Bioma Pantanal.2015

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BIOMA PANTANAL |04 de Dezembro de 2014 | atualizado em 05/12/2014 Carne com sabor de Pantanal No bioma 87% preservado, onde bois, pacas e jacarés convivem, Korin(*) lança um novo produto orgânico (**) POR SEBASTIÃO NASCIMENTO | O bovino do Pantanal, região onde a área preservada é de 87% – quem garante é a Embrapa –, acaba de virar marca de carne natural gourmet (Foto: Valdemir Cunha/Ed. Globo) O gado nelore, dócil, porém não muito, convive amistosamente com pacas, veados, onças, jacarés e outros bichos no belo e hostil Pantanal. Come pastagem nativa ou antropizada livres de agrotóxicos, e adubos químicos no solo são proibidos. Ureia na engorda, antibióticos, nem pensar. A boiada enfrenta seis meses de seca brava e passa a outra metade do ano com o casco submerso. Devido às chuvas que caem a cântaros, é costumeiramente levada por uma comitiva de peões para um local seguro. Essa é, em resumo, a rotina da pecuária pantaneira. Há 250 anos. O bovino do Pantanal, região onde a área preservada é de 87% – quem garante é a Embrapa –, acaba de virar marca de carne natural gourmet. A Korin, empresa de Ipeúna (SP), pioneira na produção em escala de alimentos orgânicos, como aves e ovos, faz sua estreia no mercado de carne bovina lançando uma linha sustentável em cujo rótulo está retratado o cenário pantaneiro. A Korin é um dos elos recentes da parceria que a Associação Brasileira de Produtores Orgânicos (ABPO) e o WWF-Brasil, ONG ambientalista, firmaram há dez anos para a produção de carne certificada. Orientando e avalizando o trabalho no campo está a Embrapa Pantanal, que criou uma cartilha chamada Fazenda pantaneira sustentável com instruções aos pecuaristas e cujo foco está na produção de um alimento saudável, saboroso e em escala. Ao mesmo tempo, objetiva a preservação da cultura do homem pantaneiro e do ecossistema secular quase imaculado. O acesso ao mercado fecha um círculo cujo objetivo é manter o pantaneiro numa das únicas atividades rentáveis na região, a pecuária, explica Reginaldo Morikawa, diretor da Korin. A intenção é abater 400 animais por semana até o final de 2015, informa Marcelo de Barros, de 31 anos, que, junto ao pai Nilson, de 61, faz cria, recria e engorda em duas fazendas do Pantanal. “A Korin entende de mercado e sabe o que o consumidor deseja. É o que faltava para nós que trabalhamos muito bem da porteira para dentro.”

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  • BIOMA PANTANAL

    |04 de Dezembro de 2014 | atualizado em 05/12/2014

    Carne com sabor de Pantanal No bioma 87% preservado, onde bois, pacas e jacars convivem, Korin(*) lana um novo produto orgnico (**)

    POR SEBASTIO NASCIMENTO

    | O bovino do Pantanal, regio onde a rea preservada de 87% quem garante a Embrapa , acaba de virar marca de carne natural gourmet (Foto: Valdemir Cunha/Ed. Globo)

    O gado nelore, dcil, porm no muito, convive amistosamente com pacas, veados, onas, jacars e outros bichos no

    belo e hostil Pantanal. Come pastagem nativa ou antropizada livres de agrotxicos, e adubos qumicos no solo so

    proibidos. Ureia na engorda, antibiticos, nem pensar. A boiada enfrenta seis meses de seca brava e passa a outra

    metade do ano com o casco submerso. Devido s chuvas que caem a cntaros, costumeiramente levada por uma

    comitiva de pees para um local seguro. Essa , em resumo, a rotina da pecuria pantaneira. H 250 anos.

