Barao de Guaraciaba Biografia de Um Negro No Brasil Imperio

download Barao de Guaraciaba Biografia de Um Negro No Brasil Imperio

of 8

description

artigo

Transcript of Barao de Guaraciaba Biografia de Um Negro No Brasil Imperio

  • Francisco Paulo de Almeida Baro de Guaraciaba: Biografia de um negro no Brasil Imprio

    Carlos Alberto Dias Ferreira1

    Resumo:

    Francisco Paulo de Almeida, negro, foi ferreiro, ourives e tropeiro, tornou-se empresrio, capitalista, dono de fazendas no Vale do Paraba-RJ, sc. XIX. Foi provedor da Santa Casa de Valena-RJ, teve casas na Corte, foi dono do Palcio Amarelo em Petrpolis-RJ, recebeu o ttulo de nobreza em 1887 e nada consta sobre ele na historiografia oficial. Palavras Chaves: negro, tropeiro, compadrio.

    Summary: Francisco Paulo de Almeida, black, was blacksmith, silversmith and mantroop, became entrepreneur, capitalist, owner of farms in the Valley of the Paraba-RJ, sc. XIX. It was supplier of the Casa Saint of Valena-RJ, had houses in the Cut, he was owner of the Yellow Palace in Petrpolis-RJ, received the heading from nobility in 1887 and nothing it consists on it in the official historiografia.

    Key-word: black, mantroop, godfather.

    Francisco Paulo de Almeida, conforme Certido de Batismo nasceu em Lagoa Dourada MG, no dia 10 (dez) de janeiro de 1826, filho legitimo de Antonio Jos de Almeida e Palolina, entretanto, em sua minuta de inventrio ele afirma ser filho legtimo de Dona Galdina Alberta do Esprito Santo. Neste sentido, podemos perceber que de algum modo ele renega parte da sua origem.

    Negro retinto, no se confundindo com o pardo e o mulato, conforme verificado nas fotografias de famlia casou-se com Dona Braslia Eugenia da Silva Almeida, mulher branca, com quem teve 18 (dezoito) filhos

    Francisco Paulo de Almeida inicia sua vida profissional como ferreiro, ourives e posteriormente tropeiro. Ainda no temos informaes e dados sobre esse perodo, porm, os indcios sugerem que esta opo se explique pela explorao aurfera e pelas passagens de tropas que abrangia a localidade de seu nascimento, e suas adjacncias Lagoa Dourada, So Joo Del Rei, Tiradentes, Prados, etc.

    Apesar de sua condio humilde, seu domnio na arte musical, atravs do violino, e sua facilidade para com o idioma Francs, nos do indcios de que o biografado tenha

    1 Mestrando em Histria na Universidade Severino Sombra

  • 2 adquirido uma educao aprimorada e diferenciada dos padres disponveis para as pessoas de baixa renda no sculo XIX.

    Percebe-se, assim, que escrever biografia no tarefa das mais fceis, nem bem comeamos a escrever e j falamos e pesquisamos vrios Franciscos Paulo de Almeida homem, negro, pai, marido, nobre e trabalhador , com suas subjetividades e identidades. A esse respeito, Hall relata:

    O sujeito assume identidades diferentes em diferentes momentos, identidades que no so unificadas ao redor de um eu coerente. Dentro de ns h identidades contraditrias, empurrando em diferentes direes, de tal modo que nossas identificaes esto sendo continuamente deslocadas2.

    Retornando ao personagem, mais tarde ele vai se dedicar ao negcio de tropas concentrando suas viagens de Minas Gerais atravs da Estrada Geral que passava por Valena. No Brasil, principalmente aps a vinda da famlia Real, duas atividades assumem posies estratgicas nas relaes de sociabilidade os Tropeiros e os Caixeiros Viajantes pelas circunstncias da atividade, que exigia um deslocamento permanente, contato com pessoas de diversas classes sociais, transmisso das notcias e dos acontecimentos da Corte e o contato com as fazendas e, principalmente, com os fazendeiros do interior, aonde em alguns casos, chegava-se a ter um relacionamento quase familiar.

