Bioma Cerrado

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Bioma Cerrado Cerrado é o nome regional dado à savana brasileira que se localiza no grande platô no planalto central brasileiro. É considerado o segundo maior bioma da América do Sul, superado apenas pela Floresta Amazônica. Com uma área total de aproximadamente 2.100.000 km², sendo com ação antrópica 700.000 km², está concentrado nas regiões Centro-Oeste e Sudeste do Brasil, abrangendo os estados de Goiás, Tocantins, Mato Grosso do Sul, a região sul de Mato Grosso, o oeste e norte de Minas Gerais, oeste da Bahia e o Distrito Federal. Prolongações do Cerrado, denominadas áreas marginais, estendem-se em direção ao norte do país alcançando a região centro-sul do Maranhão e norte do Piauí, para oeste, até Rondônia. Existem ainda fragmentos desta vegetação, formando as áreas disjuntas do cerrado, que ocupam 1/5 do estado de São Paulo, os estados de Rondônia e Amapá. Podem ser encontradas manchas de Cerrado incrustadas na região da caatinga, floresta atlântica e floresta amazônica. A presença humana na região data de pelo menos 12 mil anos, com o aparecimento de grupos de caçadores e coletores de frutos e outros alimentos naturais. Só recentemente, há cerca de 50 anos, é que começou a ser mais densamente povoada. O precursor do processo de ocupação do Brasil central, no século XVII, foi o interesse por ouro e pedras preciosas. Pequenos povoados, de importância inexpressiva, foram sendo formados na região que vai de Cuiabá a oeste do triângulo mineiro, e ao norte da região dos cerrados, nos estados de Tocantins e Maranhão. Contudo, foi somente a partir da década de

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Bioma Cerrado

Cerrado é o nome regional dado à savana brasileira que se localiza no grande platô no

planalto central brasileiro. É considerado o segundo maior bioma da América do Sul, superado

apenas pela Floresta Amazônica.

Com uma área total de aproximadamente 2.100.000 km², sendo com ação antrópica

700.000 km², está concentrado nas regiões Centro-Oeste e Sudeste do Brasil, abrangendo os

estados de Goiás, Tocantins, Mato Grosso do Sul, a região sul de Mato Grosso, o oeste e norte

de Minas Gerais, oeste da Bahia e o Distrito Federal. Prolongações do Cerrado, denominadas

áreas marginais, estendem-se em direção ao norte do país alcançando a região centro-sul do

Maranhão e norte do Piauí, para oeste, até Rondônia. Existem ainda fragmentos desta

vegetação, formando as áreas disjuntas do cerrado, que ocupam 1/5 do estado de São Paulo, os

estados de Rondônia e Amapá. Podem ser encontradas manchas de Cerrado incrustadas na

região da caatinga, floresta atlântica e floresta amazônica.

A presença humana na região data de pelo menos 12 mil anos, com o aparecimento de

grupos de caçadores e coletores de frutos e outros alimentos naturais. Só recentemente, há

cerca de 50 anos, é que começou a ser mais densamente povoada.

O precursor do processo de ocupação do Brasil central, no século XVII, foi o interesse

por ouro e pedras preciosas. Pequenos povoados, de importância inexpressiva, foram sendo

formados na região que vai de Cuiabá a oeste do triângulo mineiro, e ao norte da região dos

cerrados, nos estados de Tocantins e Maranhão. Contudo, foi somente a partir da década de

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50, com o surgimento de Brasília e de uma política de expansão agrícola, por parte do

Governo Federal, que se iniciou uma acelerada e desordenada ocupação da região do cerrado,

baseada em um modelo de exploração feita de forma fundamentalmente extrativista e, em

muitos casos, predatória.

A explosão agrícola sobre o cerrado deparou-se com uma região de solos,

caracteristicamente, com baixo teor nutricional e ácidos. Estes, na maioria dos casos, não

submetidos a qualquer trato cultural e ainda expostos a ciclos periódicos de queimadas, em

poucos anos tornavam-se inviáveis para a produção a nível comercial. Esta situação iniciava

um processo migratório das lavouras em busca de novas áreas de plantio. Comportamentos

como estes podem ainda ser observados entre os pequenos produtores na região do cerrado.

