Bocage

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BOCAGE BOCAGE

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BOCAGEBOCAGE

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RibeiradaRibeirada“poema de um só canto”“poema de um só canto”

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ArgumentoArgumento

Quando o preto Ribeiro entregue ao sonoQuando o preto Ribeiro entregue ao sonoJazia, lhe aparece e deus Priapo:Jazia, lhe aparece e deus Priapo:E com uma das mãos por ser fanchono,E com uma das mãos por ser fanchono,Lhe larga na cabeça do marsapo:Lhe larga na cabeça do marsapo:Oferece-lhe depois em belo cono,Oferece-lhe depois em belo cono,Cono sem cavalete, gordo e guapo:Cono sem cavalete, gordo e guapo:Casa o preto, e a mulher, por fim de contas,Casa o preto, e a mulher, por fim de contas,Lhe põe na testa retorcidas pontas.Lhe põe na testa retorcidas pontas.

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II

Acções famosas do fodaz Ribeiro,Acções famosas do fodaz Ribeiro,Preto na cara, enorme no mangalho,Preto na cara, enorme no mangalho,Eu pretendo cantar em tom grosseiro,Eu pretendo cantar em tom grosseiro,Se a musa me ajudar neste trabalho:Se a musa me ajudar neste trabalho:Pasme absorto escutando o mundo inteiroPasme absorto escutando o mundo inteiroA porca descrição do horrendo malho,A porca descrição do horrendo malho,Que entre as pernas alberga o negro brutoQue entre as pernas alberga o negro brutoNo lascivo apetite dissoluto.No lascivo apetite dissoluto.

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IIII

Oh! musa galicada e fedorenta!Oh! musa galicada e fedorenta!Tu, que às fodas de Apolo estás sujeita.Tu, que às fodas de Apolo estás sujeita.Anima a minha voz, pois hoje intenta Anima a minha voz, pois hoje intenta Cantar esse mangaz, que a tudo arreita:Cantar esse mangaz, que a tudo arreita:Desse vaso carnal que o membro aguenta,Desse vaso carnal que o membro aguenta,Onde tanta langonha se aproveita,Onde tanta langonha se aproveita,Um chorrilho me dá, oh musa obscena,Um chorrilho me dá, oh musa obscena,Que eu com rijo tesão pego na pena.Que eu com rijo tesão pego na pena.

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IIIIII

Em Tróia, de Setúbal bairro inculto,Em Tróia, de Setúbal bairro inculto,Mora o preto castiço, de quem falo;Mora o preto castiço, de quem falo;Cujo nervo é de sorte, e tem tal vulto,Cujo nervo é de sorte, e tem tal vulto,Que excede o longo espeto de um cavalo:Que excede o longo espeto de um cavalo:Sem querer nos calções estar oculto,Sem querer nos calções estar oculto,Quando se entesa o túmido badalo,Quando se entesa o túmido badalo,Ora arranca os botões com fúria rija,Ora arranca os botões com fúria rija,Ora arromba as paredes quando mija.Ora arromba as paredes quando mija.

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IVIV

Adorna hirsuto ríspido pentelhoAdorna hirsuto ríspido pentelhoOs ardentes colhões do bom Ribeiro,Os ardentes colhões do bom Ribeiro,Que dão duas maçãs de escaravelho,Que dão duas maçãs de escaravelho,Não digo na grandeza, mas no cheiro:Não digo na grandeza, mas no cheiro:Ali piolhos ladros tão vermelhoAli piolhos ladros tão vermelhoFazem com dente agudo o pau leiteiro,Fazem com dente agudo o pau leiteiro,Que o cata muita vez; mas ao tocar-lheQue o cata muita vez; mas ao tocar-lheLogo o membro nas mãos entra a pular-lhe.Logo o membro nas mãos entra a pular-lhe.

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VV

Os maiores marsapos do universoOs maiores marsapos do universoÀ vista deste para trás ficaram:À vista deste para trás ficaram:E o do novo Martinho em prosa e versoE o do novo Martinho em prosa e versoMil poetas a porra descantaram:Mil poetas a porra descantaram:Quando ainda o cachorro era de berçoQuando ainda o cachorro era de berçoUmas mossas por graça lhe pegaramUmas mossas por graça lhe pegaramNa pica já taluda, e de repenteNa pica já taluda, e de repentePelas mãos lhe correu a grossa enchente.Pelas mãos lhe correu a grossa enchente.