    A atividade das tropas muito contribuiu para a abertura de caminhos, ligando o interior ao litoral e ao centro do pas. Alm disso, transformaram tropeiros em grandes fazendeiros, chegando alguns a receber ttulo nobilirquico, como ser o caso de Francisco Paulo de Almeida. Desconheo se algum outro negro, na mesma situao que a dele, recebeu tais honrarias, porm, para no mitificarmos nosso personagem preciso destacar outros tantos homens conseguiram burlar e transcender os limites sociais da poca, entre eles:

    Um exemplo ilustrativo dessa situao o de Domingos Custdio Guimares, mineiro de So Joo Del Rey e futuro Visconde do Rio Preto, no Segundo Reinado. Nos anos 20, formou uma sociedade Mesquita & Guimares com o conhecido comerciante, tambm mineiro, Jos Francisco de Mesquita, futuro Marqus do Bonfim. Sua firma fazia descer de Minas grandes rebanhos de gado destinados ao consumo da Corte. A organizao das compras e remessas ficava a cargo de seu sobrinho, Jos Cndido Guimares, que era seu agente de gado e proprietrio na regio do Rio Preto3.

    D mesma forma que Custdio Guimares, Francisco Paulo de Almeida passa, na segunda metade dos oitocentos, da condio de ferreiro para a de Fazendeiro, ocorrida graas aos conhecimentos e acmulo de capital com o abastecimento de gneros para o Rio de Janeiro, obtidos na sua antiga profisso, adquirindo a propriedade no arraial de So Sebastio

    2 HALL, Stuart. A identidade cultural na ps modernidade / Stuart Hall; traduo Tomaz da Silva, Guaracira

    Lopes Louro 11. ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2006, p. 13. 3 LENHARO, Alcir. As Tropas da Moderao: o abastecimento da Corte na formao poltica do Brasil, 1808-

    1842. So Paulo: Smbolo, 1979, p. 76

  • 3 do Rio Bonito, Santo Antnio do Rio Bonito e Veneza, todas na freguesia de Valena RJ; Santa F em Mar de Espanha MG; Boavista em Paraba do Sul RJ e Trs Barras em Trs Rios RJ. Na Repblica adquiriu a fazenda do Pocinho, localizada entre os municpios de Vassouras e Barra do Pira RJ.

    Neste texto, procuramos caracterizar a prtica de compadrio adotada, com base no relato de Silva4 e no inventrio da viscondessa de Jaguari, onde deixa parte de sua herana para o filho do baro, seu afilhado, por Francisco Paulo de Almeida, buscando refletir sobre seus significados e apontando as relaes de poder ali presentes. Nesse sentido importante ressaltar que atravs do visconde de Jaguari e do comendador Domingos Teodoro de Azevedo, o biografado ser inserido, em 1882, no mundo das Irmandades, nas negociaes capitalistas e empresariais.

    Ildefonso (baro de Jaguari) teve grande ascenso poltica no Imprio, nesse sentido, a relao de compadrio com Francisco Paulo de Almeida, que teve grande ascenso econmica, em parte, facilitada pela infiltrao social permitida pela rede de sociabilidade por ele construda, supe condies sociais no muito dispares, pois O compadrio estabelecia um vnculo de mo dupla5. Dando acesso a redes sociais para alguns e ajuda financeira para outros. Nesse sentido, interessante destacar que o compadrio vinculava no apenas indivduos, mas famlias. E isso era vlido para os dois plos da relao: tanto o padrinho passava a se relacionar com os parentes dos afilhados como estes se inseriam na parentela daquele6.

