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Achamo-nos inseridos numa sociedade e em tempos com infinidades de sedutoras ofertas, sejam produtos industrializados, comercializados e expostos à larga nos shoppings e lojas; sejam ideias e ideologias de todo jaez para todos os gostos; sejam ainda prazeres e lazeres, desde os mais ingênuos, os instrutivos até os espetáculos mais lunáticos e paranoicos, senão instintivos e primitivos – há, afinal, uma infindável ciranda de opções à disposição de nossos olhos, bolsos e fantasias. Consumidores cada vez mais exigentes, críticos. Gerações extravagantes, alucinadas, impertinentes... O mundo competitivo nos esfrega na cara e nos exige uma obsessiva busca pela autorrealização, pela autoafirmação, pela autoimagem. Um bombardeio ininterrupto de informações, fascinações, armadilhas... Somos convocados, de forma perplexa, ao sucesso, à prosperidade, ao poder, ao ter; o que pode nos conduzir à perda da objetividade e do foco existencial, à definição de que e quais valores realmente nos são importantes. Somos levados, enfim, a extremos entre a ousadia e a estagnação, entre o aprovado culturalmente e o ridículo. O que nos requer discernimento, competência, preparação. A maturidade faz-se imprescindível. Prudência, fé. Muitas indecisões e imprecisões, contudo, são frutos do medo, da cultura, da tradição, da indolência, da repressão, do receio da opinião pública e de se remar contra a corrente. Nem afoitezas, nem imobilismos. Necessário planejamento, mente pensante, divagante, mas com o pé no chão; saber aonde queremos levar o barco, pois, como diz o ditado “não há ventos favoráveis para o navegante que não sabe a que porto quer chegar”. As oportunidades, enquanto formos irresolutos, podem estar passando. Situações há que exigem denodo, exercícios, sacrifícios. Decisão. Ação. Uma passagem bíblica sempre nos chamou a atenção quando o Senhor ordena a Abraão sair de sua terra (Ur na antiga Mesopotâmia e onde o patriarca estava todo estruturado, em termos de família, de patrimônio, de poder e relações), levantar suas tendas, desprender-se de tudo e deslocar-se rumo a Canaã, ao desconhecido. “O Senhor disse a Abraão: Deixa tua terra, tua família, a casa de teu pai e vai para a terra que eu te mostrar” (Gn 12, 1) Nos Atos dos Apóstolos vemos, de igual forma, Paulo indo a Jerusalém sabendo que lá o esperavam sofrimentos e cadeias (At 19,21). Destino similar ao de Cristo que, “ao aproximar o tempo de seu arrebatamento deste mundo, dirigiu-se a Jerusalém” (Lc 9,51) Todo êxito individual, profissional ou coletivo requer, inexoravelmente, esforço, preparação, persistência, dedicação, foco, comprometimento. Não há frutos ou produtos do acaso. Não se pode acomodar, dar-se por vencido. O objetivo maior: planejarmos a semeadura, lançarmos a semente, cuidarmos da messe ou levantarmos âncoras ou desativarmos tendas em direção às terras distantes ou às missões próximas a que fomos chamados. Impulso, empenho, treinos, a perseverança constante do atleta no intuito de alcançar resultados. Envolvimento, abnegação, não só em nossas tarefas pessoais, mas igualmente nos projetos de interesse coletivo, em que devemos realizar o melhor, doarmos o máximo de nossas habilidades e potencialidades em prol da transformação da vida do próximo, da expansão e expressão maiores de nossas comunidades e da estabilidade do planeta. Sermos testemunhas, darmos o testemunho de nossa real missão no mundo: servir a Deus, ao seu Reino através do amor fraternal, do trabalho digno, da geração de frutos sadios, de nosso aprimoramento ontológico. Afinal, há um imenso passivo social, humano e espiritual a ser preenchido. Glebas a serem operadas, mesmo que já iniciada a tarde. E para isto, há um legado, uma tarefa, uma missão que nos requisitam tempo, esforços, suores, investimentos... UM APELIDO INDIGESTO AO PÉ DA FOGUEIRA Fatos pitorescos, históricos, lendários, folclóricos etc...de São Tiago e região Boletim Cultural e Memorialístico de São Tiago e Região | Ano V . N° L . Novembro de 2011 Acesse o Boletim online no site www.portalsaotiago.com.br EDITORIAL Era proprietário rural, homem conceituado, de assinaladas posses para os padrões da época e da região. Tinha um senão: o apelido “Biscoito”, que lhe fora dado sabia-se Uma multinacional daquelas vezeiras e exploradeiras do suor alheio, mancomunadas com nossos políticos espertalhões e burocratas encastelados no Governo, aproveitando falta de organização e o espírito lá o porquê (talvez por sua afinada estatura, outros que seriam ranços vindos da infância), ao qual votava a mais mórbida reação e indignação. Ai de quem sequer lhe mencionasse a indigitada e proibida palavra. Ou que lhe risse à socapa, no disfarce. Ou lhe fizesse qualquer brincadeira, insinuação. - impropérios, rusgas e inimizade na certa. À mesa, ou em situações em que a palavra era inevitável, o interlocutor, mesmo familiares, tinham que desenvolver uma ginástica léxica, acrobacias semânticas, para denominar o objeto “biscoito”. Tinha-se que estar com um extenso vocabulário na ponta da língua e dizer quitanda, pitéu, guloseima, petisco, peta, chipa, tira-torto, cobu, jimbolô... O maltratado caminhão leiteiro peregrinava diariamente por aquelas bandas, estradas municipais como de sempre precárias, batendo ponto e biela, descendo e subindo enferrujados latões, fazenda a fazenda, sítio a sítio. Uma via sacra de anos, décadas, sol e chuva, poeira e barro. O leite coletado, arrancado gota a gota das tetas das vacas crioulas e pé-duro, conduzido para a indústria de laticínios em Bom Sucesso. cooperativo do sugado produtor rural. Certo dia, como fazia ocasionalmente, nosso amigo pega carona no caminhão. Teria uma série de compromissos na cidade. Compras, uma consulta com o Dr. Ari, algumas tira-dúvidas com o Dr. Sebastião Resende, uma ida à agência do Banco do Brasil, uma esticada no escritório do Funrural. O caminhão, aliás, um cargueiro, - carregando latões, sacarias, leitões, gente – para a porteira de uma fazendola vizinha, recepcionando o leite ali ordenhado. Uma lavoura de milho à beira do curral chama, de pronto, a atenção do caroneiro. Hastes de milho frágeis, finas, com um certo desânimo para crescer. Pergunta, irônico, ao proprietário ali próximo, acabando de subir as latas de leite até à carroceria. _ Que danada de raça de milho é esta?! Milhozinho empertigado, chucro, hein?! O fazendeiro na bucha: - Ah, é uma variedade de milho própria, especial para fazer biscoito! Deu inimizade e das bravas.

