessoa (ACP) significam desabafos de um “coração para outro cora-ção”. Desses diálogos nascem as mudanças que fazem bem a nós e à outra pessoa. É conversando que nos reconhecemos e des-cobrimos o outro. Através des-

sas permutas mudamos o nosso olhar em torno das atitudes hu-manas tornando-nos seres me-lhores e mais flexíveis.

A psiquiatra suíça Elizabeth Klüber Ross, desde jovem radica-da nos EUA, no estado de Nova York, durante a segunda metade do século XX, num dos seus li-vros surpreende-nos com uma extraordinária revelação.

Designada para trabalhar com pacientes esquizofrênicos crôni-cos, incuráveis, ela sentia-se so-litária e infeliz. Foi quando teve a ideia de desabafar com seus pacientes, identificando-se com suas dores e solidão.

A partir daí - narrou ela -, “pa-cientes que há mais de 20 anos não pronunciavam uma palavra começaram a falar por encontrar nela alguém para compartilhar seus sentimentos e sofrimentos”.

E, durante dois anos, partilhou da vida de seus pacientes, conhe-cendo-lhes os nomes, vontades, gostos, manias, enfim, envolven-do-se com a vida de todos eles.

É nesse ponto do relato que

nos vemos diante da grande sur-presa: “ao cabo desse período, cerca de 94% dos seus pacientes, dados como incuráveis, recebe-ram alta”.

Em síntese, a doutora Elizabe-th Klüber Ross chegou à conclu-são de que “o maior presente que seus pacientes lhe deram foi ensi-nar-lhe que há mais coisas, além das terapias e da ciência médica. Ensinaram-lhe que amor e aten-ção podem ajudar seriamente as pessoas e conseguir que muitas delas se curem”.

Dessa maneira, vale nos re-portarmos ao título deste artigo, convencendo-nos de que só po-deremos verdadeiramente ajudar o outro, se nós nos dispusermos a ouvir com empatia o desabafo de um “coração para outro cora-ção”.

Helio I Ribeirão Preto - SPBartyra I Recife - PE

Na nossa vida cotidiana, quan-do precisamos recorrer a um pro-fissional (médico, dentista, cabe-leireiro etc.), é comum termos nossas preferências. Preferimos um profissional a outro, às vezes por razões diretas - experiências que já tivemos -, às vezes por ra-zões um pouco mais difíceis de explicar - simpatias, antipatias, preconceitos.

O mesmo processo ocorre quando precisamos discutir um assunto importante com alguém. Vamos discutir nossas finanças com aquela nossa tia idosa que nunca viu um talão de cheques ou com aquele nosso amigo que foi gerente de banco? Vamos conversar sobre o resultado da-quele complexo exame que fi-zemos com aquela nossa amiga queridíssima, mas que não teve oportunidade de estudar ou com aquela outra amiga que é en-fermeira? Vamos discutir nossas dificuldades com um filho ado-

lescente, com aquele amigo que optou por não ter filhos ou com aquele que passou pelas mesmas dificuldades?

O processo de escolha é na-tural e é um direito de cada um. Por esse motivo, não devemos nos sentir preteridos quando, no CVV, percebemos que a pessoa que atendemos, prefere conversar com um outro colega. Claro que no CVV a pessoa que nós tenta-mos apoiar não sabe das nossas características pessoais, de nossa formação escolar, de nossa expe-riência profissional. Nem é preci-so, pois o que oferecemos é calor humano, respeito, compreensão e não nosso conhecimento. Mas, mesmo assim, as preferências se formam com base na facilidade do desabafo, na empatia, no sen-tir-se acolhido.

Não podemos, contudo, con-fundir preferência (o escolher alguém, mas se sentir livre para conversar com outro, embora

não tão à vontade quanto) com dependência (quando a pessoa só consegue desabafar com um determinado voluntário e, por ve-zes, depende desse contato para seguir a vida). Esta situação deve ser fortemente combatida, pois é contrária ao Programa e preju-dicial ao voluntário e, também, principalmente, à outra pessoa.

Por fim, mesmo quando se trata de mera preferência por outros voluntários, devemos nos analisar e descobrir se alguma atitude nossa, embora involuntá-ria, não esteja dificultando o aco-lhimento e fazendo com que o outro não se sinta à vontade para realizar seu desabafo.

Nesse caso, devemos utilizar o instrumento da Vida Plena e nos trabalharmos para estarmos, cada vez mais, prontos para aco-lher de forma fraterna àquele que busca o CVV.

Karina I Recife - PE

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Jornalista não é cientista, mas quando cobre os assuntos da ci-ência precisa entender minima-mente os procedimentos e valo-res que regem esta comunidade. O que segue abaixo - em tópicos - é um resumo daquilo que me parece importante destacar sobre a cobertura dos assuntos ligados às mudanças climáticas.