    No ano de 1870, Francisco Paulo de Almeida inicia-se como empresrio, dedicando-se importao e exportao. Seu estabelecimento esteve funcionando na antiga Rua Bragana, 31 na Corte, em sociedade com o fazendeiro e Capito da Guarda Nacional da Legio de Valena Domingos Jos da Silva Nogueira, E Domiciano Ferreira Souto, dono da fazenda Cachoeira, todos da freguesia de Valena RJ e mais adiante, em 1890:

    Julho 30 Sb a denominao de Companhia Agrcola Industrial Mineira, est sendo incorporada pelo Banco Territorial e Mercantil de Minas, uma companhia agrcola com o capital de dez mil contos. So Incorporadores, o Visconde de Monte Mrio, baro de Guaraciaba, Visconde de Morais, Domingos Teodoro de Azevedo e Carlos Justiniano das Chagas. Cia vai adquirir as seguintes fazendas: Santa F, Piracema, Piedade,

    4 SILVA, Pedro Gomes da. Captulos de Histria de Paraba do Sul. Rio de Janeiro: Cia. Brasileira de Artes

    Grficas, 1991. 5 CARVALHO, Jos Murilo de. In:_____(Org.).BRGGER, Silvia Maria Jardim. Escolhas de padrinhos e

    relaes de poder: uma anlise do compadrio em So Joo Del Rei (1736-1850). Nao e cidadania no Imprio: novos horizontes. Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira, 2007, P. 338). 6 Idem, p. 332.

  • 4 Passo da Ptria, Aliana, Fundo, Palmital, Bom Jardim, Sobrado, Pedra Asul e Venesa7.

    A liderana poltica, no sculo XIX, era, na maioria das vezes ou quase sempre, formada por um grupo heterogneo, constituida por um pequeno mais influente segmento de fazendeiros. Numericamente insignificantes, os fazendeiros e seus parentes dominavam cada parquia efetivamente atravs das eleies. Entre os fazendeiros, algumas famlias ou cls exerciam um papel dominante nos negcios dos municpos.

    Francisco Paulo de Almeida parece se inserir nesse quadro de relaes e sociabilidades, buscando e construindo espaos nas relaes sociais e polticas, associando-se a Marcelino de Brito Ferreira de Andrade (visconde de Monte Mrio), rico fazendeiro de caf em Juiz de Fora, coronel da Guarda Nacional, rico empresrio, fundador do Banco de Crdito Real de Minas Gerais e vereador em Juiz de Fora; Jos Jlio Pereira de Morais (1. Visconde de Morais), fidalgo da Casa Real (28.2.1891), gr-cruz da Ordem de Cristo e do Mrito Industrial, Comendador da Ordem da Rosa (do Brasil), presidente do gabinete Portugus de Leitura do Rio de Janeiro e de beneficncia Portuguesa, da mesma cidade, tendo-o tambm sido da grande comisso Pr-Ptria, grande industrial, negociante e filantropo e, durante muitos anos, chefe da colnia portuguesa na capital do Brasil; Comendador Domingos Teodoro de Azevedo Jnior, genro do visconde de Rio Preto, membro da Irmandade da Santa Casa e, Carlos Justiniano das Chagas, poltico, assinou a 1 Constituio republicana (1891).

    Ressaltamos a importncia social e poltica do pertencimento dos indivduos a uma Irmandade, mais notoriamente no sculo XIX, assim, com seu ingresso na Irmandade, Francisco Paulo de Almeida, alm de ter destacada sua participao social, aumenta sua teia atravs dos contatos e convvios polticos, inerentes ao cargo de destaque que ocupava na Irmandade, fora isso, tem as portas abertas e facilitadas na elite da cidade e com os nobres da Corte que pertenciam ou prestigiavam as Irmandades.