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VIVI

De Polifemo o nervo dilatado,De Polifemo o nervo dilatado,Que intentou escachar a Galatéia, Que intentou escachar a Galatéia, Pelo mundo não deu tão grande bradoPelo mundo não deu tão grande bradoComo a porra do preto negra e feia:Como a porra do preto negra e feia:Da cotovia o bando galicadoDa cotovia o bando galicadoCom respeito mil vezes o nomeia,Com respeito mil vezes o nomeia,E ao soberbo estardalho do selvagemE ao soberbo estardalho do selvagemAs putas todas rendem vassalagem.As putas todas rendem vassalagem.

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VIIVII

O longo e denso véu da noite escuraO longo e denso véu da noite escuraDas estrelas bordado já se via;Das estrelas bordado já se via;E em rota cama a horrenda criaturaE em rota cama a horrenda criaturaOs tenebrosos membros estendia:Os tenebrosos membros estendia:Do caralho a grandíssima estaturaDo caralho a grandíssima estaturaC'os lençóis encobrir-se não podia,C'os lençóis encobrir-se não podia,E a cabeça do fodaz de fora pondoE a cabeça do fodaz de fora pondoFazia sobre o chão medonho estrondo.Fazia sobre o chão medonho estrondo.

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VIIIVIII

Os ladros, que fiéis o acompanhavamOs ladros, que fiéis o acompanhavamA triste colhoada a cada instanteA triste colhoada a cada instanteCom agudos ferrões lhe trespassavam,Com agudos ferrões lhe trespassavam,Atormentando a besta fornicante:Atormentando a besta fornicante:Na duríssima pele se entranhavam,Na duríssima pele se entranhavam,Suposto que com garra penetranteSuposto que com garra penetranteO negro dos colhões a muitos saca,O negro dos colhões a muitos saca,E o castigo lhes dá na fera unhaca.E o castigo lhes dá na fera unhaca.

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IXIX

Tendo o cono patente no sentidoTendo o cono patente no sentidoNa barriga o tesão lhe dava murros;Na barriga o tesão lhe dava murros;E de ativa luxúria enfurecidoE de ativa luxúria enfurecidoEspalhava o cachorro aflitos urros:Espalhava o cachorro aflitos urros:Com a lembrança do vaso apetecidoCom a lembrança do vaso apetecidoO nariz encrespava como os burros;O nariz encrespava como os burros;Até que em vão berrando pelo cono,Até que em vão berrando pelo cono,De todo se entregou nas mãos do sono.De todo se entregou nas mãos do sono.

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XX

Já roncando os vizinhos acordavaJá roncando os vizinhos acordavaO lascivo animal, que representaO lascivo animal, que representaCom o motim pavoroso que formava,Com o motim pavoroso que formava,Trovão fero no ar, no mar tormenta;Trovão fero no ar, no mar tormenta;Com alternados coices espancavaCom alternados coices espancavaDe pobre cama a roupa fedorenta,De pobre cama a roupa fedorenta,Que pulgas esfaimadas habitavam,Que pulgas esfaimadas habitavam,E de mil cagadelas matizavam.E de mil cagadelas matizavam.

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XIXI

Eis de improviso em sonhos lhe apareceEis de improviso em sonhos lhe apareceTerrífica visão, que um braço estende,Terrífica visão, que um braço estende,E pela grossa carne lhe cresceE pela grossa carne lhe cresceDebaixo da barriga ao negro prende:Debaixo da barriga ao negro prende:Acorda, põe-lhe os olhos, e estremeceAcorda, põe-lhe os olhos, e estremeceComo quem ao terror se curva e rende:Como quem ao terror se curva e rende:Com o medo que tinha, a porra ingenteCom o medo que tinha, a porra ingenteSe meteu nas encolhas de repente.Se meteu nas encolhas de repente.

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XIIXII

Do tremendo fantasma a testa duraDo tremendo fantasma a testa duraDois retorcidos cornos enfeitavam;Dois retorcidos cornos enfeitavam;E, debaixo da pança, a mata escuraE, debaixo da pança, a mata escuraTrês disformes caralhos ocupavam:Três disformes caralhos ocupavam:O sujo aspecto, a feia catadura,O sujo aspecto, a feia catadura,Os rasgados olhões iluminavam;Os rasgados olhões iluminavam;E na terrível destra o torpe espectroE na terrível destra o torpe espectroEmpunhava uma porra em vez de cetro.Empunhava uma porra em vez de cetro.

