Biografia Coriolano de Medeiros

2
» MEDEIROS, CORIOLANO DE João Rodrigues Coriolano de Medeiros nasceu no Município de Patos, a 30 de novembro de 1875, filho de Aquilino Coriolano de Medeiros e Joana Maria da Conceição. Tangidos pela seca, seus pais emigraram, em 1877, para a Capital da Província. Fez os estudos primários com vários professores, matriculandose, depois, no Liceu Paraibano, onde realizou e concluiu os estudos preparatórios. Em seguida, ingressou na Faculdade de Direito do Recife, cujo curso jurídico freqüentou até o terceiro ano, quando, premido por dificuldades financeiras, viuse obrigado a abandonar os estudos, voltando à Paraíba e ingressando no comércio. Pouco tempo depois, é admitido no serviço público, como funcionários dos Correios, onde permanece de 1889 a 1900. Por essa época passa a colaborar na imprensa, como redator do jornal "O Commercio", de Arthur Achilles. Amante da música, participa da Banda do Clube Astréa, tocando clarineta. Também integra o Club Simphonico. Nessa época dedicase ao magistério particular. Em 1910, é nomeado escriturário da Escola De Aprendizes Artífices, dela chegando a Diretor, nesse cargo se aposentando. Foi sócio fundador do Centro Literário Paraibano, da Associação de Homens de Letras, do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano, de cuja primeira Diretoria fez parte, e do Gabinete de Estudinhos de História de Geografia da Paraíba, criado para abrigar uma pequena dissidência do IHGP. A sociedade teve duração efêmera e seus membros, posteriormente, se reintegraram ao Instituto Histórico. Por sua iniciativa e inspiração, foi fundada a Academia Paraibana de Letras, da qual foi o primeiro presidente. Participou do Dicionario Historico, Geographico e Ethnographico do Brasil, comemorativo do Primeiro Centenário da Independência e publicado pela Imprensa Nacional. Foi sócio correspondente dos Institutos Históricos de Sergipe e São Paulo, além de outras instituições congêneres. Faleceu a 25 de abril de 1974. BIBLIOGRAFIA Dicionário Corográfico do Estado da Paraíba, INL, 1950, Rio de Janeiro, 2a. edição. Do litoral ao sertão (contos), Popular Editora, F. C. Batista & Irmão, 1917, Parahyba. O tesouro da cega, s/e, s/d, Parahyba. Resenha historica da Escola de Aprendizes Artífices, s/e, 1922, Parahyba. Os cinco heróis da conquista (conferência), s/e, 1925, Parahyba. O Barracão (romance), Ed. Artes Gráficas da EAA de Pernambuco, 1930, s/l. Manaíra (romance), Cia. Melhoramento, 1936, São Paulo. A evolução social e histórica de Patos (Palestra), A Imprensa, 1938, João Pessoa. O Tambiá da minha infância (reminiscências), CEC, 1994, João Pessoa, 2a. edição. Sampaio (reminiscências), CEC, 1994, João Pessoa, 2a. edição. (No mesmo volume com o precedente). ANTOLOGIA Vitorino Silveira de Carvalho, vingando a tortuosa ladeira do Boissó, chegara à margem do Afogaboi. Descalçouse, arregaçou as calças para atravessálo mas, às carícias do local, abrigouse à sombra de velha cajazeira. Sentouse recostado ao tronco rugoso da árvore e ficouse a descansar da caminhada, a refrescarse do sol. Estava amolentado pelo calor e aquela sombra, a aragem esquiva que descia pelo valezinho, lhe preuchavam as pálpebras num desejo intenso de modorrar. Reagiu. Assenhorouse da paisagem num golpe de vista. À jusante do córrego, abriamse duas colinas cobertas de renovos, pontilhadas aqui e além pelo violáceo brando das copas floridas de altas perobeiras que, todos os anos, ao romper de dezembro, transformavam toda a fronde verde numa grinalda opulenta, lembrando na saudade de suas flores, a devastação da floresta. Nem sempre fora assim. Outrora a mata cerrada cobria toda aquela extensão, adensandose mais e mais para o lado da Bocaia. Nela se abrigavam bandos de jacus, de coatis e, aos domingos, ouviamse gritos prolongados de caçadores açulando cães na perseguição de veados ou de caititus. Certa vez o machado impiedoso dum lavrador ecoou semanas no afã da broca. Surgiu ali a

description

Biografia e bibliografia do historiador paraibano Coriolano de Medeiros

Transcript of Biografia Coriolano de Medeiros

  • 30/03/2015 FlvioStiroFernandes

    data:text/htmlcharset=utf8,%3Cul%20class%3D%22listinternas01%22%20style%3D%22fontfamily%3A%20Arial%2C%20Helvetica%2C%20sansser 1/2

