Bessa A Descoberta dos Museus pelos Índios

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    Pr-ndio Busca no site PROGRAMA DE ESTUDOS DOS POVOS INDGENAS

    Volta - Etnomuseologia

    A Descoberta dos Museus pelos ndios

    (FREIRE, Jos R. Bessa. A descoberta do museu pelos ndios. Terradas guas - Revista semestral do Ncleo de Estudos Amaznicos daUniversidade de Braslia, ano 1, n.1, sem.1999.)

    AS EXPERINCIAS INDGENAS

    O museu Magta

    O Museu Magta um museu tribal, destinado a promover e preservar a cultura dos ndios

    Ticuna, que vivem em quase 100 aldeias espalhadas por oito municpios do Estado do Amazonas, na

    regio do Alto Solimes. Sua populao est estimada em 28.000 ndios no Brasil, 7.500 na Colmbia e

    5.500 no Peru. Todos eles falam a lngua Ticuna - uma lngua isolada, isto , no filiada a qualquer

    famlia lingstica - sendo que, no Brasil, 60% so bilinges e falam tambm o portugus.[1]

    O Museu est situado em Benjamin Constant, uma pequena cidade de 15 mil habitantes,

    localizada na confluncia dos rios Javari e Solimes, prximo fronteira do Brasil com o Peru e a

    Colmbia. Foi instalado em uma casa de arquitetura simples, com varandas ao redor, cinco salas de

    exposio e uma pequena biblioteca, cercado por um jardim com flores, onde crescem tambm algumas

    espcies botnicas usadas na confeco e decorao de artefatos indgenas.

    Suas colees foram formadas, uma parte com o trabalho de artistas indgenas, especializados

    em diferentes artes: confeco de mscaras rituais, esculturas de madeira e de cocos de palmeira, pintura

    de painis decorativos de entrecasca, fabricao de colares, cestos, redes e bolsas. Outra parte, com a

    recuperao de certos artefatos hoje j em processo de extino ou em desuso, reconstitudos a partir de

    fotografias antigas pertencentes a museus etnogrficos, entrevistas com ancios e registros feitos desde1929 pelo etnlogo Curt Nimuendaj. [2]

    As atividades de organizao do Museu iniciaram-se em 1988, num momento crtico em que os

    Ticuna estavam mobilizados na luta pela defesa de seu territrio, enfrentando-se at mesmo com grupos

    armados. Neste ano, no ms de maro, pistoleiros emboscaram um grupo de ndios no Igarap do

    Capacete, matando 14 deles entre homens, mulheres e crianas e ferindo 23, com 10 desaparecidos, num

    massacre que teve ampla repercusso nacional e internacional. (OLIVEIRA FILHO e LIMA: 1988) [3]

    Os conflitos no impediram que os trabalhos do museu prosseguissem. Durante trs anos, de

    1988 a 1991, os ndios participaram ativamente na organizao do acervo, colaborando na definio dos

    objetos, no levantamento dos dados sobre cada pea, na seleo daquelas destinadas exposio e no

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    desenho das ilustraes para sua contextualizao, como testemunha Jussara Gomes Gruber que, como

    assessora, teve um papel decisivo na criao, planejamento e instalao do Magta.

    Segundo ela, a notcia da existncia do Museu se espalhou rapidamente pelas aldeias, as mais

    distantes, de onde comearam a chegar objetos, alguns confeccionados fora dos padres usuais daqueles

    destinados venda, denominados de experincias, criados especialmente para o Magta, como a

    escultura em madeira representando um ndio pescador. O resultado foi que antes da montagem final, o

    acervo j dispunha de 420 peas, todas registradas e devidamente fichadas por Constantino Ramos Lopes

    Cupeatc, ndio Ticuna, que havia escapado do massacre do Capacete com um ferimento bala e

    tornara-se responsvel, depois do treinamento correspondente, pela guarda do acervo e sua dinamizao.

    Essa surpreendente mobilizao tem vrias explicaes, que no se excluem. Uma delas parece

    estar relacionada luta pela demarcao das terras. que o direito dos Ticuna terra dependia, em

    grande parte, de serem reconhecidos como ndios pela sociedade brasileira, assumindo plenamente sua

    identidade tnica, muitas vezes escondida por eles prprios e negada sempre pela populao regional,

    para quem os ndios eram caboclos. O Museu Magta, servindo como um renascimento da cultura

    Ticuna, vinha justamente fortalecer essa identidade (CUPEATC: 1991, 257).

    Mas os ndios no foram os nicos a pressentir essa relao museu - terra. Desconfiaram dela

    polticos, madereiros e latifundirios, que buscaram apoio popular local contra o Museu, com relativo

    sucesso. O prprio prefeito de Benjamin Constant convocou uma concorrida manifestao de rua,

    carregada de hostilidade, contra a demarcao das terras indgenas, em frente ao museu, na hora prevista

    para sua inaugurao, obrigando o cancelamento da solenidade e seu adiamento. A exposio permanente

    s foi aberta ao pblico trs semanas depois, em dezembro de 1991, graas repercusso na imprensa,

    aos protestos de instituies como a Universidade do Amazonas e o Conselho de Reitores das

    Universidades Brasileiras(CRUB) e interveno do Comando Militar da Amaznia.[4]

    A exposio inaugurada mostrava, logo na entrada, um mapa com a localizao das aldeias

    Ticuna, iconografias histricas de cronistas e viajantes e fotos de antigas malocas, que confirmavam a

    presena dos ndios em reas que os madereiros agora reivindicavam. Depois, desenhos feitos pelos

    prprios ndios, com textos de apoio, reproduziam o mito de criao, seguidos de dados sobre a lngua, a

    organizao social e fotos de objetos que hoje esto em desuso.

    Os demais objetos, contemplando diferentes aspectos da cultura Ticuna, estavam expostos nas

    outras salas. Alguns deles representavam para os ndios a nostalgia, a idealizao de um tempo passado e

    o desejo de conservar e perpetuar esse tempo. o caso exemplificado pelo Ticuna Gilberto Lima, que

    depois de visitar a Exposio, escreveu: Gostei mais da msica de festa que estava tocando no Museu.

    Da msica, porque minha me cantava para mim. E era muito bonita, realmente era(Boletim do Museu

    Maguta, mai/out.1993, 8). Outras, expressavam a vontade de mudana, a atualizao da cultura, as

    adaptaes a uma nova maneira de viver e reinterpretar o mundo. Etiquetas registravam em portugus e

    em lngua Ticuna o nome de cada pea e o nome de quem a fabricara (BOLETIM DO MUSEU

    MAGUTA: 1994, 3/9).

    Na montagem da exposio teve-se o cuidado de apresentar os objetos de maneira a no reforar o

    estigma de atraso e primitividade que marca as populaes indgenas de modo geral. Na ambientao das peas

    optou-se por recursos que podem ser vistos nos melhores museus do pas. Assim, ao invs de se usarem palhas,

    esteiras e amarrao de cip, fabricaram-se painis e cubos de madeira pintada e vitrine para proteger os objetos

    menores. A exposio apresenta um desenho leve, alegre, com recursos museogrficos que visam produzir um

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    impacto de natureza cognoscitiva e esttica, de modo a valorizar a riqueza e a complexidade da cultura ticuna.

    (GRUBBER: 1994, 90)

    Nos primeiros cinco anos, a exposio do Museu Magta foi visitada por mais de seis mil

    pessoas, de acordo com o livro de registro de visitantes. Trata-se de um pblico bastante variado,

    composto por turistas estrangeiros de mais de 40 pases, brasileiros de todos os recantos, populao

    regional, pesquisadores, alunos e professores das escolas de Benjamin Constant e os prprios ndios.

    Alm disso, apoiou as atividades do curso de formao de professores indgenas da OGPTB -

    Organizao Geral de Professores Ticuna Bilinges (FREIRE: 1995). Devido inexistncia de

    bibliotecas escolares ou municipal, a biblioteca do Magta, com um acervo de quase 3.000 ttulos, atendeu

    anualmente mais de mil alunos no indgenas das escolas da rede pblica (FARIA:1996).

    O Museu importante para os Ticuna porque a tem muita coisa boa da gente. Os brancos

    vo ver e vo nos respeitar (BOLETIM DO MUSEU:1993, 2/10). Essa era a avaliao do ndio Alfredo

    Geraldo. Nascido sob o signo do conflito, o Museu Magta, efetivamente, interferiu na imagemetnocntrica que parte da populao local tinha sobre os ndios, contribuindo para pacificar e serenar os

    nimos na regio. Os madereiros j no encontraram apoio da populao local, quando em junho de 1995

    ameaaram incendiar o Museu, segundo denncias feitas pela COIAB ao ministro da Cultura, Francisco

    Weffort. Em outubro de 1995, durante a exposio Esculturas Ticuna organizada em Manaus, foi

    possvel fazer o seguinte balano:

    O trabalho educativo do Museu - atravs de um programa de interao com as escolas da cidade, que

    tem por finalidade aproximar as novas geraes da cultura e da histria dos Ticuna - vem cumprindo a importantefuno social de promover uma maior harmonia nas relaes intertnicas na regio, colaborando para que sejam

    desfeitas, gradativamente, as idias preconceituosas e discriminatrias a respeito das populaes indgenas

    (GRUBER: 1995).

