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CHAPTER 1

Biosseguridade na produção de matrizes pesadas

Introdução Biosseguridade é hoje algo primordial para a sobrevivência de todos os tipos de explorações comerciais de aves domésticas. O enorme crescimento e modernização da indústria avícola tornaram claro e evidente a necessidade de uma maior, e mais detalhada atenção à saúde dos plantéis. Principalmente porque o crescimento dessa indústria está baseado em um grande aumento no tamanho dos sistemas de produção com um conseqüente aumento na densidade animal em uma determinada área geográfica. Isso se traduz em uma situação ideal para a multiplicação e disseminação de vários patógenos de aves e a ocorrência de surtos de enfermidades que acarretam elevados prejuízos econômicos. Um outro aspecto importante na indústria avícola é a preocupação com a saúde pública. Os consumidores finais de produtos avícolas estão sujeitos a serem acometidos por enfermidades causadas por patógenos presentes nesses produtos. A única maneira de manter rebanhos comerciais livres ou controlados no que diz respeito à presença de agentes de enfermidades de impacto econômico na produtividade e/ou perigosos para a saúde pública, é por meio da utilização de um programa de biosseguridade. Benefícios da biosseguridade Os benefícios de um programa de biosseguridade são: • Saúde do lote de reprodutores: - mortalidade de aves em cria e reprodução;

- desempenho reprodutivo (produção de ovos, fertilidade e eclodibilidade);

- custo de produção. • Saúde da progênie - desempenho zootécnico (ganho de peso e conversão alimentar); - mortalidade;

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- rendimento das carcaças ao abate; - condenação de carcaças ao abate. • Saúde humana - Transmissão de agentes de zoonoses (Salmonelas, Campilobacter jejuni). Biosseguridade vs. biossegurança O termo biossegurança é freqüente e erradamente (no que diz respeito à saúde animal) utilizado em substituição à biosseguridade. Biosseguridade é um conceito geral, abrangente e refere-se à saúde animal. De acordo com Houaiss et al. (2001), biosseguridade indica diretamente algum tipo de procedimento que visa prevenir e/ou controlar determinado evento. Já biossegurança refere-se quase que exclusivamente a assuntos de saúde humana e pode ser definida como prevenção à exposição a agentes de enfermidades e/ou a produtos biológicos capazes de produzir doenças em seres humanos. Conceitos Em seu sentido geral, biosseguridade significa o estabelecimento de um nível de segurança de seres vivos por intermédio da diminuição do risco de ocorrência de enfermidades agudas e/ou crônicas em uma determinada população. Esse conceito geral é aplicável a populações de qualquer espécie animal. Em produção de aves, um programa de biosseguridade significa o desenvolvimento e implementação de um conjunto de políticas e normas operacionais rígidas que terão a função de proteger as aves contra a introdução de qualquer tipo de agentes infecciosos, tais como vírus, bactérias, fungos e/ou parasitas. De um modo geral biosseguridade envolve: - Controle da multiplicação de agentes biológicos endêmicos (Um

crescimento descontrolado na população desses organismos poderá ocasionar um efeito negativo crônico no desempenho e produtividade dos rebanhos);

- Prevenção da contaminação dos rebanhos por organismos altamente contagiosos e potencialmente letais; - Controle e prevenção de agentes infecciosos de importância na saúde

pública (zoonoses, ex.: salmonelas);

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- Controle e prevenção daqueles agentes infecciosos de transmissão vertical.

