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Déborah Yara Alves Cursino dos Santos Ana Lucia Brandimarte LICENCIATURA EM CIÊNCIAS · USP/ UNIVESP 5.1 Introdução 5.2 Definição 5.3 Biomas terrestres 5.4 Biomas brasileiros 5.4.1 Amazônia 5.4.2 Mata Atlântica 5.4.3 Cerrado 5.4.4 Caatinga 5.4.5 Pantanal 5.4.6 Campos Sulinos 5.4.7 Zona Costeira 5.5 Ecossistemas aquáticos 5.6 Fechando o assunto Referências Anexo: Mapas da Tabela 5.1 BIOMAS E BIODIVERSIDADE: BIOMAS BRASILEIROS 5 História da Vida na Terra e Distribuição Atual da Vida no Planeta

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Déborah Yara Alves Cursino dos SantosAna Lucia Brandimarte

Licenciatura em ciências · USP/ Univesp

5.1 Introdução5.2 Definição5.3 Biomas terrestres 5.4 Biomas brasileiros

5.4.1 Amazônia 5.4.2 Mata Atlântica5.4.3 Cerrado 5.4.4 Caatinga 5.4.5 Pantanal 5.4.6 Campos Sulinos 5.4.7 Zona Costeira

5.5 Ecossistemas aquáticos5.6 Fechando o assuntoReferênciasAnexo: Mapas da Tabela 5.1

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História da vida na Terra e Distribuição Atual da vida no Planeta

5.1 IntroduçãoAté agora, já falamos sobre como a vida teve origem na Terra, como podemos reconhecer orga-

nismos vivos, como eles estão distribuídos e quais os fatores que estão associados a essa distribuição.

5.2 DefiniçãoImagine-se em um ônibus, viajando do litoral de São Paulo em direção ao oeste do

estado do Mato Grosso. Olhando pela janela, teríamos sempre a mesma visão? Claro que

sua resposta é não. Até uma pessoa menos observadora conseguiria perceber diferenças

enormes entre áreas mais ou menos exploradas pelo homem, como também diferenças na

distribuição das árvores, nas suas formas, no tipo de solo, no relevo, na temperatura, entre

tantas outras variáveis.

Vimos no tema Distribuição atual da biota no planeta que as médias anuais de

precipitação e temperatura condicionam diferentes tipos de vegetação.

Pois bem, os principais ecossistemas observados regionalmente ao longo dessa trajetória são

os biomas. Os biomas são as maiores unidades constituintes da biosfera, caracterizados por

uma vegetação própria, mais ou menos homogênea, com espécies de seres vivos adaptadas às

condições climáticas daquele local. Também já vimos na Distribuição atual da biota no

planeta que, no ambiente terrestre, a vegetação é o componente que determina a aparência

geral e a estrutura do ecossistema. As características observadas nas espécies que ocorrem num

determinado bioma são muito importantes para o seu próprio reconhecimento. Em outras

palavras, as adaptações morfológicas e/ou fisiológicas selecionadas ao longo da história evolutiva

daquelas espécies que possibilitaram sua existência naquele ambiente podem ser usadas como

parâmetros no reconhecimento daquele mesmo bioma em outra região.

Agora é a sua vezAntes de iniciar este último tema, responda as questões da atividade on-line 5.1.

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5 Biomas e Biodiversidade: Biomas brasileiros

A definição de bioma, no entanto, não é tão simples e fácil como a apresentada no parágrafo

anterior. Podemos notar que, aparentemente, as características da cobertura vegetal parecem o

ponto mais importante na delimitação de um bioma. Porém, entender e delimitar o quanto as

características morfológicas são semelhantes ou diferentes para considerarmos aquele espaço

como parte do mesmo bioma ou de um novo bioma nem sempre são tarefas fáceis.

O professor Leopoldo Coutinho, do Departamento de Ecologia do Instituto de Biociências

da USP escreveu há alguns anos um artigo científico muito interessante discutindo a origem do

conceito de bioma. Nesse artigo ele apresenta a definição elaborada por Walter em 1986 que,

segundo ele, é mais moderna, principalmente pela sua abordagem ecológica e prática:

Veja que essa definição engloba pontos importantes que são determinantes na distribuição

da vida na Terra: a influência marcante da precipitação e da temperatura (macroclima), fatores

que são associados aos gradientes latitudinais e altitudinais (reveja o tema Distribuição atual

da biota no planeta); e a vegetação (fitofisionomia) como componente determinante da

aparência geral desse bioma no ambiente terrestre.

A seguir veremos as características dos principais biomas da Terra. Vale salientar que alguns

autores também consideram agrupamentos de comunidades aquáticas como biomas. Aqui, de

acordo com os pontos adotados na nossa definição, consideramos somente os biomas terrestres.

Bioma é uma área do espaço geográfico, com dimensões até superiores a um milhão de quilômetros quadrados, representada por um tipo uniforme de ambiente, identificado e classificado de acordo com o macroclima, a fitofi-sionomia (formação), o solo e a altitude, sendo estes os principais elementos que caracterizam os diversos ambientes continentais.

Para saber maisLeia: Coutinho, L. M. O conceito de bioma. Acta botanica brasilica. 20(1): 13-23, 2006.

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História da vida na Terra e Distribuição Atual da vida no Planeta

5.3 Biomas terrestres Há grande diversidade de biomas terrestres no planeta, distribuídos em padrões influenciados

fortemente pelas características climáticas de cada região (relembre o que você viu sobre os fatores

limitantes em Distribuição atual da biota no planeta). No entanto, perturbações ambientais

como tempestades, incêndios e atividades humanas podem afetar as comunidades nesses biomas,

alterando a disponibilidade de recursos e, consequentemente, sua aparência. Trataremos aqui

das características dos principais biomas terrestres sem considerar o efeito dessas perturbações.

A influência das atividades humanas será assunto para outra disciplina.

Os biomas terrestres, como já vimos, são denominados com base nas características climáticas

da região e pela vegetação predominante. No entanto, os microrganismos, fungos e animais adap-

tados àquele bioma também o caracterizam.

Um ponto importante é saber que

a composição de espécies nos biomas

varia de uma região para outra, ou seja,

as espécies que ocorrem nas florestas

tropicais no planeta não são as mesmas

em todas as áreas onde esse bioma

está presente. Além disso, inclusive

numa mesma área, há diferenças verticais

de distribuição das espécies, como vimos

nos biomas aquáticos. Em outras palavras,

há uma estratificação vertical, ou seja,

podemos dizer que há camadas definidas

(estratos), principalmente, pela forma e

tamanho das plantas que as compõem.

Em uma floresta, por exemplo, podemos

delimitar algumas camadas de cima para

baixo como dossel, camada subarbustiva,

camada de plantas herbáceas além

da serapilheira ou seja da camada de

detritos (Figura 5.1). Figura 5.1: Exemplo de um padrão de estratificação vertical.

