Biotecnologia Ciência & Desenvolvimento - nº 3

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    ENTREVISTA

    JOS ISRAEL VARGAS, ministro da Cincia e Tecnologia

    A cincia e a tecnologia so as grandes armas de que o Brasil dispe hoje para enfrentar a competitividade daglobalizao econmica que se descortina no prximo milnio. A evoluo tecnolgica vem ocorrendo com tanta velocidadeque as distncias do mundo esto cada vez menores e as fronteiras entre os pases j quase no existem. Para participar dessacorrida tecnolgica, pases como o Brasil precisam se preparar, investindo cada vez mais na formao de cientistas, eminfra-estrutura de pesquisa adequada, e no desenvolvimento de produtos com qualidade internacionalmente aceita e quepossam competir com os mercados dos grandes blocos econmicos dos pases do Primeiro Mundo.

    Para falar do estado da arte da cincia e tecnologia no Brasil de hoje e do futuro, o ministro da Cincia e Tecnologia,Jos Israel Vargas, concedeu esta entrevista aBIOTECNOLOGIA Cincia & Desenvolvimento, quando destacou os esforose as principais linhas de atuao do governo Fernando Henrique Cardoso para promover o desenvolvimento cientfico e

    tecnolgico do nosso pas.Israel Vargas mineiro, natural de Paracatu, formado em qumica pela Universidade Federal de Minas Gerais, onde

    foi professor de fsico-qumica de 1964 a 1984, e professor emrito desde 1989. Ele Ph.D. pela Universidade deCambridge, na Inglaterra, e vem ocupando vrios cargos importantes em instituies brasileiras e internacionais, tais como:presidente do Comit de Cincia e Tecnologia da Organizao Internacional do Trabalho - OIT; presidente do ConselhoExecutivo da UNESCO, Paris; membro do Conselho Diretor do Clube Internacional de Energia de Moscou; membro daComisso Internacional para o Renascimento da Biblioteca de Alexandria, Cairo, Paris (UNESCO) e presidente da Acade-mia de Cincias do Terceiro Mundo, Trieste, Itlia, entre muitos outros.

    O ministro da Cincia e Tecnologia recebeu ainda inmeras condecoraes por sua atuao nas reas de cincia etecnologia, no Brasil e no exterior, e membro das Academias de Cincias de Minas Gerais, do Brasil, da Argentina, alm deintegrar o Comit de Honra da Academia Europia de Cincia, Artes e Letras.

    Entrevista concedida a

    Lucas Tadeu Ferreira e

    Maria Fernanda Diniz Avidos

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    BC&D - O Brasil gasta, atualmente,6% do PIB em educao e 0,7% emcincia e tecnologia. Que mecanis-mos o governo federal pretendeadotar, a mdio e longo prazos, paraaumentar os investimentos nessecampo e, assim, tornar o pas me-nos dependente de tecnologias?

    Israel Vargas- Na verdade, j superamos

    esse nmero no final do ano passado: osdispndios nacionais, tanto do setor p-blico quanto privado, j passaram de 1%do PIB, e esperamos que atinjam 1,5%at o final desta dcada. Isto significa quemais do que dobraremos os investimen-tos do pas neste setor fundamental aodesenvolvimento se lembrarmos queinvestamos meros 0,7% no comeo dosanos 90 e que a maioria dos gastosprovinha do setor pblico. O panoramamudou para melhor. As empresas, queinvestiam tradicionalmente apenas 10%

    do total ao qual me referi, atualmente, jrespondem por mais de 25% e espera-mos que, no final deste perodo, che-guem a 40% dos investimentos brasilei-ros em C&T. Temos razes para acredi-tar que essa expectativa vivel. Pes-quisa realizada este ano pelo MCT e pelaCNI mostra que, entre mil empresasconsultadas, 38% informam que preten-dem gastar, nos prximos cinco anos,entre 2 e 5% de seu faturamento lquidoem pesquisa e desenvolvimento. Outras28% pretendem investir mais de 5% do

    faturamento lquido nesse perodo.

    BC&D - O governo FernandoHenrique Cardoso, atravs do Mi-nistrio da Cincia e Tecnologia,pretende criar incentivos fiscais esubsdios para que o setor empresa-rial possa investir mais significati-vamente na corrida tecnolgica?

    Israel Vargas- Estes mecanismos j exis-tem. As leis 8.248/91 e 8.661/93 estabe-lecem incentivos fiscais para a capacitao

    tecnolgica da indstria. Ao mesmo tem-po, as empresas esto cada vez maisconscientes de que o mundo mudou eque os investimentos em C&T so fun-damentais para podermos competir in-ternacionalmente. Essa conscientizaodo setor privado reflete-se no fato deque 60% das empresas ouvidas tm ainteno de utilizar exclusivamente re-cursos prprios para seus projetos deP&D. Outras 30% combinam recursosprprios com financiamentos pblicos.Os incentivos fiscais da Lei 8.661/93 tm

    por objetivo a capacitao tecnolgicadas empresas industriais e agropecurias

    visando gerao de novos produtos e

    processos, mediante a realizao de in-vestimentos privados - o Programa deDesenvolvimento Tecnolgico Industri-al (PDTI) e o Programa de Desenvolvi-mento Tecnolgico Agropecurio(PDTA). J a Lei 8.248/91 - a Lei deInformtica - permite s indstrias darea de informtica abater 50% dos gas-tos de P&D no imposto de renda, poden-do tambm beneficiar-se da iseno deIPI para os bens produzidos segundo

    padres de qualidade e em observnciaaos processos produtivos bsicos, desdeque invistam mais de 5% de seufaturamento em P&D. Veja bem...as duasleis somadas j induziram investimentos,com recursos das prprias empresas,que superam a casa dos trs bilhes dereais.

    BC&D - Com a vinda do presidente

    Bill Clinton ao Brasil, vrios acor-dos de cooperao tcnica foram

    assinados com o governo brasilei-ro. Entre esses acordos, o senhorpoderia citar aqueles que benefici-am a cincia e tecnologia e por qu?

    Israel Vargas- J temos um intercmbiointenso com os Estados Unidos na reatecnolgica. Na rea espacial, por exem-plo, somos h mais de 20 anos um dosmaiores usurios de imagens por satlite

    no mundo...alis, fomos o terceiro pas acomear a utilizar este recurso da cinciae tecnologia espaciais, logo aps o Cana-d e Estados Unidos. Durante a visita dopresidente dos Estados Unidos, firma-mos um acordo para a participao bra-sileira na estao espacial internacional,atravs do INPE - Instituto Nacional dePesquisas Espaciais. Ser uma participa-o importante, especialmente para aspesquisas brasileiras em um campo novo- o da microgravidade.

    BC&D - A biotecnologia tem se mos-trado um forte instrumento parapromover o desenvolvimento cien-tfico e tecnolgico, em nvel mun-dial. Como o senhor v a situaodo Brasil, hoje, no campo dabiotecnologia, se comparada com ados pases de Primeiro Mundo?

    Israel Vargas - A engenharia genticacomeou, no mundo, com uma experi-ncia realizada por Paul Boyer, naCalifrnia, que conseguiu expressar em

    E.coli um gene da insulina humana, em1973. Na dcada de 70, surgiram osprimeiros grupos de pesquisa no Brasilutilizando a tecnologia de DNArecombinante, enquanto nos EstadosUnidos dezenas de grupos se formaramna mesma poca. Hoje, existem mais demil empresas de biotecnologia nos Esta-dos Unidos. No Brasil, h cerca de 35empresas neste setor. importante ob-servar que no Brasil e no mundo, oaumento da eficincia na agricultura, porexemplo, passa necessariamente pela

    biotecnologia. Um aspecto, no entanto,precisa ser ressaltado. Embora abiotecnologia tenha origem nas desco-bertas e invenes cientficas patrocina-das pelo setor pblico, os produtos etecnologias hoje so resultado de inves-timentos expressivos realizados pelo se-tor privado dos pases desenvolvidos.Da a necessidade de que o setor produ-tivo brasileiro intensifique sua participa-o tambm neste campo.

    BC&D - Diante desse quadro, que

    importncia o Ministrio da Cinciae Tecnologia d ao desenvolvimen-

    "O PADCT II(Programa de Apoio

    ao Desenvolvimento

    Cientfico e

    Tecnolgico), um

    dos programas do

    MCT, elegeu a

    biotecnologia como

    rea prioritria"

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    to das pesquisas biotecnolgicas, eem quais setores o senhor acha quedevem ser estimuladas e como?

    Israel Vargas- O setor pblico no Brasiltem um papel importante no cenrio dodesenvolvimento da biotecnologia:estamos desenvolvendo a competnciaem cincia e tecnologia, especialmentea formao de quadros para os setores

    pblico e privado e estabelecendo umambiente de estmulo aos investimentosprivados em C&T, atravs de programasde incentivo e de leis adequadas. OBrasil realizou um notvel esforo narea de formao de recursos humanosnas ltimas duas dcadas. As agncias defomento a C&T federais e estaduais tmpriorizado a biotecnologia nos ltimosquinze anos, com investimentos entrecinco a dez por cento dos investimentosglobais em C&T no Brasil. O PADCT II(Programa de Apoio ao Desenvolvimen-

    to Cientfico e Tecnolgico), um dosprogramas do MCT, elegeu abiotecnologia como rea prioritria, ten-do financiado 158 grupos de pesquisaem biotecnologia no Brasil, 18,3% dototal dos grupos registrados nesta reano CNPq.

    BC&D - O senhor acha que existemno Brasil instituies que desenvol-vam pesquisas de biotecnologia quepossam ser consideradas ponto dereferncia e em condies de com-

    petir com as do primeiro mundo?

    Israel Vargas- Sim. Diversas instituies,pblicas e privadas, tm desenvolvidopesquisas em biotecnologia no Brasil,com qualidade e resultados comparveisaos daquelas desenvolvidas em pasesde Primeiro Mundo. Por exemplo, narea vegetal, existem empresas fazendotestes com soja, milho, cana-de-acar efumo geneticamente modificados, entreoutros. Na rea da sade humana eanimal, podemos citar pesquisas envol-

    vendo insulina recombinante e clonagemde animais, dentre aquelas desenvolvi-das no Brasil.

    BC&D - Existem tramitando no Con-gresso Nacional projetos de lei quevisam rotulagem de produtos ge-neticamente modificados. Como oMinistrio da Cincia e Tecnologiase posiciona em relao a essa ques-to?

    Israel Vargas - A Lei 8.974/95, que

    estabeleceu normas para o uso de tcni-cas de engenharia gentica e liberao

    no meio ambiente de OGM, regulamen-tada pelo Decreto 1.752/95, confere CTNBio competncia para regulamen-tar quaisquer atividades que envolvamOGM. Esta legislao enquadra, portan-to, a questo da rotulagem de produtosgeneticamente modificados. A CTNBiodesignou, entre seus membros, um gru-po de especialistas com a atribuioespecfica de estudar a questo da

    rotulagem de OGM e derivados, quetem analisado extensa documentaonacional e internacional sobre a matria.A comisso est representada nas reuni-es do Codex Alimentarius, no Brasil eno exterior, alm de se fazer presenteem audincias pblicas, na Cmara dosDeputados, quando essa questo abor-dada. Assim, no momento, a CTNBioest se preparando para definir sua po-sio sobre esse importante aspecto re-lacionado s novas tecnologias.

    BC&D - A Comisso Tcnica Nacio-nal de Biossegurana - CTNBio umrgo integrante da estrutura doMinistrio da Cincia e Tecnologia,que tem por misso autorizar o de-senvolvimento de pesquisas e deprodutos geneticamente aprovados.O senhor poderia fazer um relatosucinto das atividades da CTNBio,indicando quais produtos j foram

    liberados para testes no campo epara comercializao?

