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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JULIO DE MESQUITA FILHO”
FACULDADE DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS E VETERINÁRIAS
CAMPUS DE JABOTICABAL
BANCO DE SEMENTES, FLUXO DE EMERGÊNCIA E
FITOSSOCIOLOGIA DE COMUNIDADE DE PLANTAS
DANINHAS EM AGROECOSSISTEMA DE CANA-CRUA.
Marcos Antonio Kuva
Engenheiro Agrônomo
JABOTICABAL – SÃO PAULO – BRASIL
Julho de 2006
i
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JULIO DE MESQUITA FILHO”
FACULDADE DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS E VETERINÁRIAS
CAMPUS DE JABOTICABAL
BANCO DE SEMENTES, FLUXO DE EMERGÊNCIA E
FITOSSOCIOLOGIA DE COMUNIDADE DE PLANTAS
DANINHAS EM AGROECOSSISTEMA DE CANA-CRUA.
Marcos Antonio Kuva
Orientador: Prof. Dr. Robinson Antonio Pitelli
Co-orientador: Prof. Dr. Antonio Sérgio Ferraudo
Tese apresentada à Faculdade de Ciências Agrárias e
Veterinárias – Unesp, Campus de Jaboticabal, como
parte das exigências para a obtenção do título de Doutor
em Agronomia (Produção Vegetal)
JABOTICABAL – SÃO PAULO – BRASIL
Julho - 2006
Kuva, Marcos Antonio
K97b Banco de sementes, fluxo de emergência e fitossociologia de comunidade de plantas daninhas em agroecossistema de cana-crua / Marcos Antonio Kuva – – Jaboticabal, 2006
xi, 105f. ; 28 cm Tese (doutorado) - Universidade Estadual Paulista, Faculdade de
Ciências Agrárias e Veterinárias, 2006 Orientador: Robinson Antonio Pitelli
Banca examinadora: Miguel Ângelo Mutton, Maria do Carmo Moreli Damasceno Pavani, Ricardo Victoria Filho, Carlos Alberto Mathias Azania
Bibliografia 1. Plantas daninhas. 2. Saccharum spp. 3. Fitossociologia. 4.
Análise multivariada. Título. II. Jaboticabal-Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias.
CDU 632.51:633.61
Ficha catalográfica elaborada pela Seção Técnica de Aquisição e Tratamento da Informação – Serviço Técnico de Biblioteca e Documentação - UNESP, Câmpus de Jaboticabal.
ii
DADOS CURRICULARES DO AUTOR
MARCOS ANTONIO KUVA – é natural de São Carlos, SP, (14/01/1970), onde
cursou e completou o primeiro e o segundo grau. Entre março de 1989 e dezembro de
2003 cursou Agronomia na Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias de
Jaboticabal (UNESP – Campus de Jaboticabal), sendo que durante boa parte do curso
dedicou-se à iniciação científica desenvolvendo o trabalho de graduação e participando
de vários trabalhos de pesquisa, sempre na área da ciência das plantas daninhas e sob
a supervisão dos professores Doutores Pedro Luis da Costa Aguiar Alves e Robinson
Antonio Pitelli. Em 1995 ingressou no curso de Pós-graduação em Fitotecnia da Escola
Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, com a supervisão do Professor Doutor Pedro
Jacob Christoffoleti, desenvolvendo dissertação relacionado ao tema plantas daninhas
na cultura da cana-de-açúcar. No final do mestrado participou do curso de
aperfeiçoamento “Manejo de Malezas, Medio Ambiente y Agricultura de Concervation”
ministrado em Córdoba, Espanha. De novembro de 1998 ao final de 2001 trabalhou em
pesquisa e desenvolvimento na empresa Delta & Pine Land desenvolvendo a tecnologia
do algodão geneticamente modificado para tolerância ao glifosato e lepidópteros. Em
agosto de 2002 ingressou no doutorado do programa de Pós-graduação em Produção
Vegetal da Universidade Estadual Paulista, Campus de Jaboticabal, SP. Em 2004,
paralelamente ao curso de doutorado participou da constituição da Herbae Consultoria
e Projetos Agrícolas Ltda., uma empresa dedicada à consultoria agrícola, elaboração e
condução de projetos de pesquisa em agronomia sendo, atualmente, um dos
proprietários.
iii
DEDICO
Aos meus pais Yossio e Setsuko,
À minha irmã Silvia,
Aos meus irmãos Eduardo e Wilson.
OFEREÇO
À querida Lucélia, pelo amor
e pela amizade.
iv
AGRADECIMENTOS
Ao prof. Dr. Robinson Antonio Pitelli pela sua orientação e pela oportunidade
concedida.
Ao professor Dr. Antonio Sérgio Ferraudo pelo auxílio no tratamento estatístico
dos dados.
Ao prof. Dr. Pedro Luis da Costa Aguiar Alves pela amizade e pelas
oportunidades proporcionadas ao longo dos últimos anos.
Aos membros que compuseram a banca examinadora (Prof. Dr. Miguel Ângelo
Mutton; Prof. Dra. Maria do Carmo Moreli Damasceno Pavani; Engenheiro Agrônomo,
Dr. Carlos Alberto Mathias Azania; Prof. Dr. Ricardo Victoria Filho) pelas sugestões
apresentadas.
Aos funcionários do Departamento de Biologia Aplicada à Agropecuária (Unesp –
Jaboticabal), em especial ao José Valcir Fidelis Martins e Francisco Rigler Neto (in
memorian), pelo auxílio nas atividades de campo.
Ao Técnico Agropecuário Marco Antonio Farias pela organização e coleta dos
dados.
Ao meu sócio na empresa Herbae Consultoria e Projetos Agrícolas Ltda,
Engenheiro Agrônomo Tiago Pereira Salgado pela voluntariedade, companheirismo,
honestidade, responsabilidade e amizade.
À equipe de alunos de pós-graduação (Tomás, Mariluce, Edson Mattos, Lúcio) e
de estagiários (Antonio Carlos Evangelista Júnior, Rafael Luvezutti, Felipe Ridolfo Lúcio,
Renata Pereira, Sâmara, André Seixas, Mariana, Nilton e Guilherme).
Às funcionárias da Seção de pós-graduação da Unesp-Jaboticabal pelas
orientações e paciência com que me atenderam.
Às funcionárias da Biblioteca da Unesp-Jaboticabal pelas revisões nas citações
bibliográficas.
À Dow Agrosciences Ltda e a Milenia Agro Ciências Ltda. e aos agrônomos e
técnicos das usinas e fazendas envolvidas (Usina Bonfim, Usina da Pedra, Usina
v
Andrade, Usina São Martinho, Fazenda Santa Isabel, Fazenda Santa Cecília, Fazenda
Santo Antonio) pelas diversas formas de apoio.
vi
SUMÁRIO
Páginas
RESUMO............................................................................................................ viii
SUMMARY.......................................................................................................... x
CAPÍTULO 1 – CONSIDERAÇÕES GERAIS..................................................... 1
Introdução........................................................................................................ 1
Revisão de bibliográfica.................................................................................. 3
A cultura da cana-de-açúcar e sua importância......................................... 3
Plantas daninhas na cultura da cana-de-açúcar........................................ 4
Colheita mecanizada de cana-crua............................................................ 7
Efeito da palha no comportamento de herbicidas...................................... 8
Plantas daninhas no agroecossistema cana-crua..................................... 10
Banco de sementes de plantas daninhas.................................................. 14
Índices fitossociológicos............................................................................. 17
Análise multivariada................................................................................... 20
CAPÍTULO 2 – BANCO DE SEMENTES DE PLANTAS DANINHAS E SUA
CORRELAÇÃO COM A FLORA ESTABELECIDA NO AGROECOSSISTEMA
CANA-CRUA.......................................................................................................
23
Resumo........................................................................................................... 23
Introdução........................................................................................................ 24
Material e Métodos.......................................................................................... 25
Resultados e Discussão.................................................................................. 27
Conclusões...................................................................................................... 39
CAPÍTULO 3 – FLUXO DE EMERGÊNCIA DE PLANTAS DANINHAS EM
AGROECOSSISTEMA CANA-CRUA...............................................................
40
Resumo........................................................................................................... 40
Introdução........................................................................................................ 41
Material e Métodos.......................................................................................... 42
Resultados e Discussão.................................................................................. 43
Conclusões...................................................................................................... 47
vii
CAPÍTULO 4 – FITOSSOCIOLOGIA DE COMUNIDADE DE PLANTAS
DANINHAS EM AGROECOSSISTEMA CANA-CRUA.....................................
48
Resumo........................................................................................................... 48
Introdução........................................................................................................ 49
Material e Métodos.......................................................................................... 50
Resultados e Discussão.................................................................................. 52
Conclusões...................................................................................................... 61
CAPÍTULO 5 – PADRÕES DE INFESTAÇÃO DE PLANTAS DANINHAS EM
AGROECOSSITEMA CANA-CRUA.................................................................
62
Resumo........................................................................................................... 62
Introdução........................................................................................................ 63
Material e Métodos.......................................................................................... 64
Resultados e Discussão.................................................................................. 66
Conclusões...................................................................................................... 73
CAPÍTULO 6 – CORRESPONDENCIA ENTRE VARIÁVEIS DA
COMUNIDADE INFESTANTE DE PLANTAS DANINHAS E VÁRIÁVEIS
LIGADAS AO AMBIENTE CANA-CRUA.............................................................
74
Resumo........................................................................................................... 74
Introdução........................................................................................................ 75
Material e Métodos.......................................................................................... 76
Resultados e Discussão.................................................................................. 78
Conclusões...................................................................................................... 85
CAPÍTULO 7 – IMPLICAÇÕES........................................................................... 86
REFERÊNCIAS................................................................................................... 88
APÊNDICE.......................................................................................................... 104
viii
BANCO DE SEMENTES, FLUXO DE EMERGÊNCIA E FITOSSOCIOLOGIA DE
COMUNIDADE DE PLANTAS DANINHAS EM AGROECOSSISTEMA DE CANA-
CRUA.
RESUMO – O agroecossistema da cana-de-açúcar vem sendo alterado com a
adoção gradativa do sistema de colheita mecanizado, pois além de eliminar a presença
do fogo possibilita a manutenção da camada de palha sobre a superfície, reduz a
movimentação do solo e altera a dinâmica de herbicidas. Essas alterações promovem
modificações nas condições microclimáticas, que por sua vez, afetam a composição
especifica das plantas daninhas. Sendo assim, foi objetivo desta pesquisa estudar
vários aspectos da comunidade de plantas daninhas em áreas de cana-de-açúcar
colhidas no sistema mecanizado e sem queima da palha. Os dados utilizados neste
projeto foram coletados durante a safra 2004 em vinte e nove talhões de cana-soca
localizados em usinas ou fornecedores da região de Ribeirão-Preto, SP. Foram
realizados estudos fitossociológicos baseados no banco de sementes e na flora
emergida, de fluxo de emergência, de correlação entre o conteúdo do banco de
sementes e da flora emergida, de similaridade entre talhões e de correlações entre
variáveis da comunidade infestantes e variáveis edáficas (textura do solo) e
relacionadas à cultura (quantidade inicial de palha) e ao seu manejo (época de corte).
Concluiu-se que o banco de sementes apresentou em média 350 indivíduos por metro
quadrado, porém, foi pouco eficiente para estimar a flora emergente,
independentemente da metodologia de determinação e da época de corte da cana. A
maior densidade de planta daninha ocorreu entre 90 e 120 dias após o corte,
independentemente da época que foi realizada a colheita. Baseado nos dados de
densidade, freqüência e biomassa das espécies constatou-se que as espécies mais
importantes foram Cyperus rotundus, Ipomoea hederifolia, I nil, outras espécies de
convolvuláceas e Euphorbiaceas. O padrão de distribuição nos talhões foi agregado, e
os maiores índices foram observados para Cyperus rotundus e para as cordas-de-viola.
A análise de agrupamento proporcionou a formação de quatro grupos em função da
ix
importância relativa e cinco grupos em função do índice de agregação, sendo que
dentro dos grupos foi observado a formação de sub-grupos. A análise de
correspondência indicou que no universo de talhões avaliados os maiores valores de
importância relativa de Cyperus rotundus correlacionou-se com talhões colhidos nas
épocas mais secas e com menores quantidades de palha. Em contrapartida para as
cordas-de-viola e demais plantas de folha larga propagadas por sementes houve maior
correlação com talhões colhidos na época úmida e com maiores quantidades iniciais de
palha.
Palavras-chave: análise multivariada, banco de sementes, coeficiente de similaridade,
correlação de Spearman Rank, fitossociologia,
x
SEED BANK, EMERGENCE PERIODICITY AND PHYTOSSOCIOLOGY OF WEED
COMMUNITY ON NO BURN SUGAR-CANE AGROECOSYSTEM.
SUMMARY – The sugar-cane agroecosystem has being changed with the
progressive adoption of the mechanical harvesting without burning the plant straw. This
system, besides eliminate the burning effects, maintain a layer of sugar-cane straw
mulching, reduce the soil mobilization and change the herbicide dynamic in the soil.
These changes are enough to promote large changing in the weed community
composition in this agroecosystem. Then, the objective of this research was to evaluate
weed communities compositions in several sugar-cane areas harvested under the
mechanized way without straw burning. The data used in this thesis were collected
during the year 2004 using 29 areas in Ribeirão Preto Country. The seed banks and the
weeds emergence flows were measured and studied using phytosociological index,
correlations involving the seed bank and the seedling banks and similarity coefficients
comparing the weed communities in different areas. Correlations studies involving the
weeds indexs and soil texture, straw amount and harvesting time also were studied. In
average the seed bank density was 350 individuals per square meter and was did not
showed good correlations to estimate the seedlings banks, regarding the time of sugar-
cane harvesting time. The highest weed densities occurred in the period of 90-120 after
the sugar-cane harvesting, regarding the time of the year. The most important weed
species in the region evaluated were: Cyperus rotundus, Ipomoea hederifolia, I nil, and
other Euphorbiaceae and Convolvulaceae species. The weeds patterns of geographic
distribution were aggregated for the majority of the weed populations and the highest
aggregation index were observed to purple-nutsedge and morninglories. The
correspondence analysis showed that the highest relative importance of Cyperus
rotundus were related to areas harvested during the dry season with thin layer of sugar-
cane straw and the highest relative importance of Ipomoea spp were related to areas in
which the harvesting was done during the rainy season and under large amount of
sugar-cane straw.
xi
Key-words: seed bank, phytosocilogy, similarity coefficients, Spearman Rank
correlation, multivariate analysis.
1
CAPÍTULO 1 – CONSIDERAÇÕES GERAIS
Introdução
A colheita mecanizada da cana-de-açúcar sem queima prévia da palha, vem
sendo implantada no Brasil e tende a abranger quase a totalidade das áreas ocupadas
pela cultura, pois, além de cumprir exigências legais, proporcionam vários benefícios
agronômicos e ambientais. Qualquer mudança no sistema produtivo promove, em maior
ou menor grau, alterações nas condições microclimáticas. Estas alterações, por sua
vez, poderão influenciar nas composições específicas dos microorganismos do solo, da
artropodofauna e de plantas daninhas, pois novos fatores de pressão seletiva passam a
atuar de forma mais significativa no agroecossistema. Um primeiro efeito que tem sido
observado é a redução da importância relativa de algumas plantas daninhas
predominantes no sistema anterior, uma vez que a manutenção da camada de palha,
de inicio constitui-se num fator ecológico não periódico. Com a adoção sistemática e
periódica do sistema, as populações que melhor se adaptam ao novo conjunto de
pressão seletiva tendem a predominar e a comunidade infestante novamente se
estabelece, porém, com uma composição diferente daquela que predominava
anteriormente.
No caso da colheita mecanizada da cana-de-açúcar as duas alterações mais
significativas são: a manutenção de uma camada de palha na superfície do solo e a
ausência da queimada que já atuava como fator ecológico periódico secundário. Os
efeitos do fogo sobre as sementes de plantas daninhas são pouco conhecidos, no
entanto, sabe-se que variam desde a morte de sementes de algumas espécies até a
promoção da germinação de outras, principalmente quando estão enterradas no solo.
A camada de palha mantida sobre o solo neste sistema de colheita funciona
como barreira física para plântulas em emergência, altera o balanço hídrico, modifica a
quantidade e a qualidade de luz que atinge a superfície do solo e interfere
decisivamente na amplitude de variação térmica do solo, além de proporcionar a
2
liberação de compostos alelopáticos. O balanço desses fatores é essencial para a
germinação das sementes e para o estabelecimento das plântulas e seus efeitos são
diferenciados de acordo com a espécie e, em determinados casos, de semente para
semente dentro da mesma espécie.