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Achamo-nosinseridosnumasociedadeeemtemposcominfinidadesde sedutoras ofertas, sejam produtos industrializados, comercializados e expostos à larga nos shoppings e lojas; sejam ideias e ideologias de todo jaez para todos os gostos; sejam ainda prazeres e lazeres, desde os mais ingênuos, os instrutivos até os espetáculos mais lunáticos e paranoicos, senão instintivos e primitivos – há, afinal, uma infindável ciranda deopções à disposição de nossos olhos, bolsos e fantasias. Consumidores cada vez mais exigentes, críticos. Gerações extravagantes, alucinadas, impertinentes... O mundo competitivo nos esfrega na cara e nos exige uma obsessiva buscapelaautorrealização,pelaautoafirmação,pelaautoimagem.Umbombardeio ininterrupto de informações, fascinações, armadilhas... Somos convocados, de forma perplexa, ao sucesso, à prosperidade, ao poder, ao ter; o que pode nos conduzir à perda da objetividade e do focoexistencial, àdefiniçãodequeequaisvalores realmentenossão importantes. Somos levados, enfim,a extremosentre aousadiae a estagnação, entre o aprovado culturalmente e o ridículo. O que nos requer discernimento, competência, preparação. A maturidade faz-se imprescindível. Prudência, fé. Muitas indecisões e imprecisões, contudo, são frutos do medo, da cultura, da tradição, da indolência, da repressão, do receio da opinião pública e de se remar contra a corrente. Nem afoitezas, nem imobilismos. Necessário planejamento, mente pensante, divagante, mas com o pé no chão; saber aonde queremos levar o barco, pois, como diz o ditado “não há ventos favoráveis para o navegante que não sabe a que porto quer chegar”. As oportunidades, enquanto formos irresolutos, podem estar passando. Situações há que exigem denodo, exercícios, sacrifícios. Decisão. Ação. UmapassagembíblicasemprenoschamouaatençãoquandooSenhorordenaaAbraãosairdesuaterra(UrnaantigaMesopotâmiaeondeo

patriarca estava todo estruturado, em termos de família, de patrimônio, de poder e relações), levantar suas tendas, desprender-se de tudo e deslocar-se rumo a Canaã, ao desconhecido. “O Senhor disse a Abraão: Deixa tua terra, tua família, a casa de teu pai e vai para a terra que eu te mostrar” (Gn 12, 1) Nos Atos dos Apóstolos vemos, de igual forma, Paulo indo a Jerusalém sabendo que lá o esperavam sofrimentos e cadeias (At 19,21). Destino similar ao de Cristo que, “ao aproximar o tempo de seu arrebatamento deste mundo, dirigiu-se a Jerusalém” (Lc 9,51) Todoêxitoindividual,profissionaloucoletivorequer,inexoravelmente,esforço, preparação, persistência, dedicação, foco, comprometimento. Não há frutos ou produtos do acaso. Não se pode acomodar, dar-se por vencido. O objetivo maior: planejarmos a semeadura, lançarmos a semente,cuidarmosdamesseoulevantarmosâncorasoudesativarmostendas em direção às terras distantes ou às missões próximas a que fomos chamados. Impulso, empenho, treinos, a perseverança constante do atleta no intuito de alcançar resultados. Envolvimento, abnegação, não só em nossas tarefas pessoais, mas igualmente nos projetos de interesse coletivo, em que devemos realizar o melhor, doarmos o máximo de nossas habilidades e potencialidades em prol da transformação da vida do próximo, da expansão e expressão maiores de nossas comunidades e da estabilidade do planeta. Sermos testemunhas, darmos o testemunho de nossa real missão no mundo: servir a Deus, ao seu Reino através do amor fraternal, do trabalho digno, da geração de frutos sadios, de nosso aprimoramento ontológico.Afinal,háumimensopassivosocial,humanoeespiritualaser preenchido. Glebas a serem operadas, mesmo que já iniciada a tarde. E para isto, há um legado, uma tarefa, uma missão que nos requisitam tempo, esforços, suores, investimentos...

