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Irmãzinhas de Jesus Contemplativas neste mundo que Deus ama.

201420142014

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Edição especial do jubileu

Boletim de notícia

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Índice

Introdução 01Irmãzinha Madalena 02Acabo de comprometer-me para sempre na Fraternidade 05Sempre com ternura 09A UNIDADE no AMOR ...um desafio! 11Irmãzinha Madalena mudou meu olhar! 13Jesus, único modelo. 15Seguir Jesus... 17As intuições do Irmão Carlos e as palavras de Francisco. 20Do México a Camarões 23Comunidade Maloca 26A mudança climática, as comunidades do Peru e a COP 20 29Primeiro o meu 31Presença cotidiana, Boa Nova para os dias de hoje. 33Por uma cultura de paz 37Aproximando-nos dos migrantes. Lampeduza. Itália. 42Testamento de Irmãzinha Madalena:BOLETIM VERDEE 48Terceira semana de Nazaré da juventude 56

Contatos por país.:

Chile: Hta. Donata de Jesús: [email protected]

Perú: Hta. Maria Asunta de Jesús: chonta49 @hotmail.com

Brasil: Hta. Cema de Jesús: [email protected]

Argentina: Hta. Carmen Alicia de Jesús: calim_hj @yahoo.com.ar

Uruguay: Hta.Maria José de Jesús: mariajosechuy @gmail.com.ar

Paraguay: Htas. de Jesús: hermanitasyvapovo @yahoo.com.ar

Mexico y Cuba: Hta. Paola Maria de Jesús: olivieri_paola @yahoo.com.mx

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Queridos amigos e amigas,Irmãzinha Maria Chiara, nossa Responsável Geral, nos escreveu à pouco,

dizendo-nos:”Este anos celebramos os 75 anos da fundação da fraternidade (1) e fazemos memória dos 25 anos da Páscoa de Irmãzinha Madalena (2). Nestas datas importantes para a vida e a história da fraternidade animamos sua criatividade.... e as convidamos a compartilhar a transmitir nosso carisma....”

Na América Latina estamos respondendo a este convite com vários eventos, diversificados segundo os países e as possibilidades...

Através deste boletim propomos a vocês, redescobrir conosco Irmãzinha Madalena.

Algumas irmãzinhas aceitaram dar seu testemunho. Trata-se de irmãzinhas que a conheceram bem por terem vivido lado a lado com ela por vários anos... Outras, as mais jovens, a conheceram depois de sua morte através de seus escritos. Sentiram-se atraídas pela sua mensagem e proposta ao seguimento de Jesus de Nazaré: contemplativas no coração do mundo dos pobres.

Compartilharemos então alguns testemunhos das irmãzinhas através do mundo; outros que falam de nossa vida nos vários países de nosso continente e das “periferias existenciais” do mundo de hoje, para terminar com um texto “fundador” escrito por Irmãzinha Madalena no ano de 1945: “o Boletim Verde”. Alguns fragmentos deste texto permitirão ainda hoje, sentir o “sopro de Espírito” que acompanhou durante toda sua vida e continua acompanhando e cativando-nos hoje.

Entrar nas diferentes realidades periféricas onde estamos com amor humilde, com criatividade, realidades muitas vezes dolorosas, não é algo espontâneo... mas é aí que Ele nos chama e aí encontramos o maná que nos alimenta cada dia.

Eis aí o lugar de nossa contemplação e de nossa missão, chamadas a ser presença pequena e gratuita onde aprendemos a reconhecer no cotidiano o Rosto de Deus desfigurado e transfigurado neles e em nós pelo pecado e pelo Amor. Deixar que o Senhor nos abra à esta perspectiva do mistério de Deus e do mistério do homem em sua união com Deus na percepção de um pobre e de um pequeno.

Irmãzinha Donata de Jesús(8 de setembro de 1939) / (2)(6 de novembro de 1989)

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Introdução

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O que posso falar de Irmãzinha Madalena se não a conheci e sou das últimas a entrar na Fraternidade? Não a conheci e ao mesmo tempo a conheço.....a cada dia, pouco a pouco vou conhecendo-a mais... não sei nada, mas meu coração sente assim... não vivi antes, vivo agora.... e como tudo muda, sua presença entre nós também, e posso confirmar que ela está muito presente, muito presente no cotidiano do meu dia a dia, na minha vida... quanto mais a quero bem mais vou aprendendo dela a ser a irmãzinha que Jesus quer que eu seja.

Meu primeiro encontro com ela aconteceu quando caiu em minhas mãos o Boletim Verde, o abri e li. Falou-me tão diretamente! Quem era aquela mulher que sabia tão bem o que eu sentia forte dentro de mim e o que me fazia vibrar? A partir daí comecei a fazer o que ela tanto dizia e acreditava: com os olhos fixos em Jesus, ser humana antes de tudo, ir além das fronteiras derrubando muros...viver e compartilhar a vida, minha vida. Sim, vivo, compartilho... e ela está bem presente quando canto e toco a mensagem de Natal... com ela descubro tudo o que contem, significa e supõe essa mensagem de Belém para mim, para nós e para os que nos escutam...Com ela danço ao ritmo do Espírito para viver com garbo os

acontecimentos de cada dia... Com ela sonho que tombem os muros que nos impedem e bloqueiam a unidade e a comunicação.... A descubro rezando por todos: pelos poderosos e os fracos, os que sofrem e os que fazem sofrer, os ricos e os pobres... e assim também o faço...Ela me acompanha aos confins da terra que é a esquina da rua onde me sento no chão com nossos amigos mendigos com os quais ninguém quer estar... ou quando vivo nesse bairro que ninguém escolhe para viver... Ela via na frente quando com minhas irmãzinhas avançamos mais longe e até o fim para seguir Jesus... Com ela me descubro quando o trabalho no artesanato se transforme em oração e através desse Menino Jesus passa toda uma mensagem, passa a vida e o coração... Ela está presente mostrando-me seu amor aos pequenos quando desejo encontrar trabalho lavando pratos nos restaurantes para partilhar lado a lado essas condições de trabalho tão injustas que vive nossa sociedade... ou quando corro pelo parque com nossos vizinhos deixando que o silêncio e o suor nos vá tornando mais humanos, solidários e comprometidos... Com ela aprendo a perceber e a sentir como Jesus me leva da oração e da contemplação à vida, e da vida à oração e contemplação e aos pouco tudo vai se unificando... e também com ela escuto as melodias que soam e brotam dos corações de nossos amigos que estão nas prisões... e sofro com nossas irmãzinhas que não estão bem... e assim aumenta também minha fé em Jesus pequenino e o desejo de ser pequena.... Com ela posso manter a fé, a esperança e o amor quando choro com nossos irmãos que choram por tanta dor, tanto sofrimento... Também ela me disse, Paloma, respira essa amizade tecida com paciência e constância na base de pequenos gestos... E é ela que me convida e anima a rir e sorrir a todos porque Jesus me dá uma alegria que ninguém me pode tirar e nosso mundo tem tanta necessidade de um sorriso....

Irmãzinha Madalena me ensina e acompanha com suas cartas, com as constituições...e tudo isso me leva ao essencial: Jesus... e assim concretamente aprendo dela e com ela a querer bem as minhas irmãs, a Fraternidade, a Igreja... e sentir-me membro, fazendo parte de...

Só posso dar GRAÇAS a Deus pela vida de irmãzinha Madalena, por tudo o que ela foi e continua sendo como pessoa, por tudo que viveu e pelo que nos transmitiu e continua transmitindo hoje... Graças também pela Fraternidade... e pelo que nos possibilita viver...Confio-me também à Irmãzinha Madalena para que me ajude a continuar caminhando pelos caminhos que ela caminhou para amar cada

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IRMÃZINHA MADALENA

Não conheci Irmãzinha Madalena- Irmãzinha Paloma.

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vez mais Jesus e viver o Evangelho... caminhos de amizade, de entrega, de unidade, de universalidade, de pequenez, de simplicidade, de fraternidade, de desafios e riquezas, de confiança, de respeito, de oração, de contemplação.. de Amor...

Agora que escrevi, digo: sim, esta é Irmãzinha Madalena e vou tomando mais consciência de como ela é importante para mim, o que isso supõe e significa em minha vida, a influência que tem em mim, o quanto ela está presente em minha vida... e que também desejo, profundamente que Jesus seja cada vez mais a paixão do meu coração... desejo também profundamente aprender de cor o Evangelho e vivê-lo!... creio também, como ela, que Jesus é o Mestre e Senhor do impossível!... e que tudo se concretiza na Fraternidade, arriscando, confiando e vivendo como Irmãzinha Madalena, mulher de FÉ, oferecendo ESPERANÇA e derramando TERNURA, e com um desejo profundo de ser fiel ao Evangelho e ao Carisma da Fraternidade. OBRIGADA!

Irmãzinha Paloma de Jesús

O ano comum é um tempo de formação internacional para as irmãzinhas próximas a fazerem o seu compromisso definitivo com os votos perpétuos. Neste ano de 2014, nos encontramos de oito países diferentes: Anna Quy do Vietnam, Elzbieta Victoria de Polônia, Beatrice e Goretti do Congo Kinshasa, Roula do Líbano, Teresa Malak do Egito, Eugeniya, nossa acompanhante de Ruanda, e eu, Flor, francesa com a nossa querida América Latina no coração.

O nosso primeiro desafio é de chegar a compreender-nos. Comunicamo-nos em francês e apesar de cada uma se expressar bem, quantas vezes as palavras têm outro sentido, outra nuance! Simples costumes da vida cotidiana tem um valor para uma que não tem para outra. Isso tudo me convida a lembrar cada vez que minha maneira de fazer, de expressar-me é uma entre tantas outras, e que não posso saber o que leva a minha irmãzinha a agir assim.

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Acabo de comprometer-me para sempre na Fraternidade

Irmãzinha Flor, francesa. Viveu vários anos no Peru e na Fraternidade do Chile.

Fez recentemente votos perpétuos.

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Tivemos já várias sessões: sobre a comunicação, sobre o Irmão Carlos, sobre Irmãzinha Madalena, o Islã, as Igrejas orientais e a mundialização. Passamos uma semana em Taizé e outra em Lourdes. Além das sessões, a vida diária se reparte entre um pouco de trabalho em casa ou nos campos do Tubet, cozinha e serviços e as nossas reuniões, leitura, trabalhos de grupo, visitas as fraternidades perto.

Então partilharei com vocês algumas coisas que me tocaram de uma maneira especial.

Escutamos a Roula e Teresa e depois descobrimos com Hala, a vivência das Igrejas orientais como minorias cristãs em países de Islã. Na Síria, Irak, Magreb, Líbano, Egito... as irmãzinhas vivem de alguma maneira dependendo dos seus irmãos muçulmanos. Quando as posições islamitas se endurecem, quando o diálogo com palavras já não é possível com algumas pessoas, as irmãzinhas procuram encontrar o olhar dos seus irmãos em humanidade. Então me parece que as suas vidas tomam uma grande profundidade: a insegurança provocada pela guerra ou a violência fazem lembrar, dia a dia, que podes morrer hoje, que o importante é entregar-se hoje...que se devemos fazer projetos, estes podem ser trocados... profundidade de seu amor quando tentam seguir amando sempre, mesmo quando teus vizinhos podem não te respeitar, não te deixar a liberdade de viver a tua fé. Aquilo que chamamos fé, amor a Deus e ao próximo em nossos contextos: não fica pequeno frente ao que vivem estas pequenas Igrejas tão pouco conhecidas?

A sessão que irmãzinha Annie nos deu sobre o começo da Fraternidade tomou para mim um sentido especial porque não foi tanto um conhecimento (que podemos encontrar nos livros), mas contemplar o que Deus fez através das primeiras irmãzinhas e o que fez nelas. O Tubet, onde vivemos, é a casa mãe porque aqui começaram muitas irmãzinhas para aqui regressaram várias das primeiras. Fomos escutá-las.

Elas confiaram plenamente na irmãzinha Madalena como sendo a pessoa que saberia realizar o ideal que as tinha atraído. Então se deixaram enviar em qualquer lugar, nas situações mais diversas, precárias e inéditas possíveis... assim essas mulheres foram forjadas, tão humanas, num contato bem estreito com tantas

pessoas desconhecidas e marginalizadas pelo mundo. Disponibilidade sem “porquê”, que como elas mesmas dizem, foi uma das chaves das suas vidas. Confiança imensa da irmãzinha Madalena nelas, sem olhar sua pouca idade,, e sua pouca experiência da vida. Confiança nelas e confiança também muito grande nestes grupos humanos nos quais as deixava. Confiança em Deus que as guiava, que deixa sempre algo da sua bondade em cada pessoa.

Perguntamos: Foi graça da fundação ou é a graça da Fraternidade? Nos responderam: “as duas coisas”. Então, vamos ser também nós essas mulheres de fé que se deixam guiar com toda confiança, que vão saber se entregar como “criança” nas mãos de quem as queiram pegar no colo? Seremos também suficientemente transparentes para partilhar alegrias, dificuldades, aspirações, perguntas com as nossas irmãzinhas e aquelas que cuidam de nós e as orientações da fraternidade hoje?

Deu-me muita alegria perceber quanto o contato com as pessoas mais marginalizadas e desprezadas, feridas pela vida e a maldade, pode desenvolver nestas irmãzinhas uma qualidade de amor mais delicado e respeitoso, fazê-las disponíveis as necessidades do outro. A impossibilidade de dar soluções para as situações tão difíceis dos “amigos” as ajudou a desenvolver uma oração mais gratuita, sem esperar nada a não ser entregar-se de todo coração. Uma esperança cheia de fé, perseverante, resistente como essas plantas que crescem em climas adversos. Essa capacidade de ser sempre mais a gente mesmo, humanas, accessíveis á aqueles que precisam de um olhar respeitoso que não põe condições. Depois, ao passar o tempo, diminuem as forças e se fazem mais pobres ainda, mais dependentes, mais próximas para a entrega última da vida, com um pouco de medo do desconhecido. ... mas quantas histórias, quantos rostos no coração! Podemos passar ao lado dessas irmãzinhas sem imaginar o que guardam dentro delas.