    Israel Vargas- A CTNBio foi instalada emjunho de 1996, em cerimnia presididapelo vice-presidente da Repblica, Mar-co Maciel. A comisso j elaborou evotou seu Regimento Interno e publi-cou, at o momento, nove InstruesNormativas; emitiu 35 Certificados deQualidade em Biossegurana; julgou eproferiu deciso em 69 processos admi-nistrativos e autorizou 48 liberaes pla-

    nejadas no meio ambiente de OGMs.Essas liberaes destinam-se avaliao

    de gentipos em condies de campo,em experimentos de pequena escala,sendo vedada, at o momento, a suacomercializao. Dentre os produtos queforam liberados para testes de campo,destacam-se: o milho transgnico resis-tente a insetos; o milho transgnico resis-tente a herbicida; a cana-de-acartransgnica resistente a herbicida; o fumotransgnico resistente a vrus; o algodo

    transgnico resistente a insetos; a sojatransgnica resistente a insetos e a sojatransgnica resistente a herbicida. Emoutubro deste ano, a CTNBio posicionou-se oficialmente a favor de solicitao dasindstrias de leos vegetais para a im-portao de soja em gro, provenientedos Estados Unidos, que poder contersoja transgnica resistente ao herbicidaRoundup, para a finalidade especficade processamento industrial.

    BC&D - A Lei de Biossegurana pro-

    be qualquer manipulao de clu-las germinais humanas. Entretanto, sabido que essa manipulao podeter aplicao mdica, por exemplo,na regenerao de tecidos e trans-plantes de rgos. Existe algum es-tudo no Ministrio da Cincia eTecnologia para estimular essaspesquisas e contornar as restrieslegais?

    Israel Vargas- De acordo com a Lei deBiossegurana e com a Instruo

    Normativa n. 8, expressamente veda-da, nas atividades com seres humanos, amanipulao gentica de clulasgerminativas ou totipotentes, assim comoos experimentos de clonagem radical.Somente sero consideradas propostasde interveno ou manipulao genti-ca em seres humanos aquelas que envol-vam clulas somticas sem podergerminativo.

    BC&D - A rejeio a produtos gene-ticamente modificados se deve, em

    grande parte, ao pouco conheci-mento que a sociedade tem sobre oprocesso de produo elicenciamento desses produtos. OMinistrio da Cincia e Tecnologiapretende desenvolver alguma cam-panha de conscientizao nessesentido?

    Israel Vargas - Tanto a rea privadaquanto o setor pblico tem a responsa-bilidade de prestar esclarecimentos sociedade sobre produtos geneticamen-

    te modificados. Esta entrevista umexemplo disso.

    "A CTNBio posicionou-seoficialmente a favor de

    solicitao das indstrias

    de leos vegetais para

    importao de soja em

    gro, proveniente dos

    Estados Unidos"

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    A INOCULAO DE

    LEGUMINOSASAUMENTO DA PRODUTIVIDADE COM A FIXAO BIOLGICA DE NITROGNIOO nitrognio um dos aparentes

    paradoxos da natureza. Ao mesmo tem-po que um dos elementos mais abun-dantes na Terra, pois 81% do ar atmosf-rico so compostos de nitrognio, umdos mais escassos nos solos e dos maiscaros, seja para a nutrio vege-tal, humana ou animal, nestes

    dois ltimos sob a forma de pro-te nas . Es te aparentedescompasso, paradoxal paranossos padres de raciocnio,deve-se ao fato de que, na atmos-fera, o nitrognio encontra-se soba forma de N2, uma molculaformada por dois tomos de ni-trognio unidos por uma trpliceligao extremamente estvel eque requer uma elevada energiade ativao para que venha areagir com outros elementos. As-sim, de forma natural, o nitrog-

    nio atmosfrico s rompidodurante tempestades, onde a ener-gia das descargas eltricas forne-ce as condies necessrias paraa quebra da molcula e a combi-nao do nitrognio com o oxignio,formando xidos solveis em gua e quevo formar nitratos, absorvveis pelasplantas. Em laboratrio ou em indstria,para romper a molcula e combinar seustomos com hidrognio, formando am-nia e da partindo para outros produtos,como uria, sulfato de amnia etc., necessrio submeter o processo a tem-

    peraturas de 5000C e a 250atm de pres-so. , portanto, um sistema altamenteconsumidor de energia, o que torna osderivados de nitrognio produtos relati-vamente caros. Freire, J.R.J. Fixao doNitrognio pela Simbiose Rhizbio/Leguminosa. In: Cardoso, E.J.B.N, Tsai,SM Neves, M.P.C (eds). Microbiologia doSolo. Campinas, Sociedade Brasileira deCincia do Solo, 1992.

    Desta forma, plantas e animais,embora imersos em um ambiente denitrognio, tm que ser nutridos comderivados deste elemento, de alto preonos sistemas agrcolas ou pecurios. Nanatureza, entretanto, existe um sistema

    natural para transformar o nitrognioatmosfrico, molecular, em formas aces-sveis para as plantas e, a partir da, paraos animais. Um nmero restrito de mi-crorganismos, isoladamente ou emsimbiose, forma uma enzima chamada

    nitrogenase, que capaz de realizar aclivagem da molcula de nitrognio e acombinao de seus tomos com o hi-drognio, formando amnia, nas condi-es ambientes de presso e temperatu-ra. Alguns destes microrganismos vivemde forma livre nos solos (Azotobacter,Beijerinckia, Derxia, Clostridium), outrosvivem na superf c ie das razes

    (Azospirillum), outros, ainda, no caule efolhas de algumas plantas(Herbaspirillum, Frankia) E um outrogrupo, no qual vamos nos deter maisaqui, embora possa viver de forma livrenos solos, s fixa nitrognio quando emsimbiose com plantas da famlia dasleguminosas (Rhizobium eBradyrhizobium). Estes microrganismosconstituem o grupo mais bem estudado,dentro do qual se desenvolveu umatecnologia agr cola denominadainoculao de leguminosas e um produ-to denominado inoculante, que umdos modernos insumos utilizados parase obter altas produes com retorno

    financeiro. As bactrias dos gnerosRhizobium e Bradyrhizobium no pos-suem a enzima nitrogenase. Vivendo nossolos , "procuram" as razes dasleguminosas afins e, atravs dos plosradiculares, penetram nos tecidos da

    raiz, provocando uma estruturacelular diferenciada, que d ori-

    gem a um ndulo. No interiordeste ndulo, a bactria vai semult ipl icar e mudar demorfologia, formando osbacterides. Formam-se, tambm,duas substncias no-existentesnem na leguminosa e nem nabactr ia , iso ladamente: aleghemoglobina e a nitrogenase.A primeira a responsvel pelotransporte de oxignio no interi-or do ndulo, tendo uma estrutu-ra qumica semelhante hemoglobina do sangue, inclusi-

    ve com uma cor avermelhada,que se nota ao se cortar umndulo ao meio. J a nitrogenase a responsvel, como dissemosacima, pela clivagem da molcu-

    la de nitrognio e sua combinao como hidrognio. A amnia formada nointerior dos ndulos sofre algumas rea-es intermedirias, sendo estas subs-tncias transportadas para toda a plantapela seiva, entrando no pool deaminocidos. Este sistema tipicamentesimbitico, pois a bactria passa a forne-cer o nitrognio do qual a planta neces-

    sita e recebe desta os carboidratos parasua sobrevivncia e serve de fonte deenergia para reduzir o N2 do ar a NH3.

    As bactrias simbiticas

    As bactrias dos gneros Rhizobiume Bradyrhizobium so especficas paradeterminados grupos de plantas. Assim,Bradyrhizobium japonicum e elkaninodulam a soja. Rhizobium tropici eRhizobium leguminosarum bv phaseolinodulam o fei joeiro , Rhizobiumleguminosarum bv trifolii nodula os tre-vos. Entretanto, alm desta diviso emespcie, cada espcie se subdivide em

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    estirpes, que se diferenciam entre si pordiversas caractersticas, entre elas a defixar mais ou menos nitrognio. Assim,existem estirpes que fixam todo o nitro-gnio necessrio para a produo nor-mal da planta e outras que no fixampraticamente nada. Um dos mais impor-tantes trabalhos dos pesquisadores darea o de selecionar estirpes de eleva-da eficincia, levando em conta, tam-bm, outras caractersticas, como

    competitividade frente s estirpes exis-tentes no solo, bom crescimento emmeios industriais, eficincia em umaampla gama de cultivares etc. Esta sele-o realizada, inicialmente, em condi-es de laboratrio, onde feita umaprimeira triagem em um grande nmerode isolados. Aps esta primeira triagem,as de melhor desempenho so testadasem vasos com solo, em casa de vegeta-o. Novamente as melhores so levadaspara testes de campo, para a seleofinal. Estes testes, nas leguminosas mais

    cultivadas, esto sendo feitos em rede,com vrias instituies, em locais diver-sos do pas, realizando os experimentos,sempre em comparao com as estirpestomadas como padro. Finalmente, asestirpes de melhor desempenho passama ser recomendadas ao Ministrio daAgricultura para serem distribudas sempresas produtoras de inoculante. Es-tas estirpes so armazenadas em umBanco de Estirpes, que a instituiodepositria deste material e a nica auto-rizada a distribu-lo para as empresas.No Brasil, o Banco de Estirpes se encon-

    tra na FEPAGRO/MIRCEN, da Secretariade Cincia e Tecnologia do Rio Grandedo Sul e da Universidade Federal do RioGrande do Sul. A recomendao deestirpes, baseada nos dados experimen-tais, feita pela Rede de LaboratriosRecomendadores de Es t irpes deRhizobium (RELARE), que se rene coma presena dos principais pesquisadoresdo pas e com as empresas produtorasde inoculantes.

    A produo de inoculantes

    Inoculante definido em lei "comotodo o produto base de microrganis-mo, capaz de favorecer o desenvolvi-mento de plantas". Assim, os produtos base de Rhizobium e Bradyrhizobiumso chamados de inoculantes paraleguminosas. A produo industrial deinoculantes teve incio no Brasil em1956, com uma empresa do Rio Grandedo Sul, que contou com a assistnciatcnica do Dr. J.R. Jardim Freire, daSecretaria da Agricultura do Rio Grandedo Sul. Mas foi a partir da dcada de 70,com a expanso da cultura da soja no sul

    do Brasil e, posteriormente, com seucultivo estendido para o Brasil Central,

    que a produo de inoculantes teve suamaior expanso, com o surgimento denovas empresas. O grfico 1 mostra aproduo deste insumo nos ltimos dezanos. V-se que h oscilaes, com anosde acentuada queda na produo. Istoocorre nos anos em que a cultura da soja

    sofre reduo de rea ou o preo doproduto final desanimador, no esti-mulando o produtor rural a investir na

    sua lavoura. Atualmente, alm das em-presas nacionais, diversas marcas es-trangeiras passaram a disputar o merca-do brasileiro, especialmente as oriundasda rea do Mercosul. A tecnologia usadana produo de inoculantes teve origem,inicialmente, na Secretaria de Agricultu-ra do Rio Grande do Sul, baseando-seem pequenos fermentadores de vidro,com capacidade para 20 litros. No finalda dcada de 60 e incio da de 70, oInstituto de Biologia e PesquisasTecnolgicas do Paran (IBPT) desen-volveu uma tecnologia, inclusive com o

    desenho de equipamentos em maior es-cala, para 250 e 400 litros, que perduroudurante anos nas empresas brasileiras.Mas foram as prprias empresas que