Além desses fatores microclimáticos alterados pela camada de palha a
germinação de plantas daninhas é influenciada por variações macroclimáticas, uma vez
que o longo período de colheita expõe o desenvolvimento inicial da cultura e das
plantas daninhas às condições de baixa umidade e temperatura (junho a agosto) até
alta temperatura e umidade que ocorrem no final da safra (outubro a dezembro).
O entendimento das influências exercidas pelo sistema de cana-crua sobre as
comunidades infestantes da cana-de-açúcar, o conhecimento das composições
florísticas de plantas daninhas adultas, banco de plântulas e de sementes são de
fundamental importância, pois possibilita estabelecer prioridades de controle, direcionar
o emprego dos métodos de controle, detectar potenciais plantas daninhas e direcionar o
desenvolvimento de novas moléculas pela indústria.
Considerando que as informações acima descritas são fundamentais para o
planejamento do manejo de plantas daninhas na cultura da cana-de-açúcar, o presente
trabalho foi conduzido com o objetivo de avaliar as composições específicas de
comunidades infestantes em ambientes de cana-crua, baseadas em amostragens de
banco de sementes e da flora emergida. Estudar o fluxo de emergência das principais
espécies ou grupos de espécies e a relação entre o conteúdo do banco de sementes e
as plantas emergidas. Estabelecer padrões de infestação, utilizando análise de
agrupamento considerando os principais índices fitossociológicos da comunidade
infestante como parâmetros para avaliações das similaridades entre comunidades e por
fim estudar a correlação entre as populações das principais plantas daninhas com
variáveis edáficas (textura do solo ) ou relacionadas à cultura (quantidade inicial de
palha e época de corte), por meio de análise de correspondência multivariada.
3
Revisão bibliográfica
A cultura da cana-de-açúcar e sua importância
Os primeiros relatos do cultivo da cana-de-açúcar (Saccharum officinarum)
provêm da Nova Guiné difundindo-se, progressivamente para a China e Índia
(FAUCONNIER, 1991) e chegou ao Brasil na metade do século XVI. Atualmente é uma
das principais culturas agrícolas do país e do seu processo industrial, obtém-se o
açúcar e suas derivações como o álcool anidro e hidratado, o vinhoto, a levedura de
cana, o bagaço, entre outros (FIESP-CIESP 2006).
Atualmente o setor canavieiro compreende 320 usinas em funcionamento e 50
em construção e a projeção é que nos próximos dez anos, pelo menos cem novas
usinas deverão ser instaladas. Com isso, as exportações brasileiras de açúcar deverão
passar dos atuais 17,5 milhões de toneladas para algo em torno de 30 milhões de
toneladas na safra de 2014/15. No mesmo período a projeção para as exportações de
álcool deverá passar dos atuais 2,8 bilhões de litros para 13,5 bilhões de litros
(AGRIANUAL 2006). Até a safra 2000/01 o setor gerava mais de 900.000 empregos
diretos no país (500.000 em São Paulo) e mais de 3,5 milhões de empregos indiretos,
sendo dois milhões em São Paulo (FIESP-CIESP, 2006). Nos dias de hoje, com a
expansão dos negócios do setor, devido à demanda externa, esses números sofreram
alterações com elevações dos valores.
Os canaviais brasileiros estão localizados em vários Estados, mas os principais
pólos produtores são os Estados de São Paulo, Alagoas, Paraná, Pernambuco, Minas
Gerais e Goiás sendo que o Estado de São Paulo respondeu por 51,77% da área
colhida (2.960.480 ha) e 60,35% da produção (255.140.812 toneladas) na safra
2005/2006 (AGRIANUAL, 2006).
No Estado de São Paulo o cultivo da cana-de-açúcar pode ser separado em dois
grupos, cana-planta e cana-soca. De acordo com a época de plantio, os canaviais
plantados no final de cada ano, se desenvolverão inicialmente sob condições de alta
4
umidade e temperatura, será colhida após um ano, e são denominados de “cana-de-
ano”. Os canaviais plantados no início de cada ano serão colhidos após dezoito meses
e são denominados de “cana-planta de ano e meio”. Os canaviais plantados no meio do
ano são denominados de plantio de inverno. Após o primeiro corte, ocorrerá a rebrota,
que voltará a ser colhida um ano após e todos são denominados de “cana-soca”
(KUVA, 1999).
Em função do longo período de safra da cana-de-açúcar, a rebrota encontra
diferentes condições ambientais de temperatura, precipitação e umidade relativa para
seu crescimento inicial. A indústria de herbicidas para o setor canavieiro considera
quatro diferentes épocas em função das condições de umidade do solo. No início da
safra no Estado de São Paulo (abril-junho) as chuvas começam a ficar mais esparsas,
mas ainda existe estoque de umidade do solo resultante das chuvas de verão, estes
talhões são denominados “soca semi-seca”. Em seguida, nos meses de junho a agosto
ocorre um período de estiagem e o solo se encontra em condições de baixíssima
umidade, estes talhões são denominados “soca seca”. Em meados de setembro as
chuvas recomeçam, há a reposição da umidade no solo constituindo-se a “soca semi-
úmida”. Com a estabilização das chuvas, constitui-se a “soca úmida” de final de safra,
que vai até dezembro.
Um único plantio de cana-de-açúcar permite a realização de uma colheita anual
até um limite que varia de 5 a 10 anos. Quando o aproveitamento da rebrota é
encerrado se procede à renovação do canavial com o plantio opcional de uma cultura
em rotação, geralmente uma leguminosa, sendo freqüentemente plantadas crotalária,
soja ou amendoim.
Plantas daninhas na cultura da cana-de-açúcar
Segundo publicação realizada pelo PLANALSUCAR – IAA (1986), as mais
freqüentes espécies de plantas daninhas que ocorriam em canaviais eram: gramíneas
anuais; capim-colchão (Digitaria spp.), capim-marmelada (Brachiaria plantaginea),
5
capim-carrapicho (Cenchrus echinatus) e capim-pé-de-galinha (Eleusine indica);
gramíneas perenes; grama-seda (Cynodon dactylon), capim-massambará (Sorghum
halepense), capim-colonião (Panicum maximum) e capim-braquiária (Brachiaria
decumbens); folhas largas anuais; beldroega (Portulaca oleracea), picão-preto (Bidens
pilosa) e carrapicho-carneiro (Acanthospermum hispidum); folhas largas perenes;
guanxumas (Sida spp.), trapoeraba (Commelina benghalensis) e ciperáceas; tiririca
(Cyperus rotundus) e tiriricão (Cyperus esculentus).
Mais recentemente, PROCÓPIO (2003) cita as principais espécies de plantas
daninhas infestantes da cana-de-açúcar na região centro-sul como sendo: capim-
braquiária (Brachiaria decumbens), capim-colonião (Panicum maximum), capim-colchão
(Digitaria spp.), capim-marmelada (Brachiaria plantaginea), capim-carrapicho (Cenchrus
echinatus), capim-pé-de-galinha (Eleusine indica), grama-seda (Cynodon dactylon),
capim-massambará (Sorghum halepense), capim-falso-massambará (Sorghum
arundinaceum), tiririca (Cyperus rotundus), corda-de-viola (Ipomoea spp), caruru
(Amaranthus spp), beldroega (Portulaca oleracea), trapoeraba (Commelina
benghalensis), falsa-serralha (Emilia sonchifolia), serralha (Sonchus oleraceus),
mentrasto (Ageratum conyzoides), leiteiro (Euphorbia heterophylla), nabiça (Raphanus
raphanistrum), poaia-branca (Richardia brasiliensis), carrapicho-de-carneiro
(Acanthospermum hispidum), picão-preto (Bidens pilosa) e guanxuma (Sida spp.).
Confrontando as duas relações de espécies, algumas diferenças podem ser
observadas, como a inclusão de várias espécies de corda-de-viola (Ipomoea spp.),
leiteiro (Euphorbia heterophylla) e outras espécies de folha larga na relação mais
recente. Em 1986, a colheita da cultura da cana-de-açúcar era totalmente manual e a
cultura era queimada para facilitar a operação. Em 2003, a participação da colheita
mecanizada, sem queima prévia da palha, já era bastante significativa na região
sudeste. A relação apresentada por PROCÓPIO (2003) não especifica o sistema de
colheita, mas as diferenças tenderiam a ser maiores se a relação mais recente fosse
baseada somente em áreas de colheita mecanizada.
Um grupo importante de plantas tem causado sérios problemas na colheita
mecanizada de cana-crua. Segundo DEUBER (1992) as plantas daninhas trepadeiras
6
necessitam de outras plantas para apoio nas quais sobem por enrolamento (volúveis)
ou prendendo-se a elas por meio de gavinhas, garras ou espinhos (cirriferas), podendo
produzir várias ramificações as quais atingem vários metros de comprimento. Algumas
dessas plantas encontraram na cana-de-açúcar um hábitat adequado para sua
colonização e tem causado interferência generalizada na colheita mecanizada (Ipomoea
spp e Merremia spp) ou potenciais esporádicos (Pyrostegia venusta, Momordica
charantia, Cissampelos glaberrima, entre outras).
A redução da produtividade da cana-de-açúcar em função da presença da
comunidade de plantas daninhas tem sido relatada na literatura por diversos autores,
entre os quais; ROLIM & CHRISTOFFOLETI (1982), GRACIANO & RAMALHO (1983),
GRACIANO (1989), CONSTANTIN (1993) e COLETI et al., (1997). Em canaviais recém
implantados nas condições de outono no estado de São Paulo, as perdas de
produtividade em decorrência da interferência das plantas daninhas variaram em função
do tipo de infestação. Numa área que predominava tiririca a produtividade foi reduzida
em 20% (KUVA et al., 2000); infestação predominantemente de capim-braquiária
promoveu perdas de até 82% (KUVA et al., 2001) e infestação mista de capim-
braquiária e capim-colonião promoveu perda de 40% (KUVA et al., 2003). Resultados
sobre o potencial de redução de produtividade da cana-de-açúcar em função da
interferência da comunidade infestante em áreas já tradicionais de colheita mecanizada
de cana-crua não foram encontrados durante a fase de revisão.
No Estado de São Paulo, os insumos, as operações e a mão-de-obra envolvidos
no processo de controle de plantas daninhas são responsáveis por 8,2% do custo total
de implantação do canavial. Para a soqueira, considerando seis cortes, as participações
do controle de plantas daninhas nos custos de produção são, em média, de 6,99 % (1a
soca), 7,96% (2a soca), 8,56% (3a soca), 9,26% (4a soca), 10,08% (5a soca) e 13,86%
(6ª soca), considerando investimentos para produtividade esperada de 124, 104, 93, 82,
72 e 62 t.ha-1, respectivamente (AGRIANUAL, 2006).
7
Colheita mecanizada de cana-crua
Durante vários anos a colheita da cana-de-açúcar foi realizada manualmente
com queimada prévia da palha, visando aumentar o rendimento da operação. Esse
sistema de colheita reduz a quantidade de material orgânico sobre o solo e contribui
para o aumento da concentração de gás carbônico na atmosfera, contribuindo com o
efeito estufa e para a diminuição do teor de matéria orgânica no solo (SOUZA et al.,
2005).
Posteriormente, com a crescente pressão ambientalista contra a prática da
queimada e com o desenvolvimento de máquinas de elevado rendimento, apropriados
para a colheita mecanizada sem queima da palha, houve uma crescente adoção dessa
modalidade de colheita, de tal forma que algumas usinas já colhem mais de 90% de
suas áreas mecanicamente e sem queima prévia da palha.
Essa tendência deve se confirmar, uma vez que o decreto de Lei Estadual
47.700 foi assinado em 11 de março de 2003, o qual regulamenta a Lei Estadual
11.241, de 19 de setembro de 2002, determinando prazos para eliminação gradativa do
emprego do fogo para eliminação da palha da cana-de-açúcar (SOUZA et al., 2005).
Apesar dos grandes benefícios ambientais, operacionais e econômicos da
colheita mecanizada sem queima, a deposição e a manutenção de palha sobre a
superfície do solo trouxeram algumas dificuldades no processo produtivo, que
gradativamente está sendo superado pela pesquisa. Entre essas dificuldades podem
ser citados os entraves às operações de cultivo e adubação da cana-soca (AUDE et al.,
1993), a baixa taxa líquida de mineralização de N (TRIVELIN et al., 1995), a dificuldade
de execução de controle seletivo de plantas daninhas, o aumento das populações de
insetos-praga (MACEDO et al., 2003) e a interferência negativa da palha sobre a
brotação da cana-de-açúcar (VASCONCELOS, 2002).
A quantidade dos resíduos (folhas e palmitos) resultantes da colheita
mecanizada de cana-crua depende de uma série de condições intrínsecas à máquina
colhedora e outras relativas à planta ou à condição de manejo da mesma (ABRAMO
FILHO et al., 1993). Considerando resultados obtidos por vários autores brasileiros,
8
RIPOLI et al. (1990) obtiveram uma estimativa de que um hectare de cana-de-açúcar
com rendimento agrícola de 70 t.ha-1, cortada sem queima prévia resultariam em sete
toneladas de palha. No entanto, segundo TRIVELIN et. al. (1996), a quantidade de
palha em canaviais colhidos sem queima varia de 10 a 30 t.ha-1.
No que se refere às plantas daninhas e seu controle, a presença da camada de
palha trouxe alterações na dinâmica e eficácia dos herbicidas bem como nas
composições específicas e nas densidades das populações que compõe as
comunidades infestantes e, por fim, em suas relações de interferência em relação à
cultura da cana-de-açúcar.
Efeito da palha no comportamento de herbicidas
A camada de palha promoveu alterações na dinâmica dos principais herbicidas
na cana-de-açúcar que antes eram aplicados diretamente ao solo e que atualmente
precisam vencer a barreira de palha. VELINI & NEGRISOLI (2000) estudaram a
interceptação da calda de herbicida pela camada de palha de cana-de-açúcar com
auxílio de corantes e constataram que 35,5% da calda atingiram o solo coberto com 1,0
t.ha-1. Para camadas mais espessas, 10 e 15 t.ha-1, a interceptação chegou a atingir
99,4% e 99,5%, respectivamente. Para a formulação de hexazinone e diuron, VELINI et
al., (2004) verificaram 39, 33, 14, 4 e 1% de transposição da palha para camadas
uniformes com 1; 2,5; 5; 7,5; 10; 15 e 20 t.ha-1, respectivamente. Em trabalho
semelhante, porém para o herbicida diuron, NEGRISOLI et al., (2002) constataram que
28, 5, 1, 1, 0 e 0% do herbicida passaram diretamente pelas camadas de palha de
cana-de-açúcar constituídas por 2, 4, 6, 8, 10, 15 e 20 t.ha-1, respectivamente.
Segundo HERNANDEZ et al., (2001) uma precipitação simulada com 30 mm
aplicada sobre uma camada de palha equivalente a 12 t.ha-1 após 24 horas da
aplicação foi suficiente para levar o herbicida imazapic para os primeiros 15 centímetros
de profundidade e proporcionar controle eficiente das plantas estudadas.
9
VELINI et al. (2002 a), estudaram a remoção do herbicida tebuthiuron da palhada
de cana-de-açúcar tendo como variáveis: (i) duas formulações, Combine 500 SC e
Perflan 800 BR, (ii) várias espessuras da lâmina d’água aplicada na forma de chuva
simulada (2,5; 5; 10; 20; 35; 50 e 65 mm após a aplicação e duas outras simulações
complementares de 20 mm espaçadas de uma semana), (iii) diferentes quantidades de
palha de cana-de-açúcar sobre o solo (5, 10, 15 e 20 t/ha) e (iv) umidade da palha no
momento da aplicação (seco e úmido). Observaram que a formulação Combine 500 SC
permitiu que fosse removido, em média, 25% mais tebuthiuron da palha quando
comparada à formulação Perflan 800 BR. Entretanto, o pré-molhamento reduziu em
44%, na média das duas formulações, a remoção do herbicida pela água da chuva
simulada. Concluíram, ainda, que a partir de 20 mm de chuva houve boa remoção do
herbicida e que as situações experimentais complementares pouco colaboraram com a
remoção. Por outro lado, segundo VELINI et al., (2002 b), a aplicação de tebuthiuron
sobre palha de cana-de-açúcar, seguida por longos períodos sem chuva reduziu a
liberação deste herbicida para o solo com possível redução de eficiência no controle de
plantas daninhas. SIGUA et al. (1993), sugerem que a menor lixiviação de atrazina
quando aplicado em resíduo fresco, com maior teor de água, se deve à maior
hidrofilicidade deste resíduo em relação aos resíduos envelhecidos.