    No perodo compreendido entre 1879 e 1883, no qual Ildefonso consta como Provedor da Irmandade da Santa Casa de Misericrdia do Rio de Janeiro, Francisco Paulo de Almeida inicia-se na Irmandade, sendo eleito para o binio 1882-1884, da Irmandade da Santa Casa de Misericrdia de Valena-RJ. Coincidentemente, Ildefonso consta como fundador, conforme a Ata de Fundao da Irmandade da Santa Casa de Valena, datada de 02 de julho de 1838, alm de ter sido Presidente da Cmara Municipal de 1841 a 1844 e exercer o cargo de Provedor da Irmandade de Valena de 1845 a 1848. Alm disso, ele entra para ocupar o cargo deixado pelo seu scio comendador Domingos Teodoro de Azevedo Junior (1880-1882).

  • 5 Este prestgio adquirido pelo ingresso na Irmandade agregado a sua ocupao no cargo

    de Provedor da mesma, e o incentivo proporcionado por D. Pedro II aos seus membros e benfeitores, conforme descrito anteriormente forma um dos objetos facilitadores para seu ingresso na nobreza brasileira.

    O ttulo de baro de Guaraciaba foi concedido a Francisco Paulo de Almeida no dia 16 de setembro de 1887 por merecimento e dignidade, por decreto em carta rgia, assinada por S. A. Imperial, a Princesa Isabel, na ausncia do seu Augusto pai S. S.D. Pedro II, referendado pelo Ministro de Estado dos Negcios do Imprio, deputado Manuel do Nascimento Machado Portela.

    A concesso de ttulos representou o reconhecimento da importncia de Francisco Paulo de Almeida no seu grupo social, suficientemente prestigioso para figurar ao lado daqueles reduzidos outros (fazendeiros, polticos, principalmente, e mais financistas, banqueiros, comerciantes e, em menor escala, mdicos, professores e escritores, membros do corpo diplomtico, oficiais do exrcito e marinha), formadores da nobreza brasileira.

    O baro de Guaraciaba, alm de possuidor de diversas fazendas e negcios, possuiu uma casa na Tijuca, localizada a Rua Moura Brito n 24, este imvel foi demolido por ocasio do alargamento da rua Conde de Bonfim.

    No perodo de construo das estradas de ferro, doou terras para a passagem dos trilhos, sendo, inclusive, homenageado com uma estao, com o seu nome Francisco Paulo de Almeida, localizada nas terras da fazenda Veneza em Valena RJ. Este prestgio para a construo da Estrada de Ferro Santa Isabel do Rio Preto (depois Rede Mineira de Viao), cujos trilhos atravessavam as terras de sua propriedade, tratava-se informalmente de uma sociedade, considerando o nmero de aes discriminadas no inventrio da baronesa de Guaraciaba. A inaugurao da linha deu-se em 21 de novembro de 1883 com a presena do Baro e de S. M. SR. D. Pedro II.

    Petrpolis, na poca do Imprio, era o local de preferncia para a construo de casas de vero, considerada Cidade Imperial, os nobres e pessoas de posse transformaram a Cidade em local de veraneio. Assim ocorreu com Jos Carlos Mayrink da Silva Ferro, servidor da Casa Imperial, que adquiriu terreno na vizinhana do Palcio Imperial e constri um solar que passar para a histria como uma das mais pitorescas e elegantes residncias de Petrpolis na segunda metade do sculo XIX, denominada Palcio Amarelo.

    7 EEemrides de Juiz de Fora por Antnio Armando Pereira n 65, ANO DE 1890. Republicao na Gazeta

    Comercial, ANO XXXII, Juiz de Fora quinta-feira, 25 DE AGOSTO DE 1956.

  • 6 Aps o falecimento de Jos Carlos Mayrink da Silva Ferro, a viva, Maria Emlia

    Bernardes Mayrink, vende o solar em 13 de fevereiro de 1891 para Francisco Paulo de Almeida, que mesmo aps o advento da Repblica continuava a ser tratado como Baro de Guaraciaba, conforme se constata na informao anterior do Jornal de Juiz de Fora, publicado no ano de 1890.

