Bavi Uma Paixao Sem Limites

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Ba-Vi:uma paixo sem limitesRaphael Carneiro

outubro de 2009

SumrioBahia, 5Sangue azul, vermelho e branco, 10 Mais que um time, uma religio, 32 Amor e dio, 54 Paixo irracional, 73 Bahia de todos os santos, 90 Chupa que de uva, 100 A esperana no campo dos sonhos, 112

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Vitria, 115Um jovem centenrio, 120 Do inferno ao paraso, 142 Sditos de sua majestade o Leo, 159 Violncia organizada, 178 Apelo ao divino, 196 Senta que de menta, 204 A esperana sul-americana, 216 Sobre esse livro, 219 Sobre a Editora Plus, 221

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Bahia

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Vinte de aBril de 2008. Mais um Ba-Vi pelo Campeonato Baiano, desta vez pelo quadrangular final da competio. Seria o terceiro clssico do ano. Os outros dois haviam sido vencidos pelo Bahia e o torcedor tricolor estava confiante em mais um triunfo, mesmo a partida sendo na casa do adversrio, no Estdio Manoel Barradas, o Barrado. Os preparativos para a partida comearam cedo. Mesmo desprezando o estdio adversrio o torcedor do Bahia compareceu em grande nmero, surpreendendo at mesmo os rubro-negros. O momento era propcio a isto. O clube estava bem na disputa do Baiano, fazia a torcida relembrar as alegrias que teve durante anos e escassas desde a dcada de 90. Apesar do histrico negativo no Barrado, desde 2006 o Bahia no sabia o que era perder no palco adversrio. A dupla Ba-Vi dividia a liderana da fase decisiva do Baiano. Ambos tinham quatro pontos, mas o rubro-negro levava a melhor no nmero de gols

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marcados: 6 contra 2. Aquele era o terceiro Ba-Vi da temporada e primeiro da fase final da competio. Vitorioso nos dois primeiros, o tricolor buscava manter o tabu no Barrado e chegar terceira vitria consecutiva em clssicos depois de 14 anos. O momento era de confiana e reencontro. Desde o acidente com a Fonte Nova, na Srie C de 2007, o Bahia estava mandando seus jogos no Estdio Armando Oliveira, em Camaari, e no Estdio Jia da Princesa, em Feira de Santana. O clssico seria apenas a segunda partida do time em Salvador em 2008. Por isso, o torcedor tirou sua camisa do armrio e se dirigiu ao Barrado. As provocaes voltaram a aparecer. Mscaras de proteo eram vistas em toda a rea destinada aos tricolores. Diziam eles no querer sentir o fedor exalado por um antigo lixo que ficava prximo ao estdio. J os religiosos, carregavam consigo seus santos e amuletos de sorte.

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A Torcida Organizada Bamor, maior do clube, compareceu em nmero recorde. Um verdadeiro arrasto, que em tempos de violncia, mostrou que o torcedor baiano ainda sabe torcer sem criar confuses. E bastou a Organizada entrar no estdio para a festa tricolor comear. O primeiro grito de gol saiu logo aos 12 minutos. Mas, o bandeirinha fez questo de estragar a comemorao do atacante Didi marcando impedimento. S que trs minutos depois, o zagueiro Alison aproveitou um cruzamento e pde, enfim, abrir o placar no Barrado. A partir da, a comemorao tricolor s fez aumentar. Aos 36 minutos, o meia Elias completou o cruzamento de vine e marcou o segundo gol do Bahia. O terceiro veio logo depois, com Elias cobrando escanteio e o volante Rogrio aproveitando de cabea aos 44 minutos. J nos acrscimos, o Vitria ainda conseguiu descontar com Marco Antnio. O intervalo veio e durante os quinze minutos de descanso, a torcida do Bahia que era minoria no estdio passou a ser maioria. Muitos rubro-negros no suportaram ver

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a superioridade do rival e decidiram jogar a toalha. No viram nem o quarto gol tricolor aos quatro minutos da segunda etapa, em um belo chute de fora da rea de Rogrio. A partir da os tricolores s queriam saber de comemorar. O Cru j estava na velocidade quatro. Muitos queriam o quinto gol. Os rubro-negros que resistiram at o final, s rezavam para que o vexame no fosse ainda maior. Rezavam e escutavam chacotas. Alm do funk carioca, a torcida do Bahia lanou no Barrado o Chupa que de uva, msica de forr usada em aluso ao ttulo da Copa da Uva, conquistado pelo Vitria em Caxias do Sul, e uma verso do Beber, cair e levantar que iniciava com Vamos simbora pro Barrado... e tem um final impublicvel. Depois dos gritos de ol durante a partida, at mesmo os jogadores entraram nas provocaes. Ao final do jogo, todos se dirigiram ao espao destinado torcida do Bahia e simularam as danas. Nem mesmo o diretor de futebol, Ruy Accioly, deixou escapar mais uma oportunidade de alfinetar o rival. A manchete do jornal de amanh tem que ser Vitria vira fregus do Bahia. (...) Jogamos duas partidas aqui no Barrado. A primeira dei de dois e agora, de quatro. O

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placar geral 6 a 1. O Barrado, com isso, continua a ser o recreio dos tricolores brincava. A goleada de 4 a 1 fez com que depois de anos o torcedor do Bahia pudesse recuperar o orgulho de ser tricolor, mesmo que durante um curto perodo. E exatamente isto que o leitor vai encontrar nas pginas a seguir. A lembrana dos tempos de domnio do Esquadro de Ao, as loucuras de seus torcedores, o surgimento e crescimento das torcidas organizadas, a violncia provocada por elas, o apelo religioso para o sucesso do time do corao e, como no poderia deixar de ser, a maneira nica como o torcedor baiano consegue criar e provocar os rivais.

Sangue azul, Vermelho e BrancoSomos do povo o clamor, ningum nos vence em vibrao. Um hino de um clube de futebol nunca esteve to prximo de sua realidade como este. De autoria de Adroaldo Ribeiro Costa e, gravadoeditoraplus.org info10

pela primeira vez em 1956 pela Banda do Corpo de Bombeiros, a cano representa fielmente o sentimento da torcida do Esporte Clube Bahia. Uma nao azul, vermelha e branca que no mede esforos para acompanhar, vibrar e tambm chorar ao lado do clube do corao. Essa paixo comeou a florescer em 1931. O Pas, poca, vivia um perodo de efervescncia poltica. Washington Lus havia sido deposto da presidncia do Brasil, com Getlio Vargas assumindo o posto mais importante do Pas. A Bahia era um dos centros de oposio s foras que fizeram a Revoluo de 1930. O comando do Estado foi passado s mos de Juracy Magalhes, nomeado como interventor baiano. dos ventos renovadores e efervescentes que sopravam da Revoluo de 30 que nasce o Esporte Clube Bahia , afirma o jornalista Nestor Mendes Jr. em seu livro Esporte Clube da Felicidade: Bahia- 70 anos de glrias. O clube foi fundado oficialmente no dia 1 de janeiro de 1931, mas era planejado desde o final do ano anterior. Antigos integrantes da Associao Atltica da Bahia e do Club Bahiano de Tnis passaram a se reunir constantemente com a inteno de fundar

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uma nova agremiao na Bahia, j que eles estavam insatisfeitos em suas respectivas equipes. As primeiras notcias sobre a fundao deste novo clube comearam a ser divulgadas na cidade no ms de dezembro. No dia 7 daquele ms, o Dirio da Bahia publicou uma nota com a inteno dos jovens dissidentes do Bahiano de Tnis e da Associao Atltica. No entanto, o texto aponta Atltico Bahiano Football Club como o nome da nova equipe. A idia j estava bem definida. O clube seria realmente criado, mas faltava estabelecer quais seriam suas cores. A deciso foi tomada um dia depois da nota publicada no jornal baiano. Era 8 de dezembro, a cidade festejava o dia de Nossa Senhora da Conceio quando alguns dos idealizadores do novo clube se encontraram. Carlos Koch de Carvalho, Eugnio Walter de Oliveira, Fernando Tude de Sousa e Julio Almeida, do Bahiano de Tnis, e Waldemar de Azevedo Costa, este da Associao Atltica, discutiam a publicao no Cabar do Jockey. Carlinhos Koch sugere o preto nos cales (do Bahiano) e o azul nas camisas (da Associao) para os uniformes. Em tom de brincadeira, Waldemar impugna o preto:editoraplus.org info12

Preto s no campo. Em escudo ou uniformes, sempre deu azar. Ento, sugere o branco, do Bahiano, o azul, da Associao, e o vermelho... Bahia, Bahia, Bahia, grita Julio Almeida relata Nestor Mendes Jr. em seu livro . Dois dias depois deste encontro, o jornal A Tarde tambm publicou uma notcia sobre a criao de um novo clube baiano. Esta nota, j mais completa que a do Dirio da Bahia, revelava as cores da equipe e indicava dois possveis nomes: Bahia Foot-Ball Club ou Sport Club Bahia. No dia seguinte, uma reunio realizada na sede do Jockey e com a participao de mais de 70 pessoas, entre elas ex-jogadores do Bahiano e da Associao, e dirigida pelo ento diretor do Dirio da Bahia, Octavio Carvalho, confirmou as decises j tomadas. O clube teria mesmo as cores da Bahia e seu uniforme seria composto por uma camisa branca, calo azul e uma faixa vermelha na cintura. Os ltimos dias do ano de 1930 serviram, ento, para que fossem feitos os ajustes finais para a fundao do Sport Club Bahia. No dia 1 de janeiro do ano seguinte, uma assemblia aprovou os estatutos e elegeu por aclamao a primeira diretoria do clube, formada por Waldemar Costa (presidente), Alex Von Uslen (vice-presidente), Octvio

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Carvalho (1 secretrio), Jlio Almeida (2 secretrio), Joo Barbosa (1 tesoureiro), Jos dos Santos Mello (2 tesoureiro), Plnio Rizrio (diretor de esportes) e Aristteles Gomes (orador). Em seu incio, a agremiao foi formada, basicamente, por jogadores da Associao Atltica e do Bahiano de Tnis. Essas duas equipes protagonizavam a maior rivalidade do Estado na poca, o que refora a tese de que o Bahia foi fundado no pela unio de dirigentes, mas dos prprios jogadores. Por essa juno no ter sido feita entre as pessoas influentes das duas equipes, o tricolor no herdou a riqueza que aparentava ter, j que seus atletas eram da pequena burguesia baiana. Se no tinha tanto poder fora de campo, dentro dele o Bahia mostrou que chegou para mudar a cara do futebol baiano. No primeiro jogo oficial, venceu o Ypiranga (seu primeiro rival) por 2 a 0. No mesmo dia, conquistou o primeiro ttulo disputado, o Torneio Incio do Campeonato Baiano de 1931. Meses depois, levantou mais um trofu. J no mais como promessa e sim uma realidade do futebol no Estado, se tornou campeo baiano de 1931 com duas rodadas de antecedncia. As conquistas em menos de um ano de fundao lhe renderam um slogan usado at os dias de hoje: Nasceu para vencer.editoraplus.org info14