Concominantemente com o aumento das atividades agropastoris, o acelerado ritmo do

processo de urbanização na região, no período de 1970-1991 houve um incremento

demográfico de 93% na região dos cerrado, também tem contribuído para o aumento da

pressão sobre as áreas ainda não ocupadas do cerrado. Estima-se que atualmente cerca de 37%

da área do cerrado já perderam a cobertura original, dando lugar a diferentes paisagens

antrópicas. Da área remanescente do cerrado, estima-se que 63% estejam em áreas privadas,

9% em áreas indígenas e apenas 1% da área total do cerrado encontra-se sob a forma de

Unidades de Conservação Federais.

No domínio do Cerrado predomina o Bioma do Cerrado. Todavia, outros tipos de

Biomas também estão ali representados, seja como tipos “dominados”ou“não predominantes”

(caso das Matas Mesófilas de Interflúvio), seja como encraves (ilhas ou manchas de caatinga,

por exemplo), ou penetrações de Florestas Galeria, de tipo amazônico ou atlântico, ao longo

dos vales úmidos dos rios. O Domínio é extremamente abrangente. Englobando ecossistemas

os mais variados, sejam eles terrestres, paludosos, lacustres, fluviais, de pequenas ou de

grandes altitudes etc.

Situado a 19º 40' de latitude sul, o cerrado está a apenas 835 metros acima do nível do

mar. Apesar de abranger uma extensa área, a região de cerrado apresenta clima bastante

regular, classificado como continental tropical semi-úmido (Tropical Sazonal). A temperatura

média é de 25ºC, registrando máximas de 40ºC no verão. As mínimas registradas podem

chegar a valores próximos de 10°C ou até menos, nos meses de maio, junho e julho. A estação

seca começa em abril e continua até setembro. Nesta estação os ventos predominantes são de

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leste ou de sudeste e as tempestades são muito raras. Os meses mais frios são junho e julho,

com temperaturas que variam de 20 a 10ºC, e em agosto apresenta as maiores temperaturas.

Os meses mais chuvosos são novembro, dezembro e janeiro. A ocorrência de geadas no

Domínio do Cerrado não é fato incomum, ao menos em sua porção austral.

Figura * - Distribuição Climática no Brasil

Em geral, a precipitação média anual fica entre 1200 e 1800 mm. Ao contrário da

temperatura, a precipitação média mensal apresenta uma grande estacionalidade,

concentrando-se nos meses de primavera e verão (outubro a março), que é a estação chuvosa.

Curtos períodos de seca, chamados de veranicos, podem ocorrer em meio a esta estação,

criando sérios problemas para a agricultura. No período de maio a setembro os índices

pluviométricos mensais reduzem-se bastante, podendo chegar a zero.

Na estação seca, a ocorrência de nevoeiros é comum nas primeiras horas das manhãs,

formando-se grande quantidade de orvalho sobre as plantas e umedecendo o solo. Já no

período da tarde os índices de umidade relativa do ar caem bastante, podendo baixar a valores

próximos a 15%, principalmente nos meses de julho e agosto.

Ventos fortes e constantes não é uma característica geral do Domínio do Cerrado.

Normalmente a atmosfera é calma e o ar fica muitas vezes quase parado. Em agosto costumam

ocorrer algumas ventanias, levantando poeira e cinzas de queimadas a grandes alturas, através

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de redemoinhos que se podem ver de longe. Às vezes elas podem ser tão fortes que até mesmo

grossos galhos são arrancados das árvores e atirados à distância.

A radiação solar no Domínio do Cerrado é geralmente bastante intensa, podendo

reduzir-se devido à alta nebulosidade, nos meses excessivamente chuvosos do verão. Por esta

possível razão, em certos anos, outubro costuma ser mais quente do que dezembro ou janeiro.