Agora, nos preparamos para deixar o Tubet para ir a Tre Fontane, e deixar todas essas nossas irmãzinhas sem saber se as veremos de novo. Neste começo de Semana Santa é como se eu escutasse de novo o chamado de Jesus no Lava-pés: “ Fiz isso para que também vocês façam o mesmo..”

Irmãzinha Flor de Jesús

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Irmãzinha Madalena de Jesus a quem as irmãzinhas ruandesas chamavam carinhosamente de “Muhoranampuhwe”, que significa sempre com ternura!

Em 1973, meu país, o Ruanda viveu um momento de grande perturbação e precisei deixar o país para me refugiar noutro lugar. Foi assim que cheguei na Itália, precisamente em Tre Fontane, na Fraternidade Geral.

Um golpe de estado militar acabou com os massacres e parecendo que a situação se acalmara, retomei a esperança de voltar quando me foi pedido para ficar e trabalhar no Conselho Geral. Na verdade eu não me via projetada assim num grupo que funcionava há quatro anos juntas, sobretudo porque só pensava em retornar ao meu país. Foi nesse contexto que conheci de mais perto irmãzinha Madalena, que vivi perto dela, que pude apreciá-la e principalmente a quem muito amei. Diante da minha resistência ela foi muito firme. Eu não compreendia porque ela não me compreendia! Só muito mais tarde realizei a razão de sua atitude e ainda hoje, depois de tantos anos eu conservo no meu coração uma profunda gratidão.

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Sempre com ternura

Irmãzinha Teya, ruandesa, dá seu testemunho. Durante 6 anos foi assistente geral,

o que lhe deu ocasião de conhecer bem Irmãzinha Madalena.

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Tive a graça de viver com ela oito anos seguidos, próxima, colaborando com ela no cotidiano e é com um grande reconhecimento no coração a esse respeito que escrevo estas linhas. Eu me sinto devedora, pois carrego a convicção de que tendo vivido a seu lado foi para mim uma grande escola de vida e também em muitos outros domínios.

Eu tinha o sentimento de viver com uma pessoa profundamente religiosa, quero dizer vivendo sob o olhar quase permanente de um Deus que nos ama e que espera de nós uma resposta a este amor gratuito. Uma lembrança me volta sempre. Em um de seus aniversários, perguntamos-lhe o que ela gostaria como presente. Respondeu: “Que hoje não se fale mal de ninguém nesta casa!” Ficamos espantadas porque éramos umas 200 pessoas. Vejo ainda sua aflição porque isso parecia impossível! Penso muitas vezes nisso quando uma conversa fica animada a respeito de uma pessoa e não para falar bem dela.

Sua grande humanidade sempre me impressionou muito. De fato, ela escreveu no Boletim Verde, o texto que chamou de seu testamento: ”Sejam humanas antes de serem religiosas”. Isso era verdadeiro em sua vida diária e foi na banalidade das realidades comuns que descobri sua grandeza de alma, seu grande respeito por cada pessoa, sua disponibilidade para receber pessoas querendo vê-la, sua capacidade de escuta e de atenção a cada uma e sentia-se que ela a envolvia na sua ternura.

Irmãzinha Madalena era firme, clara e decisiva. Era exigente quando se tratava de algo importante. Mas, é preciso dizer, finalmente tudo era importante porque não negligenciava de nada que concernia a cada pessoa.

Eu ficava admirada ao constatar o que baseava sua apreciação: a tudo aquilo que fosse simples, tudo aquilo que não sobressaía, o que era discreto, as pessoas não consideradas pela sociedade. Isso não era piedade, mas uma atitude dirigida a uma dignidade desconhecida.

Agradeço imensamente por tudo o que recebi a seu lado como valor da vida religiosa tendo como modelo a Santa Família de Nazaré com tudo o que isso comporta de vida comum e de vida contemplativa.

Quando escolhi a fraternidade, foi Jesus de Nazaré que me atraiu e desejei partilhar a vida das pessoas comuns, especialmente daqueles que são desprezados ou marginalizados.

Em Nazaré, Jesus estava mergulhado na vida de seu povoado, aprendendo com aqueles que o cercavam e sendo verdadeiramente um deles. Ao mesmo tempo, ele era profundamente UM com seu Pai do Céu e em grande intimidade de amor com Ele.

Lendo o “Boletim Verde”, eis os aspectos que me impressionaram: como Jesus, viver uma vida de simplicidade, de amor e de unidade. Era um apelo a viver no meio das pessoas permanecendo profundamente enraizada em Jesus.

Quando encontrei Irmãzinha Madalena pela primeira vez, fiquei impressionada pelo seu olhar que parecia penetrar meu coração, um olhar de amor e de compaixão sem limites. Seu amor pelos pobres e todos aqueles rejeitados pela sociedade era muito grande.

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A UNIDADE no AMOR ...um desafio!

Irmãzinha Sosamma-Gracy é indiana. Entrou na Fraternidade em 1967, chega em Tre Fontane em 1970 onde fez sua primeira profissão.

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Quando ela falava das Igrejas Orientais, era sempre com um grande respeito e amor. Ela tinha a paixão pela unidade. Seu coração queimava de amor. Ela não podia suportar alguém falar dos outros sem respeito e amor. Sua fé em Deus era tão profunda que nada era capaz de pará-la quando se tratava de viver o Evangelho.

Não é fácil dizer em poucas palavras o que recebi de Irmãzinha Madalena. Ela estava cheia do Espírito de Deus para viver a unidade no amor em todas as circunstâncias e desejava tanto que nós vivêssemos isso também, este Mandamento de Jesus: “Amai-vos umas às outras como eu vos amei”.

É muito importante viver tudo isso em seu próprio país... Como vocês sabem, na Índia há uma grande variedade de línguas, de culturas e entre os católicos, três ritos: siro-malabar, siro-malankar e latino. É um desafio especial viver esta unidade no amor em cada situação concreta no mundo de hoje. É um apelo a viver o Evangelho radicalmente como cristãos, afim de que nossos corações se abram cada vez mais para acolher todas as pessoas sem exclusão.

Irmãzinha Sosamma-Gracy de Jesús Conheci Irmãzinha Madalena através das irmãzinhas encontradas na Síria, isso foi uma descoberta na minha vida de cristã engajada. Sua maneira de viver o Evangelho no cotidiano da vida da maneira de Jesus em Nazaré me fez compreender o que isso quer dizer concretamente: ela viveu em meio a pessoas abandonadas e marginalizadas que nada valem aos olhos dos outros, ela os considerava como seus irmãos e irmãs em sua inteira humanidade. Partilhando o dia a dia com eles/elas, vivia muito simplesmente o verdadeiro espírito do Evangelho sem “pregação” e desse jeito ela mostrou o Cristo vivo e presente no coração da vida.

Fiquei igualmente impressionada pela vida de oração contemplativa no coração dessa vida misturada com as pessoas sem que uma prejudicasse a outra. Dessa maneira, ela oferecia tudo que vivia e todas as pessoas que encontrava como uma oração direcionada ao Pai; confiava tudo ao Pai e à luz da fé, procurava a maneira de estar o mais presente possível no meio das pessoas para tornar Cristo bem vivo no coração de suas vidas. (Damasco 2014)

Isso experimentei com as irmãzinhas de Damasco e depois em Lattaquié onde a simplicidade da vida diária delas era como um imã que atraia a todos

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IRMÃZINHA MADALENA MUDOU MEU OLHAR!

Irmãzinha Madalena esteve na Síria em 1948. Ela gostou tanto desse país ao ponto de desejar se naturalizar.

Nahla a conheceu bem mais tarde.

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principalmente os jovens de todos os ritos e confissões. Chegavam sem acanhamento na fraternidade que acolhe cada pessoa na sua diversidade.

Tive a sorte de viver um outro encontro com Irmãzinha Madalena mesmo. Estava visitando em Tre Fontane, as irmãzinhas conhecidas da região Líbano-Síria. Irmãzinha Madalena foi ver as irmãzinhas do Ano Comum (tempo de estudo e aprofundamento antes dos votos perpétuos) e eu estava com elas. Uma irmãzinha lhe disse que eu era síria, então ela me cumprimentou em árabe, perguntou meu nome e de qual cidade eu era e em seguinte me disse o quanto ela amava as pessoas de lá e que sente algo de muito especial por eles e pela Síria. Isso durou apenas alguns minutos, mas senti que fora um encontro forte e pacífico.

Baseada nessa minha experiência, acho que Irmãzinha Madalena traçou um novo caminho de fé na vida cristã em que Cristo torna-se accessível à todas as pessoas sejam quais forem. Cristo partilha com essas pessoas seu dia-a-dia e através delas ele age no mundo. A vida de Jesus em Nazaré me ajudou a compreender como viver o Evangelho no cotidiano de minha vida e como as pessoas são todas meus irmãos e minhas irmãs não devo julgá-las, pois tem um grande valor aos olhos de Cristo. Isso me coloca no meu verdadeiro lugar diante dos outros e meu relacionamento com eles é apoiado no amor e na confiança e não no medo e preconceito. Compreendi a partir daí que devo amar todas as pessoas, até mesmo as mais poderosas e malvadas, amá-las como pessoas humanas, mas não as suas obras, saber fazer a diferença entre as pessoas e o que fazem. Na atual situação, no meu país, isso tornou-se uma luz para não me deixar dar uma resposta violenta diante dos acontecimentos e das pessoas responsáveis por eles.

Acho que este caminho lança uma outra visão sobre a maneira de ver as coisas, sobre minha relação com Deus e com as pessoas; isso me ajuda a evangelizar meus relacionamentos com as pessoas passando pelo Cristo que está no coração de toda relação.

Por tudo isso, acredito que este caminho é atual para a Igreja de hoje, e para ajudar as pessoas, principalmente os jovens, a viver o Evangelho no coração de sua vida cotidiana para transformá-la em vida de discípulos de Deus e para tornar nosso mundo mais humano. Por isso creio que a beatificação de Irmãzinha Madalena é muito importante e me concerne profundamente.

Irmãzinha Nahla de Jesús

Meu primeiro contato com Irmãzinha Madalena foi através do Boletim Verde, “um tesouro” que cativou meu coração porque respondia ao que sonhava: viver “ uma vida contemplativa no mundo, no meio dos pobres”.... nem podia acreditar!...sua mensagem despertou em mim o desejo de conhecê-la, como?... Europa e África estavam tão longe!

Finalmente entrei na Fraternidade em 1956. As irmãzinhas chegaram no Chile em 1952 convidadas pelo Padre Hurtado e umas viviam na Favela Los Nogales e outro grupo alugara um apartamentozinho na ANECAP* casa das Empregadas Domésticas.

Conheci Irmãzinha Madalena no fim do ano de 1957 durante a Sessão de Formação na Fraternidade Geral de Tre Fontane (ROMA). O que primeiro ficou gravado em mim foi seu olhar tão cheio de ternura, sua simplicidade e sua pobreza no vestir.

Depois recebi o que chamaria de “presente de Deus”... viver 12 anos na fraternidade com ela. Fui descobrindo cada vez mais nesses anos a sua humildade,

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Jesus, único modelo.

Irmãzinha Maria Elena viveu 12 anos lado a lado com Irmãzinha Madalena, sendo Conselheira Geral....

Ela nos oferece seu testemunho...

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sua audácia, sua criatividade, entusiasmo, alegria (sabia rir com vontade...). Mas principalmente, sua confiança em “JESUS SENHOR DO IMPOSSIVEL”. A palavra IMPOSSIVEL não existia para ela, mesmo nas situações as mais dolorosas que passou.

Em relações às fundações o que lhe guiou sempre foi ir “até os mais abandonados”... àqueles a quem ninguém iria... para dizer-lhes que Jesus os ama.Seu amor pelas Irmãzinhas era o de uma verdadeira mãe: muito exigente, mas cheio de ternura. Uma grande parte de seu tempo passava na redação das Constituições e em responder as cartas das Irmãzinhas que chegavam do mundo todo. Com relação a isto o que mais me chamava atenção era a confiança e a transparência das Irmãzinhas.

Sua grande paixão era a UNIDADE entre povos e raças diferentes que as Irmãzinhas deviam, por vocação dar testemunho vivendo misturadas de raças, nações diferentes. Poderia dizer muito mais coisas, no entanto há uma que não posso deixar de compartilhar: o que foi a amizade para ela...

Em uma carta escrita às Irmãzinhas dizia: “Por obediência ao Senhor, quis que a Fraternidade fosse universal, mas foi para o Islã que dei a minha vida e Sidi Boujnan permanece sempre em meu coração, a querida pequena fraternidade entre as dunas... ela foi o berço... tinha umas 120 tendas e em cada uma viviam meus primeiros amigos nômades. Entre eles e eu o amor era tão forte que nunca poderei encontrar outro igual, pois eles foram os primeiros e vivi com eles durante um tempo completamente sozinha, numa total confiança que nunca foi defrauda.

Queria que vocês acreditassem que pode haver amizade verdadeira, profundo carinho entre as pessoas que não são da mesma religião, nem da mesma raça ou ambiente... É preciso que seu amor cresça, que se matize de delicadeza. O amor generoso se encontra facilmente, porém é mais raro encontrar um amor delicado e respeitoso por cada um....”

Irmãzinha Maria ElenaeJesús

*ANECAP: Associação Nacional de Empregadas Domésticas. Uma casa de acolhida às jovens vindas do interior.