Se a Revoluo de 30 mudou a poltica e a sociedade, a entrada em cena do Bahia fez nascer no apenas mais um clube de futebol, mas a centelha para atiar a rivalidade com Ypiranga e Botafogo poca, os clubes mais populares, agregando torcedores das camadas mais pobres e, posteriormente, com o Vitria, operando uma verdadeira revoluo no futebol da terra afirma Nestor Mendes Jr., em um trecho de seu livro. Com as surpreendentes campanhas em seus primeiros anos de existncia, o Bahia passou a ganhar diversos apelidos. Um deles que marcou e acompanha o time at hoje o de Esquadro de Ao. A expresso foi usada pela primeira vez em 1946 pelo jornalista e primeiro orador do clube, Aristteles Ges, em uma manchete do jornal A Tarde. A idia veio depois de uma goleada de 7 a 2 sobre o So Paulo, o Esquadro da F. Com todas as conquistas dentro de campo, faltava ao clube um hino que identificasse seu torcedor, tido como apaixonado desde os primeiros anos. Foi ento que, em 1944, Adroaldo Ribeiro Costa foi procurado no Clube Fantoches por quatro tricolores. Amado Bahia Monteiro, Osvaldo Gentil, Valdemar Menezes e Francisco Chagas queriam fundar a torcida uniformizada tricolor e precisavam de um canto. O pedido foi atendido j no dia seguinte.editoraplus.org info15

Aquilo foi fcil. Foi um simples traduzir o que eu sentia. Repare que a letra reflete os sentimentos da torcida, quele tempo um ncleo aguerrido que iria se transformar no que hoje: um clamor do povo relembra o compositor em entrevista ao jornal A Tarde em dezembro de 1958. Apesar da expresso da letra e da representao do sentimento da torcida, o hino no vingou. A letra ficou guardada de 1944 at 1956, quando o organizador da campanha Por 10 mil scios, nenhum a menos, Joo Palma Neto, recorreu ao mesmo Adroaldo na tentativa de um hino para o clube. Revelada a existncia do antigo, o maestro Agenor Gomes fez a instrumentao, a banda do Corpo de Bombeiros ensaiou e a cano foi enfim gravada nos estdios da Rdio Cultura. O hino foi mais uma estratgia para a popularizao do clube. Essa ao, de levar o Bahia s classes mais populares, se iniciou em 1954, quando depois de eleger-se vereador, sendo o membro da Cmara Municipal mais votado da capital baiana, Osrio Vilas Boas assumiu a presidncia do Esporte Clube Bahia, dividindo a histria do Esporte Clube Bahia em duas partes:

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At 1954 e de l at os dias atuais. At 1954, era o Bahia dirigido por uma aristocracia, sobrevivia s custas de uma meia dzia de coronis, gente de dinheiro, e gente, no entanto, qual o clube deve muito. Em 1954, quando passei a dirigir o valoroso esquadro de ao, uma das minhas primeiras preocupaes foi a de populariz-lo, usando, claro, o potencial j existente , gaba-se Osrio Vilas Boas, no livro Futebol: paixo & catimba, resultado de entrevista aos jornalistas Newton Calmon e Carlos Casaes. O dirigente revela que passou a dar entrevistas s emissoras de rdio mais freqentemente, aparecia nas pginas dos jornais quase todos os dias e, o principal, levou o elenco do Bahia para realizar treinos coletivos e amistosos no subrbio e nos municpios do interior do Estado. Essa preocupao em ampliar o nmero de torcedores foi logo entendida como uma forma de Osrio aumentar seu prestgio poltico. No entanto, ele lembra que foi eleito pela primeira vez em 1950, quando era apenas um torcedor comum do Bahia. Mas, reconhece a ajuda da torcida tricolor para a reeleio quatro anos depois. Para ele, o mais importante era mudar o perfil do torcedor.

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Percebi que quando um homem do povo se dizia torcedor do Bahia, o apaixonado por outro time qualquer (Ipiranga, Botafogo, etc.) indagava: Como que um cara como voc gosta de um clube de granfinos? A verdade que um carregador, um boy, um ascensorista, um funcionrio da Limpeza Pblica, etc., torcia era para o Botafogo, o Ipiranga. Os mais aquinhoados dividiam-se entre o Bahia e o Vitria , explica em sua entrevista. A popularizao, que comeou com aes de marketing, terminou de forma bem-sucedida dentro de campo. Uma prova de que Osrio Vilas Boas havia sido exitoso na tentativa de popularizar o clube veio em 1957, quando a equipe retornou de uma excurso Europa. O Bahia saiu de Salvador sendo motivo de chacota pela imprensa local. O scio que iria financiar a viagem desistiu de ltima hora. Foi o governo do Estado, atravs do Banco de Fomento, com o aval do governador Antnio Balbino, que financiou a viagem, com a promessa do ressarcimento em 90 dias.

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A excurso foi marcada por confuses e desencontros. O agenciador dos amistosos acabou se mostrando um verdadeiro vigarista. A delegao teve de se virar sozinha para recuperar o dinheiro emprestado pelo governador Balbino e voltar ao Brasil com lucro. Com as vitrias dentro de campo, o dinheiro apareceu e o clube pde enfim retornar. No sem antes a acusao de contrabando no aeroporto de Recife. J em Salvador, uma demonstrao de carinho que marcou a vida daqueles que participaram da aventura. E como se no bastasse, havia povo mas povo mesmo, multido no aeroporto. As manifestaes de aplausos ao Bahia constituram-se num acontecimento indito. Duraram das cinco horas da tarde, quando o avio chegou, at uma hora da manh do dia seguinte, na Praa da S. No esqueo que, durante o percurso festivo, passamos pela casa do Waldemar Costa, na Barra, e pelo Palcio da Aclamao, onde nos saudou o governador Antnio Balbino. Na Praa da S o que houve foi um verdadeiro Carnaval. Diante daquele espetculo quem mais poderia dizer que o Bahia era um clube s de elite? Quem bancaria idiota bastante para no imaginar que seu crescimento seria como foi espantoso? indaga Osrio Vilas Boas.

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A demonstrao popular surpreendeu os jogadores e a imprensa local. O ex-jogador do Bahia Marito se disse emocionado com as ruas lotadas. J o Dirio de Notcias no poupou adjetivos ao descrever o acontecimento: Mais que um triunfo do prestgio, muito mais ainda que uma autntica vitria da popularidade, foi de verdadeira consagrao a efervescente e entusistica recepo que o Bahia recebeu ontem em nossa capital, ao regressar de sua exitosa excurso ao Velho Mundo. Centenas de milhares de pessoas, desde as primeiras horas da tarde, se concentravam no centro da cidade, cada qual mais excitada na expectativa de encontrar um transporte para o Aeroporto de Ipitanga, onde s 16 horas deveria desembarcar a delegao tricolor. Da Praa da S at a sede do Bahia o burburinho era tremendo. O povo, j quela altura invadido pelo contgio emocional de receber o clube do seu corao de regresso ptria, vibrava loucamente, tomado de uma euforia que, em palavras, no poderia ser absolutamente descrita. Nunca vramos, em dia til, uma concentrao popular to grande no centro da cidade, com a massa tricolor a entoar unssono o hino do Bahia descreve a publicao. Se em 57 as ruas de Salvador viraram um verdadeiro Carnaval por causa do regresso do Bahia da Europa, dois anos depois, ou melhor, trs, a festa seria ainda maior. Umaeditoraplus.org info20

verdadeira comprovao do crescimento rpido e surpreendente do nmero de torcedores do clube. No primeiro campeonato nacional disputado no Pas, a Taa Brasil, o Bahia fez histria. Depois de derrotar o Vasco da Gama nas semifinais da competio, foi jogar a final histrica contra o Santos, considerado o melhor time do mundo poca com titulares como Zito, Jair, Coutinho, Pepe e o rei Pel. Foram necessrios trs jogos para se definir o primeiro campeo brasileiro. No interior de So Paulo, o Bahia consegue vencer por 3 a 2, de virada. Na volta, em Salvador, necessitava apenas de um empate para levantar o trofu. No entanto, o time baiano no resistiu magia de Pel e foi derrotado por 2 a 0. Pelo regulamento da competio, foi realizado um terceiro e decisivo jogo. Apesar de decidir a Taa Brasil de 1959, a partida foi realizada em 29 de maro de 1960, no Estdio Mrio Filho, o Maracan, no Rio de Janeiro. O jogo foi realizado no mesmo dia do aniversrio de Salvador. Mas os festejos pela data comemorativa tiveram de ser adiados por algumas horas. Enquanto a capital baiana comemorava seus 411 anos, maior parte da populao estava com os ouvidos aten-

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tos ao radinho. E foi atravs dele que ouviram o Santos abrir o placar aos 27 minutos do primeiro tempo com um gol de Coutinho. A tristeza, no entanto, demorou pouco. Dez minutos depois, Vicente empatou para o Bahia em cobrana de falta. Assim como no primeiro confronto da final, a virada baiana saiu no segundo tempo. Aos 45 segundos de jogo, Biriba aproveita uma cobrana de escanteio e cabeceia para o gol. O zagueiro Getlio salva em cima da linha, mas atento ao rebote, Lo marca. A consagrao e a confirmao da raa tricolor vieram aos 36 minutos da etapa final, quando Alencar fechou o placar: Bahia 3x1 Santos. O Esporte Clube Bahia se tornava assim o primeiro clube a conquistar um ttulo nacional e, conseqentemente, a primeira equipe a representar o Brasil na Taa Libertadores da Amrica. O feito mereceu elogios nos jornais de todo o Pas. Em Salvador, no poderia ser diferente. Assim como havia acontecido dois anos antes, a torcida tricolor voltou a invadir as ruas de Salvador. Encerradas as transmisses das emissoras de rdio, o povo saiu s ruas num verdadeiro Carnaval. O Bahia entra em festa por todo o ms de abril, cujo ponto alto o sbado, dia 2, quando, mais uma vez, uma multido abarrota as dependncias do

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Aeroporto de Santo Amaro de Ipitanga para esperar a chegada dos heris do primeiro campeonato brasileiro de clubes, depois de abortada a idia de fazer dois jogos amistosos em Belo Horizonte. s 13h30, quando se abriu a porta do PP-LER do Lide Areo, foi uma apoteose. Os jogadores foram carregados nos braos at os jeeps cedidos pela Petrobras para o desfile. s 15 horas a banda do Corpo de Bombeiros abriu o desfile, puxando centenas de automveis e nibus. Paradas em Itapu, onde moravam Biriba e Lo, nas sedes do Botafogo que hasteou a bandeira do Bahia e do Ypiranga, no Palcio da Aclamao, no Campo Grande, para a homenagem do governador Juracy Magalhes, na Praa Municipal, para a saudao do prefeito Heitor Dias, na Praa da S, ponto final do delrio da torcida tricolor relata o autor de Esporte Clube da Felicidade: Bahia- 70 anos de glrias . A conquista do ttulo da Taa Brasil deu ao Bahia maior respeito nacional. O time passou a ser estimado em todos os cantos do Pas. Ainda mais que, depois da conquista indita, o tricolor sagrou-se por duas vezes vice-campeo da competio. Em 1961 e 1963, o destino reservou duas finais contra o mesmo Santos. Nessas duas ocasies prevaleceu o poder ofensivo de Coutinho, Pel e Pepe.