    passaram a desenvolver sua tecnologia,desenhando fermentadores epesquisando os parmetros de fermenta-o. Em 1984, foram implantados osprimeiros fermentadores de maior porte,para 1.500 litros, acoplados a um jogo de

    fermentadores menores, que servemcomo inculos sucessivos. Esta a

    tecnologia hoje usada por, praticamente,todas as empresas brasi leiras. Aps ocultivo, a bactria tem que ser veiculadaem um substrato adequado para propici-ar sua sobrevivncia, em altas concen-traes, at o momento do uso peloagricultor. Este substrato, usado de lon-ga data, a turfa, que um solo comelevado teor de matria orgnica. A turfapara a produo de inoculantes devepossuir algumas caractersticas: alto teor

    de matria orgnica (acima de 80%),baixssimos teores de cloretos e ausnciade areia, pois esta, alm de prejudicar asobrevivncia do Rhizobium, ir causardesgaste nas mquinas semeadeiras. Aturfa, entretanto, como todo o solo, pos-sui um grande nmero de microrganis-mos nativos, que podero competir oumesmo ser antagnicos ao Rhizobium.Da a necessidade de se esterilizar a turfaantes de sua mistura com a bactria. Estaesterilizao feita com radiao gama,que deve ser aplicada na dosagem mni-

    ma de 5Kgray, embora esta dosagempossa variar em funo da composiomicrobiolgica da turfa. Atualmente, aesterilizao da turfa passar a ser umaexigncia da legislao, visando garantirum produto de elevada qualidade. No-vos substratos vm sendo testados paraa produo de inoculantes. Existem nocomrcio inoculantes lquidos e em for-ma de p molhvel. Embora promisso-res, principalmente por facilitarem o usopor parte do agricultor, os resultados decampo destes produtos ainda tm sidoinferiores aos inoculantes turfosos. Da

    haver uma recomendao clara dos r-gos de pesquisa para o uso dosinoculantes base deturfa.Recomendaes Tcnicas para acultura da soja na Regio Central doBrasil, 1996/97.

    Legislao de inoculantes

    A produo de inoculantes regidapor legislao especfica, de mbito fe-deral. O Ministrio da Agricultura e doAbastecimento o rgo encarregado deregistrar os estabelecimentos produtores

    e os produtos. Atualmente, a legislaoexige uma concentrao mnima de 108clulas de Rhizobium viveis por gramade produto no momento da fabricao ede 107 clulas no momento do venci-mento da validade do produto. Estalegislao est sendo alterada por reso-luo do Mercosul e a concentraomnima dever ser de 108 clulas emqualquer momento at o prazo de vali-dade.

    Resultados com o uso de inoculantes

    Pode-se dizer que a cultura da sojano Brasil economicamente vivel gra-

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    as fixao biolgica do nitrognio.Sendo uma cultura produtora de prote-nas, necessita de grandes quantidadesde nitrognio para alcanar elevadasprodutividades. Estima-se que uma la-voura de soja, para produzir em torno de3.000kg de gros por hectare, necessitede cerca de 250kg de nitrognio, ou seja,mais de 500kg de uria. Isto tornaria

    invivel o cultivo econmico destaleguminosa. Assim, a fixao biolgica,tirando do ar e incorporando ao sistemasolo/planta o equivalente a 200kg de N/ha, contribui, somente no caso da soja,para o aporte de 200kg X 12.000.000ha =2 bilhes e 400 milhes de quilos de Npor ano (ou 2 milhes e 400 mil tonela-das). Ao preo de R$ 760,00 a toneladade nitrognio, teremos uma economia de1 bilho e oitocentos milhes de reais.Ao se fazer este clculo, deve-se levarem conta, tambm, a enorme economiade petrleo que o processo traz, pois a

    produo de derivados de N por proces-sos industriais altamente consumidorade petrleo. Em termos de produtivida-de, a fixao biolgica do nitrognio, nocaso de algumas leguminosas, j capaz de proporcionar todo o nitro-gnio do qual a planta necessitapara expressar sua capacidade ge-ntica de produo. Hoje pode-seobter produtividades, em soja, daordem de 4.000kg por hectare semusar nada de nitrognio qumico,somente utilizando-se a inoculao.Os aumentos de produtividade de-

    vidos ao uso de inoculante variamconforme algumas condies: nacultura da soja, em primeiro ano decultivo da leguminosa, o inoculante decisivo para que se obtenha bomnvel de produo. Sem inoculao,muitas vezes nem se chega a colher,de to baixa que a produo. Emanos de plantios subseqentes, asdiferenas entre reas inoculadas eno-inoculadas vai diminuindo, mas,assim mesmo, ainda h ganhos deprodutividade que podem variar de4 a 12%, segundo trabalhos de r-

    gos de pesquisa. Em feijoeiro, atpouco tempo, os nveis de fixao

    eram muito baixos. Mas a pesquisa seintensificou nos ltimos anos e foramselecionadas novas estirpes que hoje jcontribuem eficazmente para bons gan-hos de nitrognio na cultura-base daalimentao brasileira.

    Como usar o inoculante

    A inoculao consiste em colocarcerca de 80.000 clulas de Rhizobium

    sobre cada semente. Logicamente queisto tem que ser efetuado de uma formaprtica e rpida, para facilitar o trabalhodo agricultor. Isto feito pela mistura doinoculante com as sementes umedecidas.Esta mistura pode ser feita de diversasmaneiras, seja manualmente para pe-quenas quantidades, seja atravs de be-toneiras ou de tambores com eixo ex-cntrico para quantidades maiores. Atu-almente, existem mquinas desenvolvi-das especialmente para o tratamento desementes, que aplicam primeiro os

    fungicidas e, a seguir, o inoculante. Oimportante que haja uma distribuiouniforme do inoculante sobre as semen-tes, fazendo com que todas fiquemrecobertas com o produto, assegurandouma uniformidade na nodulao. Atual-mente, recomendado o uso de acarna gua com a qual se vai umedecer assementes, para aumentar a aderncia doproduto.

    Futuro da inoculao

    A tendncia moderna no cult ivo de

    leguminosas o uso cada mais intensodo inoculante, por ser um produto natu-ral, de alta eficincia e com uma relaocusto/benefcio muito favorvel para o

    lado do benefcio. Nas linhas de pesqui-sa procuram-se estirpes cada vez melho-res, para propiciar altas taxas de fixao,acompanhando o melhoramento genti-co das plantas, que visam produtivida-des cada vez maiores. No campo deseleo de estirpes, j se procura intro-duzir melhoramento gentico nos mi-crorganismos, para que se aumente cadavez mais o nvel de fixao e outrascaractersticas favorveis das bactrias.O melhoramento gentico das plantasleguminosas j leva em conta a capaci-dade de se associar com as bactrias e defixar altas quantidades de nitrognio

    como uma das caractersticas a seremintroduzidas no melhoramento e na cri-ao de novas cultivares. No campo dafixao em outras plantas que no as

    leguminosas, uma das metas maisperseguidas pelos pesquisadores detodo o mundo incrementar a f ixa-o de nitrognio em plantas deexpresso econmica, mormente asgramneas, podendo vir a dispensarou pelo menos reduzir sensivel-mente as quantidades de nitrognioqumico que hoje so utilizadasnestas culturas. Neste campo o Bra-

    sil um dos pases lderes na pes-quisa, pois a equipe da EMBRAPAliderada pela Dra. JohannaDbereiner tem resultados notveisna pesquisa com Azospirillum,Acetobacter e Herbaspirillum. Mascomo este assunto j foi objeto deartigo da prpria Dra. Johanna noprimeiro nmero desta revista, dei-xaremos de coment-lo aqui.Dbereiner J. - A importncia daFixao Biolgica do Nitrogniopara a Agricultura Sustentvel.Braslia, Biotecnologia Cincia &

    Desenvolvimento, n 1, maio/1997(Encarte especial, p. 2-3).

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    A BIOTECNOLOGIA NO TRATAMENTO DE DEJETOS DE SUNOS

    Amilcar Tanuri

    Chefe do Laboratrio de Virologia Molecular,

    Departamento de Gentica, IB-UFRJ

    Diviso de AIDS/HIV no CDC, Atlanta, USA.

    Ana Carolina Paulo Vicente

    Chefe de Laboratrio de Gentica de Microorganismos do

    Departamento de Gentica da Fiocruz, Rio de Janeiro, RJ.

    Rodrigo de Moraes Brindeiro

    Professor e pesquisador do Laboratrio de Virologia

    Molecular, Departamento de Gentica, IB-UFRJ.

    e-mail: [email protected]

    AIDS

    Menos de duas dcadas aps aidenti f icao da Sndrome daImunodeficincia Adquirida (AIDS) e deseu agente etiolgico, o vrus HIV (Vrusde Imunodeficincia Humana), a epide-mia atinge proporo global. Contudo, oimpacto da infeco no igual ao redordo mundo devido a caractersticassocioeconmicas , cul turais edemogrficas. Na verdade, cada pasenfrenta uma epidemia com caractersti-cas particulares. Atualmente, 92% dosnovos casos de AIDS ocorrem nos pasesdo Terceiro Mundo. O Brasil no foge aesta regra e apresenta, at o momento,110.000 casos relatados, e ainda existemaproximadamente 500.000 portadoresassintomticos do HIV. Estes ltimosrepresentam um grande problema para aSade Pblica porque, desconhecendosua condio de portador assintomtico

    e atravs de prticas sexuais de risco,podem transmitir o vrus para um nme-ro ainda maior de pessoas susceptveis.O HIV tem como material gentico oRNA, e classificado como retrovrus emfuno de possuir a enzima transcriptasereversa. Esta enzima, no estgio inicialda replicao viral , promove a sntese dadupla fita de DNA viral a partir de ummolde de RNA. Devido ao fato de norealizar a editorao da incorporao debases durante a sntese do DNA, atranscriptase reversa responsvel pelogrande acmulo de mutaes ao longo

    do genoma destes vrus, gerando umaenorme variabilidade gentica, que umdos obstculos para o desenvolvimentode uma vacina anti-HIV, assim como notratamento base de anti-retrovirais. Aavaliao de isolados virais ao longo dotempo mostra uma grande diversidadeentre as seqncias de nucleotdeos.Atualmente, j so conhecidos cerca denove subtipos de HIV-1 (de A a I), almde amostras altamente divergentes queconstituem o grupo O e de HIV-2. Ossubtipos do HIV encontram-se espalha-dos pelo mundo, e so classificados

    com base nas seqncias dos genes doenvelope ou do gag. Sendo necessria

    uma variao acima de 30% entre asseqncias para que sejam em subtiposdiferentes. Pouco ainda conhecido emrelao s caractersticas biolgicas des-tes subtipos. Alm disso, muitos traba-lhos tm mostrado a existncia de se-qncias virais em que parte do genomaclassificada como pertencente a umsubtipo e outra parte a outro subtipodistinto seriam recombinantes. No Brasil,o subtipo dominante o B, porm jforam identificados tambm os subtiposC, D e F. Estes outros subtipos podem serum problema para o controle da doena,devido possibilidade dos mesmos apre-sentarem novas propriedadespatognicas, assim como novo perfil deresistncia aos antivirais. A histria daAIDS se confunde com a dabiotecnologia. Na verdade, o homemnunca utilizou tanto desta tecnologia

    para entender e combater uma doenahumana. Esta batalha ainda no foivencida, mas a comunidade cientficadeu respostas rpidas e ajudou a com-preender e estabelecer formas de con-trolar esta epidemia. Neste artigo, descre-vemos algumas aplicaesbiotecnolgicas que esto contribuindopara o combate AIDS.