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XIIIXIII

Ergue a voz, que as paredes abalava,Ergue a voz, que as paredes abalava,E com a força do alento sibilanteE com a força do alento sibilanteMata a pálida luz, que a um canto estava,Mata a pálida luz, que a um canto estava,Em plúmbeo castiçal agonizante:Em plúmbeo castiçal agonizante:"Oh tu, rei dos caralhos (exclamava)"Oh tu, rei dos caralhos (exclamava)Perde o medo, que mostras no semblante:Perde o medo, que mostras no semblante:Que quem hoje te agarra no marsapoQue quem hoje te agarra no marsapoÉ de Vénus o filho, o deus Priapo.É de Vénus o filho, o deus Priapo.

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XIVXIV

"Vendo a fome cruel do parrameiro,"Vendo a fome cruel do parrameiro,Que essas negras entranhas te devora,Que essas negras entranhas te devora,De putas num covil deixei ligeiro,De putas num covil deixei ligeiro,Por fartar-te de fodas sem demora:Por fartar-te de fodas sem demora:Consolarás o rígido madeiroConsolarás o rígido madeiroNuma fêmea gentil, que perto mora,Numa fêmea gentil, que perto mora,Mas não lho metas todo, pois receioMas não lho metas todo, pois receioQue a possas escachar de meio a meio.“Que a possas escachar de meio a meio.“

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XVXV

Disse: e o negro na cama velozmenteDisse: e o negro na cama velozmentePara beijar-lhe os pés se levantava;Para beijar-lhe os pés se levantava;Mas tropeça num banco, e de repenteMas tropeça num banco, e de repenteNo fétido bispote as ventas crava:No fétido bispote as ventas crava:Não ficando da queda mui contenteNão ficando da queda mui contenteCom uma gota de mijo à pressa as lava;Com uma gota de mijo à pressa as lava;E, acabada a limpeza, a voz grosseiraE, acabada a limpeza, a voz grosseiraAo númen dirigiu desta maneira:Ao númen dirigiu desta maneira:

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XVIXVI

"Socorro de famintos fodedores,"Socorro de famintos fodedores,Propícia divindade, que me escutas!Propícia divindade, que me escutas!Tu consolas, tu enches de favoresTu consolas, tu enches de favoresO mestre da fodenga, o pai das putas:O mestre da fodenga, o pai das putas:Viste que, do tesão curtindo as dores,Viste que, do tesão curtindo as dores,Travava com o lençol imensas lutas,Travava com o lençol imensas lutas,E baixaste ligeiro, como Noto,E baixaste ligeiro, como Noto,A dar piedoso amparo ao teu devoto.A dar piedoso amparo ao teu devoto.

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XVIIXVII

Enquanto houver tesões, e enquanto o conoEnquanto houver tesões, e enquanto o conoFor de arreitadas picas lenitivo,For de arreitadas picas lenitivo,Sempre hei-de recordar-me, alto patrono,Sempre hei-de recordar-me, alto patrono,De que és de meus gostos o motivo:De que és de meus gostos o motivo:Pois me dás glória no elevado trono,Pois me dás glória no elevado trono,E já, como o veado fugitivoE já, como o veado fugitivoQue o caçador persegue, eu corro, eu corroQue o caçador persegue, eu corro, eu corroA procurar as bordas por quem morro."A procurar as bordas por quem morro."

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XVIIIXVIII

Deteve aqui a voz o rijo acento,Deteve aqui a voz o rijo acento,Que dos trovões o estrépito parece,Que dos trovões o estrépito parece,E logo diante os olhos num momentoE logo diante os olhos num momentoA nocturna visão desaparece:A nocturna visão desaparece:Deixa Ribeiro o sórdido aposento,Deixa Ribeiro o sórdido aposento,Que de antigos escarros se guarnece;Que de antigos escarros se guarnece;E nas tripas berrando-lhe o demónioE nas tripas berrando-lhe o demónioCorre logo a tratar do matrimónio.Corre logo a tratar do matrimónio.

