Barnes Biografia

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO - CCMN IGeo Compilado por: Frederico Pereira Laier, Turma 1964 de Geologia da EMOP , 05/09/2014 Pag. 1 Professor Dr. Ben Edmestone Barnes Londres, 3 de Junho de 1903 Rio de Janeiro, 28 de Maio de 1969

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Compilado por: Frederico Pereira Laier, Turma 1964 de Geologia da EMOP , 05/09/2014 Pag. 1

Professor Dr. Ben Edmestone Barnes

Londres, 3 de Junho de 1903

Rio de Janeiro, 28 de Maio de 1969

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Síntese biográfica

O Prof. Ben Barnes nasceu em Londres de pai liberiano nascido na Jamaica Isaac Edmestone Barnes e mãe alemã Therese Jungk Barnes, oriunda da Alsácia-Lorena.

O pai de Ben Barnes era alto funcionário do Governo da Libéria, conforme mostra a foto seguinte e sua dedicatória.

“Frau” Therese Barnes guardou todos os registros do aprendizado escolar de seu amado filho de 1911 até 1919, conforme o “Realgymnasium und Gymnasium”, em Goslar, lhe forneceu.

nesta foto o pai de Ben Barnes é retratado ao lado do Presidente Arthur Barclay, em abril de 1911. A dedicatória da foto registra: “Com os cumprimentos do Presidente Arthur Barclay e do Diretor de Serviços Públicos Isaac Edmestone Barnes – Libéria, Abril de 1911”. Fonte: Arquivos da mãe de Ben Barnes.

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Os dois Zeugnisbuch (Livro Testemunho) cuidadosamente guardados por Frau Therese revelam a genialidade do infante Barnes através das colocações obtidas por ele entre seus colegas de turma nos 18 semestres de 1911 a 1919. Bem Barnes foi primeiro colocado nas suas turmas em 9 semestres, segundo colocado em 5 semestres e sómente em 2 semestres ele foi o terceiro colocado.

Esses dados estão escritos a mão em registros como o do ano de 1913 mostrado a seguir, no qual ele foi primeiro aluno entre 42 colegas de sala nos 2 semestres.

Ben Barnes fez seus estudos superiores na Alemanha, onde se graduou, na década de 20, como Engenheiro de Minas pelo Instituto de Mineração (Bergakademie) da Universidade Técnica de Clausthal, na cidade de Clausthal-Zellerfeld, Baixa-Saxônia.

Os arquivos administrativos de Clausthal, conforme informam pela Biblioteca da Universidade o Dr. Helmut Cyntha e a Assistente Administrativa Birgit Imkhaimer, registram: [- local de nascimento: Londres (3 de junho de 1903); - local de residência: Goslar; - pai: falecido; - mãe: nascida com sobrenome Jungk; - formação escolar: Realgymnasium Hannover; - dia de admissão na Bergakademie Clausthal: 24 de outubro de 1921; - estudo (graduação): mineração; - boletim final emitido em: 21 de maio de 1924. É certo que B. Barnes não fez a prova de diplomação. Não há documentação de prova ou do diploma.].

Prédio do Instituto de Mineração de

Clausthal

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Observação: Na Alemanha o termo Diplom-Ingeneur só é concedido a quem, além de completar os créditos acadêmicos com notas de aprovação, defende uma Tese, equivalente no regime acadêmico brasileiro a uma defesa de Mestrado. Para obtenção do DI. é necessário mais um ano de estudos e uma prova específica com monografia. O Dr. Barnes, à época, abdicou dessa extensão acadêmica.

Logo após obter os créditos em Engenharia de Minas, Ben Barnes obteve seu grau de Doutor (Scientia Naturalis) pelo Instituto de Ciências da Terra da Universidade Martin-Luther de Halle-Wittenberg, elogiado pela banca examinadora.

O texto em alemão reproduzido abaixo diz: “Sob a reitoria do respeitável Professor de Filosofia Professor Doutor Theodor Ziehen, a Faculdade de Ciências Naturais da Universidade Unida Friedrichs Halle-Wittenberg concede, por meio de seu Decano, o respeitável Professor da Química Doutor Ernst Weitz, com base em um trabalho muito bom: "Uma fauna eocênica de vertebrados do carvão do Vale do Seisel" e pela prova muito boa realizada em 28 de julho de 1926, ao candidato Ben Barnes de Londres a láurea de Doutor das Ciências Naturais. Ocorrido em Halle em 8 de novembro de 1927".

Instituto de Ciências da Terra, Halle.

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Na sua Tese de PhD Ben Barnes registrou em seu Curriculum Vitae: “no semestre de inverno de 1921/22, eu comecei os estudos na Escola de Minas de Clausthal. Com o propósito de obter a cidadânia alemã, eu aceitei o trabalho de assistente em uma Mina de Potássio e interrompi meus estudos, porque para obter a naturalização era exigido provar ser capaz de prover seu próprio sustento”. A foto seguinte mostra Barnes com seus companheiros de trabalho em 15 de Julho de 1921.

Ben Barnes além de ter-se graduado e obtido seu título de Doutor na Alemanha obteve também créditos acadêmicos na França nas seguintes áreas:

Engenharia Geofísica pela Escola e Observatório das Ciências da Terra (EOST) da Universidade de Estrasburgo, França.

Engenharia Geológica pela Escola Nacional de Geologia de Nancy, França.

Geologia do Petróleo pela antecessora do Instituto Francês do Petróleo, a Escola Nacional Superior de Petróleo da Universidade de Estrasburgo, França.