    Diagnstico

    A part ir da descoberta do vrus daAIDS e da possibilidade de infeco via

    transfuso sangunea, o desenvolvimen-to de um kit-diagnst ico se tornouprioritrio. Neste tocante, a engenhariagentica contribuiu para o rpido desen-volvimento deste importante instrumen-to de controle. Vrias protenas viraisforam expressas em sistemas bacterianos,e graas a este artifcio pde-se desen-volver rapidamente um kit-diagnsticoconfivel . Outro avano foi aimplementao do teste de dosagem decarga viral no sangue perifrico, que essencial dentro dos protocolos de trata-mento. Uma srie de trabalhos indepen-

    dentes mostraram que a quantidade devrus circulante o fator que prediz o

    desencadeamento da imunodeficincia,ou se ja , pacientes que na faseassintomtica apresentam carga viral ele-vada tendem a evoluir para a AIDS muitomais rapidamente quando comparadoscom os outros com cargas virais baixas.Mais uma vez a medicina pde lanarmo da biotecnologia para que pudessedesenvolver um mtodo confivel dedosagem da carga viral atravs da tcni-ca de PCR quantitativo. Esta tcnica sebaseia na amplificao de quantidadesnfimas de RNA viral a partir da utilizaode DNA sinttico (primers) que catalizamreao de sntese. Esta reao repetidadezenas de vezes, e a amplificaoexponencial do cido nuclico pode sermedida atravs de tcnicasimunoqumicas e quantitativas. Foi pos-svel desenvolver kits quantitativos decarga viral que esto disposio dos

    clnicos para ajudar a decidir as bases dotratamento com drogas anti-retrovirais.Neste tocante, o Ministrio da Sade,atravs do Programa Nacional de DST/AIDS, organizou, a nvel nacional, umarede pblica de laboratrios para dosa-gem de carga viral. A continuidade destarede de suma importncia para ocontrole da resistncia viral s drogas.Outros mtodos foram desenvolvidospara o controle da resistncia viral sdrogas. Atravs da tcnica de hibridizaomolecular, foi possvel criar uma abor-dagem simples para identificao de mu-

    taes no genoma viral que levam resistncia aos inibidores da transcriptasee protease. Assim, da mesma forma queo antibiograma feito para avaliar asensibilidade de bactrias aos antibiti-cos e, desta forma, eleger aquele idealpara o tratamento, possvel analisar asregies-alvo do vrus, o que permitetomar decises precoces em relao troca de medicamentos, a fim de mantera viremia do paciente em um nvel basalmuito baixo.

    Vacina

    A vacina anti-HIV seria uma arma

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    eficaz para impedir o avano desta epi-demia. A engenharia gentica e outrastcnicas biotecnolgicas possibilitarama produo em larga escala de antgenosvirais importantes para o desenvolvi-mento de uma vacina. Hoje em dia, jexistem prottipos de vacinas com vriascomposies antignicas em fase de tes-tes clnicos. Infelizmente, o teste de umavacina anti-AIDS um processo longo emuito dispendioso, inibindo assim os

    investimentos privados nesta rea. Outrofator que ameaa o sucesso da vacina a grande taxa de mutao que o vrusapresenta nas regies importantes para aativao do sistema imunolgico huma-no. Vrias estratgias foram desenhadaspara criao de uma vacina anti-HIV ealguns grupos se dedicaram produoda protena de envelope (gp160) na ten-ta t iva de induo de ant icorposneutralizantes contra o HIV. Esses gru-pos utilizaram vrios sistemas de expres-so de protenas, tais como baculovrus,

    levedura e clulas de mamfero. A em-presa americana Genetec Inc. desenvol-veu a expresso da gp160 em clulas dehmster (CHO), o que possibilitou aproduo de grandes quantidades doantgeno para testes clnicos da vacina.Outra indstria americana adotou obaculovrus como sistema de expresso,e desenvolveu tambm o antgeno gp160neste vrus de inseto. Ambos os sistemasmostraram-se eficazes. Uma outra estra-tgia a utilizao de vetores vivos, ouseja, vrus humanos atenuados, tais comoda vaccinia, que foi manipulado geneti-

    camente a fim de se induzir a expressoda gp160 quando inoculados. A fim dediminuir o risco biolgico desta estrat-gia, foram manipulados geneticamentepara atuarem como veculos (vetores) devacinao. Um exemplo clssico ovrus da varola de canrios (canaripox),que foi utilizado como vetor vivo paraexpressar a gp160 do HIV-1. Outra abor-dagem se baseia em introduzir nas clu-las da derme um DNA que, uma vez emcontato com o ncleo celular, expressaantgenos virais, e assim induz a imuni-dade nos indivduos inoculados. Esta

    abordagem foi batizada de vacinao aDNA ou vacinas a DNA, e uma gamaimensa de construes genticas expres-sando diferentes antgenos de HIV-1 estsendo testada em animais. A manipula-o em tubo de ensaio (in vitro) dogenoma do HIV destruindo genes aces-srios tais como vpu ou nef constituioutra possibilidade, uma vez que geramvrus com menor potencial patognico.O vrus com o gene nef inativado apre-senta um baixo potencial patognico.Em experimentos de vacinao utilizan-do mutantes nef de SIV (vrus parente do

    HIV que infecta macaco), estes impedi-ram a superinfeco com a cepa virulen-

    ta letal. Obviamente existem vrias ques-tes de biossegurana relativas a estetipo de vacina, principalmente no queconcerne ao potencial de reverso des-ses vrus e formao, atravs derecombinao de vrus selvagens, indu-zindo assim a doena nas pessoas vaci-nadas. De uma forma geral, houve umcerto desinteresse das grandes indstriasbiotecnolgicas no desenvolvimento deuma vacina preventiva contra a AIDS.

    Este desinteresse foi causado, em parte,pela gerao de novas drogas potentescontra o HIV e a dificuldade na organi-zao dos testes clnicos para vacina.

    Teraputica

    Como citado anteriormente, o HIV um retrovrus, e, portanto, utiliza umaenzima que transforma o seu materialgentico de RNA em DNA. Esta transfor-mao (transcrio reversa) pode serinibida por vrias drogas, sendo as mais

    utilizadas o AZT, 3TC, DDI e DDC. Estasso derivadas de nucleotdeos (blocosque constituem o RNA e DNA) que quan-do incorporados transcriptase reversaviral (TR) na cadeia de DNA, inibem areao, o que impede a infeco celular.Infelizmente, a resistncia a estas drogas adquirida rapidamente pelo vrus atra-vs de mutaes estratgicas na seqn-cia que codifica a TR. Assim, a vantagemteraputica obtida com este tratamento rapidamente perdida aps o apareci-mento dos vrus resistentes que sobre-pem a populao viral sensvel. Outro

    alvo de ataque das dro-gas anti-HIV a enzimaproteinase, que fun-damental no processode maturao das prote-nas virais durante obrotamento da partcu-la. Sem sua atividade,partculas defeituosas,que no consegueminfectar novas clulas,so geradas. A partir detcnicas de modelagemmolecular, foram desen-

    volvidas drogas poten-tes que conseguem ini-bir a ao desta enzimaem concentraesbaixss imas. Es tas so chamadasinibidores de protease (IP) e entraram nomercado h poucos anos, causando umagrande revoluo no tratamento da do-ena. Pela primeira vez, pacientes com-pletamente desenganados puderam serecuperar e levar suas vidas normalmen-te. Infel izmente, existem relatos de muta-es virais que levam resistncia aosIP. Na tentativa de impedir o apareci-

    mento de vrus resistentes o tratamentoclnico atual utiliza a associao de

    antivirais, no somente os IP, mas tam-bm os inibidores de transcriptase queconstituem o coquetel de drogas quepode levar a uma queda duradoura dacarga viral. Devido ao alto custo dosmedicamentos, este tratamento ainda nopode ser disponibilizado para toda apopulao mundial infectada; contudo,no Brasil, o Ministrio da Sade, atravsdo seu Programa Nacional de DST/AIDS,vem disponibilizando o coquetel de dro-

    gas para um grande nmero de doentes.O alto custo deste programa e a possibi-lidade de aparecimento de resistnciaviral fazem com que deva serimplementado um sistema de vigilncia.Este sistema identificaria vrus resistentese aconselharia a melhor combinao deantivirais para o controle da infeco emdiferentes reas do pas. Novos alvosmoleculares esto sendo pesquisados afim de bloquear o ciclo viral, um deles a enzima integrase que responsvelpela integrao do genoma viral no n-

    cleo da clula infectada. Outros alvosteraputicos potenciais que vm sendopesquisados so os receptores celularespara betaquimiocinas (CCR5 e CXCR4, oufusina), responsveis pela entrada dovrus na clula, bem como as prpriasbetaquimiocinas, que so mediadoresimunolgicos capazes de bloquear tantoa entrada viral por competio pelo seureceptor, quanto a produo de novosvrus pela clula j infectada, por pro-cesso ainda no bem conhecido. Portan-to, quanto mais alvos disponveis para ateraputica anti-AIDS, maior a probabili-

    dade de sucesso.As caracter sticas peculiares desta

    pandemia faz com que seja fundamentalo engajamento das comunidades cient-ficas locais para um melhor entendimen-to dos problemas peculiares de cadapas onde o HIV circula.

    A contribuio da biotecnologia nocontrole efetivo desta epidemia tem sidodecisiva, quer seja nos mtodos diag-

    nsticos, produo de anti-retrovirais ouno desenvolvimento de novas vacinas.

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    NOVAS CONQUISTAS DO INSTITUTO BUTANTANIsaias Raw

    Presidente da Fundao Butantan

    Biotecnologia a Servioda Sade Pblica

    Instituto Butantan inter-nacionalmente conhecidopelas suas cobras e pelossoros antipeonhentos.Nos ltimos anos o institu-

    to transformou-se no maior produtornacional de vacinas, que se tornou pu-blicamente visvel, quando vacinastrplices importadas foram recusadas peloINCQS por ter nvel de toxicidade acimado permitido. S as vacinas do Butantanforam aprovadas. A produo de vacinatrplice foi inspecionada em 1997 e apro-vada pela Organizao Mundial de Sa-de.

    Dentro do Programa Nacional deAuto-suficincia, o Brasi l espera poderproduzir a maior parte da demanda dasvacinas obrigatrias. Este ano o InstitutoButantan forneceu 30 milhes de dosesde vacinas, dos quais 10 milhes de

    vacina trplice. O Butantan ainda onico produtor de toxide tetnico e dotoxide diftrico. A Fundao Nacionalde Sade substituir o toxide tetnicopara adultos pela combinao tetnico-diftrico. Estaremos assim evitando oressurgimento da difteria em adultos, o

    que ocorre noEquador e naRss ia, comcons ide rve lmortalidade.

    A posiode liderana doButantan naAmrica Latinase deve princi-palmente im-plantao doseu Centro deBiotecnologia,da Diviso deP r o d u o ,onde 40 pes-quisadores, dosquais 20 dou-tores, desenvol-vem e transferem para o setor produtivo

    novos processos e produtos. O maisimportante a vacina recombinante con-tra a hepati te B, j testada pelo Centro deSade da Universidade de So Paulo emAraraquara, tendo confirmado os testesem camundongos, de ser uma das vaci-nas contra a hepatite mais imunognicas.

    O simples anncio do incio daproduo da vacina contra hepatite B,em 1998, fez com que as ofertas, que hanos eram de 8 dlares por dose, cas-sem para menos de 1 dlar. A partir de1999, o Butantan fornecer toda a de-manda brasileira, o que permitir erradicar

    a hepatite B na prxima dcada. A capa-cidade de produo do Butantan decerca de 100 milhes de doses por ano.