    Devido sua singularidade e importncia, o Museu Magta foi premiado pelo ICOM - o

    International Council of Museums - como Museu Smbolo de 1995, o que repercutiu favoravelmente no

    Congresso Internacional desta entidade filiada UNESCO, realizado em julho do mesmo ano em

    Stavanger, Noruega. No plano nacional, obteve o prmio Rodrigo Mello Franco de Andrade, concedido

    pelo IPHAN - Instituto do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional, por sua contribuio na preservaoda memria cultural brasileira.

    No entanto, quando tudo parecia concorrer para a consolidao do Museu Magta, suas

    atividades foram suspensas em meados de 1997, permanecendo com as portas fechadas at os dias atuais

    (fevereiro de 1998), no meio de uma grande crise interna ainda no superada, envolvendo o grupo de

    apoio e os prprios ndios. Uma anlise mais cuidadosa da crise poder esclarecer o que aconteceu,

    efetivamente, com uma instituio que foi nica no Brasil e que merece continuar existindo.

    Uma museloga, Maria Helena Cardoso de Oliveira e uma aluna concludente do Curso de

    Museologia, Alessandra Marques, estiveram na rea e aplicaram cerca de 400 questionrios para avaliar arelao do Museu Magta com os ndios, a populao regional e os turistas. A redao final s deve estar

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    concluda em junho de 1998. Mas uma informao aflorou imediatamente nos questionrios, mostrando

    que a maioria da populao no-indgena de Benjamin Constant sequer tinha visto antes um museu,

    acreditando alguns at hoje que a instituio de origem Ticuna (MARQUES: 1998).

    No se pode prever o futuro do Magta. Mas uma coisa certa: ele possibilitou que ndios e

    no-ndios entrassem pela primeira vez em um museu. Mostrou s lideranas indgenas de todo o Brasil a

    fora que pode ter um museu para reafirmar a identidade de uma etnia e para modificar a imagem que os

    brasileiros tm sobre os ndios. E despertou em muitos grupos indgenas, que tomaram conhecimento de

    sua existncia, a vontade de criar novos museus tribais, como o caso dos Guarani, que vivem nas

    aldeias situadas em Angra dos Reis e Parati (RJ), e dosDesana da aldeia So Joo, no rio Tiqui, alto rio

    Negro, (AM). (LANA & RIBEIRO: 1991). Suas atividades repercutiram, certamente, sobre duas outras

    experincias realizadas na mesma poca a mais de 3.000 km. de distncia, em So Paulo: A Embaixada

    dos Povos da Floresta e o Centro Cultural IndgenaAmb Arandu.

    A EMBAIXADA DA FLORESTA

    No perodo colonial, os bandeirantes organizavam expedies armadas, que saam da cidade de

    So Paulo para as mais diferentes regies do Brasil, com o objetivo de escravizar ndios. No sculo

    XVIII, eles construram um prdio, que duzentos anos depois seria tombado para sediar um museu, com

    um respeitvel acervo etnogrfico - a Casa do Sertanista - subordinado ao Departamento do Patrimnio

    Histrico da Prefeitura de So Paulo.

    ndios desarmados, fazendo o caminho inverso dos bandeirantes, obtiveram em 1989 a

    permisso da prefeita de So Paulo, Luza Erundina, eleita pelo Partido dos Trabalhadores, para

    instalarem a, na Casa do Sertanista, em Caxingui, Zona Oeste, um centro cultural ndigena, denominado

    Embaixada dos Povos da Floresta. O prdio, em estado precrio de conservao, foi restaurado e, no

    ano seguinte, a Embaixada foi inaugurada. [5]

    Uma ONG formada por ndios - o Ncleo de Cultura Indgena (NCI) - administrou a

    Embaixada dos Povos da Floresta. Seu presidente Ailton Krenak, reconhecido nacionalmente,

    sobretudo depois de defender, em setembro de 1987, uma das emendas populares sobre direitos dos ndios

    no plenrio do Congresso Nacional, em Braslia. Do seu conselho consultivo fazem parte vrios lderes

    indgenas:xavante, terena, krenak, karaj.

    O NCI j havia acumulado alguma experincia, com a montagem de exposies de pequeno

    porte em sua sede, instalada na poca no prdio do Instituto Sedes Sapientiae. Desde sua criao em 1985,

    realizou inmeros eventos, utilizando imagens, textos e objetos como importantes meios de divulgao e

    promoo da cultura indgena. A sua primeira grande exposio - A Terra Azul - aconteceu durante a

    Semana do ndio de 1986, no Centro Cultural So Paulo, com mostra de fotografias, textos, mapas,

    informaes, vdeos, shows e ampla repercusso na mdia.

    O Ncleo atuou ainda em outros campos. Criou e manteve no ar durante cinco anos o primeiro

    programa de rdio dirigido e apresentado por ndios - o Programa de ndio - transmitido pela Rdio

    Universidade de So Paulo e por outras emissoras em outros estados do Brasil. Deu incio a outro ensaioradiofnico - oJornal Indgena e apoiou vrios projetos pilotos em reas da Amaznia, Cerrado e Mata

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    Atlntica.

    Toda essa experincia acumulada contribuiu para o desenvolvimento de atividades na

    Embaixada dos Povos da Floresta que, ao longo de trs anos, promoveu exposies, performances,

    workshops, cursos, mostras de vdeos, shows, encontros entre culturas e manteve aberta para consulta

    uma biblioteca especializada na temtica indgena e meio ambiente, com obras de vrios pases, arquivo

    de fitas dos programas de rdio e um importante acervo de msica indgena, conforme informa Ailton

    Krenak. As exposies ali montadas foram visitadas por milhares de crianas de escolas da cidade de So Paulo e do interior

    do Estado, num trabalho de reeducao, permitindo o contato direto das crianas com o povo indgena atravs de oficinas de

    arte, de canto, dana e convvio com a tradio oral (KRENAK: 1996, 15).

    No seu ltimo ano de funcionamento, em 1992, a Embaixada/NCI montou uma grande

    exposio fotogrfica sobre o povo Yanomami e lanou, na ocasio, uma srie de cartes postais, a partir

    de fotos da fotgrafa Rosa Gauditano, com imagens do cotidiano de vrios grupos indgenas: Yanomami,

    Tukano, Xavante, Kayap e Karaj, dentro da estratgia de divulgao do que existe de mais forte e belo

    nas culturas indgenas.

    A Embaixada dos Povos da Floresta foi obrigada a encerrar suas atividades no final da gesto

    Luza Erundina, quando a Casa do Sertanista foi ento devolvida Prefeitura de So Paulo, no incio de

    1993. Mas o NCI continuou realizando exposies, mostras e intervenes culturais em outros espaos de

    So Paulo, Bahia e Minas Gerais, com o apoio de vrias instituies nacionais e internacionais, entre as

    quais a Comunidade Econmica Europia e a Chancelaria da ustria.

    O pblico das exposies e mostras do NCI, diferentemente do Museu Magta, basicamente

    um pblico branco, urbano, escolarizado, de cidade grande, acostumado a freqentar museus,

    familiarizado com sua linguagem e educado por eventos como a Bienal de So Paulo que, ao exibir em

    1983 como seu carro-chefe a arte plumria dos ndios no Brasil, permitiu o encontro deste pblico coma produo artstica indgena, mantida quase sempre margem de manifestaes de carter erudito.

    O outro pblico, formado pelos ndios que vivem em So Paulo, foi contemplado por um

    projeto de Centro Cultural Indgena, batizado de Amb Arandu, desenvolvido pelos Guarani da aldeia de

    Barragem, em Parelheiros (SP), com financiamento de doaes alems. Fotos com detalhes da construo

    do prdio, dentro da rea do Morro da Saudade, zona sul da cidade, foram exibidas na exposio ndios

    no Brasil, organizada pela Secretaria Municipal de Cultural de So Paulo em 1992 (GRUPIONI:1994,

    269).

    A sede do CentroAmb Arandu era ento a nica construo de concreto da aldeia, formada porconstrues em pau-a -pique e madeira. Apesar disso, foi planejada para obedecer as mesmas linhas

    arquitetnicas usadas pelos Guarani: a frente voltada para o nascer do sol e a cobertura em ponta. Este

    Centro, semelhana do Magta, foi pensado tambm como apoio ao da escola indgena,

    alfabetizando as crianas em Guarani e ensinando o portugus como segunda lngua, alm de organizar

    aes pedaggicas na rea de apicultura, piscicultura e outras atividades.( Folha de So Paulo - 13/11/91).