Componentes operacionais de um programa de biosseguridade Um programa de biosseguridade é basicamente um grupo de procedimentos desenhados para prevenir a entrada e a disseminação de enfermidades em um sistema de produção de aves. Isso é alcançado via manutenção do menor fluxo possível de organismos biológicos (vírus, bactérias, parasitas, fungos, roedores, animais silvestres, pessoas) por meio das divisas do sistema de produção. Um programa de biosseguridade tem basicamente nove componentes principais que funcionam como elos de uma corrente. Dessa forma, a efetividade de um programa de biosseguridade será sempre igual à resistência do elo (componente) mais fraco da corrente. Dessa forma, todos os componentes devem receber a mesma atenção durante o planejamento, implantação e controle permanente do programa de biosseguridade. Todos os procedimentos descritos, a seguir, são recomendações básicas essenciais a qualquer programa de biosseguridade. 1) Isolamento O isolamento físico é a primeira consideração para o estabelecimento de um novo sistema de produção. Basicamente, o sistema de produção deve ser localizado a uma distância segura de: • Outros sistemas de produção de aves (industriais ou de fundo de quintal); • Incubatórios; • Fábricas de ração; • Abatedouros/frigoríficos; • Estradas principais muito movimentadas e/ou estradas com intenso fluxo

de transporte de cargas vivas (aves, bovinos, suínos). Reflorestamentos com árvores não frutíferas, matas naturais, bem como a presença de elevações topográficas, também servem de barreiras sanitárias naturais, diminuindo o risco de contaminação entre as unidades avícolas e o estresse para as aves. São estabelecidas pelo PNSA (Programa Nacional de Sanidade Avícola) por meio da Instrução Normativa n° 4/1998 do Ministério da Agricultura

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Estabelecimentos Distância mínima (m)

Entre granja e abatedouro 5.000

Entre bisavozeiro e avozeiro 5.000

Entre matrizeiros 3.000

Entre núcleos e limites periféricos da propriedade 100

Entre núcleo e estrada vicinal 500

Entre núcleos de diferentes idades 500

Entre recria e produção 500

Pecuária e Abastecimento (MAPA), as distâncias mínimas a serem observadas entre a granja de matrizes e outros estabelecimentos. No entanto, é muito importante que esse aspecto de distância seja tratado com bom senso técnico e econômico. 2) Controle de tráfego O controle de tráfego diz respeito aos riscos à saúde do plantel pelo fluxo ou trânsito para dentro e fora do sistema de produção e entre unidades internas do sistema de visitantes, técnicos e funcionários, veículos, equipamentos e materiais (veículos de transporte de ração/ovos/aves, ninhos, balanças, roupas, produtos químicos, etc.), animais silvestres e domésticos. O ideal seria que todo o fluxo de pessoas, veículos, equipamentos e materiais em um sistema de produção de aves seguissem o conceito de “áreas sujas e áreas limpas”. Todas as pessoas, veículos, máquinas e equipamentos entrando na granja devem entrar pela área de apoio central após seguir todos os procedimentos de banho, troca de roupa, limpeza e desinfecção e dirigir-se a um dos galpões ou núcleos de galpões de aves através da "estrada limpa" ou "área limpa". Após a visita, estes veículos e pessoas retornam ao apoio central através da "estrada suja" ou "área suja". Se porventura outro núcleo tiver que ser visitado, todo o procedimento será repetido. Além disso, existem outras regras importantes. A regra básica é proibição total de visitas sociais. Quando for essencial a presença de um visitante ao sistema (para manutenção ou aspecto comercial essencial), ele deve seguir as regras de biosseguridade implantadas nesse sistema: - manter registro escrito de todos os visitantes - 72 horas sem contato com qualquer espécie de ave, laboratório de

diagnóstico, fábricas de ração, incubatórios, abatedouros/frigoríficos e encontros técnicos de avicultura;

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- não estar clinicamente doente com enfermidades, tais como resfriado, gripe e problemas gastrointestinais em geral, no dia da visita ou nos 7 dias anteriores à visita;

- realizar o banho e troca de roupa completa na entrada e saída da granja e na entrada e saída do galpão ou núcleo visitado;