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XIXXIX

O brando coração da fêmea alcançaO brando coração da fêmea alcançaCom finezas, carícias e desvelos;Com finezas, carícias e desvelos;A qual sobre a vil cara emprega, e lançaA qual sobre a vil cara emprega, e lança(Tentação do demónio!) os olhos belos:(Tentação do demónio!) os olhos belos:O fodedor maldito não descansaO fodedor maldito não descansaSem ver chegar o dia, em que os marmelosSem ver chegar o dia, em que os marmelosQue tem junto do cu dêem cabeçadasQue tem junto do cu dêem cabeçadasEntre as cândidas virilhas delicadas.Entre as cândidas virilhas delicadas.

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XXXX

Chega o dia infeliz (triste badejo!Chega o dia infeliz (triste badejo!Mísera crica! desditoso rabo!)Mísera crica! desditoso rabo!)E ornado o rosto de um purpúreo pejoE ornado o rosto de um purpúreo pejoUne-se a mão de um anjo à do diabo;Une-se a mão de um anjo à do diabo;Ardendo o bruto em férvido desejoArdendo o bruto em férvido desejoUnta de louro azeite o longo nabo,Unta de louro azeite o longo nabo,Para que possa entrar com mais branduraPara que possa entrar com mais branduraA vermelha cerviz faminta, e dura.A vermelha cerviz faminta, e dura.

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XXIXXI

Principia o banquete, que constavaPrincipia o banquete, que constavaDe dois gatos achados num monturo,De dois gatos achados num monturo,E de raspas de corno, de que usavaE de raspas de corno, de que usavaEm lugar de pimenta o preto impuro:Em lugar de pimenta o preto impuro:Em sujo frasco ali se divisavaEm sujo frasco ali se divisavaTurva água-pé: fatias de pão duroTurva água-pé: fatias de pão duroPela mesa decrépita espalhadasPela mesa decrépita espalhadasA fraca vida perdem às dentadas.A fraca vida perdem às dentadas.

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XXIIXXII

Depois de ter o esposo o bucho farto,Depois de ter o esposo o bucho farto,Abrasado de amor na ardente chama,Abrasado de amor na ardente chama,Foge com leves passos para o quarto,Foge com leves passos para o quarto,Ao colo conduzindo a bela dama:Ao colo conduzindo a bela dama:Pelas ceroulas o voraz lagartoPelas ceroulas o voraz lagartoA genital enxúndia já derrama;A genital enxúndia já derrama;Só por ver da consorte o gesto lindoSó por ver da consorte o gesto lindoInda antes de foder já se está vindo!Inda antes de foder já se está vindo!

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XXIII XXIII

Jazia o velho tálamo num cantoJazia o velho tálamo num cantoOnde de pulgas esquadrão persiste,Onde de pulgas esquadrão persiste,Para teatro ser do aflito prantoPara teatro ser do aflito prantoQue havia derramar a esposa triste:Que havia derramar a esposa triste:Oh noite de terror, noite de espanto,Oh noite de terror, noite de espanto,Que das fodas cruéis o estrago viste!Que das fodas cruéis o estrago viste!Permite que com métrica harmoniaPermite que com métrica harmoniaPatente ponha tudo à luz do dia.Patente ponha tudo à luz do dia.

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XXIVXXIV

Ergue-lhe a saia o renegado amante,Ergue-lhe a saia o renegado amante,Estira-se a consorte, ágil e pronta;Estira-se a consorte, ágil e pronta;E ele a seta carnal no mesmo instanteE ele a seta carnal no mesmo instanteAo parrameiro mísero lhe aponta:Ao parrameiro mísero lhe aponta:Com um só beijo do membro palpipanteCom um só beijo do membro palpipanteFicou subitamente a moça tonta,Ficou subitamente a moça tonta,E julgou (tanto em fogo ardia o nabo!)E julgou (tanto em fogo ardia o nabo!)Que encerrava entre as pernas o diabo.Que encerrava entre as pernas o diabo.

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XXVXXV

Prossegue o desalmado; mas a esposaProssegue o desalmado; mas a esposaQue não pode aturar-lhe a dura estaca,Que não pode aturar-lhe a dura estaca,Dando voltas ao cu muito chorosaDando voltas ao cu muito chorosaCom jeito o membralhão das bordas saca:Com jeito o membralhão das bordas saca:Ele irado lhe diz, com voz queixosa:Ele irado lhe diz, com voz queixosa:"Não és uma mulher como uma vaca?"Não és uma mulher como uma vaca?Porque fazes traições, quando te empurroPorque fazes traições, quando te empurroO mastro? quando vês que gemo, e zurro?"O mastro? quando vês que gemo, e zurro?"