Quem são os “céticos”?A boa ciência, por princípio,

tem o ceticismo como precio-so aliado. São céticos todos os cientistas que norteiam seus tra-balhos sem visões preconcebi-das, dogmas ou interpretações pessoais da realidade desprovida da correta investigação científica. É equivocado, portanto, chamar de “céticos” apenas aqueles que hoje se manifestam contra a hi-pótese do aquecimento global, ou da interferência da humanida-de nos fenômenos climáticos.

A diferença entre opiniões pessoais e trabalhos publicados

Todo cientista tem o direito de compartilhar opiniões, im-pressões ou análises superfi-ciais sobre o assunto que bem entender. Para a ciência, isso é tão importante quanto a opinião manifestada por qualquer leigo. Neste meio, vale o que foi publi-cado em revistas especializadas, de preferência as que adotam o modelo de revisão pelos seus pa-res, ou “peer review” em inglês (como a Science ou Nature, para citar apenas as mais famosas), cujo o conselho editorial é com-

posto por cientistas que indica-rão outros cientistas. Estes terão o cuidado de aferir se a nova hi-pótese para a explicação de um determinado fenômeno seguiu ri-gorosamente os protocolos de in-vestigação que regem o método científico. Sem isso, o conteúdo em questão - ainda que emitido por um cientista - se resume à ca-tegoria de mera opinião.

Na cobertura jornalística, ha-vendo controvérsia sobre um determinado assunto, convém verificar a quantidade e a quali-dade dos trabalhos publicados. Até o momento, os estudos sobre mudanças climáticas se concen-tram majoritariamente em favor da hipótese do aquecimento glo-bal. As duas correntes científicas, neste caso, não são equivalentes nem proporcionais. Embora am-bas mereçam respeito.

A ciência do climaEssa é uma área nova de in-

vestigação científica extrema-mente complexa e imprecisa. Não há certezas absolutas (em ciência, pode-se dizer, nunca haverá 100% de certeza já que a hipótese prevalente pode um dia ser invalidada diante do sur-gimento de novas evidências) e a controvérsia alimenta o deba-te na busca daquilo que venha a ser a melhor explicação para o fenômeno observado. O pró-prio Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) reconhece em seus relatórios as várias incertezas ainda existen-tes. As modelagens do clima não

explicam totalmente as variações de temperatura em função das emissões de gases-estufa. Ainda assim, há hoje mais certezas do que dúvidas de que o planeta está aquecendo e que os gases--estufa emitidos pela Humanida-de contribuem para esse fenôme-no.

As oscilações naturais de tem-peratura do planeta em eras geo-lógicas, a interferência do Sol nos fenômenos climáticos e todas as outras possibilidades que expli-cariam o que está acontecendo hoje são objeto de inúmeros es-tudos e pesquisas. Mesmo assim, segundo a corrente majoritária de cientistas, não há, até o momen-to, outra explicação mais convin-cente e embasada para explicar as mudanças climáticas, do que a interferência humana.

Foi por isso que a maioria dos países assinou em 1992 o Acordo do Clima (que reconhece essa in-terferência no fenômeno climáti-co), consolidando em 1997 o Tra-tado de Kioto (que estabeleceu prazos e metas para a redução das emissões até 2012), definindo em 2011 o Mapa do Caminho de Durban (que estabelece o prazo limite de 2015 para que todas as nações apresentem seus compro-missos formais de redução dos gases-estufa para implementação a partir de 2020).

Site: G1 – 03 de julho de 2012

André Trigueiro

Sri Lanka: Meios e Isolamento- Estender a prevenção às pro-

priedades rurais que não dispõem de telefone nem internet.

- As taxas de suicídio em Sri Lanka octuplicaram entre 1950 e 1995, sendo dois terços dos sui-cídios por envenenamento (pes-ticida).

- Sumithrayo, Posto do Be-frienders Worldwide (BW) em Sri Lanka, desenvolveu um progra-ma para combater isso.

Em países em desenvolvimen-to como o Sri Lanka, grande par-te da agricultura é desenvolvida em pequenas propriedades, com cada família armazenando e uti-lizando seu próprio estoque de pesticida.

A prática de armazenamento não segura é frequentemente a regra. Uma pesquisa revelou que a maioria dos agricultores arma-zena o pesticida em casa, 75% no quarto e 5% na cozinha, o resto no campo.

Outra pesquisa, que incluiu o Sri Lanka, mostrou que o fatal au-toenvenenamento muitas vezes são atos impulsivos facilitados pela disponibilidade do pesticida.

Em colaboração com a Or-ganização Mundial da Saúde (OMS), o Posto Sumithrayo exe-cutou um programa objetivando que o armazenamento dos pes-ticidas seja centralizado nas co-munidades rurais; os armazéns fi-cam trancados e só duas pessoas têm a chave.