UM APELIDO INDIGESTO

AO PÉ DA FOGUEIRAFatos pitorescos, históricos, lendários, folclóricos etc...de São Tiago e região

Boletim Cultural e Memorialístico de São Tiago e Região | Ano V . N° L . Novembro de 2011

Acesse o Boletim online no site www.portalsaotiago.com.br

EDITORIAL

Era proprietário rural, homem conceituado, de assinaladas posses para os padrões da época e da região. Tinha um senão: o apelido “Biscoito”, que lhe fora dado sabia-se

Uma multinacional daquelas vezeiras e exploradeiras do suor alheio,mancomunadas com nossos políticos espertalhões e burocratas encastelados no Governo, aproveitando falta de organização e o espírito

lá o porquê (talvez por sua afinada estatura, outros que seriamrançosvindosdainfância),aoqualvotavaamaismórbidareaçãoe indignação. Ai de quem sequer lhe mencionasse a indigitada e proibida palavra. Ou que lhe risse à socapa, no disfarce. Ou lhe fizesse qualquer brincadeira, insinuação. - impropérios,rusgas e inimizade na certa. À mesa, ou em situações em que a palavra era inevitável, o interlocutor, mesmo familiares, tinham que desenvolver uma ginástica léxica, acrobacias semânticas,paradenominaroobjeto“biscoito”.Tinha-sequeestar com um extenso vocabulário na ponta da língua e dizer quitanda, pitéu, guloseima, petisco, peta, chipa, tira-torto, cobu, jimbolô... O maltratado caminhão leiteiro peregrinava diariamente por aquelas bandas, estradas municipais como de sempre precárias, batendo ponto e biela, descendo e subindo enferrujados latões, fazenda afazenda,sítioasítio.Umaviasacradeanos,décadas, sol e chuva, poeira e barro. O leite coletado, arrancado gota a gota das tetas das vacas crioulas e pé-duro, conduzido para a indústria de laticínios em Bom Sucesso.

cooperativo do sugado produtor rural. Certo dia, como fazia ocasionalmente, nosso

amigo pega carona no caminhão. Teria uma série de compromissos na cidade. Compras, uma consulta com o Dr. Ari, algumas tira-dúvidas com o Dr. Sebastião Resende, uma ida à agência do Banco do Brasil, uma esticada no escritório do Funrural. O caminhão, aliás, um cargueiro, - carregando latões, sacarias, leitões, gente –

para a porteira de uma fazendola vizinha, recepcionando o leite ali ordenhado. Umalavourademilhoàbeiradocurralchama,de

pronto, a atenção do caroneiro. Hastes de milho frágeis, finas,comumcertodesânimoparacrescer.Pergunta,

irônico, ao proprietário ali próximo, acabando de subir as latas de leite até à carroceria.

_ Que danada de raça de milho é esta?! Milhozinho empertigado, chucro, hein?!

O fazendeiro na bucha: - Ah, é uma variedade de milho própria, especial para fazer biscoito! Deu inimizade e das bravas.

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O que é o que é?1 - Como se faz para ganhar um chokito?

2 - Qual o vinho que não tem álcool?

3 - Qual é o doce preferido do átomo?

4 - Como o elétron atende ao telefone?

Respostas:

1- É só colocar o dedito na tomadita; 2- ovinho de codorna; 3- o pé-de-moléculas; 4- Próton!

Provérbios e Adágios A agulha veste os outros e vive nua

Malha-se o ferro enquanto ele está quente

Enquanto venta, molha-se a vela

Enquanto descansa, carrega-se pedra

De boas ceias estão as sepulturas cheias

Muita prosa, poucos haveres

Formiga, quando quer se perder, cria asas

EXPEDIENTE

QUEM SOMOS:O boletim é uma iniciativa independente, necessitando de apoio de todos os São-Tiaguenses, amigos de São Tiago e pessoas comprometidas com o processo e desenvolvimento de nossa região. Contribua conosco, pois somos a soma de todos os esforços e estamos contando com o seu.Redação: João Pinto de Oliveira, Elena Campos e Marcus Antonio SantiagoApoio: Ana Clara de Paula e Angela Carolina Ribeiro CostaE-mail: [email protected]

COMO FALAR CONOSCO:BANCODEDADOSCULTURAIS/INSTITUTOSÃOTIAGOAPÓSTOLORuaSãoJosé,nº461/A–Centro–SãoTiago/MGCEP: 36.350-000 – telefone: (32) 3376-1107Falar com Angela Carolina Ribeiro Costa