Como o inverno é seco, quase sem nuvens, e as latitudes são relativamente pequenas, a

radiação solar nesta época também é intensa, aquecendo bem as horas do meio do dia. Em

agosto-setembro esta intensidade pode reduzir-se um pouco em virtude da abundância de

névoa seca produzida pelos incêndios e queimadas da vegetação, tão freqüentes neste período

do ano.

O relevo do Domínio do Cerrado é em geral bastante plano ou suavemente ondulado,

estendendo-se por imensos planaltos ou chapadões. Cerca de 50% de sua área situa-se em

altitudes que ficam entre 300 e 600 m acima do nível do mar; apenas 5,5% vão além de 900m.

As maiores elevações são o Pico do Itacolomi (1797 m) na Serra do Espinhaço, o Pico do Sol

(2070 m) na Serra do Caraça e a Chapada dos Veadeiros, que pode atingir 1676 m. O bioma

do Cerrado não ultrapassa, em geral, os 1100 m.

Originando-se de espessas camadas de sedimentos que datam do Terciário, os

solos do Bioma do Cerrado são geralmente profundos, azonados, de cor vermelha ou vermelha

amarelada, porosos, permeáveis, bem drenados e, por isto, intensamente lixiviados. Em sua

textura predomina, em geral, a fração areia, vindo em seguida à argila e por último o silte. Eles

são, portanto, predominantemente arenosos, areno-argilosos, argilo-arenosos ou,

eventualmente, argilosos. Sua capacidade de retenção de água é relativamente baixa.

O teor de matéria orgânica destes solos é pequeno, ficando geralmente entre 3 e 5%.

Como o clima é sazonal, com um longo período de seca, a decomposição do húmus é lenta.

Sua microflora e micro/mesofauna são ainda muito pouco conhecidas. Todavia, acreditamos

que elas devam ser bem características ou típicas, o que, talvez, nos permitisse falar em "solo

de cerrado" e não apenas em "solo sob cerrado", como preferem alguns. Afinal, a flora e a

fauna de um solo são partes integrantes dele e deveriam permitir distingui-lo de outros tantos

solos, física ou quimicamente similares.

Quanto às suas características químicas, eles são bastante ácidos, com pH que pode

variar de menos de 4 a pouco mais de 5. Esta forte acidez é devida em boa parte aos altos

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níveis de Al3+, o que os torna aluminotóxicos para a maioria das plantas agrícolas. Níveis

elevados de íons Fe e de Mn também contribuem para a sua toxidez.

Correção do pH pela calagem (aplicação de calcário) e adubação, tanto com macro

quanto com micronutrientes, podem torná-los férteis e produtivos, seja para a cultura de grãos

ou de frutíferas. Isto é o que se faz na grande região produtora de soja, situada, em solos de

Cerrado de Goiás, Minas, Mato Grosso do Sul, etc. Além da soja, outros grãos como: milho,

sorgo, feijão, e frutíferas como: manga, abacate, abacaxi, laranja etc, são também cultivados

com sucesso. Com a calagem e a adubação, os cerrados tornaram-se a grande área de expansão

agrícola de país nas últimas décadas. A pecuária também se expandiu com o cultivo de

gramíneas africanas introduzidas, de alta produção e palatabilidade, como a braquiária, por

exemplo.

A diversificação em variados ambientes é que atribui ao Sistema dos Cerrados o

caráter fundamental da biodiversidade. Compreender a distribuição dos elementos da flora e

fauna pelos diversos subsistemas e seu ciclo anual é muito importante para uma visão de

globalidade.

No que se refere a frutíferas, o Sistema dos Cerrados se apresenta como um dos mais

ricos, oferecendo uma grande quantidade de frutos comestíveis, alguns de excelente qualidade,

cujo aproveitamento por populações humanas, se dá desde os primórdios da ocupação e, em

épocas atuais são aproveitados de forma artesanal. Associados aos frutos, outros recursos

vegetais de caráter medicinal, madeireiro, venífero, etc., podem ser listados em grande

quantidade. Alguns desses recursos, frutíferos ou não, constituem potenciais fontes de

exploração econômica de certa grandeza, cuja pesquisa e o desenvolvimento de tecnologias

podem viabilizar seu aproveitamento a curto prazo.