    O Butantan no momento est de-senvolvendo em colaborao com o Ins-tituto Adolfo Lutz e a Fiocruz uma poten-cial vacina contra meningite B/C, e jlogrou conjugar o polissacardeo dameningite C, o que o torna imunognicopara crianas menores de 2 anos. Essanova vacina B/C e a vacina C conjugadadevem resolver o problema da vacina-o das crianas com menos de 2 anos,onde a meningite mais prevalente e

    mortal. As vacinas atualmente produzi-das no se mostraram eficazes para a

    meningite B e me-ningite C, e a vaci-nao abaixo de 2anos um desper-dcio de recursos ede esforos.

    Usando basi-camente a mesmatecnologia, devere-mos produzir em1-2 anos a vacinaconjugada contraHemophilus B, econtra os Pneumo-coccus mais pre-valentes no Brasil.Essas duas bactri-as so respons-veis por uma partedos casos de me-

    ningite bacteriana.

    Outra vacina que estar sendo en-tregue em 1998 a vacina anti-rbica emcultura celular, mais imunognica (exi-gindo menos doses) e muito mais segurado que a atual vacina produzida emcamundongos. A tecnologia de produ-o de vrus em cultura celular dever

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    ser aplicada brevemente para produode vacinas contra rubola e sarampo.

    O aumento do nmero de trans-plantes no Brasil exige o tratamento dasrejeies que pem em risco a vida dospacientes. O Instituto Butantan, em coo-perao com a Fundao Zerbini, hojeo nico produtor de soro antitimocitriohumano e de dois anticorposmonoclonais que bloqueiam a rejeio.

    Mais de 25.000 pacientes renaisaguardam na fila dos transplantes, e paraserem mantidos vivos exigem a adminis-trao da eritropoetina, hormnio renalque controla a produo de hemcias. Jno comeo do prximo ano, estaremosproduzindo a eritropoetina evitando queo SUS gaste vrias dezenas de milhes dedlares com esse produto.

    Talvez a tecnologia de maior im-pacto venha a ser a produo dosurfactante pulmonar.

    Estima-se que 10.8% dos recm-nascidos sejam prematuros, contribuin-

    do para a mortalidade infantil. Almdisso onera o SUS, com o atendimentodos prematuros, e a famlia que, perden-do o beb, tentar nova gravidez, comcusto econmico e psicolgico. Com acooperao da Sadia, deveremos utilizar

    em torno de 400.000 pulmes de sunospara produzir 400.000 doses desurfactante. Esse surfactante ser forne-cido pelo seu preo de custo ao SUS.

    Outro importante projeto a produ-

    o de fator anti-hemoflico porcino,que poder atender, sem risco de AIDSe hepatite B, os pacientes mais graves,que se tornam resistentes ao fator VIIIhumano.

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    A BIOTECNOLOGIA NO TRATAMENTO DE DEJETOS DE SUNOS

    Masaio Mizuno Ishizuka

    Professora titular da Universidade de So Paulo

    Faculdade de Medicina Veterinria e ZootecniaDepartamento de Medicina Veterinria Preventiva e Sade Animal

    e-mail: [email protected]

    suinocultura brasileira vemse destacando no cenriodo comrcio internacionalpela sua elevada qualidadetcnica e produtividade. Orebanho nacional de aproxi-

    madamente 35 milhes de sunos tem umaelevada densidade demogrfica nos Esta-

    dos do Rio Grande do Sul, Santa Catarina eParan, com acelerado desenvolvimentoem So Paulo, Gois, Mato Grosso do Sul,Mato Grosso e Minas Gerais. Paralelamenteao crescimento da produtividade, crescemtambm os problemas decorrentes da dis-posio dos dejetos e as exigncias interna-cionais relativas manuteno e promooda qualidade ambiental marcada por umagesto prpria - a ISO 14.000.

    A fim de que se possa ter uma idiasobre a magnitude do problema, bastaatentar ao fato de que a produo mdiadiria de dejetos de um suno de 2,35kg/

    dia, 5,80kg/dia quando acrescido de urina,podendo atingir a cifra de 8,60kg/dia, secomputado todo o volume lquido descar-tado (gua de bebida desperdiada, guade lavagem etc.). Num estado com umrebanho, por exemplo, de 3 milhes desunos, pode-se estimar a produo de7.050t de dejetos/dia, podendo atingir at25.800t/dia de dejetos lquidos. No so-mente pelo volume anteriormente apresen-tado, mas tambm pela sua composiomicrobiolgica e fsico-qumica, que osdejetos de sunos representam um potentepoluidor, degradando e contaminando o

    solo e mananciais de gua. Dentre osagentes patognicos mais importantes ca-pazes de ser veiculados pelos dejetos tem-se a E.coli, Salmonella sp, Myc.Tuberculosis,Brucella suis, Streptococcus sp, vrus dapeste suna clssica, da febre aftosa etc.,podendo alcanar outros hospedeiros, in-cluindo o homem. Algumas das substnci-as inorgnicas como o fsforo e o potssioem alta quantidade nas fezes podem poluiro meio ambiente. Compostos derivados esubstncias nitrogenadas e hidratos de car-bono tambm presentes nas fezes e sobao de fermentao anaerbia podemproduzir substncias poluentes avaliadaspor indicadores qumicos como DQO (de-

    manda qumica de oxignio), DBO (de-manda biolgica de oxignio), nitrognioamoniacal, slidos totais etc. Um fatordigno de nota que em ambientesanaerbios, prprios das esterqueiras, ocorrea degradao de:

    * carboidratos e lipdios em cidos

    graxos volteis, aldedos e gs carbnico;* sulfatos em gs sulfdrico e mercaptan;* aminocidos e protenas em mercaptan,

    fenis, paracresol, indol, escatol, aminas eamnia;

    * uria em amnia;* material orgnico em gs metano.

    O nitrognio presente no solo ou nosdejetos e em plantas em decomposiotorna-se disponvel para as razes das plan-tas quando convertido em nitrognio org-nico ou on nitrato. A fim de que asbactrias saprfitas do solo desempenhem

    sua ao transformando a matria orgnicaou o nitrognio amoniacal em nitrato, tor-

    na-se imperioso o lanamento no solo dequantidade de dejetos que o solo possareter. Sabe-se que em reas de elevadadensidade de sunos, o solo no possuimais esta capacidade de assimilao econseqentemente no apenas o solo,como tambm mananciais de gua super-

    ficial e/ou subterrnea esto contaminadospor microrganismos patognicos e polu-dos principalmente por fsforo, potssio,nitritos e nitratos. Estes dois ltimos, almde apresentarem alta mobilidade no solo,so causas de doenas no homem comocncer, metaemoglobinria, intoxicaesetc. Adicionalmente, h que se mencionar

    efeitos secundrios como intensa prolifera-o de artrpodes, como moscas esimuldeos, e destruio de peixes que soseus inimigos naturais. No Brasil, asesterqueiras e bioesterqueiras, sistemas dearmazenagem dos dejetos por um perodode tempo recomendado pelos rgos res-ponsveis pela fiscalizao ambiental, soos mtodos mais utilizados, apesar depromoverem um acmulo de material sli-do que, alm no ter destino certo, aindapromove mau odor devido fermentao.Com menor freqncia, os sistemas detratamento aerbio e anaerbio facultativo

    (compostagem, lagoas de estabilizao,diques de oxidao e digestores) tambmso utilizados a fim de se tratar os efluenteslanados nos recursos hdricos e melhoratender s exigncias dos rgosfiscalizadores federais. Contudo estes apre-sentam a desvantagem de terem um altocusto e, portanto, serem inviveis aos pe-quenos e mdios.

    A BIOTECNOLOGIA NO TRATAMENTODE DEJETOS DE SUNOS

    Especialistas em tratamento de dejetos

    de sunos so unnimes em admitir que,para que a suinocultura possa ser auto-sustentvel, h a necessidade de se disporou desenvolver recursos que possam dimi-nuir o volume de material slido, minimizaro odor e demais efeitos indesejveis; indi-cam tambm a necessidade de uma melhordefinio de um sistema capaz de harmo-nizar a reduo do potencial poluidorambiental com as propriedadesbiofertilizantes que apresentam os dejetos,e que sejam compatveis com a realidadeeconmica da atividade e dos criadores. Afim de atender expectativa do aumento darelao custo/benefcio, aliada ao menorimpacto ambiental, recentes pesquisas en-

    SUNOSNovas Tecnologias

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    contram na biotecnologia uma excelenteferramenta de suporte, j que era necess-rio promover um aumento da degradaoaerbia em efluentes com limitada quanti-dade de oxignio, reduzindo a quantidadede material slido e o odor.

    A biotecnologia, fruto da integrao decincias da bioqumica, microbiologia eengenharia, j possui uma legislao pr-pria e classifica os microrganismos utiliza-

    dos em quatro classes de acordo com amagnitude da patogenicidade dos agentesenvolvidos. Assim, classe 1 pertencemtodos os microrganismos que jamais foramidentificados como patognicos e que nooferecem perigo ao meio ambiente. Hoje, abiotecnologia reconhecida como umaindstria segura.

    As reas de aplicao da biotecnologiaso incontveis e tendem a aumentar pro-gressivamente. A explorao animal umdos setores beneficiados pelos recursos dabiotecnologia, desenvolvidos em outros

    pases e que passam a ser disponveis emnosso meio.

    No tocante ao tratamento de dejetos, abiotecnologia iniciou seu desenvolvimentoa partir da demanda da sociedade direta ouindiretamente relacionada com asuinocultura, como: a) a grande quantida-de de dejetos gerados, dificultando seuencaminhamento para a agricultura, que o seu destino mais adequado e b) os mausodores representando fator de desconfortoaos prprios sunos, comprometendo so-bremaneira a sua produtividade, e ao ho-mem que habita as imediaes da criao.

    PONTOS FUNDAMENTAIS NOTRATAMENTO DE DESEJOS

    A biotecnologia no tratamento de dejetosde sunos, aqui mencionada, baseou-se empontos fundamentais como a identificaode bactrias saprfitas capazes de transfor-mar o ambiente anaerbio em aerbio oumicroaerfilo, facilitando a:

    * degradao da matria orgnica, re-

    duzindo o teor de amnia;* oxidao da amnia remanescenteem nitrito e este em nitrato;

    * elaborao de enzimas que rompemas molculas de celulose;

    * oxidao de protenas e carboidratos.

    Conseqentemente, obtm-se como re-sultado final dejeto com alto poder fertili-zante e com reduo:

    * do mau odor;* da quantidade de material slido;* da quantidade de artrpodes.

    Existem disposio dos suinocultores

    vrios produtos de biotecnologia para estepropsito. Obviamente, a facilidade deaplicao um fator importante, a fim de seevitar operaes adicionais no trabalho derotina de uma criao. A aplicao diretanas esterqueiras e a intervalos razoavel-mente amplos pode ser considerada comovantagem interessante.