Apoio Cultural:

Realização:

Patrocínio:

02 Boletim Cultural e Memorialístico de São Tiago e Região

Dia 01 de setembro último, a comunidade assistiu, com pesar, à derrubada e ao desmancho da velha residência de DªTita, de propriedade há décadas, senão secular, da família Pereira, no cruzamento da Rua São José, Rua Antônia Lara de Resende e Av. Cap. João Pereira. Arquitetura no padrão ou estilo maneirista (ou chão), a casa não resistiu ao avanço do chamado progresso e da modernidade e, segundo se informa, a nova proprietária do local, COOPERBOM, ali instalará um posto de combustíveis (aliás, empreendimento necessário em nossa cidade). Construção simples, em adobe, telhado com divisores de águas, fachada básica, frontão quadrilongo, janelas quadradas, o bucólico imóvel era uma marca registrada de nossa história e ponto de referência e observação para todos que demandavam aquela tão movimentada área comercial e residencial da cidade.

Agradecemos o convite que nos foi encaminhado e parabenizamos nosso amigo e conterrâneo Ademir Mendes pelo lançamento de seu

livro “Travessuras e Memórias”

Para refletir: Temos de estabelecer nossos próprios caminhos no mais diverso e interessante dos universos concebíveis – um universo que é indiferente ao nosso sofrimento, mas nos oferece a maior das liberdades, para prosperarmos ou falharmos, no percurso que escolhermos (Gould – paleontólogo)

O curso da história e da cultura mundial nos mostra que existem e deveria haver, autoridades morais. Elas constituem uma espécie de hierarquia espiritual, que é absolutamente necessária para cada indivíduo e país. (Alexander Solzhenitsyn, escritor russo e prêmio Nobel da Literatura)

CASA DE Dª TITA DESAPARECE UMA PÁGINA DE NOSSA HISTÓRIA

Foto de D. Tita em frente sua casa - 1986

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03Boletim Cultural e Memorialístico de São Tiago e Região

Nas grandes cidades e capitais, as frotas de táxi são identificadas com pinturas de variadas cores. Sejam na cor branca, como em São Paulo e Belo Horizonte, amarela no Rio de Janeiro ou vermelha em Porto Alegre. Alguns também recebem plotagens. O que eles têm em comum é que normalmente são carros novos ou com pouco tempo de uso. No pequeno município de São Tiago, na Região do Campo das Vertentes, um inusitado Volkswagen Passat LSE 1986 vermelho (modelo exportado para o Iraque) chama a atenção por estar sendo usado como táxi na cidade há 17 anos. Em 1994, Aierton Lara, de 67 anos, recebeu da prefeitura uma concessão de táxi e precisava de um veículo para o trabalho. “Comprei o carro numa agência de São João del-Rei. Como ele tinha quatro portas, ar-condicionado e estava muito bem conservado, achei uma ótima opção”, lembra o motorista.

UM BEDUÍNO NA PRAÇA

Taxista de pequeno município do interior de Minas Gerais trabalha há 17 anos com um Volkswagen Passat LSE, modelo que na década de 1980 foi exportado para o Iraque

PARA LÁ DE BAGDÁ Entre 1983 e 1988, foram fabricadas 170 mil unidades da versão LSE do Passat. Apelidado de Passat Iraque, o modelo era exportado para o país do Oriente Médio com algumas características próprias. Dentre as alterações em relação ao daqui, o irmão iraquiano tinha radiador de cobre, ventilador de 250W (contra 180W), chapa de proteção do motor de série, pneus radiais têxteis (de aço daqui), para-barro, quatro ganchos de reboque (dois extras) e carpete de 10mm (4mm a mais). Quanto à motorização, era equipado com o 1.6 MD270 de 72cv

Há 17 anos, Aierton presta serviços com o seu Passat na pacada São Tiago, no Campo das Vertentes

Foram fabricadas 170 mil unidades da versão LSE de 1983 a 1988, muitas vendidas no Oriente Médio

Durante todo o tempo em que o Passat de Aierton está na praça foram feitas várias corridas para cidades vizinhas, como Oliveira, São João del-Rei, Resende Costa e Bom Sucesso, além de viagens para outros estados. “Em muitas oportunidades, levei a São João del-Rei estudantes universitários e pacientes para consultas médicas.” Segundo o taxista, a robustez e a confiabilidade mecânica são algumas das características deque ele mais gosta no modelo. “Vou sempre levar e buscar passageiros na área rural. A boa altura em relação ao solo, a capacidade de carga e força do motor ajudam muito ao transitar por estradas de terra esburacadas”, ressaltou. Aierton destaca que o veículo passa todo ano por uma inspeção para liberação do alvará e que a manutenção é tranquila e econômica. “Apesar dos 25 anos de idade do Passat, gasto muito pouco com ele. As peças sãobaratasefáceisdeencontrar”,afirma

Há 17 anos, Aierton presta serviços com o seu Passat na pacada São Tiago, no Campo das Vertentes

Fonte: Jornal Estado de Minas, Domingo, 04 de setembro de 2011, página 1

ecâmbiodequatromarchas.Ascoresoferecidaseram a vermelha e a branca, com estofamento

vinho, e a azul com bancos cinza.

