Bartonella, Ehrlichia e Rickettsias do grupo da febre maculosa em ...
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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE
FACULDADE DE VETERINRIA
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM MEDICINA VETERINRIA
CLNICA E REPRODUO ANIMAL
NAMIR SANTOS MOREIRA
BARTONELLA, EHRLICHIA E RICKETTIAS DO GRUPO DA FEBRE
MACULOSA EM CES E EM ARTRPODES:UM ESTUDO NA REGIO DO
MDIO PARABA, ESTADO DO RIO DE JANEIRO.
Niteri RJ
2011
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NAMIR SANTOS MOREIRA
BARTONELLA, EHRLICHIA E RICKETTIAS DO GRUPO DA FEBRE
MACULOSA EM CES E EM ARTRPODES:UM ESTUDO NA REGIO DO
MDIO PARABA, ESTADO DO RIO DE JANEIRO.
Tese apresentada ao Programa De Ps-
Graduao em Medicina Veterinria
(Clnica e Reproduo Animal)
Universidade Federal Fluminense,
como requisito parcial para a obteno
do Grau de Doutor. rea de
Concentrao: Clnica Veterinria.
Orientadora: Prof. Dra. Ndia Regina Pereira Almosny.
Co-orientadora: Prof. Dra. Elba Regina Sampaio de Lemos.
Niteri RJ
2011
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NAMIR SANTOS MOREIRA
BARTONELLA, EHRLICHIA E RICKETTIAS DO GRUPO DA FEBRE
AMCULOSA EM CES E EM ARTRPODES:UM ESTUDO NA REGIO DO
MDIO PARABA, ESTADO DO RIO DE JANEIRO.
Tese apresentada ao Programa De Ps-
Graduao em Medicina Veterinria
(Clnica e Reproduo Animal)
Universidade Federal Fluminense,
como requisito parcial para a obteno
do Grau de Doutor. rea de
Concentrao: Clnica Veterinria.
Aprovada em de 2011.
BANCA EXAMINADORA
...........................................................................................
Prof Dr Ndia Regina Pereira Almosny - Orientadora
Universidade Federal Fluminense
. .............................................................................................
Prof. Dr. Elba Regina Sampaio de |Lemos - co orientadora
Fundao Oswaldo Cruz
. ...........................................................................................
Prof. Dr. Aloysio Melo de Figueiredo Cerqueira
Universidade Federal Fluminense
. ...........................................................................................
Prof. Dr. Carlos Luiz Massard
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
...............................................................................................
Prof. Dr Adivaldo Henrique da Fonseca
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
............................................................................................
Prof. Dr Cludia Soares Santos Lessa
UNIRIO
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A Deus, que me deu fora para seguir em frente
A meu marido William, sempre presente, apoiando e incentivando meu crescimento.
Ao meu filho Bernardo, razo da minha vida.
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AGRADECIMENTOS
A minha me Vnia, que me socorre cuidando do Bernardo na minha ausncia, pelo
seu amor e oraes.
Ao meu pai, que no imaginava que eu chegaria at aqui.
Dr Nadia Regina Pereira Almosny por mais uma vez me orientar e acreditar que eu
seria capaz. Muito mais que uma orientadora, exemplo de pessoa e profissional a ser
seguido.
Dr Elba Regina Sampaio de Lemos, pelo carinho, orientao.
A equipe do LHR, Alexsandra Favacho, Tatiana Rozental, Danielle de Almeida,
Raphael Gomes, Alessandro Guterres, Renata de Oliveira, Cristiane Silva, Anglica
Mares Guia, Endi, Jairo Dias Barreira, Grasiely, Adona Pessoa, sem vocs teria sido
impossvel esse trabalho, meu muito obrigada de corao.
Ao Dr Jairo Dias Barreira pela taxonomia dos ectoparasitos
A amiga Aline Moreiras de Souza, pela amizade, apoio incondicional e ajuda na coleta
das amostra.
A professora Marcia de Souza Xavier, pela amizade, companheirismo e ajuda na coleta
das amostras
Ao amigo e mdico veterinrio Anderson Monteiro, pelo apoio, amizade, os cafs as
quartas feiras e pela substituio nas interminveis aulas do primeiro perodo.
Ao professor, Walker Nunes, coordenador na faculdade de Veterinria, UNIPLI, pelo
apoio e incentivo.
Ao aluno e amigo Jorlan, pela ajuda no desenvolvimnto do experimento. gratificante
ver onde voc chegou.
Aos Mdicos Veterinrios: Rafael de Azevedo, Letcia Maia, Camilla, Francisco Lima
Jnior, Ananda Muller, Pedro Velho, Andrea , pela ajuda na coleta das amostras.
Aos Mdicos Veterinrios e amigos de turma, Miguel, Tatiana Didonet, Flvia
Liparisi, aprendi muito com vocs.
Aos professores do Curso de ps graduao da UFF pela contribuio
A todos que direta ou indiretamente contriburam para a realizao desse trabalho
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SUMRIO
Lista de Tabelas p.08
Lista de Quadros p.09
Lista de Figuras p.10
Lista de abreviaturas, siglas e smbolos p.11
Resumo p. 12
Abstract p. 13
I- Introduo p. 14
II- Fundamentao Terica p.19
2.1- Gnero Bartonella p.19
2.1.1- Caractersticas e Taxonomia p.19
2.1.3- Hospedeiros Vertebrados p.22
2.1.4-Vetores p. 25
2.1.5.- Patogenia e manifestaes clnicas p.29
2.1.6. Diagnstico p. 30
2.1.7- Preveno p. 31
2.2 Gnero Rickettsia p. 32
2.2.1- Caractersticas e Taxonomia p. 32
2.2.2- Febre Maculosa p.34
2.2.3- Transmisso p. 34
2.2.4- Hospedeiros vertebrados p.35
2.2.5- Vetores p.38
2.2.6- Patogenia e manifestaes clnicas p.42
2.2.7. Diagnstico p. 46
2.2.8- Preveno p. 47
III- Material e Mtodos p. 49
3.1- rea de estudo p.50
3.2- Desenho do estudo p.50
3.3- Aspectos ticos p.51
3.4 - Amostras p.52
3.4.1- Sangue de ces p.52
3.4.2- Ectoparasitos p.53
3.5- Coleta e acondicionamento das amostras p.53
3.5.1- Sangue de ces p. 53
3.5.2- Ectoparasitos p. 54
3.6- Anlise Laboratorial p. 54
3.6.1- Anlise sorolgica Imunofluorescncia indireta p. 54
3.6.2. Anlise Molecular p. 56
3.6.2.1.Extrao de material genmico das amostras de sangue dos ces p. 56
3.6.2.2- Extrao de material genmico das amostras de ectoparasitos p. 57
3.6.2.2.1. Procedimento de lavagem p. 57
3.6.2.2.2. Extrao de DNA p. 58
3.6.2.3- Reao em Cadeia da Polimerase (PCR) p.59
3.6.2.3.1- PCR Bartonella (DNA ces e DNA de ectoparasitos) p. 60
a). DNA amostras de sangue dos ces p.60
b) DNA amostra dos ectoparasitos p.60
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3.6.2. 3.2.- Rickettsia (DNA ces e DNA ectoparasitos) p.61
a) DNA das amostrasde sangue dos ces p. 61
b) DNA das amostras de ectoparasitos p. 62
3.6.2.3.3. Eletroforese p. 62
3.6.2.3.4. Sequenciamento p. 63
IV- Resultados e Discusso p.65
4.1- Anlise das amostras de sangue dos ces p. 65
4.1.1- Anlise sorolgica das amostras de sangue dos ces p. 65
4.1.2- Anlise molecular( PCR) das amostras de sangue dos ces p.69
4.2- Anlise dos ectoparasitos p.70
4.2.1. Identificao Taxonmica p.70
4.2.1- Anlise molecular (PCR) dos ectoparasitos p.72
4.3. Sequenciamento das amostras de sangue e de ectoparasitos PCR positivo p.77
4.4 Anlise conjunta dos resultados obtidos nas amsotras biolgicas dos ces e dos
ectoparasitos p. 78
V Concluses p.83
VI- Perspectivas p.82
VII- Referncia Bibliogrficas p.84
VIII- Anexos p.101
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LISTA DE TABELAS
Tabela 1. Oligonucleotdeos utilizados para deteco de bactrias do gnero Rickettsia e
Bartonella. p. 59
Tabela 4.1: Ectoparasitos coletados em animais e em vegetao no Municpio de Pira,
Rio de Janeiro (2006-2007) p 70
Tabela 4.2. Frequncia de pools de DNA de ectoparasitas positivos para a presena
dos gneros Bartonella e Rickettsia, por anlise molecular (PCR), segundo espcies de
artrpodes coletados em ces no Municpio de Pira/RJ, em setembro de 2007 e 2008
p 73
Tabela 4.3. Anlise molecular dos ectoparasitas Bartonella PCR positivos coletados no
Municpio de Pira (setembro 2007 e 2008), RJ e que foram submetidos ao
seqenciamento. p77
Tabela 4.4. Relao dos ces sorrreativos e de ectoparasitos PCR positivos para
Bartonella e Rickettsia. p 78
.
.
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LISTA DE QUADRO
Quadro 1: Exemplos de espcies de Bartonella com potencial patognico ao homem,
seus reservatrios primrio e hospedeiro acidental p 21
Quadro 2: Vetores confirmados na transmisso de espcies do gnero Bartonella e suas
respectivas referncias. p 25
Quadro 3: Espcies de Bartonella presentes em Carrapatos vetores e suas respectivas
origens e referncias. p27
Quadro 4: Aspectos clnicos da infeco por Bartonella em ces p30
Quadro 5: Exemplos de Rickettsias Patognicas do Grupo Febre Maculosa no Brasil e
no Mundo. p 33
Quadro 6: Exemplos de espcies de carrapatos e as doenas associadas nos ces p39
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LISTA DE FIGURA
Figura 1: Mecanismo de aderncia e infeco da Rickettsia nas clulas endoteliais
(Walker 2007) p43
Figura 2. Mapa do Estado do Rio de Janeiro, em detalhe regio do Mdio
Paraba, local de coleta das amostras de sangue de ces e ectoparasitos.