O Sistema dos Cerrados também apresenta uma fauna variada representada

essencialmente por animais de médio e pequeno porte. A distribuição dos recursos vegetais,

principalmente os frutos, tem sua maior concentração nos meses de novembro, dezembro e

janeiro. Época que coincide com auge da estação chuvosa. Essa concentração diminui

proporcionalmente à medida que se distância da época chuvosa. Todavia, com exceção de

maio, os meses que correspondem à época seca, mesmo em quantidade menor, apresentam

certa quantidade de recursos.

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Embora possam ser visíveis durante todo ano, os mamíferos campestres estão mais

concentrados nos meses de setembro a janeiro. Esta época coincide com as floradas e rebrota

dos pastos afetados por queimadas, naturais ou antrópicas do ano anterior, coincide também,

principalmente, a partir de novembro com a época de maturação dos frutos. As espécies,

insetívoras também encontram, nesta época, farto recurso, proporcionado pela revoada e

multiplicação de certas espécies de insetos.

Os Carnívoros também estão mais concentrados em setembro, outubro, novembro,

dezembro e janeiro, acompanhado a concentração dos mamíferos campestres. Os mamíferos

habitantes do bioma ribeirinho, podem ser mais visíveis e concentrados nos meses secos,

principalmente junho, julho, agosto e setembro. A maior parte das aves do Sistema dos

Cerrados, põe seus ovos durante a estação seca mais especificamente em junho, julho e agosto.

As aves campestres estão mais concentradas no início da estação chuvosa.

A flora do bioma do Cerrado é riquíssima. Tomando uma atitude conservadora,

poderíamos estimar a flora do bioma do cerrado como sendo constituída por cerca de 3.000

espécies, sendo 1.000 delas do estrato arbóreo-arbustivo e 2.000 do herbáceo-subarbustivo.

Os campos cobrem a maior parte do território. É essencialmente coberto por

gramíneas, com árvores e arbustos. É subdividido em campo de cerrado e campo limpo, que se

diferenciam na formação do terreno e na composição do solo, com declives ou plano.

As árvores mais altas do Cerrado chegam a 15 metros de altura e formam estruturas

irregulares. Apenas nas matas ciliares as árvores ultrapassam 25 metros e possuem

normalmente folhas pequenas. Nos chapadões arenosos e nos quentes campos rupestres estão

os mais exuberantes e exóticos cactos, bromeliáceas e orquídeas, contando com centenas de

espécies endêmicas. E ainda existem espécies desconhecidas, que devido à ação do homem

podem ser destruídas antes mesmo de serem catalogadas.

Água parece não ser um fator limitante para a vegetação do cerrado, particularmente

para o seu estrato arbóreo-arbustivo. Como estas plantas possuem raízes pivotantes profundas,

que chegam a 10, 15, 20 metros de profundidade, atingindo camadas de solo permanentemente

úmidas, mesmo na sêca, elas dispõem sempre de algum abastecimento hídrico. No período de

estiagem, o solo se desseca realmente, mas apenas em sua parte superficial ( 1,5 a 2 metros de

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profundidade). Consequência disto é a deficiência hídrica apresentada pelo estrato herbáceo-

subarbustivo. Os principais tipos de vegetação são:

Cerrado (strictu sensu) - é a vegetação característica do cerrado, composta por

exemplares arbustivo-arbóreos, de caules e galhos grossos e retorcidos, distribuídos de forma

ligeiramente esparsa, intercalados por uma cobertura de ervas, gramíneas e espécies semi-

arbustivas.

Floresta mesofítica de interflúvio (cerradão) - este tipo de vegetação cresce sob

solos bem drenados e relativamente ricos em nutrientes, as copas das árvores, que medem em

média de 8-10 metros de altura, tocam-se o que denota um aspecto fechado a esta vegetação.

Campo rupestre - encontrado em áreas de contato do cerrado com o caatinga e

floresta atlântica, os solos deste tipo fisionômico são quase sempre rasos e sofrem bruscas

variações em relação a profundidade, drenagem e conteúdo nutricional. É caracteristicamente,

composto por uma vegetação arbustiva de distribuição aberta ou fechada.