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04 Boletim Cultural e Memorialístico de São Tiago e Região

ASSEMBLÉIA DE DEUS – 100 anos de fulgurante ministério no Brasil 30 anos de missionato em São Tiago

VistapanorâmicadaatualcidadedeBomSucesso-MG

Dentre as denominações evangélicas brasileiras, sobressai-se em número de membros e templos a Assembleia de Deus, hoje com cerca de15milhõesdefiéisativosequenesteanode2011comemora,comtodo louvor e primor, 100 anos de instalação em nosso País. A Assembleia de Deus no Brasil – No ano de 1910, os missionários suecos Gunnar Vingren (1879/1932) e Daniel Berg(1884/1962),apósumapassagempelosEstadosUnidos,chegarama Belém do Pará, no norte do Brasil, aí lançando as sementes e bases da congregação, que, a duras penas, e com tenacidade e heroísmo evangelizador, se espalharia posteriormente por todo o País e outras pátrias. Os evangelizadores Vingren e Berg, ambos imigrantes, conheceram-se numa igreja sueca em Chicago, EUA, em 1909.Gunnar Vingren estudara teologia em seminário batista na Suécia. Era dotado do dom do batismo com o Espírito Santo e falava em línguas, recebendo a orientação divina para o ministério além-mar. Foi pastor de Igreja em Menominee e South Bend. Daniel Berg era quitandeiro em Chicago. Viajando até South Bend, aí recebeu igualmente a inspiração e a profecia do Espírito Santo para o ministério transcultural em outras terras, juntamente com Gunnar. Assim, ambos em data de 3 de Novembro de 1910, embarcaram no porto de Nova York, a bordo do navio Clement, em passagem de terceira classe. Duas semanas depois, desembarcaram no Porto de Belém, com míseros 90 dólares no bolso, sem conhecerem uma única palavra em português e sem ninguém para recebê-los. Iniciaram com a sua presença, porém, a extraordinária e apostólica obra da Assembléia de Deus no Brasil. A primeira Igreja pentecostal foi organizada em 18 de Junho de 1911, seis meses após a chegada dos missionários suecos ao Pará, com a denominação de “Missão da Fé Apostólica”, rebatizada para “Assembleia de Deus” em Janeiro de 1918. Nenhuma denominação evangélica expandiu-se tanto e de forma tão rápida e portentosa, quanto a Assembleia de Deus. Ao contrário das demais igrejas evangélicas que se iniciaram no sul ou sudeste, a Assembleia de Deus teve as suas origens e raízes no norte do País, em plena região amazônica. Já por volta de 1920, a Denominação achava-se instalada em quase todas as regiões Norte e Nordeste, daí expandindo-se para o Sudeste e o Sul. (1) Em 1944, estavam os assembleianos presentes em todo o País. Por ocasião da 8ª Convenção Nacional das Assembleias de Deus realizada em São Paulo em 1947, o Brasil contava como o 3º pais em número de crentes pentecostais. Em todoomundo,contavamjácom100milfiéisbatizados. Os assembleianos, além do trabalho missionário e social de campo, implantaram os célebres “Institutos Bíblicos” e “Escolas de Educação Teológica” para formação evangélica de seus quadros,

merecendo ênfase a EETAD com sede (campus) em Campinas. Em 1989 surgiu a Escola de Missões da Assembleia de Deus no Brasil – EMAD, com sede em Campo Limpo Paulista (SP). Em 2005, devidamente reconhecida pelo MEC, a Faculdade Evangélica de Ciências, Tecnologia e Biotecnia iniciou seus 1ºs cursos superiores. Mantém ainda inúmeras publicações doutrinárias, em especial o conhecido jornal “Mensageiro da Paz” Os assembleianos são conhecidos desde o início por seu trabalho de colportagem (venda, popularização e divulgação da Bíblia), a prática do evangelismo pessoal e familiar de casa em casa, praças públicas, de enfermaria em enfermaria, de pregação e oração incansáveis, do batismo no Espírito Santo, do avivamento e a salvação da alma e esperança de cura para o corpo. Devotados ao sobrenatural, incluindo o fenômeno de línguas estranhas, o dom da profecia e dos milagres de cura. Atua(va)m principalmente, pelo menos até recentemente, junto às classes sociais mais receptivas ao Evangelho, via de regra as mais carentes em termos pessoais, familiares e afetivos, granjeando considerável e crescente número defiéis.Realizamumexcepcionaltrabalhodepromoçãohumana,social e espiritual, integrando e dignificando o ser humano e afamília, a partir de suas igrejas e de seu apostolado comunitário. Além do secular e incansável trabalho com marginais, detentos, analfabetos e excluídos sociais, os assembleanos sempre desenvolveram atividades nas áreas da educação e formação familiar, gerenciamento de conflitos, o primado e o primor notrato das relações humanas, sempre pautadas pelos preceitos bíblicos. Em suma, a redenção social através do binômio trabalho e fé, levando dignidade, esperança, exaltação e promoção do ser humano, cônscios da plenitude, ação e poderoso auxílio do Espírito Santosobreosfiéiseacoletividadeemsuasdificuldades,perigos,mazelas e trajetória vivencial. E assim atuando sempre prestaram e