    MEDEIROS,CORIOLANODEJooRodriguesCoriolanodeMedeirosnasceunoMunicpiodePatos,a30denovembrode1875,filhodeAquilinoCoriolanodeMedeiroseJoanaMariadaConceio.Tangidospela seca, seus pais emigraram, em 1877, para aCapital daProvncia. Fez os estudosprimrios com vrios professores, matriculandose, depois, no Liceu Paraibano, onderealizou e concluiu os estudos preparatrios. Em seguida, ingressou na Faculdade deDireitodoRecife, cujocurso jurdico freqentouato terceiroano,quando,premidopordificuldades financeiras, viuse obrigado a abandonar os estudos, voltando Paraba eingressando no comrcio. Pouco tempo depois, admitido no servio pblico, comofuncionrios dos Correios, onde permanece de 1889 a 1900. Por essa poca passa acolaborarnaimprensa,comoredatordojornal"OCommercio",deArthurAchilles.Amantedamsica,participadaBandadoClubeAstra,tocandoclarineta.TambmintegraoClubSimphonico. Nessa poca dedicase ao magistrio particular. Em 1910, nomeadoescriturrio daEscolaDeAprendizesArtfices, dela chegandoaDiretor, nesse cargo seaposentando.FoisciofundadordoCentroLiterrioParaibano,daAssociaodeHomensdeLetras,doInstitutoHistricoeGeogrficoParaibano,decujaprimeiraDiretoriafezparte,edoGabinetedeEstudinhosdeHistriadeGeografiadaParaba,criadoparaabrigarumapequena dissidncia do IHGP. A sociedade teve durao efmera e seus membros,posteriormente, se reintegraram ao InstitutoHistrico. Por sua iniciativa e inspirao, foifundadaaAcademiaParaibanadeLetras,daqualfoioprimeiropresidente.ParticipoudoDicionario Historico, Geographico e Ethnographico do Brasil, comemorativo do PrimeiroCentenrio da Independncia e publicado pela Imprensa Nacional. Foi sciocorrespondente dos Institutos Histricos de Sergipe e So Paulo, alm de outrasinstituiescongneres.Faleceua25deabrilde1974.

    BIBLIOGRAFIA

    DicionrioCorogrficodoEstadodaParaba,INL,1950,RiodeJaneiro,2a.edio.

    Dolitoralaoserto(contos),PopularEditora,F.C.Batista&Irmo,1917,Parahyba.

    Otesourodacega,s/e,s/d,Parahyba.

    ResenhahistoricadaEscoladeAprendizesArtfices,s/e,1922,Parahyba.

    Oscincoherisdaconquista(conferncia),s/e,1925,Parahyba.

    OBarraco(romance),Ed.ArtesGrficasdaEAAdePernambuco,1930,s/l.

    Manara(romance),Cia.Melhoramento,1936,SoPaulo.

    AevoluosocialehistricadePatos(Palestra),AImprensa,1938,JooPessoa.

    OTambidaminhainfncia(reminiscncias),CEC,1994,JooPessoa,2a.edio.

    Sampaio(reminiscncias),CEC,1994,JooPessoa,2a.edio.(Nomesmovolumecomoprecedente).

    ANTOLOGIA

    VitorinoSilveiradeCarvalho,vingandoatortuosaladeiradoBoiss,chegaramargemdoAfogaboi.Descalouse,arregaouascalasparaatravesslomas,scarciasdolocal,abrigousesombradevelhacajazeira.Sentouserecostadoaotroncorugosodarvoreeficouseadescansardacaminhada,arefrescarsedosol.Estavaamolentadopelocaloreaquelasombra,aaragemesquivaquedesciapelovalezinho,lhepreuchavamasplpebrasnumdesejointensodemodorrar.Reagiu.Assenhorouse da paisagem num golpe de vista. jusante do crrego, abriamse duascolinas cobertas de renovos, pontilhadas aqui e alm pelo violceo brando das copasfloridasdealtasperobeirasque, todososanos,ao romperdedezembro, transformavamtoda a fronde verde numa grinalda opulenta, lembrando na saudade de suas flores, adevastaodafloresta.Nemsempreforaassim.Outroraamatacerradacobria todaaquelaextenso,adensandosemaisemaisparaoladodaBocaia.Nelaseabrigavambandosdejacus,decoatise,aosdomingos,ouviamsegritosprolongadosdecaadoresaulandocesnaperseguiodeveadosoudecaititus.Certavezomachadoimpiedosodumlavradorecoousemanasnoafdabroca.Surgiualia

