Bibliografia Sobre Escravos
date post
02-Mar-2018Category
Documents
view
215download
0
Embed Size (px)
Transcript of Bibliografia Sobre Escravos
7/26/2019 Bibliografia Sobre Escravos
1/49
527
BIBLIOGRAFIA DE HERLDICA
MEDIEVAL PORTUGUESA
7/26/2019 Bibliografia Sobre Escravos
2/49
ESTUDOS DE HERLDICA MEDIEVAL528
7/26/2019 Bibliografia Sobre Escravos
3/49
529B
Bibliografia de herldica medieval portuguesa
Miguel Metelo de Seixas
Consideraes prvias
O convvio entre herldica e produo cientfica no tem sido, de uma orma
geral, nem cil nem linear. Os motivos provm sem dvida de diversos actores, mas
o cerne da questo oi resumido por Faustino Menndez Pidal de Navascus:
as en general enunciada [la herldica] no h tenido a veces buena ama,
en parte com razn, porque mucho de lo escrito bajo este nombre no merece
consideracin cientfica, y en parte sin ella, porque no debi trasladarse al asunto ladesestima imputada a los textos. Pero ue tanta la insistencia en aspectos de inters
nulo o escaso y tantas las interpretaciones desatinadas, que algunos llegaron a juzgar
imposible lograr mejores rutos en esa materia.1
Questo, pois, de preconceito dos historiadores em relao matria herldica
ou aos heraldistas; e, como reaco e compensao, esplndido isolamento destes
em relao ao mundo acadmico. Com honrosas excepes de parte a parte,
naturalmente. Mas parece sintomtico que a mais recente publicao sobre
historiografia de Portugal medieval tenha omitido qualquer reerncia produo
de trabalhos herldicos: prova cabal de um divrcio que teima em persistir2.
Ao indagar as razes de ser deste preconceito mtuo, verifica-se que elas
nasceram em orte medida da imagem do saber herldico tal como oi construda
at h pouco tempo atrs (para no dizer at hoje) pelos heraldistas. Essa imagem
a de um saber de natureza abstracta e normativa, baseado num lxico e numa
gramtica prprios, dirigido para intuitos classificativos, identificativos e de ordem
simbolgica. al entendimento radica na viso que os tratadistas oram erguendo
desde o final da Idade Mdia e ao longo do Antigo Regime3; viso que, no sculo
XIX, acabou por transitar, sua maneira, para a classificao e o uso da herldica
enquanto cincia auxiliar da histria.
1MENNDEZ PIDAL DE NAVASCUS, Faustino, Los emblemas herldicos. Una interpretacin histrica,Madrid, Real Academia de la Historia, 1993, p. 13.
2 MAOSO, Jos (dir.), Te historiography o medieval Portugal (c. 1950-2010), Lisboa, Instituto deEstudos Medievais, s. d. [2012]. Em todo o livro, apenas liminarmente aparecem duas reerncias a artigos queversam sobre temtica herldica, ambas em contexto marginal: a primeira na p. 220, nota 48; a segunda na p.622, nota 63.
3BOUDREAU, Claire, LHritage symbolique des hrauts darmes. Dictionnaire encyclopdique de lenseigne-ment du blason ancien (XIVe XVIesicles) (prace de Michel Pastoureau),Paris, Le Lopard dOr, 2006, 3 vols.
7/26/2019 Bibliografia Sobre Escravos
4/49
ESTUDOS DE HERLDICA MEDIEVAL530
certo que, a partir de meados do sculo XX, se operou uma prounda
renovao epistemolgica, condensada na obra de Michel Pastoureau e por ela
diundida, em resultado da qual a herldica passou a ser encarada como um ramo do
saber historiogrfico4. Logo na introduo, Pastoureau definia a herldica como umramo da historiografia e fixava metas para a alterao dos seus estudiosos, declarando
que at ento
Bon nombre dentre eux ne sont venus lhraldique que par le biais des
recherches gnalogiques ou des vanits nobiliaires. Dautres, moins nombreux mais
plus spcieux, nont recherch dans les armoiries que de mystrieux symboles et les
traces prtendues dun langage sacr. Entre les marchands danctres et les amateurs
dhermtisme, rares ont t les hraldistes qui ont essay de aire oeuvre dhistorien.Il est aujourdhui grand temps quentre lhraldique gnalogique et nobiliaire et
lhraldique sotrique et symbolique, lhraldique vritablement scientifique prenne
enfin la place qui lui convient.5
al lugar tinha de assentar numa renovao epistemolgica e metodolgica,
baseada na ormulao de problemticas como, entre outras, a crtica das ontes, a
origem das armas, a sua diuso social, as tendncias e modas na escolha das cores e
das figuras, a relao que elas mantinham com os enmenos da psicologia individuale colectiva, da sensibilidade, do gosto, da moral, da cultura. Afigurava-se sobretudo
necessrio entender as armas como um cdigo social revelador da identidade e da
personalidade dos seus utentes; e, se a primeira destas vertentes correspondia aos
estudos tradicionais, j a segunda abria perspectivas novas e ligava-se no apenas
aos demais aspectos do conhecimento histrico, mas a uma srie de outros ramos
do saber6. raavam-se pois pistas para um entendimento comum ou pelo menos
uma base comparativa de diversos cdigos emblemticos, mediante recurso a
4PASOUREAU, Michel, rait dHraldique, Paris, Bordas, 1979. Obra sucessivamente reimpressa em1993, 1997, 2003 e 2008. Note-se porm que este autor no apareceu de orma desenquadrada: ele prprio reerealguns dos seus precursores imediatos ou mulos, como Rmi Mathieu, Donald Lindsay Galbreath, Lon Jquier,Herv Pinoteau, Michel Popoff, entre outros. Mas oi de acto Pastoureau quem logrou sistematizar as correntesde renovao dos estudos herldicos e projectar estes, no mundo acadmico, para uma dimenso que eles atento desconheciam. E dot-los de alcance, continuidade e ramificaes igualmente inditos.