Isso, juntamente com um pro-grama de educação sobre os riscos que apresentam os pesti-cidas, reduziu drasticamente os suicídios no Sri Lanka.

Singapura: Legalidade- O Samaritanos Singapura de-

senvolve um programa junto com a polícia.

- No âmbito do programa, as tentativas de suicídio e mortes por suicídio comunicados à polí-cia devem ser passados ao Posto Samaritanos para fins de acom-panhamento.

- Assim, a polícia não atua na ilegalidade.

- Devido à ilegalidade, a par-ceria entre o Samaritanos e a po-lícia não pode ter caráter oficial.

- Em Singapura, uma pessoa que tenta o suicídio pode ficar presa até um ano.

Nova Zelândia- O Governo iniciou uma Es-

tratégia Nacional de Prevenção do Suicídio.

- Altas taxas de suicídio são registradas entre os povos do Pa-cífico.

- O Samaritanos de Nova Ze-lândia é pressionado para ofere-cer um serviço de apoio.

A Estratégia Nacional de Pre-venção do Suicídio permitiu que os voluntários verificassem como poderiam atingir melhor o grupo--alvo. A pesquisa do Governo da Nova Zelândia sobre os povos do Pacífico revelou que a natureza coletiva das culturas do Pacífico faz com que os povos do Pacífi-co sejam afetados pelos suicídios ou tentativas de suicídio. Esta é a razão pela qual a taxa de suicídio entre os Maori seja a mais alta entre os grupos étnicos da Nova Zelândia.

Um objetivo importante é ofe-recer apoio aos familiares de pes-soas que se suicidaram e aten-der às necessidades deles. Um problema são os custos altos de telefone, seguro e aluguel, e o go-verno não facilita a arrecadação de fundos.

Programas do BW- Chat (Brasil, Noruega, Esta-

dos Unidos)- “Linha Verde”: ligações gra-

tuitas para os Postos Samaritanos para militares (Noruega)

- Apoio em fábricas de con-fecção de roupas (Sri Lanka)

- Apoio no Aeroporto Interna-cional Rajiv Gandhi (Índia)

- Programa Semanal de Rádio (Bangkok)

- Apoio aos familiares de pes-soas que se suicidaram (Singapu-

ra, Austrália, Estados Unidos)- Atendimento por e-mail

(Singapura,Hong Kong, Reino Unido, Brasil)

- Workshop público “A pre-venção do suicídio que você pode fazer” (Japão)

- Grupos de apoio na área afe-tada pelo terremoto em Tohno (Tóquio)

- Atendimento a idosos (liga-ções semanais para idosos identi-ficados por organizações parcei-ras) (Estados Unidos)

- Atendimento em unidades prisionais (Nova Zelândia, Esta-dos Unidos, Reino Unido)

- Linha Nacional de Prevenção do Suicídio (Estados Unidos)

- Sala de emergência para pes-soas que tentaram o suicídio (Es-tados Unidos)

- Caminhada para arrecada-ção de fundos (Estados Unidos)

Concluindo1.O suicídio não deveria ser

visto como algo inevitável. A pre-venção do suicídio é uma meta realista, as organizações e os go-vernos precisam trabalhar juntos para encontrar as soluções.

2.Até lá, continue fazendo o que está fazendo e conecte-se com as pessoas que trabalham ativamente para o mesmo obje-tivo.

3.Métodos, culturas e aborda-gens em torno do suicídio podem ser diferentes, mas todos nós de-sejamos reduzir o número dos suicídios, tanto em nível local como em escala mundial.

Liz Try I Samaritanos do Reino Unido - IrlandaTradução: Eduardo I Brasília – DF

painel livre painel livre

II Simpósio Internacional de Prevenção do Suicídio (19/10/2012)Suicídio - Uma perspectiva internacionalExperiências de membros do Befrienders Worldwide (2/2)

Todos somos céticos (1/2)

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Marian Kinget, discípula fran-cesa de Rogers, afirma que na Abordagem Centrada na Pessoa (ACP), o terapeuta deve procurar construir um clima de liberdade experiencial.

Por isso, entende um ambien-te terapêutico no qual o cliente sente-se à vontade para reconhe-cer todas as suas experiências (fenômenos internos) sem preci-sar distorcer nenhuma delas para agradar o terapeuta. Ela explica: “Esta liberdade existe quando o individuo se dá conta do que lhe é permitido expressar ao menos verbalmente: sua experiência, seus pensamentos, emoções e desejos tais e quais ele os expe-rimenta e independente de sua conformidade às normas sociais

e morais que regem seu meio ambiente”. Dito de outra forma, o indivíduo é psicologicamente livre quando não se sente obriga-do a negar ou a deformar aquilo que experimenta a fim de con-servar, seja o afeto ou a estima daqueles que representam um papel importante na sua econo-mia interna, seja sua autoestima. Rogers cita que existem três ati-tudes do terapeuta que são base da construção de um clima psi-cologicamente favorável, isto é, de um clima de liberdade expe-riencial: 1) congruência ou au-tenticidade; 2) consideração po-sitiva incondicional ou aceitação incondicional; 3) compreensão empática. Congruência é o tera-peuta ser quem realmente é em

