Belmiro Braga

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Belmiro Braga: uma cidade no meio do Caminho Novo Professora Leila Maria Fonseca Barbosa, pesquisadora da História Literária de Juiz de Fora, escritora e membro da Academia Juiz- Forana de Letras. Há dois anos, em São João del Rei, Leila Barbosa falou do poeta Belmiro Braga e este ano, conforme declarou ao se apresentar, abordaria a cidade que recebeu o nome do poeta. Assim, ao lado do trecho de um de seus poemas, projetou a imagem da urbe. Em seguida, trouxe a letra do Hino de Belmiro Braga, letra de Dormevilly Nóbrega e música de seu filho Daltony Nóbrega, contando a história da interrelação da cidade com o caminho novo: Margeando o caminho novo, Veio habitar outro povo, Na antiga Minas Gerais E num sonho que ainda expande Fez nascer a vargem grande, Nilza Cantoni e Joana Capella

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Apresentação da Professora Leila Maria Fonseca Barbosa, no IV Encontro de Pesquisadores do Caminho Novo.

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Belmiro Braga: uma cidade no meio do Caminho NovoProfessora Leila Maria Fonseca Barbosa, pesquisadora da História Literária de Juiz de

Fora, escritora e membro da Academia Juiz-Forana de Letras.

Há dois anos, em São João del Rei, Leila Barbosa falou do poeta Belmiro Braga e este

ano, conforme declarou ao se apresentar, abordaria a cidade que recebeu o nome do poeta.

Assim, ao lado do trecho de um de seus poemas, projetou a imagem da urbe.

Em seguida, trouxe a letra do Hino de Belmiro Braga, letra de Dormevilly Nóbrega e

música de seu filho Daltony Nóbrega, contando a história da interrelação da cidade com o

caminho novo:

Margeando o caminho novo,

Veio habitar outro povo,

Na antiga Minas Gerais

E num sonho que ainda expande

Fez nascer a vargem grande,

Cheia de força e ideais.

Ao chamar-se Ibitiguaia,

Um novo sonho se espraia

Da própria vida cuidar - (bis)

E, no ideal que se afaga,

Escolher Belmiro Braga,

Nilza Cantoni e Joana Capella

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Protetor deste lugar

Segundo a professora Leila, na bandeira da cidade de Belmiro Braga, o vermelho

significa intrepidez; o azul (Blau), serenidade e o verde (Sinople), abundância. O escudo,

quando criado, evidenciava os três distritos municipais: Belmiro Braga, Porto das Flores e Três

Ilhas; a lira destacava a presença do grande poeta mineiro, nascido na localidade; as três faixas

de prata a topografia hidrográfica da região, constituída pelos rios Paraibuna, Rio Preto e

Peixe; a Flor de Liz, Nossa Senhora Sant’Ana,

padroeira da localidade.

Serras virentes que não mais transponho,

Na retina fiel ainda eu vos tenho

E revejo através de um grande sonho,

A casa onde nasci, as mansas reses,

A várzea, a horta, o laranjal, o engenho

E a cruz onde eu rezava tantas vezes...

Belmiro Braga

O município recebeu o nome em homenagem ao poeta nascido aos 7 de janeiro de

1872, na Fazenda da Reserva, em Vargem Grande, depois chamada Ibitiguaia e finalmente

Belmiro Braga. A fazenda ficava "entre altos morros, nas abas da serra Criminosa”, conforme

descreve o poeta em seu livro de memórias Dias idos e vividos.

Ali, prossegue Leila Barbosa, Belmiro residiu com seus pais, que possuíam, além do

sítio, uma venda à beira do caminho. E continuou:

“A cidade localiza-se na região da Zona da Mata Mineira e abrange os distritos de São

José das Três Ilhas, Porto das Flores e Sobragy, além das localidades de Vila São

Francisco, Vila Operária Klabin, Santa Mafalda e Fortaleza. Abrange uma área de 381

km². Sua estrutura, quanto à saúde, é simples, com atendimentos ambulatoriais, e os

casos de maior complexidade são encaminhados para as cidades de Juiz de Fora - MG,

Valença, Vassouras e Barra do Piraí-RJ. Em relação à educação, todas as escolas são

públicas, com ensino médio e fundamental, mas apresenta grande evasão escolar,

Nilza Cantoni e Joana Capella

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sobretudo nas escolas rurais. Os interessados em cursos de 3º grau são direcionados a

Valença, Rio das Flores e Juiz de Fora. Destacam-se, na região, atividades típicas do

meio rural, como pecuária (rebanhos bovinos, suínos e aves) e agricultura. Na área

urbana, o setor de serviços absorve parte da mão de obra, sendo importante destacar

a influência direta e indireta gerada pelas atividades das Usinas Hidrelétricas de

Sobragy e Picada, da empresa Votorantim Energia.

