Irene Alves da Silva, 48 anos é benzedeira emora na comunidade Trindade, zona rural domunicípio de Pereiro, na região Vale doJaguaribe - Ceará. Desde criança sentiu o apelode ajudar as pessoas da comunidade por meio daoração. Aos dezoito anos de idade começou aexercer o ofício, sendo atualmente reconhecidapelas suas orações de cura.

Irene conta, que na idade entre sete a dezoitoanos vivia doente; sentia tonturas, desmaiava epassava até três dias desacordada. Sua mãe alevava ao médico e ficava internada tomandoremédio e nada de positivo acontecia. Quandoestava em crise escutava vozes e barulho depessoas em sua direção, pressionando-a a fazeralgo pelo povo. “As vozes me diziam que euprecisava fazer alguma coisa que beneficiasse acomunidade, mas eu não sabia como. Na épocaeu era muito nova e não entendia dessas coisas”,lembra.

Aos onze anos, ela foi levada para um benzedeiro chamado Manduca Barros, da cidade de Iguatu, noCentro Sul do Estado. A partir de então sentiu um apelo de servir à comunidade e desenvolveu o “domda cura” a da oração. “Eu precisava ajudar as pessoas ou então ficaria perturbada”. As primeirastravés

orações foram conhecidas em sonho. Ela contaque ao dormir, sonhava e acordava com aquilo nacabeça e anotava. Posteriormente procurououtras orações em livros e foi aprendendo.

Quando completou dezoito anos, já casada, Irenesentiu a necessidade de exercer o ministério. “Oprimeiro momento foi assim: uma meninaadoeceu e não ficava boa, então, no desespero, amãe dela a trouxe aqui para eu benzer. Quandopus as mãos na cabeça da criança e comecei arezar, ela foi se acalmando e ficando tranquila.Hoje é uma mãe de família, mora em São Paulo enão sentiu mais nada. Sempre que vem a Pereirose lembra de me agradecer”.

A partir de então, Irene passou a ser procuradacom mais frequência, sendo referência em toda a

Ceará

Ano 6 | nº 992 | Outubro | 2012Pereiro - Ceará

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Benzedeira de Trindade: Oraçãode Cura pela Fé

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Irene em sua residência

O ambiente onde atende é enfeitado com imagens e livros

comunidade e localidades vizinhas como abenzedeira que cura. “Mas a Fé é quem, a gentepede a Deus através dos Santos e ele vaiconcedendo a graça do milagre”.

Normalmente as pessoas a procuram parabenzer na cabeça, cobreiro, erisipela, torção,verrugas, quebrante, mau olhado, perturbações,entre outros. Tem gente que a procura até parafazer o mal ao outro. Mas, Irene avisa logo: meuministério é fazer o bem para ajudar as pessoas,se vierem com boa intenção eu rezo, se não,mando voltar”.

Irene benze em casa e não “cobra” nada. Noquarto onde se concentra para a oração tem umamesa com imagens de Frei Damião, São Manso,São Marcos e Nossa Senhora de Fátima, além deum calendário, velas e alguns livros.

Para cada doença uma oração específica, geralmente tirada do livro de São Manso e São Marcos -,santos mais invocados, mas, para todos os casos reza o Pai Nosso, oração bíblica que Jesus ensinouaos seus Discípulos.

Em uma comunidade rural como Trindade, que não recebe visitas médicas, que as farmácias sãodistantes e o acesso à cidade se restringe a uma estrada de barro, com distância de 14 quilômetros,esta prática de oração é considerada como medicina popular, para melhoria da vida das pessoas, umaherança cultural, que resgata os saberes populares e a memória de líderes comunitários.

O público que procura Irene para interceder a Deus pela cura dos males, tem em sua história, entreoutros pontos, o lamento do descaso social pelaspequenas vilas, que crescem sem assistênciamédica e educação. A crença pela oração é oponto alto. “Tendo fé a pessoa fica boa”.

Para Irene, ser benzedeira também não estavaem seus planos, mas exerce o ministério comamor, respeito, devoção, muita fé, e, acima detudo uma missão. “Eu faço isso e Deus vai meajudando. Ele me dá a graça de contribuir com obem das pessoas e me sinto feliz por isso. Aspessoas voltam aqui para dizerem que ficaramboas, e isso é gratificante. Mas, como eu disse: afé é quem cura, se não vier com fé e o coraçãoconcentrado em Deus, não fica bom”.

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No tempo livre Irene ajuda cuidar do neto

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Irene compartilha sua experiência