A Universidade de Strasbourg informa através de Magali Pierrat da Biblioteca de Geofísica que: [ Barnes obteve seu diploma de engenheiro em 1936 com a monografia entitulada "Exploração do loess da Alsácia pelo método de Megger” ]. Essa informação da bibliotecária está estampada no portal da Universidade dedicado aos ex-alunos lá diplomados, cuja relação pode ser vista no endereço http://eost.unistra.fr/ecole-dingenieurs/cursus/memoires-avant-1985/ (2012).

Embora Barnes fosse originalmente um Engenheiro de Minas foi a Geologia do Petróleo que o absorveu tecnicamente, ao invés das galerias subterrâneas e “open pits” das minerações.

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Barnes, prisioneiro na 2ª. Guerra Mundial Quando a 2ª. Guerra começou na Europa, Barnes, como portador de toda a documentação de um cidadão britânico, foi detido em solo francês e encaminhado para um campo de prisioneiros de guerra. Por causa de sua extrema discrição, não se soube ao certo em que condições ele foi preso.

Uma vez preso, Ben Barnes foi colocado no campo de prisioneiros estrangeiros de Sionne, na região de Vosges, na França, cerca de 700 quilômetros ao norte de Marseille, conforme mostra a mensagem que ele enviou para sua mãe através da Cruz Vermelha Internacional. Vide o manuscrito dela, traduzido.

Entrada de Sionne, que é quase desapercebida por quem passa na estrada de Coussey para Midrevaux.

Ela é uma pequena localidade com apenas 135 habitantes lá registrados em 2006, na realidade uma Vila Agrícola.

Possui apenas três ruas: Grand Rue, Rue du Moulin e Rue la Belle.

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Tudo que lá ocorreu ficou relegado ao esquecimento, excepto na memória dos ultrajados prisioneiros e dos seus algozes.

No campo de concentração, como prisioneiro de guerra, Barnes conviveu com muitos judeus lá encarcerados e deles recebeu reconhecimento e respeito. Um dos episódios que construíram essa relação foi o do banho semanal pago a um guarda alemão. Num desses banhos, um dos judeus (professor de matemática) pagou o suborno para ter direito ao banho, recebeu o pequeno pedaço de sabão e, quando se encaminhava para o precário chuveiro, foi chutado por trás pelo guarda alemão com escárnio. Barnes revoltou-se com o ato incivilizado e começou a passar uma descompostura no guarda alemão, o que, ato contínuo, provocou toda a ira da guarnição sobre Barnes, que foi atacado e trancafiado em prisão solitária. A comoção foi geral, mas, dadas as condições locais, o fato foi abafado.

Na solitária, Barnes começou a elaborar um plano de fuga que, posteriormente quando liberado de volta do isolamento, levou ao conhecimento de seus amigos judeus. Imediatamente eles, considerando o físico, a determinação e o preparo de Barnes, lhe ofereceram ajuda financeira e material para levar adiante essa empreitada.

O grau de sofrimento de Barnes e de seus companheiros de infortúnio é descrito em palavras fortes pelo Geólogo Clóvis Delboux, seu Assistente em Ouro Preto nos anos 60: “a preocupação dele com água e com comida parece-me resultado do campo de concentração. Sua saúde debilitada na guerra, de tempos em tempos, lhe ocasionava estado febril que o fazia recordar e contar historias a respeito da alimentação e mesmo sobre a necessidade da sopa feita de baratas colhidas nas latrinas para restauração das energias de companheiros seus. Ele confessou que muitas vezes ele fora o responsável por coletar os insetos. Ele até testemunhou cenas de canibalismo quando companheiros famintos terminaram comendo carne de pessoas recém mortas”.

Durante um período de fortes chuvas houve um deslisamento de solo dentro dos limites do campo de concentração que deixou Barnes conseguir escapar, aproveitando-se da confusão estabelecida entre os membros da guarnição. Numa verdadeira epopéia humana, ele atravessou sorrateiramente um extenso percurso em solo francês, progredindo só durante as noites e evitando qualquer contato com a população e as tropas, até chegar a Marseille, onde localizou o Consulado Americano e nele se refugiou, pois conseguiu entrar no prédio.

Com sua britânica discrição, Barnes nunca comentou com amigos nem registrou em qualquer documento os detalhes do seu feito de fuga. Assim uma forma de se obter mais dados sobre isso, possívelmente, será fazendo pesquisas em arquivos que registraram depoimentos sobre o holocausto, uma vez que o “Camp des Etrangers” de Sionne ter sido um campo para ocultar judeus aprisionados.

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Tendo conseguido entrar no Consulado, foi levado à presença do Vice-Cônsul Americano. Após explicar que não tinha qualquer documento consigo na escapada que fizera e informar que era geólogo, teve que dar explicações geológicas.

Ocorre que o Vice-Cônsul, presumivelmente Hiram Bingham IV, era entusiasta das geociências e lhe solicitou que explicasse qual era a geologia da área circunvizinha de Marselha. Barnes deu uma aula sobre a geologia do território francês, convenceu o diplomata sobre suas credenciais técnicas e ganhou seu salvo-conduto com documentação americana. Acolhido pela diplomacia Americana, Barnes foi colocado em um navio rumo aos Estados Unidos. Como era o ano de 1940, foi uma operação muito arriscada, uma vez que Barnes era fugitivo das forças nazistas.

Assim Barnes recebeu passaporte Americano mostrado abaixo e foi embarcado rumo aos Estados Unidos, presumivelmente ainda em 1940.

Notar que a foto afixada na parte inferior do documento foi danificada pelo manuseio dobrado criando uma cópia-sombra na parte superior. Também não se consegue identificar a data de emissão de tal documento, só está explicito que o mesmo foi expedido pelo Consulado de Marseille e assinado pelo Consul Geral John P. Hurley.