prestam um inestimável serviço à Nação brasileira. Reconhecidos ainda pela rigidez doutrinária quanto ao uso de trajes, ornatos e costumes em particular por parte das mulheres, ditando regras sobre o que e como se vestir, se pentear, se pintar, o tamanho dos cabelos e das roupas, limitando ainda a atenção dosfiéisquantoaousodeaparelhosdetelevisão,usodebebidas,etc. São considerados por muitos, até mesmo dentro de algumas ordens evangélicas, como “conservadores” e “fundamentalistas”. Rejeitam a chamada “Teologia da Prosperidade” utilizada, senão com exageros e abusos, por vários segmentos evangélicos e cujos métodos e técnicas de cooptação de obreiros, de levantamento de recursos e fundos, mediante interpretações bíblicas manipuladas, rituais bombásticos e espalhafatosos, espetáculos e encenações midiáticas, acrescidos de profetismos exacerbados provocam

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05Boletim Cultural e Memorialístico de São Tiago e Região

ASSEMBLEIA DE DEUS EM NOSSA REGIÃO

A Congregação iniciou suas atividades no Estado de Minas Gerais, ao que pudemos apurar, em Fevereiro de 1927 com a chegada a Belo Horizonte do Pr. Clímaco Bueno Aza que se instalou em imóvel na Rua Peçanha, esquina com Rua Paraíso, aí iniciando os primeiros cultos e as primeiras conversões. Daí a obra pentecostal se estenderia paulatinamente para todo o Estado mineiro.

A Igreja Assembleia de Deus em São Tiago foi fundada/instalada em inícios da década de 1980, pelo Pastor

José Gonçalves. No início, a Assembleia de Deus teve muita resistência tanto da população local quanto das

autoridades, mas nem por isto deixou se abater. Ao longo destes anos vem crescendo em meio a sociedade.

Neste período passaram alguns pastores como: Pr. Onofre Ferreira, Pr. Emanuel, Pr. Onofre Machado, Pr.

José Eduardo, Pr. José do Carmo, Pr. Nilton Lázaro, Pr. João Lima, Pr. Ezequias, Pr. Teodosio, Pr. João

Batista e atualmente se encontra na responsabilidade novamente do Pr. José do Carmo Silveira, como em

2003, época em que esteve em São Tiago.Atualmente situada na R. Bonfim nº120.

polêmicas e contradições no meio evangélico e profano. (1) Os historiadores evangélicos mencionam que Gunnar Vingren contou sempre com o apoio incondicional de sua carismática esposa, Frida Vingren, ela também uma extraordinária missionária, pregadora, organista, autora de dezenas de hinos evangélicos da mais alta sensibilidade e espiritualidade. Enquanto o marido viajava a serviço da fé, ela o substituía nos púlpitos, nas ações educacionais e catequéticas, realizando, na década de 1920, dentre tantos outros, um excepcional trabalho junto aos detentos nos presídios cariocas.

Irmão Lourenço em pregação.

A Congregação iniciou suas atividades no Estado de Minas Gerais, ao que pudemos apurar, em Fevereiro de 1927 com a chegada a Belo Horizonte do Pr. Clímaco Bueno Aza que se instalou em imóvel na Rua Peçanha, esquina com Rua Paraíso, aí iniciando os primeiros cultos e as primeiras conversões. Daí a obra pentecostal se estenderia paulatinamente para todo o Estado mineiro. UmgrandemissionáriodaCongregaçãoemnossomeio foio Pastor norteamericano Nels Lawrence Olson, mais conhecido e referenciado como “Irmão Lourenço”. Natural de Kenosha, Wisconsin, aí nasceu em 09/02/1910, filho de pais suecosradicadosdesde1904nosEUA.Jáaos16anosreceberaobatismono Espírito Santo. Fundou e dirigiu igrejas pentecostais em Appleton (1931) e Portage (1934). Em 1937, recebeu o chamado missionário para oBrasil, aqui chegando em07/07/1938, comesposaeosprimeirosfilhos. Estabeleceu-se inicialmente em Belo Horizonte. No ano seguinte mudou-se para Lavras, onde já se encontrava Hilário José Ferreira. Aí, Irmão Lourenço centralizou suas extraordinárias atividades, fortalecendo e expandindo o pentecostalismo para toda a região e outros Estados do País. Foi ele o disseminador e notável pastor das Igrejas Assembléias

