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Benedito Cesar Silva

1ª edição

Camanducaia

Benedito Cesar Silva

Em Gavetas Abertas em Cômodos Distintos o autor

percorre o caminho da memória e o da celebração. Revisita poemas, e

descortina nestas páginas a seleção do seu fazer poético nas multifacetadas

formas.

O autor

Prefácio

MOMENTO DE REencontrar

por Tânia Du Bois

“Acordei com uma imensa vontade de chorar. / Do tempo que juntos vivemos, /

Restam apenas memórias que insistem em retornar...”

Gavetas Abertas em Cômodos Distintos é o momento de

reencontro de Benedito César Silva com a sua memória. Ele abre as gavetas

para reviver a poesia e transformar nosso cotidiano. Em seu momento de

reencontro expõe suas poesias com emoção, revelando as suas lembranças.

“Limpar as gavetas / É despir-se da roupa velha. / A sua foto com carinho protegido /

guardada entre tantas outras coisas sem sentido...”

Uma sensação nos acomete quando visitamos os cômodos do Autor e

encontramos as poesias como possibilidade de ir e vir, de reencontrar o que é

importante: a busca pela literatura. Por essa razão é mais fácil despertar e

representar nossos reais desejos: reviver não é proibido e a imaginação não

tem limites nas lembranças. É como voltar o olhar e encontrar as poesias que

ativam os mecanismos de conquista, desfrutar a maravilhosa sensação de

refletir a cor das palavras, que nos faz viver para que os sonhos em comum

possam se tornar realidade, sem perder cada detalhe de significação existente

do livro.

“Realizar sonhos / É colocar-se no mundo das possibilidades. /

É não esquecer aqueles que insistem em / Ficar pelos caminhos. /

É crer sobretudo, que há verdade. / É acreditar sempre na voz que diz, /

Insistentemente: / Há esperanças reais...”

Benedito escreve misturando cores e ideias, com potencial que nos

inspira a amparar as mudanças, transformando os cômodos em lugares para

serem compartilhados, porque nas (suas) gavetas abertas os poemas afloram

sentimentos.

O que me encanta nesse livro é o prazer em rever as suas lembranças

ao retirar das gavetas os seus sonhos. Mais que isso, seus poemas se

mostram a todos no intuito de colher o sonho presente nas palavras.

É livro pensado em cada detalhe com esmero e qualidade, na certeza de

que o leitor deixará se envolver, pois, a obra é desafiadora porque a memória é

o cenário para sua arte.

“A chuva caindo / A alma lavada / o sorriso da criança /

O pão doce com groselha / os amigos da escola / Lembranças da infância...”

Gavetas Abertas em Cômodos Distintos é cenário que proporciona ao

leitor a acessibilidade para remexer nas gavetas do Autor e desvelar sua

poesia, pois sabe como provocar o leitor e manter a sua concentração no livro.

“Não quero fazer de meus versos / Armas para a batalha. /

Mas, sobretudo, hei de fazê-los / como brinde à vida. /

Que em contrapartida, / Será lindamente colorida.”

Dedico estes poemas a Xinha Carvalho, cuja arquitetura é poesia em prática, é sonho realizado.

O Soneto Desejei compor um poema imprudente. Comecei a delinear na folha em branco Palavras em folhagem transparente Que tomaram forma de orvalho em pranto. Desejei desobedecer à regra, Instituir uma tropa indisciplinada, Não dar teto a sentimentos de pedra, Nem mesmo ouvir a paz equilibrada. Desejei, mas não consegui compor. De versos em versos metrificados Por decassílabos denominados, Entre versos com rimas alternadas, Nasceu, com a imprudência já cantada, Não um poemeto, mas sim um Soneto!

Em raios vespertinos,

Os melodiosos lampejos

Deslizam sabiás.

Neon

Cores, verdades, Frias e quentes. Mentiras, impulsos, Sonoridade. Neons realçam A beleza dos olhares. Beijos eloquentes Entre paredes reluzentes.

Blues Realizar sonhos É colocar-se no mundo das possibilidades. É não esquecer aqueles que insistem em Ficar pelos caminhos. É crer, sobretudo, que há verdade. É acreditar sempre na voz que diz, Insistentemente: Há esperanças reais! Perceber que não é possível viver um paraíso por dia, Nem mesmo uma vida de milagres. Não há Terra do Nunca, Nem mesmo facilidades. A alegria está em qualquer idade Mas é preciso escutar a voz verdadeira, Abraçar desejos secretos, Mudar o tempo todo, Fazer um novo tempo.

Se eu fosse criança Se eu fosse criança novamente, Viveria a paz delicadíssima Dos dias angustiados. Caminharia sem pressa, Correria apressado, Sem tempo, Sem hora. Não importaria se você não olhasse para mim. Se eu fosse criança faria tudo ao contrário, Não dormiria sozinho, Faria tudo se perder, Acharia tudo o que está perdido, Menos a mim mesmo.

Eclipse

A minha pele nua Ao tocar a sua Torna-se Lua Em eclipse solar. O amor escurece a Terra! Delirantemente, O infinito todo se põe aos nossos pés Desvendando o corpo estrelado Do suor dos beijos irrigados. Os sussurros em êxtase vital Fazem da órbita perfeita O movimento do universo No enlace matrimonial!

Deus Artesão

Do barro

Esculpiu

O homem

Arco-íris

Sob a chuva densa das emoções O arco-íris surge como largo sorriso sobre nós. Aliança reforçada, Abraçamo-nos por fim.