MEDEIROS & CHRISTOFFOLETI (2002) estudaram o efeito de diferentes
quantidades de palha (0, 5, 10 e 15 t.ha-1) e chuva simulada (0, 10, 20, 30, 40 e 50 mm,
aplicada 24 horas após a aplicação dos herbicidas) sobre o controle de plantas
daninhas anuais com a mistura formulada dos herbicidas diuron e hexazinone e no
controle de tiririca com sulfentrazone. Concluíram que a transposição dos herbicidas
estudados através da palha de cana-de-açúcar aumenta com a ocorrência de chuvas
acima de 10 mm.
Em estudo conduzido por NEGRISOLI et al., (2002), o herbicida diuron, aplicado
sobre uma camada de palha equivalente a 10 t.ha-1 e submetido à precipitação
simulada na ordem de 2,5; 5; 10; 20; 35; 50 e 65 mm (um dia após a aplicação),
observaram que, respectivamente, 8%, 19%, 31%, 41%, 50%, 65% e 59% do produto
transpôs a camada. Em trabalho utilizando metodologia semelhante, com as mesmas
10
precipitações, porém para o herbicida atrazina, TOFOLI et al., (2002) determinaram que
17%, 32%, 50%, 63%, 76%, 86% e 92% do herbicida transpôs camada de palha de
cana-de-açúcar equivalente a 10 t/ha.
Plantas daninhas no agroecossistema cana-crua
Ainda não foi realizado um levantamento abrangente da composição específica
de plantas daninhas em áreas comerciais de cana-de-açúcar com histórico de colheita
mecanizada, mas sabe-se que as mudanças advindas da adoção dessa técnica
promoveram e promoverá alterações. É possível tecer alguns comentários a respeito
das alterações físicas, químicas e microclimáticas provenientes da adoção deste
sistema e suas possíveis conseqüências na germinação e estabelecimento de plantas
daninhas.
Com a introdução da colheita mecanizada de cana-crua e a conseqüente
deposição anual e manutenção de uma camada de palha sobre a superfície do solo é
de se esperar que ocorra um aumento na manifestação do processo alelopático da
cana-de-açúcar sobre as plantas daninhas (CORREIA et al., 2004 e GRAVENA et al.,
2004). A alelopatia é definida como efeitos prejudiciais das plantas de uma espécie
vegetal sobre a germinação, crescimento ou desenvolvimento de outras plantas de
mesma ou de outra espécie por meio da liberação de substâncias químicas no
ambiente comum (PITELLI, 1985). A decomposição vegetal ocorre pela perda da
integridade da membrana celular dos resíduos das plantas permitindo a liberação direta
de uma variedade de compostos, que podem atuar no desenvolvimento das plantas,
atuando de maneira aditiva ou sinergística com outras substâncias presentes na
superfície do solo. A atuação dos microorganismos presentes no solo pode induzir a
produção de compostos tóxicos por degradação enzimática dos conjugados ou
polímeros presentes nos tecidos (PITELLI, 1998). O isolamento do efeito alelopático
dos outros processos de interferência vegetal não é uma tarefa fácil, no entanto, a
potencialização da liberação no ambiente via decomposição de grandes quantidades de
11
palha pode elevar a concentração dos compostos com potencial alelopático e exercer
efeitos significativos de inibição para algumas plantas daninhas.
O desencadeamento da germinação está atribuído a fatores internos e externos.
Os principais fatores internos são: permeabilidade da casca da semente, presença de
inibidores bioquímicos e imaturidade do embrião. Já os fatores externos são:
disponibilidade de água, temperatura do solo, intensidade e qualidade da luz
(FERNANDEZ-QUINTANILLA, et al., 1991). As práticas culturais alteram
substancialmente os fatores externos (condições microclimáticas) daí o grande impacto
que exercem na composição florística de plantas daninhas.
A camada de palha mantida neste sistema de colheita funciona como barreira
física para plântulas em emergência, altera o balanço hídrico, a amplitude térmica da
superfície do solo, a quantidade e a qualidade da luz que atinge a superfície do solo
(VELINI & NEGRISOLI, 2000). O balanço desses fatores é essencial para a germinação
das sementes e para o estabelecimento das plântulas e seus efeitos são diferenciados
de espécie para espécie e, em vários casos, de semente para semente da mesma
espécie.
A barreira física formada pela cobertura morta reduz a oportunidade de
sobrevivência de plantas daninhas com pequenas quantidades de reservas nas
sementes. Para algumas espécies, as reservas não são suficientes para garantir a
sobrevivência das plântulas durante a transposição da camada de palha para ter
acesso à luz e aumentar o processo fotossintético (PITELLI, 1998).
Quando se compara com o solo nu, a presença da palha protege a superfície do
solo da elevação de temperatura durante as horas mais quentes do dia e, em
contrapartida, durante a noite exerce maior resistência à dissipação de calor retido pelo
solo, mantendo a temperatura mais elevada (FENNER, 1980; EGLEY & DUKE 1995). A
amplitude da variação térmica nas camadas superficiais do solo tende a ser menor sob
a cobertura da palha. Esse comportamento exerce grande influencia na germinação das
espécies de plantas daninhas, principalmente daquelas com caráter ruderal mais
desenvolvido (PITELLI, 1998).
12
A disponibilidade de água é um dos fatores mais importantes para o processo de
germinação das sementes e têm participação decisiva nas reações enzimáticas, na
solubilização e no transporte de metabólitos e como reagente na digestão hidrolítica de
proteínas, carboidratos e lipídeos de tecido de reserva. A partir da re-hidratação dos
tecidos das sementes ocorre intensificação da respiração e de todas as outras
atividades metabólicas (CASTRO & VIEIRA, 2001).
A germinação ocorre dentro de certos limites de temperatura, e dentro destes
limites há um valor ótimo (CASTRO & VIEIRA, 2001), que varia de espécie para
espécie e muitas vezes de semente para semente dentro da mesma espécie. A
temperatura influencia a absorção de água e os processos bioquímicos, e, em última
instância, a velocidade e uniformidade da germinação (CASTRO & VIEIRA, 2001).
As sementes apresentam respostas diferenciadas em relação ao fator
luminosidade. De acordo com CASTRO & VIEIRA (2001), as sementes podem ser
classificadas em três categorias quanto às respostas à luminosidade: fotoblásticas
positivas, que apresentam maior capacidade de germinação quando expostas à luz;
fotoblásticas negativas, que germinam melhor no escuro e as fotoblásticas neutras, que
são indiferentes à presença da luz durante o processo germinativo. É importante
destacar que estas categorias não são absolutas e estão sujeitas às alterações ao
longo do tempo. No caso de sementes de plantas daninhas, FELIPE & POLO (1983)
concluíram que as sementes de Sida rhombifolia e S. spinosus se comportam como
fotoblásticas positivas, Amaranthus deflexus e Cassia patellaria também se comportam
como fotoblásticas positivas quando intactas e fotoblásticas neutras quando
escarificadas. Em trabalho conduzido por SALVADOR et al., (2006 a) sementes de Sida
glaziovii podem ser fotoblástica negativa, positiva ou indiferente de acordo com as
condições de temperatura e armazenamento em que são expostas. Num outro trabalho,
SALVADOR et al., (2006 b) concluíram que as espécies Euphorbia heterophylla,
Eleusine indica, Ipomoea purpurea, Sida glaziovii e Brachiaria plantaginea
comportaram-se como indiferentes em relação à presença de luz para germinarem,
sendo que sementes de Eleusine indica apresentaram velocidade de germinação maior
no escuro e sementes de Ipomoea purpurea na presença de luz. Por estes resultados,
13
pode-se inferir que a resposta à luz pode ser alterada pela ação de outro fator
ecológico, como a perda da integridade da semente pela ação de um predador ou pela
temperatura do solo.
Nos últimos anos alguns trabalhos foram conduzidos em condições controladas
com o objetivo de estudar a germinação e a emergência das principais plantas daninhas
da cultura da cana-de-açúcar em função da presença de quantidades variadas de
cobertura de palha. SILVA et al, (2003) observaram que camadas de palha de até 8
t.ha-1 retardaram a emissão de manifestações epígeas de tiririca mas não afetaram a
sua densidade final. Com 16 t.ha-1 de palha houve redução no número de
manifestações epígeas, no entanto, a massa seca acumulada por estas estruturas e a
produção de novos tubérculos não foi afetada. Em outro trabalho DURIGAN, et al
(2004) constatou que a quantidade de 10 t.ha-1 de palha foi suficiente para reduzir a
emissão de manifestações epígeas, mas não conseguiu impedir a formação de grandes
densidades de manifestações epígeas no campo.
AZANIA et al., (2002) constatou que as sementes de Ipomoea quamoclit e
Merremia cissoides conseguiram emergir sob uma camada de 15 t.ha-1 de palha de
cana, variedade SP 79-2233, embora sofresse redução de 46% e 62 %,
respectivamente, de plântulas emergidas quando comparado à ausência de palha.
Concluíram que, dentre as diferentes espécies estudadas, I. hederifolia foi a menos
suscetível ao efeito da camada de palha, ao passo que M. cissoides foi a mais
susceptível. Para Ipomoea grandifolia, MARTINS et al., (1999) obteve redução na
emergência com uma camada de 15 t.ha-1 de palha e estímulo quando a camada foi de
2 a 10 t.ha-1.
GRAVENA et al., (2004), em estudo conduzido em mesocosmos observou que a
camada de palha, por si só, reduziu as densidades das populações de Brachiaria
plantaginea, Digitaria horizontalis, Panicum maximum, Sida glaziovii e Amaranthus
hibridus a níveis de infestação considerados baixos, quando comparados com a
testemunha sem cobertura. Por outro lado, para Senna obtusifolia, Ipomoea nil,
Ipomoea hederifolia e Ipomoea grandifolia, a população de plântulas foi reduzida, porém
para níveis ainda considerados insatisfatórios. CORREIA & DURIGAN, (2004)
14
verificaram que camadas de palha com 5, 10 e 15 t.ha-1 inibiram a emergência de
plântulas das espécies Brachiaria decumbens e Sida spinosa. Para a espécie Digitaria
horizontalis a inibição somente ocorreu com camada igual ou superior a 10 t.ha-1.
Resultados obtidos por ROSSI et al. (2006), em dois experimentos conduzidos
no campo, demonstraram que na presença de palha de cana (7,5 e 15 t.ha-1) as
sementes de Brachiaria plantaginea, Panicum maximum e Commelina benghalensis
não germinaram. Com 15 t.ha-1 ocorreu inibição da germinação de Brachiaria
decumbens e Ipomoea quamoclit, porém, Euphorbia heterophylla, Ipomoea nil e
Ipomoea grandifolia continuaram geminando, embora em menores quantidades em
relação ao solo nú.
Banco de sementes de plantas daninhas
O banco de sementes foi definido como sendo a reserva de sementes viáveis em
contato com o solo (ROBERTS, 1981). O banco de sementes é o responsável pela
reposição de plantas mortas naturalmente ou devido a distúrbios impostos ao ambiente
(BAKER, 1989). Segundo CARMONA (1992), o termo banco de sementes tem sido
usado na literatura internacional para descrever o montante de sementes viáveis e
outras estruturas de propagação presentes no solo ou nos restos vegetais.
A magnitude e as composições botânicas do banco de sementes são variáveis
em função dos distintos habitats (CARMONA, 1992). Para áreas cultivadas, FENNER
(1995) estimou uma variação no tamanho do banco de sementes entre 20.000 e 40.000
sementes.m-2. CARMONA (1995) realizou estimativas das magnitudes dos bancos de
sementes para área de rotação de culturas anuais (6.768 sementes.m-2), várzea
(22.313 sementes.m-2), coroa de pomar de citros (3.595 sementes.m-2) e para área de
pastagem (529 sementes.m-2). O autor associou as diferenças de quantidade de
sementes à freqüência de distúrbios aplicados ao ambiente, inserindo no extremo
superior a várzea cultivada e no inferior a pastagem.
15
A composição do banco de sementes é influenciada pelas práticas culturais e
varia com o sistema agrícola empregado (BENOIT et al., 1992) e geralmente são
compostos por várias espécies, porém, com poucas espécies dominantes que
abrangem entre 70 a 90% do total presente no solo (WILSON 1988).
O banco de sementes apresenta mecanismos de entrada e saída de indivíduos.
A entrada de sementes no solo pode ocorrer de duas maneiras: (i) pela produção e
chuva de sementes oriundas das plantas presentes na área, ou (ii) pela introdução de
sementes originárias de outras áreas por agentes de dispersão. Os principais
mecanismos de saída são; (i) germinação, (ii) morte, e (iii) transporte por agentes de
dispersão (CARMONA 1992). As estratégias de manejo da cultura e de controle das
plantas daninhas alteram de forma decisiva as dinâmicas de entrada e saída de
sementes no banco, influenciando a médio e longo prazo na composição de espécies e
densidades populacionais.
A composição do banco de sementes de plantas daninhas, bem como a
distribuição no perfil do solo reflete parcialmente o histórico da ocupação da área,
principalmente quanto às medidas de controle e às práticas agrícolas adotadas ao
longo do tempo. Isso porque a grande maioria das plantas daninhas produz sementes
com diferentes tipos e intensidades de dormência. Quando são lançadas ao solo, o
enriquece de sementes com diferentes comportamentos em relação à germinação e
emergência. Assim, uma parte das sementes não germina imediatamente, apresentam
grande longevidade e podem permanecer por longos períodos no solo aguardando as
condições requeridas para a germinação. O banco de sementes é composto por uma
mistura de sementes de idades distintas, acumuladas durante vários anos, indicando as
espécies do passado e do presente (GRIME, 1989). Em trabalho conduzido por TOOLE
& BROWN (1946), mesmo depois de 38 anos enterradas no solo, trinta e seis espécies
de plantas daninhas, dentre as 106 espécies que iniciaram o experimento,
apresentaram sementes viáveis.
Entre os fatores culturais que podem afetam o banco de sementes e que são
alterados com a adoção do sistema de colheita de cana-crua em substituição à colheita
16
manual queimada estão: revolvimento do solo, cobertura do solo e a eliminação da
queimada.
As principais pesquisas que tratam do tema banco de sementes procuram
quantificar e determinar a suas composições específicas (CARMONA, 1992; FENNER,
1995), estudar os efeitos dos fatores naturais ou decorrentes de alterações promovidas
por práticas agrícolas adotadas (STARICKA et al., 1990; CLEMENTS et al., 1996;
BUHLER et al., 1997), inclusive dos métodos de controle empregados, incluindo
herbicidas (BALL, 1992; MONQUERO & CHRISTOFFOLETI, 2003) e por fim aplicar o
conhecimento de sua composição e distribuição na tomada de decisões quanto ao
método e intensidade de controle a ser empregado na área (SHIRATSUCHI &
CHRISTOFFOLETI, 2002; BAIO 2001 e ESQUERDO, 2002).
O banco de semente do solo pode ser utilizado para estudar as relações
quantitativas entre a sua densidade e composição e a da flora infestante (DESSAINT et
al., 1990; GRANADOS & TORRES, 1993), mas uma estimativa segura nem sempre é
obtida devido aos diversos fatores que estão envolvidos no processo de germinação e
emergência da plântula e ao padrão agregado da distribuição geográfica das
populações. As melhores estimativas têm sido obtidas quando as parcelas são
pequenas ou quando as distâncias entre os pontos de coleta de amostra são reduzidas,
ou seja, existe uma grande dependência espacial.
Uma análise de correlação utilizada para verificar se o banco de sementes
estimou com segurança a composição de plantas estabelecidas é a correlação de
“Spearman Rank” utilizado por CARDINA et al., 1996; CARDINA & SPARROW 1996 e
SHIRATSUCHI, 2001. O teste de Spearman Rank analisa a hipótese da nulidade de
que as ordens dos dados não possuem correlação. De acordo com STEEL & TORRIE
(1980) e CARDINA (1996) esse tipo de correlação é o mais apropriado para dados que
não possuem distribuição normal, como normalmente acontece para dados de banco de
sementes de plantas daninhas e de emergência de plantas no campo (JOHNSON et al.,
1996; ZANIN et al., 1998 e HEISEL et al., 1996). Este teste é semelhante à análise de
correlação linear de Pearson; porém, o teste de Spearman Rank ordena (ranqueia) os
dados amostrados e correlacionam as ordens dos dados (STEEL & TORRIE, 1980). O
17
teste considera, portanto, a composição especifica e a ordem de grandeza das
populações, pois quanto maior a população de plantas no campo será esperada uma
maior presença de suas sementes nas amostras de solo coletadas para avaliação do
banco de sementes.