    O bovino do Pantanal, regio onde a rea preservada de 87% quem garante a Embrapa , acaba de virar marca de

    carne natural gourmet. A Korin, empresa de Ipena (SP), pioneira na produo em escala de alimentos orgnicos, como

    aves e ovos, faz sua estreia no mercado de carne bovina lanando uma linha sustentvel em cujo rtulo est retratado o

    cenrio pantaneiro. A Korin um dos elos recentes da parceria que a Associao Brasileira de Produtores Orgnicos

    (ABPO) e o WWF-Brasil, ONG ambientalista, firmaram h dez anos para a produo de carne certificada. Orientando e

    avalizando o trabalho no campo est a Embrapa Pantanal, que criou uma cartilha chamada Fazenda pantaneira

    sustentvel com instrues aos pecuaristas e cujo foco est na produo de um alimento saudvel, saboroso e em escala.

    Ao mesmo tempo, objetiva a preservao da cultura do homem pantaneiro e do ecossistema secular quase imaculado.

    O acesso ao mercado fecha um crculo cujo objetivo manter o pantaneiro numa das nicas atividades rentveis na

    regio, a pecuria, explica Reginaldo Morikawa, diretor da Korin. A inteno abater 400 animais por semana at o

    final de 2015, informa Marcelo de Barros, de 31 anos, que, junto ao pai Nilson, de 61, faz cria, recria e engorda em duas

    fazendas do Pantanal. A Korin entende de mercado e sabe o que o consumidor deseja. o que faltava para ns que

    trabalhamos muito bem da porteira para dentro.

  • A Korin adentrou o Pantanal e durante trs anos estudou as propriedades. Paralelamente, constatou a lacuna no varejo

    pela carne bovina natural.

    (*) Korin uma empresa paulista que comercializa produtos (vegetal/animal) orgnicos. (**) Produtos orgnicos produtos elaborados/plantados/criados sem a utilizao de agrotxicos, fertilizantes artificiais, antibiticos, corantes no naturais. http://revistagloborural.globo.com/Noticias/Criacao/Boi/noticia/2014/12/carne-com-sabor-de-pantanal.html

    Conheam o Pantanal Sebastio Nascimento e o fotgrafo Valdemir Cunha colhem momentos de tristeza e de alegria pantaneiras POR SEBASTIO NASCIMENTO

    Estivemos no Pantanal na semana passada. Eu e o fotgrafo Valdemir Cunha. Ele colheu alguns momentos de tristeza e

    alegria pantaneiras. Eu no preciso dizer mais nada. o Pantanal maravilhoso.

    As fotos do veadinho recm nascido e do tatu canastra so do pecuarista Marcelo de Barros. Repito sempre: conheam o

    Pantanal.

    Abandonado pela prpria me

    Peo carrega o bezerrinho a caminho do "orfanato" (Foto: Valdemir Cunha/Ed. Globo)

    No colo de um peo, o bezerrinho estava

    sendo levado para o orfanato, local

    onde se reuniria com outros pequenos

    para recomear a vida. que ele havia

    sido abandonado pela me no pasto. Foi

    o que me explicaram os trabalhadores,

    entre eles o Tio, meu xar, e os

    fazendeiros Nilson de Barros e Marcelo,

    pai e filho. Ele permanece uns trs

    meses no orfanato e depois retorna para

    o rebanho, me disse Marcelo. A foto foi

    tirada na fazenda Santa Janete, a 60

    quilmetros de Rio Verde.

    Veadinho recm-nascido

    O veadinho-campeiro recm-nascido (Foto: Marcelo de Barros/ Acervo pessoal)

    Retornvamos de Rio Verde para Campo

    Grande quando Marcelo pediu repentina-

    mente para brecar o carro. Desembarcou e

    correu para um pedao de mata. M-quina s

    mos, fotografou um veadinho-campeiro que

    tinha acabado de nascer. Mamfero, o veado-

    campeiro pode ser encontrado nas regies Sul

    e Centro-Oeste, em especial no Pantanal Mato-

    Grossense. Sua pelagem marrom na regio

    do dorso e branca ao redor da boca, dos olhos

    e na barriga. Muito, muito bonito

    Impressionante: a me caminhava at uns 50

    metros, observava ao redor e retornava

    serelepe para ver se tudo estava bem com o

    filhotinho.

    Marcelo fez a foto rapidamente para no preocupar a me.