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A fora do incio da dcada de 60 foi aos poucos dando espao ao crescimento de mais um rival: o Esporte Clube Vitria. Apesar disso, o Bahia mantinha a supremacia dentro e fora de campo. Tanto que logo aps a Copa do Mundo de 1970, quando a seleo brasileira conquistou o tricampeonato mundial, o cartunista Lage lembrava que os baianos tinham um consolo com o final da competio mundial. De acordo com ele, pelo menos 85% da populao da Bahia poderia manter a euforia da Copa do Mxico com os gritos de Bahia! Bahia! Bahia. O ento presidente da Confederao Brasileira de Desportos (CBD) que hoje corresponde Confederao Brasileira de Futebol (CBF) , Joo Havelange, afirmou em entrevista Tribuna da Bahia que o futebol baiano vivia uma crise h duas dcadas. Para Havelange, o Bahia fazia com que o esporte do Estado no fosse relegado a segundo plano pela entidade nacional. Mesmo com todos os problemas, o Vitria comeou a esboar um crescimento. E foi a que Osrio Vilas Boas afirma ter entrado em cena novamente. No livro Futebol: paixo e catimba, o dirigente conta que antes de um Ba-Vi de 1972, no percurso do bairro da Barra at a Pituba, contou dez bandeiras rubro-negras contra apenas quatro tricolores.editoraplus.org info24

O espetculo que ento assisti me doeu, doeu muito, uma tristeza enorme, tristeza que depois me impeliu luta e eu voltei com toda a garra possvel. Vi o quadro de modo realista: o Bahia estava por baixo, quase acabado, o Vitria dominando a Federao e j se infiltrando na CBD relembra. Foi a que, mesmo com a posio contrria de amigos e familiares, Osrio decidiu retornar ao comando do Bahia. No mesmo ano foi eleito por unanimidade presidente do Conselho Deliberativo do clube. Apesar de o Vitria ter conquistado o ttulo em 72, o tricolor mudou completamente o quadro do futebol baiano naquela dcada. A partir do ano seguinte, o clube iniciou uma srie indita e, at hoje, inalcanvel de ttulos consecutivos. A torcida comemorou as conquistas de 73, 74, 75, 76, 77, 78 e 79. Foram sete ttulos estaduais conquistados pelo Esporte Clube Bahia de forma ininterrupta. Hexacampeonato que devolveu o prestgio ao time e a alegria maioria da populao baiana. Nesse perodo o tricolor j era mais do que conhecido como o time do povo. Uma clara demonstrao do amor das classes menos favorecidos pelo azul, vermelho e branco vem com uma publicidade da DM-9 veiculada em 1981. No anncio do grupo imobi-

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lirio Ciplan estava escrito em letras garrafais: Quando o Bahia ganha, a obra adianta. Quando perde, atrasa. Logo abaixo, o complemento: Obrigado Bahia. Este ano vamos entregar todas as nossas obras antes do prazo. Se as conquistas estaduais j eram motivo de comemorao entre empregados e patres, imagine um novo ttulo nacional. E foi exatamente isto que aconteceu no Campeonato Brasileiro de 1988. A deciso s foi realizada no ano seguinte, mas a conquista baiana foi recheada de demonstraes de paixo pela torcida. A Nao Tricolor, como passou a ser chamada, recebeu de presente do cartunista Ziraldo o mascote do Super-Homem Tricolor, que se mostrou um verdadeiro pquente. Na campanha do bicampeonato, o Bahia foi o lder de arrecadao na Copa Unio. J na mdia de pblico ficou atrs apenas do Flamengo. Eram 25 mil e 329 tricolores a cada partida no Estdio Octvio Mangabeira, a Fonte Nova. Uma das partidas que contribuiu para este nmero foi a semifinal do Brasileiro. No dia 12 de fevereiro de 1989, quando o Bahia derrotou o Fluminense do Rio de Janeiro por 2 a 1, 110 mil e 438 torcedores pagaram ingressos para assistir ao jogo. No entanto,

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mais de 130 mil pessoas estiveram presentes ao estdio. Recorde de pblico da antiga Fonte Nova. Foi com a fora da torcida que o time chegou deciso contra o Internacional. No primeiro jogo, em Salvador, os gachos saram na frente com um gol de Leomir aos 19 minutos do primeiro tempo. Mas, o time formado basicamente com pratas-da-casa mostrou seu verdadeiro valor. A gerao de Bob, Osmar e Charles partiu para cima. O empate veio com Bob aos 36 minutos da etapa inicial. No segundo tempo, o meia voltou a marcar, logo aos cinco minutos. Foi este o gol da virada, da vitria na partida e, conseqentemente do ttulo nacional. Ao final do jogo, o placar da Fonte Nova deixava claro que os baianos no iriam deixar escapar o ttulo no Rio Grande do Sul. Abaixo do resultado do jogo (Bahia 2x1 Inter), a provocao: Churrasco baiana. Na partida de volta, muita catimba e provocao. Apesar de toda a presso, com direito a macumba na porta do vestirio tricolor, o zero no saiu do placar. O empate ao final dos 90 minutos garantiu, em solo gacho, o bicampeonato brasileiro do Esporte Clube Bahia.

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Mais uma vez a Nao Tricolor invadiu as ruas para comemorar a conquista. Toda a festa foi narrada em seus detalhes pelo jornalista Nestor Mendes Jr.: Na quarta-feira, na chegada a Salvador, uma apoteose. Foi carnaval no Aeroporto 2 de Julho nesse 22 de fevereiro de 1989. Uma multido calculada em 30 mil pessoas foi receber os bicampees brasileiros. Delegaes chegavam, em nibus, de todo o interior da Bahia. Os trios Dod e Osmar e Realce animavam a torcida. Centenas de bandeiras e faixas pintam de azul, vermelho e branco o Dois de Julho. s 13h35, quando o Boeing aterrissa, da cabine da tripulao surge uma bandeira tricolor. Era a senha para comear a loucura. Quando a porta do avio aberta, desce um sorridente Evaristo de Macedo e depois, um a um, os heris do Beira Rio. Um enorme congestionamento pra a Avenida Dorival Caymmi. J passavam das 16h e a caravana no tinha passado de Itapu. A noite caa e o Carnaval j tomava conta da cidade. Em todos os lugares, o povo nas ruas. Em Amaralina, a saudao das baianas. No Farol, festa. Interditada entre a Vitria e a Chile, a Avenida Sete parecia preparar-se para os blocos e afoxs. No Campo Grande, mais folia. O trio Top 69 fazia balanar o cho da Praa Castro Alves, que explodiu quando tocou o Hino do Bahia na chegada dos heris. O expediente dos funcionrios municipais s durou at o meio-dia, enquanto nas empresas privadas, sem direito a ponto facultativo, muita gente no foi trabalhar. No era feriado nemeditoraplus.org info28

dia santo, mas naquele 22 de fevereiro, Salvador parou. Todo mundo sabe quando a festa comeou, mas ningum lembra quando ela acabou. At mesmo grandes nomes do jornalismo nacional se renderam paixo do torcedor tricolor. Juca Kfoury, que assume publicamente uma simpatia pelo Bahia depois desta conquista, assim escreveu na Revista Placar: ...E campeo talvez porque nenhuma outra legio de seguidores merea h tanto tempo esse ttulo. A nao tricolor fez da paixo pelo Bahia uma profisso de f que transforma a Fonte Nova no templo mais carinhoso do futebol brasileiro declarou o jornalista. E foram muitos os torcedores que, em todo esse perodo, se destacaram na Fonte Nova. A legio de seguidores se renova a cada ano. Como j virou praxe no Estado, o Bahia no apenas um time, mas

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uma religio. E dentre os fiis torcedores, alguns se destacaram nas arquibancadas, mesmo sem fazer parte de nenhuma torcida organizada. A primeira liderana foi Martins Benjamin. Seu Ben, como era conhecido o motorneiro da Linha Circular, marinheiro e funcionrio da Alfndega viu o Bahia ser fundado em 1931. Acompanhou de perto os primeiros anos do clube e comandou durante muito tempo a festa da torcida tricolor. Com o surgimento da Fonte Nova, nos anos 50, foi a vez de Joo Gualberto da Silva assumir o posto, sendo substitudo por Pernambuco. Mas foi em 1968 que surgiu o mais famoso e folclrico lder tricolor. Com uma camisa tricolor com o nmero 69 nas costas, Lourival Lima dos Santos, nascido em 1945, se imortalizou na Fonte Nova. Talvez muitas pessoas no o conheam pelo nome de batismo. No entanto, basta revelar o apelido de Lourinho para os tricolores se lembrarem da buzina de gs comprimido e dos diversos trabalhos a favor do clube do corao. Assim a torcida do Bahia, alegre, espontnea, apaixonada. Apesar do declnio do time em campo nos ltimos anos, causado em grande parte pelo modelo administrativo e pelo fortalecimento do rival, o Vitria, com a construo do estdio prprio, o

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Barrado, o tricolor no tem abandonado sua maior paixo. Um relacionamento quase que impossvel de ser explicado. Acontece, que o Bahia mais do que um patrimnio do esporte do nosso Estado. , como so outros grandes clubes, um patrimnio nacional, especialmente daqueles torcedores que vo praia domingo, deliciar-se ao sol at as 13 horas com suas namoradas ou com suas famlias, no importa e correm para casa a tempo de almoar (ou no almoar), preocupados em no perder a partida em que intervir o seu querido esquadro de ao. Muitos desses torcedores moram em Periperi, Plataforma ou Paripe. Apinham-se nos trens ou nibus e para qu? Para aplaudir o seu clube, desfraldando bandeiras ou gritando ou, simplesmente, sorrindo face a cada boa jogada, diante de cada gol. E, em certos casos, o que no comum no que diz respeito ao Bahia sofrer com a derrota inevitvel, imaginando mil-e-uma razes para explic-la. Compreendo porque agem assim. Eu tambm sou louco pelo futebol e, em especial, pelo Bahia tenta explicar o ex-presidente Osrio Vilas Boas. Muitos outros tentaram entender ou, simplesmente, explicar a torcida do Bahia. As tentativas foram em vo. Mas, h 37 anos, em 1971, o cone da crnica esportiva baiana, Frana Teixeira, deu seu depoimento sobre a paixo tricolor. Opinio que seeditoraplus.org info31

mostra atual at os dias de hoje e serve como alerta para alguns e d mais foras e esperana para outros. O Bahia eterno. Chego concluso que mito no Osrio, no Saad, no ningum. Fora no Bahia sua gente, o seu povo. Torcida que levanta cadver, que arromba peito, que fura barreiras. Torcida que anula e faz gol. Que bota e tira jogadores, tcnico, presidente, conselheiro, o escambau a quatro, torcida que marca pnalti. E desmarca tambm...

maiS que um time, uma religioFalar que o Bahia apenas um time de futebol soa como uma ofensa para seus milhes de torcedores. Convencionou-se dizer que a paixo pelas cores azul, vermelho e branco extrapola os campos de futebol. Para muitos, os tricolores no seguem apenas um time, mas unidos formam uma religio que surpreendeu o Brasil mostrando sua fora no pior momento da histria do clube.

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Em 2007, quando o Bahia disputou pela segunda vez consecutiva a Srie C do Campeonato Brasileiro, at ento ltima diviso do futebol nacional, os torcedores deram exemplo de paixo. Naquele ano, foi do Bahia a melhor mdia de pblico entre todas as trs divises nacionais. Com uma mdia de 40.410 torcedores por jogo, segundo dados da Confederao Brasileira de Futebol (CBF), os baianos superaram at mesmo o Flamengo, equipe considerada de maior torcida do Pas, que levou ao Maracan 39.221 torcedores por jogo na Srie A do Brasileiro. Tambm em termos numricos, uma pesquisa realizada pelo Instituto Datafolha, em novembro de 2007, apontou o baiano como o torcedor mais fiel do Brasil. Entre tricolores e rubro-negros, o torcedor do Bahia ficou com o ttulo nacional. Enquanto 23% dos corintianos e 30% dos flamenguistas afirmaram ter o campo de futebol como preferncia para um programa, 36% dos torcedores do Bahia expressaram a mesma opinio. - Como que um time jogando a 3 Diviso (em 2006) contra o Ananindeua, com todo respeito, consegue colocar mais de 50 mil pessoas? disse, admirado o volante Preto

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Casagrande, ex-jogador do Bahia, na edio do dia 15 de janeiro de 2008 do jornal A Tarde. Se os nmeros muitas vezes so frios, a torcida faz questo de esquent-los com demonstraes inquestionveis. Uma delas aconteceu em 2006, logo depois de o clube fracassar na tentativa de retornar 2 Diviso do Brasileiro. Depois de uma vergonhosa goleada para o Ferrovirio por 7 a 2, mais de dez mil tricolores foram s ruas. Era uma sexta-feira, 24 de novembro, quando aqueles apaixonados fizeram uma grande passeata do Campo Grande Praa da S. Colorindo com as cores do clube e clamando por mudanas na Avenida Sete de Setembro, conhecida nacionalmente por ser palco tradicional do Carnaval de Salvador. A emoo do momento e a demonstrao de amor dos torcedores repercutiram nacionalmente. Mas, foi no jornal baiano Tribuna da Bahia que o diretor de redao, Paulo Roberto Sampaio, deixou de lado os melindres que cercam muitos jornalistas esportivos e no hesitou em declarar seu amor ao Bahia e a surpresa com a reao da torcida.