    Essas iniciativas - a Embaixada dos Povos da Floresta e o Centro Cultural Amb Arandu -

    constituem duas abordagens diferenciadas, mas complementares: uma em rea urbana, voltada para uma

    audincia externa, com uma preocupao temtica mais ampla, pluri-tnica; a outra, na periferia, prioriza

    o pblico interno e focaliza uma determinada cultura, aprofundando a viso sobre ela. De qualquer forma,ambas - como o Museu Magta - familiarizaram os ndios com as prticas e os efeitos museogrficos, ao

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    mesmo tempo em que se constituam como prolongamentos das tradies indgenas de contar histrias,

    de colecionar objetos e de represent-los visualmente. (CLIFFORD: 1991, 214).

    AS EXPOSIES ETNOGRFICAS

    O Museu Amaznico: memrias da Amaznia

    s margens do igarap de Manaus, que corta o centro da cidade, entre as antigas pontesromanas, foi construdo um palacete no incio do sculo, para ser a residncia particular do cnsul daustria em Manaus (AM), o empresrio Waldemar Scholz. Com a crise da borracha, em 1918, o Governodo Estado do Amazonas comprou-o para ser sede do Poder Executivo e residncia oficial do governador,funo que cumpriu at bem recentemente, quando foi transformado no Centro Cultural Palcio RioNegro.

    Foi a, entre abril e junho de 1997, que o Museu Amaznico da Universidade do Amazonas

    realizou a exposio Memrias da Amaznia: Expresses de Identidade e Afirmao tnica. Seu

    diretor na poca, Geraldo S Peixoto Pinheiro, j havia aberto as portas da instituio para os ndios,realizando diferentes mostras de arte indgena, esculturas e tranado, quando ento definiu uma linha de

    defesa da preservao do patrimnio histrico-cultural, do fazer e refazer das memrias sociais, das

    lutas de restituio das vivncias histricas silenciadas e das complexas culturas dos Povos Indgenas da

    Amaznia e seus signos identitrios (PINHEIRO: 1995).

    Esta exposio, montada anteriormente pela Universidade de Coimbra, em 1991, com o ttulo

    Memria (no singular) da Amaznia, se situava dentro dessa perspectiva. formada por peas das

    colees etnogrficas de Alexandre Rodrigues Ferreira, que escaparam da pilhagem das invases

    francesas do incio do sculo XIX e se encontram, atualmente, sob a guarda de diferentes instituies

    portuguesas (MAUC: 1991).

    As peas foram coletadas entre 1783 e 1792 pelo cientista Alexandre Rodrigues Ferreira, que

    percorreu as capitanias do Gro-Par, Rio Negro, Mato Grosso e Cuiab, com objetivos cientficos.

    Milhares de exemplares de plantas, animais, minerais e objetos fabricados pelos ndios que habitavam a

    regio foram enviados a Portugal. Trata-se da primeira coleta sistemtica feita na Amaznia, inaugurando

    uma tradio desenvolvida por outros naturalistas e viajantes no sculo XIX. (AREIA e MIRANDA:

    1991).

    Selecionados e descritos por Tekla Hartmann, do Museu Paulista da USP, cerca de 300 objetos

    desta coleo, confeccionados pelos ndios, foram trazidos, temporariamente, de volta Amaznia,

    duzentos anos depois. Quando possvel, foram identificados individualmente por regio e etnia, o que

    permite perceber as especificidades de culturas particulares e comparar objetos semelhantes de culturas

    diferentes (MUSEU AMAZNICO:1997). Foram agrupados em quatro conjuntos, nos espaos

    correspondentes aos diferentes domnios do mundo em que so utilizados:

    1. O Mundo Humano da Aldeia, com aproximadamente cem peas: instrumentos de trabalho,

    utenslios domsticos, ornamentos, objetos rituais dos mais diferentes grupos indgenas, entre os quais,

    ralos, furadores, goivas, tipitis, abanos, jarros, bilhas, vasos, taas, coifas, faixas emplumadas, colares

    diversos, cestos, estojos, lanas cerimoniais, tangas, pulseiras, pentes, porta-beb.

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    2.O Mundo Natural da Floresta e dos Inimigos, com mais de 80 peas, entre as quais

    zarabatanas, bordunas, lanas, clavas, arcos e flechas, com informaes sobre o seu uso. Nem todas,

    porm, possuem indicaes precisas sobre sua procedncia tribal. A documentao indita da viagem de

    Alexandre Rodrigues Ferreira, que ainda dorme em tantos arquivos, seria de grande interesse, pois as suas

    relaes de remessas de objetos poderiam talvez elucidar a questo (HARTMANN:1991,178).

    3. O Mundo Estranho dos Brancos, composto de aproximadamente 40 objetos: bilhas, vasos,

    pratos, mas a maioria deles so cuias revestidas externamente de tinta preta opaca, sobre as quais as ndias

    de Monte Alegre e Santarm desenvolveram as mais diferentes ornamentaes coloridas: ramos de flores,

    pssaros, rvores, frutas.

    A ornamentao dos artefatos at agora apresentados, de caractersticas estranhas a

    qualquer estilo tribal da rea amaznica, aponta para a existncia, em fins do sculo XVIII, de

    um animado comrcio do que hoje se costuma chamar arte turstica. Feita por ndios

    aculturados vivendo sombra do colonizador, ela responde s exigncias estticas de ummercado consumidor de origem europia (HARTMANN:: 1991, 128).

    4. O Mundo dos Sobrenaturais composto de cerca de 50 objetos rituais, entre os quais

    mscaras, vestimentas, trombetas, maracs, flautas de osso, bancos, exemplares do Porantim - o remo

    sagrado dos Sater-Maw - e todo o equipamento para inalar o paric: aspiradores, inaladores, cachimbos,

    pranchetas e estojos.

    O paric o nome local de uma substncia alucingena extrada das sementes de rvores do

    gnero Piptadenia . Seu uso cerimonial, sobretudo pelos ndios Mura e Maw, era elaborado de forma

    sofisticada: casas especiais e momentos determinados para a sua aspirao pelos homens, alm de um

    conjunto de equipamentos que inclua bandejas ricamente lavradas, aspiradores de osso de diversos tipos,

    pincis de pelos de animais e recipientes para o armazenamento do p feito de grandes caramujos

    terrestres, conforme descreve Tekla Hartmann.

    O complexo cerimonial do paric desapareceu antes que pudesse ser estudado o seu papel e

    seu significado nas sociedades Mauh e Mura. Atestam sua importncia os poucos exemplares

    de pranchetas dispersas por diversos museus do mundo: obras de arte de escultura em

    madeira, repletas de um denso contedo simblico. (HARTMANN:1991,130)

    A Exposio apresentou ainda cerca de 30 aquarelas e desenhos originais do acervo da

    Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, executados pelos dois desenhistas que acompanharam a viagem de

    Alexandre Rodrigues Ferreira: Codina e Freire. Foram expostas de modo a complementar a apreciao

    visual dos objetos, com informaes sobre sua utilizao, como o caso do ndio Mura inalando paric.

    No entanto, o toque extraordinrio da Exposio, pela surpresa que provocava e pela forte carga

    simblica que continha, foi dado por duas malocas indgenas, erguidas nos jardins dos fundos do Palcio,

    voltadas para o igarap. O contraste era impactante: de um lado, o Palcio, outrora centro do poder,responsvel pela discriminao e violncia cometida contra os ndios e de outro, as malocas, cujos tetos

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    de palha, com declive acentuado para proporcionar um rpido escoamento das chuvas, quase tocavam as

    grades de ferro da varanda do Palcio.

    As Malocas e a Arte Indgena

    Tanto o antigo cnsul da ustria, como os sucessivos governadores do Amazonas que ali

    residiram, nunca poderiam imaginar que um dia as dependncias do Palcio Rio Negro seriam invadidas e

    ocupadas pelos ndios e que, nos seus jardins seriam construdas duas grandes malocas. Elas serviram

    como porta de entrada e passagem obrigatria aos visitantes da Exposio Alexandre Rodrigues Ferreira.

    Nessas malocas, a COIAB organizou uma programao especial, realizada pelos ndios.

    Uma das malocas foi construda em trs dias por trinta ndios Waimiri-Atroari, com material

    que eles mesmos coletaram e trouxeram de sua reserva. Esses ndios, que falam uma lngua do tronco

    Karib, viviam isolados at 1969. Tiveram seu territrio decepado pela estrada Br-174 (Manaus-Boa Vista)

    e lutaram, armas na mo, para mant-lo. Uma hidreltrica foi construda dentro de terra indgena,invadida tambm por empresas de minerao. Sofreram sucessivos massacres e uma drstica reduo

    demogrfica. Hoje, com uma populao de 715 pessoas, vivem em quatorze aldeias. A outra maloca foi

    construda pelos Tuyuka, ndios da famlia lingstica Tukano, com uma populao de 600 pessoas que

    vivem no Alto Rio Negro, na fronteira com a Colmbia e uma longa tradio de contato, luta e

    resistncia.