Os técnicos e funcionários, que trabalham na granja, não devem possuir qualquer espécie de ave doméstica em sua própria casa. Nunca devem visitar qualquer outro sistema de produção de aves sem um prévio planejamento dos procedimentos a serem realizados após a visita. Os procedimentos prévios para reinício da entrada rotineira no sistema devem ser os mesmos (listados acima) exigidos para visitantes ocasionais. O fluxo de visitas a diferentes lotes em uma granja por idade (mais novo ao mais velho) e/ou por status de saúde (sem problemas de saúde ou com problemas clínicos atuais ou recentes) deve ser sempre respeitado. Também é ideal que seja proibida a entrada de veículos externos à granja (carros de visitantes, técnicos e funcionários e caminhões de ração e de entrega de materiais). Em caso de necessidade, todo o veículo que entrar na área interna dos limites do sistema de produção deverá ser cuidadosamente lavado com água com detergente, enxaguado e, em seguida, desinfetado com produto de amplo espectro (por exemplo, mistura de composto de amônia quaternária com glutaraldeído). Os veículos internos à granja nunca devem sair da área interna da granja. Os silos de recebimento de ração devem estar localizados à beira da cerca perimetral do sistema de produção, ou seja, veículos que transportam rações não devem entrar na granja. É interessante que não ocorra troca de qualquer tipo de equipamentos e materiais entre galpões (ou núcleos de galpões) e/ou entre granjas. No entanto, quando houver a necessidade, devem ser desinfetados ao saírem de seu local de origem e novamente antes de serem introduzidos no local de destino (galpão, núcleo, granja, etc). Todos os galpões de aves abertos lateralmente devem ser tornados à prova de pássaros silvestres com a utilização de telas laterais protetoras. Cada galpão, ou núcleo de galpões com aves de mesma idade, deve ser cercado por cerca perimetral (evitar a entrada de pessoas estranhas e animais de grande porte). 3) Higienização Existem vários procedimentos operacionais de higienização importantes na eficiência de um programa de biosseguridade, sendo essencial executar todos os passos de maneira correta ou de nada adiantará o trabalho:

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- Limpeza e desinfecção; - Higiene pessoal; - Destino das aves mortas; - Limpeza e desinfecção das instalações; - Limpeza e desinfecção de veículos; - Higiene e qualidade da água de bebida; - Higiene de ninhos e ovos férteis; - Controle de peste (roedores e insetos); - Higiene do alimento das aves. A fase de limpeza, das estruturas a serem desinfetadas é crítica para o sucesso de toda a operação. Nessa fase cerca de 90% da carga total de microorganismos presentes em determinada estrutura pode ser retirada. Uma grande gama de detergentes é disponível comercialmente para a limpeza de instalações de criação de animais que antecede o processo de desinfecção. É importante na fase de limpeza uma eficiente remoção da matéria orgânica para que seja realizada posteriormente a desinfecção. Em relação aos desinfetantes, existem várias substâncias que podem ser utilizadas. Os princípios ativos mais utilizados em sistemas de produção animal podem ser classificados como: compostos de amônia quaternária, fenóis, compostos liberadores de halogênios, aldeídos, compostos iodados, álcoois, ácidos, etc. Em relação a higiene pessoal algumas regras são importantes, como o banho e troca de roupa para adentrar o sistema de produção, sendo que todos os materiais de uso pessoal devem ser deixados no vestiário de entrada. O destino das aves mortas pode ser: valas, fossas sépticas, incineração ou a compostagem. A compostagem é a formação de camadas sobrepostas de cama de aviário, aves mortas, palha e água para a destruição das carcaças via fermentação anaeróbia. Esse é o destino mais recomendado para as aves mortas, pois esse sistema, se bem manejado, não polui o meio ambiente, não causa proliferação de insetos e moscas, não atrai animais carniceiros, é sem mau cheiro, é um processo fácil e barato, produz adubo de boa qualidade, etc. Muitos fatores podem afetar a qualidade da água de bebida das aves. Entre os principais tem-se pH, dureza, minerais, substâncias químicas e a contaminação bacteriana. Os parâmetros de qualidade da água de bebida devem ser testados rotineiramente em laboratórios confiáveis. O ideal é tomar amostras a cada quatro meses de todas as fontes de suprimento de água do sistema e realizar teste completo (físico-químico e microbiológico). As bactérias estão presentes no ambiente como células livres (em suspensão no ar, mergulhadas na água, associadas a tecidos animais ou vegetais, etc.), como membros de comunidades multiespecíficas complexas ou como os assim denominados biofilmes. Biofilmes são comunidades