Pergunta: Quando você encontrou irmãzinha Madalena o que lhe fez segui-la?

Irmãzinha Jeanne: Eu desejava dedicar minha vida a Deus da maneira vivida pelo Irmão Carlos de Jesus, mas não tinha ainda encontrado uma congregação que seguisse o mesmo tipo de vida que ele viveu. Um dia, escutei falar de duas religiosas que começaram uma congregação seguindo os passos do Padre de Foucauld. Irmãzinha Madalena exibia um filmezinho que mostrava um pouco a sua vida no meio de nômades pobres do Saara. Este filme era muito simples e pobre e estava acompanhado de frases do Evangelho. Fiquei muito impressionada por esse desejo de seguir Jesus pelo Evangelho e em meio dos mais pobres. A maior parte dos textos que mais ressaltavam no filme eram as Bem-aventuranças ou “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei” ou ainda”Não há maior amor do que dar sua vida por aqueles que amamos”, e foram esta simplicidade e esta pobreza na partilha de vida dos mais empobrecidos que me atraíram.

Irmãzinha Madalena teve muitas intuições, a Fraternidade se desenvolveu em muitos países... Como você viveu isso?

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Seguir Jesus...

Irmãzinha Jeanne, uma das primeiras irmãzinhas a entrar na Fraternidade, respondeu em 1996 a uma entrevista

de “Fiorella de Ferrari”... (trechos)

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Quando entrei, a Fraternidade vivia exclusivamente para os nômades do Saara, seguindo o Irmão Carlos, porque eram populações extremamente desprovidas onde a Igreja não estava presente e localizadas em países do Islã, no meio de uma população muçulmana por quem o Irmão Carlos havia dado sua vida. Cada uma de nós era chamada a viver no meio deles uma presença simples de amizade e de oração, a estar aí junto deles, e a testemunhar simplesmente o rosto do amor de Deus permanecendo junto a eles. E eu, eu entrei nessa perspectiva.

Quando em 1946, Irmãzinha Madalena sentiu que Deus a chamava para estender a congregação ao mundo todo, isso não causou nenhum problema para mim, isso seguia a linha do “Irmão universal”, de não excluir ninguém de nosso amor. E me pareceu normal que se tivesse irmãzinhas que desejassem, elas poderiam reviver esta mensagem de Belém em todos os países do mundo e por toda parte onde estivessem os mais pobres e os mais desprovidos. Então isso foi apenas o desabrochar de algo que já existia em germe. E quando em 1952-54 fizemos a volta do mundo com Irmãzinha Madalena, buscamos em todos os países a população mais abandonada, uma população de nômades ou aqueles aos quais ninguém iria para plantar uma pequena fraternidade que desse simplesmente um testemunho do amor de Deus.

Fiquei muito impressionada, lendo a vida de Irmãzinha Madalena, quando ela dizia querer que vocês tivessem uma santidade “humana”. O que Irmãzinha Madalena quer dizer falando de “uma santidade humana”? “Sejam humanas e cristãs antes de ser religiosas”...

Irmãzinha Madalena era alguém extremamente equilibrada, totalmente, e tinha uma ideia muito grande da dignidade da pessoa humana e daquilo que Deus havia criado em cada ser humano. Ela sempre nos dizia: é preciso não somente cultivar as virtudes espirituais, mas também as virtudes humanas porque assim damos glória a Deus cada vez que percebemos plenamente tudo o que Deus colocou de belo e de bom em cada ser humano. Por isso ela queria que as irmãzinhas fossem plenamente mulheres no bonito sentido do termo e ao mesmo tempo quando dizia ser humanas, queria dizer, para termos nosso coração perto de todo sofrimento humano, de tudo aquilo que se vive no mundo, que nada do que acontece no mundo nos seja estranho seja os sofrimentos das guerras, os sofrimentos das situações sociais, o sofrimento das famílias, que tudo ressoe em

nosso coração e que tenhamos uma atitude de compreensão e de respeito por cada coisa, que jamais utilizemos uma regra rígida que nos separaria de um apelo de caridade ou de um apelo de amor só para nos mantermos ao estrito regulamento.

Irmãzinha Madalena esteve sempre doente desde o começo. De onde ela tirava sua força para continuar toda sua vida com fundações?...

Sempre escutei Irmãzinha Madalena dizer que ela não tinha força, sempre a vi mais ou menos adoentada ou cansada. Quando ela viajou para o Saara, no começo, ela já estava doente e, no entanto ela não parou, ela continuou. O que posso dizer é que sempre nos dizia disso sou testemunha- que ela buscava sua força naquilo que pensava ser a Vontade de Deus para ela, e quando algo devia ser feito, ela tinha uma energia incrível para ir até o fim do que devia fazer. O Irmão Carlos dizia: “Não devemos medir nosso trabalho pelas nossas forças, mas nossas forças pelo nosso trabalho”. Para Irmãzinha Madalena, isso era antes de tudo o sentido da Vontade de Deus e da missão que ela devia cumprir. Quando fizemos a volta ao mundo, em todas nossas viagens, ela se sentia como se estivesse impelida por Deus a fazer tal ou tal coisa porque, como dizia, sentia nela um fogo que a queimava para carregar essa mensagem de amor do Senhor por toda parte através do mundo.

O que isso representou para você, viver todos esses anos perto de Irmãzinha Madalena partilhando tudo?

O que posso dizer é que segui cegamente. Creio nunca ter duvidado da mensagem da Fraternidade e sempre tive confiança, quaisquer que fossem as dificuldades, os momentos de cansaço ou outros, e sempre confiei que era o Senhor que fazia caminhar Irmãzinha Madalena. Certamente não realizei bem, vivendo junto dela, toda a dimensão, a graça que isso podia representar. Digo a mim mesma: vivi a seu lado, caminhei junto e depois... tudo foi pela graça de Deus!

Irmãzinha Jeanne de Jesús

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Ir à periferia, promover o encontro e não ter medo de lançar-se nos desafios que Deus propõe. Aqui estão três, dos aspectos que acompanham as palavras do Papa Francisco neste tempo e que não deixam de nos recordar algumas das grandes intuições que se plasmaram no coração e na vida de Carlos de Foucauld.

1.Buscar nosso lugar entre os últimos.Com o olhar voltado para a periferia, Francisco volta a lembrar-nos a urgente

necessidade de dar sentido a nosso seguimento, a partir daí, desses espaços marginais, que sempre foram espaços privilegiados para Jesus.

“Que significa seguir a Jesus em seu caminho do Calvário até a Cruz e a Ressurreição?.. Que significa tudo isso para nós? Significa que este é o meu caminho, o teu, nosso caminho... seguindo a Jesus quer dizer, aprender a sair de nós mesmos/as para ir à periferia, ao encontro dos mais afastados, dos esquecidos, de quem necessita compreensão, consolo e ajuda”. (Extrato da primeira audiência geral 27/03/2013)

Ir às periferias, nos recorda o Papa, implica por-se em movimento em

direção àquelas realidades cotidianas e profundamente humanas de pobreza, de dor, de solidão, de afastamento, que em nossa sociedade pós-moderna e tecnificada, parecem não importar demasiado. Como não recordar à luz destas palavras, aquele permanente desejo do Irmão Carlos de ir aos mais abandonados:

“Onde devemos ir? Lá aonde Jesus iria, para as ovelhas mais afastadas, mais abandonadas. Devemos ir, não onde a terra é mais santa, mas onde as almas se encontram em uma maior necessidade”. (Carta ao Pe Caron, Abril 1905).

A fonte desta atitude, tanto para Carlos de Foucauld como, na atualidade, para o Papa Francisco, é o testemunho concreto de Jesus de Nazaré. Se nos propomos, então, a seguir os passos do Mestre, não podemos fazer ouvido surdo a esta fundamental condição do seguimento: ir aos últimos.

2.Sair ao encontro do/a outro/a.Sair de “si mesmo” para ir “ao outro”, em particular aquele/a que está

abandonado/a ou afastado/a, exige uma atitude de profunda humildade. Ir ao encontro do outro implica, entrar em relação com ele, valorizar profundamente sua realidade, sua história, sua vida: descobrir nele ou nela um/a irmão/ã. Isto leva , sem dúvida, a deixar-se interpelar, destruindo aqueles esquemas e preconceitos que dificultam o encontro profundo e autêntico com os demais. A necessidade de promover e trabalhar para gerar este “encontro” entre os seres humanos hoje, é uma preocupação importante de Francisco. Assim o expressa quando nos convida a trabalhar nisto, incansavelmente.

“Ser chamados/as por Jesus, chamados/as para evangelizar e... chamados a promover a cultura do encontro... Gostaria quase que neste sentido vocês fossem obsessionados. Fazê-lo sem sermos pretensiosos, impondo “nossa verdade”, mas sim, guiados pela certeza humilde e feliz de quem foi encontrado, alcançado e transformado pela Verdade que é Cristo, e não pode deixar de proclamá-la. (cf. Lc. 24,13-35).” (Homilia na catedral do Rio de Janeiro 27/07/2013).

Diante destas palavras, como não trazer à nossa memória, o testemunho de valorização profunda, de reconhecimento e de respeito pelo outro/a, que viveu Carlos de Foucauld ao longo de sua vida. O fato de deixar-se interpelar “pela fé” daqueles muçulmanos que foi encontrando em seu caminho e que o impressionaram fortemente.

“O Islão produziu em mim uma profunda impressão. Contemplar a fé dessas almas, vivendo em contínua presença de Deus fez-me descobrir que há algo maior e

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As intuições do Irmão Carlos e as palavras de Francisco.

Javier Pinto, chileno, teólogo, pertence à família espiritual de Carlos de Foucauld, partilha suas reflexões.

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mais verdadeiro que as ocupações mundanas.” (Carta a H. de Castries, 1901).O permanente empenho em jamais impor-se ao outro, o valorizar, dialogar e

compartilhar a vida, simplesmente, com aqueles que mesmo sem compartilhar sua cultura, nem sua fé, tecem laços de amizade. O caminho do encontro e da Fraternidade Universal, foi o modo através do qual o Irmão Carlos buscou compartilhar a Boa Nova de Jesus, com quem lhe rodeava.

3.Não tenham medo!No entanto para lançar-se nesta aventura de ser portadores de humanidade

e testemunhas do amor de Deus, tem que lutar, sobretudo nestes tempos, contra a cultura da segurança e contra o medo paralisante. Francisco insiste frequentemente que o medo não pode deter-nos: “Coragem... não tenham medo de correr riscos indo aos pobres e aos novos sujeitos emergentes”, declara o Papa aos religiosos/as da América Latina, “... Abram as portas, façam algo aí onde a vida grita. Prefiro uma Igreja que erre por ter feito algo, do que uma Igreja que adoece por ficar fechada.” (Mensagem à CLAR em 96/06/2013). Esta será também a mensagem que ele dará aos jovens no Rio de Janeiro: “Vão sem medo, para servir”. (Missa de Encerramento da JMJ, 28/07/2013).

Para Carlos de Foucauld, o seguimento de Jesus esteve marcado por decisões radicais e por uma busca constante do querer de Deus. Dita abertura o levou a abrir-se permanentemente a novas realidades e dar passos profundos na aventura do seguimento e na busca da fraternidade universal. Seu próprio testemunho de vida dá conta desta atitude, segundo as palavras do Pe Huvelin, seu diretor espiritual, quando fala do Irmão Carlos:

“Firmeza, desejo de ir até o extremo no amor e entrega e de assumir todas as consequências, nunca desanima, nunca, um pouco de rudeza, no começo, mas que foi suavizando.” (Carta do Pe Huvelin ao Abade de Solesmes).

A confiança plena em Deus e a radicalidade do amor, é o que dá força a Carlos de Foucauld, para enfrentar as grandes dificuldades sem deixar-se vencer pelo medo. Inclusive na sua decisão de ficar acompanhando o seus irmãos tuaregues, no meio do conflito que ocasiona sua morte em 1º de dezembro de 1019.

Javier Pinto

Estes quatros meses vividos em Oaxaca foram muito pouco, mas, extraordinariamente, de muito valor. Foram meses lindos, cheios de uma enorme e intensa vida de aprendizagem, de generosidade e amizade, de partilhar e experimentar nem que seja um pouquinho o trabalho duro de muita gente que tem que sair cedinho para seu trabalho, ás vezes com o estômago vazio e mil problemas na cabeça e um pagamento injusto por mais de oito horas de trabalho pesado, para depois voltar a sua casa e continuar com seu trabalho de casa, e se, pelo menos come um pouco de feijão.

Uma das tantas coisas maravilhosas que tem esse povo oaxaquenho, é sua admirável luta de sair adiante e de lutar contra a injustiça de um governo que espezinhou seus direitos, mas não sua dignidade, sua essência que jamais nada nem ninguém poderá arrancar de suas raízes, o povo oaxaquenho é um guerreiro.Nesses meses tive a oportunidade de trabalhar, pela primeira vez, com o barro negro de Oaxaca, sentir em minhas mãos o frescor e a maleabilidade do barro, ver a bela transformação que ocorre depois de haver enchido os moldes, as vezes eram moldes muito pesados, eram figuras de elefantes, tartarugas, cachorros,

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Do México a Camarões

Irmãzinha Letícia, terminou o seu tempo de postulante no DF, e antes de partir para o seu noviciado em Camarões passa um tempo em Oaxaca.