de Deus em nosso Estado, atuando, a partir de Lavras, em inúmeras comunidades de nosso meio como São João Del-Rei, Ribeirão Vermelho, Perdões, Nepomuceno, Boa Esperança, Andrelândia,Oliveira, etc. Incansável pregador e evangelizador, pioneiro do radioevangelismo e do ensino teológico nas Igrejas Assembleia de Deus. Tradutor, escritor, editor, articulista, professor e comentarista infatigável de lições bíblicas nas escolas dominicais. Para atingir as cidades, viajava de trem, carro, bicicleta, a cavalo,apé. Incansável.Nadao intimidava.Fé inabalável,ânimogigantesco.Fôlegotitânico.Desenvolveutrabalhosevangélicosemoutros Estados do País como Rio de Janeiro, São Paulo, Rio Grande do Sul, etc. implantando programas radiofônicos e escolas bíblicas, ocupando púlpitos, montando editoras e institutos bíblicos. Seu programa “Voz das Assembleias de Deus” em emissoras cariocas (rádios Tamoio, Mayrink Veiga, Tupi, Boa Nova, etc.) na década de 1950 tornou-se célebre, com elevada audiência, consolando, salvando e convertendo a muitas pessoas. Articulista assíduo dos jornais “Mensageiro da Paz” e “A Seara”. Foi ele o fundador do Instituto Bíblico Pentecostal (1961) e peça-chave, como organizador e pregador, de vários Congressos evangélicos do País. Um ensino poderoso, uma pregação desassombrada,confortadora pelos púlpitos, pelas praças, pelas rádios, pela imprensa, pelas instituições que fundou e apoiou, indelevelmente gravadanoscoraçõesenaalmademilhõesdefiéisedebrasileiros.Ummito,umalendadoevangelismoaindaemnossosdias. Enfermo, retornou ao final da vida, aos Estados Unidos,aí falecendo em 29/03/1993, sendo sepultado em Springfield,Missouri. A Assembleia de Deus em São Tiago – Sabe-se, por informações orais, que em finais da década de 1950 e inícios da década de1960, missionários da Assembleia, sediados em São João del-Rei, desenvolveram um trabalho evangelizador em nossa cidade, mascompoucosucesso,àépoca.Oficialmente,aIgrejainstalou-se em nossa cidade nos primórdios da década de 1980. O Pr. José Gonçalves da Silva aqui chegou, segundo nos informou, em 01/11/1981,dandoinicioaotrabalhopastoraledeevangelização.

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06 Boletim Cultural e Memorialístico de São Tiago e Região

A PRÁTICA E A ARTE DO CONTO A prática do conto – da arte e do de-leite de se contar histórias – vem sendo revigorada e resgatada ultimamente, seja a nível de escolas (com o meritório e de-dicado esforço de inúmeros mestres), seja a nível social e mesmo institucional oficial,nosentidodevalorizaçãodacul-tura, da preservação da memória coletiva. Muitas comunidades e municípios vêm desenvolvendo projetos e oficinasde recuperação da memória local, a partir de suas tradições, mitos e entes folclóricos, religiosidade, das narrativas orais, porquanto patrimônio imaterial da coletividade. A expansão do turismo estimula igualmente tal prática. De igual forma a constatação e assimilação pelas empre-sas quanto à sua interação com a cultura e os valores do meio e do mercado onde atuam.Afiguradocontadorounarradorde histórias vem sendo demandada cres-centemente por hotéis, pousadas, shows e programações musicais sertanejas, em workshops e seminários empresariais, etc. A narrativa oral tem um forte impacto nas sociedades tradicionais. É ela quem costura acontecimentos, valores, rela-ções humanas na linha do tempo e do es-

paço; é ela quem demarca os caminhos das gerações, tecendo lides e vidas nos teares da noite imemorial, preservando tradições, reforçando e revitalizando os fiosdaculturacomunitáriaeextensiva-mente do conhecimento universal. Todo ser humano carrega em si, des-de o nascer, no nome, nas origens fa-miliares e sociais, em suas relações, um repertório precioso de mitos, mística, ritos – protagonistas e sujeitos que so-mos do mundo. O papel de narrador, desempenhado tradicionalmente pelas pessoas idosas, em especial mulheres, além de velhos das aldeias, ao relatarem histórias às crianças, estabelecia e perpetuava um contacto quase sagrado entre gerações, fortalecendo as relações afetivo-educa-cionais e de interação familiar ou do clã. Um conto só se concretiza após“contado”, transmitido coletivamente, ou seja, dentro de um círculo de ouvin-tes. O que era consistente no passado. Busca-se hoje, ainda que timidamente, um esforço de apropriação do corpo, do afloramentodaafetividade,derecupera-çãoereafirmaçãodasensoriedade,dasrelações familiares ou grupais e comuni-tárias e até mesmo pelas denominadas

“redes sociais” em oposição ao sistema mecanicista, individualista do capitalis-mo consumista e consequente depaupe-ração das relações e narrações humanas, mormente nos conglomerados urbanos maiores. Umesforçoparaseativarerevigorara convivência social, reordenar as expe-riências e compartilhamentos coletivos e a que todos devemos nos engajar. As ca-racterísticas domundo contemporâneo,a valorização do efêmero, a informação descompromissada, o hedonismo, o consumismo, o imediatismo, tornam di-fíceis a transmissão e retransmissão de experiências,arelaçãonarrador/ouvinte,com acentuados riscos de extinção da narrativa e da memória. Daí a necessida-de e o empenho de todos, indistintamen-te, no sentido de aglutinação de forças quanto à preservação da memória indi-vidual, familiar e coletiva, estimulando--se toda e qualquer forma de resgate e revalorização da cultura, da ancestrali-dade, da tradição, incluindo-se festas, celebrações e cerimônias comunitárias, atividades artesanais, folguedos, danças e manifestações folclóricas, sem nos es-quecermos de retomar o hábito salutar e consagrado do conto.