cada momento da relação com o cliente, ou seja, exprimir aberta-mente os sentimentos e atitudes que surgem no contexto da rela-ção de ajuda. Consideração posi-tiva incondicional é o terapeuta aceitar o cliente seja o que ele esteja sentindo a cada momento da terapia, isto é, aceitar o seu medo, raiva, rancor, confusão, alegria, amor, coragem. Compre-ensão empática é o terapeuta ser sensível aos sentimentos e rea-ções pessoais que o cliente expe-riencia a cada momento da tera-pia, ou seja, é apreendê-los de dentro tal como o cliente os vê.

Resenha da dissertação de mestradoAndré Barreto PrudenteFFCLRP-USP

O Clima de Ameaça Zero

Quanto ao enquadramento funcional no CVV, que caracte-riza as atribuições do voluntá-rio, participaram da pesquisa 74 voluntários plantonistas e dois voluntários de apoio. Os planto-nistas são aqueles que participam do Programa CVV e realizam se-manalmente um plantão de qua-tro horas e meia. Estes voluntários devem zelar pelo compromisso assumido e pela assiduidade nas atividades dispostas nas reuniões e encontros mensais e bimestrais de voluntários para o seu próprio aperfeiçoamento contínuo. Já os voluntários de apoio participam do Programa CVV sem realizar plantão semanal, entretanto, es-tão aptos para divulgar a propos-

ta de trabalho do CVV, contribuir com a manutenção do Posto e enriquecer os grupos de estudo com temáticas pertinentes.

Os voluntários plantonistas são responsáveis por um plantão semanal, com a possibilidade de escolher entre cinco opções de plantão da escala.

Atualmente, 30% dos partici-pantes do CVV realizam o plantão P23; este dado pode ser relacio-nado à profissão e/ou à ocupa-ção dos voluntários, em que 70% deles possuem uma vida ativa no mercado de trabalho, restando à opção do voluntariado noturno no Programa CVV.

Na divulgação do Programa CVV é explicitado que o candi-

dato deve ter disponibilidade para quatro horas e meia de plantão semanal. O voluntário deve che-gar com antecedência ao Posto, preferencialmente quinze minu-tos antes de iniciar seu plantão e preparar-se para estar disponível para a relação de ajuda, visto que o “denso caráter emocional da atividade exige um forte envolvi-mento do voluntário”.

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O trabalho voluntário no CVVResenha do Trabalho apresentado ao Curso de Graduação em Psicologia Ernesto Gramkow Oviedo AlvaradoUniversidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL)

Características sociodemográficas – atribuições dos voluntários

de olho na notícia

Em 25 de setembro de 2012, Ariel Kaminer, do New York Ti-mes, publicou no site www.edu-cacao.uol.com.br, o artigo Após Suicídio de Aluno, Universidade dos EUA Cria Moradias Especiais para Comunidade de Gays, Lés-bicas, Bissexuais, Transgêneros (LGBT).

Há dois anos, um calouro gay da Universidade Rutgers, Univer-sidade Estadual de Nova Jérsei, cometeu suicídio após saber que seu colega de quarto ridiculari-zou sua sexualidade e convidou amigos para olhá-lo com outro homem. Esse terrível episódio chamou uma atenção nacional nada bem-vinda para a univer-sidade. Antes conhecida como uma escola estadual grande e di-versa, Rutgers passou a ser asso-ciada à homofobia e à crueldade.

Mas, hoje, estudantes LGBT e aqueles que os apoiam podem escolher quatro opções de mo-radia especializada, três delas novas, que as une com colegas de quarto de mentalidade seme-lhante.

Eles agora podem contar com o apoio dos 130 funcionários e membros do corpo docente que foram treinados através de conta-tos oficiais do campus ou com os estudantes de um novo programa de treinamento para aliados, cuja sessão inaugural esteve com lo-tação máxima. A edição daquele ano de um manual que listou os recursos do campus para ques-tões homossexuais tem 92 pági-nas.

E, recentemente, a Campus Pride (orgulho do campus), uma organização que avalia as escolas com base em suas políticas inclu-sivas, deu ao campus principal da Rutgers, em New Brunswick, a cotação máxima, cinco estrelas. Dentre as 32 categorias possíveis, nas quais uma escola pode se distinguir, a Rutgers teve sucesso em 31 da relação.