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Ver a Avenida Sete tomada de irmos tricolores a cantar com orgulho esse hino que quase uma orao, me fez ter a certeza de que o Bahia maior que tudo e que todos. (...) A fora que a torcida mostrou nesta sexta-feira colorindo de azul, vermelho e branco o asfalto da avenida me fez ter toda essa certeza. Mas, meu Deus, se no tiver de ser assim e for por conta de algum pecado meu, que eu tenha de continuar sofrendo a cada domingo na Fonte, vendo meu Bahia humilhado, me leve logo, mas no deixe meu Bahia morrer escreveu em um editorial publicado no jornal. Ao longo da histria, alm de apelidado de clube do povo, o Bahia ficou conhecido por conquistas sofridas. Com o Bahia tem de ser assim, sempre sofrido, no ltimo minuto. Essa uma das frases mais repetidas por seus torcedores. Talvez, tenha sido por isso que o clube se tornou to apaixonante para esses fanticos. Um exemplo dessa emoo at o final tambm foi na disputa da Srie C, mas em 2007. O clube estava ameaado de no se classificar para o octogonal final da competio. Precisava vencer o Fast Club, na Fonte Nova, e torcer por um tropeo do Rio Branco, que jogava em casa contra o ABC.

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Na Amaznia, tudo deu certo. O Rio Branco chegou at a desperdiar uma penalidade mxima. Mas, na Fonte Nova, o Bahia no fazia sua parte. Oportunidades desperdiadas uma atrs da outra. At que aos 50 minutos do segundo tempo, o atacante Charles, que havia entrado pouco antes, aproveitou um cruzamento, fez o gol e garantiu a classificao do tricolor. No dia seguinte, os jornais destacaram mais uma vez a mstica da camisa tricolor. Manchetes classificavam o feito como milagroso. Como exemplo a da Tribuna da Bahia, Para Deus e o Bahia nada impossvel. J no texto sobre a partida, o jornal destacou o amor do torcedor. Pulos, gritos, lgrimas, tudo fazia parte de um sentimento s: o Bahia. A festa da torcida, mesmo ao final do jogo, deixou claro que torcer pelo Bahia no uma simples paixo. religio. Sentimento que pode levar o torcedor a cometer atitudes impensadas. Como o que aconteceu no jogo de estria da seleo brasileira na Copa Amrica de 1989, realizada no Brasil.editoraplus.org info36

Na ocasio, o Bahia era o ento campeo brasileiro. O ttulo, conquistado em cima do Internacional, no Estdio Beira Rio, dava a sensao ao torcedor de que o time era o mais importante do Pas. Por isso, os tricolores exigiam a convocao do atacante Charles para defender as cores do Brasil na competio. O pedido foi atendido, Charles convocado, mas no vo para Salvador, a comisso tcnica decidiu cort-lo da delegao. No deu outra. O clima na cidade foi de total revolta. O ento presidente do Bahia, Paulo Maracaj, decidiu ir concentrao brasileira, em um hotel da capital baiana, e levou de l o atacante para disputar uma partida pelo Campeonato Baiano. A insatisfao foi transmitida pelos torcedores no primeiro jogo na competio, que foi realizado na Fonte Nova. O hino nacional foi vaiado, uma bandeira do Brasil queimada e a torcida passou para o lado adversrio. A atitude fez, inclusive, com que o atacante Bebeto

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declarasse ter vergonha de ser baiano. Mas, para Maracaj, essa foi mais uma demonstrao de amor da torcida do Bahia. Isso foi um desabafo natural do torcedor porque o Bahia tinha sido campeo brasileiro e Charles artilheiro. A torcida do Bahia se sentiu chateada, ofendida, mas foi um gesto de indignao. claro que o hino nacional brasileiro e a bandeira so intocveis. S em um momento de paixo para a pessoa fazer isso ameniza. Paixo demonstrada coletivamente e, tambm, individualmente. A torcida do Bahia se caracterizou por ter personagens folclricos nas arquibancadas. Tricolores que marcaram poca e serviam como amuleto para os outros torcedores. O Bahia teve trs figuras folclricas: Jones, que foi o primeiro, Lourinho e agora Binha. So trs torcedores smbolos do Bahia. Todos eles tiveram fatos marcantes, todos eles procuraram ajudar e todos eles foram importantes para o Bahia comenta o atual conselheiro do clube, Paulo Maracaj.

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Destes trs torcedores, o que ficou mais conhecido e marcado pelos tricolores foi, sem dvida, Lourinho. Lourival Lima dos Santos, atualmente com 63 anos, fazia a alegria daqueles que sentavam prximos torcida Fiel na Fonte Nova. Ficou conhecido por se dizer pai-de-santo e fazer diversos trabalhos para beneficiar o time do corao. Alm disso, sua buzina de ar comprimido ecoou durante anos e hoje, muitos sentem falta do barulho. Depois de anos acompanhando o Bahia em todos os cantos do Pas, Lourinho decidiu se afastar do clube desde a dcada de 90. O motivo, segundo dizem, por problemas de sade. Primeiro, uma cirurgia para a instalao de uma ponte de safena. Depois, um derrame cerebral que deixou seqelas em seu corpo. A Fonte Nova j no tem mais a presena de um de seus torcedores smbolos, mas seu destino no ficou bem esclarecido. Lourinho est em Belm do Par morando com um filho que sargento da Marinha afirma convicto Alvinho Barriga Mole, torcedor smbolo do Vitria que diz ser grande amigo do torcedor do Bahia.editoraplus.org info39

J o ex-presidente do Esporte Clube Bahia, Paulo Maracaj, que teve relao mais prxima com Lourinho, contratando-o inclusive para ser seu funcionrio na Assemblia Legislativa da Bahia, tem outra verso. No. Lourinho est morando no Piau, em Teresina. Ele se aposentou e foi viver l com sua mulher. Inclusive, quando eu fui l no Piau para assistir um jogo do Bahia, estive l com ele, na casa dele afirma Maracaj. O destino pode no ser to claro assim, mas uma coisa certa: o amor pelo Bahia. Segundo o ex-presidente do clube, Lourinho continua apaixonado pelo azul, vermelho e branco. Sem poder tocar sua buzina nas arquibancadas da Fonte Nova, agora acompanha de longe a odissia do Bahia. A televiso e o rdio substituram os antigos companheiros de estdio. Um desses amigos era um dos maiores rivais em dia de clssico. Alvinho Barriga Mole conta que os dois viviam juntos. Sorrindo, lembra uma disputa que tiveram em uma promoo realizada pelo radialista Frana Teixeira.

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Eu e Lourinho fomos Fonte Nova para ver qual a buzina que tocava mais alto. A minha tocou mais alto e eu fui a Manaus. A buzina de Lourinho ficou rouca e a minha estourou. Fui para Manaus relembra. Companheiro de aventuras fora do estdio, pede espao para tentar desfazer uma injustia com o tricolor. Rapaz, muitos andavam dizendo que Lourinho bicha, mas no nada disso. No no rapaz. Eu tenho uma fazenda em Feira de Santana e toda micareta ele ia pra l e direto em minha fazenda. Comia l, dormia l. Agora, ele pega tudo quanto tipo de mulher revela Alvinho. A amizade entre os dois era tamanha, que Lourinho fazia loucuras para estar perto do amigo. Na semana que ele foi operado do corao, meu filho tinha sofrido um acidente e Lourinho estava aqui no Rio Vermelho tomando cerveja. As enfermeiras diziam: Lou-

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rinho pelo amor de Deus, voc foi operado. E ele disse que tinha ido ver meu filho. Era uma figura comigo. Agora, na Fonte Nova, quando era Ba-Vi, a gente brigava. Eu de um lado e ele do outro, mas quando saa, a gente se encontrava para comer gua diz Alvinho. Depois que Lourinho deixou o Estado, o Bahia passou certo perodo sem qualquer referncia individual nas arquibancadas. At que o famoso Binha de So Caetano roubou a cena. Vestido da cabea aos ps com as cores do Bahia, Binha ocupou o espao deixado por Lourinho. O novo cone tambm assistia aos jogos na Fonte Nova na torcida Fiel. A diferena que a antiga buzina foi trocada por uma enorme bandeira do Bahia autografada por jogadores que j vestiram a camisa do clube. O uniforme de Binha sempre o mesmo em qualquer dia da semana em qualquer lugar da cidade. Tnis, meia por cima da cala do Bahia, camisa do clube, uma touca tricolor e a bandeira na mo. Assim, ele acompanha a equipe por todo o Brasil e faz tudo que precisa fazer em Salvador.editoraplus.org info42

A fama dele tamanha que em 2008, no jogo contra o CRB, em Macei, pela disputa da Srie B, torcedores locais o paravam para tirar foto. Era pouco mais das dez horas da manh, quando Binha estava correndo com o uniforme de sempre pela areia da praia. Os torcedores do Bahia que j estavam no local no agentaram v-lo e iniciaram uma grande festa. Os alagoanos olhavam meio sem entender o que aquele maluco estava fazendo. Maluquice para uns, paixo para ele. Enquanto muitos o criticam e o chamam de luntico, Binha prefere manter o foco sempre no Bahia. Quem no gosta de mim no torce para o Bahia. Sou torcedor do Bahia e fao tudo para o time. Se um dia eu ganhasse na Mega-Sena iria dar todo o dinheiro para ajudar meu Bahia repete a todo instante que perguntado o que faria para melhorar o clube. A paixo de Binha foi, inclusive, reconhecida pela diretoria do Bahia. No lanamento do uniforme da equipe para a temporada de 2008, ele foi o escolhido para representar a torcida e ganhou, em primeira mo, a camisa que estava sendo lanada naquele momento.editoraplus.org info43

No entanto, a relao de Binha e a diretoria do clube criticada por muitos torcedores. Como viaja para quase todos os jogos do Bahia fora de Salvador e, na maioria das vezes, fica hospedado no mesmo hotel dos jogadores, surgiu o boato de que o clube que banca as loucuras do torcedor. Os dois lados negam o fato, mas no de forma convincente. Dentro do clube, ele tem liberdade para transitar nos diversos ambientes do Centro de Treinamentos do Fazendo. A permissividade da diretoria fez com que no incio da temporada de 2007, Binha criasse uma situao de saia justa. O tcnico Arturzinho iria fazer a primeira reunio com os jogadores antes do incio da pr-temporada. A imprensa foi liberada para fotografar e filmar os primeiros minutos do encontro. Mas, quando o assunto iria ficar srio, todos foram convidados para sair do auditrio. O que no aconteceu com Binha. Com a autorizao da diretoria, o torcedor permaneceu no local e no se conteve na frente dos diretores, comisso tcnica e jogadores.