Setembro de 2007 e 2008. p 49
Figura 3.1 Regies do Estado do Rio de Janeiro, em roxo a regio do Mdio Paraba
p50
Figura3.2: Bairro Casa Amarela Pira RJ - Local de coleta das amostras de sangue
dos ces e dos seus ectoparasitos. P 51
Figura 3.3: Tcnica de arrasto de flanela utilizada para coleta de ectoparasitos no meio
ambiente, no bairro Ribeiro das Lages- Pira. Agosto de 2007. P53
Figura 4.1.Teste de imunofluorescncia indireta com antgeno de Bartonella henselae,
aumento de 40X. Imagem A (controle negativo) , imagem B (amostra
positiva) p66
Figura 4.2 Teste de imunofluorescncia indireta com antgeno Rickettisa rickettsii,
aumento de 40X. Imagem A (controle positivo), imagem B (amostra
sororreativa) p 66
Figura 4.3: Relao do nmero de amostras de ces sororreativas para Bartonella,
Ehrlichia e Rickettsia p 67
Figura 4.4 Fotodocumentao aps eletroforese em gel de agarose do produto da PCR
para Rickettsia spp. de amostras de ectoparasitos coletados de ces em Pira-Estado do
Rio de Janeiro Brasil. p 73
Figura 4.5 Fotodocumentao aps eletroforese em gel de agarose do produto da PCR
para Bartonela spp. de amostras de ectoparasitos coletados de ces em Pira-Estado do
Rio de Janeiro Brasil. p 76
Figura 4.6: Figura esquemtica com o sumrio dos resultados obtidos no estudo das
amostras de sangue dos ces e dos carrapatos em relao infeco por Rickettsia no
Municpio de Pira, RJ (2007-2008) p 80
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Figura 4.7: Figura esquemtica com o sumrio dos resultados obtidos no estudo das
amostras de sangue dos ces e dos carrapatos em relao infeco por Bartonella no
Municpio de Pira, RJ (2007-2008) p 80
Figura 4.8: Figura esquemtica com o sumrio dos resultados obtidos no estudo das
amostras de sangue dos ces e dos carrapatos em relao infeco por Ehrlichia no
Municpio de Pira, RJ (2007-2008) p 81
Figura 4.9. Figura esquematica com um resumo dos ectoparasitas PCR positivos e sua
correlao com os ces sororreativos p 81
LISTA DE ABREVIAES
A. Anaplasma
A. cajennense Amblyomma cajennense
A. ovale Amblyomma ovale
A. aureolatum Amblyomma aureolatum
B. Bartonella
CDC Centers for Disease Control
CID Coagulao intravascular disseminada
CO2 Dixido de carbono
DNA cido nucleico
E. Ehrlichia
EDTA cido etilenodiamino tetra-actico
ELISA Enzyme Linked Immunosorbent Assay
EUA Estados Unidos da Amrica
FBM Febre Maculosa Brasileira
FMMR Febre maculosa das Montanhas Rochosas
I. Ixodes
IFI Imunofluorescncia indireta
LHR Laboratrio de Hantavirose e
Rickettsiose
MG Minas Gerais
PCR Reao em cadeia da polimerase
RJ Rio de Janeiro
R. Rickettsia
R. sanguineus Rhipicephalus sanguineus
RGFM Rickettsias do grupo da febre maculosa
SP So Paulo
Subsp Subespcie
UFF Universidade Federal Fluminense
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RESUMO:
Nas ltimas duas dcadas o nmero de publicaes sobre infeces causadas por
rickettsias e bartonelas tem aumentado com identificao de novos agentes,
conseqncia, entre outros fatores, de um maior contato humano com animais e
artrpodes capazes de transmitir doena, do aumento do interesse da comunidade
cientfica e de uma maior disponibilidade de novas tcnicas diagnsticas. Considerando
a importncia dos animais domsticos de companhia na transmisso de rickettsias e
bartonelas ao homem, objetivou-se nesse estudo, avaliar a circulao de rickettsias do
grupo da febre maculosa (RGFM), Ehrlichia spp. e Bartonella spp. em ces
domiciliados e clinicamente saudveis nos bairros Ribeiro das Lages, Casa Amarela e
Santansia no Municpio de Pira, Rio de Janeiro. Aps assinatura do termo de
consentimento livre e esclarecido pelo proprietrio, foram coletados sangue e
ectoparasitas em 189 ces. Na anlise sorolgica foi utilizado o teste de
imunofluorescncia indireta comercial (PANBIO) com um ponto de corte na titulao
de 1:64 para a pesquisa de anticorpos anti-R. rickettsii, anti-Ehrlichia canis e anti-
Bartonela henselae. A anlise molecular, pela reao de polimerase em cadeia (PCR),
foi realizada para detectar o genoma de RGFM, E. canis e Bartonella tanto em amostras
de sangue dos ces quanto em seus ectoparasitos. Dos 189 soros de ces analisados, 45
(23,8%), 22 (5,82%) e 9 (4,76%) apresentaram reatividade respectivamente para E.
canis, RGFM e Bartonella spp. Dos 186 ectoparasitas coletados dos ces includos no
estudo, 128 (68,8%) eram Rhipicephalus sanguineus; 19 (10,2%), Amblyomma
cajennense; 1 (0,53%), Anocentor nitens; 8 (4,3%), Ctenocephalides felis e 30 (16,1%),
Ctenocephalides canis. A PCR foi detectada em 56,7% e 42,2% dos ectoparasitas
analisados para o gnero Rickettsia (fragmento de 386 pares de base) e para Bartonella
(fragmento de 414 pares de base), respectivamente. A anlise filogentica preliminar
dos produtos amplificados confirmou a circulao de Bartonella henselae e Rickettsia
spp. em carrapatos. Os dados obtidos neste estudo confirmam a importncia dos ces
como animais sentinelas e amplificadores das doenas transmitidas por carrapatos e
pulgas, assim como a circulao de bactrias do gnero rickettsias do grupo da febre
maculosa e Bartonella na regio do Mdio Paraba.
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ABSTRACT
In the last two decades the number of publications about infections caused by Rickettsia
and Bartonella has increased with the identification of new agents due, among other
factors, increased human contact with animals and arthropods capable of transmitting
disease, the increasing interest of the scientific community and the greater availability
of new diagnostic techniques. Considering the importance of pets in the transmission of
Rickettsia and Bartonella to humans, this study aimed to assess the movement of the
spotted fever group rickettsia(SFGR), Ehrlichia spp. and Bartonella spp. in domestic
dogs, clinically healthy on Ribeiro das Lages, Casa Amarela and Santansia
neighborhoods from Pirai, Rio de Janeiro. After signing an informed consent by the
owner, blood and ectoparasites were collected from 189 dogs. For serological analysis
commercial indirect immunofluorescence assays (PANBIO) was performed, with a
titration cutoff point of 1:64, to detect anti-R. rickettsii, anti-Ehrlichia canis and anti-
Bartonella henselae. Molecular analysis by polymerase chain reaction (PCR) were
performed to detect the genome of SFGR, E. canis and Bartonella from blood samples
from dogs and theirs ectoparasites. From the 189 examined dogs sera, 45 (23.8%), 22
(5.82%) and 9 (4.76%), respectively, were reactive to E. canis, SFGR and Bartonella
spp. From the ectoparasites collected from 186 dogs included in this study, 128
(68.8%), Rhipicephalus sanguineus, 19 (10.2%) Amblyomma cajennense, 1 (0.53%)
Anocentor nitens, eight (4.3%) Ctenocephalides felis and 30 (16.1%), Ctenocephalides
canis were identified. Through PCR amplification it was possible to detect the 386-bp
fragment (genus Rickettsia) in 56.7% of the ectoparasites and the 414-bp fragment
(genus Bartonella) in 42.2% of the ectoparasites. A preliminary phylogenetic analysis
of the amplified product confirmed the movement of Bartonella henselae and Rickettsia
spp. in ticks, allowing the understanding of the importance of dogs as sentinel animals
and amplifiers of diseases transmitted by ticks and fleas as well as the movement of the
spotted fever group rickettsia and Bartonella in the Medio Parba region.
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I- INTRODUO:
Com avano da rea urbana em direo a rea rural, o homem vem invadindo
um territrio que anteriormente era habitado somente por animais, vetores de doenas,
que at ento parasitavam espcies especificas de animais, e que comeam tambm a
parasitar, mesmo que acidentalmente, animais domsticos e o prprio homem. Assim, o
nmero de zoonoses transmitidas por artrpodes como caros, carrapatos, piolhos e
pulgas tem aumentado, como o caso das rickettsioses (FEREITA et al., 2000;
LABRUNA et al, 2007; CHOMEL et al.,2010).
Rickettsioses so doenas infecciosas emergentes e re-emergentes transmitidas
por artrpodes, causadas por rickettsias, bactrias intracelulares obrigatrias, de
distribuio cosmopolita (PADDOCK et al., 2005; PAROLA et al., 2009).
Embora as rickettsioses, sob o aspecto taxonmico, devam ser consideradas, na
atualidade, como um grupo de doenas causadas restritamente por proteobactrias,
Gram negativas subgrupo 1 pertencentes ordem Rickettsiales, Bartonella spp. e
Coxiella burnetti, proteobactrias do subgrupo 2 e proteobactria grupo ,
respectivamente, ainda permanecem sendo estudadas no campo da rickettsiologia
(LEMOS, 2005).
As doenas infecciosas transmitidas por artrpodes como carrapatos, pulgas,
caros e piolhos apresentam disperso mundial. O seu maior reconhecimento, na
atualidade, pode ser entre outros fatores, consequente o aumento real na incidncia
destas infeces pelo maior contato da populao humana com a natureza ou a maior
disponibilidade de tcnicas diagnsticas, tcnicas estas mais sensveis e especficas que
tm permitido a identificao de zoonoses emergentes e re-emergentes, at ento
desconhecidas. Ehrlichiose, febre maculosa e bartonelose so alguns exemplos destas
doenas que, normalmente, encontradas em animais domsticos (ces, gatos e equinos)
podem ser transmitidas acidentalmente ao homem. (LEMOS et al., 1997 a)
Febre maculosa e ehrlichiose, zoonoses transmitidas por carrapatos (do termo
ingls tick-borne diseases), esto associadas com doenas de elevada morbidade e
letalidade, na ausncia de tratamento especfico, tanto em animais quanto em humanos.
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Os achados clnicos, laboratoriais e patolgicos destas duas infeces vm
sendo descritos tanto em casos experimentais quanto aos ocorridos de forma natural
(GREENE et al, 1985; BREITSCHWERDT et al., 1988; TROY et al., 1990; GREENE
et al., 1993; LABRUNA et al., 2005; PIRANDA et al., 2008).
