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18 19 O despertar para a importância da inovação para a competitividade da indústria brasileira no cenário inter- nacional parece uma tendência irre- versível em todo o país e é evidente em Minas Gerais. “O Brasil e Minas estão passando por um momento de tomada de consciência por parte dos políticos, da sociedade e das empresas de que o país só vai crescer de forma sustentá- vel se investir em educação, ciência, tecnologia e inovação, pilares funda- mentais do desenvolvimento”, afirma o presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais (Fapemig), Mário Neto Borges. A Fapemig se tornou uma das princi- pais agências de fomento do Brasil há pouco tempo, realidade bem distinta da de nove anos atrás, quando dispunha de apenas R$ 24 milhões para serem aplicados em diversos projetos de pes- quisa em todo o Estado. Mas, desde 2006 – quando o então governador Aé- cio Neves decidiu cumprir o dispositivo constitucional que determina que 1% da receita líquida do Estado deve ser aplicado em ciência e tecnologia –, o ce- nário mudou radicalmente. REESTRUTURAÇÃO Hoje, a Fapemig é referência nacional. Não só por causa do aumento subs- tancial do seu orçamento – em 2011, o POLÍTICA MINEIRA É REFERÊNCIA NACIONAL órgão recebeu R$ 311 milhões –, mas também porque a agência fez seu de- ver de casa. “Reestruturamos a Fape- mig com a criação de novas gerências para o setor de inovação e proprieda- de intelectual e simplificamos os pro- cessos de concessão de recursos para tecnologia, pesquisa e inovação”, en- fatiza Mário Neto. Outra iniciativa que favoreceu a política de inovação do governo do Estado e, por consequência, a atuação da Fapemig foi a aprovação da Lei Mineira de Inovação (Lei nº 17.348), em 2008, que permite a liberação de recursos diretamente para as empresas investirem em inovação, e não apenas para instituições públicas, como era antes. CENTRO TECNOLÓGICO No Estado, uma outra frente de apoio à inovação é o Centro Tecnológico de Mi- nas Gerais (Cetec), o mais antigo cen- tro de pesquisa do governo, que este ano, completou quatro décadas. Um convênio de cooperação firmado com a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) em 2011 pre- tende transformá-lo em um dos mais avançados do país. No entanto, desde o ano passado, o acordo vem sendo objeto de audiên- cias públicas na Assembleia Legisla- tiva de Minas Gerais. A Comissão de Educação, Ciência e Tecnologia da Assembleia questiona a situação dos servidores do Cetec. O presidente do Sistema Fiemg, Olavo Machado Júnior, enfatiza a necessida- de de se aprovar lei que regulamente o convênio, para que um financiamento de R$ 180 milhões seja liberado pelo BNDES. Esses recursos fazem par- te de um total de R$ 1,5 bilhão que a instituição de fomento reservou para financiar o Programa Senai de Apoio à Competitividade da Indústria Brasi- leira. O financiamento do BNDES será empregado, até 2015, na construção de nove unidades de inovação e de- senvolvimento tecnológico do Senai no Estado, sendo seis institutos de tecno- logia e três de inovação, dois deles no espaço físico do Cetec. “O convênio irá modernizar o Cetec. Além de tecnologia de ponta, o centro de pesquisa terá também toda sua estru- tura de operação e de recursos humanos reformulada”, informa Olavo Machado. Para a reestruturação do CETEC, foram contratadas consultorias do Instituto Fraunhofer, da Alemanha, e do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA). Os re- cursos para a consultoria, da ordem de R$ 2 milhões, virão de um empréstimo feito também pelo BNDES para o Siste- ma Fiemg. (MAC) sa – e os institutos terão como meta atender a demanda de inovação não só de grandes, como também de médias e pe- quenas empresas. Em Minas Gerais, serão três unidades, sendo uma para materiais me- tálicos, uma de alta tensão e outra para desenvolvimento de superfícies, que será um dos oito institutos a serem implan- tados ainda neste ano. Nessa empreitada, o Senai contará com o conhecimento e a expe- riência do Massachusetts Ins- titute of Technology (MIT) e da Sociedade Fraunhofer. O pri- meiro dará suporte na elabora- ção dos projetos de implanta- ção e também na capacitação de professores e técnicos. Já o segundo, considerado a maior organização de pesquisa apli- cada da Europa, apoiará o Se- nai na elaboração dos planos de negócios para a gestão na- cional dos institutos. A iniciativa faz parte do Programa Senai de Apoio à Competitividade da Indús- tria Brasileira, que conta com o financiamento de R$ 1,5 bilhão do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimen- to Econômico e Social) e de mais R$ 400 milhões do Se- nai. O total de recursos será usado não só na criação dos Institutos de Inovação, mas também de 38 Institu- tos Senai de Tecnologia, 53 centros de formação profis- sional e aquisição de 81 uni- dades móveis para atender a qualificação profissional onde ainda não há escolas do Senai. BIOTECNOLOGIA O setor de biociências é um dos mais promissores no Brasil e em Minas Gerais. Com uma consistente rede de apoio à inovação, ocorrem avanços significativos na aplicação de pesquisas que abrangem do setor de saúde, com produtos sintéticos para enxerto ósseo, à agricultura, com as plantas geneticamente modificadas, que servem à alimentação e à produção de biocombustíveis CAMINHO ABERTO Loran Nicolas / Istockphoto Setor em alta: pesquisa feita pela Biominas mostra que a maioria das empresas da área de biotecnologia investe em inovação