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porquinhos, jarros de diferentes tamanhos, antes de enchê-los tem marcar (amarrar), com muita força umas ligas para que fiquem bem presos e não derramem, uma vez cheios tem que vigiar e mantê-los cheios, depois de trinta minutos, há que esvaziá-los, isto é o mais pesado, com a ajuda de Ofe esvaziávamos as duas. Dizia que me ajudava porque me via tão frágil que tinha medo que me machucasse. Depois de esvaziar os moldes, Ofe e eu nós colocávamos a tirar a rebarba das peças e arrumar as que estavam um pouco estragadas, como dizia Costi: fazíamos uma pequena cirurgia; um dia deixou-me sob o cuidado de seus filhos. Outra coisa que Ofe me ensinou foi descascar as espigas e fazer umas gostosas “tortillas”!!(torta de milho)

Durante esta experiência estive muito contente com esta aprendizagem, mas, sobretudo estou muito agradecida com meu Bom Deus, de haver posto em meu caminho Ofélia, seu esposo Salvador e seus três filhos, foram meus anjos, e realmente foram uns anjos, formando-se uma linda amizade cheia de confiança e muita abertura, foi uma aprendizagem muito rica e de grande valor humano e de fé, quero-lhes muito bem, foram bons amigos.

Tantos encontros tão bonitos que levarei sempre em meu coração com tanta gente linda de Vicente Guerrero, encontro de uma profunda amizade, de partilha, de generosidade, de viver, de sofrer, de acompanhar na alegria, na solidão, na enfermidade, uma amizade que se dá sem reservas, que se vê e se sente, que se nutre e se compartilha e se reparte ás mãos cheias.

O despedir-me de minha amada Oaxaca e desta bela gente, foi muito triste, mas apesar da dor, dou graças novamente ao Bom Deus, por tão extraordinário presente de mostrar-me o valor da vida.

LETY

De Letícia, 23 de junho de 2014.

Nestes dois meses desde que cheguei a terras africanas percebi com tristeza, com coragem e com dor que tanto no México como em Camarões que são muito diferentes por sua cultura e sua história há algo semelhante entre eles e isso são os pobres. Aqui em Camarões, no México ou em qualquer outro lugar os pobres

sempre serão os pobres, como bem disse Jesus. Pobres sempre tereis com vocês, e é algo que não muda e embora doe é uma triste realidade que vivemos e muitas vezes fechamos os olhos para não ver a dor da outra pessoa; por outro lado, os ricos ficando cada vez mais ricos a custa dos pobres, aproveitam-se do bom coração do pobre roubando a riqueza de seus povoados, o patrimônio de seus filhos; a riqueza de seus ancestrais é vendida à oferta mais atraente, fico tão triste ao ver perambulando pelas ruas tanta gente que desde o amanhecer ao anoitecer, trabalha com todas suas forças para mais ou menos viver bem e no pior dos casos para mal comer, quanto esforço sobre humano, quanta coragem para sobreviver, para subsistir, quando vejo essas pessoas penso em seus filhos, em sua famílias, em tudo aquilo que carregam dentro do coração, dentro desse torvelinho que os arrasta e as vezes os deixam sem forças, e o novo amanhecer os incorpora novamente para seguir adiante, para seguir nessa luta constante que os mantém vivos, é a força de Deus, é a força da vida, e muitas vezes sem dar-se conta, esta luta é por amor à vida, por amor daqueles que amam, pela esperança que abriga em seu coração.

Irmãzinha Leticia de Jesús

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Há seis anos, quando voltei em Belo Horizonte para tratamento de saúde, pensamos que seria importante juntar-me a um grupo de mulheres que trabalham com artesanato. As conheci anos atrás quando abrimos a fraternidade em 2003. Conhecia Sandrinha e Luciano em Itaobim, no Vale do Jequitinhona, o casal que começou a comunidade Maloca.

Sandrinha nasceu na favela “Vila Polonia “ e sonhou junto com outras vizinhas criar meios de sobrevivência , colocando em comum seus dons para geração de renda à partir dos meios que tinham a disposição naquele momento: reciclagem, produção de colares, chaveiros, bordados etc....Lembro-me que falando com Sandrinha da tecelagem que aprendi no Vale do Jequitinhona, ela animou-se a fazer um curso, mas faltava comprar o tear!!!!! Outras mulheres começaram a fazer colares, outras a costurar a mão, pedaços de malhas e tecidos deixados nas portas das oficinas de costura, faziam colchas de retalhos e começaram a bordar; como elas mesmas dizem: “No principio ninguém sabia fazer nada , depois se descobriu que todo mundo sabia, era uma memória adormecida ....e minha avó fazia assim... Dos nossos

primeiros encontros nasceu o desejo genuíno de continuar, permanecer, crescer juntas... veio a convivência e a vontade de compartilhar nossas dores, nossas alegrias, nossas dificuldades , nossas vidas! E assim que nasceram a Roda de conversa, a troca de saberes e com o tempo surgiram as oficinas ! Uma ensinava a outra e o grupo foi crescendo cada uma com sua peculiaridade . Cada peça bordada é única , cada trabalho é uma arte “

Toda 4º feira o grupo encontra-se na Roda para partilhar, avaliar seus trabalhos e a vida que vai brotando desses encontros.

Eu, pessoalmente vou uma vez por semana que não é sempre a 4º feira dependendo dos outros compromissos na Fraternidade. Aprendo a fazer colares, vou separando retalhos com Maria, Nilde, que estão quase que “permanentes” nesses trabalhos preparando o dia de 4º feira quando as mulheres vão para a Roda, trazendo seus bordados e recebendo o fruto do seu trabalho. Tudo é dividido entre nós. Eu posso tecer em casa e levar as peças, que são vendidas nas feiras que acontecem durante o ano todo. A comunidade segue o modelo da Economia Solidária e faz parte da rede do Comercio justo e solidário unido a SEBRAE, junto com outras entidades artesanais. Temos também uma tenda permanente numa feira semanal de artesanato aqui em Belo Horizonte .

Para mim é um dia de encontro amoroso, que me coloca na realidade da vida cotidiana de muitas mulheres, que enfrentam violência , discriminações, desemprego, partilhando nossos sonhos e nos alegrando com as pequenas vitorias.Um dia fiquei o dia todo com Claudia, 38 anos, que teve um derrame e ficou paralisada do lado direito. Depois de alguns dias em que ficou hospitalizada, ela veio ficar na Maloca porque não tinha lugar para ela, na casa da mãe dela cujo marido tinha tido um enfarte. Cada dia as companheiras se revezavam perto de Claudia para ajudar Sandrinha a cuidar dela. Com teimosia, muito amor e fisioterapia Claudia voltou a andar e depois de três semanas ela pode retornar a casa da mãe. Com tempo ela voltou a sua arte de bordadeira.

Outro dia Maria chegou com Iris, uma menina de um ano e meio, que a mãe dava a quem quisesse tomar conta , pois ela tinha que ir trabalhar e não tinha outro recurso!!! Assim é que Maria vinha todo dia com Iris na Maloca e que se acostumou aos poucos com Xama e Ravi , os filhos de Sandrinha e Luciano. São dois meninos que alegram a vida de nós todas, pois participam “da família ampla “das mulheres

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Comunidade Maloca

Mulheres da Vila. Um jeito solidário de reciclar.

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com suas brincadeiras e acolhendo com tanto carinho e respeito os meninos que vem passar o dia com as mães.

São histórias vividas com muita solidariedade entre nós porque é na Roda de conversa que a gente aprende a se manter unidas...Nossas ideias e ideais se juntam, se amarram, se enrolam e se reciclam entre agulhas , linhas , retalhos e contas....azuis , amarelas, lilás, verdes , vermelhas e esse papo vai levando nossas angustias , tristezas, solidões, dificuldades, medo e vem trazendo alegria, encanto, esperança e possibilidade de mudanças, socialização, cidadania, como elas mesmas contam.... “Na comunidade Maloca Deus nos fez encontrar / Desse encontro fizemos um ponto / Deste ponto / Um ponto de encontro / No ponto / Demos um nó / No nó demos um laço / Depois do laço / Um abraço / Nossa alma é bem assim em cada mulher, uma poesia, um sonho!”

A Maloca é tudo isso, fruto dum sonho coletivo! Não é um ideal dum só! mas um sonho coletivo que nasceu há bom tempo atrás, e quando a gente viu já era Maloca. Para nós representa uma realização de que é possível sonhar, acreditar... Hoje a Maloca vem dizer isto para nós: a certeza que quem sonha junto, realiza.! A comunidade contribui para o resgate da autoestima das mulheres, para a inserção na sociedade, e isso compartilhando as experiências e a geração de renda . Tudo é igualmente repartido.

Posso afirmar que se a inspiração foi de Sandra e Luciano o casal que mora mesmo na Maloca deixando a casa aberta a todas ...! a alma da Maloca hoje é cada uma das mulheres que participa: Therezinha, Maria , Nilde ...cada uma é única.......Somos umas 50 que finalmente nos encontramos nos dias de festa , mas cada 4º feira vão umas 25 que nos dividimos em dois grupos .

Convido vocês a visitar o site www.mulheresdavila.com No meio tem o Blog.

Irmãzinha Ana Joelia de Jesus

*Maloca: lugar da Roda de conversa e de trabalho em comum

“O clima endoidou. Quando é para chover não chove, e quando não é para chover, chove” nos disse Julián, um camponês de Cusco. Ele expressa assim a incerteza que as mudanças do clima geram em suas condições de vida e de trabalho. O Peru é responsável de 0,4% das emissões de efeito de estufa a nível global, responsáveis do aquecimento global e mudança climática (CC). Mesmo assim é um dos dez países do mundo com maior vulnerabilidade a este fenômeno que está afetando cada vez mais as sua população.

O derretimento dos glaciares provoca a perda de fontes de água. As secas, destroem as plantações e as enchentes carregam não só as suas colheitas, mas também as suas casas, escolas e infraestrutura local. As temperaturas extremas afetam a vida das pessoas, animais e plantas. As crianças e idosos são os mais afetados pelas geadas e o frio. Doenças como a dengue e a malária aumentaram por causa do forte calor e a irregularidade das chuvas. A população tanto das áreas rurais como urbanas está ameaçada de sofrer “estresse hídrico” e falta de abastecimento alimentar causada pela mudança climática. As casas precárias localizadas em lugares de risco podem sofrer desabamento por causa das chuvas

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A mudança climática, as comunidades do Peru e a COP 20

O tema sobre mudanças climáticas é um dos temas que está particularmente presente em quase todas as fraternidades do mundo....

Aqui apresentamos uma pequena amostra, a partir do Peru.

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excessivas.Diante dessa crua realidade, o povo não permanece passivo. Diversas

Comunidades recuperam conhecimentos e práticas ancestrais tais como a construção de celeiros ou o plantio e colheita a base de água para reduzir os impactos climáticos. As organizações de base vão formando comissões de gestão de riscos para prevenir possíveis desastres.

Lima, a capital do Peru será a sede em dezembro de 2014 da 20ª Conferência das Partes de Convenção “Marco de Nações Unidas sobre mudanças climáticas”(COP 20). O evento deveria chegar ao fim com o rascunho de um novo acordo climático global para ser firmado na COP 21 que acontecerá em Paris em 2015. Este acordo exigirá compromissos ambiciosos, justos vinculados à redução de emissões de gazes de efeito estufa e, junto a outras coisas também, acordos de financiamento suficiente para os povos e países vítimas de uma mudança climática que não foram feitos. Como dizem os cientistas, é a atividade humana principalmente dos países industrializados com a queima de combustíveis fósseis (petróleo, carvão) a causa direta deste fenômeno.

O processo até a COP 20 convoca a uma ampla participação para somar forças e conseguir avanços reais nas negociações internacionais sobre mudança climática, nas políticas públicas, nacionais e locais e no incentivo de novos estilos de vida sustentáveis e solidários, diferente do consumismo irracional que aumenta a desigualdade social e quebrou o equilíbrio ecológico.

Sendo essa uma Conferência Mundial que se realiza na America Latina é uma oportunidade para tornar visível ao mundo a necessidade de proteger os nossos glaciares que estão se derretendo e as nossas fontes de água, frear o desmatamento da Amazônia, evitar o desaparecimento de plantas e animais, tudo em consequência da mudança climática.

Numerosas organizações sociais estão preparando a Cúpula dos Povos frente a Mudança Climática “Por um mundo habitável, com justiça climática” que vai se realizar em Lima de 9 a 12 de dezembro de 2014 (ver a convocação em: WWW.grupoperucop20.org.pe).

As nossas fraternidades não podem ficar por fora desse processo. Rocio Valdeavellano, Lima

O trabalho hoje em Cuba é um tema dinâmico e muito complexo e está provocando uma virada na estratificação social que até a poucos anos atrás se catalogava de “igualitária”. Aqui por mais de cinco décadas o estado foi a principal garantia de emprego para a população trabalhadora ativa do país, assim que, poucas vezes se encontrava “espécimes” tendo uma fonte de emprego não estatal.

Atualmente, à pergunta: onde trabalhas? Escuta-se como resposta: com o estado, numa corporação (de capital estrangeiro), sou trabalhador autônomo, sou empregado por conta própria, sou cooperativista, estou desempregado. Estes vários atores econômicos esperam a promulgação do novo código trabalhista que regulará as relações empregado/empregador e cujo conteúdo final não é tão conhecido... Há quem tema perdas de garantia para os trabalhadores.

Em tudo isto a Igreja cubana sentiu a responsabilidade de ajudar na formação e acompanhamento das iniciativas de autonomia econômica. Instituto como o Centro Félix Varela ou Maria Reina oferecem cursos de formação e informação em gestão empresarial cujo objetivo é promover uma mentalidade

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PRIMEIRO O MEU

Outra economia é possível.

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empreendedora que contribua ao desenvolvimento econômico e social do país. É a partir desse contexto que partilho minha busca pessoal frente às

mudanças que vivemos e suas consequências.Quatro anos de trabalho numa oficina, projeto das religiosas Passionistas,

onde vi passar mais de trinta companheiras/os, em sua maioria mulheres, semeou a inquietude ou o desejo de buscar com outras/os a possibilidade de um trabalho alternativo com vistas a uma estabilidade econômica e que, ao mesmo tempo, nos ofereça encontros autênticos entre pessoas no qual a responsabilidade, solidariedade e equidade primem sobre o interesse pessoal.