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XXVIXXVI

Então, cheio de raiva, aperta o dente,Então, cheio de raiva, aperta o dente,E na gostosa, feminil masmorra,E na gostosa, feminil masmorra,Alargando-lhe as pernas novamente,Alargando-lhe as pernas novamente,Com estrondosos ais encaixa a porra:Com estrondosos ais encaixa a porra:Ela, que já no corpo o fogo senteEla, que já no corpo o fogo senteDo marsapo lhe diz: "Queres que eu morra?Do marsapo lhe diz: "Queres que eu morra?Tu não vez que me engasgo, e que estou Tu não vez que me engasgo, e que estou rouca,rouca,Porque o cruel tesão me chega à boca?Porque o cruel tesão me chega à boca?

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XXVIIXXVII

Ah! deixa-me tomar um breve alento,Ah! deixa-me tomar um breve alento,Primeiro que rendida e morta caia..."Primeiro que rendida e morta caia..."Mas ele, na foda é um jumento,Mas ele, na foda é um jumento,Não tem dó da mulher, que já desmaia:Não tem dó da mulher, que já desmaia:Sentindo ser chegado o fim do intento,Sentindo ser chegado o fim do intento,Do ranhoso licor lhe inunda a saia;Do ranhoso licor lhe inunda a saia;Porque dentro do vaso não cabiaPorque dentro do vaso não cabiaA torrente, que rápida corria.A torrente, que rápida corria.

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XXVIIIXXVIII

De gosto o vil cachorro então se baba,De gosto o vil cachorro então se baba,E vendo que a mulher calada fica,E vendo que a mulher calada fica,"Consola-te (exclamou) que já se acaba"Consola-te (exclamou) que já se acabaEsta fome voraz da minha pica."Esta fome voraz da minha pica."E com muita risada se gaba E com muita risada se gaba De lhe ter esfolado a roxa crica;De lhe ter esfolado a roxa crica;Mas ela grita, ardendo-lhe o sabugo:Mas ela grita, ardendo-lhe o sabugo:"Ora que casasse eu com um verdugo!"Ora que casasse eu com um verdugo!

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XXIXXXIX

Fora, fora cachorro, não te aturoFora, fora cachorro, não te aturoQue me feres as bordas do coninho!"Que me feres as bordas do coninho!"E com desembaraço um teso e duroE com desembaraço um teso e duroBofetão lhe arrumou no focinho:Bofetão lhe arrumou no focinho:Tomou em tom de graça o monstro escuroTomou em tom de graça o monstro escuroA afrontosa pancada, e com carinhoA afrontosa pancada, e com carinhoDisse para a mulher: "Brincas comigo?Disse para a mulher: "Brincas comigo?Pois torno-te a foder, por teu castigo."Pois torno-te a foder, por teu castigo."

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XXXXXX

Estas vozes ouvindo a desgraçadaEstas vozes ouvindo a desgraçadaDe repente no chão cair se deixa;De repente no chão cair se deixa;E, temendo a mortífera estocada,E, temendo a mortífera estocada,Ora abre os tristes olhos, ora os fecha:Ora abre os tristes olhos, ora os fecha:Com suspiros depois desatinadaCom suspiros depois desatinadaDa contrária fortuna ali se queixa:Da contrária fortuna ali se queixa:Até que ele lhe diz, com meigo modo:Até que ele lhe diz, com meigo modo:"Levanta-te do chão, que não te fodo.“"Levanta-te do chão, que não te fodo.“

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XXXIXXXI

Alma nova cobrou, qual lebre aflita,Alma nova cobrou, qual lebre aflita,Que das unhas dos cães se vê liberta;Que das unhas dos cães se vê liberta;E apalpando a conaça (oh que desdita!)E apalpando a conaça (oh que desdita!)Mais que boca de barra a encontra aberta;Mais que boca de barra a encontra aberta;Mas consola-se um pouco, e já meditaMas consola-se um pouco, e já meditaEm fugir da ruína, que é tão certa;Em fugir da ruína, que é tão certa;E em vingar-se do horrível Brutamonte,E em vingar-se do horrível Brutamonte,Ornando-lhe de cornos toda a fronte.Ornando-lhe de cornos toda a fronte.