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5 Biomas e Biodiversidade: Biomas brasileiros

A Figura 5.2 traz a distribuição dos principais biomas terrestres. Na Tabela 5.1 apresen-

taremos as características gerais desses ambientes.

Figura 5.2: Distribuição dos principais biomas terrestres. Lembre-se de que as delimitações entre esses biomas são didáticas. Normalmente observam-se áreas de transição entre eles, com extensão variada, conhecidas como ecótonos. / Fonte: modificado de Campbell et al., 2010.

Ecótono é um termo criado no início do século XX. Desde então, muitos pesquisadores discutem e trabalham para melhor defini-lo. Uma definição interessante diz que ecótonos são zonas de transição entre ecossistemas adjacentes, que apresentam características definidas por escalas de tempo e espaço por forças das interações entre esses ecossistemas adjacentes. Em outras palavras, são áreas de transição entre ecossistemas distintos que sofrem influência desses ecossistemas a todo tempo, sem distinção.Por serem áreas de transição entre diferentes ecossistemas, abrigam espécies pertencentes a esses ambientes. No entanto, apresentam características próprias que também propi-ciam a existência de espécies que só ocorrem nestas áreas. Isso faz dos ecótonos áreas de alta riqueza de espécies.Como já vimos que os biomas são formados por vários ecossistemas em um determinado local, podemos usar a definição de ecótono de maneira mais ampla, pensando numa faixa de transição entre biomas adjacentes.

Para saber maisLeiturar complementar: Koen hufkens, Paul sCheunders, reinhart Ceulemans. (2009) Ecotones in vegetation ecology: methodologies and definitions revisited. Ecologycal Research 24: 977–986.

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História da vida na Terra e Distribuição Atual da vida no Planeta

Tabela 5.1: Características dos principais biomas terrestres e sua distribuição no planeta.

Floresta Temperada

Floresta TropicalFloresta Boreal do

Norte ou TaigaTundra

Distribuição

Precipitação

Pode haver chuvas intensas em qualquer época do ano. A precipitação média é de 700 – 2.000 mm por ano.

Florestas tropicais úmidas = precipitação anual constante de cerca de 2.000 – 4.000 mm; florestas tropicais secas = precipitação anual de 1.500 – 2.000 mm, distribuídos em uma estação seca e em outra chuvosa.

Apresenta precipitação anual média de 300 – 700 mm.

Precipitação anual varia entre 200 – 600 mm.

Temperatura

O verão pode ser quente e úmido, com temperatura máxima chegando a 35 °C. No inverno a temperatura fica em torno de 0 °C.

Apresenta temperaturas altas, sem muita variação ao longo do ano, por volta de 25° - 29 °C.

O inverno é bastante longo e frio. Regiões de taiga na Sibéria podem apresentar variação anual de temperatura de -50 °C no inverno a mais de 20 °C no verão.

O inverno é longo e frio, com temperatura média podendo checar a -30 °C em algumas áreas. O verão é bastante curto, com temperatura média inferior a 10 °C.

Vegetação

Há forte estratificação vertical. São comuns árvores caducifólias, que perdem as folhas antes do inverno, quando há redução da fotossíntese e a absorção da água congelada do solo é mais difícil.

Há forte estratificação, sendo a competição pela luz algo muito marcante.

Há domínio de “gimnospermas” (p. ex.: pinheiros). A diversidade de espécies nos estratos arbustivo e herbáceo é menor do que nas florestas temperadas.

Predominantemente herbácea formada de musgos, gramíneas, alguns arbustos, árvores anãs e liquens. O crescimento das raízes de muitas plantas é limitado devido ao permafrost (camada de solo permanentemente congelada).

Animais

Mamíferos, aves e insetos ocupam todos os estratos. Muitas espécies de aves migram para locais mais quentes durante o inverno, enquanto muitos mamíferos hibernam.

Estima-se que a diversidade de espécies animais nestas florestas seja maior do que em qualquer outro bioma terrestre. Entre esses animais incluem-se grande variedade de vertebrados e invertebrados adaptados a um ambiente estratificado verticalmente.

Aves migratórias e residentes são vistas nestes biomas. Entre os mamíferos característicos incluem-se alces, ursos pardos e tigres siberianos. Há também grande diversidade de insetos.

Aves migratórias ocupam esse bioma no verão. Caribus e renas são migratórios. Mamíferos como ursos, lobos e raposas estão presentes.

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5 Biomas e Biodiversidade: Biomas brasileiros

Pradaria Temperada

Chaparral Deserto Savanas

Distribuição

Precipitação

Fortemente sazonal, com invernos secos e verões úmidos. Secas periódicas são comuns e a precipitação anual média fica por volta de 300 – 1.000 mm.

Fortemente sazonal, com invernos chuvosos e verões secos. A precipitação média anual é de 300 – 500 mm.

Geralmente menos de 300 mm por ano, de ocorrência muito variável.

A chuva é sazonal e pouca, atingindo a média de 300 – 500 mm no ano. A estação seca pode perdurar por até nove meses.

Temperatura

O inverno é muito frio, com temperaturas médias abaixo de -10 °C. Já no verão a temperatura média chega a 30 °C.

O verão é muito quente, com temperatura média por volta de 30° C. As outras épocas do ano são bem frias, com temperatura média entre 10° – 12 °C.

A variação da temperatura ocorre diariamente e sazonalmente. Os desertos quentes (presentes em dois cinturões nas latitudes 30° N e 30° S) podem ter temperatura máxima de 50 °C, enquanto nos desertos frios (característicos de regiões secas de altas latitudes) pode chegar a -30 °C.

As temperaturas são altas, entre 24° - 29 °C, mas com variação sazonal maior do que a das florestas tropicais.

Vegetação

Há domínio de gramíneas e arbustos que vão de poucos centímetros até dois metros. Muitas espécies apresentam adaptações para tolerar as estações secas e também o fogo.

A vegetação é formada caracteristicamente por arbustos e árvores de pequeno porte, além de muitas gramíneas e outras herbáceas. Apresenta alto grau de espécies endêmicas (espécies de distribuição restrita a uma área geográfica). As espécies apresentam adaptações ao fogo e à seca.

Plantas suculentas e espinescentes são muito características. Áreas de solo descoberto são mais comuns do que em outros ambientes.

Árvores dispersas são encontradas em maior ou menor densidade, dependendo do local, apresentando adaptações importantes a condições de seca, como espinhos e/ou folhas pequenas.

Animais

São nativos, animais pastadores, como bisões e cavalos. Também são comuns mamíferos escavadores (cães-da-pradaria – roedor do gênero Cynomys).

Mamíferos pastadores, como veados e cabras, são comuns, além de uma alta diversidade de outros pequenos mamíferos, espécies de anfíbios, répteis, aves e muitos invertebrados.

São comuns lagartos, serpentes, escorpiões, formigas, besouros, aves migratórias e residentes e roedores. Muitos apresentam hábito noturno.

Grandes mamíferos são habitantes comuns. Os insetos, porém, são os herbívoros dominantes.