A importncia mdica e veterinria da infestao de carrapatos em animais est
ligada transmisso de uma grande variedade de agentes infecciosos. As doenas
infecciosas transmitidas por carrapatos esto dentre as infeces de maior interesse e de
maior potencial devastador entre os seres humanos e podendo ser viral, bacteriano em
geral ou rickettsial. (SHAW et al., 2000).
Em relao s bartoneloses, um grupo de zoonoses causadas por diversas
espcies de bactria do gnero Bartonella cuja perpetuao na natureza depende dos
vetores como pulgas, carrapatos e flebotomneos. Desde incio do sculo XXI vm
sendo descritas no Brasil no somente em pacientes imunocomprometidos, mas tambm
em indivduos imunocompetentes, alm de felinos domiciliados e clinicamente sadios
(LAMAS et al., 2006; SOUZA et al., 2009). Estudos recentes apontam para a
importncia dos carrapatos (Amblyomma cajennense e Rhipicephalus sanguineus) na
manuteno das bartonelas na natureza e como fonte de infeco para ces. (DINIZ et
al., 2007; BILLETE et al., 2008; CHOMEL et al., 2009)
Os gatos so os principais reservatrios de Bartonella henselae, agente da
doena da arranhadura do gato, com relatos em diversos pases (CHOMEL e KASTEN,
2010). A infeco por Bartonella considerada uma zoonose emergente, cuja
ocorrncia pode ser proveniente de diversos fatores como alteraes ambientais e o
estado do indivduo (BOLOUIS et al., 2005). Nos ces, embora faltem estudos mais
completos sobre a interao entre o agente e o hospedeiro, casos de endocardite tm
sido associados bartonelose (BREITSCHWERDT et al., 1995 e 1999; BILLETER et
al., 2008; DINIZ et al., 2007)
Rickettsioses do grupo da febre maculosa (RGFM) so doenas causadas por
pequenas bactrias intracelulares obrigatrias, proteobactrias do subgrupo alfa 1, que
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16
acometem tanto aos animais quanto ao homem e que so transmitidas por carrapatos
(mais frequentemente), pulgas (Rickettsia felis) e caros (Rickettsia akari) (LEMOS,
2005)
No Brasil, a febre maculosa brasileira (FMB) a principal RGFM, uma
rickettsiose de grande importncia na sade pblica podendo acometer tanto ao homem
quanto ao co, tendo como agente etiolgico, a bactria Rickettsia rickettsii, um
microorganismo gram-negativo intracelular obrigatrio encontrado no carrapato A.
cajennense (Fabricius, 1787), vulgarmente conhecido como carrapato estrela, carrapato
do cavalo e micuim. (MAGALHES, 1953, LEMOS et al., 1997; ESTRADA et al.,
2006). Cunha e colaboradores, (2009) relataram a primeira deteco molecular de R.
rickettsii em R.sanguineus naturalmente infectados em Resende, Estado do Rio de
Janeiro.
A espcie de carrapato A. cajennense encontrada em abundncia em todos os
estados das regies Sudeste e Centro Oeste do Brasil. Nas reas rurais da regio
Sudeste, os equinos so os principais hospedeiros urbanos para todos os estdios da
espcie A. cajennense, muito embora outras diferentes espcies de mamferos e aves
possam ter participao efetiva no ciclo do ixoddeo. A maior importncia dos equinos
como hospedeiro primrio de A. cajennense decorre ao fato de serem animais
domsticos, criados em reas cercadas com alta incidncia de animais e massa corprea
capaz de albergar grandes infestaes de carrapatos (LABRUNA et al., 2000) e,
tambm por poderem circular por uma grande regio, como os cavalos de carroceiro,
dispersando estes vetores (FREITAS et al., 2010). Por outro lado, os animais silvestres,
especialmente os de pequeno e mdio porte, dificilmente albergam uma carga to alta de
carrapatos. Por esta razo, nos ambientes silvestres, com o mnimo de interveno
humana, as populaes de carrapatos tendem a ser mais baixas. (ESTRADA et al.,
2006)
A transmisso transovariana e sobrevivncia natural transestadial verificada por
R. rickettsii e seus vetores so fundamentais para perpetuao desses agentes na
natureza, porm acredita-se que a presena de um hospedeiro amplificador, auxilia a
manuteno da bactria. Sendo assim trabalhos sugeriram que o gamb (Didelphis
aurita) e a capivara (Hydrochaeris hydrochaeris) so amplificadores, nas regies
citadas como reas de FMB (HORTA et al., 2005; LABRUNA, 2007).
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Em termos prticos, os hospedeiros primrios de A. cajennense so as antas, as
capivaras e os eqinos. Em uma rea onde uma populao de A. cajennense est
estabelecida, pelo menos uma destas trs espcies de hospedeiros dever estar presente.
Uma vez que a populao de carrapatos cresce, ele passa a parasitar outros hospedeiros,
chamados secundrios, o homem e o co, por exemplo. (ESTRADA et al., 2006).
Outras espcies de Amblyomma so citadas na literatura como vetores da FMB: A.
aureolatum que pode ser encontrado infestando ces e eqinos em So Paulo, foi
descrito por Moraes-Filho e colaboradores (2009) como vetor da R.rickettsii na regio
metropolitana de So Paulo. Silva e colaboradores, (2011) sinalizam A.ovale como
sendo um vetor em potencial para Rickettsia spp. do grupo da febre maculosa em
humanos, no Brasil.
Estudos mostram que R. sanguineus pode transmitir R. rickettsii em condies
experimentais bem como natural, tanto no Brasil, quanto em outros pases americanos
(PIRANDA et al., 2008, CUNHA et al., 2009; ROZENTAL et al., 2008)
Ces infectados experimentalmente por R. rickettsii podem desenvolver a doena e
apresentar trombocitopenia, depresso, inapetncia, febre e leso ocular, sinais esses
presentes na ehrlichiose. (PIRANDA et al., 2008; LABRUNA et al,2009). A ocorrncia
de infeco natural por Rickettsia spp. nos animais conhecida desde o incio do sculo
passado. Para um melhor entendimento do ciclo enzotico da doena fundamental o
conhecimento da biologia dos hospedeiros, das espcies dos vetores e a interrelao
entre o hospedeiro, vetor e o meio ambiente (HORTA et al., 2005; MORAES-FILHO et
al., 2009). Burgdorfer e colaboradores (1975) relataram presena de R. rickettsii em 167
(18,9%) de 884 exemplares de R. sanguineus nos Estados Unidos.
Segundo Labruna (2005) trabalhos realizados desde a dcada de 30 tm levado a
suspeitar das capivaras, gambs e coelhos como possveis hospedeiros amplificadores
de R. rickettsii para A. cajennense. Horta et al., (2004) relatou estudos realizados em
So Paulo que comprovaram a infeco natural por R. rickettsii em animais selvagens,
domsticos (co) e no homem. No Rio de Janeiro, estudos indicaram presena de A.
cajennense e R. sanguineus positivos para genes rickettsiais pela tcnica de reao em
cadeia da polimerase (PCR) (GEHRKE et al., 2009; ROZENTAl et al.,2009; CUNHA
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et al., 2009). WALKER (2006) sinalizou para a importncia de se estudar o carrapato
vermelho do co, R. sanguineus como um possvel vetor para R.rickettsii.
Quanto ao gnero Ehrlichia, um grupo de parasitos intracitoplasmticos de
leuccitos e plaquetas do sangue circulante que infectam diversas espcies de
mamferos, inclusive seres humanos, transmitido biologicamente por carrapato e as
espcies Ehrlichia canis; Anaplasma platys; A. phagocytophilum; E.risticii e E. ewingii
tm sido descritas causando infeco natural em ces como ehrlichiose canina simples
ou como, co-infeco com outras rickettsioses no territrio brasileiro
(BREITSCHWERDT et al., 1998; MACHADO, 2006).
Considerando que a ehrlichiose canina uma doena muito bem conhecida pelos
mdicos veterinrios e que muitos dos animais que apresentam sinais sugestivos de
ehrlichiose, quando submetidos ao diagnstico laboratorial para E.canis so negativos, a
possibilidade de infeco por R. rickettsii deve ser suspeitada visto que clinicamente a
febre maculosa e a ehrlichiose so semelhantes e que, em ambos os casos, temos um
carrapato como vetor (ALMOSNY, 2002; LABRUNA et al., 2009).
Dessa forma e considerando que a relao homem animal vem se estreitando
cada vez mais, com movimentos sempre crescentes da preservao e contato com a
natureza, esperado que um nmero maior de indivduos possa adquirir infeces por
rickettsias (PADDOCK, 2005). Diante do exposto, tornam-se necessrias pesquisas que
busquem identificar os agentes nos animais domsticos e silvestres e em seus
transmissores artrpodes com o objetivo de aumentar o conhecimento sobre este grupo
de zoonoses transmitidas por carrapatos e colaborar com a vigilncia destes agravos,
tanto em animais quanto na populao humana, que, na ausncia de tratamento
antimicrobiano especfico, apresentam elevada letalidade.
Com a hiptese de que os ces domiciliados na regio do Pira seriam animais
sentinelas para diferentes agentes transmitidos por carrapato como FMB, ehrlichiose e
bartonelose, um projeto com o objetivo de confirmar a circulao de Bartonella spp.,
Ehrlichiaspp. e Rickettsia spp. em sangue de ces e em ectoparasitos no municpio de
Pira, localizado na regio do Mdio Paraba Rio de Janeiro foi desenvolvido, aps
relato de casos de rickettsioses ocorridos na referida regio
-
19
II- FUNDAMENTAO TERICA
2.1 Gnero Bartonella
2.1.1- Caractersticas e Taxonomia
As bartoneloses so doenas mundialmente dispersas causadas por
alfaproteobactrias, da ordem Rhizobiales, famlia Bartonellaceae, cujas espcies, at
1993, consideradas pertencentes ao gnero Rochalimea, foram transferidas para o
gnero Bartonella em decorrncia da remota relao filogentica com os membros da
famlia Rickettsiaceae (BRENNER et al., 1993; LEMOS, 2005).
Assim, at 1993, o gnero Bartonella era composto apenas pela espcie
Bartonella bacilliformis, agente responsvel pela doena humana conhecida como
doena de Carrion e verruga peruana. Com o avano tecnolgico no campo da biologia
molecular e o cultivo celular, vrias espcies de Bartonella posteriormente foram
includas, a partir da identificao de novas espcies e da transferncia dos gneros
Rochalimea e Grahamella da famlia Rickettsiaceae para a famlia Bartonellaceae no
gnero Bartonella que hoje, composto por um grupo de mais de 23 espcies e
subespcies Bartonella (BRENNER et al., 1993, BLANCO et al., 2008, LAMAS et al.,
2008).