    O interior da grande maloca circular dos Waimiri-Atroari foi ambientado por tcnicos

    do Museu Amaznico com utenslios e objetos produzidos pelos prprios ndios, simulando umas das

    significativas dimenses do seu quotidiano. J a maloca Tuyuka apresenta uma arquitetura diferente em

    forma retangular: uma grande habitao tambm comunal, composta de vrios esteios, cada um deles

    com funo e significado prprio, com reas reservadas para a fabricao de farinha e espao para a

    realizao de festas rituais.

    As malocas foram palcos de apresentao de danas e rituais indgenas, como a Dana da

    Tucandeira dos ndios Sater-Maw, o Dabakuri, dos Tuyuka, o Ritual de Xamanismo dos Yanomami, o

    Ritual Ayawaska dos Marubo. Nelas, tambm, cantores e contadores de histrias indgenas narraram

    episdios que envolvem a cultura de seu povo e cantaram msicas tradicionais.

    Durante oito semanas, diferentes grupos tnicos - cada um com cinco representantes - se

    alternaram na maloca Tuyuka, realizandooficinas permanentes de tecelagem, tranado, pintura, cermica,

    escultura. ODesana, Feliciano Lana, da Aldeia de Pari-Cachoeira, ensinou pintura e desenhos indgenas.

    Outros artistasBaniwa e Tukano demonstraram a arte do tranado com folhas de palmeiras e cips.

    Ao final da Exposio, cerca de 40 artistas, representando oito etnias diferentes, passaram pelas

    oficinas, desenvolvendo suas formas de expressar a vida, atravs da arte, diante dos visitantes,

    demonstrando diversas dimenses de um saber refinado: habilidade, destreza, qualidade das solues

    tcnicas, criatividade, transformao de materiais, re-invenes das formas ligadas a complexos sistemas

    de classificao do mundo e ao extremo conhecimento do espao onde vivem. (TADROS & SAMPAIO:

    1997).

    No auditrio, no anexo do Palcio, foram exibidos vdeos etnogrficos e realizados trs

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    seminrios, com a participao de ndios e pesquisadores de universidades brasileiras e portuguesas. No

    seminrio Construindo a nossa Histria, coordenado pela COIAB, lideranas Ticuna, Yanomami,

    Waimiri-Atroari, Tuyuka, Marubo, Desana, Baniwa, Tukano, Sater-Maw e outros discutiram a

    historicidade de seus povos, as estratgias de sobrevivncia fsica e cultural e a biodiversidade. Mas, ao

    contrrio da Exposio, os debates no contaram com a participao ativa do pblico. (XAVIER: 1997)

    Durante trs meses, muitos ndios circularam pelo espao da Exposio, acompanhando

    a sua montagem, convivendo com os tcnicos e especialistas brasileiros e portugueses, vendo a colocao

    das peas, o arranjo, a iluminao, os pedestais e vitrines, enfim os bastidores de um trabalho, que atraiu

    um pblico recorde na cidade de Manaus: mais de 43.000 visitantes, cujas reaes foram tambm

    observadas pelos ndios.

    As peas extraordinariamente belas produzidas no sculo XVIII provocaram um sentimento de

    orgulho nos visitantes, ndios e no ndios, pela revelao de um passado compartilhado de refinamento.

    Operaram quase um milagre na conscincia da identidade regional: muitos amazonenses passaram a

    lembrar suas origens indgenas, freqentemente olvidadas. Um visitante local comentou: Essas obras de

    arte foram produzidas pelos ndios? Ento, ns somos descendentes desses ndios. Os prprios ndiosrecuperaram o orgulho e a auto-estima e comearam a exigir que o acervo no fosse devolvido a Portugal.

    A COIAB enviou carta ao governo portugus, solicitando a permanncia definitiva das peas no

    Amazonas: Elas nos pertencem

    As discusses foram calorosas e ganharam as pginas dos jornais impressos e televisivos.

    Lembrou-se que em 1986, os ndios Krah exigiram - e obtiveram - do Museu Paulista da USP a

    devoluo da machadinha cerimonial Kyir, levada da tribo na dcada de 40 pelo antroplogo Harald

    Schultz, o que foi considerado por eles como uma profanao. Contra-argumentou-se, usando as palavras

    do ento diretor do Museu Paulista:

    Se essa compreenso generalizar-se, quase todo o patrimnio do Museu - rico, com milhares de peas de

    vrias pocas, povos e regies - pode vir a ser reivindicado por terceiros, causando seu esvaziamento. Os museus

    etnogrficos no teriam mais condies de sobreviver. (JB: 1986)

    Mas os dirigentes da COIAB consideravam-se os primeiros e no os terceiros. No

    convencidos, realizaram uma reunio com o reitor da Universidade do Amazonas e o diretor do Museu

    Amaznico, dias antes do encerramento da Exposio, no dia 30 de maio, para conhecer os aspectos

    tcnicos indispensveis preservao dos objetos. Foram informados que a Universidade no tinha

    condies de conserv-los e que deveriam ser devolvidos. A imprensa registrou o encontro e anotouargumentos e contra-argumentos da polmica:

    A alegada falta de aptido tcnica para que os ndios fiquem com a herana que lhes pertence, falta tambm aos

    estrangeiros, que no dominam a tcnica da restaurao dos objetos que vo se deteriorando com o tempo, nem

    possuem a matria-prima necessria, que s encontrada na regio. (LEONG: 1997, 1)

    A antrpologa Lux Vidal, professora da USP, conferencista em um dos seminrios,questionou o conceito dominante de arte, esclareceu que a arte indgena s chamada de artesanato por

    falta de sensibilidade, por preconceito e at mesmo por desprezo, destacou o sentido esttico dos objetos

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    da Exposio Memrias da Amaznia e analisou seu grande impacto sobre os ndios hoje, achando

    previsvel, mas inoportuno, o pedido de repatriamento. Para ela, o importante no tanto o retorno dos

    objetos a qualquer preo, mas que os ndios se reconheam neles, reconheam a sua memria e se juntem

    para fazer essa demanda. Acho que quando os ndios viram esses objetos, os reconheceram como antigos

    e como algo muito bem feito(VIDAL: 1997).

    O clima emocional e radicalizado do debate no impediu que os lderes indgenas

    concordassem, finalmente, com o retorno das peas a Portugal, por entenderem que, efetivamente, no

    tinham naquele momento condies de preserv-las. Mas foi justamente nesse momento que ficou

    bastante claro a necessidade de se criar essas condies e se enraizou definitivamente a idia de se

    organizar um museu indgena, a exemplo do que ocorreu no Canad e em outros pases:

    O surgimento de centros culturais e de museus tribais torna possvel um

    repatriamento efetivo e uma circulao de objetos, considerados por muito tempo - sem

    ambigidade - como propriedades, pelos colecionadores e curadores de museus

    metropolitanos. (CLIFFORD:1991, 241).

    O Museu Goeldi: a cincia Kayap

    Foi no Palcio do Rio de Janeiro que o Prncipe Regente assinou, em maio de 1808, a

    declarao de guerra de extermnio contra os ndios Botocudo do vale do Rio Doce. Construdo em

    meados do sculo XVIII, o palcio serviu de moradia aos governadores e vice-reis, abrigando depois a

    famlia real. Tornava-se agora, no Brasil, o quartel-general de um combate contra os ndios que Portugal

    no ousara manter, na Europa, contra os franceses.

    O Pao Imperial - denominao pela qual ficou conhecido - de onde emanaram polticas de

    extermnio dos grupos indgenas, recebeu em 1992 a exposio itinerante Cincia Kayap - Alternativas

    contra a destruio, organizada pelo Museu Paraense Emlio Goeldi. Uma vez mais, o museu realizava a

    operao extraordinria de colocar a maloca dentro do palcio, como numa espcie de reparao histrica.

    Na abertura da exposio, esse fato mereceu uma observao de sua curadora geral, Denise Ham:

    A honra de partilhar o Pao Imperial, marcando o inicio da itinerncia desta exposio, e a

    magnfica receptividade de seus dirigentes quase nos fez esquecer que no palcio dos

    conquistadores expunhamos o esplio cultural dos conquistados. A superioridade do

    conhecimento destes sobre o que nos legaram os primeiros, uma espcie de nobre

    revanche. (OLIVEIRA E HAM: 1992, xi).

    Ela no estava exagerando, pelo menos quanto densidade dos saberes indgenas. Afinal o

    Museu Goeldi, com suas pesquisas, adquiriu autoridade para sustentar tal afirmao. Desde a sua fundao

    em 1866, vem acumulando conhecimentos sobre os ndios, tornando-se um respeitado centro de pesquisa,

    dedicado ao estudo da histria natural e do homem da Amaznia, com um quadro de pesquisadores

    reconhecidos. Seu acervo contava em 1985 com 12.004 artefatos etnogrficos cadastrados, incluindo as

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    peas coletadas entre os Kayap por Frei Gil de Vila Nova, em 1902. (RIBEIRO: 1989, 499).