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Falei para Arturzinho que eu no gostava dele porque ele tinha colocado o Bahia na Justia. Eu teria de torcer pelo bem dele porque ele era o tcnico do clube, mas que por mim o contratado no seria ele relembra Binha. O ocorrido gerou uma grande repercusso na poca. Setores da imprensa criticaram a postura da diretoria, que depois do fato tentou limitar a presena de Binha dentro do clube. E exatamente para evitar este tipo de situao, que Rmulo Bahia prefere no ter ligao nenhuma com os dirigentes da equipe. Tambm apaixonado pelo Bahia, Rmulo no tem a mesma fama de Lourinho ou Binha, apesar de ter convivido por um longo perodo com o primeiro, que morava em um bairro prximo ao seu e sentavam juntos na Fonte Nova. Desconhecido por grande parte da torcida, mas bem famoso no bairro da Boca da Mata, onde mora. Apesar das inmeras ruas do local, saber onde fica a casa dele no nada trabalhoso. Basta perguntar primeira pessoa na rua onde Rmulo, o torcedor do Bahia, mora.editoraplus.org info45

Aquele que tem a casa toda enfeitada de Bahia? Ah, fcil, basta virar ali e descer a ladeira at voc encontrar uma casa toda tricolor respondem os vizinhos de Rmulo. Realmente eles tm razo. Encontrar a casa de Rmulo uma das atividades mais fceis na Boca da Mata. Logo na entrada a paixo dele exposta. A frente da residncia pintada nas cores do Bahia. O poste de energia eltrica segue a mesma linha. Assim como uma faixa com o nome de Esporte Clube Bahia colocada acima da porta. Entrar na casa dele como entrar em um museu tricolor. Tudo tem as cores, fotos ou o escudo do clube. O botijo de gs, o fogo e a geladeira ganharam nova pintura. O revestimento da casa no foi feito com argamassa e tinta, mas sim com fotos, psters e reportagens de jornais e revistas sobre o Esporte Clube Bahia. O interior todo tematizado. Camisas esto por toda a parte. O sof revestido com a bandeira do clube. O mesmo acontece com a cama. Nem mesmo o papa Joo Paulo II e Jesus Cristo escaparam da onda tricolor. A foto do primeiro foi decorada com um escudo, enquanto a imagem do segundo foi pintada de azul, vermelho e branco.editoraplus.org info46

a emoo, porque o Bahia o clube do povo e eu sou o povo tambm. No sou da elite, eu sou do povo, ento o clube do povo justifica. Apaixonado pelo Bahia, Rmulo diz ter tido a sorte de levar o nome do clube no seu prprio nome. Encontrado na rua quando pequeno, com pai e me desconhecidos, Rmulo viveu entre Salvador e Feira de Santana durante sua infncia. Nos primeiros anos de vida, morou em um orfanato particular no bairro do Rio Vermelho. Aos dez anos, foi transferido para a Escola de Menores de Feira de Santana. L, foi batizado e fez a primeira comunho. Meu sobrenome veio porque a gente que criado pelo governo, que nasce sem pai nem me, o governo quem escolhe para dar o sobrenome ou de Bahia ou Salvador, porque tem de ter o nome do Estado ou da capital. Para minha felicidade e alegria, colocaram o meu de Bahia conta. Rmulo diz que sequer foi procurado para saber o que achava do nome escolhido.

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Quando chamaram Rmulo Bahia, eu fiquei parado, sem entender nada, nem sabia que era eu lembra. No entanto, segundo ele, nem sempre o Bahia foi sua paixo. Como morou em Feira durante a infncia e o incio da adolescncia, Rmulo diz que comeou a gostar de futebol ouvindo pelo rdio os jogos dos times cariocas. Por isso, antes de se dizer apaixonado pelo tricolor, o Vasco da Gama ocupava seu corao. Depois caiu uma paixo pelo Bahia, porque eu gosto de torcer para time que ganha tudo. O Vitria s tomando pau, a foi que veio minha paixo, em um Ba-Vi, em 70, quando o Bahia foi campeo por vrios anos seguidos. Eu j estava de volta a Salvador e tudo por aqui era Bahia. S se via camisa do Bahia nas ruas, a me apaixonei revela. A ligao com o clube aumentou depois que um amigo lhe deu um livro com a histria do Bahia. O material era guardado debaixo daeditoraplus.org info48

cama do pai desse amigo, curiosamente, torcedor do Vitria. De acordo com Rmulo, foram mais de dois meses para organizar o livro, feito em espiral e com muitas folhas soltas. Aps conhecer melhor os primeiros anos e as primeiras conquistas do Bahia, Rmulo decidiu se dedicar de vez a seu novo amor. O relacionamento tamanho que ele diz que no conseguiria ser fiel a uma namorada torcedora do Vitria. Eu ia chegar na cara dela e falar: Eu nunca vou ser fiel com voc igual eu sou com meu Bahia. Na vida a gente troca de tudo, at de mulher, menos o clube. Ento jamais eu jurarei fidelidade a ela. J uma torcedora do Bahia, dificilmente eu trairia. Mas a do Vitria, era ela saindo e eu j estava pegando outra. porque eu no consolo sofrimento diz rindo. E no s a mulher que ficaria para segundo plano. Rmulo fala que ama mais o Bahia do que os dois filhos (um menino de 14 anos e uma menina de 11 anos) que tem com esposas diferentes. Segundo ele, o time j existia antes de os dois nascerem. Mas, isso seria por que eles so torcedores do Vitria?editoraplus.org info49

No, est maluco? O menino at queria ser Vitria, mas eu disse: Olhe, se voc for Vitria, vai morar com sua me. More com sua me, mas aqui, rubro-negro na minha casa no. A ele preferiu ser Santos. Pode torcer para qualquer outro time, at o bis, menos o Vitria. afirma. Em todo o perodo acompanhando o Bahia, Rmulo prefere guardar somente os melhores momentos da equipe. Um deles foi quando ele tinha sido transferido para a Escola de Menores de Brotas e estava trabalhando como gandula na Fonte Nova. Entre outras peripcias, como dormir embaixo das placas de publicidade, ele lembra com alegria de um Ba-Vi. O goleiro do Bahia era Ronaldo Passos. Estava 0 a 0, eu tava pegando a bola e Ronaldo Passos achou que eu tava segurando o jogo, achando que eu era Vitria. Ele me deu uma porra no p do ouvido, mas eu fiquei na minha, quieto. Quando saiu o gol do Bahia, eu gritei, pulei, mas a torcida do Vitria que estava atrs de mim no gostou no. Meteram de tudo, laranja, casca de amendoim. Seu gandula vou te pegar. Seu gandula veado fala rindo.

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H outro clssico tambm que Rmulo gosta de relembrar, mas neste ele no estava na Fonte Nova como gandula, e sim como torcedor. Foi o Ba-Vi da conquista do bicampeonato estadual em 1994, com o gol de Raudnei empatando a partida aos 46 minutos do segundo tempo. Estava 1 a 0 para o Vitria e, perto do final do jogo, com a torcida deles comemorando, eu e um colega decidimos sair para no ver aquilo. Fomos embora tristes, quase chorando. Mas, quando a gente estava descendo a escada da Lapa, eu vejo um neguinho gritando goool. Eu disse Porra, 2 a 0 Vitria. Mas, eu vou l perguntar. Disse a ele: Vem c vi, de quem foi o gol?. Ele respondeu: Gol do Bahia porra. A no teve jeito, voltei correndo para a Fonte Nova relembra. No entanto, existe outro momento que Rmulo classifica como inesquecvel. Foi a conquista do ttulo do Campeonato Brasileiro de 1988. Naquela temporada, ele acompanhou todos os jogos do Bahia em Salvador. No deixou de ir Fonte Nova em nenhuma partida. Quando o dinheiro apertava, pulava o muro do estdio ou contava com a ajuda de um conhecido que era porteiro da Fonte Nova. No entanto, quando nada disso resolvia, esperava o famoso xaru, que quando os portes do estdio so abertoseditoraplus.org info51

para o pblico ir embora, normalmente nos ltimos quinze minutos de cada partida, e permite-se a entrada de quem est do lado de fora. As imagens das duas partidas finais contra o Internacional de Porto Alegre esto at hoje vivas na memria de Rmulo. O mesmo acontece com a comemorao aps a confirmao do ttulo. J fiz muitas loucuras pelo Bahia. Uma delas foi para comemorar o campeonato de 88. Samos da Sede de Praia do Bahia (no bairro da Boca do Rio) at a Praa Castro Alves andando. Na poca no senti nada, nem percebi que tinha andado aquilo tudo. Hoje vejo que uma paletada da porra reconhece. Por causa da conquista do bicampeonato brasileiro e do bem que ele proporcionou ao torcedor do Bahia, Maracaj, presidente do clube na ocasio, acredita que ficar marcado para sempre com os torcedores.

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Os maiores ttulos do Bahia foram o de 88 e o de 59. O presidente em 59 era Osrio e em 88 eu. Isso est no corao de todo torcedor do Bahia. Quem ama o Bahia adorou ver o Bahia campeo brasileiro. Nunca iro esquecer as duas conquistas opina o conselheiro. Mesmo reconhecendo que nem todos os torcedores tm o mesmo amor que ele, Rmulo classifica a torcida do Bahia como nica em todo o Pas. Ns temos que ganhar todos os tipos de Oscar. Somos a mais fiel que tem. O Corinthians leva o slogan, mas a torcida mais fiel que existe a do Bahia. Torcedor do Bahia j diz no importa a diviso, sou Bahia de corao. Voc vai deixar de visitar um parente seu por que est doente? Mesma coisa, s porque o time est mal voc no vai l. No casamento o padre diz: na alegria, na tristeza, na sade, na doena, na riqueza e na pobreza?. a mesma coisa com o clube resume.

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amor e dioQuando decidiu retornar presidncia do Bahia em 1972, aps a cena das bandeiras na orla de Salvador, Osrio Vilas Boas tinha em mente a recuperao do prestgio do Bahia. Feito alcanado com a indita seqncia de sete ttulos estaduais conquistados pelo clube. Mas, alm de reerguer o time nos gramados, Osrio teve participao indireta e fundamental para o fortalecimento da torcida tricolor. Grande defensor da popularizao da equipe na dcada de 50, o dirigente pode ser considerado um dos responsveis pelo surgimento das torcidas organizadas do Bahia. Afinal, somente durante a conquista do hexacampeonato estadual, duas tradicionais e respeitadas torcidas foram criadas. A primeira delas, hoje a mais antiga do clube em atividade, a Torcida Organizada Povo, foi fundada em 1976, exatamente no meio da saga tricolor, por jovens do bairro do Barbalho. Dois anos depois, mais especificamente em 12 de agosto de 1978, estudantes do Colgio Marista decidiram se unir e fundaram a Torcida Organizada Bamor.