A Associação de Moradores da Vila Klabin, Belmiro Braga, em parceria com outras

entidades e com o apoio da Votorantim, desenvolveu o projeto BELMIRO NA TRILHA –

FORMAÇÃO DE MONITORES, liderados pelas professoras Maria Goretti Simões e Sônia

Maria Heckert, de Juiz de Fora.

Os alunos da cidade foram treinados para fazerem o levantamento bibliográfico da

área do município, a partir do Inventário desenvolvido pelo PERMEAR (Programa de

Estudos e Revitalização da Memória Arquitetônica e Artística) e do Diagnóstico,

elaborado pelo GAIA – Grupo de Aplicação Interdisciplinar à Aprendizagem. E,

com participação coletiva ou em pequenos grupos,

utilizaram um formulário do Ministério da Cultura,

realizando visitas e entrevistas com informantes

qualificados; fazendo pesquisa de campo;

registrando fotograficamente os bens e

sistematizando as informações coletadas.

Visualizou-se, então, o turismo, como alternativa

para dinamizar a economia local e gerar receitas,

especialmente a partir do resgate de tradições e

valorização das particularidades locais, como as

festas; e os referenciais históricos, como as igrejas e

as fazendas de café da região.

O resultado das ações foi transformado no

CATÁLOGO TURÍSTICO: BELMIRO BRAGA que reúne e

apresenta os bens histórico-culturais mapeados:

Conjunto Arquitetônico;

Capela e Igrejas;

Fazendas;

Artesanato;

Manifestações Culturais.

Nilza Cantoni e Joana Capella

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O objetivo de reter os jovens na cidade, ensinando-os a serem guias e incentivarem o

turismo, em Belmiro Braga, foi, então, atingido.

Sobre os distritos, foi informado que no Centro Histórico de São José das Três Ilhas

destaca-se o casario construído pelos Barões, residentes nas fazendas, que vinham, com suas

famílias, para as missas e manifestações religiosas da Igreja de São José. Já em Sobragy, a

Estação Ferroviária é atualmente o Centro Comunitário de Sobragy, sendo utilizada como

posto médico, aulas de capoeira e reuniões da Associação de Moradores.

Passando à sede do município, a palestrante informou que a Praça de Sant’Anna foi

inaugurada em 1962, tendo uma fonte hoje desativada e um belo coreto, tombado em 2002.

Na praça, existem ainda bancos, parquinho, banheiros e telefone público.

Em outra praça, denominada Getúlio Vargas, há restaurantes, bares e lanchonetes,

além da Igreja Nossa Senhora do Rosário.

E quantas rezas não balbucia

ali sozinho num gesto mudo !

Ao longe os sinos – Ave Maria

tangem na sua melancolia

e a noite desce cobrindo tudo.

Ao lembrar este poema de Belmiro Braga, a professora informou que a Igreja do

Rosário foi construída na década de 1970, sendo utilizada para cerimônias fúnebres e, no mês

de outubro, há festa para Nossa Senhora do Rosário. Já a Capela do Divino Espírito Santo foi

construída em 1902, seu altar é de 1924 e a imagem do Divino é proveniente de uma capela

que ruiu. Foi tombada em 2002.

A Igreja Matriz de Sant’Ana, edificada por volta de 1885 é atualmente mantida pela

Mitra Arquidiocesana de Juiz de Fora. Fica no centro de Belmiro Braga e, no seu interior,

existem imagens, como a da padroeira (Sant’Ana), altar e sacristia. Tem capacidade para cerca

de 280 pessoas. Anexos à igreja, localizam-se o salão e a casa paroquial. Além das missas

rotineiras, acontecem celebrações de casamentos, batizados, crismas, velórios, cerimônias da

Semana Santa e festividades pelo dia da padroeira.