As bactrias do gnero Bartonella so Gram negativas, anaerbias, mveis,
intracelulares facultativas, pertencentes classe das Proteobactrias (alfabactrias).
(MAGGI e BREITSCHWERDT, 2005; BLANCO et al., 2008). Essas bactrias
infectam eritrcitos, podendo invadir clulas endoteliais, clulas progenitoras CD34+e
clulas dendrticas dos hospedeiros, levando a uma infeco persistente. (BOULOUIS
et al., 2005; BILLETER, 2008).
-
20
Classificao da Bartonella: Reino Bacteria
Filo Proteobacteria
Classe Alphaproteobacteria
Ordem: Rhizobiales
Famlia: Bartonellaceae
Genero Bartonella
CHOMEL et al., (2010) descreve a existncia de 13 espcies ou subespcie
suspeitas de serem patognicas para humanos.(Quadro1)
Devido ao seu potencial zoontico e de sua elevada incidncia em diferentes
regies do mundo, espcies do gnero Bartonella so consideradas patgenos
emergentes, com habilidade em infectar mamferos reservatrios e hospedeiros, cuja
transmisso est associada com inmeros vetores incluindo, carrapatos, pulgas e piolhos
(MAGGI e BREITSCHWERDT, 2005; KAMRANI, 2008; CHOMEL, 2010).
Vrias espcies de Bartonella foram identificadas com grande potencial de
causar doenas: Bartonella henselae, Bartonella clarridgeiae, Bartonella alsatica,
Bartonella elizabethae, Bartonella grahamii, Bartonella vinsonii subsp. arupensis,
Bartonella vinsonii subsp. Berkhoffii, Bartonella washoensis e Bartonella rochalimae
(BILLETER et al., 2008). Maggi & Breitschwerdt (2005), descreveram a existncia de
17 espcies de Bartonella sendo oito espcies isoladas em humanos (Quadro 1): B.
bacilliformis na doena de Carrion e verruga peruana; B. quintana na febre das
trincheiras, B. elizabethae, B. henselae, B. quintana, B. vinsonii subsp arupensis, B.
vinsonii subsp. berkhofii e B. washoensis nas endocardites, B. quintana e B. henselae na
angiomatose bacilar em pacientes imunocompetentes e B. henselae e B. clarridgeiae na
doena da ranhadura do gato.
Outras espcies de Bartonella, incluindo B. alsatica, B. doshiae, B. grahamii,
B. henselae, B. koehlerae, B. peromysci, B. talpae, B. taylorii, B. tribocorum e B. bovis
foram isoladas em animais, incluindo ces, gatos, bovinos, veados e lees, sem relato de
-
21
patogenicidade para animais ou populao humana (CHOMEL et al. , 2001; MEXAS et
al., 2002; CHOMEL et al., 2006).
Quadro 1: Exemplos de espcies de Bartonella com potencial patognico ao homem,
seus reservatrios primrio e hospedeiro acidental.
Adaptao de Chomel & Kasten, 2010
2.1.2- Transmisso
Com tropismo eritrocitrio, os organismos do gnero Bartonella causam uma
duradoura bacteremia em mamferos e so transmitidos ao homem atravs de mordida
ou arranhadura do gato como tambm por diferentes vetores, incluindo, flebotomneos,
pulgas, piolhos e potencialmente tambm, pelos carrapatos. (BREITSCHWERDT,
1999;, PAROLA et al., 2002; HALLOS et al., 2004; MAC DONALD et al., 2004;
MAGGI E BREITSCHWERDT et al., 2005;; BREITSCHWERDT et al., 2005;
DUNCAN et al., 2007; BILLETER et al., 2008 ).
Embora B. henselae tenha sido encontrada em pulgas assim como em carrapatos,
at agora no h nenhuma evidncia de que uma mordida de uma pulga infectada possa
levar ao desenvolvimento da doena da arranhadura do gato por B. henselae. Dessa
forma, imprescindvel a realizao de projetos de pesquisa que verifiquem a presena
Bartonella Reservatrio primrio Hospedeiro acidental
B. bacilliformis
B. clarridgeiae
Homem
Felis catus
Sem registro
B. elizabethae Ratus norvegicus(rato) Homem, co
B. henselae Felis catus (gato) Homem, co, cavalo
e animais marinhos
B. quintana Homem Gato e co
B. rochalimae Canideos Homem e co
B.vinsonii berkhoffiis Coiote Homem e gato
-
22
da bactria em carrapatos e pulgas presentes no meio ambiente e em animais domsticos
e selvagens (BREITSCHWERDT et al., 2005; BREITSCHWERDT et al., 2007)
2.1.3- Hospedeiros Vertebrados
Mamferos e roedores esto envolvidos no ciclo natural da bartonelas. Vrias
espcies de Bartonella foram isoladas de pequenos roedores e co-infeco de espcies
de Bartonella com Borrelia burgdorferi tm sido demonstradas em pequenos ratos
selvagens capturados, frequentemente parasitados por larvas e ninfas de carrapatos.
(CHOMEL et al., 2001; CHOMEL et al., 2004; BOLOUIS et al.,2005)
Yoshikawa et al. (2009) descreveram alta prevalncia da infeco por Bartonella
spp. em animais selvagens e domsticos na Europa, sia, Amrica do Sul e Amrica do
Norte. Sendo esses animais considerados reservatrios e fonte de infeco para o
homem.
Coiotes e raposas foram descritas por Breitschwerdt et al., (2007) como
reservatrios de Bartonella vinsonii subsp. berkhofii, a partir de relatos de que coiotes
apresentavam alta bacteremia em regies com alto potencial de transmisso do
carrapato vetor. Chomel & Kasten (2010), confirmaram o coiote como reservatrio de
bartonella (quadro 1)
Em relao aos felinos domsticos, estes so considerados reservatrios
primrios de trs espcies de Bartonella - B. henselae, B. clarridgeiae e B. kohlerae,
agentes bacterianos que causam manifestaes clnicas em pacientes humanos,
principalmente imunossuprimidos. (CHOMNEL, 2003). Holden e colaboradores (2006)
identificaram a prevalncia de 62% de B.henselae em gatos domsticos. Outro estudo
realizado por Bolouis et al (2005) em gatos domsticos demonstraram uma prevalncia
variada de 5 a 80% para B. henselae, confirmando assim as variaes nos ndices de
prevalncia, levando em considerao a localizao geogrfica (Europa sia, Amricas)
e o status da populao (gato domstico ou de rua). Os gatos jovens so mais propensos
a ser infectados e transmitir a bactria para as pessoas com cerca de 40% dos gatos
reativos para B. henselae em algum momento de suas vidas.
-
23
Na literatura, as infeces por Bartonella em ces, podem ocorrer, at o
momento, por 5 espcies de bactrias: i) B. clarridgeiae e B. vinsonni subsp. berkhofftii,
responsveis por endocardites em ces; ii) B. elizabethae, DNA detectado em ces com
perda de peso e morte sbita; iii) B. henselae, DNA seqenciado em co com hepatite
granulomatosa e iv) B. washoensis, isolada em material de paciente com endocardite da
vlvula mitral. (BREITSCHWERDT et al., 1998; GUNDI et al., 2004; CHOMEL et al.,
2006).
Pappalardo e colaboradores (1997) demonstraram que dos ces soro reativos
para Ehrlichia canis (Donatien & Letosquart), 3,6% eram concomitantemente soro
reativos para B.vinsonii subsp. Berkhoffii. Breitschwerdt et al (1998) demonstraram que
42% de 12 ces diagnosticados com ehrlichiose no NCSU Veterinary Teaching Hospital
eram tambm B. vinsonii subsp. Berkhoffii sororreativos, concluindo que ces
domiciliados ou livres, quando expostos a artrpode, devem ser considerados tambm
como potenciais transmissores de diferentes espcies de Bartonella.
Kordick e colaboradores (1999) aps estudarem um surto de ces doentes em um
canil e seus proprietrios, relataram que dos 18 animais PCR positivos para Bartonella,
17 tinham co-infeco para E.canis, E.chaffeensis, E. ewingii, Rickettsia spp. ou
Babesia canis. Nesse estudo, foi possvel identificar que 25 dos 27 ces (93%) eram
B.vinsonii subsp. berkhoffii sororreativos.
Bolouis e colaboradores (2005) identificaram uma baixa incidncia de infeco
por B.vinsonii subsp berkhoffii em ces (< 5%) embora estudos com ces de ruas em
regies tropicais mostrem elevadas taxas de infeco por B. henselae como a de 19%,
na Guiana Francesa, 63%, no sudeste dos Estados Unidos, 10,1% dos ces saudveis e
27,2% de ces doentes. No mesmo ano, Henn e colaboradores relataram a prevalncia
na Califrnia e os ces foram todos sororreativos para B. henselae. (HENN et al, 2005)
Solano-Gallego et al (2006) em estudo sorolgico de ces doentes (n= 206) e
ces saudveis (n= 260) expostos a artrpodes, na regio nordeste da Espanha,
demonstraram uma prevalncia de 16,8% para B. henselae e de 56,4% para Rickettsia
conorii. A soroprevalncia dos grupos estudados tanto para a infeco para Bartonella
-
24
quanto para R. conorii, foi similar tanto para os animais doentes quanto os controle:
15,7% e 48,6% no grupo de ces saudveis e e 19,2% e 49,3% no grupo dos ces
doentes apresentaram positividade para Bartonella e R. conorii respectivamente.
Em outro estudo, o DNA de Bartonella foi detectado em amostras de sangue de
tartarugas marinhas (Caretta careta Linnaeus), sugerindo a possibilidade da persistncia
de infeco sangunea no somente em animais no mamferos, dado este que refora a
complexidade do ciclo assim como a importncia de estudos sobre o assunto.
(VALENTINE, 2007)
No Brasil, estudos mais recentes realizados em gatos tm demonstrado
prevalncias elevadas de Bartonella spp. (LAMAS et al., 2006; SOUZA et al., 2009;
STAGGEMEIR, 2010). Assim, no Estado de So Paulo, 46% dos 102 gatos avaliados
por Diniz e colaboradores (2007) apresentaram soro reatividade para B. henselae,
enquanto no Rio de Janeiro a presena da infeco por Bartonella foi reportada por
LAMAS et al., (2006) e SOUZA (2008). Pesquisa realizada por Souza (2008) revelou
que 90% dos gatos sadios e domiciliados apresentaram sororreatividade para
Bartonella, na regio de Vassouras, caracterizando a ampla circulao desse agente
zoontico na rea. At o momento, com exceo dos estudos em gatos e ces, no
existem, no Brasil, estudos sobre a presena de bartonelas em outros animais, em
especial nos animais silvestres.