Campos litossólicos miscelâneos - são caracterizados pela presença de um substrato

duro, rocha mãe, e a quase inexistência de solo macio, este quando presente não ocupa mais

que poucos centímetros de profundidade até se deparar com a camada rochosa pela qual não

passam nem umidade nem raízes. Sua flora é caracterizada por um tapete de ervas latifoliadas

ou de gramíneas curtas, havendo em geral a ausências de exemplares arbustivos, ou a presença

de raríssimos espécimes lenhosos, neste caso enraizados em frestas da camada rochosa.

Vegetação de afloramento de rocha maciça - representada por cactos, liquens,

musgos, bromélias, ervas e raríssimas árvores e arbustos, cresce sob penhascos e morros

rochosos.

Florestas de galerias e florestas de encosta associadas - são tipos de vegetação que

ocorrem de modo adjacente, estão associados a proximidade do lençol freático da superfície

do solo. Assim como as florestas mesofíticas, constituem um tipo florestal, contudo estão

situadas sob solos mais férteis e com maior disponibilidade hídrica, o que lhes atribui uma

característica mais densa.

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Buritizais e veredas - ocorrem nos fundos vales em áreas inundadas, inviáveis para o

desenvolvimento das florestas de galerias. São caracterizados pela presença dos denominados

"brejos" e a ocorrência de agrupamento de exemplares de buriti (Mauritia vinifera M.), nas

áreas mais úmidas, e babaçu (Orbignya barbosiana B) e carnaúba (Copernicia prunifera M),

em éreas mais secas.

Campo úmido - caracterizado por um campo limpo, com raras espécimes arbóreas,

que permanece encharcado durante a época chuvosa e ressecado na estação seca, ou no final

desta, em geral constitui uma área de transição que separa a floresta de galeria ou vereda do

cerrado de interflúvio.

Mata mesofítica Campo rupestre

Bromélias Buritizais e veredas

Não se pode levar adiante qualquer estudo sobre os cerrados, se não se tomar em

consideração o fogo, elemento intimamente associado a esta paisagem. Apesar de sua

importância para o entendimento da ecologia desse ambiente enquanto conjunto

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biogeográfico, a ação do fogo nos cerrados é ainda mal conhecida e geralmente marcada por

questões mais ideológicas do que científicas.

O estudo do fogo como agente, será mais completo se também se observar a

comunidade faunística e os hábitos que certos animais desenvolveram e que estão intimamente

associados à sua ação, cuja assimilação, sem dúvida, necessita de arranjos evolutivos

caracterizados por tempo relativamente longo. De algumas observações constata-se, por

exemplo, que a perdiz só faz seu ninho em macegas, tufos de gramíneas queimadas no ano

anterior. Da visita a várias áreas do cerrado imediatamente após grande queimada, tem-se

constatado que apesar da características das árvores e arbustos enegrecidos superficialmente,

estes continuam com vida, ostentando ainda entre a casca energecida e o tronco, intensa

microfauna. Fenômeno semelhante acontece com o estrato gramíneo: poucos dias após a

queimada, mostra sinais de rebrota, que constitui elemento fundamental para concentração de

certas espécies animais. O fogo portanto, é um elemento extremamente comum no cerrado, e

de tal forma antigo, que a maioria das plantas parece estar adaptada a ele.

Assim, embora o Bioma do Cerrado distribua-se predominantemente em áreas de clima

tropical sazonal, os fatores que aí limitam a vegetação são outros: a fertilidade do solo e o

fogo. Claro que certas formas abertas de cerrado devem esta sua fisionomia às derrubadas

feitas pelo homem para a obtenção de lenha ou carvão.

Entre as espécies vegetais que caracterizam o Cerrado estão o barbatimão, o pau-santo,

a gabiroba, o pequizeiro, o araçá, a sucupira, o pau-terra, a catuaba e o indaiá. Debaixo dessas

árvores crescem diferentes tipos de capim, como o capim-flecha, que pode atingir uma altura

de 2,5m.

