Bioshots no Arte Pará 2009

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BELÉM, DOMINGO, 11 DE OUTUBRO DE 2009 OLIBERAL LIBER ALZINHO 10 V ocê não acha uma boa essa coisa de inventar histórias? A fotógrafa Flavya Mutran nos mos- tra que a gente pode fazer coisas incrí- veis deixando nossa criatividade fluir. Ela criou uma técnica para produzir uma série de modelos de (auto) retratos a partir do estilo PhotoBook by Highschool americano que com certeza você conhece muito bem porque estão disponíveis aos montes em programas free commons na internet. Caso não conheça, dê uma nave- gada. Vai achar muito divertido. Além de que são gratuitos e todo mundo pode usar. Primeiro a artista junta os modelos mais comuns, principalmente estilos de fotos dos últimos 20 ou 30 anos, de- pois ela vai sobrepondo seus próprios traços e assim os formatos padroniza- dos na internet vão se transformando. Odetalheéqueessesmodelosnãosão refeitosnophotoshopparanãoperder o sentido inicial, como ela mesma diz “o seu DNA original”. O que você vai ver no Arte Pará são imagens toscas, mas são todas artificiais e dizem um pouco do que se reproduz no mundo fora do virtual. São modelos, mo- das, formatos que tem o objetivo de padronizar as pessoas como se fizes- sem parte de um coletivo maior que ignora o biótipo de cada um. Esses modelos revelam padrões de beleza e com- portamento impostos a mulheres e homens pela sociedade industrial e pela cultura de massa ao longo do tempo. Bioshots é a série que Flavya está produzin- do e são fotografias digitais feitas justamente da acumulação de várias imagens expostas na internet que ela capta, insere e apaga seus traços fisionômicos, mistura e refotografa um sobre o outro. Enfim, cria imagens imprová- veis, sem nome, sem rosto, sem história. Bioshots de Flavya tem seu lado lúdico e lembra as bonecas de papel que vinham com roupas diferentes, acessórios, cabelos e outros comple- mentos que mexiam com nossa ima- ginação na infância. Quando modifica esses modelos tradicionais, a artista se pergunta: “e como seria se eu tivesse vivido nos anos 60? E se eu fosse loura? Negra? Homem?”. No campo da arte ela pode ser todos es- ses personagens a partir de retratos anôni- mos com poses típicas de fotos para docu- mentos 3x4 e álbuns comemorativos. Ela constrói novas imagens com re- gistrosfotográficosdomonitordocom- putador e depois mistura penteado, roupa, postura, passado e presente. A partir de retratos anônimos com suas poses típicas de fotos para documentos e álbuns comemorativos, constroem-se novas imagens com registros fotográficos do monitor do computador. Imagens que misturam penteados, roupas, e posturas data- das. Passado, presente e o futuro, porque não? De certa forma esta pesquisa não deixa de mostrar ela mesma e suas cópias. Na arte podemos ser vários persona- gens. Que tal construir novas imagens? Aventura artística no mundo virtual Série ‘Bioshot’, da pesquisa Pretérito Imperfeito de Territórios Móveis. Flavya Mutran, Porto Alegre-RS, 2009 Série ‘Bioshot’, da pesquisa Pretérito Imperfeito de Territórios Móveis. Flavya Mutran, Porto Alegre-RS, 2009

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Matéria no Liberalzinho especial Arte Pará, do Círio 2009.

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BeLÉm, domingo, 11 de outuBro de 2009o liberalli

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o10

V ocê não acha uma boa essa coisa de inventar histórias?

a fotógrafa Flavya Mutran nos mos-tra que a gente pode fazer coisas incrí-veis deixando nossa criatividade fluir.

Ela criou uma técnica para produzir uma série de modelos de (auto) retratos a partir do estilo PhotoBook by Highschool americano que com certeza você conhece muito bem porque estão disponíveis aos montes em programas free commons na internet. Caso não conheça, dê uma nave-gada. Vai achar muito divertido. Além de que são gratuitos e todo mundo pode usar.

primeiro a artista junta os modelos mais comuns, principalmente estilos de fotos dos últimos 20 ou 30 anos, de-pois ela vai sobrepondo seus próprios traços e assim os formatos padroniza-dos na internet vão se transformando. O detalhe é que esses modelos não são refeitos no photoshop para não perder o sentido inicial, como ela mesma diz “o seu DNa original”.

O que você vai ver no Arte Pará são imagens toscas, mas são todas artificiais e dizem um pouco do que se reproduz no mundo fora do virtual. São modelos, mo-

das, formatos que tem o objetivo de padronizar as pessoas como se fizes-sem parte de um coletivo maior que ignora o biótipo de cada um.

Esses modelos revelam padrões de beleza e com-portamento impostos a mulheres e homens pela sociedade industrial e pela

cultura de massa ao longo do tempo.Bioshots é a série que Flavya está produzin-

do e são fotografias digitais feitas justamente

da acumulação de várias imagens expostas na internet que ela capta, insere e apaga seus traços fisionômicos, mistura e refotografa um sobre o outro. Enfim, cria imagens imprová-veis, sem nome, sem rosto, sem história.

Bioshots de Flavya tem seu lado lúdico e lembra as bonecas de papel que vinham com roupas diferentes, acessórios, cabelos e outros comple-mentos que mexiam com nossa ima-ginação na infância. Quando modifica esses modelos tradicionais, a artista se pergunta: “e como seria se eu tivesse vivido nos anos 60? e se eu fosse loura? Negra? Homem?”.

No campo da arte ela pode ser todos es-ses personagens a partir de retratos anôni-mos com poses típicas de fotos para docu-mentos 3x4 e álbuns comemorativos.

ela constrói novas imagens com re-gistros fotográficos do monitor do com-putador e depois mistura penteado, roupa, postura, passado e presente.

A partir de retratos anônimos com suas poses típicas de fotos para documentos e álbuns comemorativos, constroem-se novas imagens com registros fotográficos do monitor do computador. Imagens que misturam penteados, roupas, e posturas data-das. Passado, presente e o futuro, porque não?

De certa forma esta pesquisa não deixa de mostrar ela mesma e suas cópias.

Na arte podemos ser vários persona-gens. Que tal construir novas imagens?

aventura artística no mundo virtual

série ‘Bioshot’, da pesquisa pretérito imperfeito de territórios Móveis. Flavya Mutran, porto alegre-rs, 2009

série ‘Bioshot’, da pesquisa

pretérito imperfeito

de territórios Móveis. Flavya Mutran, porto

alegre-rs, 2009