Brincando de Volpi

Verdes, amarelas, vermelhas, Lança-as ao vento Símbolos, crianças Um doce lamento Brasileira Pendão da Esperança Bandeira Na ponta da lança No topo do mundo De repente Vestindo o corpo desnudo Pela cidadania, ecologia – principalmente Na lua Preferida Quem sabe toda sua Abrindo a ferida Apontando o rumo Amada Contra o fumo Idolatrada Junina Na madrugada Sem rima De cores diversas pintadas.

Luz e cor

Sem luz não existe cor, Sem você não há amor. Quero captar a luz vermelha Impressa na paixão. No somatório das cores, O branco promove a aproximação. Quero ser a sua cor Alimentar o desejo em nós. Dissipar em definitivo o dissabor.

Colorir

Eu alumio,

Tu alumias,

A luz colore.

Saudade

Na visão exuberante e bela Da luz da felicidade Sou consumido na veracidade Da saudade que nutro por ti.

O Mar e a Areia

O Mar encosta-se à Areia, Ela se deixa levar. Nesse vaivém, O Mar que beija a Areia, Por ela foi se apaixonar.

Gavetas

Limpar gavetas É despir-se da roupa velha. A sua foto com carinho protegido Guardada entre tantas outras coisas sem sentido Rasguei-a em mil pedacinhos Descartando-a num rompimento definitivo.

Caminhos Quero esculpir, com mãos firmes e fortes, Caminhos que levem felicidade. Não entregarei à minha própria sorte A vida surgida na adversidade! Irei, aos poucos, abrindo só as picadas, Construindo e edificando muitas moradas, Em frente, desviando de pedradas. Atravessarei o que preciso for, Suportando a minha própria dor. Sentindo o sol forte, e os ventos do norte. Não abrirei mão de arrancar as estacas, De ampliar horizontes e o que se faça, Para enraizar e frutificar sonhos!

Sapatilha de ponta A bailarina, Com toda a sua leveza, Dança e inclina.

Nos rodopios, ilumina.

Na ponta do pé, Com toda a sua sutileza, Supera a dor... Do desencanto com o seu amor.

Desejo lançado ao mar

Vejo o mar. Para além, lanço o meu olhar. Na esperança de encontrar A paz tão desejada. As ondas revoltas devolvem, Com força e sem nenhuma calma, A esperança lançada, Visto que o desejado Encontra-se dentro da própria alma.

Um brinde

Não quero fazer de meus versos Armas para a batalha. Mas, sobretudo, hei de fazê-los Como brinde à vida, Que, em contrapartida, Será lindamente colorida.

Sombras

Ao andar sob a sua sombra Retiro-me de cena. Coloco-me em segundo plano, Conduzido pelos sentimentos. Pensamentos impuros e indesejados. Hoje, ao focar em mim, Não me reconheço. O tempo que valeu a pena passou. Nem sei quem sou. As sombras não me consomem, Delas sou parte integrada.

Cashemere Bouquet

Acordei com uma imensa vontade de chorar. Do tempo que juntos vivemos, Restam apenas memórias que insistem em retornar. O teu cheiro Cashemere Bouquet e As tardes de matinê Acendem em mim a vontade de o passado visitar. Sobre a penteadeira luminosa Seus produtos dispostos em prateleira mercado, Tudo militarmente organizado. A mim sobrou apenas o lenço de seda chinesa Marcado pelo batom framboesa. Da cor, teus olhos azuis turquesa. À meia luz do abajur, sem nenhum clichê, As imagens no espelho refletem as noites que dormíamos largados na embriaguez de um casal de enamorados. O lençol ao chão, A leveza do calor dos corpos apaixonados.

Encontros e Desencontros Seguimos por caminhos paralelos, Como se fôssemos dois desconhecidos. Num momento de fragilidade, Esses caminhos se cruzam – em corpos entrelaçados. De repente, Deparamo-nos com um hiato de sonhos impossíveis. Em via de escape, Retomamos os nossos caminhos.

Separação De um passado bem vivido Até o presente, Do qual somos sobreviventes, Fizemo-nos confidentes. De uma vida construída a dois, Como ficar sem o depois?

Olhares necessários

Admirar a beleza ausente, Sentir o pulsar dormente, Interiorizar o não comovente.

Preferências

Azul celeste, Em fios brancos, Azuleja na parede O brilho da amizade Convalida os anos Que não retornam.

Ternuras cotidianas

Posso colher

Nas ternuras cotidianas:

A doçura dos seus beijos,

O afago das suas mãos,

O calor dos seus abraços,

Os olhares desejosos,

Os argumentos da razão.

Ótica geométrica

Na natureza dualista da luz, Na ótica geométrica, Deixo-me levar em trajetória sem percurso, No discurso retórico pela sua volta.

Felicidades

A chuva caindo A alma lavada O sorriso da criança O pão doce com groselha Os amigos da escola Lembranças da infância O livro A Márcia Ah! Como é bom ver o poema se Construindo por entre caminhos afetivos!

Esperança

A serenidade do azul celeste, A energia dos amarelos solares, Resplandecem a verde esperança Pela essência da sua volta. Ao sentir o meu calor, Queimando em dor E saudade. Não demore!

Quereres

Não quero viver Esse romance de literatura prosaica. Quero a realidade do dia a dia, Retratada na mais bela tela, Com suas nuances A construir belíssimo mosaico. Na luz poética, Entrelaçar nossos sonhos e corações. Viver o que nos reserva a vida, Sem o sabor das intenções.

Releituras Na paisagem no espelho, Uma releitura, Visto que o tempo passou, E, na face, marcou Os caminhos da felicidade.