O Cerrado apresenta grande variedade em espécies em todos os ambientes, que

dispõem de muitos recursos ecológicos, abrigando comunidades de animais com abundância

de indivíduos, alguns com adaptações especializadas para explorar o que fornece seu habitat.

No ambiente do Cerrado são conhecidos até o momento mais de 1.500 espécies

animais, formando o segundo maior conjunto animal do planeta. Cerca de 50 das 100 espécies

de mamíferos (pertencentes a 67 gêneros) estão no Cerrado. Apresenta mais de 830 espécies

de aves, 150 de anfíbios (das quais 45 são endêmicas), 120 espécies de répteis (das quais 45

são endêmicas). Apenas no Distrito Federal há 90 espécies de cupins, 1.000 espécies de

borboletas e 500 de abelhas e vespas.

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Segundo um estudo feito no Bioma, pensava-se que a fauna do Cerrado era composta

basicamente das mesmas espécies de outros ambientes, como a Caatinga, o Pantanal ou o

Chaco. Porém, 45% das espécies de lagartos, cobras e anfisbenas e 23% dos pequenos

mamíferos são endêmicos. Nas áreas de campos abertos, normalmente as mais desvalorizadas,

estão as maiores taxas de endemismo dos mamíferos. Cerca de 73% dos animais encontrados

nesses campos só ocorrem ali, como, por exemplo, o tamanduá-bandeira (Myrmecophaga

tridactyla) o lobo-guará (Chrysocyon brachyurus), o tatu-canastra entre outros. Dentre as que

correm risco de desaparecer estão o tamanduá-bandeira, a anta, o lobo-guará, o pato-

mergulhão, o falcão-de-peito-vermelho, o tatu-bola, o tatu-canastra, o cervo, o cachorro-

vinagre, a onça-pintada, a ariranha e a lontra.

Poucas são as unidades de conservação com áreas significativas, onde o Cerrado é o

bioma dominante. Entre elas podemos mencionar o Parque Nacional das Emas (131.832 ha), o

Parque Nacional Grande Sertão Veredas (84.000 ha), o Parque Nacional da Chapada dos

Guimarães (33.000 hs), o Parque Nacional da Serra da Canastra (71.525 ha), o Parque

Nacional da Chapada dos Veadeiros (60.000 ha), o Parque Nacional de Brasília (28.000 ha).

Embora estas áreas possam, à primeira vista, parecer suficientes, para a conservação de

carnívoros de maior porte, como a onça-pintada e a onça-parda, por exemplo, o ideal seria que

elas fossem ainda maiores.

Se considerarmos que cerca de 45% da área do Domínio do Cerrado já foram

convertidos em pastagens cultivadas e lavouras diversas, é extremamente urgente que novas

unidades de conservação representativas dos cerrados sejam criadas ao longo de toda a

extensão deste Domínio, não só em sua área nuclear mas também em seus extremos norte, sul,

leste e oeste. A criação de unidades de conservação com áreas menos significativas não deve,

todavia, ser menosprezada. Quando adequadamente manejadas, elas também são de enorme

importância para a preservação da biodiversidade. Só assim se conseguirá, em tempo,

conservar o maior número de espécies de sua rica e variadíssima flora e fauna.

A grande maioria das atuais unidades de conservação, sejam elas federais, estaduais ou

municipais, acha-se hoje em uma situação de completo abandono, com sérios problemas de

manejo de fauna e flora, problemas fundiários, de demarcação de terras e construção de

cercas, de acesso por estrada de rodagem, de comunicação, de gerenciamento, de realização de

benfeitorias necessárias, etc.

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Problemas de consangüinidade, viroses, verminoses, epidemias, podem estar

dizimando os animais. Pesquisas a médio e longo prazo são essenciais para que possamos

compreender o que acontece com as populações animais remanescentes nos cerrados.

Paralelamente, espécies exóticas de gramíneas, principalmente as de origem africana,

como o capim-gordura, o capim-jaraguá, a braquiária, estão invadindo estas unidades de

conservação e substituindo rapidamente as espécies nativas do seu riquíssimo estrato

herbáceo/subarbustivo.