  • Tatu-canastra

    O tatu-canastra correndo para a toca (Foto: Marcelo de Barros/ Acervo pessoal)

    Marcelo de Barros fotografou o tatu-canastra. difcil ver a espcie no

    Pantanal, Marcelo me conta que o tatu-canastra pode medir mais de 1

    metro de comprimento. Ele possui os sentidos e a viso pouco desen-

    volvidos. Seu olfato, no entanto, em busca de alimento, aguado.

    Preste ateno: Marcelo disse que um pouco depois, o animal, que

    estava escavando a terra, nela adentraria e permaneceria por um bom

    tempo.

    Senhores, eu vi !!!!

    http://revistagloborural.globo.com/Colunas/sebastiao-nascimento/noticia/2014/11/conhecam-o-pantanal.html

    Edio 183 - Fevereiro 2012

    Descaso com nascentes e rios ameaa o Pantanal Aldem Bourscheit Jornalista do WWF-Brasil

    Estudo indito englobando Brasil, Bolvia, Paraguai e Argentina aponta reas que precisam de mais ateno para garantir a sobrevivncia da maior plancie alagvel do Planeta, de populaes e de economias

    A conservao da Bacia do Rio Paraguai e a sobrevivncia do Pantanal esto ameaadas, principalmente pela degradao de nascentes e barramento de rios que fluem de reas de planalto (Cerrado) para a plancie pantaneira.

    Por isso, a indita Anlise de Risco Ecolgico da Bacia do Rio Paraguai lanada s vsperas do Dia Mundial das reas midas (2 de Fevereiro), evidenciando que metade dos ambientes aquticos (rios, nascentes, lagoas e afins) a bacia pantaneira est sob alto e mdio risco ambiental, e que 14% dela necessitam ser protegidos com urgncia, por sua grande capacidade de fornecer gua e manter os ciclos de cheias e vazantes que do vida ao Pantanal.

    O estudo contou com mais de 30 especialistas dos quatro pases e exigiu trs anos de esforos, evidenciando tambm que essas reas (em vermelho e amarelo no mapa) esto majoritariamente em pores elevadas nas bordas da bacia e so as maiores fornecedoras de gua plancie, rea que ainda apresenta boas condies ecolgicas. Conhecendo a sade do Pantanal podemos nos antecipar a problemas futuros, como o das mudanas climticas, mas a sade pantaneira est ameaada por aes em curso, no presente, ressaltou Glauco Kimura, coordenador interino do Programa gua para a Vida do WWF-Brasil.

  • As principais ameaas Bacia do rio Paraguai so o desmatamento e o manejo inadequado de terras para agropecuria, causadores de eroses e sedimentao de rios, por exemplo. Barramentos hidreltricos esto alterando o regime hdrico natural do Pantanal. O crescimento urbano e populacional seguido por mais obras de infraestrutura, como rodovias, barragens, portos e hidrovias, colocando em risco o frgil equilbrio ambiental pantaneiro.

    Essas ameaas interagem em conjunto ou isoladamente em cada regio mais crtica analisada: cabeceiras e tributrios no Cerrado e Bosque Chiquitano brasileiros; Mata Atlntica da Bacia do rio Paraguai; Eixo de Desenvolvimento Salta/Jujuy; e Puerto Suarez e vale do Tucavaca (Bolvia).

    Apenas 11% (ou 123.600 Km) da bacia esto protegidos de alguma forma, e meros 5% (56.800 Km) sob proteo integral, em parques nacionais ou estaduais e estaes ecolgicas. Alm disso, as mais de 170 reas protegidas no esto distribudas de forma adequada para proteger as regies que mais fornecem gua, ou as mais ricas em biodiversidade.

    O estudo, realizado em parceria pelo WWF, The Nature Conservancy e Centro de Pesquisas do Pantanal, com apoio do HSBC e Caterpillar, um forte alerta para que pases, estados e municpios adotem uma agenda de reduo de riscos e revertam modelos insustentveis de desenvolvimento. No h mais espao para uma cultura de abundncia e de desperdcio, como se houvesse um estoque infinito de florestas nativas para derrubar, de gua onde lanar poluentes e de terras para minerar. A Bacia do rio Paraguai e o Pantanal no devem ser protegidos apenas pelas incontveis espcies de animais e plantas l abrigados, pelas belezas e servios ambientais que oferecem, mas tambm porque da sade regional dependem mais de oito milhes de pessoas e economias hoje focadas em 30 milhes de cabeas de gado e quase 7 milhes de hectares plantados, rea equivalente a um tero do estado de So Paulo.