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Entre eles, Z Povinho, Wilson Medeiros, que devido a sua vida particular se afastaram da torcida. Em 1988, eu j freqentava a Bamor com meu tio e minha av, inclusive, minha av faleceu na Fonte Nova em 2001, em um jogo contra o Grmio. Eu comprei minha primeira camisa, na poca era a segunda gerao da Bamor, formada por Cludio e Lus Fernandes. A Bamor formada por quatro geraes, a minha a segunda e j existem a terceira e a quarta. Em 1993, Cludio, me chamou para ser relaes pblicas da torcida, que ainda no era registrada, s existia mesmo no estdio no havia estatuto, no tinha nada conta o empresrio Jorge Alberto Santana, presidente da torcida h 13 anos. Nesse perodo em que existia apenas nas arquibancadas, a Bamor se tornou a maior torcida do Bahia. A festa nos estdios j era uma marca registrada da torcida. Para muitos, a profissionalizao e organizao seriam mais um passo rumo ao crescimento e modernizao. Mas, no assim que aconteceu. Convocado para cuidar da parte administrativa da Bamor, Jorge ento passou a elaborar um estatuto para que a torcida pudesse finalmente ser registrada e reconhecida judicialmente. Os planos eram permitir a associao de grande nmero dos torcedo-

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res, convocar eleies e formar uma diretoria e um conselho fiscal renovvel dentro de um perodo pr-estabelecido. O problema foi que a diretoria da poca no concordou com as eleies. A idia era de o presidente continuar sendo indicado e no eleito pelos scios. Segundo Jorge Santana, mesmo apoiando os diretores de ento, ele decidiu manter o pensamento de democratizar a torcida. Com essa disputa, a Bamor passou por uma sria crise em 1995. A eleio aconteceu e, contrariados, alguns diretores decidiram se afastar da torcida, causando uma diviso entre os prprios integrantes. Passamos quase um ano nessa briga, mas conseguimos registrar o estatuto, patentear a marca da torcida, tudo de forma legal. Ento, desde 1996 ns somos uma torcida registrada, e nosso estatuto est adequado ao Cdigo Civil Brasileiro. Antigamente, realizvamos eleies de dois em dois anos, mas decidi mudar e optamos por colocar a escolha anualmente comenta Jorge. Nessa ciso, quando a torcida passou a ser chamada de Bamor I e Bamor II pelos prprios torcedores do Bahia, a organizada saiu perdendo. At ento, a Bamor possuaeditoraplus.org info56

mais de 80 bandeiras. Grande parte deste material est hoje nas mos dos antigos diretores que se afastaram. Alm deste problema com a diviso das bandeiras, a torcida ficou prejudicada tambm com um incndio em seu depsito na Fonte Nova. Diversos instrumentos e materiais foram queimados, inclusive um bandeiro de 25x12 metros. A continuidade e o seguimento, que permitiram Bamor o crescimento e o fortalecimento entre os torcedores, no foram aproveitados pela Povo. Fundada antes mesmo da Bamor, a torcida ficou desativada durante praticamente oito anos, de 1985 a 1993. Quando eu cheguei na Fonte Nova em 93, eu estava um pouco afastado e retornei, a eu vi a Povo. Voc sabe que o Vitria em 93 foi vice-campeo brasileiro, no ? E aquilo me deixou um pouco instigado, porque as torcidas do Bahia estavam muito decadentes, inclusive a Povo e a Bamor, que estava fraqussima comenta Rosalvo Castro, um dos participantes do grupo de fundao e atual presidente da torcida. A soluo encontrada por ele foi de, ento, tentar reerguer a organizada. Eu chamei meu irmo, um dos fundadores da Povo, que o Andr Vicente, para reativar a torcida. Ns reativamos, procuramos alguns patrocnios, fizemos, poca,

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inicialmente dezoito bandeiras e fizemos duas faixas oficiais e a retomamos a torcida. At hoje a gente est tocando o barco, no deixou cair a peteca no relata. Neste perodo em que buscou a recuperao da torcida, Rosalvo conseguiu reunir um considervel nmero de materiais para a Povo. Alm dos diversos instrumentos de percusso, a torcida tem hoje 50 bandeiras, o que considerado o maior arsenal das torcidas organizadas da Bahia. A Bamor e a Povo tm sido, praticamente irms nas arquibancadas. Tanto Jorge Santana quanto Rosalvo Castro confirmam que a relao entre as duas a melhor possvel, apesar das diferenas existentes. Uma delas de como as duas torcidas denominam e tratam suas subdivises. Com o crescimento, as duas decidiram desmembrar o comando com a criao de lderes nos bairros. Na Povo, a diviso recebe o nome de Comando. Segundo Rosalvo Castro, a torcida conta hoje com 14 destes Comandos cadastrados. J na Bamor, essa diviso chamada de Distrito. De acordo com o presidente, a torcida conta atualmente com mais de 30 Distritos nos bairros de Salvador, interior do Estado, Rio de Janeiro

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e So Paulo. Mas, a ao, que era para facilitar a comunicao entre a diretoria e seus integrantes, no surtiu o efeito ideal. Ns subdividimos em bairros para poder organizar, mas infelizmente o efeito foi contrrio. Muitos bairros, no todos, cresceram demais e passaram a no obedecer ideologia da Bamor. S para voc ter uma idia, existem bairros que apiam torcidas contrrias s que a gente apia nos outros estados, s para bater de frente com a diretoria e criar rachas com os outros bairros. Estamos lutando para acabar com isso. J expulsamos muitos integrantes e alguns bairros foram extintos por causa dessa falta de organizao afirma Jorge Santana. Mesmo com a dificuldade em controlar todos os associados, a Bamor consegue realizar alguns trabalhos voltados para o lado social. Alm de campanhas espordicas, como a arrecadao de alimentos e roupas, a torcida conta com um projeto permanente de apoio a crianas carentes no bairro do Engenho Velho de Brotas. Entre outras atividades educativas, os meninos da Bamor, como so chamados, recebem aula de percusso, com instrumentos cedidos pelos torcedores.

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A unio entre a Povo e a Bamor, que permite s duas a organizao de caravanas para acompanhar o Bahia fora do Estado, a mesma na hora de lamentar a ausncia da Fonte Nova. O estdio est interditado desde o dia 25 de novembro de 2007. Naquele dia, o Bahia enfrentou o Vila Nova pela penltima rodada do quadrangular final da Srie C do Campeonato Brasileiro. Quando a torcida comemorava o retorno Srie B, aps dois anos no poro do futebol nacional, uma parte da arquibancada superior caiu e sete pessoas morreram com a queda. Dentre elas, quatro integrantes da Bamor. Desde ento, o governo do Estado decidiu interditar a Fonte Nova, que ser reformada visando a Copa de 2014. Com a interdio do estdio, o governador Jaques Wagner prometeu a reforma e ampliao do Estdio Governador Roberto Santos, popularmente conhecido como Estdio Metropolitano de Pituau, por ficar na area do parque ambiental que leva este nome. A promessa da concluso das obras em seis meses no foi cumprida. Por outro lado, a direo do Bahia no chegou a um acordoeditoraplus.org info60

para o clube mandar seus jogos no Barrado, estdio de propriedade do rival Vitria. Com isto, a equipe teve de mandar seus jogos no interior. Camaari e Feira de Santana foram as cidades escolhidas, sendo a segunda, a casa do tricolor na disputa da Srie B do Campeonato Brasileiro. O Bahia sem estdio est um pouco complicado. Porque na Fonte Nova, ns tnhamos uma sala onde guardvamos nossos materiais, um estdio central, ns sempre tnhamos uma reunio, uma concentrao muito grande antes do jogo, ali na Kombi do Reggae. Mas, tudo isso se dissolveu um pouco com essa questo. Existia tambm, agora no existe mais, a relao com o estdio, a Fonte Nova, que era um ponto de encontro de 30 anos, onde aqueles torcedores no iam s ver o Bahia, mas, tambm, iam ver os amigos afirma Rosalvo Castro. Alm da descentralizao, h tambm o custo elevado para acompanhar o Bahia no Estdio Jia da Princesa, em Feira de Santana, distante 110 quilmetros de Salvador. Nossa torcida torcida de gente que no tem muito dinheiro, que no tem condies de ficar pagando R$30 de caravana, isso com o ingresso sendo vendido a R$10, mais o refrigerante e a cervejinha. Tem gente que vai com o dinheiro certo, que no

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come nem bebe nada l. Ainda mais dia de tera-feira, que voc quando volta pra c no tem nibus. Ou voc tem de rachar txi ou arranjar carona ou at mesmo ir andando. Sendo que no outro dia muita gente estuda, muita gente trabalha opina Matheus Pereira, puxador dos cantos da Bamor e conhecido como Xita pela torcida. Na Fonte Nova, as torcidas organizadas do Bahia sempre serviram como um guia para a maioria dos torcedores. No s pela festa, mas por ser uma espcie de localizao para os menos acostumados ao estdio. O ponto de encontro na Fonte Nova era sempre guiado pela localizao das torcidas organizadas. Os torcedores de primeira viagem, turistas ou apenas curiosos, que despertaram o interesse por um jogo do Bahia, eram orientados pelas faixas colocadas ao redor da arquibancada. As pessoas de maior idade, os torcedores mais antigos, e aqueles que gostavam de assistir os jogos na sombra e sentados, tinham lugar cativo ao lado da Torcida Fiel, atrs do banco de reservas do Bahia e abaixo das cabines de rdio. No anel superior, na mesma direo da Fiel e tambm na sombra, mas com maior agitao, ficava a Povo, a mais antiga torcida organizada do Bahia ainda em atividade. De l, uma vista exclusiva para o Parque Aqutico da Vila Olmpica e privilegiada viso do Dique do Toror, carto postal de Salvador.editoraplus.org info62

Essas duas torcidas organizadas ficavam praticamente lado a lado com a rea destinada aos torcedores do Vitria em dia de clssico. O espao que no era benquisto nos Ba-Vis, era o nico na Fonte Nova que no era domnio de uma torcida organizada. Pelo menos at os ltimos anos da antiga Fonte Nova, quando a Torcida Uniformizada Terror Tricolor foi criada e passou a ter cadeira cativa atrs do gol da Ladeira da Fonte, substituindo a Jovem Disposio Tricolor, e com uma nica vista frontal para o Dique do Toror. A localizao privilegiada para o carto postal rendeu, inclusive, a foto que os integrantes da Terror Tricolor mais se orgulham. O jogo contra o Vila Nova, que marcou o acesso do time 2 Diviso, foi a estria do maior bandeiro de torcida organizada da Bahia. A imagem da Fonte Nova lotada, com milhares de pessoas do lado de fora, os orixs do Dique do Toror e o imenso bandeiro da Terror Tricolor presena garantida nos computadores de grande parte dos torcedores. Ainda mais que a foto pode ser considerada uma relquia, j que essa foi a primeira e a nica vez que a cena pde ser vista. Aquele foi o ltimo jogo na Fonte Nova.

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Apesar da viso turstica da Terror Tricolor, o local de maior privilgio da Fonte Nova era na linha divisria do meio de campo, exatamente em frente s cabines de imprensa e s cmeras de televiso. Era aquele o lugar mais conhecido da Fonte Nova e o destino da maioria dos torcedores do Bahia. Vou ficar do lado da Bamor. Essa era a resposta mais ouvida quando se perguntava onde o torcedor tricolor iria assistir o jogo. A Bamor a maior torcida do Bahia atualmente e a responsvel pela festa tricolor nos estdios. Os jovens, maioria de seus componentes, sequer se importavam de ficar em frente ao sol, nos jogos realizados tarde. Queriam mesmo era fazer balanar o anel superior da Fonte Nova. Vibrao considerada normal pelos tcnicos e percebida atravs da iluminao dos refletores no gramado. A parte de baixo da Bamor h um bom tempo no era freqentada por nenhuma torcida organizada. Os torcedores que costumavam assistir aos jogos no local se orientavam com a simples expresso embaixo da Bamor. O espao, no entanto, j foi destinado a outras organizadas, como a Tricoloucos, que no durou muito, mas ficou famosa pela bandeira que cobria todo o anel inferior da arquibancada.