No sistema de colheita mecanizada de cana-crua ocorre menor movimentação
do solo, pois as operações de adubação não são acompanhadas da operação de
cultivo mecânico do solo e a movimentação do solo é mínima. YENISH et al., 1992
estudou esses efeitos em agroecossistemas de culturas anuais e obteve redução
logarítmica no número de sementes com o aumento da profundidade em sistema de
plantio direto e linear em sistema de cultivo mínimo. CLEMENTS et al., 1996
encontraram mais de 60% do total do banco de sementes concentrado em
profundidades de até 5 cm em solos com cultivo mínimo ou sem cultivo. As sementes
localizadas na superfície ficam mais expostas à predação (CARMONA, 1992 e YENISH
et al., 1992) e ficam mais sujeitas às variações de temperatura e umidade, auxiliando na
quebra da dormência.
Índices fitossociológicos
A composição da comunidade de plantas daninhas em um agroecossistema é
dependente das características de solo, clima e das práticas agronômicas, tais como o
manejo de solo e aplicação de herbicidas (GODOY et al, 1995; VOLL et al., 2001).
Segundo PITELLI (2000), os índices fitossociológicos são importantes para
analisar os impactos que os sistemas de manejo e as práticas agrícolas exercem sobre
a dinâmica de crescimento e ocupação de comunidades infestantes em
agroecossistemas. Esses índices são determinados levando-se em conta a densidade,
distribuição espacial e a biomassa das populações presentes. A densidade relativa
reflete a participação numérica de indivíduos de uma determinada espécie na
comunidade; a freqüência expressa a uniformidade de distribuição espacial das
populações; a dominância relativa representa a relevância de uma espécie em termos
18
da massa global da comunidade infestante e a importância relativa é uma análise
ponderada dos três índices anteriores e indica as espécies mais importantes em termos
de infestação numa cultura.
Numa comunidade de plantas daninhas, nem todas as espécies têm a mesma
importância ou participação na interferência imposta ao desenvolvimento e
produtividade da cultura. Normalmente existem três ou quatro espécies dominantes,
que ocasionam a maior parte dos danos. Além dessas espécies existem as
secundárias, presentes numa menor densidade e cobertura e as acompanhantes, cuja
presença é ocasional e, portanto, não resultam em problemas econômicos aos cultivos
(FERNÁNDEZ-QUINTANILLA et al., 1991).
As composições específicas de comunidades infestantes de diferentes locais
podem ser comparadas utilizando-se o coeficiente de similaridade de Odum (ODUM,
1985), que considera o número de espécies de duas diferentes aéreas e o número de
espécies comuns. Este índice permite comparar as áreas duas a duas quanto à
composição florística, possibilitando a recomendação de tratamentos comuns ou
específicos para cada um dos talhões (MACEDO et al 2003). O coeficiente de
similaridade varia de 0 a 1, sendo máximo quando todas as espécies são comuns as
duas áreas e mínimo quando não há espécies comuns.
Alguns trabalhos têm se dedicado à caracterização e comparação de áreas
agrícolas quanto à composição específica da comunidade de plantas daninhas por meio
dos índices fitossociológicos como são os casos dos trabalhos de MACEDO et al.,
(2003), em áreas de pós-colheita de milho; SOUZA et al., (2003) em áreas de
cupuazeiro e pupunheira; CARVALHO & PITELLI (1992); LARA et al., (2003) e TUFFI
SANTOS, et al., (2004) em áreas de pastagens e ERASMO et al., (2004) em várzeas
destinadas ao cultivo de arroz sob diferentes formas de manejo.
JEKELAITIS et al., (2003) utilizaram os índices fitossociológicos para comparar
as composições específicas de comunidades infestantes da cultura do milho e também
para estudar a dinâmica populacional na cultura do milho e do feijão sob diferentes
sistemas de plantio direto e convencional.
19
Esses índices caracterizam as áreas quanto à densidade, freqüência e acúmulo
de massa pelas diferentes espécies, mas não fornece informação de como suas
populações estão distribuídas nas áreas. Essa idéia pode ser dada em função do índice
de agregação calculado pelo quociente entre a variância e a média (ODUM, 1985).
Segundo DESSAINT et al., (1991) o valor da variância sobre a média dos dados mede
o desvio da unidade, ou seja, valores maiores que a unidade indica um padrão de
agregação espacial. Sendo assim, podem ser identificados três padrões básicos de
distribuição de indivíduos; uniforme, aleatório e agregado. O padrão agregado pode ser
desmembrado em agregado-aleatório quando os grupos formados se distribuem
aleatoriamente, agregado-uniforme, quando os grupos estão distribuídos
uniformemente e agregado-agregado quando os grupos estão concentrados numa
região (ODUM, 1985). A amostragem realizada em populações agregadas deve ser
mais criteriosa do que em populações uniformemente distribuídas. No caso específico
para comunidades de plantas daninhas o mais comum é que a distribuição apresente
padrão agregado com diferentes índices de agregação (RADOSEVICH & HOLT, 1984).
O padrão agregado que as populações ou comunidades de plantas daninhas
apresentam, em alguns casos podem ser explorados para adoção de aplicação
localizada ou diferencial de herbicidas mediante geração de mapas de distribuição e
desenvolvimento de tecnologias de aplicação adequadas. SHIRATSUCHI (2001)
utilizou o índice de agregação para obter um indicativo de agregação espacial de
plantas daninhas na cultura da soja e obteve valores elevados para as principais
espécies ou grupo de espécies. Por meio de técnicas da geoestatística confeccionou
mapas de classes de infestação e obteve uma economia de 22% em herbicidas
aplicando de forma diferencial, baseando-se no banco de sementes e de 18% e 44%
baseando-se em plantas emergidas. BAIO (2000) avaliou metodologias para obtenção
de mapas de distribuição das plantas daninhas. Baseando-se na variabilidade espacial
das plantas daninhas mapeadas criou um mapa de prescrição com quatro dosagens
diferentes de herbicidas e obteve controle satisfatório das mesmas com uma economia
de 31,6% de herbicida, quando comparado à aplicação em área total. Segundo trabalho
conduzido por ESQUERDO (2002) obteve-se redução de 69,52% na quantidade de
20
herbicida utilizado com a aplicação localizada numa área comercial de 4,1 ha
baseando-se em mapas de distribuição de plantas daninhas cujo padrão era
extremamente agregado. No exterior, vários trabalhos se dedicaram à geração de
mapas de distribuição de plantas daninhas sustentados no banco de sementes
(BENOIT et al., 1992), na flora de plântulas emergentes (CARDINA et al., 1997 e
JOHNSON, et al., 1996) ou buscando verificar a correspondência entre mapas de
distribuição horizontal de sementes e de flora emergente (CARDINA et al., 1996).
Análise multivariada
Os dados coletados num experimento servem para caracterizar um objeto de
estudo, o que é relativamente simples quando o número de variáveis é pequeno.
Porém, a maioria dos objetos de estudo está inserida num universo multivariado e a
questão que surge é, como interpreta-las e extrair informação relevante (STATSOFT
SOUTH AMERICA, 2006).
A padronização é uma capacidade única dos seres humanos e esse processo é
complexo, levando cientistas a buscar o desenvolvimento de metodologias matemáticas
que permitam reconhecer padrões num conjunto de dados, uma vez que a capacidade
humana de identificação por reconhecimento visual vai até a terceira dimensão. A
questão fundamental reside em transformar informação m-dimencional em tri ou
bidimensional. Isto pode ser feito através de várias técnicas entre as quais: Análise de
Agrupamentos, Análise de Correspondência e Análise de correspondência Canônica
(STATSOFT SOUTH AMERICA, 2006).
A análise de agrupamento tem por finalidade reunir, por algum critério de
classificação, os objetos de estudo em grupos, de tal forma que exista máxima
homogeneidade dentro do grupo e máxima heterogeneidade entre grupos. Após terem
sido escolhidas as variáveis, três procedimentos devem ser seguidos: padronização dos
dados, escolha do coeficiente de semelhança e escolha da estratégia de agrupamento
(STATSOFT SOUTH AMERICA, 2006).
21
A padronização dos dados elimina o efeito arbitrário que alguns atributos podem
empreender no grau de similaridade entre objetos, fazendo com que esses atributos
contribuam com o mesmo peso no cálculo do coeficiente de similaridade entre objetos.
A escolha de um coeficiente que quantifique o quanto dois objetos são parecidos é o
segundo passo da análise de agrupamento. Estes coeficientes podem ser medidas de
similaridade e medidas de dissimilaridade. Na primeira, quanto maior o valor observado,
mais similar serão os objetos e na segunda, quanto menor o valor mais similar serão os
objetos. A distância euclidiana é, provavelmente, o coeficiente mais utilizado e
corresponde à distância geométrica num espaço m-dimensional, entre dois objetos A e
B, calculado pela seguinte fórmula matemática.
2222
211 )(...)()( mBmABABAAB XXXXXXd −++−+−=
Dentre as estratégias de agrupamentos mais freqüentes utilizados, destacam-se
aqueles que se caracterizam por serem seqüenciais, aglomerativos, hierárquicos e sem
sobreposição. Os métodos mais utilizados são: Ligação simples, que considera a menor
distância; Ligação completa, que considera a distância máxima; UPGMA, que considera
a média das distâncias entre todos os pares de um grupo com o outro e o Método de
Ward’s, que busca minimizar o soma das diferenças entre os elementos de cada grupo
e o valor médio do grupo. A representação dos resultados da análise de agrupamento é
feita num gráfico com uma estrutura de árvore denominado dendrograma (STATSOFT
SOUTH AMERICA, 2006).
Em ciências agrárias essa técnica pode perfeitamente ser empregada, entretanto
poucos são os trabalhos que a utilizaram. No Brasil, tem sido utilizado na área florestal
para padronização de estratos verticais de florestas (SOUZA et al., 2003; SOUZA &
SOUZA, 2004), e para análise de divergência genética de culturas (OLIVEIRA et al.,
2003; KARASAWA et al., 2005 e SOUZA et al., 2005) e plantas daninhas resistentes a
herbicidas (WINKLER et al., 2003).
22
A análise de correspondência é um importante recurso de análise multivariada
aplicada em conjunto de dados estritamente categóricos, por sua flexibilidade e
facilidade de interpretação (CUNHA JÚNIOR, 2000). Pertence a um conjunto de
técnicas associadas a mapas perceptuais/intuitivos, que segundo HAIR et al., (1995)
são representações visuais de objetos de um indivíduo em duas ou mais dimensões. Os
objetos a serem avaliados podem ser definidos, segundo HAIR et al., (1995) como os
estímulos aos quais se expõe um indivíduo que podem ser avaliados e comparados.
Tais estímulos (ou objetos) podem ser elementos tangíveis (produtos ou objetos
físicos), sensoriais (odores, sabores, temperaturas) e, mesmo, pensamentos (idéias,
slogans e preferências).
A análise de correspondência é especialmente indicada para descrever matrizes
com grande volume de dados discretos e sem uma estrutura claramente definida a
priori. Este método permite a visualização das relações mais importantes de um grande
conjunto de variáveis. Os resultados são apresentados sob forma de gráficos, que
apresentam categorias de cada variável possibilitando observar as relações através da
distância entre os pontos desenhados.
As categorias com localização próxima na projeção plana têm relação mais forte
do que categorias separadas por distâncias maiores. Qualquer categoria, representada
como um ponto na projeção plana pode ser analisado em separado e caracterizada
segundo a proximidade das projeções de todas as outras categorias sobre uma reta
que ligue seu ponto característico à origem dos eixos do plano de projeção. Quando
categorias de uma mesma variável encontram-se em posições próximas no mapa da
análise de correspondência, isto sugere que, independentemente de seus conteúdos
semânticos, elas podem ser consideradas iguais no que tange a distribuição de massas
do total das observações realizadas (BATISTA et al., 2004).
23
CAPÍTULO 2 - BANCO DE SEMENTES DE PLANTAS DANINHAS E SUA
CORRELAÇÃO COM A FLORA ESTABELECIDA NO AGROECOSSISTEMA CANA-
CRUA
RESUMO – O conhecimento da composição específica do banco de sementes,
sua distribuição horizontal e a correlação com a flora emergente são importantes para
nortear a escolha dos herbicidas e a distribuição da aplicação dos mesmos nos talhões.
A colheita mecanizada de cana-de-açúcar acarretou em mudanças significativas neste
agroecossistema, quando proporcionou a manutenção de uma camada de palha,
reduziu a movimentação do solo e eliminou a queimada. Essas alterações refletiram
nas condições microclimáticas e, consequentemente, na composição da flora de plantas
daninhas e do banco de sementes. Durante parte da safra 2004 foram realizados
levantamentos do banco de sementes e da flora emergida em talhões colhidos
mecanicamente, sem queima prévia da palha. Foram realizados estudos
fitossociológicos baseados nos dados de banco de sementes, além de estudo de
correlações com a flora emergida presente aos 120 dias após a colheita (DAC). As
principais espécies presentes no banco foram as pertencentes à classe das
dicotiledôneas anuais, com destaque para o Amaranthus spp., diversas Euphorbiáceas
e Convolvuláceas. As sementes de gramíneas tradicionais da cultura tiveram pouca
participação. Para as principais espécies ou grupo de espécies a distribuição horizontal
foi aleatória ou agregada (V/m > 1,00), mas com valores relativamente baixos de
agregação. O banco de sementes teve baixa correlação com a flora emergente,
independentemente da época de colheita do talhão, da metodologia de quantificação do
banco de sementes e das espécies de plantas daninha.
Palavras-chave: Correlação de Spearman Rank, Fitossociologia, Índice de agregação,
Saccharum spp.
24
Introdução
Muitos são os conceitos encontrados na literatura para tentar definir o banco de
sementes no solo. ROBERTS (1981) o definiu como sendo a reserva de sementes
viáveis encontradas no solo. Esta reserva é um somatório de sementes produzidas e
introduzidas no solo ao longo do tempo através da “chuva de sementes” e que se
mantiveram vivas e dormentes, com sementes recém produzidas. Sendo assim, a
composição do banco de sementes no agroecossistema cana-de-açúcar contém
representantes que predominavam em sistemas anteriores de cultivo da própria cana-
de-açúcar ou associados a culturas anteriores. Isso ocorre porque a maioria das
espécies de plantas daninhas possui adaptação para produzir grande número de
sementes (DEUBER, 1992), que muitas vezes apresentam grande longevidade
(BURNSIDE et al., 1986) e ainda apresentam mecanismos de dormência, distribuindo a
germinação no tempo (CARMONA, 1992).
O tamanho e a composição botânica do banco de sementes são variáveis em
distintos habitats (CARMONA, 1992). Para áreas cultivadas FENNER (1995) estimou
em 20.000 a 40.000 o número de sementes por metro quadrado. A composição do
banco de sementes é influenciada pelas práticas culturais e varia de sistema para
sistema (BENOIT et al., 1992). Geralmente são compostos por várias espécies, mas
poucas são as dominantes (WILSON, 1998).
O banco de sementes apresenta mecanismos de entrada e saída. A entrada de
sementes no solo de uma determinada área pode ocorrer de duas maneiras: (i)
produção e chuva de sementes oriundas das plantas presentes, ou (ii) introdução de
sementes originárias de outras áreas por agentes de dispersão. Por outro lado os
principais mecanismos de saída são; (i) processo de germinação, (ii) morte, (iii)
predação e (iv) transporte por agentes de dispersão (CARMONA, 1992). As práticas de
manejo de plantas daninhas bem como as práticas culturais adotadas no manejo da
cana-de-açúcar, de um modo geral atuam e alteram a dinâmica de entrada e saída de
sementes no banco, refletindo a médio e longo prazo na composição de espécies.
25
O sistema de cana-crua, cuja implantação se iniciou há mais de vinte anos,
trouxe algumas modificações importantes no que se refere às plantas daninhas: (I) -
reduziu a movimentação do solo; (II) – introduziu a colhedeira como agente
disseminador; (III) – eliminou o distúrbio pela queimada e (IV) – proporcionou a
manutenção de uma camada de palha sobre o solo.
A redução na movimentação do solo pelo uso de cultivadores reduziu a
incorporação de sementes recém produzidas no solo e o resgate de sementes de
outras gerações para a superfície. Com a eliminação desse efeito, as sementes ficam
mais sujeitas ao desencadeamento da germinação, à predação e à perda de viabilidade
(YENISH et al, 1992).