    Recomendaes

    O Pantanal, alm de ser um abrigo natural de espcies e mantenedor de populaes e economias, tambm uma preciosa reserva estratgica de gua doce, ainda mais importante frente ao futuro incerto das mudanas climticas.

    Logo, alterar modelos de desenvolvimento e criar mais reas protegidas (pblicas e privadas), especialmente em regies de cabeceiras, so aes inteligentes e estratgicas para os quatro pases responsveis por sua manuteno, bem como desenvolver uma agenda de adaptao da bacia s alteraes do clima.

    A pecuria extensiva precisa de maior apoio tcnico e econmico para que melhores prticas cheguem aos produtores, como conservao de gua e solo, manejo e recuperao de pastagens e integrao lavoura-pecuria. O plantio direto na palha uma boa alternativa, porque protege o solo da chuva e dos ventos, mantendo-o mais rico e produtivo. Mesmo assim, persiste o uso extensivo de agrotxicos em culturas como a da soja, venenos que chegam aos rios que abastecem o Pantanal, comentou Kimura.

    Alm da agropecuria, a bacia tem importantes reas de minerao, destacando-se regies andinas como a de Potos (Bolvia), de extrao de gs natural, na transio do Chaco para os Andes, de ouro e diamantes, no Mato Grosso, e ainda de ferro, mangans e calcrio, no Mato Grosso do Sul. No caso de hidreltricas em operao, o caminho implantar esquemas de operao que mantenham os ciclos de cheias e vazantes de modo semelhante ao natural. Para barragens em planejamento, necessrio avaliar seus impactos cumulativos nos rios e na bacia, apontando quais reas podero ou no arcar com esses custos ambientais sem prejudicar o Pantanal.

    Barramentos ameaam a durao e a intensidade dos ciclos de cheias e vazantes, colocando em cheque a vida, economias e populaes que dependem do equilbrio ecolgico do Pantanal. Reservatrios alteram a circulao de nutrientes as emisses de Gases de Efeito Estufa, parmetros que precisam ser mais bem dimensionados, destacou Albano Arajo, coordenador da Estratgia de gua Doce do Programa de Conservao da Mata Atlntica e das Savanas Centrais da The Nature Conservancy.

    Notas: 1) O rio Paraguai nasce na regio de Diamantino (MT) e percorre 2,6 mil quilmetros at encontrar o Rio Paran, j em Corrientes (Argentina). Sua bacia cobre 1,2 milho de quilmetros quadrados em quatro pases, rea com quase o tamanho do Estado do Par e altamente diversificada em termos de ecossistemas e de realidades socioeconmicas.

  • 2) A avaliao dos riscos ecolgicos de uma bacia hidrogrfica essencial para se estimar sua capacidade de recuperao frente aos impactos esperados do aquecimento global, pois algumas ameaas podero ganhar fora em detrimento de outras. Alm disso, ecossistemas naturais, atividades econmicas, cidades e pessoas, todos esto vulnerveis s mudanas climticas eu maior ou menor grau. Esse estudo justamente visa compreender quais so os riscos atuais aos ecossistemas aquticos da Bacia do Paraguai e como podemos nos preparar a um futuro de incertezas.

    3) A Embrapa estimou (2008) em US$ 112 bilhes por ano os servios ambientais prestados gratuitamente pelo Pantanal. Logo, vale muito mais manter a regio preservada do que zone-la com agropecuria, cujo lucro estimado seria de apenas US$ 414 milhes anuais.