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Barnes empregado da Schlumberger Chegando aos Estados Unidos, Ben Barnes foi contratado pela Schlumberger. Há indícios de que Barnes, nos Estados Unidos, teve acesso direto a Marcel Schlumberger. Havia uma afinidade entre Barnes e a história da Schlumberger, ambos tinham raízes na Alsácia-Lorena. Assim como a mãe de Barnes era alemã daquela região, também os irmãos Conrad e Marcel Schlumberger nasceram em território alemão, pois Guebwiller era uma cidade alemã à época de seus nascimentos.

A primeira perfilagem de poço feita pela companhia dos irmãos Schlumberger nos Estados Unidos ocorreu em 1929 no Condado de Kern na Califórnia. Anos após, houve a fundação da subsidiária Schlumberger Well Surveying Corporation em 1934, em Houston, Texas.

Porém, com a deflagração da 2ª. Guerra Mundial, o Governo de Trinidad-Tobago, então território britânico, convidou a Schlumberger para lá instalar seu escritório central das operações internacionais, o que ocorreu em San Fernando, em 1940.

Existe uma lacuna de dados sobre a atividade profissional de Barnes no período 1941-1945. Apenas se sabe que ele andou por todo o Caribe e registrou a presença de petróleo na Jamaica exibida na exsudação de Saint Ann, muitas vezes mencionada em aulas na Escola de Minas de Ouro Preto.

Foi em Trinidad-Tobago que Ben Barnes recebeu, em 1946, a missão de se deslocar para o Brasil, para perfilar poços para o Conselho Nacional de Petróleo (CNP), cujas operações se localizavam principalmente na Bahia.

Conforme o geólogo Clóvis Verde Delboux encontrou em registros oficiais, a permissão para Barnes permanecer trabalhando no Brasil foi registrada no Diário Oficial da União: (DOU) de 23/09/1946 PG. 12. Seção 1. N.° 18.226-46 - Ben Edmestone Barnes, inglês, residente na Bahia, solicitando permanência definitiva. - Deferido em 03/09/1946.

A história das perfilagens da Schlumberger para o Conselho Nacional do Petróleo registra: 6 (seis) poços em 1945, 23 (vinte e três) poços em 1946, 16 (dezesseis) poços em 1947, 13 (treze) poços em 1948 e 19 (dezenove) poços em 1949.

A relação Barnes/Schlumberger com o pessoal técnico do CNP no Recôncavo Baiano, na sua maioria engenheiros de minas atuando como geólogos, se tornou intensa e de grande valia, face às novas técnicas trazidas por ele, completadas pelas extensas explicações técnicas que ele lhes dava após suas perfilagens nos poços sendo perfurados. Logo os técnicos do CNP perceberam como Barnes estava revolucionando a jovem indústria brasileira de petróleo

Barnes trabalhando para o Conselho Nacional do Petróleo Os brasileiros do CNP se tomaram de amores pelo culto britânico, que, pela aparência, poderia se passar por baiano, e viram na sua experiência a ajuda de

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que o Brasil precisava para desvendar os mistérios do petróleo nacional. Assim, Barnes foi contratado pelo CNP em 1948 e em 20 de Junho daquele ano já assinava um relatório técnico sobre a Formação Barreiras.

Inicialmente, o CNP colocou Ben Barnes para trabalhar como assistente na equipe de geologia de campo do geólogo americano Dixon, mas logo a seguir deu a ele sua própria equipe de geologia de campo. Barnes iniciou sua grande contribuição ao mapeamento das feições geológicas da bacia do Recôncavo revolucionando sua interpretação e a prospecção de petróleo na área e no país.

Com sua grande experiência nos campos da geologia estrutural e da interpretação geofísica através da perfilagem elétrica e correlação estratigráfica, Ben Barnes se tornou o pai da correta interpretação geológica da bacia do Recôncavo.

No Brasil, naquela época, não havia escolas para geólogos. Nas áreas de

geociências, haviam apenas escolas para engenheiros de minas. Devido a isso, a

administração do CNP contratou engenheiros de minas e enviou-os diretamente

para o trabalho de campo em suas equipes. Alguns deles foram mais tarde

escolhidos para fazer cursos de geologia nos Estados Unidos. Esse foi o caso do

engenheiro de minas Acyr Avila da Luz, que se formou na Escola de Minas de

Ouro Preto em 1948. Contratado pelo CNP Acyr foi direto para o trabalho no

Recôncavo e só após a criação da Petrobras, em 1954, é que ele foi enviado para

estudar geologia na Universidade de Stanford. No entanto tornou-se comum

chamar os engenheiros de minas do CNP como "geólogos", como fica mostrado

abaixo em uma entrevista do próprio Acyr.

Para melhor retratar qual o conceito geológico que os “geólogos” do CNP adotaram para a bacia do Recôncavo vejamos o que Acyr Ávila da Luz disse em uma entrevista extensa, de 13 de Junho de 2010, em Florianópolis (Fonte: Jornal da AEPET, 27 de Agosto de 2010), (sic): "Foi essa percepção de ter sido encontrado petróleo em Lobato que levou o CNP a designar o experiente geólogo Pedro de Moura, na época com a aura de ser o principal explorador da bacia amazônica, para ser o responsável, em 1940, por realizar um mapeamento abrangente do Recôncavo, a fim de proporcionar futuras perfurações de petróleo com mais embasamento técnico e científico. Moura, teve também a colaboração efetiva do Diretor Técnico do CNP, o mui experiente geólogo Avelino Ignacio de Oliveira. Moura, então, esboçou o que ele chamou de cinco grandes eixos de dobras: o primeiro em Aratu, o segundo em Pasto de Fora, o terceiro em Dom João, o quarto em Sergi e o quinto que ele chamou de Eixo de Dobra de Candeias / Itaparica. Pois foi em Candeias, que ele sugeriu um poço sobre uma dobra anticlinal e ele obteve sucesso com o primeiro poço produtor comercial do Brasil, descoberto em 1941, o lendário campo de Candeias, que ainda hoje, depois de 69 anos, ainda está produzindo!".