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O despertar para a importância da inovação para a competitividade da indústria brasileira no cenário inter-nacional parece uma tendência irre-versível em todo o país e é evidente em Minas Gerais. “O Brasil e Minas estão passando por um momento de tomada de consciência por parte dos políticos, da sociedade e das empresas de que o país só vai crescer de forma sustentá-vel se investir em educação, ciência, tecnologia e inovação, pilares funda-mentais do desenvolvimento”, afirma o presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais (Fapemig), Mário Neto Borges.

A Fapemig se tornou uma das princi-pais agências de fomento do Brasil há pouco tempo, realidade bem distinta da de nove anos atrás, quando dispunha de apenas R$ 24 milhões para serem aplicados em diversos projetos de pes-quisa em todo o Estado. Mas, desde 2006 – quando o então governador Aé-cio Neves decidiu cumprir o dispositivo constitucional que determina que 1% da receita líquida do Estado deve ser aplicado em ciência e tecnologia –, o ce-nário mudou radicalmente.

REESTRUTURAÇÃO

Hoje, a Fapemig é referência nacional. Não só por causa do aumento subs-tancial do seu orçamento – em 2011, o

POLÍTICA MINEIRA É REFERÊNCIA NACIONAL

órgão recebeu R$ 311 milhões –, mas também porque a agência fez seu de-ver de casa. “Reestruturamos a Fape-mig com a criação de novas gerências para o setor de inovação e proprieda-de intelectual e simplificamos os pro-cessos de concessão de recursos para tecnologia, pesquisa e inovação”, en-fatiza Mário Neto.

Outra iniciativa que favoreceu a política de inovação do governo do Estado e, por consequência, a atuação da Fapemig foi a aprovação da Lei Mineira de Inovação (Lei nº 17.348), em 2008, que permite a liberação de recursos diretamente para as empresas investirem em inovação, e não apenas para instituições públicas, como era antes.

CENTRO TECNOLÓGICO

No Estado, uma outra frente de apoio à inovação é o Centro Tecnológico de Mi-nas Gerais (Cetec), o mais antigo cen-tro de pesquisa do governo, que este ano, completou quatro décadas. Um convênio de cooperação firmado com a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) em 2011 pre-tende transformá-lo em um dos mais avançados do país.

No entanto, desde o ano passado, o acordo vem sendo objeto de audiên-cias públicas na Assembleia Legisla-

tiva de Minas Gerais. A Comissão de Educação, Ciência e Tecnologia da Assembleia questiona a situação dos servidores do Cetec.