    O WWF-Brasil uma organizao no-governamental brasileira dedicada conservao da natureza com os objetivos de harmonizar a atividade humana com a conservao da biodiversidade e promover o uso racional dos recursos naturais em benefcio dos cidados de hoje e das futuras geraes. O WWF-Brasil, criado em 1996 e sediado em Braslia, desenvolve projetos em todo o pas e integra a Rede WWF, a maior rede independente de conservao da natureza, com atuao em mais de 100 pases e o apoio de cerca de 5 milhes de pessoas, incluindo associados e voluntrios.

    http://www.eco21.com.br/textos/textos.asp?ID=2663

    Dados Gerais do Pantanal Aspectos Gerais: O Pantanal, uma das maiores plancies de sedimentao do mundo, ocupa grande parte do centro oeste brasileiro e se estende pela Argentina, Bolvia e Paraguai, onde recebe outras denominaes. Dificilmente pode ser estabelecido um clculo exato de suas dimenses, sabendo-se porm que a poro brasileira, localizada em partes dos Estados do Mato Grosso e do Mato Grosso do Sul, est estimada em cerca de 150.000 km2.

    Essa imensa plancie, levemente ondulada, pontilhada por raros morros isolados e rica em depresses rasas, tem seus limites marcados por variados sistemas de elevaes, como chapadas, serras e macios e cortada por grande quantidade de rios, todos pertencentes Bacia do Rio Paraguai.

    Situado no centro do Continente Sul-Americano, o Pantanal circundado, do lado brasileiro (norte, leste e sudeste) por terrenos de altitude entre 600-700 m, estende-se a oeste at os contrafortes da cordilheira dos Andes e se prolonga ao sul pelas plancies pampeanas centrais. As terras do entorno, muitas delas de origem sedimentar ou formadas por rochas solveis e friveis, continuamente erodidas pela ao do vento e das guas, fornecem enorme quantidade de sedimentos que so depositados na plancie, num processo contnuo de entulhamento. Formam-se assim terrenos de aluvio, muito permeveis, de composio argilo-arenosa.

    Na paisagem pantaneira, a fisionomia altera-se profundamente nas duas estaes bem definidas do ano : a seca e a chuvosa. Durante a seca, nos campos extensos cobertos predominantemente por gramneas e vegetao de cerrado, a gua de superfcie chega a escassear, restringindo-se aos rios perenes, com leito definido, s grandes lagoas prximas a esses rios e a algumas lagoas menores e banhados em reas mais baixas da plancie. Em muitos locais torna-se necessrio recorrer aos estoques subterrneos, utilizando-se bombas manuais e moinhos de vento para garantir o fornecimento s casas e bebedouros de animais domsticos.

    Os tons pardo-acinzentados da vegetao ressequida no s so substitudos pelo verde nos terrenos prximos gua superficial ou abastecidos pelo lenol fretico.

    As primeiras chuvas da estao caem sobre um solo seco e poroso e so facilmente absorvidas. Com o constante umidecimento da terra a plancie rapidamente se torna verde devido ao rebrotamento de inmeras espcies resistentes falta d gua dos meses precedentes.

    Em poucos dias o solo se encharca e no consegue mais absorver a gua da chuva que passa a encher os banhados, as lagoas e transbordar dos leitos mais rasos, formando cursos de localizao e volume variveis.

    Esse grande aumento peridico da rede hdrica no Pantanal, a baixa declividade da plancie e a dificuldade de escoamento das guas pelo encharcamento do solo, so responsveis por inundaes nas reas mais baixas, o que confere regio um aspecto de imenso mar interior. Somente os terrenos mais elevados e os morros isolados sobressaem como verdadeiras ilhas cobertas de vegetao, onde muitos animais se refugiam procura de abrigo contra a subida das guas.

  • Localizao: No corao da Amrica do Sul, entre os paralelos 16 e 22 graus de longitude sul e os meridianos 55 e 58 graus de longitude oeste.

    rea: Ocupa uma rea na regio Centro Oeste do Brasil de 189 mil quilmetros quadrados, conforme o Dicionrio Geogrfico do IBGE, dos quais 63% em Mato Grosso do Sul e 37% em Mato Grosso.

    Altitude: Mdia de 110 metros.

    Declividade: De 6 a 12 cm por quilmetro no sentido leste-oeste e de 1 a 2 cm por quilmetro no sentido norte-sul.