A manutenção de uma camada de palha, por sua vez, acarreta em grandes
transformações no sistema. Alteram a dinâmica dos principais herbicidas utilizados na
cultura da cana-de-açúcar (HERNANDEZ et al., 2001; VELINI & NEGRISOLI, 2000;
NEGRISOLI, 2002; VELINI et al., 2004), funcionam como barreira física à emergência,
modificam importantes elementos microclimáticos, a composição microbiológica e o
meio químico (PITELLI, 1998).
O objetivo deste trabalho foi avaliar a composição específica do banco de
sementes de plantas daninhas em áreas ocupadas pela cultura da cana-de-açúcar e a
sua correlação com a flora de plantas daninhas, que se estabeleceu em canaviais com
histórico de colheita mecanizada sem queima prévia da palha.
Material e Métodos
Os dados utilizados neste trabalho foram obtidos durante a safra de 2004, em
vinte e nove talhões de cana-soca com histórico de colheita mecanizada sem queima
prévia da palha, localizados em usinas e fornecedores da região de Ribeirão Preto, SP.
Esses talhões foram separados em três grupos em função da época de corte. O
primeiro grupo composto por talhões colhidos durante o mês de julho (Época 1 ); o
segundo por talhões colhidos a partir da segunda quinzena de agosto até meados de
26
setembro (Época 2) e o terceiro por aqueles colhidos nos meses de outubro e
novembro (Época 3). Os talhões estudados, bem como as datas da realização das
colheitas e as informações mais importantes encontram-se também no anexo 1. Os
elementos meteorológicos registrados durante o período de coleta dos dados foram
extraídos de um conjunto de dados pertencentes ao acervo da área de
Agrometeorologia do Departamento de Ciências Exatas (Unesp – Jaboticabal) e
encontram-se sumarizadas no anexo 2.
Logo após o corte, cada talhão teve seu perímetro geoferenciado (GPS Garmim
12; Software GPS Track maker) e, quando necessário, foi limitado ao tamanho máximo
de cinco hectares, e serviram como área de coleta de amostras para avaliação do
banco de sementes e da flora emergida aos 120 DAC.
As amostras para avaliação do banco de sementes foram coletadas logo após o
corte e foram compostas por 50 sub-amostras cilíndricas (5 cm de diâmetro por 10 de
profundidade), coletadas dentro de cada hectare, ao redor de cinco pontos diferentes,
também georeferenciados (10 sub-amostras por ponto). As sub-amostras foram
coletadas dentro de um raio de 10 metros dos pontos e, após a homogeneização, foram
retirados amostras de 2,5 kg.ha-1 que foram destinadas ao Laboratório de Biologia e
Manejo de Plantas Daninhas (Unesp - Jaboticabal). No laboratório foi feita a contagem
direta de sementes pelo método da extração (lavagem do solo) e contagem de plântulas
emergidas em bandejas (três fluxos de emergência e contagem das sementes
restantes), segundo metodologia proposta por FORCELLA (1988). Com os dados
obtidos foram realizados estudos fitossociológicos sendo calculados os seguintes
índices: densidade relativa (De.R), freqüência relativa (Fr.R.), importância relativa (I.R.)
e índice de agregação (V/m), utilizando fórmulas contidas em MUELLER DOMBOIS &
ELLENBERG (1974). Com os valores das importâncias relativas das espécies
acumuladas nas vinte e nove áreas monitoradas, foi elaborado um “ranking” das
principais espécies quanto à presença de sementes no solo.
A flora emergente foi avaliada aos 120 dias após o corte da cana (DAC) para
estudar a correlação com o banco de sementes. Foi determinada a densidade das
espécies que a compuseram em cada um dos talhões, exceto no USB-30, que por
27
engano sofreu aplicação de herbicida em área total. Para isso, nos vinte e oito talhões
foram demarcadas áreas que ficaram livres da aplicação de herbicidas e que serviram
de local para a realização das amostragens. Para cada talhão estudado essas áreas
foram locadas aleatoriamente, na proporção de duas a cada hectare, e consistiram de
áreas retangulares (4 linhas x 4 metros). A flora emergida foi avaliada, por meio de
quadrados vazados de 0,5 x 0,5 m lançados ao acaso por duas vezes nas entre-linhas
da cultura dentro de cada área demarcada mantida sem controle. As plantas abrangidas
pelo quadrado foram identificadas e contadas, sendo consideradas somente plantas
propagadas por sementes. A correlação entre a composição específica do banco de
sementes e da flora emergente estabelecida nas áreas foi estudada pela correlação de
Spearman Rank, conforme SHIRATSUCHI (2001) e CARDINA et al., (1996) e pelos
coeficientes de similaridade de Odum calculados pela formula:
S = (2A/(B+C))*100 onde:
A = número de espécies comuns entre banco de sementes e flora emergida aos 120
DAC
B = número de espécies do banco de sementes
C = número de espécies na flora emergida aos 120 DAC
Resultados e discussão
Analisando a composição do banco de sementes nos primeiros 10 cm de
profundidade das áreas estudadas, foram encontradas sementes de 33 espécies de
plantas daninhas (Tabela 1). Outras estruturas de reprodução, tais como, tubérculos e
rizomas que normalmente não são detectados por esse tipo de amostragem não foram
encontrados, o que justifica a ausência ou o pouco destaque para espécies
sabidamente importantes na cultura como Cynodon dactylon e Cyperus rotundus na
relação de espécies encontradas.
28
Tabela 1. Relação de espécies ou gênero cujas sementes foram encontradas durante as avaliações nos talhões estudados. Jaboticabal, 2006.
Nome científico Código* Nome científico Código Acanthospermum hispidum
ACNHI Emilia sonchifolia EMISO
Ageratum conyzoides AGECO Euphorbia heterophylla EPHHL Alternanthera tenella ALRTE Cassia patellaria CASPA Amaranthus spp. AMASS Indigofera hirsuta INDHI Bidens pilosa BIDPI Ipomoea grandifolia IAOGR Blainvillea rhomboidea BLARH Ipomoea hederifolia IPOHF Brachiaria decumbens BRADC Ipomoea quamoclit IPOQU Brachiaria plantaginea BRAPL Lepidum virginicum LEPVI Chamaesyce hirta EPHHI Nicandra physaloides NICPH Chamaesyce hyssopifolia EPHHS Panicum maximum PANMA Commelina benghalensis COMBE Phyllanthus tenellus PYLTE Croton glandulosus CVNGL Physalis angulata PHYAN Cyperus spp CYPSS Portulaca oleraceae POROL Cyperus rotundus CYPRO Sida spp. SIDSS Digitaria insularis DIGIN Solanum americanum SOLAM Digitaria spp. DIGSS Tridax procumens TRQPR Eleusine indica ELEIN --- ---
* código internacional Bayer
Considerando sementes de todas as espécies encontradas e todos os talhões
estudados, o banco de sementes apresentou, em média, aproximadamente 350
sementes.m-2 nos primeiros dez centímetros do solo (Tabela 2). Para Amaranthus spp.,
cujas sementes foram as mais numerosas e freqüentes, observou-se, em média 167
sementes.m-2. Já para as duas espécies de corda-de-viola, Ipomoea hederifolia e I.
quamoclit a quantidade de sementes encontradas foi, em media, 83,3 e 38,4
sementes.m-2, respectivamente. Para as demais espécies que se destacaram, os
números podem ser vistos na Tabela 2. Os valores apresentados não representam o
potencial de infestação imediato do talhão, pois englobam sementes provenientes da
contagem direta e contabilizam também as sementes que originaram plântulas pelo
método do fluxo de emergência, ou seja, sementes dormentes foram contabilizadas. O
valor médio obtido ficou bem abaixo daqueles obtidos por CARMONA (1995) para área
de rotação de culturas anuais (6.768 sementes.m-2), várzea (22.313 sementes.m-2) e
coroa de pomar de citros (3.595 sementes.m-2) e pouco abaixo do obtido para área de
29
pastagem (529 sementes.m-2). O autor associou o gradiente de quantidade de
sementes à freqüência de distúrbios, inserindo no extremo superior a várzea e no
inferior a pastagem. Não há um levantamento abrangente de banco de sementes em
áreas de colheita de cana queimada e corte manual seguida de cultivo mecânico com
implementos tradicionais que realizam movimentação do solo, que possa fornecer um
valor médio do tamanho do banco de sementes nestas áreas. Mas, é bastante claro que
há uma redução na freqüência de distúrbio quando se adota a colheita mecanizada,
pois a queimada é eliminada e a movimentação do solo reduzida.
Nos sistemas com movimentação vertical do solo reduzido as sementes tendem
a se concentrar nas camadas superficiais do solo e na presença da camada de palha,
parte das sementes recém produzidas fica nela retidas. Como as sub-amostras
atingiram até dez centímetros de profundidade e foram coletadas mediante afastamento
da palha os valores obtidos podem estar subestimados o que justifica a baixa
densidade média obtida.
Os resultados de densidade relativa (De.R.) e freqüência relativa (Fr.R.) foram
utilizados para o cálculo da Importância relativa (I.R.) e não são apresentados
individualmente, pois estão, de certa forma contidos neste último índice. A participação,
em termos de importância relativa, de cada espécie na composição do banco de
sementes foi variável de talhão para talhão. Analisando a relação das quatro principais
espécies encontradas em cada talhão (Tabela 3) constatou-se predominância de
sementes de plantas daninhas anuais dicotiledôneas, dentre as quais; Amaranthus
spp., Portulaca oleraceae, Ipomoea spp., Euphorbia heterophylla, Sida spp.,
Chamaesyce hyssopifolia e Croton glandulosus.
As sementes de Amaranthus spp. foram encontradas em vinte dos vinte e nove
talhões estudados, sendo que em nove talhões foi o principal componente do banco em
função da importância relativa. As diversas espécies de caruru estão entre aquelas que
mais produzem descendentes (DEUBER, 1992), as quais apresentam dormência,
distribuindo sua germinação ao longo de vários anos.
Dentre as espécies de corda-de-viola, destacaram-se Ipomoea hederifolia e
Ipomoea quamoclit, sendo que a primeira figurou entre as principais em onze talhões,
30
sendo quatro como a principal espécie. Essas espécies produzem grandes quantidades
de sementes e, por serem relativamente grandes, possuem reserva suficiente para
nutrir as plântulas durante a passagem através da camada de palha. Além disso, em
várias ocasiões, os frutos com as sementes se mantêm ligados às plantas até a época
da colheita e a passagem da colhedeira auxilia na sua disseminação a distâncias
maiores.
31
Tabela 2. Estimativa da quantidade de sementes por m2 das principais espécies ou grupo de plantas que compuseram o banco de sementes dos talhões estudados. Jaboticabal, 2006.
ÁREA Amaranthus SP.
Ipomoea hederifolia
Ipomoea quamoclit Sida spp. Cyperus
spp* Cassia
patellaria Digitaria spp. Panicum maximum
Brachiaria plantaginea OUTRAS TOTAL
FSI-1 123,2 11,2 112,0 11,2 11,2 56,0 324,8 FBV-2 89,6 33,6 22,4 11,2 67,2 224,0 NSF-3 56,0 18,6 74,6 FSC-4 11,2 11,2 67,2 44,8 89,6 369,6 604,8 FBV-5 168 257,6 78,0 11,2 22,4 11,2 11,2 44,8 604,8 UDP-6 140,0 70,0 42,0 28,0 280,0 UAN-7 56,0 112,0 56,0 112,0 28,0 392,0 756,0 FSI-8 201,6 112,0 22,4 11,2 44,8 0 392,0 FSI-9 1120 11,2 67,2 11,2 44,8 78,4 56,0 257,6 1.646,4
USB-10 33,6 44,8 123,2 89,6 291,2 USB-11 100,8 56,0 22,4 44,8 123,2 347,2 COP-13 56,0 22,4 33,6 112,0 FM-14 22,4 11,2 22,4 22,4 78,4 FM-15 67,2 11,2 22,4 100,8 FM-16 22,4 11,2 0 33,6 FSI-17 18,6 18,6 0 37,3 FM-18 11,2 11,2 112,0 200,8 335,2
USM-19 44,8 33,6 0 78,4 USM-20 884,8 11,2 11,2 89,6 996,8 FSC-21 123,2 123,2 246,4 FBV-22 22,4 257,6 11,2 291,2 FBV-23 112,0 100,8 67,2 11,2 22,4 313,6 FBV-24 28,0 14,0 28,0 50,0 112,0 FBV-25 44,8 33,6 11,2 11,2 11,2 11,2 123,2 FSO-26 11,2 33,6 0 44,8 FSO-27 67,2 11,2 123,2 201,6 USM-28 168,0 634,6 802,6 USM-29 224,0 33,6 11,2 246,4 515,2 USB-30 11,2 11,2 168,0 190,4 Média 167,0 83,3 38,4 31,2 57,4 42,2 26,7 61,6 25,0 110,5 350,3
* exceto Cyperus rotundus
32
Tabela 3. Relação das quatro principais espécies que compuseram o banco de sementes dos talhões estudados. Jaboticabal, 2006
Espécies e valores de importância relativa Primeira Segunda Terceira Quarta Área
Espécie Valor Espécie Valor Espécie Valor espécie Valor FSI-1 EPHHL 54,95 AMASS 36,26 --- --- --- --- FBV-2 AMASS 55,17 POROL 20,69 IPOHF 15,52 CASPA 6,90 NSF-3 CYPSS 75 TRQPR 25 --- --- --- --- FSC-4 BIDPI 37,57 BRAPL 18,50 EPHHL 12,14 CVNGL 9,25 FBV-5 IPOHF 50 AMASS 32,61 IPOQU 11,41 CASPA 2,17
UDP-6 IPOHF 46,51 SIDSS 34,88 CYPSS 13,95 SOLAM/ BRADC 2,33
UAN-7 PANMA/ ACNHI 18,18 COMBE 13,64
DIGSS/ SIDSS/ EMISO/ CYPSS
9,09 --- ---
FSI-8 AMASS 51,43 IPOHF 28,57 CASPA 11,43 IPOQU 5,71 FSI-9 AMASS 75,89 ALRTE 13,37 CASPA 4,26 DIGSS 2,28
É P O C A
1
USB-10 CYPSS 65,67 POROL 14,93 AMASS 8,96 SIDSS 5,97 USB-11 POROL 29,17 AMASS 28,13 CYPSS 20,83 DIGSS 12,50 COP-13 SIDSS 68,18 CYPSS 18,18 EPHHS 9,09 POROL 4,55
FM-14 CYPSS 44,44 AMASS 22,22 SIDSS/
COMBE/ ELEIN
11,11 --- ---
FM-15 IPOHF 80 EPHHS/ POROL/ CASPA
6,67 --- --- --- ---
FM-16 CYPSS 80 CASPA 20 --- --- --- ---
FSA-17 AMASS/ CYPSS 50 --- --- --- --- --- ---
FM-18 CYPSS 59,70 CVNGL 35,82 AMASS/ TRQPR/ IPOQU
1,49 --- ---
USM-19 AMASS 57,14 SIDSS 42,86 --- --- --- --- USM-20 AMASS 95,18 ELEIN 3,61 --- --- --- ---
É P O C A
2
FSC-21 CASPA 55,56 PYLTE 44,44 --- --- --- --- FBV-22 IPOHF 93,24 AMASS 5,41 PYLTE 1,35 --- --- FBV-23 AMASS 42,55 IPOHF 28,72 IPOQU 25,53 --- ---
FBV-24 PYLTE 54,55 AMASS/ DIGSS 18,18 IPOHF 9,09 --- ---
FBV-25 AMASS 69,57 IPOHF 13,04
DIGSS/ INDHI/ IPOQU/ CASPA
4,35 --- ---
FSO-26 CASPA 85,71 SIDSS 14,29 --- --- --- ---
FSO-27 POROL 54,90 AMASS 35,29
IPOHF/ SOLAM/ ELEIN/
EPHHS/ NICPH
1,96 --- ---
USM-28 POROL 76,99 AMASS 15,93 ELEIN 5,31 EPHHS 1,77 USM-29 AMASS 56,74 EPHHS 34,04 IPOHF 4,26 ELEIN 2,23
É P O C A
3
USB-30 AGECO 57,89 EPHHS 21,05
AMASS/ PANMA/ IAOGR/ EPHHS
5,26 --- ---
33
Dentre as gramíneas anuais tradicionais das áreas de cana-de-açúcar colhida
queimada e manualmente foram detectadas sementes de Eleusine indica (4
talhões), Digitaria spp. (5 talhões), Brachiaria plantaginea (1 talhão), Brachiaria
decumbens (1 talhão) e Panicum maximum (2 talhões); no entanto, somente a última
espécie foi o principal destaque em um dos talhões. As sementes das gramíneas, de
um modo geral, apresentam longevidade relativamente curta e no sistema de cana-
crua estão mais sujeitas à germinação seguida de morte ao tentarem transpassar a
camada de palha e à predação por pequenos animais (PITELLI, 1998).