No mês de outubro começamos com Raquel, ex-companheira de trabalho, um curso de gestão empresarial, éramos quase 40 pessoas, grande parte delas, trabalhador autônomo de lanchonetes, pizzarias, taxistas, profissionais que se viam projetando o futuro com muitas ideias e pouco capital. Passando algumas semanas, senti que minha busca se distanciava do que escutava na aula. É verdade que, no fundo e em comum estava a inquietação de como sobreviver ou ir em frente, no entanto a proposta geral era do estilo “como chegar a ser o melhor vendedor do mundo”, “o vitorioso”,etc. Uma sede de progredir, ganhar dinheiro, viajar, comer bem.

Depois de viver a frustração e de rezar com ela, descobri que o que mais desejo é respeitar, acompanhar e animar este povo cubano que me parece está vivendo em seu processo grupal uma etapa de reivindicação do individual, do próprio, o pessoal, o privado, o particular. Isto que para muitos seguirá sendo uma maneira de sobreviver, para outros será uma oportunidade de desenvolver suas habilidades mesmo que seja à custa do outro, como já se vive em alguns casos de empresários disfarçados de autônomos.

Finalmente, faz alguns meses, os meios de comunicação estão promovendo a criação de cooperativas não agropecuárias, como a grande novidade. Isso voltou a acender um sopro de esperança em minha busca do alternativo. O certo é que está difícil encontrar cubanos dispostos a arriscar seus bens particulares em perspectiva de um trabalho no estilo cooperativista de bens em comum. Pode ser uma questão de desconfiança básica fundada em anos de discurso autoritário sobre o “comum” que terminou, com o tempo, ameaçando a necessidade legítima da singularidade.

Mas, como a realidade é aberta, fico atenta a uma palavra, uma proposta, pessoas, para esperar o momento de concretizar o sonho de que outra economia é possível na Cuba de hoje.

Irmãzinha Norma de Jesus

Cheguei em Havana faz seis meses e, a quatro meses trabalho como auxiliar de limpeza numa clínica dentária.

Levanto bem cedo para poder estar um pouco na capela, meditar o Evangelho do dia e tentar colocar-me em atitude de viver segundo esse Amor, Boa Nova para mim e para outros/as. Claro que, nem sempre consigo, mas desejo sempre.... Em seguida faço alguns exercícios para “despertar o corpo”, para que os movimentos do trabalho não me prejudiquem. Tomo algo quente e saio para o trabalho.

Esperar o transporte é o exercício cotidiano de todos os cubanos. Claro que a essa hora e estando ao lado da estação ferroviária, adquire características particulares....Aí encontro dois grupos de pessoas: “os de sempre” e “os do trem”, quando “é dia do trem”...Eles são desconsiderados. São “orientais” ou “palestinos” (escutar essas palavras dirigidas a eles fazem mal ao coração. São expressões que nunca utilizo mas que escrevo porque é uma realidade existente).

Cada “dia do trem”, este chega cheio de pessoas vindas de Guantánamo e

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Presença cotidiana, Boa Nova para os dias de hoje.

“Eu estarei com vocês todos os dias até o final dos tempos” Mt 28,20)

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de outras províncias do leste. Famílias, homens sozinhos, casais. A chegada desse trem produz em mim uma sensação indescritível que me oprime o peito: na obscuridade e umidade da capital, escutar o apito e ver a luz da máquina, seguido de todas essas figuras que com diferentes passos, mais rápido ou mais lento, carregam malas, pacotes, sonhos ou preocupações...

“Os de sempre”, é o grupo formado pelos que pedem “o último” (último lugar na fila do ônibus). Eu integro um dos grupinhos, o de E... que é o que chega primeiro e marca para os demais. Tem 79 anos e trabalha na construção civil. Está viajando desde as 3:30 hs da manhã, porque vive em Alamar, e chega em nossa parada pelas 4:05 hs. Os outros são: Z... militar, “el chino”, pessoal civil do MININT (Ministério do Interior); “ a mulata”, jovem que trabalha em dias alternados em uma padaria, e “a moça da trança”, que sou eu. Às vezes há um ou outro conhecido de E.

No centro, onde trabalho, somos 64 trabalhadores/as e meu trabalho permite-me relacionar-me com todo mundo, pois transito em todos os setores. Cada vez que posso conversar profundamente com algum dos companheiros/as sei e sinto essa presença que nos acompanha como fala o Evangelho: Boa Notícia para hoje. Palpo o sagrado da vida dessa pessoa, que Deus ama com loucura.

Compartilho com alguns/as aquilo que dá sentido á minha vida. A realidade de ser testemunha Daquele que me habita, embora nem eu mesmo saiba como... Essa é a minha fé. A amplitude que adquire minha vida, meu coração que se alarga com cada relação profunda de amizade, embora não tenha filhos, nem marido, e esteja longe da minha família carnal (perguntas constantes). Minha alegria de tentar cada dia ser irmã de todos/as.

Sou a auxiliar de limpeza mais antiga, minha nova companheira ainda não tem um mês e espero que dure... no conjunto, a maioria são jovens.

Escuto desde fofocas até sofrimentos, recebo pedidos de oração, confidências (descontentamentos, incompreensões, injustiças e feridas entre os/as companheiros/as). Também recebo reclamações dirigidas a mim, e tive uma discussão!!! Aos gritos com I.!!! Pedi perdão à J. por tê-lo tratado mal. Isto deu início a um processo de cura e libertação que somente o perdão pode suscitar: recomeçar a relação, com outra qualidade.

Tenho também a possibilidade de contatos com os/as pacientes, alguns/as dos quais vejo com frequência pelas muitas consultas. Assim vou conhecendo suas histórias. E como almoço em plena 5ª avenida (coisa que nenhum cubano faria), também ali vivo encontros e desencontros, visuais e de palavras. Tudo levo do meu coração ao Coração...

O fato de ter “vindo a Cuba para ficar”, e que não esteja cumprindo uma “uma missão” (como os médicos que vão por dois anos à Venezuela, Honduras ou Brasil) deixa as pessoas perplexas. A mesma coisa quando contei que tinha feito os trâmites para inscrever-me na caderneta de abastecimento...Tudo isso que lhes estou contando é possível viver graças à minha Comunidade.

Claro que este trabalho coloca-me desafios a nível pessoal:*deixar-me ensinar nem sempre é fácil e continuamente percebo o quanto me custa...

*Ir “entrando no ritmo” do trabalho, leva tempo!...Saber descansar, parar. Nisso meus companheiros/as me ajudam.

* “Ser estrangeira” revela-me a mim mesma interpelações que surgem por estar aqui e não em outro lugar. Como escutar e acolher respeitosamente o olhar cubano sobre Cuba? Como dar respeitosamente meu aporte, alargando esse olhar? Não porque eu seja “larga”, mas porque tenho outras experiências que me constituem como pessoa e “pessoa diferente” (“estrangeira”)... Como ser portadora de Esperança neste país, com essas características? Uma amiga me pergunta quase todo dia: “que tens de bom para contar-me hoje?”.... Tremendo desafio cotidiano!!!

No que concerne o “meu alimento”:*No tempo de adoração que cada irmãzinha tem, uma vez ao dia, para mim é uma vez por semana...

*Alguns domingos, como hoje, não estive na Celebração Eucarística, devido ao cansaço, a necessidade de repor minhas forças e o horário da missa. Não dou conta, até agora, de ir em outra paróquia, e também não quero abandonar a nossa...*Às vezes não consigo escutar as notícias, e sinto-me um pouco “fora do mundo” (sensação habitual em mim, desde que cheguei a esta querida ilha).*Não alcanço participar na Eucaristia que celebramos às segundas feiras com as

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irmãzinhas e irmãozinhos, somente quando é em nossa casa.*Encontrar um local, não muito caro, para ir rezar, onde haja silêncio e se possível, algo verde... é pedir muito?

Com desafios e Esperança, com as conversas que vão ajudando-me a “acostumar-me”, estou feliz de estar trabalhando para o estado cubano, neste trabalho, verdadeiro “ultimo lugar”: aquele que ninguém quer e que ninguém deseja para seus filhos/as.

Daí desse lugar e com Sua Presença, o Reino acontece.Disso estou completamente segura, como me chamo

Irmãzinha Paula de Jesus

Quando cheguei a Santiago, convidaram-me a participar de um grupo de estudo que já existe há vários anos a partir da realidade violenta que vivemos diariamente em nossas populações devido especialmente ao narcotráfico. Com este grupo, reunimos uma vez por mês, para ver como encontrar caminhos de paz em um contexto de violência. Compartilho o texto preparado para partilhar a experiência com todos os consagrados na Zona Sul de Santiago:

"Grupo de Reflexão para a Paz em contextos de violência" (GRP) (Francisco Carreño y Gerardo Huisse)

I. TRAJETÓRIAGostaríamos de compartilhar com você a busca de um grupo de reflexão

que anseia construir e viver em nossas comunidades e populações uma autêntica Cultura de Paz. Estamos sempre em uma atitude de busca, uma busca pastoral. Este grupo é chamado de "Grupo de Reflexão para a paz em contextos de violência"

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Por uma cultura de paz.

Muitas periferias de nossas cidades sofrem os efeitos violentos do tráfico e consumo de drogas.

Santiago do Chile não é uma exceção. Partilhamos com vocês nossa busca.

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(GRP). Começamos em 2006. Podemos dizer que os dois textos mencionados e lidos na oração, são as orientações fundadoras da nossa busca. Êxodo: "Eu vi" e João: "Pedro você me ama?"

"Eu vi a miséria do meu povo, ouvi o seu grito de dor"

A origem do nosso grupo foi um chamado a viver o mistério da Encarnação, participando na vida de nossas comunidades e populações afetadas, marcadas pela violência gerada pelo tráfico de drogas e as consequências violentas. Mas este fato parece indicar que:

"Nosso inimigo não é só o tráfico de drogas, também é o medo e a indiferença que gera a nossa impotência e a violência estrutural." (GRP)

Talvez possamos pegar o tema do canto dos Direitos Humanos: "Onde está o teu irmão?"

"O que vemos?"

Situações: localização geográfica do nosso povo, a qualidade da habitação, atenção desigual em vários serviços como saúde, educação, transporte, etc. A insegurança no trabalho, a hegemonia de valores fornecidos pelo consumismo, a competição e a prevalência da violência como meio para resolver conflitos ... Nós todos sabemos ... mas por detrás dessas palavras têm crianças, jovens, adultos e famílias que são vítimas de exclusão, discriminação, rejeição, desprezo e desigualdade.

Diante da carência material e a situação que vivem muitas famílias no nosso país, aparece a ligação que existe entre a necessidade e a droga que empresta dinheiro, deixando as pessoas muitas vezes presas pela fidelidade ao "poderoso" que oferece um estilo de vida que, aparentemente, cobre tanto as necessidades objetivas como as subjetivas: saúde, moradia, alimentação, segurança de renda estável. Que reação temos quando vemos essa realidade? O que fazemos com os narco-presentes? Estas questões surgiram a partir de nossa experiência e reflexão no grupo.

"Nós compartilhamos com os narcos o mesmo”espaço apertado ", que é o absurdo o sem sentido da exclusão na vida diária dos moradores. Temos que competir com eles, oferecendo algo melhor do que drogas e armas como um meio de dignidade. "(GRP)

"Nós gostaríamos de ter o olhar de Jesus”

Nosso olhar está no ser humano como imagem e semelhança de Deus. Jesus é o nosso modelo em nossas ações. Por Ele e com Ele nós procuramos animar as ações e criações inspiradas pela sua atitude para com a humanidade. Quanto mais leio o Evangelho, mais eu descubro como Jesus quer humanizar o nosso mundo, um mundo mais fraterno, respeitoso, com mais justiça, mais perdão, mais dignidade. Sem excluir ninguém, é o Reino de Deus. A exclusão social expressa o fracasso das pessoas e dos grupos para se viver em comunidade.

"A que isso nos convida?”

Nós consagrados/as "não somos delatores" somos pastores de todos: os criminosos, traficantes, viciados em drogas, polícia ... Não podemos denunciar, temos uma responsabilidade como consagrados/as com a comunidade de propor caminhos de vida e maior dignidade. "Porque a Defesa dos Direitos Humanos supõe a convicção de que um ser humano é sempre sagrado e inviolável". (E. Gaudium, N. º 213)

- Somos chamados a definir uma estratégia de sensibilização das pessoas e das comunidades sobre as causas e consequências do micro-tráfico de drogas. Somos chamados a ajudar a superar o medo que nos paralisa para entender e abordar o problema de uma forma mais concreta.

- Devemos fortalecer o senso de comunidade, para suscitar a unidade de uma população em todos os níveis: igrejas, organizações sociais, moradores, municípios, governos, etc.

II. FONTES DE INSPIRAÇÃO

Para começar, gostaria de citar o Papa Francisco na sua Exortação Apostólica "Evangelii Gaudium"

"Nas cidades se desenvolve o tráfico de drogas e de pessoas, o abuso e

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a exploração de menores, a negligência com idosos e enfermos, corrupção e crime. O que poderia ser um belo espaço de encontro e de solidariedade, muitas vezes se torna o lugar de fuga e desconfiança mútua "(Nº 75)

Mas nossa principal fonte é olhar a realidade à luz do "Evangelho" e de suas exigências.

Os bispos do Chile em sua carta de 2012 com o tema "Humanizar e compartilhar de forma equitativa o desenvolvimento do Chile”, colocavam que a desigualdade estrutural é a base da violência.