Diniz et al., (2007) avaliaram, utilizando o teste imunofluorescncia indireta
para a deteco de anticorpos anti-B. henselae e anti-B. vinsonni subsp. berkhofftii, 198
amostras de soro de ces com histrico de infestao de carrapato e com manifestao
clnica (epistaxis, melena, equimoses, sinais neurolgicos e leses oculares) ou com
achados laboratoriais (leucopenia, trombocitopenia, hiperproteinemia) consistentes com
doena de carrapato. Do total de amostras avaliadas, 2% (4/197) apresentaram
reatividade para B. henselae e 1,5% (3/197) para B. vinsonii subsp . berkhofftii. Neste
relato apenas em um co (1/197) apresentou amplificao do DNA de Bartonella (16S-
23S rRNA). Seis dos sete ces com anticorpos anti-Bartonella foram tambm positivos
para E. canis, confirmando uma co-infeco.
-
25
2.1.4- Vetores:
Piolhos, flebotomneos caros, pulgas e carrapatos so considerados vetores em
potencial de Bartonella (DINIZ et al., 2007b). (Quadro 2)
No que diz respeito aos artrpodes convm ressaltar que h uma diferena
significativa entre competncia vetorial comprovada e vetor potencial.
Experimentalmente, estudos relatam que h confivel transmisso entre vetor e
hospedeiro, caracterstica do vetor competente. O vetor competente aquele com
capacidade real de transmisso do agente. Em muitos casos a deteco de Bartonella
spp em artrpodes determinada por PCR ou cultura celular, no fornecendo, assim,
provas definitivas da competncia vetorial e podendo, consequentemente, representar
apenas a ingesto de sangue infectado por Bartonella durante uma bacteremia do
hospedeiro. (BILLETER, 2008)
Quadro 2: Vetores confirmados na transmisso de espcies do gnero Bartonella e suas
respectivas referncias.
Vetor Confirmado Bartonella Referncia
Ctenocephalides felis B.clarridgeiae, B.quintana Rolain et a (l2003)
B.koehlerae,
B.henselae Ishhida et al,( 2001)
Ctenocephalides nobilis nobilis B.grahamiii e B.taylorii Bown et al (2004)
B.elizabethae Reeves et al (2003),
Lutzomyia verrucarum B.baciliformis Battisti (1929, 1931)
Pediculus humanus humanus B.quintana Swift (1920)
Adaptao de Billeter et al. , (2008)
Ctenocephalides canis (pulga do co) descrito como vetor suspeito na
transmisso de B. henselae (Ishida et al, 2001) enquanto a espcie Ctenocephalides felis
-
26
o vetor confirmado da pela transmisso de B. quintana, B.clarridgeiae e B. koehlerae.
(ROLAIN, 2003; BILLETER et al, 2008)
A associao entre hospedeiro natural, vetores e Bartonella spp., geralmente
determina o hospedeiro natural ou acidental assim como a provvel distribuio
geogrfica da doena/infeco. Estudos realizados por Chul-Min-Kin et al., (2005) na
Korea, relataram a presena de anticorpos especficos em humanos, fato que
possibilitou a sugesto indireta de que a bactria Bartonella poderia estar circulando em
uma populao de roedores e carrapatos hospedeiros- vetores envolvidos no ciclo
natural da infeco. No mesmo ano Halos et al., (2005) a partir de seu estudos incluram
os ruminantes como hospedeiros de Bartonella, com a suspeita de que o vetor seria
uma espcie do carrapato do gnero Ixodes j descrito anteriormente na Europa e na
Califrnia.
Estudos sugerem que diversas espcies de carrapatos podem ser consideradas
vetores em potencial de Bartonella spp. e apontam para a importncia dos carrapatos na
transmisso de Bartonella spp. para os hospedeiros,(Quadro 3) (BILLETER et al ,
2008).
Quadro 3: Espcies de Bartonella presentes em Carrapatos vetores e suas respectivas
origens e referncias.
Carrapato Bartonella Pas Referncia
Rhipicephalus saguineus B.henselae California, USA Wikswo (2007)
Dermacentor variabilis Bartonella spp California, USA Chang et al., (2002)
Dermacentor reticulates Bartonella spp California , USA Chang et al.,(202)
Ixodes ricinus Bartonella henseale Italia Sanogo et al., (2003)
Polonia Podsiadly et al., (2007)
Bartonella spp Austria Schabereiter-Gurtner et al.,(2003)
Ixodes pacificus B.henselae, B.quintana, California, USA Chang et al., (2001)
B.vinsonii subsp. Berkhofii Chang et al., (2001)
B.washoensis
Sem identificao Bartonella spp. Peru Parola et al., (2002)
Adaptao de Billeter et al., (2008)
-
27
A espcie de carrapato R. sanguineus, conhecido vetor de Babesia canis,
suspeita de ser o vetor de B. vinsonii subsp. berkhoffii uma vez que co-infeco em ces
indiretamente refora a importncia do carrapato como vetor em potencial para
B.vinsonii subsp. berkhoffii e B. canis.
Estudos realizados por La Scola et al., (2004); Halos et al., (2005); Estrada et al
(2006); Billeter et al, (2008); Szab et al, (2009) confirmaram que a o estdio de vida do
carrapato um fator que deve ser considerado tanto no diagnstico molecular do
microorganismo como tambm na transmisso da doena
Spitlsk e colaboradores (2008), detectaram, por meio de tcnicas de biologia
molecular (PCR), a presena de Bartonella spp., Anaplasma phagocytophilum,
Ehrlichia muris, Rickettsia helvetica em roedores e carrapatos coletados da vegetao.
Halos et al, 2005 demonstraram a evidncia de Bartonella sp em formas adultas
e ninfal de Ixodes ricinus na Frana e a co-infeco com Borrelia burgdorferi lato sensu
e Babesia sp. O estudo foi realizado em 94 amostras de carrapatos da espcie Ixodes
ricinus, sendo 76 ninfas e 18 adultos (9 machos e 9 fmeas), coletados da vegetao
(pasto) durante a primavera na Frana, nove amostras (9,8%), sendo 3 ninfas e 6
adultos, apresentam um fragmento amplificado no tamanho esperado para Bartonella.
Uma amostra referente a um carrapato adulto apresentou 96% de identidade para o gene
de Bartonella schoenbuschensiis.
Outro estudo realizado nos Estados Unidos, em trs locais de Santa Clara, na
Califrnia, 151 carrapatos adultos coletados da vegetao foram testados para
Bartonella e desses, 29 (19,2%) amostras apresentaram PCR detectvel para Bartonella.
Foi possvel a identificao da espcie de Bartonella em 18 carrapatos infectados,
sendo, 3 B. quintana, 6 B. henselae, 3 Bartonella washoensis, 5 Bartonella strain
cattle -1 e 1 Bartonella vinsonii subsp berkhoffii. (CHANG et al , 2001)
Parola et al, (2002), descreveram a primeira evidncia molecular de uma nova
espcie de Bartonella spp. em pulgas e carrapatos no Peru, em um trabalho de campo
realizado em novembro de 1998, no subrbio de Santo Antnio, distrito de Wanchac,
-
28
cidade de Cusco, aps uma epidemia de bartonelose humana ocorrida entre 1988 -1999
na rea rural da cidade. Um total de 83 pulgas foi coletado de crianas de 40 escolas
(educao infantil) e de adultos que frequentavam escola alm da casa das crianas. Dez
piolhos tambm foram obtidos de trs pessoas e cinco pulgas coletadas de dois ces,
cinco carrapatos no total sendo, quatro em um co, e um em ovelha. Das 83 pulgas
coletadas das pessoas, 30 pertenciam ao gnero Pulex e 53 ao Ctenocephalides. Os
carrapatos no foram identificados, mas as pulgas dos ces pertenciam ao gnero
Ctenocephalides e os piolhos eram Pediculis humanus corporis. O DNA de Bartonella
por meio da PCR foi detectado em trs exemplares de Pulex coletadas de pessoas e em
um carrapato. Essa Bartonella (gentipo BF 1782; 17541 e 17688) apresentava
diferenas quando comparada com Bartonella bacilliformis, cujo vetor Lutzomyia
verrucarum responsvel pelos surtos na regio. Sendo assim concluiu-se que se
tratava de uma nova espcie de Bartonella detectada em pulgas e carrapatos no Peru e
que apesar de humanos e flebotomneos (Lutzomyia verrucanum) serem largamente
conhecidos como reservatrios e vetor respectivamente, neste pas latino americano, o
papel dos roedores e dos artrpodes no ciclo da doena ainda est indefinido.
.
Mais recentemente Holden e colaboradores (2006), em um estudo realizado com
168 amostras adultas de I.pacificus, utilizando tambm a tcnica de PCR, detectaram
presena de B. henselae em 6,55% das amostras testadas.
Por fim, no contexto de estudo experimental, merece citao o estudo de Chomel
et al, (1996), que aps a coleta de pulgas de um gatil durante bacteremia, infestou, com
estes exemplares, filhotes de gatos livres de patgenos (clinicamente saudveis). A
avaliao dos animais, aps duas semanas demonstrou a bacteremia por Bartonella em
4 dos 5 gatinhos estudados, confirmando assim, C. felis como um vetor competente na
transmisso de B.henselae e tambm como vetor potencial na transmisso da B.
clarridgeiae, B quintana, B. koehlerae. Breitschwerdt et al, 2007 citaram a
possibilidade da Ctenocephalides felis manter a infeco de B. quintana e a transmisso
do microorganismo entre gatos que podem posteriormente transmitir Bartonella ao
homem por mordedura ou arranhadura.
-
29
2.1.5 Patogenia e Manifestaes Clnicas nos Hospedeiro
Os ces com bartonelose apresentam quadro clnico caracterizado por epistaxis,
melena, equimoses, sinais neurolgicos e processos inflamatrios oculares que incluem
uvete, hifema e inflamao na retina. Febre pode estar presente, temperatura em torno
de 39,4C. Os achados laboratoriais incluem trombocitopenia, hiperproteinemia, e
leucopenia (BREITSCHWERDT et al., 2004; DINIZ et al., 2007).
Endocardites tambm so descritas em ces com infeco natural por B.
henselae. (BREITSCHWERDT, 1995; MEXAS et al., 2002; CHOMEL et al., 2006).