O cerrado como qualquer outro ecossistema, possui organismos denominados

produtores, consumidores e decompositores. Os organismos produtores são todos os seres que

fabricam o seu próprio alimento, através da fotossíntese, sendo neste caso as plantas, sejam

elas terrestres ou aquáticas;Os organismos consumidores são aqueles que obtem sua energia e

alimentos comendo plantas ou outros animais, pois não realizam fotossíntese, sendo, portanto

incapazes de fabricarem seu próprio alimento;Os decompositores são os organismos

responsáveis pela decomposição da matéria orgânica, transformando-a em nutrientes minerais

que se tornam novamente disponíveis no ambiente. Os decompositores, representados pelas

bactérias e fungos, são o último elo da cadeia trófica, fechando o ciclo. A seqüência de

organismos relacionados pela predação constitui uma cadeia alimentar, cuja estrutura é

simples, unidirecional e não ramificada.

Espécies endêmicas são espécies cuja distribuição geográfica se limita a uma

determinada zona do globo. Algumas espécies presentes no bioma cerrado são:

*Antilophia galeata - Soldadinho: É uma das espécies mais notáveis do Cerrado,

apresentando um grande tufo frontal vermelho e uma cauda grande, sendo que a fêmea é

esverdeada (Sick 1997). Habita a mata de galeria, capões, mata em terreno pantanoso e

buritizais. No PESRM (MG) a espécie não é tão comum como em outras UC 's da área core do

Cerrado.

*Cyanocorax cristatellus – Gralha-do cerrado: Espécie campestre típica do Brasil

central, ocorrendo do Piauí, Maranhão e sul do Pará a Mato Grosso, Goiás, Minas Gerais e

São Paulo (Sick 1997). É uma das espécies endêmicas mais comuns em Unidades de

Conservação do Cerrado, estando presente em 18 de 21 áreas avaliadas (Braz 2003).

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*Augastes scutatus (beija-flor-de-gravata) : Espécie endêmica com distribuição

restrita a cadeia do Espinhaço, é considerada relativamente comum nas áreas onde ocorre.

Ocorre na Serra do Espinhaço, norte de Minas Gerais, desde Montes Claros, Grão Mogol e

Diamantina, até a Serra do Cipó, em Belo Horizonte , Ouro Preto e Conselheiro Lafaiete

(Birdlife International 2004). A principal ameaça é a rápida conversão de áreas de Cerrado em

pastagen, e como tem distribuição restrita, é muito vulnerável a perda de áreas dentro da sua

distribuição. No PESRM foi observada no ponto P2.4, Canga.

*Melanopareia torquata (Meia-lua-do-cerrado): Espécie típica do Brasil Central,

vive no campo cerrado, savanas ricas em cupinzeiros e campos sujos (Sick, 1997). Ocorre no

sul do Pará, Piauí, Bahia, Goiás, Mato Grosso e São Paulo à Bolívia. É relativamente comum e

está representada em 17 de 21 Unidades de Conservação do Cerrado estudadas (Braz 2003).

No PESRM, a espécie foi registrada em sete pontos de amostragem, sendo a endêmica mais

comum, juntamente com a gralha-do-campo Cyanocorax cristatellus.

*Polysticus superciliaris: Espécie restrita a campos rupestres, campo cerrado e campo

sujo. Ocorre localmente desde o leste do Brasil, no Morro do Chapéu (Bahia) até a Serra da

Bocaína, norte de São Paulo. A conversão de hábitats é a principal causa de diminuição da

população (Birdlife International 2004). Foi registrada em um ponto somente, P2.7, Portão I.

*Porphyrospiza caerulescens – campainha-azul: Ocorre na Bolívia e Brasil, do

Maranhão a sudeste do Pará, Piauí, Bahia, oeste de Minas Gerais, Goiás, Distrito Federal e

Mato Grosso, em áreas de cerrado aberto com pedras e capim ralo (Sick 1997). No PESRM,

somente é observada na região da Jacuba onde existem os afloramentos acompanhados de

bambus. No entorno só foi observada na região do Taquari. É considerada como espécie

próxima de ameaça de extinção também pela rápida conversão de áreas de Cerrado para

atividades antrópicas (BirdLife International 2004).