    Os ndios Kayap habitam uma vasta rea situada no Par e Mato Grosso. Falam uma lngua do

    tronco J e se autodenominam Mebngkre ( povo da nascente dgua). O seu contato com a sociedade

    nacional evoluiu lentamente at 1983, quando se intensificou a explorao do ouro na reserva indgena,

    segundo o curador cientfico da Exposio, o etnobilogo Darrell A. Posey, que trabalha com eles desde

    1977. Sua populao atual superior a 3.000 pessoas. Sua influncia histrica deixou uma marca

    profunda na composio do ambiente da Amaznia, especialmente no que diz respeito ao manejo da

    natureza (POSEY, 1992: 23). [6]

    Preocupada com a devastao da floresta e com a educao ambiental, a Exposio procurou

    mostrar que as estratgias agrcolas indgenas oferecem novos modelos para o desenvolvimento da

    Amaznia, sem a destruio irreversvel que caracteriza os atuais emprendimentos. Desta forma, o ndio

    passa a ser encarado como uma valiosa fonte de informao sobre o conhecimento dos ecossistemas e os

    saberes por ele produzidos passam a fazer parte do futuro da regio e no apenas do seu passado, como

    ainda acreditam alguns setores atrasados da sociedade brasileira.

    A montagem da Exposio s se tornou possvel, porque foi precedida por uma pesquisa prvia

    prolongada de mais de 15 anos por parte de 20 cientistas e tcnicos de pesquisa, que trabalharam para

    documentar o conhecimento Kayap acerca de plantas medicinais, agricultura, classificao e uso do solo,

    sistemas de reciclagem de nutrientes, mtodos de reflorestamento, pesticidas e fertilizantes naturais,

    comportamento animal, melhoramento gentico de plantas cultivadas e semidomesticadas, manejo da

    pesca e da vida selvagem e astronomia. A participao dos ndios na pesquisa foi decisiva:

    Os pesquisadores aprenderam que especialistas nativos, que nunca estiveram em uma

    sala de aula, podem guiar at mesmo Ph.Ds. no desenvolvimento de novas hipteses paratestar ou expandir o conhecimento cientfico ocidental. O Projeto Kayap tem sido capaz de

    mostrar que o conhecimento tradicional oferece algumas das opes mais viveis e

    promissoras para uso de recursos sustentveis nos trpicos. (POSEY: 1992, 19)

    Segundo Posey, existem especialistas indgenas em solos, plantas, animais, colheitas, remdios e

    rituais. Tal especializao no impede, no entanto, que qualquer Kayap, seja homem ou mulher, tenha

    absoluta convico de que detm os conhecimentos e as habilidades necessrias para sobreviver sozinho

    na floresta, indefinidamente, o que lhe d uma grande segurana pessoal. (POSEY: 1992,27)

    Essas foram algumas das grandes linhas da Exposio apresentada no Pao Imperial, que

    ocupou um espao de 430 m2, com centenas de objetos da cultura material Kayap, coletados desde o

    incio do sculo, entre os quais se destacava o mekutom - um cocar cerimonial colorido, com um adorno

    emplumado na parte vermelha; seu centro circular elevado - o umbigo da Terra - representa a aldeia

    Kayap original; o caminho do sol marcado pela faixa vermelha e os braos indicam as orientaes

    norte e sul que simbolizam os locais das roas. Lateralmente, o cocar aparece como um tracaj, nadando

    atravs do espao e do tempo para impedir a Humanidade de autodestruir-se e, consigo, o Cosmos.

    (POSEY: 1992, 25)

    Objetos da cultura material, textos, fotografias, instalaes cenogrficas, jogos interativos,

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    elementos audio-visuais e de apoio museolgico, estavam distribudos em dez ambientes diferentes,

    dispostos de acordo com um roteiro temtico, obedecendo a uma seqncia.

    O visitante encontrava, logo na entrada, informaes gerais sobre os Kayap. O espao seguinte

    era dedicado Cosmoviso, onde foram musealizados alguns mitos de origem, de forma bastante criativa,

    contribuindo para a percepo da dimenso universal e da funo simbolizante dos enredos mticos.

    Dos demais ambientes, cabe destacar uma aldeia antiga e a trilha do conhecimento, que ovisitante era convidado a percorrer para descobrir como os ndios acumularam saberes teis para o

    manejo dos recursos nativos da Amaznia, em vrios campos das etnocincias. No final, aps atravessar

    uma sala interativa, se penetrava no espao da resistncia. A exposio chamava a ateno para a dvida

    da Humanidade para com os ndios no campo do conhecimento e da domesticao de plantas e conclua

    que com a dizimao de cada grupo indgena, o mundo perde milnios de conhecimento acumulado

    sobre a vida e a adaptao aos ecossistemas tropicais.

    Destinada a um publico intelectualizado, que buscava uma informao ao mesmo tempo

    cognitiva, emotiva e esttica, a mensagem principal da Exposio pode ser resumida na seguinte frase de

    Darrell Posey:

    "Se o conhecimento do ndio for levado a srio pela cincia moderna e incorporado aos

    programas de pesquisa e desenvolvimento, os ndios sero valorizados pelo que so: povos

    engenhosos, inteligentes e prticos, que sobreviveram com sucesso por milhares de anos na

    Amaznia. Essa posio cria uma ponte ideolgica entre culturas, que poderia permitir a

    participao de povos indgenas, com o respeito e a estima que merecem, na construo de um

    Brasil moderno.(POSEY,1992: 43)

    Essas duas instituies pblicas - o Museu Goeldi e o Museu Amaznico - realizaram

    exposies dentro de antigos palcios, que haviam servido de residncia a governadores. Contriburam,

    cada uma a seu modo, com a descoberta do museu pelos ndios, formulando questes, abrindo pistas e

    permitindo comparaes. As palavras do responsvel pelo Museu Magta, Constantino Cupeautc,

    depois de visitar o Museu Goeldi em dezembro de 1993, acompanhado da antroploga Lcia Hussak,

    permitem dimensionar essa contribuio: Foi importante principalmente porque eu achava que um museu

    grande era muito diferente do nosso, mas agora vi que tem muitas coisas parecidas. Percebi que nossa

    exposio mais bonita ainda, porque mais viva, porque ns estamos aqui. (CUPEATC: 1994, 4)

    OS PROJETOS EM ANDAMENTO

    O Museu do Descobrimento

    O chamado Museu Aberto do Descobrimento um mega-projeto, que cobre uma ampla faixa

    do litoral da Bahia, um quadriltero abrangendo os municpios de Porto Seguro, Prado e Santa Cruz

    Cabrlia. Neste ltimo, est localizada a rea da Coroa Vermelha. Ali, no ano de 1.500, ancorou a frota

    de Pedro lvares Cabral e foi celebrada a Primeira Missa no Brasil. justamente este stio histrico,

    ocupado hoje por uma comunidade de cerca de mil ndios Patax, que sediar um dos sub-projetos: o

    Memorial do Encontro ou Parque Temtico da Coroa Vermelha, de autoria do arquiteto Wilson dos

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    Reis Neto.

    O Memorial do Encontro pretende celebrar os 500 anos da chegada dos portugueses ao litoral

    brasileiro. Prev a edificao de quatro grandes conjuntos: a Taba Indgena, o Terreiro da Cruz, o Museu

    do Encontro e o Ptio Jesutico.

    A Taba Indgena foi planejada para ter cinco ou seis malocas, que sero construdas

    segundo tcnicas descritas na carta de Pero Vaz de Caminha: de madeira, cobertas de palha, derazovel altura, e todas de um s espao, sem repartio alguma. Dentro delas, sero expostos artefatos

    indgenas e haver espao destinado a apresentaes pblicas dos ndios, incluindo danas tpicas.

    O Terreiro da Cruz a denominao sincrtica dada a uma grande plataforma de

    1.000 m2, em concreto e granito, que ser erguida no mar, sobre o prprio ilhu da Coroa Vermelha.

    Servir de base para um monumento encimado por uma cruz de pau-brasil e local para realizao de

    grandes cerimnias e solenidades.

    Depois, vem o terceiro conjunto: o Museu do Encontro. Trata-se de uma gigantesca

    construo, dentro da qual sero expostas rplicas de caravelas, ncoras, instrumentos nuticos e outrosobjetos histricos, relacionados chegada dos portugueses e ao encontro - assim o esto denominando -

    com os ndios. Abrigar ainda auditrios, salas de projeo, teatro, etc.

    A quarta e ltima unidade composta por uma cadeia de lojas - uma espcie de grande

    shopping center, com um amplo estacionamento para carros, ao longo da praia. Foi denominada de Ptio

    Jesutico, o que no deixa de soar ironicamente, por sugerir, mesmo involuntariamente, uma analogia

    com as atividades de explorao econmica desenvolvidas no Brasil colonial pela Companhia de Jesus,

    deixando de lado a catequese e a educao.

    Elaborado por uma fundao denominada Quadriltero do Descobrimento, este projeto contacom o apoio governamental. O prprio presidente da Repblica, Fernando Henrique Cardoso, assinou

    decreto, oficializando-o, em solenidade realizada em Porto Seguro, em abril de 1996.