PAROLA et al, (2002), relataram que B. vinsonii subsp. berkhofii como responsvel
pela bacteremia e endocardites em ces, como tambm tem implicao em endocardites
humanas. Estudos realizados por Breitschwerdt et al., (2004), descreveram que ces
com evidncia sorolgica para B. vinsoni subsp. berkhofii apresentavam reao
imunomediada, anemia hemoltica, meningoencefalite, vasculite cutnea e uvetes. Nos
ces que apresentavam alteraes hepticas (hepatopatia granulomatosa e hepatite
linfoctica), foram detectados DNA de B. henselae (Quadro 4).
Os gatos normalmente so assintomticos mesmo os que apresentam infeco
por B. henselae (CDC, 2006).
Nos homens as alteraes clnicas so diversas (endocardites a sepsis) e
informaes mais completas podem ser obtidas em uma amplareviso sobre as
bartoneloses com nfase no Brasil publicada por LAMAS e colaboradores em 2008e
2010.
Quadro 4: Aspectos clnicos da infeco por Bartonella em ces
Bartonella spp. Sintomas em ces
B.clarridgeiae, Endocardite e Hepatite linfoctica
B. elizabethae Letargia, anemia e perda de peso
B. henselae Hepatite granulomatosa e epistaxis
B. grahamii No diagnosticada em co
-
30
B. koehlerae No diagnosticada em ces
B.vinsonii subs. berkhoffii Endocardite, miocardite, arritmia, inflamao do
coride, uvete , esplenomegalia, claudicao,
poliartrite e epistaxis
B. washoensis Endocardite
B.quintana Endocardite
Adaptao de Chomel et al, (2006)
2.1.6- Diagnstico
Em ces, o teste sorolgico de imunofluorescncia indireta tem sido usado para
deteco de anticorpos, anti-B. henselae e antiB. v. berkhoffii com diluio inicial de
1:16 e cut-off em 1:64 ( DINIZ et al., 2007a).
Blanco et al, 2008, relataram que as tcnicas mais utilizadas pra diagnstico de
Bartonella spp. so a imunofluorescncia indireta e ELISA, lembrando que reaes
cruzadas podem ocorrer com outras espcies, como por exemplo, C.burnetii. Apesar do
ponto de corte para se considerar uma amostra positiva possa variar de acordo com o
autor, os autores sugerem neste trabalho que o ponto de corte para pacientes com
doena da arranhadura do gato deveria ser de 1:64 e com endocardites, de 1:800.
Quanto PCR, a amplificao do DNA bacteriano, utilizando primer 16S -23S
tem sido amplamente utilizada nos estudos epidemiolgicos das bartoneloses,
permitindo a diferenciao de diversas espcies de Bartonella spp. Considerada uma
tcnica fcil e segura de ser realizada, se considerados os preceitos bsicos para evitar
contaminao, estudos mostraram que a PCR em tempo real mais sensvel e
especfica, sendo extremamente til em pacientes com endocardites por Bartonella spp,
quando se tem apenas o soro para realizao do diagnstico (MAGGI et al., 2005;
BLANCO et al., 2006; BREITSCHWERDT, 2007;).
As bactrias do gnero Bartonella so consideradas microorganismos exigentes
e fastidiosos (BLANCO et al., 2008) que podem ser cultivadas em um meio slido,
-
31
Agar com infuso de crebro e corao com chocolate (Agar chocolate - BHIA) ou em
BAPGM, meio lquido de crescimento de Bartonella-alphabacteria, a temperatura de
35C em atmosfera saturada a 5% de CO2 , por seis semanas. A exigncia de ambiente
controlado (temperatura e atmosfera) um fator que dificulta muitas vezes o cultivo e
desenvolvimento da bactria nos laboratrios (KAMRANI, 2008).
2.1.7 Preveno
Segundo o CDC os indivduos devem tomar cuidados quando estiverem
brincando ou acariciando um gato, principalmente os filhotes, a fim de evitar arranhes
e mordidas. No caso de mordidas e ou arranhes estas no podem ser lambidas pelos
gatos e devem ser cuidadosamente higienizadas (com gua e sabo). No caso de
infeco no local da leso e o paciente pode apresentar sinais como febre, dor de
cabea, inchao dos gnglios linfticos e fadiga, deve procurar atendimento mdico
especializado. O controle de pulgas do animal e do meio ambiente uma medida
preventiva bastante importante na bartonelose.
Medidas de higiene pessoal ao lidar com gatos, particularmente os jovens,
evitando arranhaduras, mordidas e lambeduras, bem como a lavagem das mos ao lidar
com esses animais devem ser implementadas (COURA , 2005).
Segundo Boulouis et al (2005) cuidados na hora da adoo do filhote de gato,
como por exemplo saber a procedncia se o animal apresenta infestao por pulgas e
medidas de higiene com o animal e aps manipulao do mesmo diminuem o risco de
uma infeco. Com relao aos ces, o uso de repelente, higienizao do animal aps
passeio na rua e controle de pulgas que podem estar infectadas com B. henselae so
medidas de controle eficazes.
2.2- Gnero Rickettsia
2.2.1 Caractersticas e Taxonomia da Rickettsias
-
32
As rickettsioses so doenas causadas por bactrias da famlia Rickettsiaceae,
constituda pelos gneros Rickettsia, Orientia, Ehrlichia, Neorickettsia e Anaplasma
(RAY et al.,2001). O gnero Rickettsia compreende bactrias da subdiviso alfa da
classe Proteobacteria, as quais so coco-bacilos gram-negativos, em associao
obrigatria com clulas endoteliais eucariotas, pertencentes ordem Rickettsiales,
distribudos originalmente em trs famlias Rickettsiaceae, Bartonellaceae e
Anaplasmataceae (WEISS E MOULDER, 1984; YU E WALKER, 2003).
Rickettsia rickettsii, uma bactria gram negativa intracelular obrigatria, o gente
etiolgico da febre maculosa das Montanhas Rochosas nos Estados Unidos e no Brasil
da febre maculosa brasileira, patognica tanto para homens quanto para animais
(LABRUNA et al., 2009). Encontrada em clulas intestinais e glndulas salivares de
artrpodes, multiplica-se por diviso binria (RAOULT et al, 2005).
O gnero Rickettsia composto por quatro grupos: 1) grupo do tifo (R. prowazekii
(tifo epidmico), R.typhi (tifo murino ou tifo endmico) tendo como vetores o piolho do
corpo (Pediculus humanus corporis) e pela inoculao de fezes de pulga (Xenopsulla
cheopis) respectivamente; 2) grupo da febre maculosa 3) grupo transicional,
representado pelas espcies R. akari, R. australis e R. felis e 4) grupo ancestral (R belli e
R.canadensis) (LEMOS et al., 2002; HORTA et al, 2004; LEMOS, 2005 ; ESTRADA
et al 2006; informao pessoal).
Com grande nmero de diferentes espcies (quadro 5), o grupo da febre maculosa,
atravs de R. rickettsii, o prottipo das rickettsias do grupo da febre maculosa, tem sido
relatada nos Estados Unidos, Argentina, Brasil, Mxico, Costa Rica, Panam e
Colmbia (WEISS & MOULDER, 1984, BEATI & RAOULT, 1998; GUEDES et al,
2005; SANGIONE, 2003; PADDOCK et al, 2005; CARDOSO et al, 2006;
BREITSCHWERDT, 2007) e em cada localidade a doena tem uma denominao:
doenas das Montanhas Rochosas nos Estado Unidos, febre manchada no Mxico, febre
de Tobia na Colmbia e febre maculosa brasileira (GUEDES et al , 2005).
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33
Quadro 5: Exemplos de Rickettsias Patognicas do Grupo Febre Maculosa no Brasil e
no Mundo.
Espcie
Doena
Rickettsia rickettsii
R. conorii
R. africae
R. australis
R. honei
R. sibirica
R. japonica
R. felis
R. mongolotimonae
R. slovaca
R. helvtica
R. akari
Febre maculosa das Montanhas Rochosas, Febre Maculosa
Brasileira
Febre botonosa
Febre da picada do carrapato
Febre do carrapato de Queensland
Tifo da ilha Flinders
Tifo siberiano ou do norte da sia
Febre maculosa oriental
Tifo das pulgas californianas
Rickettsiose europia
Rickettsiose europia
Rickettsiose europia
Rickettsiose variceliforme ou vesicular
Adaptao: Lemos et al, (1997 a, 2005); Beati e Raoult (1998); Sangioni (2003); Lamas et al (2008)
2.2.2 Febre Maculosa
A febre maculosa uma doena infecciosa descrita inicialmente em 1899 por
Kenneth Marxy, na regio das Montanhas Rochosas do noroeste dos Estados Unidos,
tendo sido definida como uma doena febril endmica (HARDEN et al 1990).
Em 1916 a bactria foi nomeada de Rickettsia e em 1930 foi identificada no
Brasil como tifo exantemtico de So Paulo, quando Jos Toledo Piza diferenciou a
febre maculosa das demais enfermidades exantemticas (Weiss & Strauss, 1991). Desde
ento a febre maculosa vem sendo relatada em diversos estados do Brasil, So Paulo,
Minas Gerais, Esprito Santo e Rio de Janeiro (Lemos et al , 1996). Desde 2001, doena
de notificao compulsria (DNC) ao Ministrio da Sade, regulamentada pela
portaria n 2325/GM de dezembro de 2001.
-
34
O Brasil apresenta um histrico de doena rickettsial desde a dcada de 20,
sendo a febre maculosa brasileira a mais grave das rickettsioses descritas, ocorrendo
principalmente no sudeste do Pas. Em Minas Gerais tem sido registrada, desde a
dcada de 1980, com uma maior ocorrncia de inmeros casos da doena em forma de
epidemias em reas rurais e periurbanas, com predominncia nos vales do
Jequitinhonha, do Mucuri e do Rio Doce (CARDOSO et al., 2006)
2.2.3- Transmisso
As rickettsias so transmitidas ao homem e animais por meio de picada de
artrpodes hematfagos, tais como carrapatos, caros, pulgas e piolhos (hospedeiros
invertebrados). Na natureza, a transmisso de R. rickettsii vertical, transestadial e
transovariana no carrapato, e horizontal nos hospedeiros e homem. (EREMEEVA &
DASH, 2009).
A transmisso transovariana e a sobrevivncia natural transestadial verificada
por R. rickettsii em seus vetores, so fundamentais para perpetuao desses agentes na
natureza e de sua manuteno na populao de carrapatos, porm acredita-se que a
presena de um hospedeiro amplificador, auxilia a manuteno da bactria (HORTA et
al., 2005).