    UM PRODUTO NOVO

    Um produto apresentado sob forma degrnulos, estvel e aplicado a cada 14 dias,foi testado em uma criao do Estado deSanta Catarina por um perodo de 2,5meses, de novembro de 1996 a janeiro de1997, adotando-se como parmetros deavaliao dos resultados dois critrios. Umdeles consistiu na avaliao subjetiva doodor e da quantidade de insetos presentes.O outro critrio baseou-se na anliselaboratorial de amostras de dejetos pelasprovas de determinao de pH, slidostotais, slidos fixos, slidos volteis, DQO,

    nitrognio amoniacal, nitrognio total efsforo total selecionados dentre os vriosparmetros de verificao de reduo depoluentes. Os resultados laboratoriais en-contram-se reunidos na tabela que se se-gue. Pela observao e interpretao dosdados da tabela, pode-se verificar umareduo entre o incio e o final do experi-mento da ordem de:

    * 84,10% para os slidos totais - facilida-de no manuseio dos dejetos;

    * 77,5% para os slidos fixos - indicaode mineralizao;

    * 87,9% para os slidos volteis - redu-

    o no teor de cidos graxos e amnia eportanto dos odores;

    * 86,7% para o nitrognio amoniacal -reduo do odor e, conseqentemente, denitritos e nitratos;

    * 43,3% para o nitrognio total - reduode odor e amnia;

    * 92,2% para o fsforo total - reduo dopotencial poluidor;

    * 91,6% para o DQO - reduo naconcentrao de carbono.

    Pelos resultados apresentados, verifica-se que o criador poder dispor de uminstrumento valioso que venha a atender

    no apenas as suas necessidades, comotambm s ex ignc ias do s r gos

    fiscalizadores do meio ambiente e eventu-almente solicitar certificao de ISO 14.000pela gesto adequada do meio ambiente,preservando e at promovendo a qualida-de de vida dos animais e do homem.

    O QUE O CRIADOR ESPERA DE UMBOM PRODUTO

    Finalmente, um produto debiotecnologia ideal para o tratamento dedejetos de sunos para atender s necessi-dades do pequeno e mdio criador seriaaquele que pudesse reunir as seguintescaractersticas:

    * fcil aplicao nas fossas ouesterqueiras, preferentemente;

    * dispensar instalaes adicionais ouespeciais;

    * reverter a fermentao anaerbia emaerbia ou microaerfila;

    * reduo do tempo de armazenagemdos dejetos em esterqueiras ou similar;

    * preservar ou aumentar o poder fertili-zante;* produo de alto teor de nitrognio

    orgnico para aplicao como fertilizante;* reduo de maus adores resultantes

    da presena de produtos de degradaoanaerbia de matria orgnica, protenas,hidratos de carbono, lipdios etc.;

    * reduo da populao de artrpodes;* facilidade de remoo para a agricul-

    tura;* minimizar a poluio do solo e ma-

    nanciais de gua.

    Para que produtos desta natureza pos-sam atingir o efeito esperado, os criadorestero que internalizar na sua rotina detrabalho os novos conhecimentos etecnologias que esto sendo desenvolvi-dos para aprimoramento da prpriasuinocultura, o que a mdio e a longoprazos poder representar abertura de no-vas fronteiras no comrcio internacional decarne suna.

    Entrevista concedida ao Canal Rural/SP, no dia 17/09, sobre o mesmo tema. Oproduto, com o nome de BIO-409, ser

    lanado brevemente no mercado brasilei-ro.

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    18/56Biotecnologia Cincia & Desenvolvimento

    Com o fenmeno daglobalizao da economia, a par-ceria entre os pases tem sidoidentificada como um dos princi-pais instrumentos para promover odesenvolvimento sustentado e o bem-estar dos povos. No plano cientficoe tecnolgico, a necessidade de co-operao ainda mais evidente, jque ela torna posssvel conjugar

    esforos e conhecimento, otimizarrecursos e infra-estrutura para arealizao de pesquisas, visandogerar tecnologias, servios e pro-dutos para atender s demandascrescentes da comunidade global.

    Nesse cenrio, os governos doBrasil e do Egito pretendem estabe-lecer um acordo de cooperaotcnica para o desenvolvimento depesquisas agr co las de interessepara os dois pases, envolvendo con-servao e uso de recursos genti-cos , controle bio lgico ebiotecnologia.

    O adido agrcola da Embaixa-da do Egito em Washington, EUA,Mohamed Abdas Elkalla, visitou oCentro Nacional de Pesquisa deRecursos Genticos e Biotecnologia- Cenargen, da Empresa Brasileirade Pesquisa Agropecuria - Embrapa, em novembro, para co-nhecer os trabalhos desenvolvidose identificar temas que possam serobjeto de cooperao.

    Mohamed Abdas engenheiro

    agrnomo formado pela Universi-dade do Cairo, mestre em inds-tria de alimentos pela mesma uni-versidade, Ph.D. em economiaagrcola, realizado no Egito e nosEstados Unidos. Nessa mesma oca-sio, ele concedeu esta entrevista revista BIOTECNOLOGIA Cincia& Desenvolvimento, na sede da Em-baixada do Egito, em Braslia, du-rante a qual se mostrou muito entu-siasmado com o trabalho realiza-do pela Embrapa Recursos Genti-cos e Biotecnologia e falou das pes-

    quisas agrcolas do seu pas, entreoutros assuntos.

    BC&D - A agricultura tradicional temdado respostas razoveis produode alimentos ao longo do tempo, a des-peito de o uso indiscriminado deinsumos agrcolas representar riscosambientais. O senhor acredita que abiotecnologia capaz de viabilizar aproduo e melhorar a qualidade dosalimentos, sem agredir o meio ambi-ente?

    Mohamed Abdas- Eu acredito na cinciae na tecnologia. A biotecnologia ape-

    nas uma das ferramentas para promovero desenvolvimento. Com o passar dotempo e a real izao de mais pesquisas,a biotecnologia, assim como a agricultu-ra tradicional e o controle biolgico, vaiachar o seu caminho para trazer maisbenefcios populao mundial. O cres-cimento populacional e a fome, no mun-do, vm ocorrendo de forma assustado-ra nos ltimos vinte anos, e para chegar-mos a solues preciso tentar. O ho-mem chegou Lua porque ousou chegarl e teve sucesso, poderia no ter tido.Hoje, no Egito, temos 65 milhes de

    bocas para alimentar e os recursos solimitados. Consideramos importante pre-servar o meio ambiente, mas a soluopara a fome tem que estar em primeirolugar. Quando h fome, no se pensa emmeio ambiente, ou em religio. Eu vejo abiotecnologia como um caminho para aobteno de variedades resistentes apragas e doenas. Se no houver inves-timentos nessas pesquisas, dificilmenteconseguiremos livrar as culturas agrco-las dessas pestes. A cincia o nicocaminho para a sobrevivncia da huma-nidade.

    BC&D - Quais so as principais insti-

    tuies do Egito, pblicas ou privadas,que trabalham com pesquisabiotecnolgica?

    Mohamed Abdas- Ns temos, no Egito, oCentro de Pesquisas Agrcolas do Minis-trio da Agricultura, que o maior doOriente Mdio. Dele fazem parte 15 ins-titutos, que pesquisam todas as ativida-des agropecurias, de forma integrada.H cerca de trs anos, foi incorporado aeste centro o Instituto de PesquisasBiotecnolgicas, que at o momento

    vem trabalhando com cultura de tecidosde espcies vegetais. Em breve, preten-demos estender as pesquisas para osanimais de interesse zootcnico e outrasreas pass veis de inves t igaesbiotecnolgicas. H tambm, no Egito,vrias empresas privadas desenvolven-do pesquisas de biotecnologia, inclusivemantendo parcerias com os rgos go-vernamentais, alm de vrios institutos eunidades de pesquisa nas universidadese faculdades de agronomia.

    BC&D - Que interesses motivaram a

    visita do senhor Embrapa/Cenargen?

    Mohamed Abdas- Eu vim ao Brasil paraestabelecer um forte acordo de coopera-o agrcola entre os dois pases. Nessecontexto, estou elaborando um docu-mento para enviar ao Ministrio da Agri-cultura do Brasil, propondo a ida depesquisadores e tcnicos brasileiros aoEgito e vice-versa. Essa cooperao sermuito importante no apenas para odesenvolvimento de pesquisasbiotecnolgicas, como tambm para aimplementao de programas de melho-

    ramento gentico das culturas agrcolas,alm da formao de joint-ventures, o

    BRASIL E EGITOParceria na agricultura para enfrentar os desafios do sculo XXI

    Entrevista concedida a:Lucas Tadeu Ferreira eMaria Fernanda Diniz Avidos

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    19/56Biotecnologia Cincia & Desenvolvimento

    que permitir incrementar as expor-taes e o agronegcio entre nossospases. Esse acordo visa tambmrevitalizar as relaes bilaterais entreBrasil e Egito, que foram iniciadasem 1990, e no tiveram continuida-de. Estamos tambm trabalhando parafirmar acordos de cooperao comoutros pases latino-americanos,como Argentina, Uruguai e Paraguai,onde estive antes do Brasil, partici-

    pando do encontro anual sobre al-godo. Eu penso que os pases emdesenvolvimento devem manter es-treitos laos de cooperao entre si,mas tambm com os pases desenvolvi-dos. Como exemplo, nos ltimos seteanos, engenheiros agrnomos brasilei-ros tm participado de treinamentos nasuniversidades e em instituies de pes-quisa egpcias.

    BC&D - O senhor poderia especificarcom mais detalhes quais as atividadesde pesquisa que mais interessam aogoverno do Egito para celebrar acordode cooperao?

    Mohamed Abdas - Na verdade, todas aspesquisas vistas despertaram o meu inte-resse e so potencialmente importantespara a celebrao de acordos de coope-rao com o meu pas. Mas posso desta-car a biotecnologia, o controle biolgicode pragas e doenas, o melhoramentogentico de plantas, a conservao e usode germoplasma e o conhecimento detcnicas de agricultura tradicional. Ns

    consideramos muito importante conju-gar as tcnicas avanadas com os mto-dos tradicionais de cultivo. Acreditamosque s assim estaremos aptos para en-frentar os desafios de produo de ali-mentos para o sculo XXI.

    BC&D - Como est a situao da pesqui-sa biotecnolgica e de controle biol-gico hoje no Egito?

    Mohamed Abdas - As pesquisas debiotecnologia e de controle biolgico depragas e doenas ainda esto em fase

    inicial. Para increment-las, mantemosconvnios com vrios pases, entre osquais os Estados Unidos. Volto a ressal-tar que a cooperao tcnica com oBrasil nessas reas muito importantepara que nossos povos possam obtercada vez mais benefcios.

    BC&D - Existe algum produtotransgnico ou geneticamente modifi-cado sendo desenvolvido e/oucomercializado no Egito. O senhorsaberia dizer quantos e quais?

    Mohamed Abdas- No. Ainda no temosprodutos transgnicos, porque o nosso

    instituto, conforme eu j disse anterior-mente, s tem trs anos de existncia.

    BC&D - Como a aceitao dos produ-tos geneticamente modificados peloconsumidor do Egito?

    Mohamed Abdas- A populao do Egitoaceita muito bem qualquer tecnologia

    nova que possa trazer benefcios. claroque a maior parte da populao nosabe exatamente o que biotecnologia,mas eles acreditam que a cincia poderesolver os problemas dos produtoresrurais, aumentando a qualidade e a pro-dutividade, tornando o pas auto-sufici-ente na produo de alimentos. claroque, assim como nos pases da Europa enos Estados Unidos, h movimentoscontrrios aos produtos geneticamentemodificados, o que perfeitamente nor-mal numa sociedade.

    BC&D - Os produtos transgnicos quesero comercializados, no Egito, teroque possuir algum tipo de selo ou r-tulo de identificao para informar aoconsumidor que so geneticamentemodificados?

    Mohamed Abdas- Na minha opinio, spor serem geneticamente modificadosno precisam de nenhum selo de iden-tificao especfico, j que a biotecnologiadeve ser encarada como uma atividadecientfica normal. Se uma nova varieda-de obtida pelos mtodos de melhora-

    mento gentico clssico, ela no precisade identificao. Por que uma geradapor tcnicas biotecnolgicas precisaria? claro que a situao diferente para osmedicamentos, que tm que conter avi-sos sobre os eventuais efeitos colaterais.