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Os "geólogos" acima mencionados tiveram seus diplomas em Engenharia Civil e de Minas emitidos pela Escola de Minas de Ouro Preto, em 1925 e 1916, respectivamente.

Contratado pelo CNP, Barnes mostrou aos engenheiros brasileiros que a idéia de anticlinais e sinclinais nada tinha a ver com o modelo geológico do Recôncavo, uma bacia de gênese em área crustal de distensão e não de compressão. Assim, ele explicou, através de mapas e perfis, que a bacia se originara em um ambiente de rifte e sendo na realidade um grande graben assimétrico, com falhas antitéticas e sintéticas.

Essa correção histórica está registrada no próprio depoimento supramencionado de Acyr Ávila da Luz, quando disse: “Com o passar do tempo, nem mesmo os 5 eixos de dobramentos anteriormente mapeados por Moura e Avelino, se mantiveram. O geólogo Ben Barnes, contratado pelo CNP, traz para o Recôncavo a concepção de que se trata de uma Bacia Sedimentar do estilo tectônico de `Rift-Valley` e não de dobramento. Os supostos tais eixos, tem relacionamento com faixas de falhamentos - normais – e não eram o resultado de esforços de compressão. A própria Estratigrafia foi modificada com a introdução desses novos conceitos”.

Pedro de Moura, que por sua vez teve a partir de 1945 Ben Barnes como perfilador de poços da Schlumberger e depois em 1948 o teve como seu subordinado no Conselho Nacional do Petróleo registra enfáticamente no seu livro “Em Busca do Petróleo Brasileiro” na página 308: “A Exploração na Bahia muito deve, ainda, a Ben E. Barnes, o qual em seus conhecimentos multiformes entremeava geologia pura, de campo e subsuperfície, geofísica, um repositório de habilitações velado em modéstia e humildade características de um sábio. Inovou em nossa geologia de petróleo, no Recôncavo, especializou técnicos e lecionou a disciplina geológica na Escola de Minas de Ouro Preto. É um nome lembrado e admirado”.

Assim, Ben Barnes foi quem, após sua chegada ao país em 1946 pela Schlumberger, transmitiu ao corpo técnico do Conselho Nacional de Petróleo (CNP) o modelo geológico da Bacia do Recôncavo como de Rift-Valley e, em assim fazendo, tornou possível ao CNP e sua sucessora a Petrobras encontrar, com menos de 60 poços pioneiros, os mais importantes campos de petróleo do Recôncavo. Anterior a sua chegada haviam sido descobertos os campos de Candeias, Aratu e Itaparica. Após a chegada dele surgiram os grandes campos de:

1. Dom João [1947] , 2. Água Grande [1950], 3. Taquipe [1958] and 4. Buracica [1959]).

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Essa façanha tornou o Brasil um produtor efetivo de petróleo. O campo de Candeias foi o primeiro achado significativo na Bacia do Recôncavo, mas Candeias foi encontrado antes que o modelo do Rift-Valley fosse introduzido ao pessoal da CNP por Barnes. O poço pioneiro 1-C-1-BA atingiu um depósito de petróleo por sorte, uma vez que ele foi perfurado, em abril de 1921, com a premissa de estar sobre uma dobra anticlinal inexistente. Após esses quatro campos seguintes ao de Candeias apenas mais dois grandes achados aconteceram: "Araçás" e "Miranga", e que foram perfurados antes de se completar 150 poços pioneiros. Isto é, com o modelo fornecido por Barnes a maior parte do petróleo existente na Bacia do Recôncavo foi logo encontrada.

A partir das explicações de Ben Barnes, a descoberta de novos campos no Recôncavo deslanchou com Dom João, Água Grande e Mata de São João, entre outros. A descoberta de campo em Catu foi conseqüência de um acidente com Ben Barnes, no qual ele quebrou um pé numa excursão de motocicleta durante seu solitário trabalho de campo na bacia do Recôncavo, em um fim de semana. Com o pé quebrado ele ficou sem condições de voltar à sua base dirigindo a motocicleta. Enquanto aguardava o socorro de seus amigos, o que demorou mais de um dia, Barnes arrastou-se pelas imediações do local do acidente e quando eles o encontraram para resgatá-lo ouviram imediatamente que tinham que perfurar a área, pois Barnes encontrara evidências que indicavam a prospectividade de petróleo ali. Isto é parte da história dos sucessos no “trend” Mata-Catu.

Segundo o Dr. Hélio Pereira, que foi seu assistente no início da década de 50, Barnes era o verdadeiro orientador da geologia de campo do CNP.

Barnes com empregado da Petrobras (1954-1956) Quando a Petrobras nasceu, em 12 de março de 1954, ela herdou a equipe técnica do CNP, assim Ben Barnes foi recebido com funcionário da nova companhia de petróleo. O novo chefe da Exploração que a Petrobras contratara era o geólogo Walter Link, que fez uma grande reestruturação do setor de exploração da

Este gráfico mostra a razão de descobertas na Bacia do Recôncavo associada ao número de poços pioneiros perfurados.

Com menos de 60 (sessenta) poços pioneiros perfurados até 1959, usando o modelo geológico introduzido por Ben Barnes, o Brasil descobriu a maioria do petróleo contido na Bacia do Recôncavo.