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VOCÊ SABIA COMO SURGIU A EXPRESSÃO POPULAR DOS MINEIROS UÁI?

Segundo a professora Dorália Galesso, foi o presidente Juscelino Kubitschek que a incentivou a lhe pesquisar a origem. Depois de exaustiva busca nos anais da Arquidiocese de Diamantina e em antigos arquivos do Estado de Minas Gerais, Dorália encontrou explicação. Os Inconfidentes Mineiros, patriotas, mas considerados subversivos pela Coroa Portuguesa, comunicavam-se através de senhas, para se protegerem da polícia lusitana. Como conspiravam em porões e sendo quase todos de

Fonte: Jornal Correio Brasiliense

origem maçônica, recebiam os companheiros com as três batidas clássicas da Maçonaria nas portas dos esconderijos. Lá de dentro, perguntavam: quem é? E os de fora respondiam: UAI – as iniciais deUnião, Amor e Independência. Sómediante o uso dessa senha a porta seria aberta aos visitantes. Conjurada à revolta, sobrou a senha, que acabou virando costume entre as gentes das Alterosas. Os mineiros assumiram a simpática palavrinha e, a partir de então, a incorporaram no vocabulário.

CONSTRUTORES DA MEMÓRIA Somos construtores e depositários da memória. O cotidiano e o transcendente, o erótico e o religioso, o cósmico e o vulgar, o burlesco e o grave, o contemporâneoe o passado compõem os tecidos de pluralidade e de infinitude que revestemnossas existências, nossas sendas evolutivas, nossas essências... Heranças culturais se revelam à nossa vista ou se ocultam em planos ignorados. Seres, sentimentos, cenários, lembranças, lugares, histórias

de vida, sagas de família, costumes e tradições nos lembram nossas origens, nossos caminhos. E formam, costuram o que poderíamos denominar de rapsódia – peripécias e relatos de vida com suas nuances trágicas, épicas, místicas. E por

vezes cômicas. Somos atores sociais e

interpretamos o mundo, muitas vezes, de forma instável, subjetiva, inconsciente até, emprestando aos atos e fatos de

nossa vivência um caráter

de impar odisseia, de supervalorização do ego ou de exaltação imaginária. E, por outro viés, quantas vezes, uma representação desleixada, negligente, impudica, imprudente... Qualquer cidadão, o mais inominado indigente, um anônimo de rua, um apátrida das estradas, é um sujeito histórico, dotado de experiências de vida, de estratégias de sobrevivência, de expressividade existencial e cósmica. Todos contribuímos para a interpretação e a reinvenção do mundo e paraaedificação ininterruptadarealidadeconjuntural que nos cerca, não importando os níveis sociais e culturais vigentes. Nisto, a memória se torna um notável expoente político,pois,muitasvezesexaltaafigurasimples, expressão da lídima alma humana e popular, enquanto olvida ou ironiza figurõesepotentados. O conhecimento e o registro da memória estimulam ademais a autoestima individual e coletiva, valorizam as experiências e vivências de uma coletividade, contribuindo para que todos, indistintamente, compartilhemos o mesmo universo de valores, referências e raízes histórico-culturais. Retratar as experiências e o conhecimento de um povo é tecer um texto e uma teia vivadouras, revestindo o tempo, reinventando a alma humana, semeando a eternidade.

JPO–05/11

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08 Boletim Cultural e Memorialístico de São Tiago e Região

O RIO JACARÉEntre margens caprichosas,

Em retas ou sinuosas,Passam os rios

DelineandoNa correnteza levando

Seixos, sonhos e saudades...

Em, harmonia à natureza,De beleza singular

MurmurandoE cantando

Juntam os rios suas águasQue deságuam no mar...

Entre outros, em nossa terraNa planície verdejante,

Exuberante,Recheada de sapé,

Onde paro, olho e vejoCorre o Rio Jacaré

Ao contemplar a naturezaVolvendo de novo

O olhar

Descortinando a paisagemEntre suas margens

FascinantesNa correnteza

De parcas e límpidas águasQue em sua foz deságuam

Cantando com melodiaAs canções

De um novo diaCaminham

Sem mágoasAs lentas águas...

Olho o rio, a orla e vejoNum quase eterno desejo:

Mergulhar...E sentir

As mornas águasQue correm no Rio Jacaré

Nilza Trindade de Morais Campos

- Até bem distante -Avistando o eleganteE bonito Rio Jacaré

Do nome uma boa razãoSeria, se não o é

Pois que torto, sinuosoÉoquesignificaYacaréUmdosriosdasdivisasLimítrofes da região...

Entrecores,tantasfloresComo o Ipê amarelo

Corre imponenteE singelo

Porém, majestoso,O esbelto Rio Jacaré...

Como é bom passar e verFolhas e galhos correrem

No rio estreitoE pouco caudaloso

Mas, garboso,Nas curvas do seu leito...