O presidente do Sistema Fiemg, Olavo Machado Júnior, enfatiza a necessida-de de se aprovar lei que regulamente o convênio, para que um financiamento de R$ 180 milhões seja liberado pelo BNDES. Esses recursos fazem par-te de um total de R$ 1,5 bilhão que a instituição de fomento reservou para financiar o Programa Senai de Apoio à Competitividade da Indústria Brasi-leira. O financiamento do BNDES será empregado, até 2015, na construção de nove unidades de inovação e de-senvolvimento tecnológico do Senai no Estado, sendo seis institutos de tecno-logia e três de inovação, dois deles no espaço físico do Cetec.

“O convênio irá modernizar o Cetec. Além de tecnologia de ponta, o centro de pesquisa terá também toda sua estru-tura de operação e de recursos humanos reformulada”, informa Olavo Machado. Para a reestruturação do CETEC, foram contratadas consultorias do Instituto Fraunhofer, da Alemanha, e do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA). Os re-cursos para a consultoria, da ordem de R$ 2 milhões, virão de um empréstimo feito também pelo BNDES para o Siste-ma Fiemg. (MAC)

sa – e os institutos terão como meta atender a demanda de inovação não só de grandes, como também de médias e pe-quenas empresas. Em Minas Gerais, serão três unidades, sendo uma para materiais me-tálicos, uma de alta tensão e outra para desenvolvimento de superfícies, que será um dos oito institutos a serem implan-tados ainda neste ano. Nessa empreitada, o Senai contará com o conhecimento e a expe-riência do Massachusetts Ins-titute of Technology (MIT) e da

Sociedade Fraunhofer. O pri-meiro dará suporte na elabora-ção dos projetos de implanta-ção e também na capacitação de professores e técnicos. Já o segundo, considerado a maior organização de pesquisa apli-cada da Europa, apoiará o Se-nai na elaboração dos planos de negócios para a gestão na-cional dos institutos.

A iniciativa faz parte do Programa Senai de Apoio à Competitividade da Indús-tria Brasileira, que conta

com o financiamento de R$ 1,5 bilhão do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimen-to Econômico e Social) e de mais R$ 400 milhões do Se-nai. O total de recursos será usado não só na criação dos Institutos de Inovação, mas também de 38 Institu-tos Senai de Tecnologia, 53 centros de formação profis-sional e aquisição de 81 uni-dades móveis para atender a qualificação profissional onde ainda não há escolas do Senai.

BIOTECNOLOGIA

O setor de biociências é um dos mais promissores no Brasil e em Minas Gerais. Com uma consistente rede de apoio à inovação, ocorrem avanços significativos na aplicação de pesquisas que abrangem do setor de saúde, com produtos sintéticos para enxerto ósseo, à agricultura, com as plantas geneticamente modificadas, que servem à alimentação e à produção de biocombustíveis

CAMINHOABERTO

Loran Nicolas / Istockphoto

Setor em alta: pesquisa feita pela Biominas mostra que a maioria das empresas da área de biotecnologia investe em inovação

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Um dos mercados mais jovens do sistema produtivo em todo o mundo, as biociências no Bra-sil se preparam para entrar na fase adulta no Brasil, depois de, nos últimos cinco anos, ter se estruturado para crescer. “Hoje, o país tem produção científica, mecanismos de transferência de conhecimento e novos pesquisa-dores com espírito empreende-dor”, diz o presidente da Funda-ção Biominas, Eduardo Emrich. O cenário mais favorável se com-plementa com a disposição do governo de financiar a inovação e criar formas de interação entre os artífices do mercado.

O estudo A indústria de biociên-cias nacional – Caminhos para o crescimento (2011), produzi-do pela Fundação Biominas, em parceria com a consultoria PwC, constata realmente que o país crealmente construiu uma base institucional madura, com a adoção de políticas industriais que alavancaram o setor – com programas governamentais de fomento e mecanismos de apro-ximação entre as universidades e as empresas –, voltadas especial-mente para as áreas de agricul-tura e de saúde humana. “Além disso, há o interesse de grandes empresas em entrar no merca-do”, afirma Emrich.