Esse gráfico é parte da Tese de Mestrado de Reneu Rodrigues da Silva, “Contribuição à Avaliação Probabilística de Potencial Petrolífero”, submetida ao Instituto de Matemática da UFRJ, (1983).

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Petrobras, mas manteve Ben Barnes nas suas atribuições anteriores, indicando-o para a chefia da exploração no Recôncavo.

Ainda segundo Hélio Pereira, “O primeiro presidente da Petrobras, Juracy Magalhães, conheceu os locais da produção de petróleo na Bahia acompanhado apenas por Barnes, um assistente e o motorista”. Segundo ele, Barnes era um mestre no trabalho de campo, especialista em correlações, um técnico respeitado por todos que tiveram a oportunidade de conhecer seu trabalho.

Um homem discreto Como bom inglês, Ben Barnes era um homem discreto. Muitos de seus colegas, que trabalharam com ele na bacia do Recôncavo, informam que ele não tocava em assuntos de natureza pessoal.

Há indícios que o pai de Ben Barnes foi estudar engenharia na Inglaterra, onde conheceu uma jovem alemã da Alsácia. Aparentemente um caso de encontro de estudantes semelhante e precursor do hoje famoso caso da origem africana do Presidente Obama, de pai queniano e mãe americana, que se conheceram na Universidade do Hawaí.

Os pais de Barnes se casaram em Londres e lá montaram moradia no distrito londrino de Lambeth, onde ele nasceu. Porém, com a necessária volta do engenheiro Isaac Edmestone Barnes para a Libéria, onde chegou a Ministro na equipe do Presidente Arthur Barclay, a família decidiu educar os filhos na Alemanha e a mãe de Barnes foi para sua terra natal na Alemanha estabelecer residência em Goslar, onde ele passou sua infância.

Barnes teve duas irmãs com quem se correspondia e visitava em períodos de férias. As fotos da mãe e das irmãs louras eram mostradas por Barnes aos colegas de trabalho. Elas moravam na cidade medieval de Goslar, região do Harst, na Alemanha, aonde Barnes ia regularmente em seus períodos de férias de suas atividades no Brasil.

Sua mãe Therese faleceu no dia 14 de março de 1953, quando Barnes ainda trabalhava no Conselho Nacional do Petróleo.

Como uma viagem de Salvador até Goslar era um trajeto que demandava mais de um dia nos aviões a hélice daquela época, mesmo assim Barnes chegou a Goslar em tempo de providenciar o sepultamento de sua amada mãe, que ocorreu no dia 19 de março, conforme consta no arquivo municipal da cidade (Stadtarchiv), e ilustrado no anúncio fúnebre reproduzido abaixo:

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lápide presente na sepultura da família da mãe de Barnes, no cemitério de Goslar.

Conforme se lê, uma tia de Barnes se chamava Emma Knorr Von Rosenroth Jungk e faleceu em 1915, aos 53 anos.

Sua adorada mãe Therese Barnes Jungk viveu de 4 de fevereiro de 1867 a 14 de março de 1953. Assim, Therese Barnes tinha 87 anos quando faleceu.

A expressão “GEB.” é a abreviatura da palavra alemã “geboren” = “nascida”, que identifica o sobrenome da família de nascimento.

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Segundo relato de Helio da Silva, Ben Barnes escapou da morte na guerra e em pelo menos três ocasiões diferentes, sempre em viagens de avião. Em duas ocasiões – em Trinidad-Tobago e na cidade de Recife - não pode embarcar ou perdeu o vôo em aeronaves que caíram, causando a morte de todos os passageiros. Em uma terceira ocasião, o avião da PAN AM despressurizou-se e voou próximo às ondas até chegar à cidade de Dakar.

Barnes como professor na Escola de Minas de Ouro Preto (1957-1963), introduzindo a função de proessor Assistente pago pela CAGE Quando o Governo Federal criou a CAGE (Campanha de Formação de Geólogos), outra missão importante no país para Ben Barnes começaria no início de 1957, quando rapidamente um ilustre professor acadêmico se movimentou até à Bahia para levar o Prof. Dr. Barnes para dar aulas no Curso de Geologia da Escola de Minas de Ouro Preto. Na Escola de Minas de Ouro Preto, Ben Barnes assumiu as disciplinas de Geologia Estrutural, de Geofísica e de Geologia do Petróleo.

A segunda turma de geólogos formados pela Escola de Minas, a turma de 1961, escolheu o professor Barnes como Homenageado Especial. Barnes escolheu dois alunos desta turma para permanecerem no ensino como seus assistentes. Assim, o geólogo Clóvis Verde Delboux passou a ser o professor assistente da disciplina “Geologia Estrutural” e o geólogo Antônio Claudio Foscoli Nery assumiu a função de professor assistente da disciplina “Geofísica”.

Com essas contratações o dinheiro público do programa de formação de geólogos foi usado para preparar dois novos professores para a própria Escola de Minas de Ouro Preto, com o devido endosso do Coordenador do Programa CAGE na EMOP o Professor Moacir do Amaral Lisbôa.

A foto seguinte mostra o ato da contratação do geólogo Antônio Claudio Foscoli Nery. O Coordenador do Programa CAGE da EMOP Prof. Moacir solicita ao Prof. Barnes que assine o contrato como Testemunha.

Em junho de 1963 Ben Barnes levou sua esposa Conceição a Goslar na Alemanha para apresentá-la à sua família.

Na foto ao lado, a irmã de Barnes faz companhia ao casal e todos demonstram grande alegria no encontro.