    Temperatura: O clima tipo quente no vero, com temperatura mdia em torno de 32C e frio e seco no inverno, com mdia em torno de 21C, ocorrendo ocasionalmente, geadas nos meses de julho e agosto. A precipitao pluviomtrica anual est entre 1.000 e 1.400 mm, sendo dezembro e janeiro os meses mais chuvosos. No vero, entre outubro e maio, poca das chuvas, as terras so literalmente inundadas. Podemos dividir o clima na regio tambm em quatro estaes distintas: seca (de junho a setembro), enchente (de outubro a dezembro), cheia (de janeiro a maro) e vazante (abril e maio).

    Umidade relativa do ar: De 50% 60% no inverno e em torno de 80% no vero.

    Chuvas: Diluvianas de Novembro a Fevereiro, quando se registram por ms de 150mm 300mm. De Julho a Agosto (seca), entre 5mm e 50mm.

    Geologia: AB'SABER (1988), em um extenso trabalho sobre a origem do Pantanal Matogrossense, desenvolve a idia de que o que hoje uma depresso teria sido no passado uma vasta abbada de escudo, que funcionava como rea de fornecimento detrtico para as bacias sedimentares do Grupo Bauru (Alto Paran) e Parecis.

    Hoje o Pantanal Matogrossense se caracteriza por extensas plancies de acumulao, com cotas inferiores a 200 metros. Sua evoluo pretrita, atual e futura est submetida s condies das reas elevadas que o rodeiam, pois estas constituem sua fonte de gua e sedimentos (Godi Filho, 1986).

    Clima e Solo No Pantanal, o clima predominantemente tropical, apresenta caractersticas de continentalidade, com diferenas bem marcantes entre as estaes seca e chuvosa. Localizada na poro centro-sul do Continente Sul-Americano, a regio no sofre influncias ocenicas, mas est exposta invaso de massas frias provenientes das pores mais meridionais, com penetrao rpida pelas plancies dos pampas e do chaco. A temperatura usualmente alta, pode baixar rapidamente e at haver ocorrncias de geadas, ficando as mnimas ao redor de 0 enquanto as mximas atingem quase 40. As mdias anuais registradas, em torno de 25, tm como mnima 15 e mxima 34.

    De abril a setembro a estao seca ou inverno, com chuvas raras e temperatura bastante agradvel. Durante o dia pode fazer calor, mas as noites so frescas ou frias. Com o incio das chuvas, geralmente em outubro, comea o vero que se prolonga at maro. A temperatura, bastante elevada, s cai durante e logo aps as pancadas fortes, voltando a subir at que novamente as grossas massas d gua desabem sobre a regio. quando o Pantanal, mido e quente, se transforma em imenso alagado onde os rios, banhados e lagoas se misturam. A partir de maro o nvel das guas vai baixando e o Pantanal comea a secar. No pice da seca, entre julho e setembro, a gua fica restrita aos leitos dos rios ou aos banhados e lagoas localizadas em pores baixas da plancie, em permanente comunicao com os rios ou com o lenol fretico.

    O regime de chuvas determina uma alternncia nas condies do solo, que alagado no vero e seco no inverno. H regies altas que nunca so atingidas pelas cheias, regies baixas que ficam quase sempre submersas e regies de altitude intermediria, que se apresentam secas a maior parte do ano e alagadas durante alguns meses.

    Por sua composio predominante argilo-arenosa os solos do Pantanal so caracterizados como pobres em sua parte mais profunda, mas como muito frteis na camada superficial, graas deposio de matria orgnica resultante da decomposio de restos animais e vegetais. Elementos da Paisagem A paisagem do Pantanal caracterizada por terrenos muito vastos e planos, onde se sobressaem elevaes como a as cordilheiras, os morros isolados e as serras, e depresses pouco profundas, a maioria preenchida durante grande parte do ano por gua dos rios, lagoas e banhados. A altitude mdia de toda essa imensa plancie pouco superior a 100 m. Sua cobertura vegetal predominante aquela caracterstica dos campos limpos e cerrados e das matas.

  • CAMPOS: So as formaes mais frequentes no Pantanal, podendo se apresentar sob dois aspectos diferentes : em regies no inundveis, de solo cido e pobre, encontram-se os campos cerrados, onde a vegetao pouco densa representada por espcies permanentes e efmeras. Entre as permanentes, encontram-se arbustos e rvores de porte mdio, caracterizados por troncos e galhos tortuosos, casca grossa e folhas coriceas ou cobertas de pelos. O grupo das efmeras compreende inmeras ervas e gramneas.

