Bibliotecas Públicas Numa Comunidade Japonesa · todos têm um livrinho aberto. Um fato que me...

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Bibliotecas Públicas Numa Comunidade Japonesa * CDU 027.625(52) fi. ElzoYukie Moeda Grande é o investimento em Educação 110 Japão, incentivando-se a criança I tomarparte, desde cedo, na vida cultural Ifo país. Estimula-se também a ticipação na vida em grupo a fim desenvolver espírito de cooperação senso de responsabilidade. A caPital da província de Gumna, Maebashi, é uma cidade de pouco mais de 200 mil habitantes, e dista de Tokyo, a capital do Japão, 120Jan. Cer- cada de montanhas, Gumna é bastante convidativa para a prática de esportes de inverno, e de banhos em águas ter- mais. Cidade pequena, mas com todos os melhoramentos que a moderna tec- nologia desenvolveu, Maebashi conta com duas bibliotecas públicas, uma municipal e uma provincial, e várias escolares. A freqüência às bibliotecas públicas é grande, principalmente nas férias escolares de verão (junho/agosto), com exceção dos universitários, que, preferem as bibliote- cas do campus. * Observações de um estágio na Biblioteca Pública da Província de Gunma, Japão, julho/78 a março/79. ** Bibliotecária da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo. 'r".8ibliotecon.Doc. 12 (3/4): 227-230, jul/dez. 1979 227

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Bibliotecas PúblicasNuma Comunidade

Japonesa *CDU 027.625(52)

fi.

ElzoYukieMoeda

Grandeé o investimento em Educação110 Japão, incentivando-se a criançaI tomarparte, desde cedo, na vida culturalIfo país. Estimula-se também a

ticipação na vida em grupo a fimdesenvolver espírito de cooperação

senso de responsabilidade.

AcaPital da província de Gumna,Maebashi, é uma cidade de pouco

mais de 200 mil habitantes, e dista deTokyo, a capital do Japão, 120Jan. Cer-cada de montanhas, Gumna é bastanteconvidativa para a prática de esportesde inverno, e de banhos em águas ter-mais. Cidade pequena, mas com todosos melhoramentos que a moderna tec-nologia desenvolveu, Maebashi conta comduas bibliotecas públicas, uma municipale uma provincial, e várias escolares. Afreqüência às bibliotecas públicas é grande,principalmente nas férias escolares deverão (junho/agosto), com exceção dosuniversitários, que, preferem as bibliote-cas do campus.

* Observações de um estágio na BibliotecaPública da Província de Gunma, Japão,julho/78 a março/79.

** Bibliotecária da Faculdade de Educaçãoda Universidade de São Paulo.

'r".8ibliotecon.Doc. 12 (3/4): 227-230, jul/dez. 1979 227

Elza Yukie Maeda

Devido ao grande número de veí-culos e ao traçado da cidade (a parte quenão foi destruída pelas guerras e/ou lutasinternas, permanece com as casas construí-das rentes às ruas, e estas ruas são estrei-tas e tortuosas, pois foram feitas emtorno de um castelo, que hoje .não maisexiste; a parte nova tem calçadas e aveni-das largas e arborizadas), a velocidadelimite dentro do perímetro urbano é de40 krn/horário. Os cruzamentos maismovimentados têm semáforos que tocammúsicas infantis, quando o sinal estáverde. Nos cruzamentos perto das esco-las, se não houver guarda de plantão,ou não houver semáforos, as criançaspegam bandeirinhas amarelas, que ficamem cestos perto dos postes de ilumina-ção, e, levantando-as, atravessam a rua.Se não houver bandeirinhas, elas erguemum braço, olham para os lados, e atraves-sam. A cor amarela é reservada às crianças:chapéus, capas, guarda-chuvas e malasescolares. O motorista que provocar umacidente, sofre pesadas multas, podendoaté perder a carteira de habilitação. Alei, para quem tem carro, é bastentesevera, incentivando-se o uso de bicicletase de transportes coletivos. As calçadassão divididas: metade para pedestres,metade para ciclistas.

Ó investimento anual na área de edu-cação é muito grande, e as crianças nãopodem se limitar a apenas frequentara escola. Devem exercer atividades' para-lelas, sendo bastante incentivados a leitura,o esporte, a música e as artes plásticas.Pode-se dizer que' o povo japonês é umdos que mais lê no mundo. De pé ousentado, no trem, no metrô, no ônibus,todos têm um livrinho aberto.

Um fato que me deixou 'bastanteentusiasmada, foi o de verificar como osjaponeses adoram viajar, e geralmenteem grupos. O turismo é estimulado.

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sendo que o meio de locomoção maisusado é o trem. Viaja-se o ano inteiroPara se dizer que se conhece bem um~

.região, é preciso ir aí, no mínimo, trêsvezes: na primavera, quando começaa floração; no outono, quando a folha.gem começa a adquirir tonalidades ver-melha ou amarela; e no inverno, quandotudo se cobre de neve. As escolas sãoobrigadas a. ter na sua programação, aomenos uma viagem, mas, geralmenteelas incluem muito mais. .As aulas d~botânica, de biologia, geografia ou his-tória, são mais interessantes no estudo"in loco". . As crianças aprendem a via-jar em grupo, cada qual cuidando do queé seu. E muito comum em qualquerépoca do ano, ver filas de escolares, to-dos uniformizados,com mochilas àscostas, seguindo o .guia que leva umabandeirinha. Visitam castelos, monu-mentos históricos, escalam montanhas,atravessam rios, sempre observando a na-tureza; levam binóculos, máquinas foto-gráficas, e um caderninho onde vão anotan-do tudo.