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XXXIIXXXII

Tem conseguido a bárbara vingançaTem conseguido a bárbara vingançaA traidora mulher, como queria;A traidora mulher, como queria;E o negro com a paciência branda e mansa,E o negro com a paciência branda e mansa,Sofrendo os cornos vai de dia em dia:Sofrendo os cornos vai de dia em dia:Bem mostra no que faz não ser criança,Bem mostra no que faz não ser criança,Que de nada o rigor lhe serviria;Que de nada o rigor lhe serviria;Porque se uma mulher quiser perder-se,Porque se uma mulher quiser perder-se,Até feita em picado há de foder-se.Até feita em picado há de foder-se.

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XXXIIIXXXIII

Agora vós, fodões encarniçados,Agora vós, fodões encarniçados,Que julgais agradar às moças belasQue julgais agradar às moças belasPor terdes uns marsapos que estiradosPor terdes uns marsapos que estiradosVão pregar com os focinhos nas canelas:Vão pregar com os focinhos nas canelas:Conhecereis aqui desenganadosConhecereis aqui desenganadosQue não são tais porrões do gosto delas;Que não são tais porrões do gosto delas;Que lhes não pode, enfim, causar recreioQue lhes não pode, enfim, causar recreioAquele que passar de palmo e meio.Aquele que passar de palmo e meio.

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Amar dentro do peitoAmar dentro do peito

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Amar dentro do peito uma donzela;Amar dentro do peito uma donzela;Jurar-lhe pelos céus a fé mais pura;Jurar-lhe pelos céus a fé mais pura;Falar-lhe, conseguindo alta ventura,Falar-lhe, conseguindo alta ventura,Depois da meia-noite na janela:Depois da meia-noite na janela:

Fazê-la vir abaixo, e com cautelaFazê-la vir abaixo, e com cautelaSentir abrir a porta, que murmura;Sentir abrir a porta, que murmura;Entrar pé ante pé, e com ternuraEntrar pé ante pé, e com ternuraApertá-la nos braços casta e bela:Apertá-la nos braços casta e bela:

Beijar-lhe os vergonhosos, lindos olhos,Beijar-lhe os vergonhosos, lindos olhos,E a boca, com prazer o mais jucundo,E a boca, com prazer o mais jucundo,Apalpar-lhe de leve os dois pimpolhos:Apalpar-lhe de leve os dois pimpolhos:

Vê-la rendida enfim a Amor fecundo;Vê-la rendida enfim a Amor fecundo;Ditoso levantar-lhe os brancos folhos;Ditoso levantar-lhe os brancos folhos;É este o maior gosto que há no mundo…É este o maior gosto que há no mundo…

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Levanta Alzira os olhos pudibundaLevanta Alzira os olhos pudibunda

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Levanta Alzira os olhos pudibundaLevanta Alzira os olhos pudibundaPara ver onde a mão lhe conduzia;Para ver onde a mão lhe conduzia;Vendo que nela a porra lhe metiaVendo que nela a porra lhe metiaFez-se mais do que o nácar rubicunda:Fez-se mais do que o nácar rubicunda:

Toco o pentelho seu, toco a rotundaToco o pentelho seu, toco a rotundaLisa bimba, onde Amor seu trono erguia;Lisa bimba, onde Amor seu trono erguia;Entretanto em desejos ardia,Entretanto em desejos ardia,Brando licor o pássaro lhe inunda:Brando licor o pássaro lhe inunda:

C'o dedo a greta sua lhe coçava;C'o dedo a greta sua lhe coçava;Ela, maquinalmente a mão movendo,Ela, maquinalmente a mão movendo,Docemente o caralho embalava:Docemente o caralho embalava:

"mais depressa" – lhe digo então morrendo,"mais depressa" – lhe digo então morrendo,Enquanto ela sinais do mesmo dava;Enquanto ela sinais do mesmo dava;Mística pívia assim fomos comendo.Mística pívia assim fomos comendo.

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Arreitada donzela em fofo leitoArreitada donzela em fofo leito

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Arreitada donzela em fofo leitoArreitada donzela em fofo leitoDeixando erguer a virginal camisa,Deixando erguer a virginal camisa,Sobre as roliças coxas se divisaSobre as roliças coxas se divisaEntre sombras subtis pachocho estreito.Entre sombras subtis pachocho estreito.