Feito a cada dois anos, o estudo da Fundação Biominas mostra que 62,9% dos empresários têm como parâmetro de empresa de sucesso o lema “desenvolver e comercializar produtos inova-dores”. E, o que é melhor, 66% deles comercializam produtos desenvolvidos internamente, contra 18% que trabalham com produtos desenvolvidos por ter-ceiros e 8% com out-licensing de tecnologia. Também 66% cita-ram a necessidade de inovação incremental, que reflete peque-nas melhorias em produtos ou linhas de produtos, como prio-ridade estratégica, e 45% têm

>Carlos Plácido Teixeira

Empresas de Biociências no Brasil

Minas Gerais (83 empresas)

Sudeste 74.9%

Sul 14.4%

Rio de Janeiro (16 empresas)

São Paulo (103 empresas)

Paraná (14 empresas)

Rio Grande do Sul (19 empresas)

38%

30.6%

5.9%

7%

5.2%

mente, 26% e 20% das empresas nacionais biotecnológicas. E é exa-tamente nessas fatias de mercado que Minas Gerais caminha com grandes feitos, começando por ter o segundo maior número de em-presas de biotecnologia do país – hoje são mais de 80, enquanto em 1990 não passavam de sete. São Paulo lidera o ranking, com 103; o Rio Grande do Sul ocupa a ter-ceira posição, com 19 empresas; e o Rio de Janeiro tem a quarta colocação, com seis.

O sistema de produção no setor se articula em torno de três gran-des polos: o da Região Metropoli-tana de Belo Horizonte (com em-preendimentos em 14 cidades), o de Viçosa e o do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba. Eles estão vin-culados ao Projeto Estruturador Arranjo Produtivo Local de Biotec-nologia, o Minas Biotec, que con-grega uma ampla estrutura em rede de apoio a empreendimentos privados – instituições de ensi-no e pesquisa (o Estado tem 11 instituições de ensino superior, o maior número do país, e con-ta com a Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais, a Fa-pemig, uma referência nacional) – e um significativo aparato de estí-mulo e de financiamento público.

Entretanto, o secretário ad-junto de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior de Minas Gerais, Evaldo Ferreira Vilela, reconhece que, mesmo com o fortalecimento institucional de apoio à biotecnologia, há ain-da muitos desafios para que os produtos inovadores cheguem ao mercado. “Há um caminho longo”, diz ele, admitindo que entre os problemas estão as linhas de financiamento, que não são suficientes.

FINANCIAMENTO

As iniciativas governamentais ainda não se refletiram na estru-tura econômica das empresas e, consequentemente, em seus re-sultados, deixando claro que

Principais fontes de recurso para as atividades de P&D nas empresas de biociências

Recursos não reembolsáveis

Capital próprio

Recursos reembolsáveis

Investidor

Parceiro corporativo 58%

69%

19%

31%

11%

como prioridade alta ou altíssi-ma a inovação disruptiva, aque-la que cria novos mercados para novos consumidores. Os núme-ros comprovam a vocação das empresas, que na maioria (80%) são, segundo a Associação Bra-sileira de Biotecnologia (BRBio-tec), micro e pequenas; 20% se-quer geram receitas, pois estão em fase de criação de produtos.

VANTAGEM MINEIRA

No cenário global de biotecnologia, no qual despontam como líderes os Estados Unidos, França, Ho-landa, Noruega e Suíça, o Brasil também ocupa posição de desta-que, com a produção tecnológica na agricultura (incluindo biocom-bustíveis) e na área de saúde humana, onde estão, respectiva-

Bruno Magalhães / Nitro

Eduardo Emrich, presidente da Biominas: “Hoje o país tem produção científica e pesquisadores com espírito empreendedor”

Fonte: Biominas

Fonte: Biominas

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os desafios a serem vencidos são muitos. A grande maioria das em-presas nacionais de biociências (sendo que mais de 50% desse grupo são de biotecnologia) fatu-ra anualmente R$ 1 milhão em média, o que não tira delas a van-tagem de terem forte componente de tecnologia e potencial de inova-ção.

O estudo da Fundação Biominas e da PwC apontou o capital pró-prio das empresas e os mecanis-mos públicos de investimentos em inovação como fundamentais para o setor nacional de biociên-cias. Para a metade das empre-sas, os recursos públicos não re-embolsáveis representam 50% do montante aplicado em P&D; para 13% delas, esse índice sobe para 100%. As taxas de financiamen-to de instituições governamentais são atrativas, mas as empresas têm dificuldade de acesso por causa das exigências de garan-tias. Os índices apurados escan-caram a falta de parcerias corpo-rativas e de investidores no setor.