Também foram citadas a Igreja Nossa Senhora das Dores e a Igreja do Asilo. A

primeira, em Porto das Flores, com piso em ladrilhos hidráulicos, uma imagem do Sagrado

Coração de Jesus e, outra, de Nossa Senhora das Dores. A segunda, construída por volta de

1911, localiza-se na Fazenda Patrocínio, em São José das Três Ilhas. Era parte de um colégio

interno para crianças pobres, daí seu nome de “asilo”. O colégio foi demolido e a fazenda

vendida. Lá, foi filmada A terceira morte de Joaquim Bolívar, em 2000, escrito e dirigido por

Flávio Cândido.

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Entretanto, mais conhecida é a Igreja de São José das Três Ilhas, construída em 1878,

em pedra, durante o ciclo do café. Seu mestre de obras foi o português Joaquim Rodrigues. Em

sua parte externa há um chafariz e, no interior, imagens, altar, um órgão ainda em

funcionamento, pintura nas paredes e vitrais. Possui desenhos

de Quintiliano Nery Ribeiro. Em setembro de 1997 foi cenário

do filme O menino Maluquinho II. É importante destacar os

passinhos, utilizados pela Via Sacra, constituídos por

capelinhas localizadas nas proximidades da igreja.

No município existem ainda outros templos católicos

como a Igreja de São Sebastião, construída em 1944, no Distrito de Fortaleza, local onde se

realizam leilões e almoços em prol da comunidade. Já a Igreja do Sagrado Coração de Jesus,

em Três Ilhas, tem sua principal festa no mês de julho.

Entre as diversas fazendas do município, a

professora Leila citou as seguintes:

FAZENDA BOA ESPERANÇA

Construída pelo Barão de Três Ilhas, em 1874, é

fazenda de café e sua senzala foi extinta em

1931. Tem 14 cômodos e 5 salões, mobiliário do

tempo do Barão, louça, quadros, vestuário e decoração. Possui uma capela. Hoje tem,

como atividade econômica, a criação de gado leiteiro. Pelas informações, o Barão das

Três Ilhas chegou a ser a segunda maior fortuna do

império, mas morreu falido, sem o saber.

FAZENDA DA VARGEM (FAZENDA DO BOLÃO)

Da época do ciclo do café, é uma sede histórica e seus

proprietários recebem visitantes para o café e outras

refeições.

Possui gado leiteiro, galinhas e porcos. Cultivam horta e pomar para consumo próprio.

A fazenda possui trilhas, uma cachoeira e um açude.

FAZENDA DOS MONGES ou FAZENDA ANANDA KÜRTANA

Edificada no século XIX, fica na Estrada Juiz e Fora-Belmiro Braga e é mantida pela

Associação Ananda Marga (ACIAM). Com cerca de 1000 visitas por ano, recebe pessoas

do Brasil, além de turistas da Argentina, Portugal, Estados Unidos, Alemanha e da

Índia. A alimentação oferecida é a vegetariana. Na casa sede, do século XIX, hoje,

funcionam atividades espirituais. Possui uma horta orgânica coletiva e um templo onde

são desenvolvidos projetos sociais, como a manutenção da escolinha infantil Sol

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Nascente. Possui ainda um campo de futebol. Para manutenção, foram vendidas

glebas e existem casas particulares no local. Aos domingos, é oferecido um almoço com

cardápio vegetariano, pago mediante uma doação. Possui ainda espaço para

caminhadas e para a produção e venda de produtos artesanais, como bonecas

pedagógicas, doce de leite, queijo e mel.

Há, em Belmiro Braga, uma boa produção de aguardente de cana, especialmente a

Cachaça Du Botti e a Pinga du Neném. Em Porto das Flores o destaque fica com a fábrica de

ladrilhos hidráulicos.

Entre as manifestações culturais, Leila Barbosa mencionou o Festival São José das

Culturas, realizado anualmente em São José das Três Ilhas, e a Folia de Reis Estrela da Paz que

em 2010 foi registrada como Bem Imaterial.

Nilza Cantoni e Joana Capella