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História da vida na Terra e Distribuição Atual da vida no Planeta

Como dito, não há uma completa e estática caracterização para os biomas. Detalhes e peculia-

ridades podem ser vistos em todos eles. Tomemos o exemplo das florestas tropicais. Além da quan-

tidade e da periodicidade das chuvas propiciarem a distinção em florestas tropicais secas e úmidas,

outras diferenças podem ser notadas. Nas florestas tropicais úmidas há uma maior diferenciação em

camadas na estratificação vertical, sendo observadas árvores que crescem acima do dossel, uma ou

duas camadas de árvores menores, uma camada arbustiva e a camada herbácea. Nas florestas tropicais

secas, árvores que perdem suas folhas durante a estação seca podem ser comuns, ao contrário das

espécies de folhas perenes das florestas úmidas. Bromélias e orquídeas são muito comuns nas florestas

úmidas, enquanto plantas suculentas e arbustos espinhosos aparecem nas florestas secas.

Nas florestas temperadas, assim como nas florestas tropicais úmidas, a estratificação vertical é

bastante proeminente, havendo um dossel bem fechado, um ou dois estratos de árvores menores,

um estrato arbustivo e um herbáceo. Entretanto, não é comum a presença de epífitas.

A tundra é um bioma característico de áreas do Ártico (Figura 5.2 e Tabela 5.1).

No entanto, as temperaturas muito baixas e os ventos muito fortes, presentes em topos de

montanhas muito altas, propiciam o desenvolvimento de uma vegetação muito semelhante,

chamada Tundra Alpina, mesmo em latitudes tropicais. Nesses locais, a precipitação pode ser

maior do que 1.000 mm anuais. A ocorrência deste tipo de vegetação reforça a importância das

características climáticas no estabelecimento e sucesso das comunidades que formam os biomas.

As plantas e animais encontrados nesses biomas apresentam adaptações fisiológicas e morfo-

lógicas que foram selecionadas ao longo das suas histórias evolutivas, possibilitando seu sucesso

frente àquelas condições. Em regiões de deserto, por exemplo, as plantas apresentam caracterís-

ticas que propiciam maior tolerância à alta incidência de luz (e altas temperaturas), mecanismos

eficientes para reduzir a perda de água ou formas de armazená-la, além de muitas apresentarem

fotossíntese CAM ou C4 com adaptações anatômicas e fisiológicas que contribuem ainda

mais para evitar a perda de água (todo processo de fotossíntese é visto no tema Fotossíntese

e quimiossíntese da disciplina Bioenergética e Ciclos da Natureza). A água também é

um fator limitante para os animais nesse bioma. Dessa forma, muitos, assim como as plantas,

apresentam mecanismos para armazená-la, além de terem hábito noturno. O fogo, comum em

regiões de savana, é muito importante na manutenção da diversidade nesses biomas. É comum

o aparecimento de grande abundância de espécies, incluindo gramíneas cobrindo o solo, após

eventos naturais de fogo seguidos de chuva.

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5 Biomas e Biodiversidade: Biomas brasileiros

Além das peculiaridades relacionadas às espécies e suas adaptações, muitos biomas apresentam

ampla distribuição e, por isso, podem receber designações particulares em uma ou outra região.

A Mata Atlântica, por exemplo, faz parte do grande bioma de Florestas Tropicais. O Chaparral da

América do Norte é conhecido como Matorral no Chile e na Espanha, como Garigue e Maquis

no sul da França e como Fynbos na África do Sul. Os Pampas (ou Campos Sulinos) característicos

da Argentina, Uruguai e sul do Brasil, os Veldts da África do Sul e os Puszta da Hungria são todos

exemplos de Pradarias temperadas.

Os biomas não são, portanto, áreas estanques. As perturbações naturais como grandes tempestades,

furacões, nevascas, tsunamis e fogo têm um papel importante nessas áreas. A queda de uma árvore na

floresta é uma perturbação naquele ambiente que permite o aparecimento de várias espécies adap-

tadas às condições resultantes da maior insolação. O fogo, por exemplo, é um tipo de perturbação

muito importante na manutenção de diversos biomas savânicos. Os biomas são, então, mosaicos de

comunidades diferentes, e em estágios sucessionais distintos, instalados num determinado lugar.

5.4 Biomas brasileirosO Brasil é um país de grande extensão (8.514.877 km2), com fitofisionomias muito diferentes

ao longo de seu território. Voltando à nossa viagem proposta no início desse texto, já sabemos

que no percurso de São Paulo em direção ao oeste do estado do Mato Grosso passaríamos por

alguns biomas. Mas quais são os principais biomas encontrados no Brasil?

Os biomas brasileiros abrigam uma porção significativa da biodiversidade mundial, constituindo

importantes centros de biodiversidade pela combinação de altos níveis de riqueza e endemismo.

O número e a denominação desses biomas podem variar de acordo com os diversos autores.

Aqui consideraremos sete: Amazônia, Mata Atlântica, Cerrado, Caatinga, Pantanal, Campos

Sulinos e Zona Costeira (Figura 5.3). Veremos algumas características de cada um deles a seguir.

Agora é a sua vezAntes de continuar, responda as questões da atividade on-line 5.2.

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História da vida na Terra e Distribuição Atual da vida no Planeta

5.4.1 Amazônia

Apesar de nos referirmos à Amazônia como um bioma, sabemos que essa extensa área não

é homogênea, compreendendo florestas úmidas (em maioria), florestas de altitude, várzeas e

manchas de cerrado.

A Floresta Amazônica é a maior floresta pluvial tropical do planeta, ocupando 4,1 milhões de km2.

Dentro deste bioma encontramos a Bacia Amazônica – a maior bacia hidrográfica do mundo – com

uma extensão de aproximadamente 6 milhões de km2 e mais de 1.100 afluentes (Figura 5.4).

Em termos geográficos, o que chamamos de Amazônia corresponde a toda a bacia do Rio

Amazonas que abrange, em termos de longitude, desde Pongo Manseriche (grande desfiladeiro

localizado a noroeste no Peru) até o norte do estado do Maranhão e, em latitude, desde o Delta

do Orinoco (Venezuela), até o curso médio do Rio Jurema (Mato Grosso).

Este bioma apresenta dois tipos principais de relevo, as várzeas e áreas de terra firme. As várzeas

se estendem ao longo dos rios e estão sempre sujeitas a inundações, já as áreas de terra firme

cobrem a maior parte da floresta. Nas áreas próximas aos rios encontramos as florestas de igapó, em

Figura 5.3: Mapa da distribuição aproxi-mada dos principais biomas brasileiros. / Fonte: Secretaria de Biodiversidade e Florestas – Portal Bio.