III. AÇÕES CONCRETAS

Com profunda alegria, somos testemunhas do quanto esta equipe tem crescido na diversidade e profundidade; composta por leigos, leigas e consagrados / as de diferentes comunidades e organizações. Nossa missão é "Ajudar a falar sobre o assunto e des-mordaçar as pessoas e comunidades, não estigmatizando as dinâmicas dos nossos bairros."

No nosso ritmo de trabalho, nos reunimos mensalmente (última sexta-feira de cada mês, "porta aberta"), um encontro fraterno em que refletimos sobre essa realidade à luz do Evangelho: O que vemos? O que ouvimos? Compartilhamos os ECOS que emergem da interação com as comunidades: as ações tomadas, tais como caminhadas pela paz, vigílias, participação nos meios de comunicação e contatos com redes.

Hoje vivemos em um processo de discernimento, pedindo a graça de conhecer e estar mais perto dessa realidade para apoiar as comunidades concretamente desde a prevenção, a reflexão crítica e restauração.

IV: "DESAFIOS"

Como discernir a conveniência, viabilidade e prioridade da ação pastoral nesta iniciativa?

É preciso, a partir de um trabalho pastoral, fortalecer o senso de comunidade para suscitar a unidade da população em todos os níveis: confissões religiosas, organizações sociais, comunitárias, governo e o setor

privado para gerar alternativas consistentes ao micro- tráfico de drogas.

E nós, irmãzinhas em La Victoria?

Tivemos vários atos de violência graves: 5 adolescentes assassinadas em um mês. Uma delas esquartejada!... Isso nos fez reagir e com os pais e diversas organizações sociais, estamos nos reunindo toda semana refletindo, apoiando a família e fazendo atividades de recuperação dos espaços públicos que os narcotraficantes ocuparam: danças, teatros, futebol de rua, caminhadas pela paz que envolvem as crianças nas escolas e jardins de infância, etc .... superar o medo, desamordaçar, abrir portas para o diálogo, acolhimento, etc ....

É incrível a organização capilar que se foi criando, e da qual muitas pessoas tomam parte ... e o medo tomou conta de todos, até mesmo da comunidade cristã ... Ir para a rua é então um imperativo para recuperar a nossa liberdade ...Chamamos ao grupo de "por Ema e nossa Victoria" e até agora nós três temos participado.

" Eu vi a miséria do meu povo, ouvi o seu grito de dor, eu desci do céu para libertar" (Ex. 3, 7-8) Quando andamos pelas ruas de nosso bairro, O que vemos? O que escutamos? ... QUE FAZEMOS? Daí a nossa resposta tem que surgir ...

Irmãzinha Donata de Jesús

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No encontro de Região nos perguntamos como ir encontrar os imigrantes que tentam chegar à Europa e vem pela costa, principalmente Lampedusa e Sicília. Os dramas que vivem nos tocam profundamente. Irmãzinha Roula (libanesa) veio por alguns meses viver em nossa região antes do ano comum. Falando árabe, ela poderia mais facilmente chegar a muitos jovens imigrantes. Graças à sua disponibilidade e a de irmãzinha Egilda pudemos fazer este pequeno sinal de proximidade.

Você vai encontrar nas linhas seguintes textos do diário das irmãzinhas após a sua estadia na Sicília.

Irmãzinha Roula conta: "As horas desesperadas são realmente as horas do Bom Deus" (Irmãzinha

Madalena 25/02/1939) Sábado 21: De Roma para Catania é uma longa jornada - com 1h e meia de

atraso - especialmente para mim que venho de um país de 10 452 km². Chegamos de tarde em Catania. Maurilio (diretor da Caritas) e Fabio (um de

seus empregados) nos esperam na estação. Nos acompanharam até Modica, uma hora de carro. Ali ficamos no centro da Caritas "Casa Don Puglisi". A recepção é

muito calorosa ... Após a refeição, bem merecida, pelas 09:15 da noite, deitamos.

Segunda- feira 23: Chegando nas Irmãs Franciscanas em Pozzallo, entramos; jovens dormem em colchões no chão. Eu os saúde em árabe e eles se levantam e se agrupam em torno de mim. Eles são mineiros egípcios chegados há dois dias. Insistem para que eu sente com eles no chão e começa a conversa! Eles começam a contar-me todas as coisas horríveis que aconteceram durante a sua viagem ... 4 dias no barco sem alimentos, apenas algo para beber. A água entrava no barco e tinham que esvaziar com baldes ... Houve uma tempestade e tiveram muito medo.

São dez jovens entre 15 e 17 anos. Eles vieram trabalhar para ajudar suas famílias. Um deles quer voltar ao Egito e me pergunta se isso é possível. Outro quer viajar para a Alemanha, onde está seu irmão, o outro sonha ir à Roma.

Eles têm muitas perguntas a fazer. Eles só falam o árabe, e o assistente que os acompanha fala Inglês. Eles dizem SIM em tudo, sem entender nada.

A coisa mais importante para eles é “chamar” seus pais para dizer-lhes que eles chegaram com segurança. Mas parece que isso não é evidente. Awad foi capaz de dizer uma pequena palavra para a sua família pelo Facebook. Um favor que fez a irmã porque eles não têm acesso a computadores.

Eu tentei sempre que possível para acalmá-los, rir com eles ... mas principalmente eu ouvia. Eu ouvi seu sofrimento, eu vi rostos jovens, mas cansados, preocupados com o seu futuro, como devolver o dinheiro que pagaram para chegar (35.000 guinéus = 3,500 €).

Quinta-feira 26: ... De volta à estrada, de ônibus para Pozzallo. O condutor é um siciliano gentil! Egilda conta-lhe o nosso projeto e pede-lhe para deixar-nos o mais perto possível do porto, mas ele queria participar de alguma forma da nossa iniciativa, leva-nos até o porto! Sim, ele mudou de rota para deixar-nos à porta ... OBRIGADA!

Não tendo o direito de entrar no centro de identificação ficamos na calçada e atrás das barras de ferro começamos a dizer Olá. Um homem respondeu: é de Eritreia. Eu me lanço em árabe. Outros chegam e amplia o círculo. Depois de um certo tempo Gaya nos vê. Eram 10 horas da manhã. Ela diz que eles podem vir e se aproximam de nós. Em seguida, se reúnem na rua e as histórias começam. Bachir fala árabe muito bem e nos diz que eles chegaram no dia anterior. Em seu rosto moreno você pode sentir a tristeza e decepção ... As razões são inúmeras, acima de tudo, obrigando-os a colocar suas impressões digitais para a identificação. Um

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Aproximando-nos dos migrantes. Lampeduza. Itália.

São inúmeras as notícias sobre os imigrantes que arriscam suas vidas, cruzando as fronteiras fugindo das guerras, da fome,

da miséria, da falta de oportunidades, buscando um futuro melhor... Irmãzinha Madalena reagia a todo tipo de fronteiras...

Sempre procurava ultrapassa-las. As Irmãzinhas da Itália nos contam...

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jovem, se não fora pouco o que viveu, foi espancado na cabeça para forçá-lo a dar suas impressões digitais. Bachir explica que esses eritreus não querem ficar na Itália, porque sabem que aqui eles não têm chance de encontrar trabalho. Seu amigo está aí há 5 anos, e perambula em Roma como um mendigo para comer restos de comida em restaurantes. Não Bachir não quer chegar a esse ponto. Alguns jovens se feriram nos dedos para evitar deixar suas impressões digitais. Bachir explicou: "Eles não entendem que queremos respeitar as leis, mas vai custar-nos a vida". Em seguida, ele acrescenta: "Ontem eu perdi tudo", e em algum momento a pergunta: "os italianos sabem o que acontece aqui?". Bachir está muito emocionado com a nossa pequena iniciativa, nossa escuta ... Voltamos com coração ardendo: ... Cristo estava entre nós, com os braços abertos na cruz ... para abraçar esta humanidade sofredora ...

Sexta-feira 27: Voltamos a Pozzallo caminhamos em torno do lugar de acolhida e encontramos Ibrahim da Eritreia. Ele pergunta se podemos chamar um amigo na Itália, apenas para dizer que ele está ai. Um pouco mais tarde, vemos a Bachir. Eu chamo e vem para nos cumprimentar com um sorriso bonito. Não tem muito dinheiro e ele se sente em dificuldade porque necessita chamar seu primo na Noruega e não consegue. O telefone celular dele não funciona e para comprar na Itália um cartão de telefone italiano precisa ter documentos. Em Bari tem um amigo que pode dar-lhe dinheiro, mas não pode comunicar-se e pergunta como ele pode enviar dinheiro se ele não tem passaporte. Nós tentamos ajudar e nós oferecemos para telefonar a seu primo e seu amigo. Ele diz: "O dinheiro podemos receber de alguma maneira, mas nem todo dia pode-se encontrar bons corações que estão interessados ??em você."

Sabemos por ele que as pessoas que estão agrupadas na praça do centro são sírias que estão se preparando para partir. Então ele nos faz o favor de ir chamá-los, parecem muito ocupados. Um jovem, Mohamad, está vindo para falar. Ele é de Damasco e esteve recentemente na Líbia. Ele está muito chateado com a forma como são tratados aqui. Com ele podemos falar sobre a difícil situação na Síria.

Vimos, como um grupo de sírios (famílias com crianças) entram em um táxi, aproximamo-nos para cumprimentá-los e percebemos que eles são incapazes de se comunicar com o motorista. Então com irmãzinha Egilda começamos a traduzir do árabe para o francês e italiano e vice-versa. O chofer pede 220 € para Catania. Egilda explica para as famílias como fazer para continuar sua jornada com menos

gastos. Ela faz um pequeno mapa para que eles saibam para onde ir e como ir. Em seguida, 40 sírios, muitos dos quais são crianças, deixam o centro para ir para outro lugar. Eles deixaram na porta a pulseira numerada que estão usando ... Nós os ajudamos a transportar suas coisas um pouco mais longe da porta. Quatro taxistas vem em torno deles para convencê-los a ir com eles, nos propomos para traduzir e acabamos ficando com eles por quase uma hora. Alguns homens tinham ido ao centro da cidade para comprar cartões de telefone, a fim de encontrar uma solução para a sua situação.

Nós tentamos ajudar Mohamad, pai de 7 filhos, dando algumas informações: um pequeno mapa para explicar onde eles estão, como chegar a Roma, as distâncias, o preço dos trens. Voltamos tristes vendo todas aquelas pessoas perdidas sem qualquer referência ... Senhor tenha misericórdia!

Outra chamada: dois jovens indianos e três sírios acabam de sair da prisão. Seu navio foi queimado, faziam parte da tripulação e eles precisam de um tradutor. Caritas nos pergunta se nós podemos ajudar. Nós aceitamos e vimos que chegam a "Casa Don Puglisi" com o advogado. Fiquei com eles quase 3 horas. Eles não têm dinheiro e teria que encontrar alojamento e alimentação para aqueles dias. Caritas ajudou o melhor que pôde.

Também chamamos o primo de Bachir e seu amigo, mas não conseguimos comunicar com seu amigo.

Segunda-feira 30: ... Na parte da manhã deixando a "casa" encontramos Hani e Mostafa (dois dos três sírios chegados à casa com o advogado). Eles precisavam de um tradutor e, acima de tudo, não sabiam para onde ir, porque a polícia havia chamado. Então eles tiveram que enfrentar outra noite ... Salvatore, da casa, chama por telefone, envia onde estão os dois indianos (Munish e Anuj) que ficam no centro Caritas, não muito longe de nossa paróquia.

Os quatro não têm um centavo, porque eles perderam tudo no barco que queimou: E-mail, buscas na internet, telefone ... Eles são convocados amanhã às 15:00 em Ragusa com a polícia, na presença de um advogado e Gabriella nos pede para estar lá para a tradução. Nós vamos. Caritas convida-os para comer nas proximidades e vai pagar o ônibus para Ragusa.

Já são 09:00horas da noite. Eles nos deixaram alimentos. OBRIGADA ... estamos com fome!

Quarta-feira 2: Na hora do café da manhã, Souad (Tunisiana, que mora na casa Don Puglisi) me dá uma carta que ela escreveu para Mostafa (que decidiu ficar na Itália antes de seguir para a Alemanha) com o número de telefone de seu filho na

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Suíça e 20 Euros. Ela está emocionada, porque esses jovens lembram seu filho. Ele também viajou em condições difíceis. Chorou ...

Temos um encontro depois da missa, com quatro jovens. Entramos na casa e Egilda começa a telefonar: A Embaixada da Índia está fechada, é o aniversário de Gandhi. Vai ser amanhã! Munish e Anuj se desesperam! Nós tentamos acalmar a atmosfera ...

Para acomodar Mostafa em Roma, Egilda continua telefonando: os jesuítas, a Caritas Roma ... Centro Islâmico Cultural.

Roberta, voluntária de Caritas que segue de perto esses 4 jovens,vê chegar Hani com um saco de Nylon para as suas roupas. Ela dá-lhe a maleta do computador! A casa lhe prepara sanduíche, suco e água ... Roberta e eu a acompanhamos até a parada de ônibus. Hani viaja para a Síria às 2:30 pm - Obrigada Senhor!

Agora é a vez de Mostafa. Irmãzinha Egilda pergunta para o centro dos jesuítas em Roma, se pode recebê-lo, e dar-lhe as informações que precisa e há alguém que fala árabe. Vão lhe dar comida e pode tomar banho, mas eles não têm nenhum lugar para hospedá-lo! Egilda dá endereço detalhado com bilhete de metrô e o preço do ônibus e uma pequena contribuição: 10 euros.

O mais bonito é o gesto de Nicoleta (da Romênia), que vive na casa com seus dois filhos. Ela viu que Roberta ofereceu algo a Mostafa para a estrada, então ela quer contribuir também! Oferece-lhe suco e biscoitos que havia comprado para seus filhos e uma pequena mala onde coloca um casaco que tinha comprado para o seu irmão.

