Beatles Piauí

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  • 8/18/2019 Beatles Piauí

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    As contradições entre o apaulíneo e ojohnisíaco ajudam a explicar apermanência da música do grupo inglês

    por Marcelo O. Dantas

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     Ainda outro dia, um amigo me mandou um e-mail contando que havia presenciado umacena saída diretamente do seriado Túnel do tempo. Encostados no balcão do BB Lanches,no io, dois garotos, de no m!"imo #$ anos, conversavam assim% &'oc( sabe por que eles)i*eramTa"man+ orque na nglaterra tinha imposto pacas. Eles )i*eram uma música deprotesto&. Ao que o outro aquiesceu, acrescentando mais um caminhão de in)orma/0essobre o hino antitribut!rio do !lbum evolver.

    1eu amigo )icou estupe)ato. Era como se n2s dois estiv3ssemos ali, $4 anos antes,

    tomando um suco depois do col3gio. 5essas tr(s d3cadas, o mundo virou do avesso. Acabou a guerra )ria, o regime militar, a pa* no Leblon. 63rgio 7ourado )aliu, 6tar 8arscansou, 9oe: amone morreu. ;oi-se tudo e mais um pouco. 1as os garotos ainda estão l!,)alando dos Beatles.

     Alguns historiadores do roc< atribuem o )en=meno >s vantagens do pioneirismo - osBeatles )oram as pessoas certas no momento certo. Tinham o talento, o visual e a ousadianecess!rios para ocupar o va*io dei"ado pelo esgotamento criativo de Elvis, ?huc< Berr:,Little ichard e companhia. 1al despontaram para o estrelato, entenderam a import@nciade se posicionarem na vanguarda de uma d3cada revolucion!ria. E )oram assimpavimentando o caminho para a e"plosão internacional do roc desesperan/a do s3culo CC+ ?omo pode um ovemsaud!vel contrair a )ebre da beatlemania em plena era do hip-hop e da cultura digital+ Dpalpite 3 simples. A música - tudo se resume > música.

    Ds quatro nunca )oram instrumentistas virtuosos. 5ingu3m encontrar! um solo de #minutos num disco dos Beatles. 1as eles tocavam com convic/ão, com gosto. 5um estilopr2prio, inigual!vel. Ftili*ando at3 a última gota os recursos t3cnicos a seu dispor. Guandonecess!rio, sabiam acolher a contribui/ão de amigos brilhantes. E, como num passe dem!gica, o convidado era incorporado ao som da banda, tornando-se o quinto elemento%?lapton arrancando gemidos da sua Les aul em 8hile 1: Huitar Hentl: 8eeps, Bill:reston incendiando Het Bac< com seus teclados endiabrados.

    Dutra virtude% eles cantavam bem. Talve* sem o virtuosismo de a: ?harles, 6am ?oo

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    centralO a intera/ão dial3tica de Lennon R 1c?artne:. Fso a palavra sem pedantismo, emseu sentido mais amplo. 7ial3tica 3 di!logo, embate, discussão. 1as tamb3m o ogopermanente e sem descanso. Adi/ão e contradi/ãoQ unidade e multiplicidadeQ identidade edi)eren/a. 1ovimento e síntese. 7ois compositores igualmente geniais, mas cominclina/0es distintas, por ve*es opostas. 7ois líderes cheios de id3ias e talento. Fm levandoo outro a permanentemente se superar. Ambos avan/ando% ora untos, ora separados.

    5enhum permitindo ao outro se acomodar. 5enhum aceitando ser dei"ado para tr!s.

    Em geral, as grandes parcerias musicais são compostas por um melodista e um letrista, queunem )or/as, )ormando uma per)eita unidade% odgers e art, Heorge e ra HershJin,Tom e 'inícius, Lieber e 6toller, age e lant, Peith ichards e 1ic< 9agger, Elton 9ohn eBernie Taupin. 5o caso de Lennon R 1c?artne: tudo muda. Ambos eram compositorescompletos, aut=nomos. 1as entenderam, desde cedo, a import@ncia de buscarem um aooutro. 1uitas duplas de compositores somam. 9ohn e aul multiplicam.

     As narrativas mais comuns da traet2ria dos Beatles levam a crer que a parceria Lennon R1c?artne: e"istiu apenas na )ase inicial do conunto, tornando-se mais tarde mera

    conven/ão. Trata-se de um engano. Eles )oram parceiros at3 o )inal. 1esmo quandoescreviam separados, 9ohn e aul o )a*iam um para o outro. ensavam, sentiam e criavamobcecados com a presen/a Nou aus(nciaO do parceiro e rival.

    6em a contribui/ão decisiva de 1c?artne:, amais teríamos algumas das mais inspiradascan/0es de Lennon. 7eve-se a aul a abertura de 6traJberr: ;ields ;orever, o arranograndioso de All Mou 5eed s Love, os e)eitos de tape de TomorroJ 5ever PnoJs, aalucina/ão de Am The 8alrus, o ambiente sobrenatural de ?ome Together. Lennon eraum purista musical, apegado a suas raí*es, calcadas no rocs baladas e can/0es pop de 1c?artne: uma lucide* e umasobriedade )undamentais. Ele sabia reprimir o banal e )omentar o sublime. ;oi sentando-se ao lado do companheiro que aul ganhou con)ian/a para manter na íntegra os versosmais ousados de The ;ool Dn The ill e e: 9ude. 7uas letras de primeira grande*a.

    Em algumas can/0es, um ligeiro toque de Lennon )a*ia a di)eren/a entre o e"celente e ogenial. A melhor estro)e de 8e ?an 8or< t Dut 3 de 9ohn% &Li)e is ver: short S and thereKsno time S )or )ussing and )ighting m: )riend&. 6em a interven/ão cirúrgica do autorde Being ;or The Bene)it o) 1r. Pite e appiness s A 8arm Hun, tampouco haveriaem Eleanor igb: a estranhe*a surrealista dos versos% &8aits at the JindoJ S Jearing the)ace S that she

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