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5 Biomas e Biodiversidade: Biomas brasileiros

que o solo permanece alagado por cerca de seis meses. Essa floresta é formada por árvores pereni-

fólias (que não perdem suas folhas) de até 40 metros de altura. Na água aparecem as vitórias-régias,

cujas folhas chegam a ter quatro metros de diâmetro. Nas áreas de terra firme temos a floresta de terra

firme, caracterizada por árvores de grande porte, variando de 30 a 60 metros de altura. Nessa região,

o dossel é bastante fechado, tornando o interior da mata bastante escuro. Essas florestas aparecem

associadas a outras formações que ocorrem nas terras altas da Amazônia, como campos e cerrados.

Apesar da grande riqueza da floresta, o solo, mais do que em outros biomas de florestas

tropicais, é extremamente pobre, sendo que apenas 10% da Amazônia possuem solos férteis o

bastante para a atividade agrícola.

Em geral, as variações de temperatura são muito pequenas ao longo do ano, não passando

de 2 °C entre os meses mais frios e mais quentes. A temperatura média é de 25 °C. Os índices

pluviométricos ultrapassam os 1.500 mm no ano. Dessa forma, temos um clima equatorial, quente

e úmido bastante característico.

A diversidade da fauna e da flora é imensa, com muitas espécies ainda desconhecidas pela

ciência. Animais como onças, antas, capivaras, muitas aves, peixes, crocodilianos, além de um sem

número de insetos são encontrados.

Figura 5.4: A. Rio Amazonas na Floresta Amazônica – Brasil; B. Floresta Amazônica - Brasil; C. Encontro dos Rios Negro e Solimões - Amazonas, Brasil.

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5.4.2 Mata Atlântica

A Mata Atlântica, assim como a Amazônia, não é homogênea em toda sua extensão. Considerada

de maneira simples como uma floresta pluvial tropical, é, na verdade, um complexo de formações

variadas, abrangendo florestas úmidas, matas de araucária e florestas costeiras.

Este bioma ocupava originalmente cerca de 1,3 milhão de km2 do território brasileiro,

ou seja, cerca de 15% de todo o país, abrangendo atuais 17 estados: Alagoas, Bahia, Ceará,

Espírito Santo, Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Paraná,

Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Sergipe e São

Paulo. No entanto, como em muitas áreas naturais no planeta, atualmente restam apenas cerca

de 7% da cobertura original da Mata Atlântica (Figura 5.5).

A Mata Atlântica apresenta um alto índice pluviométrico, com valores médios variando entre 1.800

e 3.600 mm no ano. As temperaturas e as precipitações variam com a altitude. A cada 100 metros, a

temperatura pode diminuir cerca de 0,6 °C e a precipitação aumentar até 200 mm. A temperatura

anual média na costa é de 22 °C, podendo chegar a valores abaixo de zero no topo do Pico das Agulhas

Negras, município de Itatiaia – SP, que tem 2.800 m de altura. As precipitações anuais médias no nível

do mar são de 1.600 mm. Normalmente apresenta inverno seco e verão chuvoso.

Ao lado de outros biomas, a Floresta Tropical Atlântica é considerada um dos cinco principais

hotspots de biodiversidade do planeta. A grande diversidade de ecossistemas encontrados nesse

vasto bioma propiciou ampla diversidade de ambientes e, consequentemente, a evolução de uma

enorme diversidade biológica. Ainda que não haja dados precisos, estima-se que cerca de 20.000

espécies de angiospermas ocorram na Mata Atlântica. Dados de pesquisa recente mostram que o

número de espécies de árvores por hectare em algumas regiões da Mata Atlântica é maior do que

na Floresta Amazônica. Além disso, esse bioma apresenta alto grau de endemismo (ocorrência de

espécies restrita a um local). Essa diversidade e endemismo também são verdade para os animais,

a contar as 21 espécies endêmicas de primatas e as 160 de aves. Com relação aos anfíbios, mais

de 90% das espécies catalogadas são consideradas endêmicas.

Dentro do bioma Mata Atlântica merece destaque a Mata de Araucária, característica do sul

do país, ocorrendo principalmente nos estados de Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul.

Esse ecossistema é encontrado em altitudes elevadas, apresenta chuva quase o ano todo, sendo as

estações bem definidas por um inverno bem frio, com geadas frequentes e temperaturas abaixo

de zero em alguns dias, e verão relativamente quente, com temperaturas chegando a 30 °C.

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5 Biomas e Biodiversidade: Biomas brasileiros

Muitas espécies de angiospermas são encontradas nesse ecossistema, no entanto, a espécie

característica é uma conífera – Araucaria angustifolia (pinheiro-do-paraná).

Figura 5.5: A. Vista de Mata Atlântica. Cachoeira da Farinha, Ubatuba, São Paulo, Brasil; B. Estação Ecológica da Jureia-Itatins, São Paulo, Brasil; C. Alta densidade de epífitas, típico de Mata Atlântica. Parque Nacional da Serra dos Órgãos, Teresópolis, Rio de Janeiro, Brasil; D. Mico-leão-dourado (Leontopithecus rosalia), Reserva Nacional do Poço das Antas, Rio de Janeiro, Brasil; E. Mata de Araucária.

O que são hotspots?

Em 1988, o pesquisador britânico Norman Myers e seus colaboradores apontaram algumas áreas na Terra como hotspots de biodiversidade. Segundo os autores, esses hotspots são áreas ricas em biodiversidade, com concentrações excepcionais de espécies endêmicas, sujeitas a uma excepcional perda de habitat e que precisariam, com maior urgência, de atenção. Um ponto bastante importante no estabelecimento dessas áreas é o grau de endemismo. Vale lembrar que espécies endêmicas apresentam distribuição muito restrita, sendo altamente vulneráveis a alterações ambientais.Por serem áreas de alta diversidade de espécies e estarem sob forte ameaça, a identificação desses hotspots é muito importante, principalmente no nortea-mento de políticas públicas para a escolha de áreas de preservação ambiental. A figura abaixo apresenta um mapa da Terra com 25 hotspots, publicado na Nature no ano de 2000. Note que no Brasil dois biomas são apontados: Mata Atlântica e Cerrado.

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História da vida na Terra e Distribuição Atual da vida no Planeta

5.4.3 Cerrado

O Cerrado é o bioma mais importante da região central do Brasil, ocupando cerca de 2 milhões

de km2, caracterizado por diferentes paisagens, com variados tipos de vegetação, de solo, de clima e

de topografia, considerado um dos 25 hotspots do mundo. Genericamente, é interpretado como parte

das formações do tipo savana (Tabela 5.1). É um bioma tropical com estações bem definidas de seca

Leitura complementar:norman myers, russell a. mittermeier, Cristina G. mitter-meier, Gustavo a. B. da fonseCa & Jennifer kent. (2000) Biodi-

versity hotspots for conservation priorities. nature 403: 853-858.daniela almeida oliveira, José Paulo Pietrafesa, maria Gonçalves da silva BarBalho. (2008). Manutenção da biodiversidade e o hotspot Cerrado. Caminhos de Geografia Uberlândia 9(26): 101 – 114.