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Como “Mestre da Geologia de Campo”, Barnes levou ano após ano suas turmas de alunos de Ouro Preto para um período de aprendizado de mapeamento de campo no Recôncavo baiano, em excursões memoráveis.

Como memória da primeira excursão assim se expressa o geólogo Cícero da Paixão Pereira: “Entre muitos “causos” relacionados `a sua grande sagacidade, lembro-me de um que aconteceu comigo. Foi em janeiro de 1960, quando estávamos vindo p/ Bahia para aquele famoso estágio aqui no Recôncavo. Saímos de Ouro Preto cedinho, no ônibus da Geologia (ônibus novo adquirido c/ recurso da CAGE), com destino ao Rio, onde pegaríamos um avião (Constellation da Panair do Brasil) com destino a Salvador (tempo bom, tempo das vacas gordas). Viajando pela BR-040, quando passamos por Cristiano Otoni (onde existe aquele famoso Restaurante Cupim), virei para ele e disse: “ professor, esta é a minha cidade natal, nasci aqui” Ele mais que depressa, pegou o mapa para se localizar e não encontrando o nome da cidade no mapa, virou para mim e disse: “ sua cidade é tão grande que não cabe nesse mapa”. Recebi aquela gozação dos colegas sobre minha cidade natal.”

Barnes, por razão de seus ferimentos de guerra, tinha saúde instável, o que o obrigava de tempos em tempos a freqüentar hospitais para tratamento. Assim, ele ficou solteiro até ter idade bem avançada, casando-se, então, com uma brasileira

graduada em Nutricionismo, Dona Conceição Liberano Barnes ( 1919- 2011) . Sua esposa tinha a mesma perspicácia do nosso Mestre.

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O dia em que Barnes fez 60 anos: Numa segunda feira, 3 de junho de 1963, a turma do terceiro ano de Geologia encontrava-se reunida no pátio interno da antiga Escola de Minas de Ouro Preto quando o professor assistente da disciplina de Geologia Estrutural Clóvis Verde Delboux se aproximou e anunciou: “turma, hoje é aniversário do Barnes”. Um aluno mais afoito perguntou: “quantos anos ele está fazendo?”.

Por alguns segundos a pergunta ficou no ar, mas eis que surge na varanda interna do segundo andar do pátio, indo da Secretaria da Escola em direção ao Museu de Minerais, o Prof. Barnes. Sem hesitar, o professor assistente chamou em voz alta o Prof. Barnes dizendo-lhe que tinha uma pergunta.

Barnes parou, o professor assistente correu escadas acima e, chegando próximo ao querido mestre, perguntou: “Professor, quantos anos o senhor está fazendo hoje?”. O grande mestre olhou para seu assistente, olhou abaixo para a turma toda voltada para ele e retrucou: “Desde quando esse seu interesse pela Paleontologia ? ”. Ato contínuo, seguiu sua caminhada em direção ao Museu de Minerais, deixando-nos com a sensação que tínhamos presenciado uma cena histórica.

Conforme registrou Hélio Pereira: “Barnes expressava-se bem em português, mas com sotaque”. Décadas após sua morte, respeitáveis geólogos, agora já aposentados, não se esquecem das suas memoráveis aulas de Geologia Estrutural com a célebre colocação “dip pa cá, dip pa lá”. Esse sotaque às vezes o traía, mas a mensagem sempre vinha com profundo significado para seus discípulos. Essa ele inseriu em aula para a quinta turma: “eu não importa se você é engenheiro, médico ou lixeiro desde que você faça bem tudo aquilo que se propuser a fazer”.

A quinta turma de Geologia que o teve como professor em Ouro Preto foi para o estágio de campo no Recôncavo quando ele já se desligara da Escola de Minas, voltando para a Petrobras, em Salvador.

A turma chegando ao Recôncavo, no primeiro fim de semana, saiu à procura da residência do querido professor. Tocada a campainha do apartamento, aparece abrindo a porta a esposa do Prof. Barnes.

Dona Conceição parou, olhou aqueles esperançosos jovens e exclamou para o interior do apartamento: “Barnes, seus filhos!”.

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A influência de Barnes no grupo de geólogos que ele ajudou a formar na Escola de Minas de Ouro Preto foi imensa. Muitos de seus alunos, após a graduação, trabalharam para a Petrobras e para muitas companhias de mineração ou Universidades no Brasil. Muitos deles tornaram-se também influentes para as novas gerações de estudantes, criando então uma cadeia progressiva de conhecimento para o país nas áreas de Geologia Estrutural, Geofísica, Geologia do Petróleo e Depósitos Minerais.

Em 1963, um professor de Engenharia de Minas levou para a Congregação da Escola a proposta de criar o curso de Engenheiro Geólogo, incluindo a proposição da grade curricular para isto. Nas acaloradas discussões, o desavisado professor caiu na esparrela de usar como exemplo, em sua proposição, a Escola Nacional de Geologia de Nancy, sem se dar conta que Barnes a tinha no currículo. Barnes pediu a palavra perguntou ao proponente: “você já foi lá? Você está falando bobagens. Eu estudei lá, não é como você está dizendo”.

Como o proponente era pessoa preocupada com seu prestígio pessoal na comunidade acadêmica, a coisa não terminou bem, mesmo se considerando os “panos quentes” tipicamente mineiros que intervieram. Os bastidores da Escola serviram de propagação para idéias que desagradaram ao competentíssimo professor. Com o currículo que tinha, ele não precisava ficar rebatendo questiúnculas da politicagem acadêmica local. Assim, ao final do primeiro semestre de 1963, o professor Barnes aceitou o convite da Petrobras para dar aulas no então Setor de Ensino da Bahia (SEN-BA). Para onde ele foi, levando seus dois professores assistentes, um encaminhado para a Schlumberger e o outro para a própria Petrobras. Grandes perdas para a Escola de Minas.