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complexas de microorganismos compostas por densos agregados de células microbianas embebidas em uma matriz viscosa por elas produzida e aderida a uma superfície. Esses agregados celulares são compostos por inúmeras microcolônias de células, que são atravessadas por canais de água em áreas intersticiais vazias. O fluxo de água pelos canais intersticiais aumenta a oferta de nutrientes para as células do biofilme. A destruição de biofilmes bem estabelecidos é um processo difícil e muitas vezes eles se perenizam em algumas situações específicas. Um dos métodos mais comuns e efetivos de controle permanente da proliferação microbiana na água de bebida é a adição à água de compostos liberadores de halogêneos, principalmente o cloro, como na caso da cloração da água. Em baixas concentrações, o cloro é utilizado como um desinfetante permanente e, em altas concen¬trações (tratamento de choque), pode ser utilizado como desinfetante para limpezas e desinfecções de rotina do sistema armazenador e condutor da água. Deve-se utilizar nos ninhos sempre materiais limpos, secos e livres de contaminação por fungos para evitar a contaminação de ovos postos. A freqüência da coleta de ovos é um aspecto essen¬cial para a manutenção de uma alta higiene dos ovos férteis, principalmente em situações extremas de clima. É recomendado um mínimo de seis coletas por dia, sendo quatro na parte da manhã e duas à tarde. O importante, sob o ponto de vista de biosseguridade, é que o ovo seja coletado e desinfetado tão cedo quanto possível após a postura, para que não seja penetrado por microorganismos enquanto está no ninho. Todos os ovos contaminam¬-se com bactérias ao passar pela cloaca antes de ocorrer a postura. Em geral, um ovo fértil no momento da postura já apresenta uma carga bacteriana em torno de 300 a 500 células viáveis de microorganismos na superfície da casca. Além disto, bactérias que entram em contato com o ovo após a postura podem ser encontradas em seu interior, tão cedo quanto 30 minutos após o contato inicial com a superfície da casca do ovo. O ovo deve ser coletado o mais rapidamente possível, desinfetado e armazenado sob condições apropriadas para impedir a penetração e multiplicação de bactérias, além de impedir o desenvolvimento embrionário até o início da incubação artificial. A fumigação com gás formaldeído é, sem dúvida, o mais prático e efetivo método de desinfecção de ovos férteis. Várias espécies de insetos, além das moscas, podem ser encontradas em um aviário, algumas tendo razoável importância, com riscos à biosseguridade do sistema. Normalmente, encontram-se quatro espécies de besouros em um galpão de criação industrial de aves. Dessas espécies, a mais importante sob o ponto de vista da biosseguridade das aves é o cascudinho. Pela grande variedade de patógenos que pode transmitir às aves ele é alvo certo de qualquer programa de biosseguridade. Seu controle é bastante difícil por