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5 Biomas e Biodiversidade: Biomas brasileiros

(inverno) e chuvas (verão). Esse bioma é o predominante dos estados de Mato Grosso, Mato Grosso

do Sul, Goiás e Tocantins. A temperatura média anual é de 25 °C, podendo chegar a 40 °C em alguns

dias. A precipitação é em torno de 1.200 a 1.800 mm no ano (Figura 5.6).

De maneira geral, o Cerrado é formado por árvores não muito altas, dispersas em meio a

arbustos, subarbustos e gramíneas. Podemos dizer que há dois estratos: um formado pelas árvores

e arbustos dito superior e outro, o inferior, formado pelas gramíneas.

No entanto, o bioma Cerrado caracteriza-se por diversas fisionomias que variam desde o

cerradão, semelhante a uma floresta, porém, mais seca, passando pelo cerrado mais comum no

Brasil central, com árvores baixas e esparsas, até o campo cerrado, campo sujo e campo limpo com

uma progressiva redução da densidade arbórea. Nas regiões de Cerrado ainda podemos encontrar

as florestas de galeria, ocupando as margens dos rios.

A aparência tortuosa das árvores, com cascas grossas e o solo seco, foram responsáveis, para

alguns autores, pela sugestão da água como o fator limitante para a distribuição das espécies nesse

bioma. No entanto, hoje se sabe que não há falta de água no Cerrado. As espécies do estrato

superior apresentam raízes profundas que crescem e atingem o lençol freático, que fica a cerca

de 15 – 20 metros de profundidade. Como as gramíneas características do estrato inferior não

apresentam essas raízes profundas, são mais sensíveis à estação seca, quando ficam com aparência

de mortas. Há então a formação de um tapete seco que favorece a propagação de incêndios.

Após as primeiras chuvas, esse estrato fica completamente restabelecido.

A principal característica desse ambiente é apresentar solo pobre. As condições edáficas

(do solo) no Cerrado são importantíssimas no estabelecimento da vegetação desse bioma.

Além da deficiência de vários minerais, há nos solos do Cerrado alto teor de alumínio

(Al), elemento tóxico para a maioria das plantas. Estudos desenvolvidos por pesquisadores

brasileiros e estrangeiros entre o final da década de 1950 e da década de 1960 foram cruciais

para o entendimento das condições ambientais que atuavam na seleção das características

morfológicas da vegetação, antigamente associadas à falta de água. Nessa época, então, foi

estabelecido o conceito de xeromorfismo oligotrófico, ou seja, a aparência xeromórfica

da vegetação é devida à deficiência nutricional do solo, reforçada pelo alto teor de alumínio.

Entenda por xeromorfismo um conjunto de características morfológicas apresentadas pelas

plantas, como por exemplo folhas reduzidas e grossas, às vezes na forma de espinhos, caules

com casca grossa, presença de tecidos armazenadores de água, que estão relacionadas com

adaptações a ambientes áridos.

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História da vida na Terra e Distribuição Atual da vida no Planeta

Apesar de apresentar uma aparência árida e ter solo pobre, o Cerrado, assim com a Mata Atlântica,

apresenta uma rica biodiversidade, sendo considerado o bioma de savana mais diverso do planeta,

com mais de 10 mil espécies de plantas, e compartilha com a Mata Atlântica o status de ambiente

com alta biodiversidade. No entanto, nos últimos anos, o Cerrado sofreu profundas alterações em

decorrência da ocupação antrópica, restando hoje menos de 20% de sua formação original.

5.4.4 Caatinga

O nome Caatinga provém do idioma tupi e quer dizer mata branca, uma referência à

vegetação sem folhas que predomina durante a época de seca.

O bioma Caatinga pode ser definido por uma região de clima semiárido e solo raso e

pedregoso, que se estende por cerca de 800 mil km2 do território brasileiro, cerca de 12%,

abrangendo a maior parte da região Nordeste do país, presente nos estados da Bahia, Sergipe,

Alagoas, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará, Piauí, Maranhão e o norte de

Minas Gerais. Entretanto, como vimos em todos os biomas até o momento, a homogeneidade

não é completa. Em meio à aridez existem “ilhas” de umidade e solos férteis, os chamados

brejos, com total mudança na paisagem.

Figura 5.6: A. Lobo-guará (Chrysocyon brachyurus); B. Fêmea de tamanduá-bandeira; C. Visão geral da vegetação de Cerrado, Parque Nacional Grande Sertão Veredas, Chapada Gaúcha, Brasil; D. Ipê-do-cerrado, árvore típica das regiões do Cerrado no Brasil.

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5 Biomas e Biodiversidade: Biomas brasileiros

Para vários autores, a Caatinga é apontada como um bioma exclusivamente brasileiro, que tem os

sertões como ambientes geográficos típicos. Entre as principais características dos sertões semiáridos

estão as elevadas temperaturas e a irregularidade pluviométrica, no espaço e no tempo. A Caatinga

possui condições de umidade intermediárias entre o deserto e a savana, sendo a distribuição da

precipitação irregular e moderada. Apresenta períodos de secas prolongadas que, às vezes, podem

durar mais de um ano, e a maioria dos rios é sazonal, com exceção do Rio São Francisco.

A vegetação é caracterizada por uma cobertura baixa, com espécies de porte arbustivo-árborea

e, em alguns poucos casos, arbóreas. As folhas são geralmente bem pequenas e os ramos espines-

centes (com espinhos), tratando-se de adaptações claras das plantas para conter a perda de água.

Além disso, a vegetação é quase que totalmente caducifólia, perdendo suas folhas no período seco

e apresentando um verde exuberante no período chuvoso. Em períodos longos de estiagem a

paisagem pode lembrar semidesertos (Figura 5.7).

A fauna da Caatinga é menos diversa do que aquela das florestas tropicais, havendo baixo

índice de endemismo. No entanto, várias espécies de anfíbios, répteis e mamíferos, entre outras,

já foram e continuam sendo descritas. A ararinha-azul (Cyanopsitta spixii), altamente ameaçada

de extinção, vive em regiões da Caatinga.

Figura 5.7: A. Vista geral da caatinga seca; B. Fruto do xiquexique (Pilocereus gounellei); C. Tatu-peba (Euphractus sexcinctus) entre cactos na caatinga; D. Fêmea de ararinha-azul (Cyanopsitta spixii), Curara, Bahia, Brasil.

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5.4.5 Pantanal

O Pantanal é a maior planície inundável do mundo, estando 80% da sua área de ocorrência

nos estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Esse bioma alcança ainda a Bolívia e o

Paraguai, onde recebe o nome de Chaco. Apresenta épocas marcantes de cheia, que vão de

novembro a abril, quando o nível da água dos rios está alto, e épocas de seca, quando começa a

“vazante” e as águas baixam, a partir de maio (Figura 5.8).

Áreas com características de Cerrado, Caatinga e de Matas Ciliares (florestas que ocorrem

nas margens dos rios) são comuns no Pantanal, transformando este bioma, assim como outros,

em um mosaico de biomas. Apresenta grande biodiversidade, com mais de 1.000 espécies de

plantas e de vertebrados descritas, mas baixo endemismo.