    BC&D - O governo do Egito desenvol-veu, ou pretende desenvolver, algumacampanha de conscientizao da po-pulao para aceitao de produtosgeneticamente modificados?

    Mohamed Abdas - O governo do Egito

    veiculou uma forte campanha deconscientizao da populao atravs

    da mdia, a partir da visita do secre-trio de Agricultura norte-america-no ao nosso pas. Essa campanhamostrou os benefc ios dabiotecnologia e a segurana dosprodutos geneticamente modifica-dos para a populao. Hoje, oEgito mantm um forte acordo decooperao com os EUA para de-senvolver pesquisasbiotecnolgicas. Nesse campo, os

    EUA so o nosso maior parceiro.

    BC &D - No Brasil, a Lei deBiossegurana obriga todas as

    instituies pblicas ou privadas asubmeter seus projetos de pesquisa debiotecnologia aprovao do governo.No Egito, o governo tambm exerceesse controle sobre as pesquisas comtransgnicos?

    Mohamed Abdas- Claro, o Ministrio daCincia do Egito controla e aprova todas

    as pesquisas cientficas, com base na LeiBiolgica egpcia. Essa lei regulamenta aproduo e o consumo dos alimentos,inclusive os importados. Contudo, se umproduto transgnico j aceito pelasautoridades americanas e consumido na-quele pas, ele tambm pode sercomercializado no Egito. Alis, esse cri-trio se estende tambm a outros pasesidneos, como o Brasil, por exemplo.Ns temos que incrementar a produode alimentos mesmo que isso impliqueriscos.

    BC&D - Existe, no Egito, alguma linhade crdito subsidiada pelo governopara as pesquisas biotecnolgicas, ouessas atividades esto sujeitas apenasao risco de mercado pelos seus empre-endedores?

    Mohamed Abdas - Sim, o governo egp-cio tem um oramento destinado cin-cia e tecnologia que financia as pesqui-sas biotecnolgicas realizadas pelas ins-tituies governamentais de pesquisa ede ensino. As empresas privadas arcamcom as suas prprias despesas e os

    riscos de mercado.

    BC&D - Como a legislao do Egito,hoje, para regulamentar o trnsito e atroca de material gentico com outrospases?

    Mohamed Abdas- Existe um comit tc-nico altamente especializado dentro doCentro de Pesquisas Agrcolas do Minis-trio da Agricul tura que fiscal iza, contro-la e autoriza o trnsito interno e externode material gentico. Todos os aspectosfitossanitrios so rigorosamente obser-

    vados, de acordo com os padres inter-nacionais.

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    O cacau na Bahia

    Viajando para a ensolarada eparadisaca regio do sul da Bahia, comas suas praias maravilhosas e seu povobastante alegre e receptivo, vamos en-contrar a principal rea produtora decacau, que avana pelo continente aden-tro, com mais de 2 milhes de habitantes

    distribudos em mais de 100 municpios,e que possui, sem dvida, um dos maisbelos trechos do litoral do Brasil.

    At a dcada de 80, esses municpi-os geraram muita riqueza e divisas parao pas, com a produo e a exportaode amndoas de cacau para os merca-dos interno e externo. Embarcaes par-tiam do porto de Ilhus carregadas deamndoas de cacau, que eram exporta-das praticamente para todo o mundo. Osul da Bahia chegou a empregar direta-mente mais de 400 mil trabalhadores naslavouras cacaueiras e colocou o Brasil

    no ranking dos maiores produtores domundo.

    Hoje, esses municpios baianos em-pregam pouco mais de 100 mil trabalha-dores nas lavouras, muitas, alis, tiveramperdas de at 100% na produo e estoexperimentando o sabor amargo do cho-colate. O agronegcio do cacau estvivendo uma crise sem precedentes nahistria do Brasil. As bruxas esto soltas.

    Tempos ureos e vitoriosos da sagado cacau no sul da Bahia so hojeapenas lembranas registradas na me-mria de seus habitantes de um passado

    no muito distante, contadas, alis, commuito sentimento de nostalgia e esperan-a de melhores dias pelo seu simpticopovo.

    Jorge Amado, o escri tor brasi leirocontemporneo mais ilustre e conhecidono mundo, com suas dezenas de obrasliterrias, muitas retratadas e vivenciadasno sul da Bahia, melhor do que nin-gum, encantou e encanta o mundo, emquase todos os idiomas, com as suasestrias mescladas de fico e realidadepassadas na regio cacaueira da Bahia.Quem no conhece a Gabriela, cravo ecanela?

    O declnio da cacauicultura, ocorri-

    CACAUClones tecnolgicos, a salvao da lavoura do cacau

    Lucas Tadeu FerreiraFotos: Aguido Ferreira - CEPLAC

    do na ltima dcada, se deve principal-mente ao ataque da praga conhecida porvassoura-de-bruxa, doena causada pelofungo que atende pelo nome de Crinipellisperniciosa, que migrou da Amazniapara a regio cacaueira da Bahia, em1989.

    Alm desse fungo, condies cli-mticas adversas e desfavorveis ao cul-

    tivo, baixa cotao do preo do produtonos mercados interno e externo - j quenesse perodo a tonelada baixou de maisde US$ 3,000.00 para pouco mais de US$1,500.00 -, aumento da produo e ofertade amndoas por outros pases produto-res, empurraram a economia cacaueirados municpios baianos ladeira abaixo.

    Nos tempos gloriosos, a rea culti-vada com o cacau na Bahia ocupavamais de 700 mil hectares, distribudosentre os 100 municpios do sul doestado, destacando-se como maioresprodutores I lhus, Camac,

    Ibirapitanga, Arataca e Itajupe. Para aBahia, o cultivo do cacau j foi oprincipal produto agrcola gerador deriqueza, chegando a constituir maisde 50% das suas exportaes e recei-tas.

    A part ir do surgimento da vas-soura-de-bruxa, detectada no muni-cpio de Uruuca-BA, em maio de1989, somada s condies adversas,a produo de cacau, decorridos quasedez anos, gera pouco mais de 5% daarrecadao do estado.

    Para se ter uma idia dos prejuzos

    socioeconmicos ocorridos na regionesse perodo, a produo da safra agr-cola de 1987/88 era superior a 300 miltoneladas/ano, em mdia, e passou para,em 1996/97, 174 mil toneladas, o querepresenta perdas de quase 50%. Deoutro lado, do total de quase 700 milhectares de rea cultivada, 92,7% estohoje infectados com o fungo Crinipellisperniciosa, em nveis diferentes de con-taminao.

    As bruxas esto soltas

    A vassoura-de-bruxa (Crinipellis per-niciosa) provoca total desorganizao e

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    desequilbrio fisiolgico no cacaueiro,com tal magnitude que chega a provocarperdas de at 100% na produo daplanta. Hoje, essa doena est presentenos pases produtores de cacau, commaior ou menor grau de contaminao ede perdas de produo, como Bolvia,Equador, Colmbia, Guiana, Mxico,

    Panam, Peru, Suriname, Venezuela eilhas do Caribe.

    No Brasil, todos os registros e infor-maes disponveis dos rgos encarre-gados da defesa fitossanitria vegetalindicavam que a vassoura-de-bruxa es-tava presente somente na regio Amaz-nica - seu local de origem -, at seridentificada no sul da Bahia, em l989.

    Como ela migrou para as regiesprodutoras de cacau de vrios estados,ningum tem uma explicao cientficaconvincente at hoje. Entretanto, desdemeados deste sculo, medidas preventi-

    vas j vinham sendo implementadas paraimpedir a migrao desta praga para aslavouras cacaueiras do sul da Bahia edemais regies produtoras.

    A Comisso Executiva do Plano daLavoura Cacaueira - CEPLAC, rgo doMinistrio da Agricultura e do Abasteci-mento - MA, criado em 1957, no governode Juscelino Kubitschek, contando coma ativa colaborao e participao devrias instituies pblicas e privadas,

    criou em 1978 um forte e eficiente servi-o de defesa sanitria vegetal e instituiua Campanha de Controle da Vassoura-de-bruxa - CAVAB para impedir a entra-da desse patgeno no Estado da Bahia edemais regies produtoras.

    Para garantir o xito da campanha,foram instalados postos de fiscalizao e

    controle em rodovias, portos, aeroportosetc. para impedir o trnsito de materialgentico contaminado entre os estadosprodutores, a partir da Amaznia, entreeles, Acre, Rondnia, Par, Bahia, Esp-rito Santo, Minas Gerais e Sergipe, sendocr iada uma verdadeira "muralha"fitossanitria de conteno e defesa con-tra a vassoura-de-bruxa.

    Infelizmente, semelhana do queaconteceu com outros pases produtoresde cacau da regio Amaznica, AmricaCentral e Caribe, a vassoura-de-bruxarompeu a barreira fitossanitria e pre-

    sena indesejvel e uma triste realidadeno sul da Bahia, h quase dez anos. Anatureza muitas vezes no obedece oslimites e barreiras impostos pelo homeme comete desatinos.

    Ciclo reprodutivo e sintomas

    O fungo Crinipellis perniciosa de-senvolve seu ciclo de vida em doisestgios distintos: no primeiro, parasita

    os tecidos novos e vivos do cacaueiro,causando inchamentos, provocandosuperbrotaes e anomalias nos frutos ealmofadas florais; no segundo, com maiorvirulncia, causa necrose e apodreci-mento dos tecidos da planta.

    A colonizao e o desenvolvimentodo fungo so muito rpidos, iniciando-

    se nos tecidos novos e em crescimento,de onde o Crinipellis obtm nutrientesdas clulas vivas e se estabelece comoparasita. Quando o crescimento do ca-caueiro detido pela praga, os nutrien-tes solveis se tornam escassos e indu-zem o fungo a invadir e necrosar - causarpodrido - nos tecidos, passando assima obter energia dos tecidos mortos daplanta. nesta fase de vida do fungo queaparecem os basidiocarpos - fungos noformato de cogumelos -, que produzemmuitos esporos e disseminam cada vezmais a doena.

    A l iberao dos esporos - processoreprodutivo do fungo - se d preferenci-almente noite, estando associada queda de temperatura e ao aumento daumidade relativa do ar, sendo dissemi-nados pela corrente dos ventos. Osesporos tm vida curta, so sensveis luz e no vivem mais que uma hora. Adisseminao pode acontecer tambmpela gua e atravs do transporte desementes contaminadas.

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    O Crinipellis s se desenvolve em

    tecido novo, ou seja, tecido em cresci-mento ou meristemtico (brotamento),ocorrendo ainda nos ramos, almofadasflorais e nos frutos. O ataque nos ramos,ou brotos vegetativos, provoca inchaoda parte afetada, acompanhada da pro-liferao de pequenos brotamentos pr-

    ximos uns dos outros, onde se prendemas folhas grandes, curvadas e retorcidas,que parecem vassouras-de-bruxa, da onome da doena. Nas almofadas floraisinfectadas formam-se cachos de floresanormais que do origem a frutos quemorrem prematuramente.

    Os frutos infectados apresentam di-versos sintomas, dependendo do graude contaminao. Quando a infeco sed atravs da raiz da flor, surgem frutoscom formas parecidas com o morango

    que tambm morrem prematuramente.Se a infeco se d diretamente nosfrutos, eles ficam parecidos com umacenoura. Nos frutos jovens, o sintomacaracterstico o aparecimento de umamancha negra, dura e irregular, ficandoas sementes grudadas entre si einaproveitveis.