    Desde sua formao, a Cmara Municipal de Petrpolis tinha a inteno de adquirir um imvel para instalar nele o Pao Municipal e, por motivos ainda no esclarecidos pelas fontes, resolvem que o Palcio Amarelo ser o local para as suas instalaes.

    O legislativo faz uma proposta Francisco Paulo de Almeida que a recusa prontamente, recusa que sugere, inclusive nesse embate de foras, no s poder para se colocar contra a proposta, como resistncia ao poder institudo. Lembro que em 17 de junho de 1891, quatro meses aps a aquisio do Palcio pelo Baro, a municipalidade - que no perodo em que Mayrink era proprietrio, nunca havia manifestado sua inteno de adquirir o imvel - autoriza o Dr. Antnio Neves da Rocha e o arquiteto Achem Naval a constiturem e explorarem no terreno onde hoje se localiza a Praa Visconde Mau, um mercado pblico para abastecimento da cidade.

    O projeto do mercado fracassou, porm a Cmara no se deu por vencida e, em 15 de novembro do mesmo ano negociava com M. de Teelier a instalao de um kursal no mesmo local. A palavra correta Kursaal que corresponde a um edifcio para congressos e exposies. O que se deduz que o Legislativo tinha a inteno de pr a prova no s a pacincia do Baro de Guaraciaba, como tambm testar sua fora nesse embate, porm este projeto, tambm, no vingou.

    Tendo fracassado suas estratgias para obteno do imvel, a Cmara resolve abalar de vez as convices do Baro e, atravs do vereador Jos Tavares Guerra, apresenta um projeto de Lei que autorizava emprstimos para a construo, no terreno em frente ao Palcio, do novo Pao Municipal.

    O projeto imediatamente aprovado sendo sancionado pela Resoluo nmero 25 de 10 de abril de 1894 e, j no dia 14 de abril do mesmo ano, a Gazeta de Petrpolis publicava edital abrindo concorrncia para a construo do edifcio. As propostas seriam recebidas no dia 17 de maio, s 13 horas, estando as plantas, condies da obra e bases de oramento disposio da Cmara.

    Nessa relao de fora e de poder, a iniciativa da Cmara, de fato, consegue abalar e esmorecer o posicionamento do Baro de Guaraciaba, a ponto dele mesmo propor, no dia 11

  • 7 de junho de 1894, a venda de seu Palcio. O que ocorre que com a aprovao da construo de um prdio no terreno em frente ao Palcio, tiraria todo o glamour e esplendor que o mesmo representava, deixando de ter sentido a sua posse.

    No dia 05 de julho de 1894, Baro de Guaraciaba e o Presidente do Poder Legislativo, vereador Hermognio Silva e o tabelio Gabriel Jos Pereira Bastos, lavraram a escritura do terreno localizado nos prazos de terra da Fazenda de Petrpolis de nmeros 127, 128 e 129, fazendo testada para a Praa Visconde de Mau e formando uma superfcie de 1.275 braas quadradas.

    A resoluo de nmero 27 da Cmara Municipal dava autorizao administrao pblica de adquirir o imvel, autorizando o emprstimo da ordem de 160:000$000 (cento e sessenta contos de ris).

    Francisco Paulo de Almeida acostumado a transpor vrios empecilhos, mas no todos, vm a conhecer, na Repblica, a Fora do Estado, de um outro Estado. A partir de ento, outras batalhas se constituiriam, novas relaes de poder se conformariam, ou seja, isso nos lembra que:

    [...], que o poder no se d, no se troca nem se retoma, mas se exerce, s existe em ao, como tambm da afirmao que o poder no principalmente manuteno e reproduo das relaes econmicas, mas acima de tudo uma relao de fora8.