O clima é muito semelhante ao da região central do país, com temperatura média anual de

24 °C e chuvas entre 1.000 – 1.500 mm no ano.

Figura 5.8: A. Pantanal mato-grossense, vista aérea. Aquidauana, Mato Grosso do Sul, Brasil; B. Tamanduá-mirim (Tamandua tetradactyla) em meio à vegetação; C. Adulto de tuiuiú ou jabiru (Jabiru mycteria), ave típica do pantanal, Mato Grosso, Brasil; D. Jacaré (Caiman sp) em margem de rio, Pantanal, Brasil.

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5.4.6 Campos Sulinos

Os Campos Sulinos fazem parte do grande bioma chamado Pampa, que se estende para

além das fronteiras com a Argentina e o Uruguai, com características comuns às Pradarias

Temperadas (Tabela 5.1). Ocorrem numa área com mais de 200 mil km2, entre os estados de

Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Com relação às características climáticas, as temperaturas

são amenas e as chuvas constantes, com pouca variação durante todo o ano.

A vegetação desse bioma pode ser descrita como uma estepe úmida, de composição

destituída de árvores e com arbustos espalhados e dispersos em meio a um imenso tapete de

gramíneas e leguminosas nativas. Esses campos dominados por gramíneas que variam entre 10

e 50 cm de altura têm solo naturalmente fértil, o que foi determinante para a rápida expansão

da agricultura nesses locais, causando alta devastação (Figura 5.9).

O pampa gaúcho, que abrange 63% do território do estado do Rio Grande do Sul, é um

dos maiores centros de biodiversidade campestre do mundo, com muitas espécies de plantas,

mamíferos e aves.

Figura 5.9: Vista de um ambiente típico de Campos Sulinos.

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História da vida na Terra e Distribuição Atual da vida no Planeta

5.4.7 Zona Costeira

Você deve ter em mente que a inclusão da Zona Costeira como um bioma não é consensual.

Como já vimos no início do texto, aos ecossistemas aquáticos, ou associados a esse ambiente,

nem sempre se consegue aplicar o conceito de bioma. No entanto, os mapas oficiais disponi-

bilizados pelo IBGE incluem a Zona Costeira como mais um bioma brasileiro. Dessa forma,

você poderá encontrar algumas das descrições abaixo referidas a ecossistemas e não a biomas.

A Zona Costeira brasileira é bastante extensa, formada por mais de 8 mil km de extensão

contínua, com praias, dunas, costões rochosos, recifes, manguezais, brejos e falésias presentes ao

longo da faixa litorânea. A Zona Costeira ou Faixa Litorânea corresponde à zona de transição

entre o domínio continental e o domínio marinho. Em termos de distribuição, a Zona Costeira

se estende desde o norte equatorial ao sul temperado, passando por 17 estados.

Essa região é fortemente afetada pela ação mecânica das ondas, das correntes e das marés,

acarretando intenso dinamismo, característico das Zonas Costeiras.

Dentro dessa zona litorânea, com diversidade de ecossistemas, podemos identificar algumas

regiões com características mais peculiares, classificadas por alguns autores como litoral rochoso,

litoral arenoso e litoral limoso (Figura 5.10).

O litoral rochoso é formado pelos costões rochosos, porções de rochas que partem de

dentro d'água em direção ao continente, formando desde pequenos morros até grandes

muralhas (falésias). A porção inferior, raramente emersa, é coberta por espécies de algas

muito sensíveis à exposição direta ao sol. A zona das entremarés (intertidal) (recorde os

padrões de zonação no tema A distribuição atual da biota no planeta desta disciplina)

também apresenta grande diversidade de espécies de algas adaptadas à exposição periódica

ao sol e à presença/ausência de água. Na zona superior, aonde a água do mar não chega, a

colonização das rochas é feita muitas vezes por liquens, normalmente associados a musgos.

Já mais acima surgem outros grupos de plantas terrestres.

No litoral arenoso podemos ter as regiões de praia, anteduna, duna e depressões coletoras de

água pluvial. A praia é a parte vizinha ao mar, sujeita a inundações diárias pelas marés altas. A ante-

duna fica entre o limite da maré alta e o início das dunas, sendo ocasionalmente coberta pelo mar.

Nessa área, a areia está sempre úmida e ainda apresenta certa quantidade de sal. Algumas espécies

de plantas rasteiras são encontradas nessa faixa. As dunas são caracterizadas por morros de areia

com uma porção inicial desprovida de vegetação e muito sujeita a ação dos ventos, e outra, mais

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5 Biomas e Biodiversidade: Biomas brasileiros

interna, com vegetação mais densa, minimizando essa ação. Nessa porção são comuns planícies

extensas, onduladas, que terminam em lagoas internas, alagadiços ou no sopé da encosta da serra.

A vegetação aí presente é arbustiva, com várias espécies de animais associadas, caracterizando um

ambiente de restinga. As depressões coletoras de água pluvial, constituídas por alagadiços, brejos e

banhados, mais ou menos rasas, ocorrem sempre nas restingas.

O litoral limoso é alcançado pelas marés e seu substrato é uma lama negra. Um ecossistema

típico é o mangue. O manguezal é um tipo singular de ecossistema, no qual há mistura da

água salgada do mar com os sedimentos provenientes dos rios. Na maré alta o mangue está

alagado, enquanto na maré baixa há uma camada de lama, cheia de raízes emaranhadas.

Dois fatores ambientais são limitantes para o estabelecimento da vegetação do mangue:

o conteúdo salino e a carência de oxigênio. Essas características exerceram e exercem

forte pressão seletiva nos vegetais que podem, por exemplo, apresentar pneumatóforos,

tipos especiais de raízes que saem do solo e apresentam poros para facilitar a absorção de

oxigênio. Esse ecossistema apresenta odor característico devido à grande quantidade de

matéria orgânica em decomposição, e abriga grande diversidade de espécies de crustáceos e

de outros organismos que o utilizam como local de desova.

Figura 5.10: A. Praia da Joaquina, Santa Catarina, Brasil. Vista da região de praia e antedunas; B. Vista geral do mangue em Aracaju (SE), Brasil. No detalhe, raízes aéreas típicas de plantas de mangue.

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História da vida na Terra e Distribuição Atual da vida no Planeta

O Professor Flávio Berchez (Departamento de Botânica – IBUSP) há anos desenvolve um projeto

com várias atividades em ecossistemas costeiros. Acesse a página do projeto para maiores informações.

A biodiversidade está relacionada com a variabilidade. Quando se fala em biodiversidade,

estamos, basicamente, falando na variabilidade de organismos vivos. No entanto, a biodiversidade

pode ser qualificada pela riqueza em ecossistemas, em espécies biológicas, em endemismos

e em patrimônio genético. A diversidade de espécies, como foi visto no tema População,

Comunidades e Ecossistemas, está relacionada com a riqueza e a equitatividade.