Barnes o professor na Petrobras O treinamento na Petrobras, que hoje constitui a sua Universidade Corporativa, começou logo após a fundação da empresa, com a criação do Centro de Aperfeiçoamento Pessoal (CENAP) em 1955.

O CENAP precisava formar pessoal para encontrar o petróleo, e pessoal para refiná-lo. Para isso contratou professores estrangeiros e implantou dois núcleos operacionais, um no Rio de Janeiro e outro em Salvador.

No CENAP-BA foi implantado um curso de Geologia para readequar engenheiros, agrônomos, biólogos e outros especialistas que passaram em concurso público. A primeira turma estudou em Salvador nos anos de 1957 e 1958, quando então a empresa os mandou para o campo para assumirem as funções que eram totalmente operadas por estrangeiros contratados. Várias turmas de “Geólogos-Petrobras” foram formadas antes da extinção do curso, face ao êxito da CAGE, a Campanha de Formação de Geólogos. Nesse período Barnes formava geólogos na Escola de Minas de Ouro Preto.

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Ao final do primeiro semestre de 1963, Barnes desliga-se da Escola de Minas de Ouro Preto e se apresenta no CENAP-Bahia. Já no segundo semestre do mesmo ano ele ministrou as disciplinas de Geologia do Petróleo e de Perfilagem para uma turma de 11 geólogos já da Petrobras no curso “Curso Complementar de Geologia”, iniciado em março de 1963 e concluído em janeiro de 1964.

Abaixo, Identidade do Professor Contratado do CENAP-Bahia emitida em 1 de Outubro de 1963. O documento foi expedido pelo Serviço Administrativo da Petrobras na Bahia

Posteriormente, em 1965 o Prof. Barnes passou a ser um funcionário plenamente enquadrado no quadro da Petrobras com a classificação de Técnico Sênior, conforme mostra a última carteira Petrobras ostentada por Barnes, exibida abaixo.

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Conforme informa Cícero da Paixão Pereira: “O professor Barnes foi um exemplo marcante de seriedade, dedicação e competência profissional para todos seus alunos. Ainda guardo muito de seus ensinamentos emitidos sobre a Bacia do Recôncavo. Sem dúvida foi um dos melhores professores que tive em toda minha vida profissional”.

Exemplo de mais turmas de alunos da Petrobras que foram treinados por Barnes são, também, as três primeiras turmas do Curso Avançado de Geofísica que freqüentaram suas aulas, respectivamente, nos períodos 1965-66, 1966-67, 1967-68, nas instalações do CENAP-Bahia.

Um dos ex-alunos da turma 1965-66 conta que Barnes lhes enfatizara a importância dos perfis de poços no entendimento geológico da Bacia do Recôncavo e lhes passara um exercício que os conduzia inexoravelmente à proposição de uma locação na Bacia. Alguns poucos assim registraram essa resposta em seus exercícios.

Passado certo tempo, Barnes aparece na sala carregando as folhas-resposta de alguns deles com a tal proposta de locação. Um frio correu nas barrigas dos que identificaram suas letras nas folhas que o Mestre carregava e pensaram: “Pronto, lá vem reprovação por algum erro que fizemos”. Barnes lhes disse em seguida: “até parece que alguém aí de vocês foi lá à Jequitaia sugerir esse poço que deu petróleo...”. Jequitaia é o bairro de Salvador onde ficava a sede de Exploração da Petrobras, na Bahia. A notícia do sucesso estava nos jornais. A turma respirou contente e orgulhosa do aprendizado.

Numa dessas turmas, a de 1966-67, havia um geólogo que se considerava muito espirituoso e falante, e começou a querer impressionar o Mestre e seus colegas com colocações e respostas inadequadas ao que ele estava ensinando.

Barnes foi fazendo de conta que não ouvia e tocava adiante seus ensinamentos até que um dia perdeu a paciência, virou para o citado aluno e tascou: “o senhor é geólogo ?”, ao que o personagem retrucou:”sim Professor, sou geólogo”. Barnes, então, sentenciou: “se o senhor é geólogo, então me dê a fórmula da muscovita”. Silêncio na sala de aula. Nunca mais o personagem perturbou as aulas do Mestre.

Nota: muscovita (nome popular malacacheta) = silicato hidratado de alumínio e potássio, do grupo das micas, com fórmula KAl2(Si3Al)O10(OH,F)2.

O falecimento do Mestre Ben Barnes e a homenagem solitária de um de seus velhos amigos Barnes possuía residência em Petrópolis, no Estado do Rio de Janeiro, onde se refugiava de tempos em tempos. Ao falecer em tratamento de saúde no Rio de Janeiro, em 28 de maio de 1969, teve seu sepultamento efetuado em Petrópolis.

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Alguns meses após sua morte, ainda em 1969, um cavalheiro claro e alto chegou à Escola de Minas de Ouro Preto apresentando-se como um amigo do professor Barnes. Ele foi recebido e atendido pelo Professor Clóvis Verde D’Elboux, que lhe comunicou o falecimento.

Ele, então, começou uma longa e emocional conversa com o professor Clovis D'Elboux sobre Barnes. Ele disse que mais do que amigo eles haviam sido companheiros no campo de concentração e contou toda a história da amizade que uniu Barnes e seus companheiros naquelas condições de sofrimento extremo. Ele disse que todos os companheiros naquele campo de concentração deviam muito às ações do professor Barnes durante seu tempo de prisão.