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Polysticus superciliaris Augastes scutatus – beija-flor-de-gravata

Campainha azul Grallha do cerrado

Soldadinho Meia lua do cerrado

O Cerrado é considerado um dos ecossistemas mais ricos do planeta. Embora seja um

ambiente fragmentado e intensamente alterado pela ação antrópica (Felfili & Silva Júnior,

2001), possui diversidade biológica elevada, e conseqüentemente, alto potencial de ocorrência

de interações populacionais entre plantas e insetos. Nessas interações, muitas espécies de

plantas costumam hospedar uma grande diversidade de insetos herbívoros, dentre os quais

estão os minadores foliares. Algumas relações entre plantas e insetos ocorrem ao acaso, em

pequena escala espacial e temporal, apresentando baixa estabilidade, dificultando o seu

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registro por estudos científicos. Outras, ao contrário, são bem sucedidas e permanecem por

longos períodos, tornando-se especializadas (Ehrlich & Raven, 1964; Mopper et al., 2000).

Erythroxylaceae é uma família de grande representatividade nos cerrados brasileiros,

possuindo distribuição subtropical e pantropical, com um único gênero ocorrente na região

neotropical: Erythroxylum P. Browne (Wanderley et al., 2002). O gênero compreende cerca de

180 espécies neotropicais, sendo que para o Brasil foram listadas 130 espécies em ambientes

florestais e de cerrado sensu lato (Ribeiro et. al., 1999). Erythroxylum tortuosum Mart. é uma

planta arbustiva-arbórea típica dos cerrados (Amaral Jr., 1973), onde pouco se conhece sobre

os organismos ocorrentes e os padrões e processos populacionais naturais oriundos de

interações tróficas.

As interações entre plantas e animais representam uma grande e diversificada área em

ecologia. A necessidade de estudos em longo prazo para a compreensão de padrões e da

importância destas interações no funcionamento de comunidades e de suas aplicações em

programas de conservação e manejo vem sendo cada vez mais ressaltada na literatura. Para o

Cerrado o conhecimento dos diferentes tipos de interações entre plantas e animais é variável,

mas de uma maneira geral os padrões gerais e as variações temporais são pouco conhecidos.

Os padrões fenológicos são importantes nas interações de herbivoria, polinização,

predação e dispersão de frutos e sementes. O conhecimento fenológico atual permite propor

alguns conjuntos de plantas lenhosas com eventos fenológicos similares, onde as fenofases são

relativamente independentes de fatores ambientais (sazonalidade), exceto para o

estabelecimento de plântulas. As opções de ajustamento seqüencial entre as fenofases

possibilitam grande diversidade de estratégias fenológicas, mesmo entre espécies co-genéricas

e parece variar entre fitofisionomias. Um aspecto que chama a atenção é a grande variação

espacial e temporal de eventos fenológicos (foliação, floração, frutificação) e de abundância

de insetos herbívoros mastigadores (larvas de Lepidoptera) dentro da mesma fitofisionomia,

mesmo em áreas próximas.

Page 15: Bioma   Cerrado

UNIVERSIDADE FERDERAL DE ALAGOASCTEC – CENTRO DE TECNOLOGIAENGENHARIA AMBIENTALECOLOGIA

BIOMA – CERRADO

EQUIPE:Jullyeth Angelina

Karlyandra dos SantosLícia Holanda

Rafaela Santiago

Maceió, 23 de setembro de 2009.

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UNIVERSIDADE FERDERAL DE ALAGOASCTEC – CENTRO DE TECNOLOGIAENGENHARIA AMBIENTALECOLOGIA

BIOMA – CERRADO

EQUIPE:Jullyeth Angelina

Karlyandra dos SantosLícia Holanda

Rafaela Santiago

Maceió, 23 de setembro de 2009.