A Rutgers tem uma longa his-tória de inclusão; quando a Liga Homofila de Rutgers foi fundada em 1969, por exemplo, ela era apenas o segundo grupo estudan-til do gênero no país. Mas desde

a morte do calouro em 22 de se-tembro de 2010, a universidade tem aumentado seus esforços, estimulada por uma comunida-de que se expressa intensamente no campus, uma administradora cheia de energia e uma necessi-dade urgente de controle de da-nos.

Até alguns dos estudantes fica-ram surpresos pela força da polí-tica de inclusão da Rutgers.

No centro de toda essa ati-vidade está a coordenadora do Centro para Educação de Justi-ça Social e Comunidades GLS da Rutgers. Disse que uma das maiores prioridades de seu tra-balho era criar aliados - pessoas cujas identidades não correspon-dem às iniciais em seu portfólio, mas que se consideram amigas da causa ou causas, e querem sa-ber mais sobre como ajudar.

Além dos próprios estudantes gays, transgêneros e do círculo concêntrico daqueles que se po-sicionam ativamente como alia-dos, não se sabe até onde a men-sagem do centro se espalhou. A coordenadora disse que ainda não encontrou nenhuma pessoa que não desse apoio. Mas Rut-gers é, afinal, uma universidade de 59 mil alunos espalhados por vários campi.

Nesse breve espaço de tem-po, ser um estudante universitá-rio gay passou a significar algo leve e notadamente diferente do que quando o calouro chegou ao campus.

O resultado é uma universi-dade onde, segundo alguns es-tudantes, a presença altamente visível de estudantes LGBT se tor-nou uma parte básica e comum da vida no campus.

O bullying não está só na es-cola, a prática pedagógica bra-sileira ainda reflete autoritarismo, configurando o que chama de bullying pedagógico. A escola re-produz as relações de um siste-ma social vertical, que não con-diz com a democracia.

Essa questão precisa ser regu-lamentada. O problema é que tudo, não regulamentado, não vale - a ética confunde-se com a

lei. É ético o que está na legisla-ção, o que não está pode ser fei-to. Só que a ética está nas ações humanas. Não deveríamos preci-sar esperar um código penal para punir determinadas coisas, as ins-tituições, assim como a Universi-dade Rutgers, podem ao menos adotar uma cartilha e colocar em prática.

O programa CVV não esta distante destas situações que aparecem diariamente nas redes sociais. Devemos estar prontos para ouvir as crianças, jovens e adultos que no passado foram discriminados.

Helio | Ribeirão Preto - SP

Bullying na escola

de olho na notícia

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Na trama dos modelos iden-tificatórios em jogo, na escolha e permanência na atividade vo-luntária do CVV, é fundamental destacar o fato de existir uma modalidade de identificação que está presente no contexto das co-munidades afetivas. Nesse caso, a identificação, “pode surgir com qualquer nova percepção de uma qualidade comum partilha-da com outra pessoa que não é objeto do instinto sexual. Quanto mais importante essa qualidade comum é, mais bem sucedida se torna essa identificação parcial, podendo representar assim o início de um novo laço”. O laço mútuo existente entre os mem-bros de um grupo envolve uma identificação desse tipo, a qual tem como base uma importan-te qualidade emocional comum vinculada à natureza do laço

com o líder.Do próprio grupo do CVV

também. É muito legal o con-vívio que a gente tem, eu acho muito gostoso. Então a gente se envolve e eu acho que isso me faz bem.

“A experiência é muito inte-ressante pela organização que existe, a disciplina, os horários, o companheirismo, o envolvimento de todos... Essa amizade, esse ca-lor humano que você sente. As pessoas se abraçam, conversam, sorriem e, querendo ou não, é uma oportunidade de você falar de você, principalmente no gru-po, que existe o momento do exercício de vida plena. Quando eu entrei aqui, eu praticamente não falava de mim”.

“O CVV é muito respeitoso, é muito amoroso. O grupo é sin-cero... E tem mais, se alguém me

perguntar como é que eu estou é porque queria realmente saber como é que eu estou... Aqui, eu tenho espaço, aqui as pessoas me escutam, eu sou respeitada”.

Sendo essa a forma de identi-ficação que liga os membros de uma coletividade, profundamen-te vinculada à figura do condutor do grupo. Esse tipo de vínculo constitui-se pela instalação do lí-der na posição de ideal do “eu” por parte de cada um dos partici-pantes do grupo. No lugar de lí-der está, certamente, o CVV com sua filosofia e atuação.

Perfil Sociodemográfico e Psicológico dos Voluntários dos Postos CVVResenha da dissertação de mestradoCarolina Neumann de Barros Falcão DockhornPUC / RS

O voluntário e a identificação com a comunidade afetiva do CVV

de olho na notícia nossas comissões

A Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) organizou o IV Seminário UERJ pela vida para lembrar o dia internacio-nal de prevenção do suicídio nos dias 10 e 11 de setembro de 2012. Duas datas emblemáticas em relação à preservação e valo-rização da vida, já que no dia 10 de setembro se comemora o dia da prevenção e, no dia seguinte, está ainda na lembrança, o trá-gico atentado às torres gêmeas nos EUA - fato que completou 11 anos, o qual ceifou milhares de vidas, chocando a humanidade inteira.