A transmisso de R. rickettsii ocorre atravs da salivao do carrapato infectado
no momento do repasto sanguneo. Isto ocorre em um perodo de 4 a 6 horas aps se
fixar no hospedeiro, quando o artrpode regurgita o contedo com a bactria, que
penetra no hospedeiro atravs do stio de fixao. Outra maneira atravs da
contaminao na pele do hospedeiro pelo esmagamento do carrapato, que pode ocorrer,
caso o vetor seja retirado erroneamente (HARDEN, 1990; CAMARGO-NEVES et al,
2004). O microorganismo ento carreado pela via linftica ou por pequenos vasos para
a circulao, invadindo as clulas alvo (WALTER, 2007).
2.2.4- Hospedeiros Vertebrados
-
35
Diversos animais auxiliam na manuteno do ciclo da doena, participando como
hospedeiros primrios ou acidentais. Segundo Speilman & Hodgson (2000), para que
um vertebrado seja considerado bom hospedeiro amplificador de R. rickettsii na
natureza, este deve preencher alguns requisitos como: ser susceptvel infeco; manter
a bactria circulante em nveis plasmticos suficientes para infectar vetores; ter alta taxa
de renovao populacional; ser abundante na rea endmica e ser bom hospedeiro do
carrapato vetor. Equinos e ces so considerados animais sentinela para febre maculosa
brasileira (LEMOS et al., 1996), atuando tambm como amplificadores da populao de
carrapatos, estes animais vivem no peridomiclio humano, tendo grande importncia na
epidemiologia da doena (Speilman & Hodgson, 2000).
Trabalhos conduzidos no Brasil tm sugerido que o gamb (Didelphis aurita) e
a capivara (Hydrochaeris hydrochaeris) so amplificadores da populao de carrapatos,
nas regies citadas como reas de FMB. (HORTA et al., 2005; LABRUNA et al.,
2007).
Em termos prticos o hospedeiro primrio de A. cajennense so os eqinos, as
antas e capivaras e assim, em uma determinada rea onde uma populao de A.
cajennense tenha se estabelecido, pelo menos uma destas trs espcies de hospedeiros
dever estar presente. Uma vez que a populao de carrapatos cresce, ele passa a
parasitar outros hospedeiros, chamados secundrios, o homem e o co, por exemplo.
(SUCEN,2004). Este carrapato caracteriza-se por ter uma baixa especificidade de
hospedeiro, principalmente em seus estdios imaturos (ARAGO & FONSECA, 1961)
Considerando o grande nmero de estudos sobre a importncia do co na
epidemiologia da febre maculosa, alguns resultados em diferentes regies do Mundo
sero apresentados a seguir, mostrando a complexidade e a especificidade
epidemiolgica da infeco em cada localidade.
Nos anos de 1984 e 1997, utilizando o teste de imunofluorescncia indireta como
mtodo de diagnostico, 30 ces foram identificados com febre maculosa das Montanhas
Rochosas (FMMR) na Carolina do Norte, com ttulos sorolgicos, para R. rickettsii, de
1:1024. Todos os 30 ces apresentavam idades variadas, sendo 50% idade superior a 7
-
36
anos, 43% idade entre 2 e 7 anos e 17% tinham histrico de exposio a carrapato.
(GASSER et al., 2001).
Estudo realizado em trs ces e duas pessoas que apresentavam sinais clnicos
compatveis com FMMR, na Carolina do Norte, utilizando a tcnica de cultivo celular
(Clulas VERO) para extrao de DNA com posterior tcnicas moleculares demonstrou
100% de homologia para R. rickettsii, para o primer omp A nas amostras dos ces e
dos humanos. Esse estudo sugeriu que os ces servem como sentinelas naturais para o
microorganismo. (KIDD et al., 2006).
No mesmo ano, ainda nos Estados Unidos, um estudo epidemiolgico em ces em
uma rea com casos humanos confirmados de FMMR no Arizona, demonstrou alta
sororreatividade para R rickettsii, com 5,1% de 329 ces com anticorpos sricos alm da
presena de R. sanguineus como a espcie de carrapato associada com os casos
humanos. Os resultados obtidos neste estudo confirmaram a circulao do agente
infeccioso e de R. sanguineus na regio e com evidncias da participao do co como
sentinela e hospedeiro primrio para o carrapato da espcie R. sanguineus.
(NICHOLSON et al., 2006).
Em outro estudo, Scorpio et al em 2009 descreveram que 21 ces, de rua, sem
raa definida (SRD) que seriam utilizados em um estudos de alteraes cardacas,
apresentaram, durante exames laboratoriais preliminares, algumas alteraes, como
febre e depresso. Esses ces ento foram submetidos a testes de IFI para doenas
relacionadas exposio de carrapatos e 2 (10%) dos 21 ces estudados apresentavam
sintomas clnicos, 15 (71%) eram sororreativos para trs agentes transmitidos por
carrapatos: Ehrlichia, Rickettsia e Borrelia, confirmando, assim. a premissa de que ces
de rua, sem domiclio, so susceptveis a doenas pela maior exposio a carrapatos.
Quanto presena de coinfeco, Kordick et al (1999), relatou a infeco de
mltiplos patgenos de doenas transmitidas por carrapatos em ces de um canil na
Carolina do Norte e de pessoas que freqentavam o local e que mantinham contato com
os animais. No referido estudo 27 amostras de soros de ces e 23 de homens foram
analisadas, os ces apresentaram reatividade para Ehrlichia spp. (26/27); Babesia canis
(16/27); B. vinsonii (25/27) e R. rickettsii (22/27), enquanto as amostras humanas
-
37
apresentaram reatividade para B. henselae e E. chaffeensis. Segundo SCORPIO e
colaboradores (2008) a infeco por Ehrlichia, Rickettisia e Borrelia nem sempre
causam doena clnica evidente no co, no entanto a infeco por Ehrlichia e Borrelia
pode persistir e causar, consequentemente, uma estimulao imune que poder afetar a
fisiologia do animal, expondo-o a outros agentes infecciosos.
J no continente asitico, estudos realizados no Japo tm confirmado a
circulao de RGFM. Na cidade de Okinawa, 2,4 % de 340 amostras de sangue
coletadas de ces apresentaram-se reativas para RGFM e 84 pool de 229 carrapatos
capturados sobre os ces testados para a pesquisa de rickettsias por PCR, utilizando os
primer 190 KDa e citrato sintase, apresentaram similaridade para R. japonica e R.
aeschimanii os agentes da febre maculosa na regio (SATOH et al, 2002).
Estudos na Europa tm demonstrado com freqncia crescente a circulao de
agentes rickettsiais. Solano- Galego et al (2006) descreveram, na Espanha, alta
prevalncia (56,4%) de ces infectados por RGFM, confirmando assim o papel do co
como animal sentinela. No mesmo ano, Torina e Caracappa relataram prevalncia de
21,7% na regio da Siclia.
No Brasil, assim como nos EUA, a febre maculosa foi descrita inicialmente em seres
humanos, em 1929, conhecida ento como tifo exantemtico de So Paulo (PIZA; MEYER;
GOMES, 1932). Estudos realizados durante a dcada de 30 relacionando o tifo exantemtico e a
febre maculosas das Montanhas Rochosas, verificaram que a doena que ocorria no Brasil era
semelhante a dos Estados Unidos, sendo assim foi denominada de Febre Maculosa Brasileira.
Nas ltimas trs dcadas estudos sobre rickettsia em ces tm sido realizados
principalmente nos estados da regio sudeste. Estudos realizados por De Lemos e
colaboradores nos anos de 1994, 1996, 1997, 2001 e 2002 relataram animais e
indivduos infectados com R. rickettsia em Minas Gerais e So Paulo, reas endmicas
para FMB. Galvo (1996), estudando o comportamento da febre maculosa brasileira no
municpio de Caratinga, por meio de inqurito sorolgico, registrou uma
soroprevalncia de 2% em humanos, 25% em ces e 53% em eqinos para R.rickettsii,
por meio de imunofluorescncia indireta. Com a incluso da FMB como doena de
notificao no Brasil, um maior nmero de estudos com ces e eqinos vem sendo
-
38
realizado, demonstrando a grande variao de prevalncia sorolgica, na dependncia
da rea de estudo, da populao de animais includos no estudo, entre outras variveis.
2.2.5- Vetores
Dentre os grupos de artrpodes vetores/transmissores das rickettsioses, caros,
carrapatos, piolhos e pulgas, os carrapatos so os mais importantes agentes
transmissores de rickettsias, embora outros microorganismos patognicos, como
protozorios, espiroquetas e vrus, sejam tambm transmitidos por carrapatos para
diferentes espcies de animais domsticos (de produo e de companhia) e para
populao humana. Os carrapatos podem causar, alm de doenas conhecidas como
Tick borne-diseases, outros agravos associados com uma grave toxicidade
determinando uma paralisia, alergia e irritao na pele. (JONGEJAN & UILENBERG,
2004). Alm da elevada morbidade e mortalidade, as infeces transmitidas por
carrapatos, em especial as rickettsioses e babesioses, para os animais de produo
ligados pecuria nas regies topical e subtropical do mundo, tm causado grande
impacto negativo sob o ponto de vista econmico (DELGADO, 1999).
De acordo com a literatura 80% dos carrapatos presentes na fauna mundial so
da famlia Ixodidae (carrapato duro), que possuem 683 espcies e 183 espcies da
famlia Argasidae (carrapato mole). Os gneros mais importantes de carrapatos so:
Amblyomma, Dermacentor, Haephysalis, Hyalomma, Ixodes, Rhipicephalus e
Boophilus. (JONGEJAN & UILENBERG, 2004) (Quadro 6).
Os chamados carrapatos duros, da famlia Ixodidae atuam como vetores,
reservatrios ou amplificadores de rickettsias do grupo febre maculosa. Amblyomma
cajennense e Amblyomma aureolatum, so descritos como principais vetores de R.
rickettsii no Brasil, R. sanguineus no Mxico. Nos Estados Unidos, o gnero
Dermacentor incriminado como principal vetor da FMMR. (DEMMA et al, 2005)
-
39
Quadro 6: Exemplos de espcies de carrapatos amplificadores e as doenas associadas
no mundo.