  • 30/03/2015 FlvioStiroFernandes

    data:text/htmlcharset=utf8,%3Cul%20class%3D%22listinternas01%22%20style%3D%22fontfamily%3A%20Arial%2C%20Helvetica%2C%20sansser 2/2

    primeira derrubada abriuse o primeiro roado nem o queimaram e l se ficou aquelamanchavermelhadefolhassecascomograndechagaabertanodorsodafloresta!Era o cncer da devastao que, num decnio, devorou todas asmatas seculares queverdejavamemtornodacidadedaParaba.O viandante lembrou a vivenda assentada no alto, quase afogada nos ramos dasmangueiras.Eraumacasadebeloaspecto, deamplaescadaria frente, e pretenciosofronto grego. Edificoua um seu antepassado, Simpcio Jos de Carvalho, senhor demuitoshaveres,inclusivealgunsengenhosnavrzeadoParaba.Estecasarase.Temposdepois cometera uma ingratido contra a esposa, que nunca mais lhe mostrou a cara.Emborapermanecendosobomesmo teto,dirigindocomomximodesveloos trabalhosdomsticos,seomaridoentravaemcasa,recolhiase,aferrolhavasenumaposento,aondeosserviais iamreceberlheasordens.Assimpassouanoseanose,nodiaemque lhemorreuoesposo,calma,semumgestodedor,semumtraodedio,veioprestarlheotimoservio.Pediuqueaspessoaspresentesdeixassemoquartofnebre,cerrouaportae,quandoaabriu,estavaofinadovestidocorretamenteparaircova.Depoisapropriedade,sucessivamente,passouaoutrosdonosagora,dequemseria?Vitorinodesceuovelriodarecordaoabeirousedocrrego,refrescouasmoseorostono fio limpodasguas,outroramaisabunantes,cortandoextenso tremedalondealgunsbovinosperderamavida,pegandoaolocaleacorrenteadenominaodeAfogaboi.HouvequemlhespropusesseonomehistricoPasagemdoFlamengo,relembrandoteremnosastropasholandezasatravessadoquandovieramocuparaaParabamasprevaleceuobatismopopular.Vitorino,semnimodeafrontarasoalheira,voltouaotroncodarvorepararecordarasiprprio.Era talvezoltimodescendenteda famliadeJosNarcisodeCarvalho.Estavapobre, desanimado, desiludido da sorte, quase s portas da velhice, comuns restos deberiberiacurar.Sempai,semme,semlar,emigraraparaoAmazonasaosdezoitoanos.Lseinternara,numalutaconstante,deseringalemseringal.,debarracoembarraco.Umafatalidadeoacomanhavacompersistnciaintangvel.Parecialheterficadonomundopara resgatar todas as culpas dos seus antepassados, inclusive o tenentecoronel JosNarciso,ferrenhoesclavagistaquesetornaralend'rioporsuaavareza.Noentantopossuacinciaperfeitadeno ter,depropsito,concorridopara fazermalaningum!Por fimadoenaobrigouoavoltar,RepatriouseacustadogovernonaterceiraclassedeumvapordaLloydBrasileirae,oobstanteseuhorroraobarraco,iaagoraassumiragernciadeum,parafornecergnerosaostrabalhadoresdaestradaquesefazialigandoacapitalaoportodeCabedelo.Cansoudepensar, tomouamaleta, pegouasbotinas,atravessouoAfogaboi com gua meia canela. Na outra margem calouse, prosseguiu por umaveredaladeirosae,apsdoisquilmetrosdemarcha,desceuparacaminharnumatrilhadeareiaesbranquiadaefofaencandecidapelosoldastrezehoras.Agoraestavanaregiocaractersticadasproximidadesdacostaparaibana.Amataforase,ficaram restos de capoeiras, avultando os cajueiros copados ameigando os terrenos,espalhandonoaroaromaesquisitoeagradveldesuasflores,edosseusprimeirosfrutos.O viajante, embora afeito s durezas da existncia, se ressentia da caminhada. O suormanavalhedosporos,aspernasseemperravamenterrandosenaareia.Noencontravaningum, nemmesmoouvia o canto de umpssaro ou o estrpito de algumanimal nafolhagemcada.Eraosilnciododesertonoapavoravagraasluzformidveldosol.Caminhoupor espaode trshoras, fazendoparadasamideat chegar a uma rsticavivenda, de pu a pique, coberta de folhas de zinco. Alm, outras menores, porm nomesmoestilo.Eraobarraco,eramasbarracasdostrabalhadores.Vitorinoteveumarrepiodepavor.Noviaaflorestaamaznicamasjulgavaasecuradolugar,seuafastamentodospovoados,arecordaodeqeiriainiciarpelacimaquintavezo mesmo gnero de vida de que ia porse em contacto com a mesma espcie deindivduos.Etudolheamargurouaalmanaprevisosinistradeumdesenlacedetragdia!Parou, teve mpetosde recuar,devoltar,pormanecessidadedevivero levouadiante.Chegouse, olhou por uma janela aberta: um cabrocha adolescente ressonava comestrondo,estiradonumaredearmadanaaberturadongulodeenxamesqueconstituamasparedes.Eisanicapssoaliexistentenaquelahora.Vitorinofalou,ooutrodespertouenvergonhado,respondeualgumaspalavras,abriuaportaaorecmvindocujafisionomiaindicavavisveldesgostopraquelaespciedepresdio.Nodiaseguintevrioscaminhestrouxeramasprimeirasmercadorias,aparecendoaocairdanoiteaprimeiraturmadecompradores.Vitorinodespachava,enquantoocabrocha,seuauxiliar,lhepreparavaarefeiododia.(OBarraco,CaptuloI)