Em geral, a diversidade de espécies aumenta a partir dos pólos em direção ao equador.

Por exemplo, enquanto um hectare de floresta na Amazônia apresenta cerca de 200 espécies de

árvores, em uma floresta temperada existem cerca de 30 espécies na mesma área.

Como já dito anteriormente, o Brasil é um país muito extenso, com território ocupando

uma ampla faixa de latitudes, deste a 5° Norte até 32° Sul, com diferentes condições climáticas

e relevo, indo do nível do mar até picos com 3.000 metros. Com toda essa variedade de

ambientes, estima-se que seja um dos países com maior biodiversidade no planeta, com cerca

de 70% de todas as espécies existentes.

Nesse contexto, é inegável a importância do conhecimento e da conservação de seus biomas,

tanto para o equilíbrio do planeta quanto para a conservação da natureza como um legado às

próximas gerações.

Para saber maisA animação disponível (UNIVESP) traz um ótimo resumo das características dos principais biomas terrestres do Brasil. Acesse para reforçar as informações disponíveis.

Agora é a sua vezAntes de continuar, responda as questões da atividade on-line 5.3.

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306 Licenciatura em Ciências · USP/Univesp · Módulo 3

5 Biomas e Biodiversidade: Biomas brasileiros

5.5 Ecossistemas aquáticosConsiderando que nosso planeta é constituído majoritariamente de água, os ecossistemas

aquáticos compreendem a maior parte da biosfera em termos de área. Podem ser de dois

grandes tipos: ecossistemas de águas continentais, ou seja, que ocorrem nos continentes e

nos quais as concentrações salinas são variáveis, e os ecossistemas marinhos, caracterizados

por teores de sal de cerca de 3%. Dentre esses, temos, por exemplo, lagos, rios, estuários, recifes

de coral e zonas entremarés.

Os ecossistemas aquáticos podem ser encontrados em todas as regiões do planeta (Figura 5.11).

Na Tabela 5.2 apresentamos características gerais desses ecossistemas que, dependendo da latitude e

das condições climáticas (reveja a aula anterior para relembrar os fatores limitantes para distribuição

dos biomas), podem ser variáveis nas diferentes regiões.

Figura 5.11: Distribuição dos principais tipos de ecossistemas aquáticos no planeta. / Fonte: modificado de Campbell et al., 2010.

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História da vida na Terra e Distribuição Atual da vida no Planeta

Tabela 5.2: Características dos principais ecossistemas aquáticos encontrados na Terra.

Ecossistemas de Águas Continentais

Lagoas e Lagos Áreas Alagáveis Rios e Córregos Estuários

Caracterização Corpos de água parada.

Ambiente permanentemente ou temporariamente inundado.

Apresentam correnteza. Área de transição entre rio e mar.

Ambiente físico

Variam de lagoas com áreas de poucos metros, até lagos de grande extensão.

Pântanos e brejos banhados permanente ou temporariamente, terra alagável, com plantas adaptadas ao solo saturado de água.

As nascentes de córregos são frias, claras, turbulentas e rápidas. Nos rios, a água é geralmente mais quente e mais turva.

A água do mar entra nos canais durante a maré cheia e recua na maré baixa.

Ambiente

químico

Salinidade, oxigênio e nutrientes muito variáveis. Lagos oligotróficos – pobres em nutrientes e ricos em oxigênio; Lagos eutróficos – ricos em nutrientes e pobres em oxigênio.

Apresentam, periodicamente, pouco oxigênio dissolvido. A produção de plantas é muito alta, e estas, ao morrerem, resultam em grande quantidade de detritos que é decomposta por microrganismos, com gasto de oxigênio.

Há uma variação crescente na quantidade de sal e nutrientes da nascente para a foz. As nascentes são normalmente ricas em oxigênio. Grande parte da matéria orgânica no rio é formada de material dissolvido ou muito fragmentado.

A salinidade varia muito nesse bioma com a alteração das marés. Muito rico em nutrientes provenientes dos rios.

Características

do substrato

A composição do substrato é variável, podendo ocorrer areia e lodo, por exemplo.

Podem ser áreas úmidas de bacia com baixa profundidade, áreas úmidas ribeirinhas ao longo de rios e córregos ou áreas úmidas marginais ao longo de grandes lagos ou mares.

As cabeceiras apresentam geralmente fundo rochoso, alternando porções rasas e mais profundas. Já mais a frente, os rios podem ser largos e bastante sinuosos, geralmente com fundo assoreado por material depositado ao longo da extensão do canal.

São caracterizados por uma complexa rede de canais de marés, ilhas, barragens naturais e bancos de sedimentação devido ao fluxo natural dos rios e das marés.

Seres vivos

fotossintetizantes

Na zona litorânea são encontradas plantas aquáticas flutuantes ou enraizadas, enquanto na zona limnética são encontrados fitoplâncton e cianobactérias.

São áreas muito produtivas devido ao grande número de espécies vegetais adaptadas a crescerem nesses ambientes, por exemplo, taboas (Typha domingensis).

A cabeceira de rios pode ser rica em plantas enraizadas. Fitoplâncton pode ocorrer nos locais onde a correnteza é menor.

São características várias espécies de algas, fitoplâncton e gramíneas do gênero Spartina em regiões temperadas.

Seres vivos não

fotossintetizantes

Peixes são comuns em todas as zonas em que há oxigênio suficiente. A zona limnética é habitada por zooplâncton e a zona bêntica por diferentes espécies de invertebrados.

Fornecem habitat para grande variedade de invertebrados que podem servir de alimento para diversas espécies de aves. Vários herbívoros também podem ser encontrados, além de carnívoros como libélulas e jacarés.

Grande variedade de peixes e invertebrados pode ser encontrada em rios e córregos bem preservados. A alimentação de muitos desses organismos provém da vegetação terrestre quando esses córregos ou rios atravessam áreas de florestas.

Grande variedade de invertebrados e peixes. Muitos peixes marinhos se reproduzem em regiões de estuário. São importantes áreas de alimentação para muitas espécies de aves e mamíferos.

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5 Biomas e Biodiversidade: Biomas brasileiros

Ecossistemas Marinhos

Zonas EntremarésZona Pelágica

OceânicaRecifes de Coral Zona Bêntica

Caracterização

Região periodicamente exposta e submersa devido à ocorrência das marés.

Imensa área de água em constante movimento pelas correntes oceânicas.

Regiões formadas em grande parte por carbonato de cálcio dos esqueletos dos animais.

Fundo do mar

Ambiente físico

Há certa zonação dentro dessa faixa, pois a porção superior fica mais tempo exposta, com variações maiores de temperatura e salinidade.

A zona eufótica pode alcançar grandes profundidades, dependendo da transparência das águas.

Há recifes alocados em águas rasas, na zona eufótica de ambientes tropicais relativamente estáveis; são sensíveis a temperaturas inferiores a 18 - 20° C e acima de 30° C. Outros recifes são encontrados em mar profundo, entre 200 e 1.500 m.