    Clones e tecnologia,a salvao da lavoura

    Para tentar controlar e eliminar avassoura-de-bruxa das regies cacaueiras

    brasileiras, a CEPLAC, bastante motivadapelo seu quadro de tcnicos, pesquisa-dores e demais funcionrios, em tempohbil, empreendeu todos os esforosnecessrios e vem travando uma verda-deira guerra com a vassoura. Firmouainda vrios convnios e estabeleceuparcerias com instituies pblicas eprivadas envolvidas direta e indireta-mente com o agronegcio do cacau,como o caso, por exemplo, da Embrapa- Recursos Genticos e Biotecnologia eNestl, e importou da Amrica Centralprognies de clones nativos resistentes

    vassoura-de-bruxa.Assim, a CEPLAC passou a dispor de

    colees de clones de Theobroma cacaotolerantes ao fungo, com nveis diferen-tes de resistncia, para selecion-las eadapt-las s regies produtoras. Dentreas colees conhecidas e amplamenteutilizadas nos pases produtores de ca-cau da Amrica Central, as da srieScavina, juntamente com outrasintroduzidas da regio Amaznica, mos-traram-se mais resistentes doena, emtestes feitos pelo Centro de Pesquisas doCacau - CEPEC, rgo de pesquisa daCEPLAC.

    A partir do cruzamento do clone

    Scavina 6, procedente do Peru, com oICS1, procedente de Trinidade e Tobago,a CEPLAC desenvolveu a variedadeTheobahia, que apresenta graus de resis-tncia e tolerncia ao fungo C.perniciosa,em nveis bastantes animadores e pro-missores. Theobahia apenas um nomecomercial escolhido para identificar essavariedade originada do cruzamento doSCA6 x ICS1, cujas sementes j vm

    sendo amplamente distribudas aos pro-dutores da regio cacaueira da Bahianeste ano de 1997.

    Como tantas outras manifestaes eexpresses da cultura baiana, este sim-

    ptico nome de variedade de cacaudesenvolvida e batizada pela CEPLACtambm invoca um pouco da fora dosorixs baianos, j que "Theo" quer dizer

    Deus. Em vrios ensaios realizados, oTheobahia se mostrou muito produtivo ebastante resistente vassoura-de-bruxa,quando comparado a outras variedades

    comuns. Veja o quadro comparativoabaixo, a partir de testes realizados no

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    CEPEC/CEPLAC:Alm do Theobahia, que multipli-cado por sementes, outros cinco clones

    resistentes vassoura-de-bruxa, quatrodeles importados da Amrica Central e

    um desenvolvido pelo CEPEC/CEPLAC,tambm esto sendo multiplicados e voser distribudos aos produtores, sob a

    forma de mudas, para fins de enxertianas plantas doentes. So eles: TSH1188,TSH516, TSH565, procedentes deTrinidade; EET397, procedente do Equa-

    dor; e CEPEC42, desenvolvido pelaCEPLAC, a partir de prognies resisten-tes. Em curt ssimo espao de tempo, os

    cacauicultores tero esses clones tole-rantes e mais produtivos em suas fazen-

    das.No momento, a CEPLAC est distri-

    buindo sementes do Theobahia aos pro-

    dutores de cacau, e espera alcanar ameta de 1.000.000 de sementes neste anode 1997. A partir de 1998, a distribuiode sementes ser multiplicada por qua-

    tro, quando sero distribudas 4.000.000a cada ano, at o ano de 2001. Seqnciade produo de clones resistentes vassora-de-bruxa:

    Os propgulos, pequenos pedaosde galhas de mudas obtidos dos clones,sero utilizados para enxertia nos tron-cos das plantas doentes. Esse mtodoreduz o tempo de produo do cacauei-ro para menos de dois anos, enquantoque com a propagao vegetativa, a

    partir das sementes, a planta comea aproduzir com no mnimo seis anos.

    A CEPLAC espera distribuir essespropgulos, aumentando progressiva-mente o nmero de mudas, at os anos2001-2, e disponibilizar mais de 1.500.000unidades, atendendo, assim, a demandados produtores dos 700.000 mil hectaresde lavoura cacaueira. As projees dedistribuio da CEPLAC esto conside-rando um aproveitamento mdio de 50%dos propgulos e de 80% das sementes,com densidade de 1.100 plantas por

    hectare.A vantagem principal dos propgulos que eles mantm todo o patrimnio

    gentico das prognies (ascendentes),

    da a denominao de clones, alm dascaractersticas de resistncia, bvio. Elesainda sero enxertados diretamente nas

    plantas infectadas com avassoura-de-bruxa e, depoisdo pegamento, a parte do-ente da planta acima do en-xerto decepada e a produ-o de cacau ocorre antesmesmo do segundo ano. Essatcnica poder ser aplicadafacilmente por qualquer pro-

    dutor de cacau, os quais esto receben-do treinamento e orientao tcnica, a

    partir dos demais departamentos daCEPLAC e do seu Centro de Extenso

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    Rural - CENEX.Juntamente com as sementes do

    Theobahia e com os propgulos dosclones tolerantes, a CEPLAC est dis-tribuindo uma cartilha intituladaMa-nual de Recomendaes para o Con-

    trole da Vassoura-de-bruxa que, emlinguagem simples e acessvel, os pro-dutores de cacau sabero como proce-der em relao remoo de materialinfectado pela doena, rebaixamento e

    adequao das copas das rvores, po-ca, intervalo e aplicao de fungicidas,alm de outras tcnicas de cultivo.Enfim, a CEPLAC alerta os produtorespara que sigam rigorosamente estasinstrues tcnicas, j que s o manejointegrado da vassoura-de-bruxa queir proporcionar bons ndices de pro-duo e produtividade.

    A CEPLAC, atravs do CEPEC, estainda desenvolvendo pesquisas de con-trole biolgico da vasssoura-de-bruxa,como mais uma tcnica alternativa paraconter os prejuzos dessa praga. J foi

    identificado na natureza um fungo co-nhecido por Trichoderma viride que ini-be o crescimento do C.perniciosa, tantoem condies controladas como em ex-perimentos realizados no campo. OCEPEC est tambm realizando pesqui-sas com tcnicas avanadas demarcadores moleculares para definirquais so os melhores padres genticosde cruzamento entre os clones. Estesdois trabalhos de pesquisa, em breve,apresentaro ganhos substanciais de tem-po, de produo e produtividade noscacaueiros, mas ainda esto na faseinicial.

    Paralelamente ao desenvolvimentoe distribuio dos clones e sementes decacau resistentes vassoura-de-bruxa, aCEPLAC est promovendo um amploesforo de diversificao de culturas naregio, com a introduo de outros cul-tivos, para evitar a monocultura, taiscomo manga, abacate, maracuj, dend,aa, pupunha, banana, seringueira etc.,e tambm com o incentivo criao deanimais de pequeno e grande portes,como forma de assegurar outras alterna-

    tivas de recei ta aos produtores rurais.Com todas essas medidas adotadasem conjunto, resta a esperana e a con-vico de que a CEPLAC vai conseguirresgatar e incrementar a economia daregio sul da Bahia, como tem feito,alis, ao longo dos seus 50 anos deexistncia. Em breve, espera-se que avassoura-de-bruxa seja apenas mais umcaptulo da histria do cacau e umapequena lembrana na memria dosmoradores da regio.

    Afinal, certa vez, o ex-presidenteErnesto Geisel resumiu muito bem e em

    poucas palavras a importncia daCEPLAC para o nosso pas: "Feliz doBrasil se tivesse vinte ou trinta CEPLAC".

  • 7/27/2019 Biotecnologia Cincia & Desenvolvimento - n 3

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    NOVAS PERSPECTIVAS NO DIAGNSTICO IMUNOLGICO

    Doena de Chagasdoena de Chagas , outr ipanosomase americana,afeta cerca de 17 milhes deindivduos, de acordo comestimativas da Organizao

    Mundial de Sade. No Brasil, estimam-secerca de 6 milhes de pessoas infectadas,com uma populao de risco em tornode 20 milhes de habitantes. Esta doenatem como agente et iolgico oTrypanosoma cruzi, um protozorioflagelado. A associao do T.cruzi coma doena, bem como o ciclo do parasito

    na natureza, foi primeiramente descritagraas ao trabalho de Carlos Chagas noincio do sculo. O ciclo do T.cruzi nanatureza envolve dois hospedeiros, uminseto triatomneo (vulgarmente chama-do de barbeiro ou chupo) e um mam-fero. Quando o triatomneo, um insetohematfago, alimenta-se com o sanguede um mamfero (que pode inclusive sero homem) infectado pelo T.cruzi, omesmo ingere parasitos na formatripomast igota, que a forma que circulano sangue. Estes tripomastigotas trans-formam-se em epimastigotas na poro

    anterior do intestino do inseto. Diferen-temente dos tripomastigotas que so for-mas infectivas e no-replicativas, osepimastigotas so capazes de se multipli-car e no so infectivos. Aps vriosciclos de replicao, os epimastigotasmigram atravs do intestino do insetovetor e, nas pores terminais, diferenci-am-se em tripomastigotas metacclicos,que so formas infectivas. Durante orepasto de sangue do inseto no hospe-deiro vertebrado, ocorre a dilatao doabdome do triatomneo e as formastripomast igotas metaccl icas so libera-das nas fezes e urina do inseto, pene-trando no interior do hospedeiro verte-brado atravs da pele (no local doferimento provocado pela picada) ouatravs de mucosa. Uma vez na circula-o, os tripomastigotas metacclicosinteriorizam-se em clulas, seja atravsda fagoci tose promovida pelosmacrfagos, seja atravs da penetraoativa em clulas no-fagocticas, comoclulas musculares. No interior das clu-las do mamfero, os tripomastigotasmetacclicos transformam-se nas formas

    amastigotas. Estas so formas que apre-sentam um flagelo diminuto e so capa-zes de se replicar intracelularmente. Aps

    vrios ciclos de replicao, quando aclula do mamfero j est repleta deamastigotas, ocorre a transformao des-tas formas em tripomastigotas que soliberados na corrente sangnea aps alise celular. Estas formas tripomastigotasso capazes de infectar novas clulas oupodem ser ingeridas, atravs da picada,por triatomneos durante o repasto desangue, e o ciclo recomea.

    A observao do ciclo evolutivo doparasito mostra que atravs do sanguedo mamfero que o triatomneo torna-se

    infectado e, portanto, transmissor dadoena de Chagas. Da mesma forma, ohomem pode infectar-se com otripanosoma atravs do contato com san-gue contaminado. Assim, fundamentalo controle do sangue a ser transfundidopara evitarmos o contgio da doena deChagas por via transfusional. No hdados precisos sobre o nmero de casosde aquisio de doena de Chagastransfusional, mas pode-se estimar orisco se imaginarmos que ocorrem noBrasil cerca de 6 milhes de transfusespor ano, com cerca de 5% da populao

    portadora do T.cruzi. Assim, o controleem bancos de sangue, do sangue a sertransfundido essencial , no s paraevitarmos novos contgios, mas tambmpara que o portador da doena possa serdevidamente e corretamente informado.

    Os mtodos de diagnstico podembasear-se na deteco direta do parasitoou na deteco da resposta do hospe-deiro invaso do parasito. No primeirogrupo, o mtodo mais comumente utili-zado o de xenodiagnstico, ou seja,coloca-se o paciente em contato com oinseto vetor e aps algumas semanasbusca-se o parasito nas fezes e urina doinseto. Alternativamente, a amostra desangue do paciente colocada em meiode cultura apropriado e busca-se, apsalgum tempo, a deteco do parasito;es ta tcnica denominada dehemocultura. Estas tcnicas, embora nodei