Carrapato Doenas
Ixodidae
Amblyomma cajennense (Fabricius, 1787) Febre Maculosa Montanhas Rochosas (R.rickettsii)
Dermacentor andersoni (Stiles, 1908) Febre Maculosa das Montanhas Rochosas (R.rickettsii)
Anaplasmose bovina (A. margianle)
Dermacentor nitens (Neumann, 1897) Babesiose eqina ( Babesia caballi)
Dermacentor marginatus (Sulzer, 1776) Babesiose canina (Babesia canis), ricketsiose humana
(R. slovaka), Febre Q (Coxiella burnetii)
Dermacentor variabilis (Say, 1821) Febre das montanhas Rochosas em humanos
(R.rickettsii), Anaplasmose bovina (A.marginale)
Haemaphysalis flava ( Neumann, 1897) Rickettsia japnica
Rhipicephalus sanguineus (Latreille, 1806) Ehrlichiose canina (Ehrlichia canis), babesiose canina
(Babesia vageli);hepazoonozes canina (H.canis)
Febre da picada do carrapato em humanos (R.conorii)
Adaptao: Jongejan & Uilenber, (2004).
Amblyomma cajennense, encontrado em abundncia em todos os estados das
regies Sudeste e Centro-Oeste no Brasil (LEMOS et al, 1997; FIGUEIREDO et al ,
1999; LABRUNA et al 2002; COURA, 2008 et al, 2009), porm com distribuio
limitada nas demais regies, a principal espcie de carrapato encontrada parasitando
seres humanos no centro-sul brasileiro e considerado o principal vetor/transmissor da
febre maculosa (DE LEMOS, 1996; LEMOS et al, 1996; CARDOSO et al., 2006). Essa
espcie de carrapato amplamente distribuda no Brasil e relatos indicam a infestao
tanto em animais como no homem (LEMOS et al, 1996; LEMOS et al, 1997;
LABRUNA et al., 2000; CARDOSO et al, 2006; LEMOS et al, 2008). Outras espcies
tambm participam da transmisso, como A. aureolatum e A. ovale, entre outras
espcies (LABRUNA et al., 2002; GEHRKE et al, 2009).
Apesar de sua ampla distribuio no territrio brasileiro, estudos mostram que
uma pequena percentagem de carrapatos do gnero Amblyomma se encontra infectados.
No municpio de Santa Cruz de Escalvado, no estado de Minas Gerais, a anlise da
hemolinfa em Amblyomma cajennense, coletados de humanos, animais e vegetao,
-
40
demonstrou que somente 1% dos carrapatos do gnero Amblyomma apresentavam
reatividade na reao de imunofluorescncia indireta (IFI) (LEMOS et al., 1997).
Rhipicephalus sanguineus, espcie endmica de carrapato na regio tropical e
subtropical, amplamente distribudo nas Amricas, frica, sia e Austrlia, so
predominantemente, na frica. parasitas de carnvoros, mas que podem infestar o
homem e mais raramente o gado, embora o co seja considerado o seu hospedeiro
natural. (BECHARA et al., 1995; BERNASCONI et al., 2002; GUEDES , 2005).
Conhecido como vetor /transmissor da febre maculosa do Mediterrneo, rickettsiose
causada R. conorii (PAROLA & RAOULT, 2001), R. sanguineus vem sendo
identificado, nas ltimas dcadas, como um importante vetor/transmissor tambm de R.
rickettsii no continente americano. No Mxico tem sido descrito como principal vetor
de R. rickettsii desde a dcada de 1970 (BURGDORFER et al., 1975, DEMMA et al.,
2005; WIKSWO et al., 2007;WALKER et al., 2008).
Ainda em relao importncia da espcie R sanguineus na transmisso da
febre maculosa no continente Americano, mais recentemente, aps estudos realizados
durante um surto no Arizona com R.sanguineus foi possvel demonstrar a presena de
R.rickettsii nessa espcie. (EREMEEVA, et al 2006).
Embora no Brasil R. sanguineus raramente seja observado parasitando
populao humana, seu papel como vetor da febre maculosa deve ser considerado, j
que existem relatos de presena de R. sanguineus infectados por R. rickettsii, em ces de
reas periurbanas onde no foram observados espcimes de A. cajennense. Assim, um
estudo realizado no Brasil com ectoparasitas, 191 R. sanguineus, 61 C. felis coletados
de 7 ces em uma rea periurbana, localizada no municpio de Barra Mansa, regio do
Mdio Paraba, Estado do Rio de Janeiro, onde foi descrito um caso fatal de febre
maculosa brasileira, foram processados afim de se determinar infeco por R.rickettsii.
A amostra de sangue do co foi negativa tanto no teste de imunofluorescncia indireta
(anti- Rickettsia rickettsii > 1:64) como pela PCR, j que no houve amplificao do
gene glt A. Os ectoparasitos, 3,4% dos carrapatos (R. sanguineus) e 14,3% das pulgas
(Ctenocephalides felis) apresentaram sequncia da anlise do gene gltA, de Rickettsia
rickettsii. Esses resultados confirmam a importncia do co e do carrapato da espcie R
sanguineus na epidemiologia das rickettsioses no local de estudo, onde no foram
-
41
coletados e identificados exemplares de Amblyomma cajennense na regio estudada
(GEHRKE et al, 2009).
Ainda no estado do Rio de Janeiro, Rozental e colaboradores (2002) realizaram
um estudo no Municpio de Barra do Pira, em uma rea endmica para febre maculosa
brasileira, onde foram coletados 578 carrapatos, com 103 A. cajennense, 209 R.
sanguineus, 155 Amblyomma spp, 7 Amblyomma ovale ,dos 474 carrapatos coletados
em ces e que foram submetidos identificao taxonmica. Das 163 amostras
submetidas ao teste de hemolinfa e imunofluorescncia direta, a prevalncia de
infeco de rickettsias do grupo da febre maculosa foi de 0,6% com a deteco de
infeco confirmada uma ninfa de R. sanguineus, sugerindo, assim, R. sanguineus como
provvel vetor da R. rickettsii no estado do Rio de Janeiro.
Em 2009, dando continuidade aos estudos no estado do Rio de Janeiro, Rozental e
colaboradores analisaram 1.233 carrapatos coletados de ces e de vegetao em 10
diferentes localidades Barra do Pira e os resultados obtidos demonstraram que a
maioria dos carrapatos coletados era da espcie R. sanguineus (1017/1233) e que em 36
pools de carrapatos analisados foi detectado o genoma da rickettsia do grupo da febre
maculosa a partir da PCR utilizando primers OmpB e 17KDa. Estes dados foram
confirmados concomitantemente com o estudo de Cunha e colaboradores (2009),
ratificando a participao de R. sanguineus como possvel vetor da febre maculosa
brasileira e da importncia dos ces como amplificadores da infeco em uma rea
endmica no Brasil.
2.2.6- Patogenia e Manifestaes Clnicas nos hospedeiros
O ciclo celular de rickettsia ocorre pela aderncia inicial da bactria na clula
endotelial atravs dos receptores do colesterol. Rickettsias induzem sua prpria
fagocitose ao penetrarem nas clulas endoteliais, e, uma vez dentro do citoplasma,
escapam do fagossoma pela ao da fosfolipase na membrana fagossomal, e quando
-
42
livres no citoplasma replicam-se por fisso binria simples. O modo de sada da clula
hospedeira depende da espcie. Rickettsia prowazekii promove lise da clula, enquanto
R. rickettsii capaz de converter F-actina em actina e utiliz-la para promover sua
propulso por filopodia ou exocitose. Ao sarem da clula, estas bactrias seguem
infectando clulas vizinhas. Este processo produz focos de vasculite multissistmica
podendo ocasionar, pneumonia intersticial, miopericardite, exantemas cutneos,
meningite linfoctica, bem como afeces hepticas, renais e gastrintestinais (WALKER
et al., 2007).
O potencial patognico das rickettsias est relacionado s alteraes de protenas
externas de membrana, promovido por mutaes gnicas (Weller et al., 1998). Algumas
destas protenas so comuns tanto a rickettsias patognicas quanto a no patognicas, o
que dificulta sua diferenciao pelos aspectos morfolgicos e bioqumicos (GREENE &
BURGDORFER, 2006).
A virulncia de R. rickettsii determinada por diversos fatores entre eles:
habilidade em causar injria tecidual, variabilidade gentica. (EREMEEVA & DASH,
2009).
Walker (2007) descreveu o mecanismo de infeco causado pelas rickettsias na
clula hospedeira. Rickettsias so bactrias intracelulares obrigatrias que atacam as
clulas hospedeira pelo receptor de membrana Ku70 e a abundante protena de
superfcie OmpB, alm da Omp A que uma adesina, especfica das rickettsias do
grupo da febre maculosa.
O mecanismo fisiopatolgico da infeco rickettsial o aumento da
permeabilidade vascular atravs das junes gap entre as clulas endoteliais. As
clulas endoteliais uma vez infectadas pelo agente da febre maculosa produzem uma
oxireduo (peroxioxidao lipdica) causando danos clula (Figura 1) (WALKER
2007). Existem evidncias que essa reao causa estresse na clula em animais
experimentalmente infectado (VALBUENA & WALKER 2005; WALKER, 2007).
-
43
Figura 1: Mecanismo de aderncia e infeco da Rickettsia nas clulas endoteliais
(Walker 2007)
O mecanismo de imunidade do hospedeiro contra as rickettsias inclui o
mecanismo imunomediado por citocinas, mediada pela ativao da clula endotelial
bacteriana, outro fator a intrafagocitose. As clulas humanas endoteliais so ativadas
por IFN -, TNF-, IL- 1 (VALBUENA &WALKER 2005).
Rickettsia rickettsii tem como principal alvo o endotlio vascular, portanto as
leses cutneas derivam de sua proliferao no endotlio de pequenos vasos seguido de
formao de trombos, hemorragias, infiltrao perivascular e necroses focais.
Distrbios hemostticos como trombocitopenia e aumento do tempo de coagulao
esto relacionados com efeitos citopticos celulares e atividades de endotoxinas desta
rickettsia (Davidson et al., 1990). A soluo de continuidade devido destruio das
clulas endoteliais promove exposio do colgeno, que determinante para a
agregao de plaquetas e formao do cogulo. Aps o perodo de rickettsemia os
microorganismos so disseminados para outros tecidos pela via circulatria ou linftica.
Caso a deposio de redes de fibrina se sobreponha a fibrinlise, haver deposio
multissistmica desta na microcirculao o que pode culminar com a coagulao
intravascular disseminada (CID) em casos graves (Greene & Burgdorfer, 2006).
Segundo Eremeeva e colaboradores (2003) pouco se sabia a respeito da
diversidade de patogenicidade das cepas de R. rickettsii oriundas dos Estados Unidos e
da Amrica do Sul, at esta ocasio e isto se devia ao polimorfismo gentic