Com exceção das áreas próximas à costa, recebe pouca luz e apresenta baixa temperatura. Na zona abissal a temperatura é de cerca de 3° C.

Ambiente

químico

Altos níveis de nutrientes e oxigênio, renovados com as marés.

Geralmente apresenta altos níveis de oxigênio e níveis mais baixos de nutrientes quando comparada a águas litorâneas.

Os corais necessitam de grandes quantidades de oxigênio.

Oxigênio presente em quantidade suficiente para diversos animais.

Características

do substrato

Substratos geralmente rochosos ou arenosos.

Cobre a maior parte do planeta (cerca de 70% da superfície) com uma profundidade média em torno de 4.000 m.

Os corais necessitam de um substrato sólido para fixação.

Maior parte coberta por sedimento macio, existindo porções rochosas nos recifes, montanhas submarinas e crosta oceânica nova.

Seres vivos

fotossintetizantes

Pode ser encontrada grande diversidade e biomassa de algas marinhas fixas, principalmente em locais com substrato rochoso e mais protegido da ação das ondas.

Predominantemente fitoplâncton, incluindo bactérias fotossintetizantes.

Algas unicelulares são comuns em relação mutualística com corais. Espécies de algas multicelulares verdes e vermelhas também crescem nos recifes. Algas coralináceas ou algas calcárias também são importantes na estruturação dos recifes.

Algas são encontradas somente em áreas rasas onde há luz. Em locais profundos, os produtores são procariontes que produzem energia em um processo semelhante à fotossíntese, mas sem a utilização de luz solar.

Seres vivos não

fotossintetizantes

Grande diversidade de espécies é observada, mas muitos animais apresentam adaptações para serem fixos ao substrato. Alguns exemplos comuns são esponjas, anêmonas do mar e pequenos peixes.

Os seres mais abundantes pertencem ao zooplâncton. Também são encontrados muitos invertebrados, peixes e animais de nado livre, como mamíferos, tartarugas, lulas e peixes de grande porte.

Principalmente espécies de cnidários. No entanto, há uma enorme diversidade de invertebrados e peixes.

Animais adaptados à ausência de luz e temperaturas muito baixas. Invertebrados altamente especializados em associação mutualística com procariontes também são encontrados.

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História da vida na Terra e Distribuição Atual da vida no Planeta

Como visto acima, os ecossistemas aquáticos são muito variados nas suas características

físicas e químicas, o que ocasiona alta diversidade de organismos ali encontrados.

A temperatura desses ambientes depende da energia térmica proveniente do Sol, ou seja,

o Sol aquece a superfície e parte da água, dependendo do quanto a luz consegue penetrá-la.

Dessa forma, há uma clara diferença entre a temperatura da superfície de lagos e oceanos, mais

alta quando comparada a camadas mais profundas. Um processo conhecido como circulação,

ou seja, mistura dessa água de camadas superficiais, quentes e ricas em oxigênio, com camadas

mais profundas, frias e ricas em nutrientes, é extremamente importante para a sobrevivência e

crescimento de seres vivos nesses ambientes. Veja a Figura 5.12 com um exemplo de circulação

sazonal da massa d’água, comum em lagos de regiões temperadas.

Figura 5.12: Exemplo de circulação sazonal observado em lagos de regiões temperadas com cobertura de gelo no inverno 1. Logo abaixo da superfície congelada do lago, fica a água bem fria com temperatura pouco acima de 0 °C. Essa temperatura sobe quanto mais perto do fundo; 2. Na primavera há o derretimento do gelo e a superfície do lago é aquecida pelo sol. A água mais quente desce, carregando oxigênio para as partes mais profundas. Esse movimento também propicia a distribuição de nutrientes para as camadas superiores; 3. No verão, assim com no inverno, há uma maior diferença nas temperaturas, porém, a temperatura mais alta está mais próxima da superfície; 4. No outono, com o resfriamento da camada superior, há novamente a mistura da água, como visto na primavera. Nas estações inverno e verão são observadas maiores diferenças no teor de oxigênio e nutrientes nas camadas superiores e inferiores do lago.

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5 Biomas e Biodiversidade: Biomas brasileiros

De qualquer modo, retomando o que já estudamos no tema da aula A distribuição atual

da biota no planeta, nos ecossistemas aquáticos, a distribuição das espécies está diretamente

relacionada com a profundidade e com intensidade de luz que penetra no ambiente, o que influencia

diretamente a temperatura, e com a distância da margem.

É importante notar também a influência desses fatores na distribuição global desses ecos-

sistemas. Apesar dos ecossistemas aquáticos serem encontrados em todas as regiões do planeta,

note que alguns, como os recifes de corais, caracteristicamente mais sensíveis a variações de

temperatura (Tabela 5.2), ocorrem em regiões de temperaturas mais amenas (Figura 5.11).

5.6 Fechando o assuntoNesta aula caracterizamos os principais biomas terrestres. Apresentamos, com maior ênfase,

as características dos biomas brasileiros, dando informações relacionadas a dados abióticos e

também relativos à sua biodiversidade. Além disso, apresentamos os principais ecossistemas

aquáticos, associados às suas características e distribuição na Terra.

Referênciasandrade, G.; noGueira, m. a.; alBino, u. B. Meio Ambiente. In: Borém, A.; GiúdiCe, M.

(ed.). Biotecnologia e meio ambiente. 2. ed. Viçosa: Suprema, 2008.

CamPBell, N.A. et al. Biologia. 8 ed. Porto Alegre: Artmed, 2010.

ferri, M.G. Vegetação brasileira. Belo Horizonte: Itatiaia, 1980.

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História da vida na Terra e Distribuição Atual da vida no Planeta

Anexo: Mapas da Tabela 5.1Floresta Temperada

Floresta Tropical

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Floresta Boreal do Norte ou Taiga

Tundra

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História da vida na Terra e Distribuição Atual da vida no Planeta

Pradaria Temperada

Chaparral

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314 Licenciatura em Ciências · USP/Univesp · Módulo 3

5 Biomas e Biodiversidade: Biomas brasileiros

Deserto

Savanas

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315Licenciatura em Ciências · USP/Univesp · Módulo 3

História da vida na Terra e Distribuição Atual da vida no Planeta

lista de imagensAna Lucia Brandimarte: 3.10, 5.10b.

Latinstock.com.br: Figuras 1.1b, 2.11, 5.4a, 5.5a, 5.5b, 5.5c, 5.6a, 5.6b, 5.7b, 5.7c, 5.7d, 5.8a.

Maurício Klein: (cortesia) Figuras 5.4b, 5.4c, 5.5e, 5.6d, 5.9, 5.10a.

Thinkstock.com: Figuras 2.1, 3.9, 3.11, Quadro 3.1, Quadro 3.2b, 4.1, 4.2, 4.10, 5.5d, 5.6c, 5.7a, 5.8b, 5.8c, 5.8d.