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Apesar da foto postal do jogo de despedida da Fonte Nova, a Terror Tricolor no bem vista pelas outras torcidas organizadas do Bahia. Criada h trs anos, fruto de uma dissidncia da Povo, do Comando da Sade, a Terror Tricolor, apesar do espetculo nas arquibancadas da Fonte Nova, no conseguiu um bom relacionamento com a Bamor e a prpria Povo. Os pensamentos, a ideologia como os prprios torcedores gostam de chamar -, so diferentes. Alm disso, a escolha das torcidas aliadas em outros estados no agradou s mais antigas, principalmente Bamor. Para os integrantes da maior organizada do Bahia, o fato das aliadas da Terror Tricolor serem rivais das aliadas da Bamor e, conseqentemente, rivais da Bamor, soou como uma provocao. Essa pequena diferena fez com que diversos conflitos fossem registrados durante a disputa da Srie B do Brasileiro em 2008. As duas torcidas acusam a outra de se unir com suas aliadas para tomar faixas, camisas e agredir aqueles que esto em minoria. Se a relao j no era boa, ficou pior ainda depois de uma atitude da torcida no dia 20 de agosto de 2008. Era uma quarta-feira, o tcnico do Bahia, ento Arturzinho, comandava o coletivo no campo principal do Fazendo quando aproximadamente 50

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torcedores invadiram o Centro de Treinamentos do clube soltando rojes em direo aos jogadores. Em poucos minutos uma grande confuso se formou no centro do gramado. Jogadores e integrantes da Terror Tricolor, levados at ao Fazendo em um nibus, entraram em conflito. A situao s foi controlada com a chegada de viaturas da Polcia Militar. O Bahia prestou queixa. O Ministrio Pblico decidiu agir e, dois meses depois, puniu a torcida com o afastamento de seis meses dos estdios de futebol em competies organizadas pela Confederao Brasileira de Futebol (CBF) e pela Federao Bahiana de Futebol (FBF). Apesar da punio, a primeira neste carter no Estado, a atitude da Terror Tricolor ainda gera questionamentos em muitos torcedores do Bahia. O conhecimento que vem chegando a mim, que eles estavam indo constantemente nestes trs anos de fundao dessa torcida, tentando barganhar alguma coisa do Bahia. Essa era uma prtica que eles queriam implantar dentro da Povo quando era nosso nono comando e eu no aceitava. Para eles, o Bahia tinha a obrigao de dar passagens areas e ingressos, quando eu era contra. E eu no fao nenhum tipo

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de chantagem nesse sentido, de ir l protestar, de ir l cobrar para depois sentar pra conversar diz o presidente da Povo. O que seria s uma presso diretoria, segundo Rosalvo Castro, acabou passando dos limites. A Terror teve essa prtica, eu no posso confirmar, mas eu acho que o objetivo foi esse, barganhar alguma coisa. S que chegou a um ponto que a coisa desandou para o outro lado, que o objetivo central foi totalmente fracassado revela Rosalvo Castro. A ao tambm causou surpresa nos integrantes da Bamor. Eu achei muito estranha! Porque como que voc faz uma invaso no Fazendo e na hora o presidente est presente, o diretor de futebol est presente, alm dos outros trs diretores e nenhum deles nem ao menos hostilizado e esses pseudo-torcedores vo para agredir jogadores? Isso tudo foi muito estranho para a Bamor diz o presidente da torcida, Jorge Santana.

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O questionamento de Jorge se deve ao fato de praticamente todas as torcidas organizadas do Bahia serem oposio atual administrao do clube. O principal alvo dos oposicionistas no nem o presidente do Bahia, Petrnio Barradas, mas o conselheiro do time e do Tribunal de Contas dos Municpios, Paulo Virglio Maracaj Pereira, apontado como o mentor do grupo que controla o clube. Para ele, no entanto, a oposio feita por apenas um pequeno grupo de pessoas. A torcida, de um modo geral, me trata muito bem. So alguns setores de oposio que no gostam de mim e eu respeito isso. Eles fazem crticas e eu como democrata aceito todas as crticas que no sejam ofensivas minha honra. Aceito normalmente as crticas porque sou um homem pblico defende. A oposio feita pelas torcidas tamanha, que os presidentes afirmam no ter qualquer tipo de relacionamento com a diretoria do Bahia. Absolutamente nada. Ns estabelecemos isso a partir do momento que o Bahia caiu para a 3 Diviso. Antes mesmo de cair para a 3 Diviso ns j tnhamos rompido com esse grupo que est a, que o presidente Maracaj e Petrnio Barradas. No recebemos nenhum tipo de ajuda do Bahia. Ns mantemos a torcida inteiramente ineditoraplus.org info68

dependente. Sem relao, sem vnculo nenhum. A nica reunio que tivemos com esse pessoal a foi quando houve a invaso do Fazendo. Ns fomos l para fazer um apelo para que houvesse eleies diretas. Depois disso nenhum contato comenta o lder da Povo. A invaso a que ele se refere foi no ms de junho, dois meses antes da ao da Terror Tricolor. Alm da Povo e da Bamor, outros grupos e oposicionistas mais influentes planejaram uma forma de pressionar a diretoria para deixar o clube. A idia era tomar o Fazendo. Foi uma coisa programada pela oposio, onde participaram eu, Jorge da Bamor, Ademir Ismerim e outros segmentos de oposio. S que a Bamor se projetou, at mesmo antecipou a gente, foi l e fez a coisa at sem um aviso prvio. Mas depois nos ligou e ns apoiamos. Foi uma coisa mesmo de protesto. Sem violncia, uma coisa arquitetada para mostrar aos dirigentes do Bahia a insatisfao comenta Rosalvo. O objetivo inicial, que era a renncia do presidente, logo foi modificado para a convocao de eleies diretas no final de 2008. Mas, depois de um dia inteiro de ocupao e de muita conversa, o acordo foi firmado para que as eleies diretas fossem

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realizadas em 2011, a diretoria se comprometeu ainda em reformular e divulgar o Estatuto do clube no site oficial, alm de uma cota de mil ingressos destinada s torcidas organizadas, o que gerou dvida sobre o carter da invaso. Muitos falam sem saber de nada. Os mil ingressos so destinados s torcidas organizadas, mas de forma onerosa. Ns queremos comprar, porque nem vender os ingressos eles estavam vendendo para a gente em retaliao aos protestos que vnhamos fazendo. Hoje ns temos uma cota. Todo jogo, mesmo sendo em Feira de Santana, a gente vai l na Boca do Rio e compra 400, 500 ingressos do nosso bolso sem nenhuma ajuda deles. No dependemos deles pra nada afirma o presidente da Bamor. Mas, nem sempre foi assim. A separao entre diretoria e torcidas organizadas no to antiga no Bahia. Durante a dcada de 90, eram comuns reunies entre a diretoria e representantes das torcidas organizadas. poca, o Bahia j passava por uma sria crise financeira e via nesses encontros com os torcedores uma forma de buscar solues para os problemas do clube. De acordo com Rosalvo Castro, na gesto de Antnio Pithon na presidncia do time, o diretor de marketing do Bahia, Jos Oscar Santiago, questionou maneiras de ajudar

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as torcidas. O Bahia havia acabado de fechar um contrato de patrocnio com a Hyundai e o presidente da Povo no perdeu tempo. Eu dei uma idia para ele. Na poca tinha a Povo, a Bamor I e II, tinha a Esquadra Tricolor e a Fiel. Tinham cinco torcidas. E eu sugeri o seguinte: j que voc quer colaborar com a torcida, ns no achamos justo o Bahia dar nada torcida organizada, ns sempre fomos contra, principalmente cota de ingressos. O que ns fizemos: voc consegue junto com a Hyundai amarrar o contrato de patrocnio, o que voc conseguir para o Bahia, voc vai designar dentro desse contrato uma verba dada pela Hyundai para as torcidas. Como: cota de ingressos, seriam 60 ingressos para cada torcida, seriam bandeiras, faixas e, quando fosse possvel, o Bahia fosse jogar fora, a Hyundai sortear entre as cinco torcidas, duas torcidas para que fossem acompanhar o Bahia em outro Estado relembra. Com uma clusula no contrato destinando a verba s torcidas, o clube conseguiu cumprir o acordo em dia nos primeiros meses. No entanto, a crise financeira no foi controlada e a diretoria no viu alternativa seno cortar os benefcios para poder manter o Bahia em dia com suas obrigaes. Rosalvo Castro lembra que at hoje a torcida tem uma verba de aproximadamente R$ 120 mil que no foi repassada.editoraplus.org info71

A parceria s voltou ativa com o sucessor de Antnio Pithon na presidncia do Esporte Clube Bahia, Marcelo Guimares. Nesse perodo, o patrocinador do Bahia deixou de ser a Hyundai e passou a ser a Fiat, tambm montadora de veculos. O apoio continuou sendo feito atravs de cota de ingressos, bandeiras e at mesmo algumas viagens dadas pela empresa italiana. A diferena foi que apenas trs torcidas passaram a receber o apoio. Como a Esquadra Tricolor j havia sido dissolvida e a Bamor resolvido o problema da diviso, a Fiel, a Povo e a Bamor, agora uma s, continuaram sendo beneficiadas. S que o patrocnio no durou muito. O Bahia no conseguiu realizar grandes campanhas dentro de campo e as torcidas organizadas passaram a fazer oposio diretoria do clube. Com isso, os benefcios foram cortados e, atualmente, os presidentes das trs maiores torcidas organizadas da equipe afirmam que no recebem qualquer tipo de ajuda para acompanhar os jogos. O clube no pode financiar a torcida organizada porque ele tira da torcida organizada o poder de reivindicar melhoras para o clube. Voc perde a independncia quando recebe alguma coisa daquela diretoria. Quando uma coisa de patrocinador, que no dado pelo clube, eu acho correto, porque a torcida tambm precisa sobreviver.editoraplus.org info72

Agora, voc fica l pegando ingressos, pegando passagem de avio, pegando outros benefcios, isso errado, porque compromete o relacionamento de independncia e isso prejudicial para o clube comenta Rosalvo Castro.

Paixo irracionalTarde de sbado, 6 de setembro de 2008. Adelmare dos Santos Jnior, de 20 anos, se arrumava para assistir a mais um jogo de seu time do corao. O Bahia estava em So Paulo onde iria enfrentar o Grmio Barueri, ainda com chances de sair naquele ano da Srie B do Campeonato Brasileiro. Com alguns amigos da Torcida Organizada Bamor, esperava a partida comear nas proximidades da Escola de Engenharia Eletromecnica da Bahia, no bairro de Nazar. Quando se preparava para se dirigir a um bar da regio, onde assistiria o jogo, o grupo de tricolores foi surpreendido. Integrantes da Torcida Uniformizada Os Imbatveis (TUI), do Vitria, chegaram subitamente em um carro. Identificados apenas como Bethoven, Fernando e Chico, desceram do veculo para iniciar mais uma briga entre as

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duas torcidas. No meio da confuso, um dos torcedores do Vitria sacou uma arma e disparou. O tiro acertou o pescoo de Adelmare. A agresso foi noticiada quase um ms depois pelo jornal Correio da Bahia, hoje apenas Correio. No dia 2 de outubro, a publicao estampava o seguinte ttulo na pgina 38, na editoria de Esporte: Guerra que no tem fim. Um box intitulado Selvageria em cores resumia o contedo da matria. Azul, vermelho e branco ou preto e vermelho. Cuidado ao se vestir com as cores do seu clube do corao. A briga entre criminosos infiltrados em torcidas organizadas de Bahia e Vitria faz mais uma vtima que corre o risco de ficar paraplgica . Por ironia, o crime foi cometido quase em frente ao Ministrio Pblico da Bahia. L, os promotores Nivaldo Aquino e Jos Renato lutam h anos para combater a violncia nos estdios. A ameaa de extinguir todas as torcidas organizadas do Estado no mais novi-

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dade. Mesmo assim, as brigas continuam e tm as imediaes do rgo estadual como seu principal palco. Ns moramos em uma cidade to bela e os torcedores se preocupam com dois times to ruins. Daqui a uns dias ns estaremos iguais a So Paulo disse o padrasto da vtima, Dorival Pereira Maciel, ao Correio. Os torcedores que praticaram o ato de violncia confessaram o crime. O caso foi registrado, e investigado, pela 1 Delegacia de Polcia da Bahia, localizada na Ladeira dos Barris. No entanto, este foi apenas um episdio dos inmeros que acontecem por toda a cidade, mesmo em dias que Bahia e Vitria no jogam, e que no chegam ao conhecimento pblico. Um exemplo disso foi o roubo de materiais de percusso da Bamor tambm em uma tarde de sbado, no dia 13 de setembro. De acordo com os integrantes da torcida, algumas crianas que fazem parte do projeto social estavam espera de membros da torcida em um ponto de nibus da Avenida Bonoc quando os assaltantes, que estavam em dois carros, vestidos com a camisa da Torcida Uniformizada Os Imbatveis, do Vitria, roubaram os instrumentos.