    Em regies mais baixas, sujeitas a inundaes, os campos cerrados so substitudos por campos limpos ou campinas sem rvores, onde raras plantas lenhosas arbustivas ocorrem em meio a um tapete de capins. So excelentes pastagens naturais para o gado e para muitos herbvoros silvestres. MATAS: Sobressaindo por entre a vegetao dos campos veem-se conjuntos muito diversificados de vegetais, formados por rvores de grande porte, arbustos, vegetao rasteira e trepadeiras. Podem se apresentar sob dois aspectos :

    Matas ciliares ou galerias, encontradas margeando os rios e se estendendo por reas mantidas midas pelos cursos d gua;

    Capes, ou manchas de vegetao de porte alto, encontradas nas partes elevadas das ondulaes da plancie, onde o solo rico e o abastecimento da gua garantido pelo lenol subterrneo. SERRAS: So as elevaes de maior altitude na regio, chegando a 1000m de altitude como o Macio do Urucum, formadas por terrenos rochosos, calcrios e secos. A cobertura vegetal constituda por espcies comuns do cerrado, entremeadas por vegetao tpica de caatinga, tanto mais frequente quanto mais elevado e pobre for o terreno. Podem apresentar manchas de pastagens naturais em suas encostas. MORROS ISOLADOS: Espalhados em alguns pontos da plancie, como elementos isolados, encontram-se elevaes de pequena altura, com 150 a 200m em mdia e formato geralmente arredondado. So tambm chamados de inselbergues, pois durante a poca das cheias destacam-se nas reas inundadas, como verdadeiras ilhas cobertas de vegetao. No sop desses morros isolados a vegetao semelhante a dos capes e do cerrado. Nas proximidades do topo, o terreno cada vez mais pedregoso e seco coberto por espcies tpicas de caatinga, como ocorre nas serras.

    RIOS: So cursos d gua de leito definido, de volume bastante varivel conforme a poca do ano, limitados por praias arenosas, barrancos, campos firmes ou alagadios. Com guas geralmente barrentas, que no correm com muita velocidade, esses rios de plancie apresentam numerosos meandros e afluentes, onde so comuns os bancos de areia e raras as corredeiras e os leitos rochosos. Suas margens so cobertas por vegetao de campo limpo, de cerrado, de mata ou de brejo. No Pantanal so conhecidos como corixos os cursos d gua menores, de volume e leito variveis conforme a poca do ano, mas que correm o ano todo, alimentados por um rio de grande porte. Durante a estao seca podem se reduzir a filetes d gua, enquanto que na cheia ficam to volumosos que se confundem com os rios principais. Nesta poca, tambm nas vazantes como so conhecidos os canais de comunicao ou de drenagem entre os rios e lagoas, encontra-se grande quantidade de gua. Na estao seca porm, ela praticamente

    Vegetao: A diversidade de condies ambientais determina uma grande variedade de tipos de vegetao, designada por alguns autores com complexo do Pantanal por considerarem que essa denominao exprime o complexo de condies e de tipos de vegetao ali existentes (Ferri, 1980). Na verdade, o Pantanal se nos afigura como o lugar onde todos os tipos de vegetao do continente vm fundir-se, aparecendo na vasta rea amostras de cada um deles e, em certos pontos, verdadeira mistura (Gonzaga de Campos, 1912).

    Nas regies de altitude intermediria, onde o solo arenoso e cido e a gua retida apenas no sub-solo, encontra-se vegetao tpica de cerrado. Os elementos predominantes neste tipo de formao so as rvores de porte mdio, de casca grossa, folhas recobertas por pelos ou cera e razes muito profundas. Elas se distribuem no muito prximo uma das outras, entremeadas de arbustos e plantas rasteiras, representadas por inmeras espcies de ervas e gramneas. Na poca da seca, como proteo contra a dessecao, muitas rvores e arbustos perdem totalmente os ramos e folhas; outros limitam-se a derrubar as folhas, mas os ramos persistem e podem florescer. Nessa poca comum a prtica de queimadas nas fazendas, para limpar o campo das partes secas da vegetao. Realizada de maneira controlada, a queimada, no de todo prejudicial, como seria em outros ambientes, pois estimula o rebrotamento de muitas plantas do cerrado. No entanto, se o fogo se alastrar repentinamente por outras reas, muitos animais e vegetais podero ser inutilmente sacrificados. Assim, essa prtica s ser aconselhvel se puder ser executada com bastante cuidado.