Roberta vai ao supermercado para comprar queijo, pão, água e um grande pacote de lençóis! Que delicadeza. Quando ela soube que Mostafa tem dor de estômago ela propõe adiar sua viagem e acompanhá-lo a seu pai, que é médico. Mas ele decide continuar sua jornada.

Mostafa deseja viajar para a Alemanha ... mas como? Sabemos que pelo menos esta noite ele estará seguro no ônibus ... Mas na noite seguinte será uma noite difícil! Voltamos novamente para o terminal de ônibus e acompanhamos Mostafa. Mantém as lágrimas com dificuldades.

Hani e Mostafa não sabiam como agradecer a todos aqueles que os ajudaram. As palavras eram insuficientes.

Logo depois saímos para o encontro diocesano em que somos convidadas para dar um pequeno testemunho. Oh Senhor! Tivemos que improvisar diante de quase 400 pessoas e diante do Bispo ...

Depois dessa experiência, eu gostaria de terminar com uma citação do irmão Marcos: "Colocando os pés nas pegadas de Jesus de Nazaré, vemos o mundo como ele é, que é o lugar da nossa experiência de amor é aí que experimentamos Deus, é aí que o Reino é construído, é aí que a nossa vida contemplativa é vivida".

Obrigada, Senhor, tu me escolheste como um pequeno instrumento para dizer tua ternura e proximidade com os oprimidos. Obrigada, pois você nos permitiu encontrar-nos algumas vezes "entre os crentes" e ter "o sabor de Deus" ...!

Irmãzinha Roula de Jesus

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Testamento de Irmãzinha Madalena:BOLETIM VERDEE

Em 1945, Irmãzinha Madalena escreveu rapidamente com lápis, antes de viajar, o texto que está no Boletim Verde: “Este é o meu testamento”. Sem ela saber, o texto foi distribuído nos seminários e difundido na revista “Vie Espirituelle”. O que provocou um grande eco e muitas reações nessa época.

O “Boletim Verde” marcou o impulso dos primeiros anos. Eis grandes trechos do capítulo “ Este é o meu testamento”.

COMO TESTEMUNHHA de JESUS, VOCÊ VIVERÁ NO MEIO DO POVO, COMO O FERMENTO NA MASSA.

Este é o meu testamento:Nessas páginas pus toda minha alma, o pensamento que me é caro e, ainda

que de modo ingênuo e desajeitado, eu o transmito como a mensagem de uma mãe às suas filhas.

Suplico a todos os que lerem estas linhas que não vejam aí a mínima censura a outras formas de vida religiosa que, há tantos séculos, vêm dando santos e santas à Igreja.

Trata-se, simplesmente, de uma concepção diferente, que tenta responder às necessidades de um novo século. [...]

Irmãzinha, você compreende bem o que, para uma religiosa, representa essa vocação para viver pobre entre os pobres, misturada a eles como o “fermento na massa”?...[...]

Você tem um Único Modelo: Jesus. Não procure outro.Como Jesus, durante a sua vida humana, você deve fazer-se tudo para

todos: árabe entre os árabes, nômade entre os nômades, operária entre as operárias, mas, antes de tudo, humana entre os humanos. [...]

Como Jesus, participe dessa massa humana. Penetre profundamente no meio em que vive e o que santifique pela conformidade com a vida dele, pela amizade, pelo amor, por uma vida como a de Jesus, inteiramente devotada ao serviço de todos, tão misturada à vida de todos que, de fato, você com todos forme uma só unidade, querendo ser no meio deles o fermento que se mistura à massa e a fermenta.

Ouso dizer ainda a você:Antes de ser religiosa, seja humana e cristã, em toda força e beleza do termo.

Seja humana para melhor glorificar o Pai em sua criatura de dar testemunho da Santa Humanidade do seu Bem Amado Irmão e Senhor Jesus. [...]

Repito isso com tanta insistência principalmente porque tenho diante dos olhos o Modelo Único, Jesus, Deus feito homem que, no meio de todos os seres humanos, foi simplesmente um deles, vivendo com amor a vida humana, deleitando-se em viver no meio dos filhos dos homens, Jesus, que não hesitou em esconder sua dignidade humana que Ele exaltou ao revestir-se de nossa humanidade.

E, no entanto, que abismo entre Deus e o homem!...E essencialmente, se Deus se encarnou, apesar desse abismo, não foi para nos servir de Modelo? Ousaríamos dizer que agimos de modo diferente do divino Modelo? Ele é Jesus: Jesus Operário, Filho de Maria e Filho do carpinteiro José, Jesus em Belém, Jesus de Nazaré, Jesus nos caminhos da Palestina, Jesus durante a Paixão, aceitando morrer, por amor, na cruz erguida em meio a uma multidão de homens que o cobriam de opróbrios...

A regra das Irmãzinhas de Jesus lhe pedirá que subordine sempre as prescrições da vida religiosa às do Evangelho e você deverá sempre colocar a Caridade acima de todas as regras, fazendo dela a Regra suprema, o maior mandamento de Jesus. [...]

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Muitas vezes, será necessário saber romper a tranquilidade do silêncio e do recolhimento para receber Jesus em toda criatura que venha bater à porta da Fraternidade..[...]

Você não viverá separada do mundo a pretexto da reserva religiosa, mas imitará Jesus, o Modelo perfeito de toda vida humana. Como Ele, quando necessário, comerá com seus irmãos alegrando-se com todos. Aceitará simplesmente a hospitalidade que lhe ofereçam, vivendo fraternalmente em meio deles a sua vida cristã e vida religiosa para revelar a beleza e a grandeza delas.Talvez a censurem, então, como Cristo, por comer com os publicanos e pecadores, por misturar-se ao povo, aproximar-se demasiado das pecadoras públicas, deixar que as crianças perturbem...

Dirão que lhe falta dignidade religiosa, mas que importa?“O discípulo não é superior ao mestre, mas é perfeito, se é como o mestre”

(Lc 6,40)[...] Você procurará desenvolver a sua vontade o mais plenamente possível,

para ficar sabendo até onde podem ir sua força e seu poder, desde que de pleno acordo com a Vontade divina, contando com a Onipotência de Jesus, Senhor do impossível.

Deverá crer, com audaciosa fé de transportar montanhas, que Ele poderá transpor os mais intransponíveis obstáculos e assim as palavras: impossibilidade, inquietação, temor, perigo, não terão mais sentido para você. [...]

Não lhe será pedido, sob pretexto de humildade, que destrua sua capacidade de julgar, abafe sua personalidade, negue ou dissimule seu talento. A humildade é a verdade e o talento é, sobretudo, um dom que Deus lhe deu para fazer frutificar. [...] Cultive sua capacidade de julgar, e submete-a total, mas inteligentemente, à obediência religiosa. Desenvolva ao mais possível a sua personalidade, mas unicamente para colocá-la a serviço de Cristo. [...]

Se você quiser dar inteiramente sua vida, bastará seguir o Modelo único, Jesus no Evangelho. [...]

No CORAÇÃO das MASSAS HUMANASVocê deverá viver sua VOCAÇÃO CONTEMPLATIVA.

Será que você tem consciência de que, sob a aparência exterior de uma vida de apóstola, essencialmente você deverá ser contemplativa?

[...] Para que possa, sem imprudência, misturar-se intimamente à massa humana e, sobretudo, para que possa transformá-la, será necessário que você se encha de Cristo até fazê-lo transbordar. É Ele que, irradiando através de você, será o fermento divino.

Para que as fraternidades possam ficar ao abrigo do perigo e, sobretudo, dar fruto, sendo abertas e acolhedoras, é preciso que irradiem, ao mesmo tempo, oração, paz e alegria. Será preciso que você aí viva em presença de Jesus, como na santa morada de Nazaré, no recolhimento do amor, tendo o coração e o espírito tão cheios de Jesus que, através de você, Ele se irradie e transborde. [...]

Contemplativas no meio do mundo...Se ousar afirmar que a vida contemplativa pode desabrochar tanto no coração das massas ou nas estradas como no silêncio do claustro desconcerta os que desejariam reservá-la exclusivamente ao ambiente recolhido da vida monástica, é porque eles se esqueceram de olhar Jesus, o contemplativo por excelência, Jesus durante a sua vida oculta em Belém e em Nazaré, Jesus durante a sua vida pública e pelas estradas, Jesus que se retirou apenas quarenta dias no deserto, longe da multidão, mas viveu trinta e três anos no meio dos seus, Era Deus, é verdade, mas encarnou-se para nos traçar o caminho. Impossível desgarrar-se, quando se segue Jesus e quando se quer imitá-Lo. [...]

Não lhe causem temor as expressões: “vocação contemplativa”, “contemplação”. Que elas não lhe tragam ao pensamento a ideia de uma vocação excepcional, de algo tão elevado que a maioria das pessoas não possa alcançá-la.Á luz do Irmão Carlos de Jesus, que essas expressões evoquem a atitude simples, confiante, amorosa da alma em conversa com Jesus, as ternuras da criança pelo pai, as expansões do amigo com o amigo:

“Quando amamos, desejamos conversar continuamente com a pessoa amada, ou, pelo menos, queremos olhá-la sem cessar. E a oração não é mais que a conversa familiar com o Bem Amado. Nós O fitamos, dizemos-lhe que O amamos, gostamos de ficar a seus pés..”(Irm.Carlos de Jesus, Escritos Espirituais, p.3) [...]É isso, no essencial, a oração, é isso, por excelência, a contemplação.

No trabalho, nas viagens, em meio á multidão, para ser contemplativa, bastará simplesmente que você erga os olhos para Jesus e comece a conversar com Ele, como com o ser mais querido do mundo:

“Que Ele seja o Rei dos nossos pensamentos, o Senhor de nossos pensamentos, que seu pensamento não nos deixe nunca, e que tudo que dissermos e pensarmos seja para Ele, seja pelo seu Amor”. (Irm. Carlos de Jesus, Escritos

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Espirituais, p.14)E assim você não se deixará dispersar no meio do mundo:“Quando se ama, não se perde de vista o que se ama... Quando se ama, só

se pensa em uma coisa: o ser amado. Só se inquieta com uma coisa: com o bem do ser amado, com a posse dele... Quando se ama, só uma coisa existe: o ser amado...Se um coração ama a Deus, pode ele encontrar espaço para inquietação, para cuidados matérias?” Irm. Carlos de Jesus, Escritos Espirituais, p. 14-42)“Rezar é pensar em Jesus, amando-O. Quanto mais O amamos, melhor rezamos”. (idem, p.162)

Mas é necessário que você se forme para essa vida contemplativa.Para formar-se levará uma vida de adoração, “a mais completa expressão

do perfeito amor”, uma vida de oração, inteiramente centrada em Jesus, presente e vivo na Eucaristia e no Evangelho. Você terá uma vida eucarística e se esforçará por fazer de seus dias uma ação de graças perpétua, multiplicando, sem outro limite que o seu amor, as comunhões espirituais.

O Evangelho será o seu tesouro. Ele é o livro da Vida que contém a ciência do Amor. Com ele, deverá impregnar sua inteligência e coração para que você possa tornar-se uma pregação viva do Evangelho, um Evangelho vivido.

Você terá um MODELO ÚNICO: JESUSJESUS-CARITAS JESUS-AMOR

[...] O Irmão Carlos de Jesus não abriu nenhum caminho novo, mas o único, o caminho de Jesus. Escolheu um Modelo Único: Jesus, um só Mestre, um só Senhor: Jesus. Ele lhe dirá que não tenha outro pensamento, outro amor, outro desejo, a não ser Jesus. Ele lhe dirá que só uma coisa é necessária: amar a Jesus. [...]

Ele lhe falará do amor, para fazê-la participar do Amor de Jesus. Pedirá que o ame exclusivamente, que seja o lugar do seu repouso e o jardim de suas delícias, que deseja pensar só n'Ele, viver só para Ele, querer trabalhar e sofrer com Ele...Você também quer seguir o Caminho único, o Caminho de Jesus? [...]

Sua fraternidade, então, deverá ser um foco irradiante de amor como a primeira fraternidade de Jesus, em Nazaré, o Amigo íntimo, o Irmão e ao mesmo tempo, o Mestre, o Senhor Bem Amado. A oração será feita aos seus pés, o trabalho com Ele, e o repouso ao Seu lado. O Amor, encarnado na Pessoa de Jesus, será seu

caminho espiritual.Sua missão será fazer com que Jesus e a caridade reinem em seu coração e

ao redor de você. Ela se realizará com Ele, por Ele e n'Ele.Seu nome de “Irmãzinha de Jesus” será símbolo de seu amor.Seu emblema será o Coração de Jesus, atravessado pela Cruz, símbolo de

sua missão de amor e imolação. Seu método será o de seu único Mestre, Jesus, pela bondade, pela

amizade, pelo amor.E Jesus se tornará a única paixão de sua vida. [...]

E acima de tudo com um CORAÇÃO DE CRIANÇAVocê deverá receber o PEQUENINO JESUS DO PRESÉPIO

Das mãos da VIRGEM MARIA, SUA MÃE.

Poderia ter sido o começo, como foi para o seu Modelo Único, Jesus. Talvez, porém, tenha esquecido de olhá-Lo com bastante amor e não O tenha contemplado o tempo suficiente sob esse aspecto humilde, sem grandeza e sem majestade que, a princípio, também a desconcertou um pouco...

Até aqui você procurava feitos grandes e belos e ficou decepcionada. [...] Você decepcionou-se mais na medida que pôs mais de si mesma nesse desejo de grandes e belos feitos, toda sua inteligência, toda sua vontade, todo seu amor, tendo, dentro do seu coração as mais retas intenções e as ambições mais santas. [...]