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Como dentro dos estdios o policiamento e a fiscalizao esto cada vez mais eficazes, as brigas entre as duas torcidas esto se tornando comuns nos bairros. As subdivises, criadas para facilitar a comunicao entre a diretoria e os torcedores, acabam sendo as culpadas pela falta de controle. Os Distritos foram criados para centralizar e organizar as pessoas por bairro, para de l irem juntos e se unirem nos estdios, sem precisar sair de um nico ponto todos os associados. O que que aconteceu? O cara que torce pelo Vitria no bairro v um distrito l que grande, a ele cria o chamado Comando, que como eles chamam as divises deles. A comeam a guerrear nos bairros e de l seguem para os estdios. Muitas vezes em um clssico acontecem brigas nos bairros que a gente s fica sabendo trs, quatro dias depois revela Jorge Santana. Por causa de os confrontos se originarem nos bairros, entre os chamados Distritos e Comandos, muitos acreditam que as torcidas organizadas servem como uma espcie de libi para justificar as brigas entre supostas gangues de bairro. E para no ter uma briga sem motivo, eles pegam e entram na torcida. Tem gente que entra na torcida por auto-afirmao. Outros entram na torcida e nem torcem para

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o time. Tem menino que entra na Bamor e de repente muda para Os Imbatveis lamenta Matheus Pereira. Por outro lado, o presidente da Povo acredita que essas justificativas sirvam apenas para mascarar um problema ainda maior. Segundo ele, as brigas de bairros existem sim, mas os lderes das torcidas precisam assumir a responsabilidade por estes atos. Eles so omissos e participativos diretamente nisso, porque eles incentivam, eles do ingressos para esse pessoal, eles facilitam o acesso ao estdio. Eles patrocinam. Eles convocam esse pessoal para a reunio, ento existe uma ligao. Esse pessoal de bairro tem o suporte da torcida organizada. Quando ele chega na sede da torcida organizada, ele da torcida organizada. Ento no s mais de bairro. Se voc vai na Fazenda Grande e Joo mora na Fazenda Grande, ele chega na sede da torcida l no Garcia, um exemplo, ele compra material, ele conversa, ele diz o que que ele est fazendo l no bairro. Ento quem est no comando da torcida est sabendo tudo que est acontecendo na Fazenda Grande, logo ele co-participador dessa ao da violncia opina Rosalvo Castro.

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Para ele, os presidentes das torcidas organizadas precisam entender que servem de exemplo para os demais integrantes e assumir esse papel de importncia. As pessoas que dirigem as torcidas organizadas, tanto de Bahia quanto de Vitria, as que se dizem mais importantes, as maiores, elas no so pessoas transparentes no comportamento. Elas so omissas. A verdade essa. Elas incentivam, de uma maneira indireta que jovens que so Bahia e jovens que so Vitria se confrontem. Eu sou contra isso. Se depender de ser a maior, eu prefiro acabar. Pra ser desse termo, de chegar em um bairro e v jovens usando drogas, se digladiando. Eu acho que o camarada precisa ter uma adolescncia dentro da torcida, gostando do time, como eu tive. Eu tive 16, 15 anos, 14 anos, vendo o Bahia e sem prejudicar o meu futuro. Apesar das constantes denncias de uso de drogas em algumas torcidas organizadas, os integrantes fazem questo de negar. Como o caso da Bamor, onde o presidente afirma no haver qualquer vnculo com faces criminosas, mas faz um alerta. Se os diretores que esto frente da torcida deixarem o comando agora na mo dos outros que tem por a, corre um srio risco de virar uma faco criminosa, porque ns repelimos o trfico de drogas dentro da torcida, j que o assdio dos traficantes

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muito grande para colocar pessoas pra vender as drogas. O papel que a gente faz totalmente diferente de uma faco criminosa. A gente no apia violncia, em nosso site tambm no divulgamos nada com relao a isso. Da nossa comunidade no Orkut foram expulsos quase sete mil usurios por fazerem apologia violncia. No permitimos que ningum faa apologia violncia explica Jorge Santana. Por ser a maior torcida organizada do Bahia e do Estado, a Bamor a mais criticada quando o assunto violncia. Mas, a diretoria afirma que muitas brigas so provocadas por pessoas que apenas usam o uniforme da torcida e no tm qualquer vnculo com a mesma. Isso porque as camisas so vendidas em uma loja prpria da Bamor sem nenhuma restrio. O problema que esses torcedores que compram o material s por admirar a torcida, acabam tornando-se vtimas da violncia. Esses caras dos Imbatveis, eles no consideram no. Mulher com a camisa da Bamor eles tomam a camisa, pode ser criana, pode ser coroa, velho, pode ser o que for. Tem muito torcedor do Bahia que compra a camisa da Bamor. S por isso, por estar usando e eles passarem, eles tomam. Inclusive aqui no centro mesmo, passa criana, passa mulher, passa coroa. Nossa ideologia essa, no agir. A gente no age, a gente reage revela Matheus Pereira.editoraplus.org info79

O puxador das msicas da torcida na arquibancada faz outras revelaes sobre a violncia nos estdios e defende, mais uma vez, a Bamor. Segundo ele, as brigas comearam com o surgimento de Os Imbatveis. O pessoal da Bamor, aqui mais antigo, ia pra Ba-Vi, acabava e ia beber com o pessoal da Lees da Fiel. Nunca existiu nada, sempre pacfico. A comeou, Torcida Jovem do Vitria, uma torcida que surgiu, e comeou a brigar, depois surgiu Os Imbatveis, com a ideologia de brigar com todo mundo. Toda essa violncia s comeou de dez anos para c lembra. O presidente da Povo afirma que tambm j foi vtima de supostos integrantes da torcida do Vitria. Ns tnhamos at um relacionamento com essa torcida a, mas ultimamente est havendo agresses por parte deles. Entendo que ns somos rivais, no inimigos. Mas, eles querem tomar material, quando a gente chega no Barrado. Ao invs de eles estarem no lugar da torcida, eles vm pra cima da gente. No ltimo Ba-Vi que teve no Barrado ns fomos com 50 pessoas, houve at um revide nosso, porque ningum vai apanhar, e ficou at feio pra eles, porque eles estavam com uns 200 e ns estvamos

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com 50 homens e a gente colocou eles para correr. Precisou a polcia conter a gente pra eles puderem correr. Ento, isso a est tomando uma proporo que daqui a pouco generaliza. Porque eu com 45 anos no vou querer ser agredido por um moleque de 16 anos, certo? Eu acho que est na hora da polcia ou do Ministrio Pblico tomarem uma posio com relao a isso diz revoltado Rosalvo Castro. Apesar de o presidente da Bamor, Jorge Santana, afirmar que a violncia na Bahia comeou com a fundao de Os Imbatveis, hoje tida como uma das torcidas mais violentas do Nordeste, a guerra entre os dois lados s estourou em 2006 e com uma atitude de supostos integrantes da torcida do Bahia. Depois de uma partida entre Vitria e Cruzeiro, realizada no dia 12 de abril, no Barrado, pela Copa do Brasil daquele ano, os integrantes da TUI, Hermlio Ribeiro Jnior e Raiuga Eugnio de Souza, sofreram uma emboscada no bairro de Pernambus. Os dois foram esfaqueados por integrantes da Bamor, que levaram consigo uma bandeira da TUI (roubo que entre as organizadas tem valor de trofu) e um rdio. Mesmo ferido, Eugnio conseguiu fugir dos agressores. Jnior, ficou internado por dez dias no Hospital Roberto Santos, no resistiu aos ferimentos e faleceu, sendo en-

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terrado no dia 23 de abril no cemitrio da Quinta dos Lzaros. Com a agresso e a morte do torcedor rubro-negro confirmada, iniciou-se uma disputa, principalmente pela internet, entre as torcidas. Fotologs e sites de relacionamentos passaram a ser usados para reivindicar a autoria do crime e para promessas de vinganas. Um dos exemplos foi o fotolog do 12 Comando da TUI, onde a morte de Hermlio foi comentada com freqncia. Alm do tom provocativo, os textos tinham outra coisa em comum: os erros gramaticais. Aaaah man no mexe comigo q a chapa eskenta agora tu vai chorar no inferno o bonde eh neurotico sem k eh noix porra bamor 9 dst o terror do hermilio (sic) escreveu um suposto integrante da Bamor. A resposta vinha logo abaixo: Vou pegar um por um rebanho de desgraa comeou a verdadeira guerra tah ligadu,e naum pesse que e bricadeira naum falow,vou na casa de um por um e vou matar todos! (sic).

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A partir da, as ameaas pela internet s fizeram aumentar. Flogs, sites de relacionamento, fotologs, tudo era usado para demonstrar superioridade e intimidar os torcedores rivais. Passou a ser comum fotos de integrantes da Bamor e da TUI com armas em punho e com camisas, faixas e bandeiras das torcidas adversrias, apresentadas sempre como prmio e em tom de deboche. Com o discurso de que no tinham como fiscalizar o que supostos integrantes estavam fazendo na rede mundial de computadores, os lderes das torcidas organizadas sequer buscavam maneiras para evitar os conflitos. At mesmo estudantes marcavam, atravs desses sites, brigas em plena luz do dia. O Ministrio Pblico passou a agir com mais eficcia. Na semana que antecedia cada clssico Ba-Vi, reunies com os lderes das principais torcidas organizadas, representantes dos clubes, da Federao Bahiana de Futebol (FBF) e da imprensa eram realizadas. Verdadeiras estratgias de guerra foram elaboradas para evitar que a vingana prometida por integrantes de Os Imbatveis viesse mesmo a acontecer. Mas, todo o cuidado no conseguiu evitar a tragdia do dia 11 de fevereiro de 2007. Quase um ano depois da primeira morte registrada no Estado por briga de torcidas

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organizadas, o Ba-Vi realizado no Barrado, pelo Campeonato Baiano daquele ano, entrou para a histria. No pelo resultado em campo, mas pelas duas vidas que foram tiradas de maneira estupidamente violenta. Minutos antes de a bola rolar, o presidente da FBF, Ednaldo Rodrigues, representantes do Ministrio Pblico, da Polcia Militar e das torcidas Bamor e Os Imbatveis realizaram um ato em prol da paz no centro do gramado. Atitude digna de elogios, j que buscava recuperar o clima de cordialidade existente entre as torcidas de Bahia e Vitria. Manifestao que foi ofuscada pela covardia praticada por integrantes das duas torcidas. Pouco antes do ato em campo, quando chegava ao Barrado, a Bamor provocou um verdadeiro arrasto na frente do Estdio. Na confuso, o pedreiro Luiz Carlos Vtor Pereira, de 41 anos, foi agredido com um soco no rosto, bateu a cabea ao cair e no resistiu aos ferimentos. De acordo com o pedreiro Jorge Heleno de Jesus Santos, de 23 anos, que acompanhava a vtima no momento da agresso, ele sequer era integrante da TUI. Casado e

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pai de uma menina, ento com quatro anos de idade, Pereira era o responsvel pela renda da casa, j que sua mulher deficiente fsica e no tem condies de trabalhar. Mesmo com a morte do torcedor do Vitria, confirmada quase uma hora depois, o ato em prol da paz e o jo