    Acontece que a Coroa Vermelha territrio dos ndios, reconhecido formalmente pelo

    Ministrio da Justia, em Portaria ministerial assinada no dia 14 de outubro de 1997, declarando-a posse

    permanente indgena, depois de uma impressionante mobilizao dos Patax de todas as 12 aldeias da

    Bahia, ainda comovidos com a morte do ndio Galdino, queimado vivo em Braslia. Portanto, do ponto de

    vista legal, o projeto s pode ser viabilizado, se for negociado com os ndios.

    Abriu-se, ento, um debate - ainda de forma incipiente - em torno da criao do Memorial doEncontro, com a participao de lideranas indgenas, antroplogos, jornalistas, agentes governamentais,

    empresrios, muselogos. Tem sentido um verdadeiro centro de convenes para uso de terceiros dentro

    de uma Terra Indgena, indaga o antroplogo Jos Augusto Sampaio, da Associao Nacional de Ao

    Indigenista (ANAI - Bahia), em artigo que discute o problema (SAMPAIO: 1997).

    Sampaio opina que qualquer iniciativa voltada para a valorizao do sentido histrico, cultural e

    turstico da rea , em princpio, compatvel com a destinao constitucional da terra indgena e com os

    desejos e os usos, costumes e tradies dos Patax. No entanto, faz restries forma como se pretende

    implantar o projeto. Relata que os Patax se vem premidos pela frentica especulao imobiliria que

    levou, nos ltimos anos, a uma grande concentrao fundiria na ampla faixa coberta pelo mega-projeto

    (SAMPAIO: 1996). Um pool de empresas, das quais a fundao seria um brao cultural, planeja

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    macios investimentos em turismo destinados a atrair recursos governamentais para a rea, no contexto

    da valorizao para o 5 centenrio. Tais investimentos buscam, assim, segurssimos retornos em lucros

    privados, avalizados pelo governo.

    O principal ponto das discusses, contudo, diz respeito explorao comercial da rea. A

    Procuradoria da Repblica tem firmado posio de que, legalmente, toda a renda gerada pelo

    conjunto deve reverter exclusivamente para os Patax. Mais que isso, a vocao e aexperincia comerciais da comunidade indgena habilitam as suas duzentas famlias, com um

    pouco de treinamento e de superviso gerencial, a assumir a explorao das lojas, destinadas,

    fundamentalmente, ao comrcio de artesanato e dos equipamentos de alimentao associados

    ao eventual ptio jesutico (SAMPAIO: 1997, 5).

    O antroplogo considera que tudo isso pode ser equacionado em adequao destinao

    constitucional da Terra Indgena e aos projetos dos Patax. Contudo - afirma - evidente uma

    indisfaravel frustrao da parte dos agentes governamentais empenhados no projeto, muitas vezes

    explicitada em indagaes como: Vamos fazer um investimento to grande para entregar tudo aos ndios?

    Outros questionamentos so feitos, inclusive pelos prprios Patax, temerosos que a execuo

    do projeto possa agredir o meio ambiente, representando, no caso do Terreiro da Cruz - para citar s um

    exemplo - uma ameaa aos corais vermelhos que formam o ilhu, j que a iluminao projetada pode

    alterar a fauna costeira e a restinga, prejudicando a mariscagem noturna dos ndios.

    No entanto, uma das crticas mais contundentes se refere relao do museu com as

    etnocincias. O Museu do Descobrimento no tem qualquer proposta para recuperar e valorizar os saberes

    indgenas, enquadrando-se naquela situao descrita anteriormente pelo ndio Jorge Terena, quando

    considera que uma das conseqncias mais graves do colonialismo foi justamente enterrar ou congelar

    experincias milenares, ao tax-las de primitivas, opondo-as modernidade:

    Vem a tradio viva como primitiva, porque no segue o paradigma ocidental. Assim, os

    costumes e as tradies, mesmo sendo adequados para a sobrevivncia, deixam de ser

    considerados como estratgia de futuro, porque so ou esto no passado Tudo aquilo que no

    do mbito do Ocidente considerado do passado, desenvolvendo uma noo equivocada em

    relao aos povos tradicionais, sobre o seu espao na histria. (TERENA: 1997).

    Trata-se de um enfoque etnocntrico diametralmente oposto ao apresentado pela Exposio

    Kayap, que apresenta as estratgias agrcolas indgenas como novos modelos para a Amaznia. Da,

    dessa viso etnocntrica, surge a concepo espetacular e monumental do conjunto museolgico, que no

    procura esconder o carter triunfalista com que pretende oficialmente comemorar o 5 Centenrio do

    Descobrimento.

    Conforme j declarara anteriormente o lder Ailton Krenak, a comemorao um programa de

    brancos, cabendo, portanto, a eles a avaliao de suas relaes com os ndios durante cinco sculos: Seos brancos conclurem que erraram, que comemorem os quinhentos anos de guerra contra as populaes

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    indgenas com um gesto de boa-vontade, de reconciliao (GRUPIONI: 1992, 29).

    Mas o Museu Aberto do Descobrimento no parece estender a mo aos ndios com este tipo de

    celebrao, considerado pelo filsofo catalo, Eduardo Subirats, como uma vitria do obscurantismo

    intelectual e, portanto, um retrocesso, um atraso, a comear pela prpria denominao do evento,

    extensiva ao Museu projetado:

    A palavra Descobrimento um conceito banal e obscuro, porque supe uma viso

    eurocntrica do mundo que podia ser alimentada pelo universalismo cristo imperialista do

    Renascimento, mas que no pode ser aceita pela nossa moderna concepo secular,

    pluricultural e multitnica das civilizaes e das culturas, preocupada pela restituio e pelo

    reconhecimento das diferenas culturais e histricas dos povos. (SUBIRATS:1994, 14).

    Concebido desta forma, o Memorial parece ser incompatvel com uma historiografia crtica e

    com um projeto intelectual de renovao profunda e radical da cultura brasileira. No pensa esta ltimacomo uma totalidade histrica, constituda por uma multiplicidade de tradies culturais e no v a

    especificidade do acervo cultural indgena dentro do patrimnio cultural brasileiro (SANTOS e

    OLIVEIRA,1997: 6). Desperdia um momento importante, que devia servir para a reflexo sobre a

    contribuio de ndios e portugueses na formao da nacionalidade brasileira. No abre espao para uma

    avaliao das formas violentas do encontro - do conflito trgico - entre culturas to diversas, com a

    runa e a destruio das populaes indgenas. No inclui no seu campo de viso os sculos de dominao

    colonial, a escravizao dos ndios, a usurpao de suas terras, os massacres, a resistncia, o

    etnocentrismo, a incompreenso da alteridade. Enfim, o Memorial no contempla a possibilidade de

    restaurar a memria como meio para reconstituir as destrudas formas de vida.

    A recusa em avaliar o conflito histrico grave pelas conseqncias que traz para as relaes

    atuais da sociedade brasileira com os ndios, que continuam submetidos hoje a condies de opresso

    equivalentes quelas do passado. Ignorar o processo de destruio que sofreram no passado a condio

    epistemolgica para poder continuar ignorando a sua atual realidade, sob uma nova etapa histrica de

    recolonizao da Amrica Latina (SUBIRATS: 1994, 72).

    Essa discusso toda sobre o Museu do Descobrimento, mesmo ainda insuficiente, vem

    contribuindo para o descobrimento do museu pelas lideranas indgenas, chamando a ateno para o fato

    de que empresrios e o prprio governo tambm descobriram o seu potencial, pelo menos comercial e

    ideolgico.O outro projeto, do Museu do ndio de Braslia, foi elaborado com uma perspectiva diferente.

    O Museu de Braslia

    Tudo estava acertado. Agora, preenchendo uma vergonhosa lacuna, a capital da Repblica teria,

    finalmente, um Museu do ndio. Ele seria construdo numa rea nobre, bem em frente ao Memorial JK, no

    Eixo Monumental, em Braslia. A antroploga Berta Ribeiro tomou a iniciativa de elaborar o projeto

    conceitual. Oscar Niemeyer ficou responsvel pelo desenho do projeto arquitetnico e seu escritrio pelo

    detalhamento tcnico-funcional. A Fundao Banco do Brasil proporcionaria os recursos financeirosnecessrios. A FUNAI/Ministrio do Interior contribuiria com a formao do acervo. O Governo do

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    Distrito Federal se encarregaria da estrutura funcional e administrativa. [7]

    Berta Ribeiro cumpriu sua parte: criou, no papel, o Museu do ndio, elaborando o seu plano-

    diretor. Planejou tudo: definiu seus objetivos, organizou a temtica da exposio inaugural, fez propostas

    para a constituio do acervo e o desenvolvimento das atividades cientficas e educacionais, elaborou o

    cronograma de implantao e deu indicaes para a programao visual e o planejamento arquitetnico

    (RIBEIRO, B.: 1986 e 1987).[8]

    Oscar Niemeyer tambm fez a sua: em base s opes museolgicas definidas no plano-diretor,

    concebeu o edifcio sede do Museu como um anel circular maneira de casa-aldeia dos ndios Yanomami,

    belo e funcional, mas sem qualquer marca de suntuosidade, com uma preocupao de que o visitante

    comum - criana ou homem do povo - no se sentisse constrangido de nele ingressar. Seu escritrio

    responsabilizou-se pelo detalhamento tcnico do conjunto arquitetnico.