EXPORTAÇÕES DIFERENCIADAS

O perfil das empresas justifica a necessidade de maior atenção dos governos, em todos os níveis. Segundo dados da Minas Biotec, que refletem o perfil nacional, 39% das empresas de biotecno-logia em Minas têm faturamento anual de até R$ 1 milhão, e ape-nas 13% superam R$ 5 milhões. Ainda assim, seus produtos con-quistam não apenas o mercado interno, mas também o externo. Mesmo com uma participação pe-quena nas exportações, o Estado está na liderança quando se trata, por exemplo, de lentes intraocula-res e válvulas cardíacas, venden-do também embriões e sementes para outros países.

Coordenadora do Centro de Es-tatísticas e Informações da Fun-dação João Pinheiro (FJP), Elisa Maria Pinto da Rocha ressalta que “é necessário dar visibilidade a indicadores que são estratégi-

cos por sinalizarem novas opor-tunidades de mercado”. Esses indicadores estão presentes na pesquisa Análise do Desempenho das Exportações de Produtos In-tensivos em Informação e Conhe-cimento (PII&C), feita pela FJP. Ela aponta, por exemplo, que o Estado é o maior exportador bra-sileiro de aparelhos de raio X para diagnósticos médicos (79,3%) e detém 97% da exportação nacio-nal de lentes intraoculares, ven-didas para a República Tcheca, Estados Unidos, Colômbia e Irã, contabilizando 0,02% de partici-pação no comércio exterior e fa-turamento de US$ 618 mil.

E mais: as empresas de biotec-nologia mineiras ou instaladas no Estado respondem por 62,8% das vendas brasileiras de próte-ses arteriais mamárias e de subs-tituição de membros. Utilizadas em transplantes, as válvulas cardíacas mecânicas e biológicas produzidas pela St. Jude Medi-cal Brasil, multinacional norte--americana instalada em Belo Horizonte, são exportadas para 130 países. A empresa exporta 90% de tudo o que fabrica em Minas, além de ser líder de forne-cimento no Brasil, e investiu R$ 25 milhões na expansão de suas atividades. Em março, a St. Jude comemorou o tratamento de 2 milhões de pacientes em todo o mundo com sua tecnologia.

SAFRA INOVADORA

A presidente da Associação Mineira de Biotecnologia (Ambiotec), Giana Marcellini, diz estar otimista quanto às perspectivas do setor, devido à articulação de iniciativas com apoio governamental para ampliação dos inves-timentos em novos centros de produção. Segundo ela, uma nova safra de inovações está em gestação. As áreas que geram maior interesse de pesquisadores e empre-endedores são a reconstitui-ção óssea e de tecidos, o de-

senvolvimento de anticorpos com uso de nanotecnologia e a prestação de serviços de genética humana, animal e diagnósticos moleculares.

Outra face de sucesso da bio-tecnologia no país e em Minas Gerais está no agronegócio. O Brasil é o segundo maior país em área de cultivo de sementes geneticamente modificadas e detém a expertise no melhora-mento de cultivares por méto-dos moleculares. As principais pesquisas estão concentradas no desenvolvimento de varia-ções das sementes de soja, mi-lho e algodão, que têm maior peso na balança comercial, e de cana-de-açúcar, a estrela do biocombustível. São projetos que envolvem multinacionais, como a Monsanto e a Syngenta, em Uberlândia, mas também muito especialmente a Empre-sa Brasileira de Pesquisa Agro-pecuária (Embrapa) e a Empre-sa de Pesquisa Agropecuária de