-\' Desde cedo, a criança japonesa éincentivada a freqüentar uma biblioteca.A princípio acompanhada dos pais, ou dosirmãos mais velhos, depois com os colegas,ou mesmo sozinha. A biblioteca toma-se,assim, uma extensão natural da sua casae da escola.

Situada bem no centro comercialda cidade a Biblioteca Pública Municipalde Maebashi é a que mais crianças recebe·Muitas mães que precisam fazer comp~deixam os filhos aí. Seu acervo infantO;venil contra com mais ou menos 5volumes,' a maior parte ilustrados, e ::boa parte em outros idiomas (pred!).nâncias do inglês, francês e alemoProcura-se também despertar na criatl~o interesse por outros povos, costumesfc'hnguas. As manhãs de sexta-feiras

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Bibliotecas PúblicasN'lma Comunidade Japonesa

rvadas ao conto: uma funcionária: Biblioteca é '. encarregada de contar~rias para a garotada, através de vá.diS cartões desenhados (Kamishibai _

dros mostrando cenas de uma estÓ.rgeralmente coloridos, tamanho 40 x 50di aproximadamente). Há também,.Ias de pintura, entre outras coisas,_te as férias escolares, com exposi.rfIJ dos trabalhos feitos. Para as mães,I uma tranqüilidade poder contar com- biblioteca, bem no centro comer"i;aI, e com -vãrias atividades para entreter

Crianças.

A Biblioteca Pública da ProvínciaGunrna, . por estar ·locálizada fora dotro, procura atrair o público juveniladulto. Mas, para atender as crianças

moram nas imediações, possui umade leitura para elas; são mesas, ca-

e estantes no tamanho adequadomini-usuários. As paredes são deco-

:das com motivos infantis. Uma parteassoalho é revestida de tatamí (tipocarpete, de fibra natural), onde as

. ~ças ficam descalças e à vontade.acervo infantil não chega a mil volu-s (em 1978,0 acervo geral era de

mil volumes); e normalmente hámie disposta a ler um livro para seu

10 e para as demais crianças que quíse-OUvir. A sala das crianças fica aberta

3a.a domingo, das 9 às 17 horas.

Ainda nesta Biblioteca, no 39 andar,o Setor Audiovisual, muito procurado.

Icesso a este setor é livre aos maiores14 anos; crianças, só acompanhadas

~ adulto. Esta exigência se faz devidoIIllÍJneros aparelhos eletrônicos, colo.Ia a dispOSição do usuário. Aqui,

er pessoa pode ouvir disco, fitate, fita em rolo, ou assistir a um

a de televislfo, COm video.casse.OU nã'o. Faz-se empréstimo desses

materiais, além de fIlmes de 8 e 16 mm,projetores de filmes e de slides, telas deprojeção, ete. Para estudo em grupo, háUma sala com 15 aparelhos de TV, COmprojeção em circuito fechado. nestesaparelhos pode-se projetar /diapositivos,filmes ou video-cassetes, pois eles estãoligados a outros aparelhos, permitindo-sea sua máxima utilização.,

Há ainda neste andar, um auditó-rio, COm capacidade para 200 pessoas.Geralmente, COm6 meses de antecedência,são programados palestras, concertos, fil-mes; aos sábados, a partir das 13:30 h,há itlmes ou concertos, inclusive paracrianças.

Um serviço relevante que as biblio-tecas prestam à população da periferia,são as bibliotecas volantes. São ônibus-bi-bliotecas que atingem toda a província.As cidades de maiores recursos têm seusônibus bibliotecas, e as demais, são ser-vidas pelo Akagui-ni-go, Como são deno-minados oS ônibus-biblioteca da Biblio-teca Pública da Província de Gunma.O Akagui-ni-go, a cada 15 di,'. volta amesma região, e num único di.t percorre4 ou 5 cidades, tudo dentro de um roteiropré-estabelecido.I

Há na província, um vilarejo cha-mado Sakai. Fica a mais ou menos umahora de Maebashi, e tem cerca de 20 milhabitantes. Apesar de se localizar pertode uma outra grande cidade, pertenceâ rota do Akagui-ni-go, O depositárioé a própria biblioteca local, que alémdo seu acervo, fica com um novo a cada15 dias, geralmente de livros que nãoexistem na biblioteca local. Neste vilarejo,cuja maior parte da população vive daagricultura, há uma biblioteca no meioda lavoura: uma casa antiga, cujo pro-prietário construiu uma nova em frente,e deixou a antiga para uso de terceiros.

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fazer as tarefas escolares. Inclusive.", •••0elas que procuram manter a casa limpaeem ordem; Semanalmente, vem um fun-cionário da Biblioteca de Sakai, para vercomo andam as coisas. As comunicaçõessão feitas através de bilhetes: relatóriosdos empréstimos, solicitação de materialbibliogrãfico, etc.

Elza Yukie Maeda

A biblioteca de Sakai tem aí uma ramalda sua. O acervo desta, constitui-se,na maior parte, de livros infantis, poissão as crianças da redondeza que mais autilizam e controlam o seu empréstimo.Enquanto estão na escola, a bibliotecapermanece fechada, porque seus paisestão na lavoura (os pais somente vão-seutilizar dela, depois do entardecer, quandonão se pode mais trabalhar a terra, ouno inverno, e nesse caso um adulto é oresponsável pelo empréstimo). Comoesta casa é grande, as crianças reúnem-seaí para ler, conversar, desenhar, pintar,

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Estimuladas a participar da vidaemgrupo, cria-se nas crianças o senso de res-ponsabilidade e de cooperação. É muitodifícil ouvir falar de livros perdidos ourasgados.

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