Duas espécies que mereceram destaque foram Cyperus spp (exceto Cyperus
rotundus), que foi detectada em dez talhões sendo seis vezes como a principal
componente do banco, e Cassia patellaria que foi detectada em oito talhões, sendo
duas vezes como a principal espécie. Essa última espécie raramente é encontrada
em canaviais como plantas estabelecidas e representa uma fração do banco de
sementes que pode estar associada a ocupações anteriores e, devido à longevidade
e dormência, ainda se faz presente em quantidades elevadas. Segundo GRIME
(1998), o banco de sementes reflete o histórico da ocupação do solo abrigando
espécies que estiveram presentes no passado com alguma importância. Além disso,
segundo FORCELA et al., (2006) os levantamentos de banco de sementes podem
antever futuros problemas potenciais que podem ser causados pelas plantas
daninhas caso ocorra uma inversão de flora devido a alterações nas práticas de
manejo, conforme salientado por FERNANDEZ-QUINTANILLA, (1991).
Considerando a participação das duas principais espécies dentro dos talhões,
constatou-se que as mesmas respondem por mais de 50% do total das espécies em
termos de importância relativa. Segundo WILSON (1988), poucas espécies são as
dominantes e respondem por 70 a 90% do total de sementes presentes no solo.
Somando-se todos os valores de importância relativa das espécies obtida nos
diferentes talhões, obteve-se um “ranking” das principais espécies que se
destacaram na composição dos bancos de sementes (Tabela 4) da região estudada.
Em escala regional o principal componente do banco de sementes foi Amaranthus
spp, com valores de importância relativa acumulada (�I.R.) bastante superior às
demais espécies. As demais plantas daninhas que se destacaram foram as
Cyperaceas anuais e dicoliledôneas anuais (Euphorbiacea, Asteraceae,
34
Mimosaceae e Convolvulaceae). Dentre as espécies da família Convolvulaceae,
observou-se presença mais significativa de Ipomoea hederifolia e Ipomoea quamoclit
que ocuparam o terceiro e o décimo lugar, respectivamente. Dentre as gramíneas
tradicionalmente encontradas nas áreas de cana queimada e colhida manualmente
observou-se a presença de Digitaria spp., Panicum maximum e Brachiaria
plantaginea, que ocuparam o 11º, 16º e 17º lugares, respectivamente.
Essa relação de plantas daninhas compreende espécies que vem ganhando
importância na cultura, como são os casos das Ipomoeas e das Euphorbiaceas,
espécies que ocupavam lugar de destaque no sistema de colheita manual
(gramíneas), e outras espécies que raramente são encontradas como plantas
estabelecidas na cultura da cana-de-açúcar, mas que no passado pode ter tido sua
importância em outras culturas e que agora estão com o desenvolvimento restringido
pelas condições ambientais resultantes da presença da cultura da cana e do manejo
adotado.
As mudanças no processo produtivo das culturas, como foi o caso da colheita
mecanizada da cana-de-açúcar, acarretam em mudanças na composição da flora
emergente de plantas daninhas. No banco de sementes essas alterações ocorrem
mais lentamente devido aos diferentes tipos de banco de sementes que as plantas
daninhas podem apresentar: permanentes e transitórios (GRIME, 1989;
THOMPSON, 1992). Quando permanentes, suas sementes apresentam diferentes
períodos de longevidade, pois respondem diferentemente aos estímulos ambientais
além de estarem sujeitas aos agentes decompositores e predadores (CARMONA,
1992).
Uma maneira de analisar a distribuição espacial das sementes no solo num
determinado talhão é por meio do índice de agregação (V/m), calculado pelo
quociente entre a variância e a média aritmética das amostras. Segundo DESSAINT
et al. (1991), o índice de agregação fornece o desvio da unidade, sendo que valores
superiores indicam padrão de agregação espacial. Analisando os valores obtidos
para as principais espécies ou grupo de interesse nos diferentes talhões estudados,
observa-se que as plantas daninhas apresentam distribuição agregada com
diferentes graus de contagiosidade (Tabela 5). De um modo geral, o padrão
agregado é mais regra que exceção quando se trata de plantas daninhas
35
(SHIRATSUCHI, 2001), mas o grau de contagiosidade, ou seja, intersecção entre as
“agregações” pode ser bastante variável e está relacionado, dentre outros fatores,
com a biologia das plantas daninhas (NORDMEYER et al., 1997) e com a
quantidade de sementes produzidas. No caso das cordas-de-viola, a disseminação
tem ocorrido por meio de colhedeiras e tendem a apresentar redução nos índices de
agregação com o passar do tempo. Por outro lado, as plantas perenes ou àquelas
propagadas por sementes, que completam o ciclo antes da colheita da cana, não
apresentam mecanismos próprios de disseminação e não são levados pelas
colhedeiras tendem a concentrarem suas populações e dispersar-se mais
lentamente.
Tabela 4. Plantas daninhas encontradas nos talhões estudadas e ordenadas em
função da importância relativa acumulada calculada a partir dos dados de banco de sementes. Jaboticabal, 2006.
Posição Planta daninha � I.R. 1º Amaranthus spp. 764,09 2º Cyperus spp.* 438,7 3º Ipomoea hederifolia 372,17 4º Cássia patellaria 262,07 5º Portulaca oleraceae 211,84 6º Sida spp. 197,82 7º Phyllanthus tenellus 106,32 8º Chamaesyce hypossifolia 85,71 9º Ageratum conyzoides 57,89
10º Ipomoea quamoclit 50,9 11º Digitaria spp. 50,01 12º Croton glandulosus 45,07 13º Bidens pilosa 38,67 14º Tridax procumbens 26,49 15º Commelina benghalensis 24,9 16º Panicum maximum 23,44 17º Brachiaria plantaginea 22,41 18º Acanthospermum hispidum 18,7 19º Euphorbia heterophylla 13,95 20º Alternanthera tenella 13,37
* Exceto Cyperus rotundus Obs: não foram consideradas espécies de propagação vegetativa.
36
Tabela 5. Valores de índice de agregação (V/m) obtidos para as principais espécies ou grupos de interesse em função da amostragem do banco de sementes realizada nos talhões estudados. Jaboticabal, 2006.
ÁREA AMASS IPOHF IPOQU SIDSS CYPSS CASPA Cordas-de-viola* Folhas-larga gramíneas TOTAL
FSI-1 2,36 1,00 --- --- --- 0,5 1,00 1,19 0,5 1,33 FBV-2 0,81 0,50 --- --- --- 0,75 0,5 0,64 1,0 0,09 NSF-3 --- --- --- --- 3,00 --- --- 1,00 --- 1,75 FSC-4 1,00 --- 1,00 3,92 --- 0,88 1,00 0,76 2,00 1,09 FBV-5 3,00 3,54 1,29 1,00 --- 0,75 2,58 3,97 0,75 4,19 UDP-6 --- 3,33 --- 1,27 1,22 --- 3,33 2,50 1,00 3,00 UAN-7 --- --- --- 0,00 4,00 --- --- 0,07 2,00 0,07 FSI-8 18,00 10,00 2,00 1,00 4,00 30,00 32,57 --- 32,57 FSI-9 12,03 1,00 3,92 1,00 0,88 1,64 3,07 16,32 -- 14,99
É P O C A
1
USB-10 1,33 --- --- 4,00 1,23 --- --- 1,65 --- 2,06 USB-11 1,77 --- --- --- 0,33 2,53 --- 2,00 0,33 2,25 COP-13 --- --- --- 0,44 0,33 --- --- 0,64 --- 0,89 FM-14 2,00 --- --- 1,00 0,75 --- --- 0,88 1,00 0,93 FM-15 --- 2,67 --- --- --- 1,00 2,67 1,78 --- 1,78 FM-16 --- --- --- --- 0,75 1,00 --- 1,00 --- 1,33 FSI-17 1,00 --- --- --- 1,00 --- --- 1,00 --- 0,50 FM-18 1,00 --- 1,00 --- 1,75 --- 1,00 3,5 --- 1,24
USM-19 0,88 --- --- 0,50 --- --- --- 0,57 --- 0,57 USM-20 14,85 --- --- 1,00 --- --- --- 14,2 0,57 13,33
É P O C A
2
FSC-21 --- --- --- --- --- 3,27 --- 53,19 --- 9,10 FBV-22 0,75 16,26 --- --- --- --- 16,26 13,40 --- 13,40 FBV-23 1,75 2,61 1,00 --- --- 1,00 0,83 1,35 --- 1,57 FBV-24 2,00 1,00 --- --- --- --- 1,00 0,67 2,00 1,33 FBV-25 0,25 3,00 1,00 --- --- 1,00 2,13 2,75 1,00 2,36 FSO-26 --- --- --- 1,00 --- 1,33 --- 0,88 --- 0,88 FSO-27 2,25 1,00 --- --- --- --- 1,00 3,03 1,00 2,44 USM-28 2,33 --- --- --- --- --- --- 4,90 1,00 5,60 USM-29 1,63 1,33 1,00 1,00 --- --- 2,13 6,2 3,00 5,40
É P O C A
3 USB-30 1,00 --- --- --- --- --- 1,00 6,0 1,00 5,38
* Ipomoea hederifolia, I. quamoclit, I. nil, I. grandifolia, I. purpurea, Merremia cissoides
37
A predição da flora de plantas daninhas emergidas a partir de dados relativos
ao banco de sementes para possibilitar decisões antecipadas de controle numa
lavoura não tem sido uma tarefa fácil (ZHANG et al., 1998). Persiste um potencial de
erros de estimativa, para mais ou para menos, dependendo das condições
ambientais que afetam a dormência e a germinação das sementes (FENNER, 1985).
As correlações de Spearman Rank (Tabela 6) mostraram que o banco de
sementes, na proporção e da maneira que foi realizada a amostragem no campo, foi
pouco eficiente para estimar a flora emergente, independentemente da época de
corte da cana e do método laboratorial de determinação utilizado e das espécies
consideradas (Tabela 7). SHIRATSUCHI (2001) utilizou esta correlação para eleger
quais espécies poderiam ter seu controle baseado em mapas de distribuição de
banco de sementes no solo e obteve correlações altamente significativas e com boa
estabilidade para Ageratum conyzoides e Commelina benghalensis em áreas de
plantio direto. Entretanto, sua amostragem foi bem mais intensa, pois foi realizada
numa área menor e considerando o método dos quadrantes para a coleta das
amostras (20 x 20 m), para posterior confecção de mapas de distribuição.
Correlações significativas entre banco de sementes e plântulas emergidas também
foram obtidas nos experimentos realizados por CARDINA et al. (1996) e CARDINA &
SPARROW (1996), mas sempre em condições de pequenas parcelas.
Tabela 6. Correlação de Spearman Rank resultante da comparação entre banco de sementes com a flora emergente (FE) aos 120 DAC. Jaboticabal, 2006
Época de corte Comparação Época 1 Época 2 Época 3
(BST)* x FE 0,015197 ns 0,005812 ns - 0,21769 ns (BSF)** x FE 0,157983 ns - 0,18609 ns 0,04026 ns
Baseado em dados de todas as áreas dentro de cada época de corte; * banco de sementes total (fluxo + contagem); ** banco de sementes fluxo (fluxo)
Tabela 7. Correlação de Spearman Rank resultante da comparação entre banco de sementes das principais espécies (BST) com a flora emergente (FE) aos 120 DAC. Jaboticabal, 2006.
Espécies Comparação
AMASS IPOHF IPOQU SIDSS EPHHI DIGSS
(BST)* x FE 0,24ns 0,37ns - 0,046ns 0,21ns 0,082ns - 0,009ns
Baseado em todas as áreas que apareceram à espécie no banco de sementes ou na flora emergente * banco de sementes total (fluxo + contagem)
38
Utilizando os coeficientes de similaridade de Odum (Tabela 8), que considera
somente a composição específica, para comparar o banco de sementes e a flora
emergente aos 120 DAC, observou-se que os valores foram bastante variáveis, não
apresentando nenhuma correlação em alguns talhões e chegando a mais de 60%
em outros. Também não foi constatada grande variação em função da época de
corte da cana. Os coeficientes médios foram 38,40%; 29,45% e 33,09% para as
época 1, 2 e 3, respectivamente.
Tabela 8. Coeficientes de similaridade de Odum entre a composição do banco de sementes e da flora de plantas daninhas presente aos 120 DAC.
Número de espécies Áreas Banco de
sementes Flora
emergente Comuns C. Odum
FSI-1 10 7 3 35,29 FBV-2 5 5 3 60 NSF-3 2 8 1 20 FSC-4 13 12 8 64 FBV-5 11 9 6 60 UDP-6 5 9 3 57,14 UAN-7 13 9 3 27,27 FSI-8 5 7 1 16,66 FSI-9 9 9 4 44,44
USB-10 6 0 0 0
É P O C A 1
média 38,40 USB-11 7 10 5 58,82 COP-13 4 8 2 33,33 FM-14 5 7 2 33,33 FM-15 4 4 0 0 FM-16 2 3 0 0 FSA-17 2 3 0 0 FM-18 5 4 2 44,44
USM-19 2 3 2 80 USM-20 6 2 1 25 FSC-21 2 10 1 16,66
É P O C A 2
média 29,45 FBV-22 3 6 2 22,22 FBV-23 6 7 1 15,38 FBV-24 4 2 0 0 FBV-25 6 4 1 20 FBV-26 2 6 1 25 FS0-27 7 7 1 28,57 FSO-28 4 3 2 57,14 FSO-29 8 2 2 40
É P O C A 3
média 33,09
39
Considerando que as amostragens de banco de sementes não detectam
plantas perenes como a tiririca e a grama-seda, além de outras espécies rebrotadas
como Cissampelos glaberrima, Pyrostegia venusta, Talinum paniculatum e Vernonia
polyanthes, essas correlações poderiam ser ainda inferiores.
Conclusões
Pelos resultados obtidos concluiu-se que o banco de sementes em áreas de
cana crua apresentou em média 350 sementes.m-2. As principais espécies foram
Amaranthus spp., Cyperus spp., Cassia patellaria, Ipomoea spp., Chamaesyce
hissopifolia, Sida spp .e Phylantus tenellus, mas a correlação com a flora emergente
foi extremamente baixa.
40
CAPÍTULO 3 – FLUXO DE EMERGÊNCIA DE PLANTAS DANINHAS EM
AGROECOSSISTEMA CANA-CRUA
RESUMO – O conhecimento da distribuição temporal da emergência é
importante e pode auxiliar na tomada de decisão e na definição de prioridades no
controle de plantas daninhas na cultura da cana-de-açúcar e essa distribuição é
dependente das condições ambientais no período pós-colheita da cana, da
composição do banco de sementes e do manejo da cultura. O estudo foi realizado
em vinte e oito talhões de cana-de-açúcar na Região de Ribeirão Preto, SP, colhidos
mecanicamente e sem queima prévia da palha. Em cada talhão foram demarcadas
áreas de avaliação (4 linhas x 4 m), na proporção de duas por hectare, as quais
ficaram livres do emprego de qualquer método de controle, e que serviram de local
para as amostragens de plantas emergidas. As amostragens foram realizadas com
quadrados vazados (0,5 m x 0,5 m) lançados aleatoriamente duas vezes em cada
uma das áreas de avaliação. Essas amostragens foram realizadas determinando-se
a densidade por espécie de planta daninha, aos 30, 60, 90, 120 e 200 dias após a
colheita da safra anterior (DAC). Com os dados obtidos foram construídos gráficos
de fluxo de emergência das plântulas e brotos. Concluiu-se que os maiores
aumentos populacionais ocorrem em momentos diferenciados, variando em função
da época de corte da cana-de-açúcar e das plantas daninhas. Entretanto, a
densidade máxima da comunidade de plantas daninhas ocorreu quase que
invariavelmente entre 90 e 120 DAC, sendo esta época ideal para realização de
vistorias dos talhões para caracterização da infestação.
Palavras-chave: Cobertura morta, Corda-de-viola, Cyperus rotundus, Saccharum
spp.
41
Introdução
Além dos fatores intrínsecos aos propágulos o processo de germinação é
influenciado por fatores externos. Os principais fatores externos são: disponibilidade
de água, temperatura do solo, intensidade e qualidade da luz (FERNANDEZ-
QUINTANILLA, et al., 1991). As práticas culturais alteram substancialmente os
fatores externos daí o grande impacto que exercem na composição da flora de
plantas daninhas e na distribuição da emergência no tempo (EGLEY & WILLIAMS,
1991 e LACERDA, 2003).