Ele disse que quando Barnes lhes informou sobre seu plano para uma fuga, eles decidiram oferecer-lhe um pouco das suas economias em dinheiro e jóias, a fim de ajudá-lo a conseguir chegar à liberdade. E ele mencionou o fato de que vários dos companheiros do professor Barnes finalmente conseguiram chegar vivos ao final da guerra o que tinha a ver com o sucesso da fuga de Barnes e o fato de que Barnes tivesse chegado ao consulado americano em Marselha.

Ele disse que a oportunidade para Barnes escapar surgiu quando ocorreu um deslizamento de terra dentro dos limites do campo de concentração após um período de fortes chuvas, criando um tumulto entre a guarnição quando Barnes conseguiu escapar sem ser notado.

Lá estava ele, em Ouro Preto, tentando encontrar seu amigo, uma vez que ultimamente não havia recebido notícias do dileto amigo professor Barnes.

Então o professor Clovis D'Elboux levou o cavalheiro até a galeria da escola, onde eram mantidos os quadros comemorativos com as fotos mostrando os grupos de geólogos formados em Ouro Preto e ficou na frente do conjunto de fotos de seu grupo formado em 1961, onde lá estava um retrato grande do querido professor Barnes como homenageado pelo grupo de geólogos.

Até hoje o professor Clovis D'Elboux ainda se lembra da cena com profundo respeito por aquele senhor desconhecido e seus sentimentos. Quando ele viu a foto grande de seu amigo Barnes seus olhos se tornaram lacrimejantes com a emoção sentida.

A cena por si só estava contando tudo sobre como os seres humanos podem superar com grandeza, com solidariedade e retidão crises enormes como as que Barnes e o cavalheiro enfrentaram no campo de concentração até estar vivo após aqueles dias terríveis e manterem a amizade para sempre.

Aquele idoso cavalheiro se foi da mesma forma como chegara a Ouro Preto, incógnito. Mas ele deixou atrás de si o testemunho para o professor D’Elboux de um magnífico registro dos reais valores da Humanidade.

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Tributos ao Mestre Ben Barnes

1. Em vida: Barnes foi homenageado pelas duas primeiras Turmas de Geólogos da Escola de Minas de Ouro Preto:

Barnes foi Paraninfo da primeira turma (1960) e

Barnes foi Homenageado Especial da segunda turma (1961).

A Revista da Escola de Minas, v.63 – n.3 – Julho-Setembro de 2010, publicou artigo sobre o aniversário de 50 anos de formatura da 1ª Turma e estampou a foto tirada em frente ao Palácio da Alvorada, em Brasilia, mostrada a seguir.

Na foto se vê o Prof. Ben Barnes levando a 1ª. Turma de Geólogos formada em Ouro Preto para a Cerimônia de apresentação dos formandos ao Presidente Juscelino Kubischeck, em 8 de Dezembro de 1960. Nomeando da esquerda para a direita:

na primeira fileira, abaixados: Hildeberto Alejandro Ojeda y Ojeda, Arnaldo de Carvalho Gramani, Luiz Fernandes Neves, Carlos Alberto Marotta.

na segunda fila, em pé: Cícero da Paixão Pereira, Galo Antônio Jánez Pintado, Osmar Domingos Leão, Aloysio José Vieira, Milton Brand Baptista, Prof. Dr.Ben Barnes (Paraninfo), Robert Cartner Dyer, Aurélio Antônio López Sam Hijo, Clóvis Silva Araújo, Ubirajara de Mello, José Cornélio da Fonseca Neto e Paulo Fernando de Moura Ferreira.

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2. Post-mortem: Quando a Schlumberger abriu seu Centro de Pesquisa na Ilha do Fundão, Rio de Janeiro, a companhia fez um tributo ao Professor Barnes e colocou seu nome numa sala de reuniões, a “Sala de Reuniões Ben Barnes”, como mostram as imagens seguintes:

Centro de Pesquisa e Geoengenharia, na Ilha do Fundão, instalado no “Parque Tecnológico” da Universidade Federal do Rio de Janeiro

Uma placa comemorativa com o nome da sala registra os principais fatores que fizeram do Professor. Dr. Ben Barnes o exponente da Geologia do Petróleo Brasileira, ao longo das décadas de 40, 50 e 60 do século XX.

Barnes, entre ex-alunos seus, no XX Congresso da Sociedade Brasileira de Geologia, Setembro de 1966, Vitoria, ES.

Da esquerda para a direita: Geólogo Fabiano Alves Cossich, Professor Dr. Ben Barnes, Geólogo João Erdmann Ritter, Geólogo Clóvis Verde D’Elboux

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Referências: 1. Dr. Helmut Cyntha e Sra.Birgit Imkhaimer do Instituto para Mineração alemã e

Internacional e o Direito em Energia da Universidade Técnica de Clausthal 2. http://www.iber.tu-clausthal.de/ portal do Instituto de Engenharia de Minas de

Clausthal 3. http://www.geo.uni-halle.de/aboutinst/ portal do Instituto de Ciências da Terra da

Universidade Martin-Luther de Halle-Wittenberg 4. Sra.Magali Pierrat, Bibliothèque de Géophysique, UMS 830 / Université de Strasbourg

– 5. http://eost.u-strasbg.fr/ecole/anciens.html Diplomas de 1920 a 1985 6. Geólogo Clóvis Verde Delboux, depoimento. 7. Geólogo Cícero da Paixão Pereira, depoimento. 8. Entrevistas feitas pela Sra. Fátima Franca: com Dr. Acyr Ávila da Luz e Dr. Hélio

Pereira da Silva. 9. Revista da Escola de Minas, v.63 – n.3 – Julho-Setembro - 2010