O seminário foi aberto com a apresentação de um belo co-ral da própria universidade e os trabalhos das oficinas e debates

contaram com a participação de doutores da área da saúde, tais como professores, psicólogos, psiquiatras, pesquisadores e inte-ressados no assunto do suicídio.

O CVV através dos postos do Rio de Janeiro (Centro, Copacaba-na, Maracanã e Niterói) também colaborou. Tivemos a oportuni-dade de participar dos debates e divulgar o nosso trabalho com palestras, exibição dos nossos vídeos institucionais (Conheça o Programa CVV em dois minutos e Multidão), além do lançamento do livro CVV, Como vai você - CVV, 50 anos ouvindo pessoas. Houve várias oficinas e coube ao CVV, além de divulgar o trabalho em si, a divulgação também dos trabalhos realizados extraposto

como o Cine Ser organizado pe-las Comissões de Ações Comu-nitárias. Foi apresentado nesta ocasião, o filme Lembranças e, logo depois, aberto para comen-tários e debates.

Outro ponto importante a destacar no evento foi podermos também divulgar para a comuni-dade universitária a disponibilida-de do nosso serviço pela web.

No final, o público presente ao seminário teve o privilégio de assistir a uma bela peça teatral in-titulada Queda Livre, cujo tema central remete ao propósito da existência do CVV.

Regional Rio - Vitória

Dia Internacional de Prevenção do Suicídio

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Empresas e produtos precisam de uma personalidade própria para ser identificados e diferen-ciados dos demais, seja no meio empresarial, seja no terceiro se-tor. A pesquisa de posicionamen-to de uma marca no mercado é uma prática adotada por várias empresas e instituições, que que-rem saber como o mercado a en-xerga e que espaço ocupam nele.

Para os especialistas, em co-municação, o posicionamento de uma marca no mercado pode ser traduzido como o compromisso que uma empresa ou organiza-ção assume consigo mesma e com todo o seu público.

Este compromisso é como um documento que ajuda a identifi-car os objetivos fundamentais de comunicação deste órgão, por-que define as impressões que se deseja construir para todo tipo de público quando estiver em conta-to com esta marca.

Além disso, o posicionamento determina como a marca quer ser percebida e associada pelo público, e oferece diretrizes para os trabalhos de criação (design e propaganda), permitindo que a criatividade se alie a fatores estra-tégicos, como o que devemos e o que não devemos associar a uma

marca, por exemplo. Na época das comemorações dos 40 anos do Centro de Valorização da Vida (C.V.V.), quando foram defi-nidos Missão, Visão e Valores do Programa CVV, o Grupo Execu-tivo Nacional (GEN) iniciou uma das etapas de trabalho com o planejamento e a Comissão Na-cional de Divulgação (CND) teve a oportunidade de trabalhar com a empresa Fundamento Comuni-cação Empresarial (http://www.fundamento.com.br) - especialis-ta em comunicação corporativa, que abastecida de nosso material auxiliou na composição do posi-cionamento da marca CVV e pla-nejamento da CND.

Esse estudo que gerou o po-sicionamento da marca CVV consta na íntegra do Manual de Divulgação, versão 2007, abas-tecendo, orientando a equipe de divulgação e todos os parceiros especialistas que temos até hoje, oferecendo-lhes recursos e dire-trizes para que a divulgação do CVV caminhe na mesma direção.

Deste estudo definiu-se a ca-tegoria a qual a marca CVV per-tence, um grupo de voluntários preparados que oferece apoio emocional gratuito.

Delineou-se também o públi-

co-alvo: “pessoas, em geral, sem distinção de idade, sexo, religião, classe social e formação cultural. Prioridade atual no público jo-vem - 15 a 25 anos -, de ambos os sexos, de todas as classes so-ciais e culturais”.

Recursos exclusivos que só o CVV tem: ser alguém com quem se pode falar franca e abertamen-te, sem medos ou receios (aberto a todos, sem preconceitos, com absoluto sigilo e ininterruptamen-te).

Com estas e outras informa-ções iniciou-se a criação da per-sonalidade CVV, que passa a ser a identidade de sua marca, suas características que, com o tem-po, falará por si só o que o CVV faz assim que for visualizada.

Esse processo foi iniciado e não terá fim, pois a marca CVV nestes 50 anos já é consolidada na sociedade, mas precisa sem-pre de atualizar-se e de estar pre-sente na lembrança da popula-ção para que possa ser utilizada sempre que necessário.