    O Baro de Guaraciaba, pelos fatos percebidos, tinha uma viso aguada de seu tempo, das relaes prprias de sua sociedade e dos atributos que o indivduo necessitava para nela estar e transitar. Nesta sociedade, alm do poder econmico, para se situar, para estar, para se manter e para se relacionar com a sociedade, era preciso se preocupar com a instruo. Por isso, suas filhas, alm do programa de estudos preconizado pela Lei Nacional de 15 de outubro de 1827, que instituiu a instruo pblica para meninas em todo o Imprio brasileiro (leitura, escrita, quatro operaes de aritmtica, gramtica de lngua nacional, os princpios da moral crist e de doutrina da religio catlica, apostlica e romana, bem como as prendas que servem economia domstica), estudaram piano, o segundo instrumento de sua devoo. Os filhos foram enviados para estudar na Frana (Paris).

    Nos ltimos anos de sua vida, viajou constantemente para Paris. Faleceu em 09 de fevereiro de 1901, na casa de sua filha Adelina, situada Rua Silveira Martins, 81, foi sepultado no Cemitrio So Joo Batista longe da Baronesa que foi sepultada no Cemitrio de Bemposta, distrito de Trs RiosRJ. Em vida, desfez-se de quase todos os seus bens, deixando

    8 FOUCAULT, Michel. Microfsica do poder. (org. e trad.) Roberto Machado Rio de Janeiro: Edies Graal,

    1979.

  • 8 de herana a fazenda Pocinho e a fazenda Santa F para suas filhas e para os homens deixou dinheiro em espcie.

    No transcorrer deste texto, procurei dar algumas informaes sobre a trajetria de Francisco Paulo de Almeida, indcios da formao de sua rede de sociabilidade e suas relaes de poder, manifestamos a hiptese do discurso cujo objetivo o de deixar uma mensagem para algum, classe ou sociedade, desta forma, consideramos que o ostracismo detenha as mesmas caractersticas e que ambos, tanto o discurso quanto o silncio, sejam um exerccio de poder.

    BIBLIOGRAFIA: CARVALHO, J. M de. In:_____(Org.).BRGGER, S. M. J.. Escolhas de padrinhos e relaes de poder: uma anlise do compadrio em So Joo Del Rei (1736-1850). Nao e cidadania no Imprio: novos horizontes. R. J: Civ. Bras., 2007, P. 339. COIMBRA, L. O. Filantropia e racionalidade empresarial (a Santa Casa da Misericrdia do Rio de Janeiro de 1850 a 1920). Rev. R. J. Niteri, 1, n 3, p. 41-51, mai/ago. 1986. (BCOC). COSTA, E M. A. de. A Irmandade da Santa Casa de Misericrdia de Valena (1838-1889). Vassouras-RJ: Dissertao na USS, 1997, p. 18-19. FOUCAULT, M. Microfsica do poder. (org. e trad.) Roberto Machado R. J.: Ed. Graal, 1979. GUAZZELLI, C. A. B.; PETEREN, S. R. F.; SCHMIDT, B. B. e XAVIER, R. C. L. In: _____. (Orgs.). SCHMIDT, B. B. A biografia histrica: o retorno do gnero e a noo de contexto. Questes da teoria e metodologia da histria. P. A.: Ed. Univ./UFRGS, 2000: 121-129. HALL, S. A identidade cultural na ps modernidade/S. Hall; trad. Tomaz da S., Guaracira L. L. 11. ed. R. J.: DP&A, 2006, p. 13. LENHARO, Alcir. As Tropas da Moderao: o abastecimento da Corte na formao poltica do Brasil, 1808-1842. So Paulo: Smbolo, 1979. MACHADO, R. Por uma genealogia do poder. In FOUCAULT, M. Microfsica do Poder. Org. e Trad. De Roberto M. R. J.: Ed. Graal, 1979, XIV. PINTO FILHO, M. B. A histria de Trs Rios e de seus vultos importantes, 1853 1882. R. J.: Netuno, 1992, 143-144. SILVA, P. G. da. Captulos de Histria de Paraba do Sul. R. J.: Cia. Bras. de Artes Grficas, 1991.