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apresentar um ciclo de vida curto e hábitos comportamentais muito particulares. Roedores domésticos (ratos e camundongos) também são problemas importantes na produção avícola industrial. Uma infestação leve (400 camundongos ou 40 ratos) em um galpão com 10.000 aves aumentará o consumo de ração total em aproximadamente 0,1 % (em torno de 400 a 500 kg por ano). No entanto, infestações realmente grandes podem causar um desperdício de ração de até 2% por ano. Roedores são vetores principais e reservatórios de uma gama de microorga¬nismos potencialmente patogênicos para as aves e humanos. Entre os principais tem-se: Salmonella sp (principalmente S. enteritidis [SE] e S. typhimurium [ST]); Pasteurela multocida; Yersínia paratubereulosis; Leptospira sp; Campylobaeter jejuni; Influenza Aviária (carreador mecânico); Doença de Gumboro (carreador mecânico); Doença de Newcastle (carreador mecânico). Um único camundongo infectado por Salmonella enteritidis pode excretar até mais de 230 mil células desse agente em cada um de seus péletes de fezes. Experiência de campo e algumas investigações científicas conduzidas em vários paises da América e Europa demonstram claramente que o alimento administrado às aves pode ser uma das maiores, senão a maior fonte de contaminação de plantéis em sistemas industriais de produção de aves. Particularmente, contaminações por Sa/mone//a sp, C/ostridium sp, várias cepas patogênicas ou não de EsclJelicbia co/i e fungos produtores de micotoxinas. Portanto, o controle da contaminação do alimento ingerido pelas aves tem efeito não somente sobre a sua saúde, como também na saúde pública, via controle da contaminação das aves e, conseqüen¬temente, menor taxa de contaminação dos produtos avícolas. Processos de descontaminação de rações e matérias-primas combinam tratamentos químicos e processos tecnológicos. Tratamentos químicos são, na grande maioria, baseados nos efeitos negativos de um baixo pH para a sobrevivência bacteriana ou baseados nos efeitos diretos de soluções desinfetantes (formaldeído gás/ solução e gás de óxido de etileno). Já processos tecnológicos estão baseados na sensibilidade ao calor apresentada pelas bactérias (salmonelas, principalmente). A adição de produtos químicos à ração e suas matérias-primas é hoje o método mais difundido de tentativa de controle da população microbiana e sua multiplicação, tanto na ração, diretamente, quanto no trato intestinal das aves após sua ingestão. Existe uma grande e variada oferta de produtos comerciais à base de ácidos orgânicos para serem adicionados ao alimento das aves. As propriedades antimicrobianas dos ácidos orgânicos estão baseadas em dois efeitos principais. O primeiro é a diminuição do pH do alimento e conseqüente inativação bacteriana; e o segundo, mais importante, é que a forma não dissociada dos ácidos pode difundir-se livremente pela

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membrana dos microorganismos. Uma vez dentro da célula, o ácido dissocia-se, causa uma supressão nas enzimas intracelulares e sistemas de transporte de nutrientes, matando o microorganismo. Alguns produtos comerciais disponíveis possuem formaldeído adicionado à mistura de ácidos orgânicos. Essa mistura torna os produtos muito mais eficientes em virtude do forte efeito bactericida do formaldeído. Já em relação aos tratamentos térmicos, os mais utilizados pela indústria são a peletização, extrusão e expansão. 4) Alojamento, medicação e vacinação Os lotes devem ser amostrados na chegada à granja antes do descarregamento e então alojados no galpão de destino. Normalmente, as amostras tomadas na chegada são testadas para aquelas enfermidades controladas pelo PNSA (micoplasmas e salmonelas, principalmente). Dependendo dos resultados laboratoriais, o lote poderá permanecer na granja ou ser abatido e substituído por outro lote. No entanto, uma vez alojado na granja de destino, o lote de reprodutores será de inteira responsabilidade do sistema onde foi alojado, já que qualquer amostra tomada após a colocação das aves no galpão de destino pode simplesmente estar expressando uma contaminação adquirida no sistema onde foram alojadas. É muito importante sempre adquirir o material genético, de fornecedores idôneos, que primem pela qualidade sanitária e produtiva da linhagem a ser adquirida. Por medicação, em avicultura industrial, normalmente é entendida a terapia antimicrobiana (antibióticos e quimioterápicos), seja preventiva e/ou curativa. O uso responsável de terapias antimicrobianas inclui um diagnóstico correto, conhecimento das propriedades do antibiótico, dose, espectro de ação, interações com outras substâncias e rápida implementação da terapia. A principal razão para vacinar plantéis de reprodutores é a de reduzir perdas com morbidade e mortalidade causadas pelas doenças infecciosas. Outra razão, também muito importante, é a proteção contra quedas na taxa de produtividade (produção de ovos férteis). Além disso, a vacinação das reprodutoras poderá reduzir a transmissão vertical de alguns patógenos para a progênie. As repro¬dutoras vacinadas passarão anticorpos maternos (via ovo fértil) para sua progênie, protegendo-a contra algumas infecções durante duas a três primeiras semanas de vida. Um dos importantes objetivos da vacinação, hoje em dia, é a prevenção da disseminação de certas zoonoses. É muito importante enfatizar que nenhuma vacina disponível hoje protege 100% contra a infecção, colonização e multiplicação, na ave, do agente infeccioso e contra a expressão e sintomas clínicos. Vacinas são apenas uma das muitas ferramentas essenciais a um efetivo programa de biosseguridade. Todo o programa de vacinação deve ser desenhado com base no conhecimento do