  • Em regies mais baixas e midas, onde as gramneas predominam, encontram-se os campos limpos, pastagens ideais para a criao do gado que l convive em harmonia com muitas espcies de animais silvestres. Em pequenas elevaes, quando o solo rico, encontram-se capes de mato formados por rvores de porte elevado, como aroeira, imbiruu, angico, ips. Hidrografia: A principal bacia hidrogrfica a do rio Paraguai com 1400km de extenso. Os principais afluentes do rio Paraguai so: So Loureno (560km), o Miranda (264km) e Taquari (850km). A Bacia Hidrogrfia do Alto Paraguai te, como base a cota de 200m acima do nvel do mar (a.n.m.). Compreende uma rea de 107.400 km, o que corresponde a 24% da rea total do Estado. Regies Inundadas do Pantanal Os alagamentos no Pantanal so peridicos e, medida em que se verifica uma mudana na topografia, percebe-se uma diferenciao idntica nos perodos de tempo em que cada poro permanece inundada durante o ano. Fauna: So aproximadamente 280 espcies de peixes, 90 de mamferos, 600 de aves e 50 de rpteis. Flora: So aproximadamente 1500 espcies de plantas estimadas pela EMBRAPA.

    Curiosidades sobre o Pantanal A maior cobra do Pantanal a sucuri amarela. Mede at 4,5 metros e se alimenta de peixes, aves e pequenos mamferos.

    Tuiui, ave-smbolo do Pantanal, tem mais de 2 metros de envergadura com as asas abertas.

    O jacar do Pantanal mede at 2,5 metros de comprimento, alimentando-se principalmente de peixes.

    O maior peixe do Pantanal o ja, um bagre gigante que chega a 1,5 metro de comprimento, pesando at 120 quilos.

    O Pantanal apresenta grande diversidade de espcies de plantas superiores, como rvores e arbustos (1.647 espcies) e alta diversidade de fauna: 263 espcies de peixes, 122 espcies de mamferos, 93 espcies de rpteis, 1.132 espcies de borboletas e 656 espcies de aves.

    As cheias anuais dos rios da regio atingem cerca de 80% do Pantanal e transformam a regio em um impressionante lenol d'gua, afastando parte da populao rural que migra temporariamente para as cidades ou vilas.

    O Pantanal atrai cerca de 700 mil turistas por ano, 65% dos quais so pescadores.

    Os 210 mil quilmetros quadrados do Pantanal equivalem soma das reas de quatro pases europeus Blgica, Sua, Portugal e Holanda.

    A ona pintada do Pantanal chega a pesar 150 quilos, alimentando-se de aproximadamente 85 espcies de animais que vivem na regio.

    O Pantanal brasileiro tem 144.294 km2 de plancie alagvel, 61,9% dos quais (89.318 km2) no Mato Grosso do Sul, e 38,1% (54.976 km2) em Mato Grosso.

    O bioma do Pantanal foi reconhecido em 2000 como Reserva da Biosfera. Essas reservas, declaradas pela Unesco, so instrumentos de gesto e manejo sustentvel integrados que permanecem sob a jurisdio dos pases nos quais esto localizadas.

    O reduzido desnvel da regio produz a inundao peridica do Pantanal. Alm disso, o relevo faz com que o Rio Paraguai ande bem devagar. Uma canoa deriva no rio demoraria cerca de seis meses para atravessar o Pantanal.

    A cada 24 horas, cerca de 178 bilhes de litros de gua entram na plancie pantaneira.

    Existem mais espcies de aves no Pantanal (656 espcies) do que na Amrica do Norte (cerca de 500) e mais espcies de peixes do que na Europa (263 no Pantanal contra aproximadamente 200 em rios europeus).

    http://www.portalpantanal.com.br/variedades/47-curiosidadespantanal.html