    No entanto, os demais parceiros - Banco do Brasil, Governo do Distrito Federal e Ministrio do

    Interior/FUNAI - no cumpriram a parte que lhes tocava. O projeto foi engavetado. No momento em que

    os ndios manifestam uma vontade de criar um museu indgena, vale a pena retir-lo da gaveta, conhec-lo, discuti-lo e compar-lo com outros projetos, aproveitando os conhecimentos e experincias

    acumulados nesse campo por sua autora.

    Berta Ribeiro, autora do projeto, estudou tecnologia, artesanato e arte indgena durante

    cinqenta anos. Acompanhou de perto a criao do Museu do ndio/FUNAI/RJ, na dcada de 1950,

    havendo posteriormente assumido a a direo do Setor de Museologia. Atuou como estagiria e depois

    como pesquisadora do Museu Nacional/UFRJ e como curadora e consultora de vrias grandes exposies

    dentro e fora do Pas, entre as quais a realizada em 1983 no Senado Romano, na Itlia. Exilada no

    Uruguai, Venezuela, Chile e Peru, participou de eventos nacionais e internacionais e produziu artigos e

    livros, refletindo sobre o tema, questionando e indagando. (VAN VELTHEN: 1998, 12)

    Para qu um Museu do ndio em Braslia? A autora responde que a prpria identidade nacional

    s pode ser forjada e fortalecida, combatendo os estigmas e a discriminao contra o ndio, que

    lamentavelmente continuam presentes na ideologia dominante brasileira. Por isso, ela recupera para a

    instituio de Braslia o lema criado para o Museu do ndio do Rio de Janeiro: Um museu contra o

    preconceito (RIBEIRO, Darcy: 1955).

    Mas o Museu de Braslia deveria ser mais do que isso, precisava ser tambm Um museu a

    favor, o que foi delimitado pelos dez objetivos traados por Berta Ribeiro, numa espcie de dez

    mandamentos do museu etnogrfico. Deveria ser a favor da preservao da herana indgena, darecuperao do seu patrimnio histrico-cultural, da pesquisa etnolgica e sua divulgao cientfica,

    conscientizando a opinio pblica e o prprio governo da contribuio indgena cultura brasileira e

    universal e, desse modo, aliando-se aos ndios em suas lutas por terra, educao, sade e cultura.

    O Museu do ndio de Braslia s se justificava tambm se fosse capaz de render um tributo a

    incontveis artesos indgenas, em sua maioria contemporneos, cujas mos captaram a essncia dos

    conceitos do belo, segundo as normas e valores de suas sociedades. (RIBEIRO, B.: 1986, 1-2)

    Dentro desse esprito - de uma instituio cientfica, educativa e cultural e no de um depsito

    de excentricidades - foi concebida a Exposio Inaugural do Museu do ndio de Braslia, denominadandios no Brasil: cultura e identidade, prevista para durar dez anos e baseada em outro projeto da

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    mesma autora para uma rea prxima ao Centro de Convenes. Estava projetada em seis unidades:

    1) Origem e antigidade do homem nas Amricas;2) O Brasil em 1500;3) Contribuio do ndio cultura brasileira e universal, com destaque para as etnocincias;4) A reproduo da sociedade, abordando a cosmoviso de diferentes grupos indgenas;5) O ndio no Brasil, hoje;6) O ndio perante a Nao brasileira.

    O ambicioso projeto elaborado por Berta Ribeiro detalha cada uma dessas unidades em dez

    circuitos temticos, desdobrados por sua vez em 287 temas-textos. Sugere uma integrao, em propores

    praticamente iguais, de textos com iconografia e objetos, mas alerta que sua realizao dependia da

    viabilidade de traduzi-las em linguagem museolgica e da disponibilidade do acervo.

    A formao do acervo seria feita no maneira do sculo XIX, isto , despojando os ndios de

    praticamente todos os seus haveres, profanos e sagrados. Previa, inicialmente, a utilizao do acervo da

    ARTINDIA - empresa de venda de artesanato indgena vinculada FUNAI - composto por cerca de

    1.500 peas contemporneas, todas elas coletadas, seja nas aldeias indgenas por ocasio dos moitars[9]

    , seja confeccionadas espontaneamente pelos ndios para o mercado externo.

    O enriquecimento gradual das colees se faria com peas encomendadas a antroplogos que

    realizam pesquisas de campo, troca com outros museus, doao de particulares e de instituies e com a

    contribuio dos prprios ndios, que deveriam ser tratados como especialistas, habilitados a realizar, no

    mbito dos museus, trabalhos de identificao, montagem e restaurao de artefatos, bem como a

    recontextualizar e resgatar, para seu uso, material diversificado. (RIBEIRO & VAN VELTHEM, 1992:

    108). A reserva tcnica, devidamente adaptada s exigncias climticas do planalto central, teria um

    amplo espao para armazenar as colees e laboratrio para a conservao e restaurao do acervo.

    As tcnicas de cadastramento, restaurao, imunizao e conservao das colees deviam ser

    renovadas, com treinamento e especializao do pessoal tcnico. A organizao do acervo etnogrfico, a

    descrio dos objetos e seu registro em fichas catalogrficas, a criao de uma linguagem documental e

    at mesmo a catalogao com normalizao vocabular para uso de computador - tudo isso est

    contemplado no plano-diretor do Museu do ndio de Braslia.

    Duas questes abordadas pela autora em seu projeto merecem ainda destaque: o papel educativo

    do Museu e a relao com a arte indgena ou a denominada esttica da mudana.

    Todo um captulo especial dedicado programao concreta de atividades educativas, comlaboratrios e oficinas ligadas s cincias fsicas e biolgicas, arte, e histria, para as quais o projeto

    prev a delimitao de espaos, alm de auditrio para cursos e conferncias, sala para projeo de filmes,

    slides e audiovisuais, livrarias, biblioteca, salas para o corpo tcnico, arquivo, documentao e oficina de

    montagem de exposies. A proposta pretende que o Museu se aproprie de todos os recursos modernos

    de comunicao, rompendo com os procedimentos museolgicos tradicionais, numa articulao com

    outras instituies similares nacionais e internacionais. (RIBEIRO, B.: 1986, 7-8).

    O conjunto arquitetnico seria detalhado pelo escritrio de Oscar Niemeyer, mas o projeto de

    Berta Ribeiro delimita o espao para a construo de uma maloca indgena - do alto Xingu ou do alto rio

    Negro - para servir como um modelo de arquitetura indgena e lugar para atividades escolares erecreativas da populao infantil. Espaos externos foram reservados para exposies especiais e,

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    sobretudo, para o jardim botnico, onde cresceriam plantas nativas e cultivadas pelos ndios e onde o

    visitante dialogaria com as etnocincias.

    Segundo Berta Ribeiro, era necessrio imprimir uma orientao poltica ao Museu de Braslia,

    para que ele cumprisse sua funo social: Nos pases da Amrica Latina, a funo primordial de um

    museu etnogrfico contribuir para que a nao se reconcilie e se identifique com sua herana

    pluritnica e policultural (RIBEIRO, B.:1986, 15).

    A outra questo que mereceu particular ateno da autora foi a da arte indgena. A Sala do

    Artista Indgena - uma rea destinada a exposies temporrias - exibiria artefatos elaborados por

    diferentes etnias, tendo ao lado um local para a venda, colocando o artista em contato direto com seu

    pblico. O Museu do ndio teria um importante papel poltico a desempenhar, incorporando a chamada

    esttica da mudana, que compreende variadas formas de reelaborao do sistema de objetos - um

    mecanismo legtimo de atuao, pelo qual os grupos indgenas redefinem sua prpria cultura para resistir,

    social e politicamente aos impactos sofridos.

    Importante funo do museu etnogrfico focalizar o processo de mudana e a forma pela

    qual os povos se acomodam ou reagem a esse processo. Isto obriga o programador de exposies a no

    ater-se apenas ao passado arcaico, mas a encarar a problemtica atual das minorias tnicas, sua luta

    pela autonomia cultural e pela faculdade que lhes deve ser assegurada de rechaar ou apropriar -se da

    cultura nacional no que tem de enriquecedor e humanizador do homem(RIBEIRO, B.:1985, 87)

    Como a autora esclareceu posteriormente, em base s consideraes de alguns estudiosos,

    muitas etnias encontraram na venda de artesanato no apenas uma aprecivel fonte de renda, mas

    sobretudo a possibilidade de manuteno de uma cultura material diferenciada, que serve de marca ao

    movimento de resistncia tnica, como sinal de autonomia a ser reconquistada. (GALLOIS, 1989: 140

    apud RIBEIRO e VAN VELTHEM, 1992, 108).