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médico veterinário sobre a saúde do rebanho onde o programa será utilizado e na epidemiologia das principais enfermidades ocorrentes na região onde está localizado o sistema de produção. 5) Monitoramento, registro e comunicação dos resultados A saúde do plantel deve ser monitorada continuamente por visitas clínicas e testes diagnósticos laboratoriais (sorologia, PCR, isolamento bacteriológico e virológico). O monitoramento de todos os lotes de reprodutores, no Brasil, deve estar em acordo com o preconizado pela legislação em vigor do PNSA. O monitoramento das aves deve ser adaptado às situações clínico-epidemiológicas específicas de cada sistema de produção ou região geográfica, atendendo integralmente a legislação vigente. O objetivo de um programa de monitoramento é um rápido diagnóstico de problemas na saúde do lote e diminuição dos prejuízos causados pelos efeitos clínicos, bem como diminuição do risco de disseminação dessas enfermidades. É recomendável que os dados de monitoramento de qualquer lote sejam mantidos pelo menos durante dois anos após o final da vida produtiva e abate do lote em questão. Essas informações devem estar sempre disponíveis para os técnicos oficiais do MAPA que estejam envolvidos com o PNSA. Uma das maiores responsabilidades do responsável pelo programa de biosseguridade é passar uma informação já analisada tecnicamente e os possíveis procedimentos a serem realizados em seguida, pois, sem sua avaliação técnica, os resultados serão de nenhuma utilização ao proprietário do sistema de produção. Obviamente, todos aqueles resultados relacionados com a legislação vigente (PNSA) deverão ser imediatamente comunicados aos órgãos responsáveis, quando for necessário e preconizado pela legislação em questão. 6) Erradicação de doenças Uma vez contaminado por algum patógeno importante, só haverá duas opções ao sistema de produção, controlar e conviver (desenvolvendo programas de controle e convivência com o patógeno) ou tentar erradicar o organismo em questão. A erradicação de enfermidades implica na implantação de técnicas de manejo e biosseguridade específicas e sempre haverá um custo extra envolvido com o processo. 7) Auditoria (técnica e de qualidade total) e Atualização Um programa de biosseguridade necessita de constante auditoria e atualização. Somente desse modo manterá sua efetividade e abrangência.

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A atualização do programa é uma operação permanente e está em função de aspectos muito importantes, tais como: • Situação clínico-epidemiológica do sistema de produção ou da região

onde está localizado; • Novas exigências de clientes do sistema com relação à saúde das aves,

como produzir para exportação ou para empresas que exportarão o produto final;

• Desenvolvimento de novas técnicas de investigação diagnóstica; • Nova legislação de saúde animal regional ou nacional; • Crescimento do sistema de produção. O cronograma de visitas de auditoria do programa de biosseguridade deve prever, pelo menos, três auditorias anuais completas ao sistema. Essas auditorias sempre devem ser realizadas em datas não anunciadas a todos os envolvidos com o sistema a ser auditado. Isso permite que, no momento da auditoria, a situação operacional no sistema reflita exatamente o que ocorre no dia a dia. Para cada componente deverá ser previamente criado um guia de auditoria que indicará os principais pontos a serem avaliados. Essa avaliação deverá ser quantificada por índices ou pontuações que tornarão a análise dos dados mais fácil, permitindo a comparação com auditorias anteriores. 8) Educação continuada A educação continuada refere-se ao permanente treinamento de todos aqueles envolvidos com o programa de biosseguridade, desde proprietários e investidores do sistema, diretores, corpo gerencial, até o menor nível hierárquico da empresa, englobando todos aqueles relacionados com a produção e comercialização dos produtos do sistema de produção. Pelo menos uma atualização anual deverá ser feita para os níveis hierárquicos mais altos. Já, para os níveis hierárquicos operacionais do sistema de produção, as atualizações e treinamentos do programa de biosseguridade devem ser realiza¬das três vezes ao ano. Os aspectos conceituais e técnicos a serem cobertos em um treinamento de um programa de biosseguridade devem ser os seguintes: • Conceito e filosofias de biosseguridade. • Razões da importância da biosseguridade (saúde animal, saúde pública). • Principais componentes do programa.