Com o maior rebanho do país, não é coincidência o avanço em Minas Gerais das pesquisas que beneficiam o setor e reduzem os custos da produção. A tendência de maior adoção da inseminação artificial foi detectada no Estu-do de Atratividade do Polo de Excelência em Genética Bovina de Uberaba, encomendado pelo Sebrae MG e órgãos do gover-no estadual à empresa de con-sultoria Markestrat. “O Brasil é referência em termos de técnicas de reprodução, especialmente a fertilização in vitro. O domínio do conhecimento já permitiu ao país tornar-se o maior produtor de embriões in vitro, além de re-gistrar resultados positivos na adoção de técnicas de aprimo-ramento da transferência de em-briões, da FIV e da clonagem”, diz o estudo. (CPT)

FERTILIZAÇÃO IN VITRO

38%

16%

17%

29%

Saúde animal: saúde, reprodução, alimentação

Agronegócios: plantas, clones, produtos genéticos

Meio ambiente

Saúde humana

Distribuição das empresaspor segmento de negócios

39%

10%13%

17%

15%

mais de R$ 5 milhões

sem faturamento

não informado

menos de R$ 5 milhões

menos de R$ 1 milhão

menos de R$ 2 milhões

6%

Distribuição das empresas por faturamento

32,7%

explorar novos mercados

captar recursos financeiros

ampliar a infraestrutura da empresa

34,7%

52%

Principais desafiosdas empresas

Minas Gerais (Epamig). “A pesquisa pública tem pa-pel determinante na defini-ção dos rumos do processo de inovação na área”, ates-ta o engenheiro agrônomo e doutor em genética e biolo-gia molecular Geraldo Mage-la Cançado, pesquisador da Epamig. Com apoio da Fun-dação Triângulo (instituição privada), Embrapa e Epamig lançaram, no primeiro se-mestre deste ano, a soja de Minas Nutry Soy, fruto de melhoramento genético. A nova variedade é resultan-te de 11 anos de pesquisas, por meio do Programa de Me-lhoramento Genético da Soja para Alimentação Humana. “É um produto parecido com amendoim caramelado, su-gerido como petisco”, conta Ana Cristina Juhász, pesqui-sadora da Epamig. A Good Soy, empresa que trabalha com produtos do segmento, é a primeira a comercializar

Marcus Desimoni / Nitro

Elisa Rocha, da FJP: “É preciso dar visibilidade a indicadores que são estratégicos para ganhar novos mercados”

Fonte: Biominas

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DA ACADEMIA PARA O MERCADO

Não duvide da vontade da em-presária e doutora em Quí-mica Sheyla Maria de Castro Máximo Bicalho. Ela preten-de fazer da JHS Biomateriais, fabricante de enxerto ósseo para uso médico e odontológi-co, a maior empresa do ramo no Brasil. Para tanto, Sheyla conta com a produção inova-dora gerada nos laboratórios

da empresa sediada em Saba-rá, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, na qual ela é sócia e pesquisadora.

A JHS Biomateriais é fruto de uma pesquisa acadêmica de-senvolvida na Universidade Federal de Minas Gerais, onde Sheyla e seus sócios, a douto-ra em física Jane Maria Netto

de Magalhães Alves e o mestre em química Hermeto Barboza Machado, trabalhavam como professores do Departamento de Química. A linha de produ-ção da JHS tem como carro--chefe um elemento sintético com características do osso medular e um tipo específico de colágeno. “Ao contrário dos produtos de concorrentes, os

enxertos da JHS são integral-mente absorvidos pelo corpo humano e em dois anos dei-xam de ser identificáveis”, as-segura Sheyla.

Os produtos da JHS foram registrados no Ministério da Saúde para comercialização em 1999 e 2000, respectiva-mente. “No início, produzí-amos em torno de 300 gra-mas a cada dois meses. Hoje, já contamos com produção de 3,5 quilos da HAP-91 por mês”, diz Sheyla sobre um dos itens fabricados pela em-presa, lembrando que a con-quista do mercado foi lenta. “Agora, atendemos todo o Brasil”. Segundo ela, uma das vantagens do produto sintéti-co é o paciente não ter que se submeter a outra cirurgia, para retirada da crista ilíaca ou de uma costela flutuante, ou ainda usar osso de animal ou de cadáver.