Comissão Nacional de divulgaçã[email protected]

nossas comissões nossas comissões

Posicionamento da marca CVV

A Conferencia das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio + 20, realiza-da de 13 a 22 de junho de 2012, na cidade do Rio de Janeiro (RJ), é conhecida por voltar-se para a temática do meio ambiente e Desenvolvimento (ECO-92) e contribuiu para definir a agenda do desenvolvimento sustentável para as próximas décadas.

O objetivo do encontro foi assegurar a renovação de um comprometimento político com o desenvolvimento sustentável, avaliar o progresso feito até o momento e as lacunas que ainda existem na implantação dos re-sultados dos principais encontros sobre desenvolvimento susten-tável, além de abordar os novos desafios que surgem no dia a dia.

Os dois temas em foco na Conferencia foram A e Economia Verde no Contexto do Desenvol-vimento Sustentável e da Erradi-cação da Pobreza e o Quadro Institucional para o Desenvolvi-mento Sustentável.

Em 15 de junho a Regional Rio-Vitória dos postos CVV par-ticipou do evento paralelo a Rio + 20: a Cúpula dos Povos - Re-ligiões por Direitos - evento or-ganizado pela Sociedade Civil quando 120 tendas foram monta-das no Aterro do Flamengo para discutir os mais variados assuntos relacionados à sustentabilidade do planeta.

A atividade teve como respon-sável e mediador o Conselho Es-pírita do Estado do Rio de Janeiro (CEERJ), em parceria com a Reli-gião de Deus, os Wicca - religião neopagã influenciada por cren-ças pré-cristãs e como religião natural, os Malês - termo usado no Brasil, no século XIX, para designar os negros muçulmanos que sabiam ler e escrever em lín-gua árabe -, o Movimento Hare Krishna e o Programa CVV.

Tendo por foco a preservação da vida: o valor da transcendên-cia na prevenção do suicídio, entendendo-se como transcen-dente, não apenas o aspecto es-piritual, mas também as ações que transcendem as atuações

profissionais (médica e psicológi-ca) no atendimento à pessoa com ideação suicida.

O mediador do CEERJ infor-mou: “A Organização Mundial da Saúde (OMS) nos informa que as taxas de suicídio na sociedade destacam o desafio da preven-ção, como um problema a ser enfrentado pelas nações de forma urgente. Com 1 milhão de suicí-dios / ano, o mundo não pode se furtar de levar a discussão da Prevenção do Suicídio a todos os fóruns sociais para um envol-vimento cada vez maior, mais consciente de todas as frentes da sociedade, a fim de que venha-mos a trabalhar conjuntamente para ver debelada esta pandemia que se caracteriza, efetivamente, como uma ameaça ao bem-estar social. A valorização da vida na prevenção do suicídio foi o nosso foco naquela manhã, quando ou-vimos, que os parceiros presen-tes, viram ser possível a contri-buição de sua tradição religiosa, assim como o CVV, no acolhi-mento, tanto à pessoa com idea-ção suicida, quanto aos familiares e pessoas próximas de um suici-da, que após o ato passam a ter suas vidas desestruturadas diante dessa vivência que se apresenta como traumática...”

Assim deu-se por iniciada a discussão que fluiu com tranquili-dade a qual o CVV se posicionou serenamente apresentando o tra-balho de ações na prevenção do suicídio através da valorização da vida, há mais de 50 anos se preo-cupando com os sentimentos das pessoas do nosso País e a mais de uma década, pelas redes so-ciais, para todos os que habitam nesse planeta.

Apresentamos dados estatís-ticos obtidos no Mapa da Vio-lência / 2011 (http://www.ma-padaviolencia.org.br/pdf2011/MapaViolencia2011.pdf), onde registra que em 2008 foram con-tabilizados nacionalmente 9328 suicídios. Isso significa uma mé-dia de 25,5 suicídios / dia ou um suicídio a cada 56 minutos. Sabe-se ainda que este número é muito maior por falta de divul-

gação das famílias. E acredita-se que, para cada suicídio levado a termo, há de 10 a 20 tentativas frustradas.

A participação do CVV foi su-cinta e apresentou as situações que podem levar as pessoas a pensamentos de morte e desen-cadear tentativas ou execução de autoextermínio, divulgadas pela assessoria de Imprensa da Asso-ciação Brasileira de Psiquiatria (ABP) sobre o comportamento suicida: a cada 35 segundos uma pessoa morre por ato suicida no mundo; no Brasil, 24 pessoas morrem diariamente (ou uma a cada hora) por suicídio.

O dia chegou ao término e percebeu-se o momento mági-co da parceria entre pessoas de todas as raças, etnias, lugares, tribos e religiões através do pro-vérbio africano para a sustenta-bilidade das nossas ações: “Se quiser ir rápido, vá sozinho, se quiser ir longe, vá em grupo”.