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• Procedimentos operacionais e os porquês desse procedimento. • Auditorias internas (eventual por técnicos e permanente por todos os

envolvidos no programa de biosseguridade) e externas. 9) Plano de contingência Quando se pensa a respeito de sistemas de produção da moderna avicultura industrial, por melhor que seja o status de saúde das aves deste sistema, nunca podemos deixar de reconhecer que mais cedo ou mais tarde estes rebanhos podem se contaminar por algum agente infeccioso. E, é nesta ocasião que esses sistemas de produção deverão ter seus planos de contingência prontos para serem postos em ação. Um plano de contingência refere-se a um conjunto de procedimentos e decisões emergenciais a serem tomadas no caso de ocorrência inesperada (ou suspeita de ocorrência) de um evento relacionado com o programa de biosseguridade e/ou a saúde animal de determinado sistema de produção de aves, nesse caso, um sistema de reprodutores de aves de corte. O objetivo maior de um plano de contingência é prover um rápido esclarecimento (diagnóstico) e uma rápida contenção e/ ou solução para o problema de saúde do plantel em questão. São os seguintes os componentes estruturais básicos de um plano de contingência: - Objetivo - deverá ser colocado de uma forma a não deixar dúvidas. - Quem e como - deve ser listado por nome e/ou cargo profissional na

empresa quem deverá realizar as ações (técnico específico, grupo de técnicos) e seus eventuais substitutos, quando necessário. Do mesmo modo, o como realizar as ações deverá ser muito claro e facilmente entendível (amostras a serem tomadas; laboratórios para onde serão enviadas as amostras; tipo(s) de análise(s) a serem conduzidas nas amostras; etc.).

- Resultados - obtenção dos resultados finais da operacionalização do plano de contingência devem ser estimados. É muito importante que os resultados da investigação, seja epidemiológica ou diagnóstica (laboratorial), sejam utilizados como ferramentas de encerramento do plano de contingência, ou seja, confirmação ou eliminação da suspeita inicial. Por isso, na elaboração do plano de contingência, todos os tipos de resultados possíveis devem ser pré-avaliados juntamente com as respectivas decisões conseqüentes.

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Conclusão O Brasil é um grande produtor e exportador de aves, sendo necessária a implementação de medidas de biosseguridade no setor produtivo, não só visando a obtenção de melhores resultados de produção das aves, mas principalmente para agregar valor ao produto, uma vez que problemas sanitários graves podem comprometer a exportação dos produtos avícolas. As empresas que buscam desenvolvimento competitivo devem ter nos programas de biosseguridade uma ferramenta indispensável para assegurar a saúde dos plantéis. No entanto, um programa de biosseguridade é constituído por diversas ações interdependentes, cujo sucesso depende da realização consciente e rigorosa de cada detalhe, devendo contar com a colaboração e o comprometimento de todos envolvidos. Referências bibliogáficas 1. JAENISCH, F.R.F. Aspectos de biosseguridade para plantéis de matrizes de

corte. Instrução técnica para o avicultor. Centro Nacional de Pesquisa de Suínos e Aves (CNPSA) – EMBRAPA-CNPSA, 1999.

2. MACARI, M.; MENDES A.A. Manejo de matrizes de corte. Campinas: FACTA, 2005. 243-321p.

3. SESTI, L. Biosseguridade em avicultura: controle integrado de doenças. Disponível em: http://www.naturezaforte.com.br/aves/aulas_teoricas/biosseguridade.pdf