5IDEM, Ibidem, p. 12.6IDEM, Ibidem, p. 15. Este alargamento do mbito da herldica no sentido de estabelecer uma compara-
o entre as armas e outros enmenos emblemticos, e traar pontos de contacto com outras cincias humanas esociais j estava patente, por exemplo, na exposio Emblmes, otems, Blasons, organizada no Muse Guimet,em Paris, no ano de 1963. Emblmes, otems, Blasons. Muse Guimet. Mars-Juin 1963, Paris: Ministre dtat/
Affaires Culturelles, 1963. Veja-se em particular a introduo de Pierre Francastel (pp. XI-XVI) e os textos deRmi Mathieu (pp. 69-73), Paul Adam (pp. 74-75), Lon Jquier (pp. 101-102), Jean-Claude Loutsch (pp. 105-106), Szabolcs de Vajay (pp. 109-111), A. Heymowski (pp. 115-116) e Ren Le Juge de Segrais (pp. 147-153).
7/26/2019 Bibliografia Sobre Escravos
5/49
531B
diversificadas reas cientficas. A herldica entrava assim em contacto no apenas
com outros ramos da historiografia, mas tambm com dierentes cincias humanas
e sociais, com as quais poderia vir a construir relaes de intercmbio e mtuo
proveito7. Esta diversificao revelou-se essencial para ultrapassar o quadro limitadoe limitativo da herldica entendida como mero instrumento de identificao dos
detentores das armas, e para se alar a um nvel interpretativo e analtico. A tnica
principal radicava na ideia de que as armas so, antes de mais, signos; e, como tal,
pressupem a existncia de uma conscincia que lhes conere algum tipo de valor.
Nessa relao entre signo e significado residia o objecto preerencial da nouvelle
hraldique, consequentemente ligada de orma ntima histria das mentalidades
e histria social, pois as armas devem ser entendidas como signes ayant pouronction de situer les hommes dans des groupes et ces groupes dans lensemble de
la socit8.
Na segunda edio do seu tratado, em 1993, Pastoureau acrescentou um
captulo final intitulado Quinze ans de recherches hraldiques, em que azia o ponto
de situao do que, no seu entender, havia mudado desde 1979. Salientava o autor
a significativa penetrao da herldica nos meios universitrios e, de orma mais
abrangente, nos trabalhos cientficos, a tal ponto que se tornara possvel a seguinte
afirmao: lhraldique nest plus comme nagure une discipline rprouve ou
mprise, mais une science reconnue. Reeria tambm as relaes eectivas e procuas
estabelecidas com outros ramos do saber, em particular a semiologia, a histria da
cultura, das mentalidades, das ideologias, da simblica, que lhe permitiam concluir:
lhraldique a su multiplier ses enqutes, enrichir sa documentation, transormer
ses mthodes et renouveler presque entirement ses problmatiques9. Em resultado
e demonstrao de tal renovamento, a bibliografia de obras produzidas nesta rea
disparara para nveis inditos. No obstante, permanecia um certo desequilbriodas pesquisas, tanto do ponto de vista das pocas e das regies, como das temticas
7Cr. VAJAY, Szabolcs de, Linterdisciplinalit: le contexte interdisciplinaire de gnalogie et dhraldiqueen tant que sciences sociales, in Lidentit genealogica e araldica. Fonti, metodologie, interdisciplinarit, prospet-tive. Atti del XXIII Congresso internazionale di scienze genealogica e araldica. orino, Archivio di Stato, 21-26settembre 1998, Roma: Ministero per i Beni e le Attivit Culturali / Ufficio Centrale per i Beni Archivistici, 2000,vol. II, pp. 821-826.
8 PASOUREAU, Michel, rait dHraldique, p. 289. A renovao epistemolgica condensada norait dHraldique oi devidamente assinalada por Jean-Claude Schmitt, que lhe dedicou uma recenso crticana revistaAnnales. Histoire, Sciences Sociales, 38eanne, n. 1, Jan.-Fev. 1983, pp. 207-209. Alm de assinalar a
importncia de que o tratado se revestia para o redimensionamento da herldica, o autor prognosticava que aobra de Pastoureau contribuera donner lhraldique la place qui lui revient dans lhistoriographie actuelle.
9PASOUREAU, Michel, rait dHraldique, p. 290.
7/26/2019 Bibliografia Sobre Escravos
6/49
ESTUDOS DE HERLDICA MEDIEVAL532
abrangidas: questes como a origem das armas, a filologia do braso, a herldica
imaginria, as relaes com outras ormas de emblemtica haviam suscitado estudos