Você queria oferecer ao Senhor os resultados de suas iniciativas, correndo a Ele alegre, de mãos cheias. Esquecia-se. Porém, de olhar para Ele, seu único Modelo. Ele só tinha para apresentar-lhe as mãos perfuradas pelos cravos da Cruz, as mãos calejadas pelo trabalho da oficina, ou então mãozinhas tão impotentes no presépio...

E esse presépio, você o contemplava distraidamente ou com o olhar desdenhoso de adulta para quem é fácil pensar que nada tem a ver com ele e se tivesse, seria no tempo do Natal.

Você ficava olhando por mais tempo para a cruz. [...] , você olhava a oficina do Carpinteiro [...] , você contemplava o Cristo nas estradas, curando e abençoando, [...]e assim você esquecia de olhar com bastante amor a vida toda de Cristo, que começou no Presépio, seu berço, no qual Ele foi simplesmente uma criancinha como as outras, não uma criança extraordinária, não um menino

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prodígio, mas uma criança igual a você, uma criancinha sem nenhum encanto nas primeiras horas e nos primeiros dias, chorando de frio na palha, e que se colocou por amor, num estado de total dependência.

Foi essa, inicialmente, a condição de nosso Deus, e Ele quer ser contemplado e adorado nesse estado, não só pelos pequenos, mas também pelos grandes, pois que aceitou a adoração dos pastores e dos magos. [...]

Para compreendê-lo, é verdade, é preciso ter olhos de criança, coração de criança. Esquece-se facilmente que esse estado de infância espiritual não está reservada apenas a algumas pessoas, mas tornou-se obrigação de todos depois que o Senhor Bem Amado, tomando uma criancinha pela mão, colocou-a no meio dos grandes que disputavam o primeiro lugar e sonhavam com um reino terrestre, dizendo a todos:”Se não vos fizerdes como essa criança, não entrareis no Reino dos céus”. [...]

[...] Então para fazer que você compreenda melhor isso, o Senhor a reduziu à impotência, impotência advinha da doença que deixava incapaz do mínimo esforço pessoal, impotência, mais dolorosa ainda, de quem se debatia sem forças no meio de tentações, no desgosto pelo trabalho e pelo sofrimento.

E pouco a pouco, cansada de todos esses esforços inúteis, você se surpreendeu a pensar no Presépio e nos Natais de outrora e sua fatiga e seu sofrimento se acalmaram por algum tempo, como sempre acontece, mesmo aos mais endurecidos corações, ante o olhar claro de uma criança.

“Fazendo-se pequenino, tão manso, Ele lhes diz: Confiança! Familiaridade! Não tenha medo de mim! Venham a mim! Não tema, não fique tão tímido diante de uma criança tão terna que lhe sorri e estende os braços. Ela á seu Deus, mas um Deus cheio de doçura e sorriso...Seja também ternura, amor e confiança...” ( Irm. Carlos de Jesus, Escritos Espirituais, p. 132)

Agora, então, eu gostaria que você contemplasse longamente esse presépio, à luz da estrela que guiou e alumiou os Magos e compreendesse a lição dele. Deixe sorrir os que não as compreendem ainda. Sobretudo não lhes apresente, no Presépio, um aspecto que os desconcerte. Ele tem algo de muito belo e grande, esse Presépio de Belém, porque contém o Cristo todo inteiro, Deus e

Homem, e porque há no prolongamento desse berço toda a oficina de Nazaré, a Paixão, a Cruz, toda Glória da Ressurreição e do Céu.

Por um excesso de amor o Cristo, Filho de Deus, quis passar pelo estado de impotência de todas as crianças, o único estado que coloca um ser nas mãos de outros, num total abandono. [...]

Olhe para o Presépio [...]. Que o Presépio lhe evoque simplesmente Aquele que é o seu Deus e que a chama para segui-Lo, nesse espírito de infância e de abandono. Que com Ele você tenha, em relação à Virgem Maria, sua Mãe, o terno abandono, a exigência do pequenino que tem necessidade da mãe à beira do berço.Lembre-se como é triste o berço sobre o qual a mãe não se debruçou.

[...] Nunca se considere grande diante da Virgem Santíssima. Deixe que Ela a envolva em sua ternura materna. Peça-lhe que lhe ensine os segredos do seu amor para com Deus. E a ajude a ser sempre a “serva do Senhor”, no verdadeiro papel de mulher que deve saber doar-se plenamente, mas desaparecendo e esquecendo-se.

[...] É a Ela, a Medianeira de todas as graças, que eu a confio também, pedindo-lhe que receba de suas mãos o Pequenino Jesus para guardá-lo sempre com você, levá-lo por todo o mundo, com sua mensagem de pobreza e simplicidade, paz, alegria e amor... amor universal, acima das divisões de classe, de raça ou de nação, a fim de que reine entre os seres humanos

A Unidade no Amor do Senhor.Quer você receber esta mensagem que contém o essencial da mensagem

do Irmão Carlos de Jesus, o essencial do espírito da Fraternidade das Irmãzinhas de Jesus?

É por esse sinal que você reconhecerá se o Senhor Jesus a chama para tornar-se uma irmãzinha, seguindo o Irmão Carlos de Jesus.

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-Algo da história No contexto da missão jovem, a celebração dos 60 anos no Chile das

Irmãzinhas de Jesus e inspirada na experiência da Semana de Nazaré aos seminaristas, promovida por uma equipe da fraternidade sacerdotal, foi lançado no ano de 2012 um novo projeto: A Semana de Nazaré para jovens. Ela foi concebida no desejo de partilhar com os jovens de 18 a 29 anos, os principais aspectos da espiritualidade das fraternidades fundamentada no testemunho de fé e de vida do Irmão Carlos de Foucauld. Convencidos de que o caminho espiritual é ainda relevante para o nosso tempo, nos lançamos na aventura de organizar a primeira semana de encontro. O convite foi promovido através da fraternidade em seus diferentes rostos e por meio dos diferentes espaços da pastoral orgânica da juventude (pastorais juvenis, pastorais universitárias, etc.). Durante cinco dias, se buscou propor uma aproximação aos elementos fundamentais do caminhar espiritual do Irmão Carlos:

A vida em fraternidades, o encontro com Jesus, a adoração eucarística, o testemunho do Irmão Carlos, Nazaré e o trabalho manual, a experiência do deserto e a revisão de vida, foram os pilares sobre os quais se articulou a primeira semana, modelo que acompanhou também nos anos seguintes. Esta instância foi concebida como uma iniciativa conjunta da fraternidade nos diferentes rostos que ela tem no Chile, contando na equipe organizadora as Irmãzinhas de Jesus, a fraternidade sacerdotal, a fraternidade leiga e a Sodalício.

2. Olhar de conjunto 2012-2014 O projeto da semana de Nazaré para jovens surge como uma autêntica

aventura e um salto ao inesperado. No entanto, em total abertura ao que o Espírito e a realidade foram mostrando, esta iniciativa se projetou com alguns acentos particulares:

A)/ Uma dinâmica de vida em fraternidade Desde o início, a organização dos participantes em pequenas fraternidades

com as quais se partilhava a vida, a oração e a caminhada da semana foi favorecida.

B). Uma reflexão marcada pelos elementos fundamentais da espiritualidade do Irmão Carlos de Foucauld.

O tema de reflexão proposto durante a semana foi fundamentado sobre os principais aspectos da espiritualidade de Charles de Foucauld, com o esquema: A pessoa de Jesus A adoração eucarística e Carlos de Foucauld - Nazaré e o trabalho manual O dia do deserto - A revisão de vida. Cada um dos temas vai acompanhado pela experiência concreta e serve como espaço para recolher o vivido. Por exemplo, a temática eucarística acompanha a experiência de adoração proposta no segundo dia; a reflexão sobre Nazaré acompanha a partilha das experiências de trabalho realizado em cada setor. A reflexão sobre o deserto enquadra a experiência de oração e solidão, da mesma forma que a experiência da Revisão de vida é precedida por um marco de referência. O esquema do processo reflexivo foi semelhante nas três experiências e se considera apropriado.

C). Uma proposta que poderia abrir novas perspectivas entre os jovens.

A origem desta iniciativa se enraíza no desejo de partilhar com os jovens o poço espiritual do qual nos temos alimentado e nos deixarmos impactar pelo caminho espiritual do Irmão Carlos de Foucauld. Sabe-se que por muito tempo as fraternidades marcaram o acento no testemunho silencioso e implícito, questionando a possibilidade de partilhar de maneira explícita os diferentes aspectos da espiritualidade de Carlos de Foucauld. Respeitando a diversidade de posições e interpretações à respeito, mas com profunda convicção de que este caminho é de uma grande atualidade e pode ser oferecido também para as nossas gerações, a Semana de Nazaré é concebida especialmente como um espaço de partilha com os jovens, o que tem sido bom para nós. A resposta dos jovens e as

TERCEIRA SEMANA DE NAZARÉ DA JUVENTUDEREVISÃO DA CAMINHADA 2012 2014. Chile

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impressões recolhidas em cada uma das avaliações, nos confirmam no sentir de que vale a pena socializar este caminho com todos seus elementos de maneira explicita, sem interesse de proselitismo, mas sob a ideia de fazer presente em nosso momento histórico uma vertente que pode ajudar e oferecer respostas às buscas espirituais de hoje.

D). Uma experiência do conjunto das fraternidades. Este espaço nasce como uma iniciativa que reúne algumas das diferentes

instâncias das Fraternidades presentes no Chile. Esta experiência destaca um dos grandes aportes que a família espiritual pode contribuir para a vida eclesial do nosso tempo: a possibilidade de estimular a interação e comunhão profunda da diversidade das expressões do legado espiritual de Irmão Carlos ao longo da história.

Neste espírito, a proposta da Semana de Nazaré foi pensada com a contribuição direta dos diferentes ramos da espiritualidade que fazem parte da equipe. Deve ser enfatizado que a terceira semana teve uma nota particular e muito esperançosa: não tendo membros da fraternidade envolvidos na equipe local, foram dois jovens que participaram das experiências precedentes que assumiram esta tarefa.

e) Como dar continuidade a este espaço? Um dos aspectos que se percebe como uma verdadeira "dívida" para a

Semana de Nazaré é a continuidade que pode ser dado a este espaço, especialmente no desejo de seguir acompanhando os jovens que fizeram parte da experiência.

Uma das iniciativas propostas foi a de acompanhar por pequenas fraternidades de jovens das diferentes zonas que participaram, gerando, se é possível, fraternidades juvenis. Para isso, já se contaria com uma fraternidade em Caldera, uma em La Serena-Coquimbo, uma em Concón-Viña-Valpo, duas ou três em Santiago e uma no sul, que poderia convocar Temuco e Chiloé.

3. Projetando o futuro

O objetivo desta releitura da experiência é baseado na alegria de ver o que Deus fez através deste acontecimento, mas também no fato de sentirmos profundamente responsáveis dos frutos que cada uma das Semanas tem gerado. O apelo crescente e, sobretudo o interesse e a profundidade de partilha manifestada

pelos jovens participantes nos motivam a sonhar com maior solidez a projeção que vamos dando a este espaço. O final do primeiro ciclo de três anos, a resposta oferecida pelos jovens participantes e a comemoração dos 100 anos da Páscoa do Irmão Carlos nos serve de incentivo para lançarmos com esperança, na aventura de dar continuidade a esta instância.

Na reunião de avaliação foi assumido que a Semana de Nazaré é uma instância que merece continuidade. Reconhecendo que a nota de "itinerância" é uma força para a experiência, se propôs Chiloé como local para a próxima "Semana de Nazaré 2015". Partilhamos o convite que nos fez uma das participantes:

Irm@s: Se você tem este carta em tuas mãos, é porque Deus está convidando você

a participar da Semana de Nazaré.

Como jovem, eu te digo que entregues isto a Deus e que participes. Através das minhas palavras espero te contar o que está em meu coração.

Bem, no princípio, as possibilidades, os tempos, as responsabilidades, me diziam NÃO, não podes. Entreguei o convite a Jesus e senti uma tranquilidade com que eu disse que sim, sem dúvida, o Senhor me quer em Temuco: Chol-Chol.

De Chiloé saí com um desejo de entrar na imensidão de Deus, que só queria que chegasse para poder viver esta nova oportunidade de Deus. Posso te dizer que, em Cristo busquei e encontrei.... o que necessitava. A este Jesus tão lindo, pequeno e simples que todos os dias me surpreendia. Só faltava tirar os fones do ouvido para ouvir este Jesus que me gritava ao coração que o escutasse. Assim fiz e creiam-me e não se arrependerão de mostrar-se a Cristo tal e como são: Deus me ama, te ama e esta Semana de Nazaré é um momento único e precioso que Deus tem para ti ... não te arrependerás da decisão tomada depois de vivê-la.

Anita Pérez Marquez.

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Irmãzinhas de Jesus

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Contate-se conosco:

www.hermanitasdejesus.org

“A condição cristã no mundo está passando por profundas metamorfoses que hão de exigir do cristão do futuro que volte a beber das fontes mais profundas do Evangelho. E, nisso, a experiência de Irmãzinha Madalena é iluminadora: por sua radical conversão ao Evangelho como “norma de vida”; por sua opção por privilegiar o testemunho de vida na evangelização, de “gritar o Evangelho com a vida”; por sua radical proximidade com o humano, vivendo dentro de situações- limite da vida misturada e perdida no cotidiano, como o “fermento na massa”, resgatando o seu sentido e esperança; por sua universalidade sem fronteiras e por sua capacidade de unir-se ao outro/a acolhendo e integrando a sua diversidade social, cultural, racial, religiosa, etc....No futuro, a “condição cristã” terá de ser vivida num mundo cada vez mais secularizado e numa realidade religiosa e cultural plural. Não poderíamos encontrar inspiração nesse testemunho de vida?”(Carlos Palacio SJ. Prólogo da edição Latino Americana do Boletim Verde).