A JHS Biomateriais é uma em-presa de biotecnologia de pe-queno porte, com 24 funcioná-rios, instalada em sede própria, de 1.500 metros quadrados. Nas metas da administração está a expansão, com uma nova sede. A área atual será transformada em um centro de pesquisa de novos materiais e desenvolvimento de produtos inovadores. “Uma das inova-ções é uma pasta com proprie-dades de regeneração de nervos lesionados durante um proce-dimento cirúrgico ou acidental-mente”, anuncia Sheyla.

A empresa possui outros 14 projetos de biomateriais em fase de desenvolvimento, in-cluindo produtos para pacien-tes que tenham sofrido trau-mas na cabeça e na mandíbula e que necessitam de substitui-ção de partes ósseas. (CPT)

a nova leguminosa. Em Viçosa (Zona da Mata), as áreas de alimentos, agri-cultura e sustentabilidade são as geradoras das prin-cipais oportunidades para o sistema produtivo da região. Diretor da Cluster Consul-ting, Carlos Tarrasón conta que, em diagnóstico realiza-do pela empresa, foi consta-tado que o mercado deman-da melhoramento genético de frutas, legumes e verduras, flores, plantas ornamentais e eucalipto e desenvolvimento de plantas como biorreato-res para nutrição, cosméti-cos e terapêuticos. Mas é no setor de ingredientes para indústrias de alimentos que ele identifica um dos cam-pos mais promissores, o que inclui produtos como subs-tituidores de sabores e aro-mas, açúcares de baixa calo-ria e moderadores de apetite.

Coordenador do APL de Viçosa e diretor da Agrogenética – la-boratório que presta serviços para indústrias de alimentos e é um dos sete credenciados no país pelo Ministério da Agri-cultura –, Wilton Marota de Souza confirma a tendência apontada para a região: “Esta-mos na etapa da identificação do potencial da cadeia de ali-mentação, um dos potenciais da região, graças ao suporte e à tradição de pesquisa e de-senvolvimento da Universida-de Federal de Viçosa (UFV)”.

ETANOL

Com caminho já consolidado na área de etanol, o Brasil li-dera a produção mundial a partir da cana-de-açúcar e de-tém a expertise e a tecnologia. Parte significativa do potencial nacional se deve ao melho-ramento genético da planta. Segundo Estado maior produ-tor de cana do país e terceiro em álcool combustível, Minas Gerais conta com a UFV para

criar raízes no setor. A insti-tuição é uma das 11 federais de ensino integrantes da Rede Interuniversitária para Desen-volvimento do Setor Sucroal-cooleiro (Ridesa), formada em parceria com usinas de álcool e açúcar.

A Ridesa desenvolveu 43 das variedades de cana-de-açúcar cultivadas no Brasil, 60% do total. Estima-se que o traba-lho realizado tenha proporcio-nado um aumento da produ-tividade da planta superior a 30%. A rede tem convênio com mais de 30 indústrias sucroal-cooleiras no Estado, onde pro-duziu a espécie RB 867515, usada em mais de 20% da área cultivada no país. “Utili-zamos o conhecimento teórico e a formação de recursos hu-manos para fabricar uma ino-vação tecnológica que aten-derá o mercado produtor de cana e seus beneficiados. Está aí o diferencial do grupo”, as-sinala um dos coordenadores da Ridesa, o professor Márcio Barbosa, do Departamento de Fitotecnia da UFV.

Enquanto isso, instituições como a Universidade Federal de Lavras (Ufla) – que há dez anos desenvolve pesquisas na cadeia produtiva do biodie-sel – e a unidade de Montes Claros da Epamig trabalham no aproveitamento de maté-rias-primas agrícolas, como o girassol e a macaúba, para fabricação de combustível. “Estamos conseguindo apro-veitar matérias-primas que não tinham valor e que ge-ravam passivos ambientais, como óleos e gorduras residu-ais, na produção de biodiesel. Num futuro próximo, incorpo-raremos ao biodiesel resíduos de baixa qualidade, incluindo até esgotos”, salienta o profes-sor titular do Departamento de Engenharia da Ufla Pedro Castro Neto, doutor em ener-gia da agricultura.

Agência Nitro

Sócia da JHS Biomateriais, Sheila Bicalho aposta na pesquisa para conquistar mercado; a empresa possui outros 14 projetos em desenvolvimento