O longo período de safra da cana-de-açúcar, que se inicia em abril-maio e
estende-se até o final do ano permite que a maior incidência de luz sobre a
superfície se dê sob diferentes condições de temperatura e de umidade do solo. No
início da safra normalmente existe umidade residual da estação chuvosa anterior e
as temperaturas estão em queda. No meio da safra, são encontradas basicamente
duas condições, na primeira o solo encontra-se totalmente seco e as temperaturas
baixas e na segunda, após as primeiras chuvas, o solo está ainda seco e a
temperatura está em elevação. Ao final da safra o solo se encontra úmido e a
temperatura elevada. Essa variação nas condições climáticas, por si só, influencia a
germinação, emergência e desenvolvimento de algumas espécies de plantas
daninhas governando a distribuição regional e sazonal (DEUBER, 1992).
Segundo CASTRO & VIEIRA, (2001) a água tem participação decisiva nas
reações enzimáticas, na solubilização e no transporte de metabólitos e como
reagente na digestão hidrolítica de proteínas, carboidratos e lipídeos de tecido de
reserva. A germinação ocorre dentro de certos limites de temperatura, e dentro
destes limites há um valor ótimo. A temperatura influencia a absorção de água e os
processos bioquímicos, e, em última instância, a velocidade e uniformidade da
germinação. As sementes podem ser classificadas, em três categorias quanto às
respostas à luminosidade: fotoblásticas positivas, que apresentam maior capacidade
de germinação quando expostas à luz; fotoblásticas negativas, que germinam
melhor no escuro e as fotoblásticas neutras, que são indiferentes à presença da luz.
A camada de palha mantida no sistema de colheita mecanizada de cana-de-
açúcar atua modificando as condições microclimáticas, alterando o balanço hídrico,
42
a amplitude térmica do solo (EGLEY & DUKE, 1985) e a intensidade e qualidade de
luz que atinge a região onde estão localizadas as sementes (VELINI & NEGRISOLI,
2000). O balanço desses fatores é essencial para a germinação e para o
estabelecimento das plântulas e seus efeitos são diferenciados de espécie para
espécie e, em determinados casos, de semente para semente da mesma espécie.
As informações sobre a distribuição da germinação são importantes para
orientar a escolha de herbicidas e sua melhor época de aplicação, pois cada
molécula apresenta características intrínsecas que conferem espectro de ação,
eficiência e períodos residuais diferenciados em função das condições climáticas.
Assim, este trabalho teve como objetivo estudar a distribuição da germinação das
diferentes espécies ou grupo de espécies em função da época de corte.
Material e Métodos
Os dados utilizados neste trabalho foram obtidos durante a safra de 2004, em
vinte e oito talhões de cana-soca com histórico de colheita mecanizada, localizados
em usinas e fornecedores da região de Ribeirão Preto, SP. Esses talhões foram
separados em três grupos em função da época de corte. O primeiro grupo foi
composto por dez talhões colhidos durante o mês de julho (Época 1); o segundo por
dez talhões colhidos a partir da segunda quinzena de agosto até meados de
setembro (Época 2) e o terceiro por oito talhões colhidos nos meses de outubro e
novembro (Época 3). Os talhões estudados, bem como as datas da realização das
colheitas e as informações mais importantes encontram-se no anexo 1. Os
elementos meteorológicos registrados durante o período de coleta dos dados foram
extraídos de um conjunto de dados pertencentes ao acervo da área de
Agrometeorologia do Departamento de Ciências Exatas (Unesp – Jaboticabal) e
encontram-se sumarizadas em anexo 2.
Os talhões tiveram o tamanho máximo limitado em cinco hectares e, após o
corte da cana, tiveram seus perímetros geo-referenciados (Garmim 12; Software
GPS Track maker). Em cada talhão foram demarcadas áreas de avaliação, na
quantidade de duas a cada hectare, que ficaram sem aplicação de herbicidas e que
43
serviram de local para a realização dos levantamentos de plantas daninhas
emergidas. As áreas de avaliação constituíram-se de áreas retangulares (4 linhas x
4 metros). O levantamento das composições específicas e densidades das plantas
daninhas emergidas foram realizados aos 30, 60, 90, 120 e 200 dias após o corte
(DAC) utilizando-se de quadrados vazados de 0,5 x 0,5 m lançados ao acaso por
duas vezes dentro de cada área de avaliação. As plantas abrangidas pelo quadrado
de amostragem foram identificadas e contadas. Esses dados foram utilizados para
estudar o fluxo de emergência das principais plantas daninhas ou grupos de plantas,
sendo construídos gráficos das médias em função das diferentes épocas de corte.
Para tanto, utilizaram-se valores médios das diferentes áreas onde a espécie ou
grupo de plantas foi encontrado. As espécies ou conjunto de espécies que tiveram
sua emergência estudada encontram-se na Tabela 1.
Tabela 1. Relação das principais espécies de plantas daninhas que compuseram os conjuntos estabelecidos para o estudo do fluxo de emergência. Jaboticabal, 2006.
Conjunto Componentes CY Cyperus rotundus
CV Ipomoea hederifolia; I. quamoclit; I. nil; I. grandifolia; I. purpurea; Merremia cissoides
FL
Amaranthus spp; Chamaesyce hissopifolia; Croton glandulosus; Bidens pilosa; Solanum americanum: Emilia sonchifolia: Tridax procumbens: Sida spp.; Conyza bonariensis; Physalis angulata, Commelina benghalensis, Euphorbia heterophylla; Phylanthus tenellus.
Resultados e Discussão
Os gráficos contidos na Figura 1 indicaram que o fator umidade e temperatura
estão diretamente relacionados ao fluxo de emergência das espécies que ocorreram
nos talhões.
Considerando particularmente as manifestações epígeas de Cyperus
rotundus – CY (Figura 1 – A), observou-se que para os talhões colhidos na época 1
(baixas temperaturas e solo seco), o maior incremento populacional foi observado a
partir dos 90 DAC, enquanto nos talhões colhidos na época 3 (altas temperaturas e
solo úmido), já ocorreu a partir dos 30 DAC. A partir de 90 DAC, a tendência foi de
44
aumento populacional nos talhões colhidos na época 1 e de redução nos talhões
colhidos na época 3. Na época 3 o crescimento das brotações de cana-de-açúcar e
das plantas daninhas é intenso, acelerando o processo de sombreamento das entre-
linhas da cana-de-açúcar. Segundo NEMOTO et al. (1995) Cyperus rotundus é uma
espécie bastante sensível à limitação de luminosidade, pois com 30% de
sombreamento houve efeito negativo no desenvolvimento da parte aérea e do
sistema subterrâneo. Nos talhões colhidos na época 2 (transição entre época 1 e 3),
a curva de fluxo de emergência se aproximou mais daquela obtida para talhões
colhidos na época 3, com maior incremento populacional a partir dos 30 DAC. Uma
explicação razoável para este fato é que Cyperus rotundus é uma espécie de
propagação vegetativa tendo o tubérculo como unidade básica, ou seja, uma
estrutura dotada de reservas nutricionais e água, deixando as manifestações
epígeas menos suscetíveis às irregularidades nas precipitações que ocorrem neste
período, quando comparados às plântulas de espécies propagadas por sementes.
Além disso, neste período a temperatura está em elevação, o que favorece o
desenvolvimento desta espécie.
Considerando plantas de folha larga (FL) propagadas por sementes (Figura 1-
B), observou-se até 60 DAC maiores incrementos populacionais nos talhões colhidos
na época 3, quando comparado aos talhões colhidos na época 1.
Independentemente da época de corte da cana, a densidade máxima de indivíduos
nas comunidades de plantas daninhas ocorreu aos 120 DAC; entretanto, para os
talhões colhidos na época 3, já aos 60 DAC boa parte da comunidade havia se
estabelecido. Para este grupo de plantas, o comportamento da densidade de plantas
em função do tempo em talhões colhidos na época 2 se aproximou daquela
observada para talhões colhidos na época 1.
No caso do complexo de cordas-de-viola (CV), o comportamento do fluxo de
emergência foi similar ao obtido para o conjunto das demais plantas daninhas de
folha larga cuja propagação ocorre por sementes (Figura 1 – C). Nos talhões
colhidos na época 1 o incremento populacional das espécies de corda-de-viola
ocorreu a partir de 30 DAC; no entanto, foi mais intenso a partir de 60 DAC. No outro
extremo, ou seja, na época 3, ocorreu significativo incremento desde o corte até 60
DAC e outro a partir de 90 DAC. Para os talhões colhidos na época 2 a curva de
45
fluxo de emergência apresenta patamares, devido, provavelmente, a resposta em
função das precipitações pluviométricas seguidos de períodos de estiagem, comuns
nesta época do ano. A partir de 120 DAC, há uma tendência de redução
populacional nos talhões colhidos nas épocas 1 e 3 e de estabilização para àqueles
colhidos na época 2.
Pelos resultados obtidos para as plantas de folha larga propagadas por
sementes, incluso as cordas de viola, pode-se inferir que a estratégia de controle
deste conjunto de plantas pode variar com o avanço da safra. Nos talhões colhidos
nas duas primeiras épocas estudadas, com infestação elevada e distribuição
generalizada destas plantas daninhas o controle poderá ser realizado com
herbicidas pré-emergentes capazes de permanecer no solo ou na palha, atravessar
o período seco do ano e estar disponível para a absorção no início da estação
chuvosa. Se o histórico do talhão for de baixo potencial de infestação, com
populações extremamente agregadas poderá ser destinado ao controle em pós-
emergência das plantas daninhas, porém com alguma ação residual para assegurar
o fechamento das entre-linhas pela cultura. Essa aplicação poderá ser em área total
com pingente, em catação com pulverizadores costais ou com equipamentos de
aplicação localizada.
De um modo geral as maiores populações de plantas daninhas ocorreram
entre 90 e 120 DAC, indicando que esta época é bastante propícia para realização
de vistorias e levantamento da flora emergente na cultura da cana-de-açúcar, tanto
em trabalhos de pesquisa como em parcelas testemunhas mantidas em áreas
comerciais para monitoramento “matologia”, cuja finalidade é caracterizar as
infestações dos talhões para orientar na tomada de decisão quanto a modalidade e
intensidade de controle nas safras seguintes.
46
(A) (B) (C)
0 30 60 90 120 150 180 210-1012345678
Dias após o corte
plan
tas.
m-2
02468
1012141618
plan
tas.
m-2
-1,0-0,50,00,51,01,52,02,53,03,54,04,55,0
plan
tas.
m-2
0 30 60 90 120 150 180 210-1
0
1
2
3
4
5
6
Dias após o corte
plan
tas.
m-2
-0,1
0,0
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
plan
tas.
m-2
0,00,20,40,60,81,01,21,41,61,82,0
plan
tas.
m-2
0 30 60 90 120 150 180 210
0,0
0,2
0,4
0,6
0,8
1,0
Dias após o corte
plan
tas.
m-2
-0,1
0,0
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
plan
tas.
m-2
0,0
0,2
0,4
0,6
0,8
1,0
1,2
plan
tas.
m-2
Figura 1. Fluxo de emergência de Cyperus rotundus (A), folha larga propagada por sementes, exceto corda-de-viola (B) e
Cordas-de-viola (C) em talhões de cana-de-açúcar em função da época de corte. Jaboticabal, 2006.
época 1 época 1 época 1
época 2 época 2 época 2
época 3 época 3 época 3
47
Conclusões
Concluiu-se que os maiores aumentos populacionais ocorrem em momentos
diferenciados, variando em função da época de corte da cana-de-açúcar e das
plantas daninhas. Entretanto, a densidade máxima da comunidade de plantas
daninhas ocorreu quase que invariavelmente entre 90 e 120 DAC.
48
CAPÍTULO 4 - FITOSSOCIOLOGIA DE COMUNIDADES DE PLANTAS
DANINHAS EM AGROECOSSISTEMA CANA-CRUA
RESUMO – Este trabalho teve como objetivo estudar a fitossociologia de
comunidades de plantas daninhas de canaviais colhidos no sistema mecanizado,
sem queima prévia da palha e a similaridade entre talhões. Os levantamentos foram
realizados em vinte e oito talhões comerciais na região de Ribeirão Preto, SP. Em
cada talhão foram demarcadas áreas de coleta e avaliação, na proporção de duas
por hectare, mantidas sem controle, e que serviram de local para as amostragens de
plantas daninhas. As amostragens foram realizadas com quadrados vazados (0,5 m
x 0,5 m) lançados aleatoriamente duas vezes em cada uma das áreas de
observação. Essas amostragens foram realizadas determinando-se a densidade e a
massa seca específica aos 120 DAC. Nesta ocasião, Cyperus rotundus foi a
principal espécie, destacando-se quanto aos valores de importância relativa. As
plantas dicotiledôneas anuais de propagação por sementes também se destacaram,
dentre as quais diversas espécies da família Euphorbiacea e Convolvulacea. Em
contrapartida, as gramíneas tradicionais de áreas de cana colhida depois de
queimada tiveram pouco destaque. O índice e diversidade de espécies das
comunidades variaram de 0 a 1,61. A maioria das espécies ou grupos de plantas
apresentaram padrão agregado (V/m > 1,00) com valores relativamente altos de
índice de agregação. Entretanto, na maioria dos casos, Cyperus rotundus e as
Convolvulaceas apresentaram os maiores índices.
Palavras-chave: Cobertura morta, coeficiente de similaridade, índice de agregação,
Saccharum spp.
49
Introdução
O grau de interferência das plantas daninhas nas culturas agrícolas pode ser
definido como a redução percentual da produção econômica provocada pela
convivência com a comunidade infestante. Esse grau de interferência depende das
ações de fatores ligados à própria cultura (espécie ou variedade, espaçamento e
densidade de plantio), à comunidade infestante (composição específica, densidade e
distribuição) e à época e extensão do período de convivência, podendo, ainda, ser
influenciado pelas condições edáficas, climáticas e de tratos culturais (PITELLI,
1985).
Numa comunidade de plantas daninhas, nem todas as espécies têm a mesma
intensidade na interferência imposta ao desenvolvimento e produtividade da cultura.
Existem três ou quatro espécies dominantes, que são as que originam a maior parte
da interferência. Existem as espécies secundárias, presentes numa menor
densidade e cobertura, e as acompanhantes, cuja presença é ocasional e que
dificilmente resultam em problemas econômicos aos cultivos (FERNÁNDEZ-
QUINTANILLA et al., 1991).
Do ponto de vista agronômico, o conhecimento da estrutura de uma
comunidade de plantas daninhas é muito importante. Antes de estabelecer um
programa de controle é necessário estabelecer uma ordem de prioridades entre as
espécies presentes. As espécies predominantes, pela sua abundância e nocividade,
deverão receber uma atenção especial, concentrando quase todos os esforços de
controle. Embora as espécies secundárias não requeiram uma atenção
individualizada, não se deve ignorar sua presença (FERNÁNDEZ-QUINTANILLA et
al., 1991). Existem exemplos de inversão das importâncias relativas das espécies
devido à adoção de métodos de controle (MONQUERO & CHRISTOFFOLETI,
2003), alteração no sistema de cultivo (VOLL et al., 2001) ou no esquema de rotação
de culturas (BUHLER et al., 1997). No caso da cana-de-açúcar, o deslocamento da
época de corte ou plantio poderá alterar a composição da comunidade de plantas
emergidas e alterar as necessidades e estratégias de controle.
50
Com relação à distribuição das espécies nos agroecossistemas, as
populações de plantas daninhas podem apresentar três diferentes padrões;
agregado, uniforme ou aleatório (MUELLER-DOMBOIS & ELLENBERG, 1974).
A cultura da cana-de-açúcar vem experimentando um grande processo de
mudança no seu sistema produtivo em função da adoção de colheita mecanizada
sem queima prévia da palha. Qualquer mudança no sistema de produção agrícola
acarreta alterações ambientais que, com freqüência, resultam em grande impacto no
tamanho da população de plantas daninhas, pois atuam como fator ecológico não
periódico (PITELLI & KUVA, 1998). Com a repetição sistemática, passam a atuar
como fator ecológico periódico e a tendência é que a comunidade se re-estabeleça
até a capacidade suporte do meio, porém com uma composição específica que
poderá ser diferente. A manutenção da palha e a eliminação da queimada alteraram
a composição de plantas daninhas em áreas antigas de cana-crua e vem se
alterando em áreas mais recentes neste sistema.