    A ltima parte do Plano-Diretor contm um cronograma das atividades necessrias para sua

    criao. Ele estabelece que, obtidos os recursos e os instrumentos legais, seria constituda uma Comisso

    Executiva para a implantao do Museu, encarregada de assessorar a equipe de arquitetos e

    programadores visuais, rever o plano geral da Exposio Inaugural, programar a coleta de material

    etnogrfico, elaborar os oramentos, firmar convnios, planejar a estrutura administrativa e acadmica,

    preparar o quadro tcnico, discutir o plano-diretor e o projeto de exposio com a comunidade cientfica,

    com os ndios e com a equipe de arquitetos.

    A proposta elaborada por Berta Ribeiro traz para os lderes indgenas, que esto descobrindo o

    museu, muitos elementos de reflexo de ordem tcnica, poltica e ideolgica. Um deles o destaque para

    o papel crucial desempenhado pelo museu etnogrfico na luta ideolgica, como um instrumento de

    combate s teorias racistas. Tendo sido desenhado como o ajuntamento do extico, do estranho para,

    inclusive, justificar o domnio dos povos extra-europeus, o museu etnogrfico chamado agora a mudar

    de carter: enaltecer a multiplicidade cultural do mundo e as razes pelas quais os povos tm estilos de

    vida distintos, no obstante os substratros comuns. (RIBEIRO, B.: 1985, 99)

    Lies de Museologia

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    As seis experincias aqui registradas no foram as nicas que tiveram influncia sobre a viso

    dos ndios acerca do museu. Algumas outras deviam ser includas nesse relato, no fosse a limitao de

    espao. o caso da exposio organizada pela Secretaria Municipal de Cultura de So Paulo, em junho e

    julho de 1992, no andar trreo do pavilho da Bienal, no Parque do Ibirapuera. Intitulada Indios no

    Brasil: Alteridade, Diversidade e Dilogo Cultural, foi dividida em mais de 30 mdulos organizados apartir desses trs eixos conceituais estruturadores (GRUPIONI: 1994, 14).

    Painis com textos, fotografias ampliadas, obras de arte, livros raros, artefatos indgenas,

    ambientes culturais recriados e sonorizados, vdeos, maquetes e mapas, mostra de vdeo e filmes, visitas

    monitoradas, conferncias com ndios e especialistas, apresentaes musicais, oficinas de tranado,

    cermica, pintura facial e lnguas indgenas, distribuio de materiais didticos de referncias sobre

    ndios, fizeram parte da Exposio visitada por mais de 11.000 estudantes da rede de ensino de So Paulo.

    O seu objetivo principal era oferecer aos paulistas informaes corretas, contextualizadas e

    acessveis sobre a realidade indgena brasileira, procurando-se combater as noes de selvageria, atrasocultural e humanidade incompleta que caracterizam a compreenso das sociedades indgenas pelo senso

    comum.

    A expectativa em relao ao comportamento dos visitantes foi manifestada por um dos

    curadores: Esperamos que ao sair, o pblico estivesse inquieto e incomodado diante do que viu, ouviu e

    experimentou, enquanto percorria o espao da exposio. Um incio de dilogo com as culturas

    indgenas - um dos objetivos centrais desta exposio - exige de ns a rarefao de nossas certezas, o

    questionamento de uma srie de idias pr-concebidas, incompletas e muitas vezes

    equivocadas(GRUPIONI: 1994,27).

    Muitos lderes indgenas visitaram e participaram do evento. Outros tiveram acesso ao Catlogo

    da Exposio ndios no Brasil, com o inventrio dos artefatos e obras de exposio, que podem ser

    consultados na publicao organizada por Lus Donisete Grupioni

    interessante ver como os dirigentes da COIAB incorporaram rapidamente ao seu discurso um

    conjunto de conceitos - patrimnio, reserva tcnica, restaurao e outros que fazem parte da

    literatura especializada. Eles descobriram o museu e esto aprendendo como faz-lo. No est longe o dia

    em que haver ndios especializados nesta rea, com curso universitrio, como j ocorre no Canad.

    O conceito de museu, que vem sendo refinado na ltima dcada pelos muselogos, tem sidotambm discutido pelos ndios. Quase todos identificam a instituio como um lugar de conhecimento, de

    pesquisa, de estudo, de guardi da memria. No entanto, os ndios, agora, no aceitam mais passivamente

    que os museus construdos por no-ndios tenham o monoplio do discurso histrico que lhes diz respeito.

    Querem deixar de ser apenas um objeto musealizvel e serem tambm - eles prprios - agentes

    organizadores de sua memria. A existncia de museus tribais pode enriquecer no apenas os museus

    etnogrficos, mas contribuir para a formao dos grandes museus nacionais.

    A compreenso da funo de um museu tribal na articulao do discurso e da identidade tnica

    pode ser avaliada nas palavras dos prprios ndios, conforme relatos de alguns Ticuna:

    O professor Ticuna Valdomiro da Silva considera que o Museu Maguta um documento;

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    uma casa que tem msica; um lugar de olhar desenhos; um lugar para todo mundo dar valor; uma

    casa de alegria para os Ticuna.O seu colega Liverino Otvio escreveu:o Museu Magta serve para

    guardar nosso futuro. Diodato Aiambo v o museu como um lugar de tudo; um lugar para colorir o

    pensamento, enquanto paraOrcio Atade, museu o lugar que segura as coisas do mundo. (Boletim

    do Museu Maguta: mai/out.1993)

    O ndio Cocama Bernado Romaina fez uma avaliao do valor histrico de uma pea, num

    relato contado pelo etnlogo francs Raphael Girard:

    Os Cocama, grupo da famlia lingstica Tupi, habitavam o alto Solimes, quando por ali

    passou o bergantim de Orellana em 1540. Lutaram contra espanhis e portugueses, usando a estlica -

    um propulsor de dardos, bordunas, lanas, escudos e zarabatana, conforme registram as crnicas da poca.

    Depois de 400 anos de contato, os Cocama pouco diferiam da populao mestia que vivia nas

    proximidades de Iquitos, no Peru. Caavam com armas de fogo, abandonando completamente suas armas

    tradicionais, que cairam em desuso, at desaparecerem. Da a enorme surprsa do etnlogo, em visita

    aldeia Unyurahui, no Peru, em 1960, quando viu uma antiga zarabatana - o nico exemplar de toda a

    aldeia - guardada cuidadosamente numa viga do teto da maloca. Indagou ao ndio Bernardo Romaina seele ainda a usava. Diante da resposta negativa, perguntou: Ento, para que guardar?. O ndio respondeu:

    Para no esquecer(GIRARD, 1963: 170).

    Para que museu? Toda a aprendizagem dos ndios sobre museu, realizada com as experincias

    aqui descritas, pode ser condensada nesta sbia resposta: Para no esquecer.

    Notas:

    [ 1]Sobre os Ticuna, ver NIMUENDAJU: 1929; OLIVEIRA: 1964 e OLIVEIRA FILHO: 1988.

    [2] Para mais detalhes sobre o Museu Magta, ver GRUBER:1994, GRUBER:1995 e cinco nmeros do BOLETIM DO MUSEU

    MAGTA, de onde retiramos grande parte dos dados aqui apresentados

    [3]Dez anos depois, os assassinos, conhecidos, no foram julgados e permanecem em liberdade.

    [4] No dia 7 de dezembro de 1991, a denncia foi feita pela Universidade do Amazonas ao CRUB, reunido em

    Manaus, o que originou um protesto formal dessa entidade. Para a histria mais recente do movimento indgena,

    ver KRENAK:1997.

    [5] Para mais detalhes sobre a Embaixada dos Povos da Floresta e o Ncleo de Cultura Indgena, ver KRENAK:

    1996, de onde retiramos as principais informaes aqui apresentadas.

    [6]Sobre os Kayap, ver os trabalhos de Darrell A. POSEY, sobretudo o citado, de onde retiramos parte da

    informao aqui apresentada. Ver tambm Lux VIDAL(1987) e Anton LUKESCH (1976).

    [7]As autoridades que se comprometeram, na poca, com o projeto do Museu do ndio foram: o presidente da

    Fundao Banco do Brasil, Camillo Calazans; o ministro do Interior, Ronaldo Costa Couto, a quem a FUNAI se

    encontrava subordinada e o governador do Distrito Federal, Jos Aparecido de Oliveira, nomeado logo depois, em

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    agosto de 1986, ministro da Cultura do Governo Jos Sarney (RIBEIRO, Berta: 1986, 18)

    [8]As informaes bsicas sobre o projeto do Museu do ndio de Braslia encontram-se em RIBEIRO, Berta: 1987

    e RIBEIRO, Berta: 1986.

    [9]Termo tupi empregado no alto Xingu para significar rituais de troca intertribal. No Dia do ndio (19 de abril) , a

    Artindia promove uma feira-mostra de uma determinada tribo, reservando para seu acervo as peas mais elaboradas

    (RIBEIRO: 1986, 10).

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