Zenaide I Volta Redonda - RJ

Rio + 20

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Missão: Valorizar a vida, contribuindo para que as pessoas tenham uma vida plena e, consequentemente, prevenindo o suicídio.Visão: Uma sociedade compreensiva, fraterna e solidária. (As pessoas Vivendo Plenamente, tendo o CVV contribuído para isso)Valores: Confiança na Tendência Construtiva da Natureza Humana. Trabalho Voluntário motivado pelo espírito samaritano, de acordo com a proposta de vida. Direção Centrada no Grupo / Aperfeiçoamento Contínuo / Comprometimento e Disciplina.

Nunca se falou tanto em valo-rização da vida e prevenção do suicídio. O Distrito Federal (DF), por meio da diretoria de Saúde Mental (DISAM/SAS/SES-DF) e de sua coordenação de preven-ção do suicídio, organizou uma série de atividades dedicadas ao tema da Prevenção do ato suicida e Valorização da Vida.

A abertura dos eventos foi marcada pelo lançamento da Po-lítica Distrital de Prevenção do Suicídio, com atividades distribu-ídas entre as diversas instituições parceiras nos meses de setembro e outubro de 2012.

O evento contou com a par-ticipação do Posto Brasília na I Jornada de Prevenção do Sui-cídio do Distrito Federal, ocor-rida de 10 a 20 de setembro de 2012. A programação foi vasta. Incluiu conferências, palestras, workshops, apresentação de fil-me e divulgação do trabalho do Programa CVV. O professor Otá-vio Leite, do Centro Universitário de Brasília (UniCEUB), destacou o trabalho do CVV como enti-dade atuante e com resultados positivos expressivos. Ele ainda lembrou sua experiência pesso-al, como ex-membro, ressaltando aspectos da psicologia humanista e do trabalho do psicólogo Carl R. Rogers como base para o aten-dimento oferecido.

Na primeira semana de outu-bro, o Posto Brasília promoveu

a III Semana de Valorização da Vida (SVV). No mesmo perío-do foi comemorada a I Semana Distrital de Prevenção do Suicí-dio (Lei 4.842 de 25 de maio de 2012), com o objetivo de chamar a atenção quanto à importância da preservação da vida e com-preensão do suicídio. Foram 7 dias de atividades, 36 horas de programação, quando foram dis-tribuídos 1179 folders e panfletos, 777 balinhas e pirulitos com a marca Como Vai Você? e 144 co-pos d’água. Foram atendidas 13 pessoas que procuraram apoio emocional e 4 inscrições de can-didatos para o próximo Programa de Seleção de Voluntários (PSV). Durante 2 dias foram ofereci-das palestras para atendentes do “Disque 100” sobre Abordagem Centrada na Pessoa (ACP), alem de camisetas vendidas aos volun-tários.

O sucesso da atividade está diretamente relacionado à parti-cipação das instituições parcei-ras, como as de ensino superior, e as demais entidades públicas e privadas de saúde e áreas afins interessadas em contribuir com a prevenção do suicídio no DF. O Centro de Valorização da Vida (C.V.V.), Posto Brasília, foi parcei-ro nesta jornada. A compreensão é que o CVV é um parceiro na-tural e muito importante na valo-rização da vida e prevenção do suicídio no Brasil e no DF. Dessa

forma, um dos objetivos foi es-treitar os laços para apoio mútuo nessa empreitada.

No encerramento, a psicó-loga e coordenadora do fórum, Beatriz Montenegro, agradeceu a presença de todos no evento. Ela ressaltou o valor do nosso tra-balho, tanto na prevenção direta do suicídio, por meio dos apoios, como pela divulgação e pela for-mação de pessoas orientadas em oferecer ajuda genuína, por meio da habilidade de ouvir e do pró-prio treinamento para ingressar na entidade.

Para o CVV Comunidade de Brasília, essa série de eventos foi bastante positiva, na medida em que é uma oportunidade de mos-trar o trabalho desenvolvido pela entidade a diferentes tipos de público, de várias regiões do DF. Sem contar que temas relativos à preservação e à compreensão do suicídio foram discutidos de maneira mais intensa e ganharam atenção da mídia, de forma geral. Mostram, também, que é notória a necessidade de uma sociedade compreensiva, fraterna e solidá-ria.

Gilson I Brasília – DF

CVV Comunidade aproxima e informa sobre suicídio no Distrito Federal

Manter o sigilo no CVV signifi-ca respeitar os princípios de uma instituição séria que, a cada liga-ção recebida, sabe que há do ou-tro lado da linha alguém confian-te no apoio ofertado por quem o

ouvirá.A ética nos ensina: não po-

demos, nem devemos, motiva-dos por qualquer circunstância, quebrar o sigilo, macular o nome do CVV, nem mesmo quando

por alguma razão, não mais es-tivermos integrando o quadro de plantonistas.

Bartyra l Recife - PE

51º Preceito: O sigilo é a base do trabalho

espírito samaritano: ontem, hoje, amanhã

nossas comissões

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