De louro pêlo um círculo imperfeitoDe louro pêlo um círculo imperfeitoOs papudos beicinhos lhe matiza;Os papudos beicinhos lhe matiza;E a branda crica nacarada e lisa,E a branda crica nacarada e lisa,Em pingos verte alvo licor desfeito.Em pingos verte alvo licor desfeito.

A voraz porra, as guelras encrespando,A voraz porra, as guelras encrespando,Arruma a focinheira, e entre gemidosArruma a focinheira, e entre gemidosA moça treme, os olhos requebrando.A moça treme, os olhos requebrando.

Como é inda boçal, perder os sentidos;Como é inda boçal, perder os sentidos;Porém vai com tal ânsia trabalhando,Porém vai com tal ânsia trabalhando,Que os homens é que vêm a ser fodidos.Que os homens é que vêm a ser fodidos.

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Se tu visses, Josino, a minha amadaSe tu visses, Josino, a minha amada

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Se tu visses, Josino, a minha amada,Se tu visses, Josino, a minha amada,Havias de louvar o meu bom gosto;Havias de louvar o meu bom gosto;Pois seu nevado, rubicundo rosto,Pois seu nevado, rubicundo rosto,Às mais formosas não inveja nada:Às mais formosas não inveja nada:

Na sua boca Vénus faz morada:Na sua boca Vénus faz morada:Nos olhos Cupido as setas posto;Nos olhos Cupido as setas posto;Nas mamas faz Lascívia o seu encosto,Nas mamas faz Lascívia o seu encosto,Nela enfim tudo encanta, tudo agrada:Nela enfim tudo encanta, tudo agrada:

Se a Ásia visse coisa tão bonitaSe a Ásia visse coisa tão bonitaTalvez lhe levantasse algum pagodeTalvez lhe levantasse algum pagodeA gente, que na foda se exercita!A gente, que na foda se exercita!

Beleza mais completa haver não pode:Beleza mais completa haver não pode:Pois mesmo o cono seu, quando palpita,Pois mesmo o cono seu, quando palpita,Parece estar dizendo: "Fode, fode!"Parece estar dizendo: "Fode, fode!"

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VIVA A ÁGUAVIVA A ÁGUA

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Meus senhores eu sou a águaMeus senhores eu sou a água

que lava a cara, que lava os olhosque lava a cara, que lava os olhos

que lava a rata e os entrefolhosque lava a rata e os entrefolhos

que lava a nabiça e os agriõesque lava a nabiça e os agriões

que lava a piça e os colhõesque lava a piça e os colhões

que lava as damas e o que está vagoque lava as damas e o que está vago

pois lava as mamas e por onde cagopois lava as mamas e por onde cago

Page 47: Bocage

Meus senhores aqui está a águaMeus senhores aqui está a água

que rega a salsa e o rabaneteque rega a salsa e o rabanete

que lava a língua a quem faz mineteque lava a língua a quem faz minete

que lava o chibo mesmo da rascaque lava o chibo mesmo da rasca

tira o cheiro a bacalhau da lascatira o cheiro a bacalhau da lasca

que bebe o homem que bebe o cãoque bebe o homem que bebe o cão

que lava a cona e o berbigãoque lava a cona e o berbigão

Page 48: Bocage

Meus senhores aqui está a águaMeus senhores aqui está a água

que lava os olhos e os grelinhosque lava os olhos e os grelinhos

que lava a cona e os paninhosque lava a cona e os paninhos

que lava o sangue das grandes lutasque lava o sangue das grandes lutas

que lava sérias e lava putasque lava sérias e lava putas

apaga o lume e o borralhoapaga o lume e o borralho

e que lava as guelras ao caralhoe que lava as guelras ao caralho

Page 49: Bocage

Meus senhores aqui está a águaMeus senhores aqui está a água

que rega as rosas e os manjericosque rega as rosas e os manjericos

que lava o bidé, lava penicosque lava o bidé, lava penicos

tira mau cheiro das algibeirastira mau cheiro das algibeiras

dá de beber às fressureirasdá de beber às fressureiras

lava a tromba a qualquer fantoche elava a tromba a qualquer fantoche e

lava a boca depois de um broche.lava a boca depois de um broche.