A escolha de herbicida, e da época de sua aplicação, bem como a sua
distribuição tem sido realizada com critério definido, mas sem incluir todas as
variáveis necessárias para maximizar o efeito de controle e de redução da
interferência das plantas daninhas sobre a cana-de-açúcar. Dentre estas variáveis
não consideradas o melhor conhecimento da comunidade infestante poderá ser útil
para sustentar decisões e torná-las mais criteriosas.
Diante do exposto, este trabalho teve o propósito de avaliar o fluxo de
emergência, a composição e distribuição da flora de plantas daninhas emergidas em
agroecossistemas de cana-de-açúcar e também verificar a similaridade entre talhões
colhidos no sistema de cana-crua em diferentes épocas da safra.
Material e Métodos
Os dados utilizados neste trabalho foram obtidos durante a safra de 2004, em
vinte e oito talhões de cana-soca com histórico de colheita mecanizada, localizados
em usinas e fornecedores da região de Ribeirão Preto, SP. Esses talhões foram
separados em três grupos em função da época de corte. O primeiro grupo foi
51
composto por dez talhões colhidos de junho até meados de agosto (Época 1); o
segundo por talhões dez colhidos a partir da segunda quinzena de agosto até
meados de setembro (Época 2) e o terceiro por oito talhões colhidos no final de safra
nos meses de outubro e novembro (Época 3). Os talhões estudados, bem como as
datas da realização das colheitas e as informações mais importantes encontram-se
também no anexo 1. Os elementos meteorológicos registrados durante o período de
coletada dos dados foram extraídos de um conjunto de dados pertencentes ao
acervo da área de Agrometeorologia do Departamento de Ciências Exatas e
encontram-se sumarizadas no anexo 2.
Os talhões tiveram o tamanho variando entre três e cinco hectares e após o
corte da cana tiveram seus perímetros geo-referenciados (GPS Garmim 12;
Software GPS Track maker). Em cada talhão foram demarcadas áreas de coleta e
avaliação que ficaram sem aplicação de herbicidas e que serviram de local para a
realização dos levantamentos e coleta das amostras. Essas áreas foram locadas
aleatoriamente, na quantidade de duas a cada hectare e foi constituída de áreas
retangulares (4 linhas x 4 metros). A flora emergente foi avaliada aos 120 dias após
o corte (DAC) utilizando-se de quadrados vazados de 0,5 x 0,5 m lançados ao acaso
por duas vezes dentro de cada área de coleta e avaliação. As plantas abrangidas
pelo quadrado de amostragem foram identificadas, contadas e recolhidas para
determinação da massa seca acumulada por espécie após secagem em estufa com
aeração forçada e ajustada para 75oC, e posterior pesagem em balança.
Com os dados obtidos foram calculados os índices fitossociológicos:
densidade relativa (De.R), freqüência relativa (Fr.R.) e dominância relativa (Do.R),
que por sua vez foram utilizados para o cálculo da importância relativa (I.R.). Além
desses índices foi determinado o índice de agregação (V/m), utilizando de fórmulas
contidas em MUELLER-DOMBOIS & ELLENBERG (1974). Também foi calculado o
Índice de diversidade de espécies de Shannon – (H’) utilizando fórmula contida em
ODUM (1985). Os talhões monitorados foram comparados pelo coeficiente de
similaridade de Odum, considerando conjuntos de plantas especificadas na Tabela
1, através da fórmula:
S = (2A/(B+C))*100 onde:
52
A = número de espécies comuns
B = número de espécies no primeiro talhão
C = número de espécies no segundo talhão
Tabela 1. Relação das principais espécies de plantas daninhas que compuseram os conjuntos estabelecidos para a determinação dos coeficientes de similaridade de Odum entre as comunidades. Jaboticabal, 2006.
Conjunto Componentes CY Cyperus rotundus CD Cynodon dactylon
CV Ipomoea hederifolia; I. quamoclit; I. nil; I. grandifolia; I. purpúrea; Merremia cissoides
FL
Amaranthus spp; Chamaesyce hissopifolia; Croton glandulosus; Bidens pilosa; Solanum americanum: Emilia sonchifolia: Tridax procumbens: Sida spp.; Conyza bonariensis; Physalis angulata, Commelina benghalensis, Euphorbia heterophylla; Phylanthus tenellus.
GR Brachiaria decumbens; Brachiaria plantaginea; Eleusine indica; Panicum maximum; Digitaria spp, Digitaris insularis; Cenchrus echinatus
PER Vernonia polyanthes; Cissampelos glaberrima; Pyrostegia venusta; Talinum paniculatum além de outras espécies não identificadas.
Resultados e Discussão
Os levantamentos de campo detectaram 49 táxons de plantas daninhas,
sendo que algumas não foram identificadas até o nível de espécie, limitando-se ao
gênero, dentre as quais Digitaria spp.; Amaranthus spp. e Sida spp. No caso da
grama-seda não foram medidas sua densidade e sua biomassa, e sua presença foi
detectada visualmente em 10,7% das áreas monitoradas (3 áreas).
Quanto à importância relativa das populações de plantas daninhas nos
talhões avaliados (Tabela 2), observou-se que dezesseis espécies ou gêneros de
plantas daninhas apareceram dentre as quatro primeiras em pelo menos um dos
talhões. A importância relativa é uma ponderação da distribuição das populações na
área, dos seus números de indivíduos e da massa seca acumulada e infere sobre
quais são as espécies mais importantes em termos de infestação. Segundo PITELLI
(2000), os índices fitossociológicos são importantes para analisar o impacto dos
53
sistemas de manejo e das práticas agrícolas na dinâmica de crescimento e
ocupação de comunidades infestantes em agroecossistemas.
Tabela 2. Valores de importância relativa (I.R.) das quatro principais espécies presentes nos talhões aos 120 DAC. Jaboticabal, 2006.
Espécies e valores de Importância relativa Primeira segunda terceira Quarta
Área Espécie Valor (%) Espécie Valor (%) Espécie Valor (%) espécie Valor (%)
FSI-1 SP3* 77,74 CYPRO 22,26 --- --- --- --- FBV-2 CYPRO 99,78 EPHHL 0,19 IPOHF 0,03 --- --- NSF-3 CYPRO 100 --- --- --- --- --- --- FSC-4 CYPRO 83,15 EPHHL 16,72 IPONI 0,06 DIGIN 0,03 FBV-5 IPOHF 97,95 PHBPU 0,81 CYPRO 0,60 IPOQU 0,57 UDP-6 IPONI 76,06 MRRCI 21,12 ERIBO 2,70 IAOGR 0,08 UAN-7 CYPRO 95,94 PTNHY 2,90 CLEAF 0,92 PANMA 0,24 FSI-8 EPHHS 58,86 IPOHF 39,30 CYPRO 1,85 --- --- FSI-9 CYPRO 99,92 TALPT 0,07 --- --- --- ---
É P O C A
1
USB-10 CYPRO 100 --- --- --- --- --- --- USB-11* AMASS 71,57 DIGSS 22,55 POROL 2,78 IPONI 2,06 COP-13 CYPRO 99,20 CVNGL 0,35 DIGSS/
EPHHS 0,22 --- ---
FM-14 CYPRO 99,22 EPHHL 0,44 MRRCI 0,31 --- --- FM-15 ERIBO 78,18 PHYAN 15,45 AMASS 4,05 IAOGR 1,88 FM-16 CYPRO 91,51 IAOGR 6,52 EPHHS 1,76 PYLTE 0,21 FSA-17 VENPO 95,09 IAOGR 3,13 CYPRO 1,49 EMISO 0,15 FM-18 CVNGL 91 CYPRO 8,88 IPOQU 0,12 --- ---
USM-19 CYPRO 100 --- --- --- --- --- --- USM-20 CYPRO 100 --- --- --- --- --- ---
É P O C A
2
FSC-21 CYPRO 99,96 IAOGR 0,03 --- --- --- --- FBV-22 IPOQU 66,44 EPHHL 18,56 IPOHF 13,08 CIGLA 1,37 FBV-23 IPONI 96,87 CYPRO 1,32 SOLAM 0,48 BRAPL 0,42 FBV-24 SOLAM 100 --- --- --- --- --- --- FBV-25 AMASS 80,11 EPHHL 17,33 ERIBO 2,28 IAOGR 0,28 FSO-26 IPOQU 58,17 CVNGL 40,89 ERIBO 0,75 CIGLA 0,16 FSO-27 CYPRO 46,88 BRAPL 40,52 AMASS 9,73 IPONI 2,17 USM-28 AMASS 52,15 CYPRO 46,58 PHYAN 1,25 --- ---
É P O C A
3 USM-29 EPHHS 96,21 EPHHL 3,79 --- --- --- ---
obs: não foi considerada a espécie Cynodon dactylon * espécie não identificada
A espécie Cyperus rotundus destacou-se em vinte áreas monitoradas, sendo
que em treze delas foi a principal planta daninha. Nestas áreas quase sempre
apresentou elevados índices de importância relativa, superior a 90%. Em trabalho
conduzido por SILVA et al., (2003) camadas de palha de até 8 t.ha-1 não reduziram a
emissão de manifestações epígeas de C. rotundus, apresentaram apenas efeito
retardatário. Mas, com dezesseis toneladas houve redução no número de brotações,
mas não afetou a biomassa da parte aérea e o desenvolvimento de novos
tubérculos. Em outro trabalho, DURIGAN et al., (2004) constataram que 10 t.ha-1 de
54
palha reduziram a emissão de manifestações epígeas, mas não impediram a
formação de grandes densidades de indivíduos.
As diferentes espécies de corda-de-viola (Ipomoea nil, I. quamoclit, I.
hederifoia, I. grandifoia, I. purpurea e Merremia cissoides) destacaram-se em
dezessete áreas, sendo que em cinco delas foi o principal grupo de plantas
daninhas, em uma área foram detectadas duas espécies e em duas áreas foram
detectadas três espécies. Trabalhando com uma camada de 15 t.ha-1 de palha de
cana, variedade SP 792233, AZANIA et al., (2002) constatou que as sementes de I.
quamoclit e M. cissoides ainda conseguiram germinar e emergir sobre a palha,
embora com redução de 46% e 62 %, respectivamente, quando comparado à
ausência de palha. Concluíram, ainda que entre as diferentes espécies estudadas, I.
hederifolia foi a menos suscetível à cobertura de palha, ao passo que M. cissoides
foi a mais sensível. Para I. grandifolia, MARTINS et al., (1999) obteve redução na
emergência com uma camada de 15 t.ha-1 de palha e estímulo quando a camada foi
de 2 a 10 t.ha-1.
Outras espécies que se destacaram como a principal em alguma das áreas
foram, Chamaecyce hyssopifolia (2 áreas), Amaranthus spp (3 áreas), Solanum
americanum (1 área), Conyza bonariensis (1 áreas), Vernonia polyanthes (1 área) e
Croton glandulosus (1 área). Um fato interessante e que caracteriza a mudança de
flora é destacado com a presença de V. polyanthes em cana-crua, planta daninha
até então confinada às pastagens.
Dentre as gramíneas tradicionais, Brachiaria plantaginea e Digitaria spp.
destacaram-se em apenas duas áreas cada, ao passo que Panicum maximum foi
destaque em uma das áreas.
Segundo GRAVENA, et al., (2004), a camada de palha, por si só, reduziu as
densidades das populações de B. plantaginea, D. horizontalis, P. maximum, Sida
glaziovii e Amaranthus hibridus a níveis de infestação considerados baixos. Por
outro lado, para Senna obtusifolia, I. nil, I. hederifolia e I. grandifolia a população foi
reduzida, mas para níveis de controle ainda insatisfatórios. No trabalho de CORREIA
& DURIGAN (2004) camadas de palha com 5, 10 e 15 t.ha-1 inibiram a emergência
de plântulas das espécies B. decumbens e Sida spinosa. Para a espécie D.
horizontalis a inibição somente ocorreu com camada igual ou superior a 10 t.ha-1.
55
Além de V. polyanthes e SP3 (espécie não identificada) vale mencionar a
presença de plantas de propagação vegetativa, tais como Talinum paniculatum (1
área), Cissampelos glaberrima (2 áreas), duas espécies ainda pouco disseminadas
mas que acumulam grandes quantidades de biomassa por planta e estão
relacionadas ao sistema de cana-crua. Segundo MATTOS et al., (2001) C.
glaberrima é uma planta de difícil controle, apresentando um vasto sistema
subterrâneo e parte aérea com hábito trepador que se entrelaça na cana.
Considerando a importância relativa acumulada (Tabela 3), C. rotundus foi a
espécie com maior destaque, seguido de várias espécies anuais de propagação por
semente, sendo a maioria dicotiledôneas, com destaque para I. hederifolia, I. nil, C.
hissopifolia, Amaranthus spp, C. glandulosus, I. quamoclit e S. americanum.
Entretanto, para as gramíneas tradicionalmente encontradas em áreas de cana
colhida manualmente com a prévia queimada da palha, somente B. plantaginea e
Digitaria spp estiveram presentes, porém, somente na 12ª e 14ª posições. Além de
C. rotundus, V. polyanthes e SP3 foram outras plantas perenes que mereceram
destaque.
Tabela 3. Lista das espécies de plantas daninhas encontradas nas áreas estudadas ordenadas de forma decrescente em função da importância relativa acumulada aos 120 DAC. Jaboticabal, 2006. Posição Planta daninha � I.R.
1º Cyperus rotundus 1299 2º Ipomoea hederifolia 249 3º Ipomoea nil 177 4º Chamaesyce hissopifolia 158 5º Amaranthus spp 137 6º Croton glandulosus 132 7º Ipomoea quamoclit 125 8º Solanum americanum 100 9º Vernonia polyanthes 95
10º Conyza bonariensis 83 11º SP3* 78 12º Brachiaria plantaginea 41 13º Euphorbia heterophylla 40 14º Digitaria spp 23 15º Merremia cissoides 21
Obs: não foi considerada a espécies Cynodon dactylon * espécie não identificada
56
Pelos resultados obtidos pode se inferir que os herbicidas ou métodos de
controle para uso em cana-crua deverão apresentar, além de capacidade de
passagem pela palha, eficiência de controle sobre C. rotundus e as diversas
espécies de corda-de-viola (M. cissoides e Ipomoea spp).
A distribuição das espécies nos agroecossistemas pode apresentar três
diferentes padrões: agregado, aleatório e regular (RADOSEVICH & HOLT, 1984).
Analisando os dados obtidos para as principais espécies ou grupo de interesse
(Tabela 4), nas diferentes áreas monitoradas, observou-se que as plantas daninhas
apresentam distribuição agregada com diferentes graus de contagiosidade. Os
valores obtidos para as comunidades infestantes indicaram padrão agregado de
distribuição (V/m > 1,00) com valores relativamente altos de índice de agregação,
em média V/m = 125,88. Entretanto, constatou-se que na maioria dos casos onde
agregação foi alta, C. rotundus e as convolvuláceas, que apresentaram índices
médios de 172,9 e 20,45 foram os responsáveis pelo valor elevado. Quando o índice
de agregação (V/m) das comunidades ou populações é elevado, a distribuição
horizontal dos indivíduos forma manchas bastante definidas. Nestes casos existe a
possibilidade de geração de mapas, conforme trabalhos de BENOIT, et al., (1992) e
CARDINA et al., (1997), com bastante segurança e confiabilidade. Esses mapas, por
sua vez podem suportar a aplicação localizada ou diferencial de herbicidas que
certamente resultará em redução do custo de produção, menor impacto ambiental e
uso de herbicidas, conforme demonstrado por LINDQUIST, et al., (1998) em soja e
milho e SHIRATSUCHI & CHRISTOFFOLETI, (2002) na cultura da soja. No caso
dos talhões de cana monitorados, a aplicação localizada é pouco viável
considerando-se a comunidade infestante geral, mas a aplicação diferencial com
acréscimo de produto específico para C. rotundus em determinadas regiões de
alguns dos talhões poderia implicar em economia de herbicidas e redução de custos
de controle de plantas daninhas.
A flora emergente das áreas monitoradas apresentou índices de diversidade
(H’) de espécies variando entre um mínimo de zero observado na área USB-10, com
apenas uma espécie aos 120 DAC, até um máximo de 1,61 obtido para a área FSO-
26 (Tabela 5). De um modo geral, as comunidades mais diversificadas tendem a
requerer mais complementações de controle ou mais combinações de diferentes
57
herbicidas devido à sensibilidade diferencial das diferentes espécies aos herbicidas.
O índice de diversidade de espécies é também um importante indicador de impacto
ambiental, principalmente quando ocorre alteração significativa no sistema de
produção.
Os coeficientes de similaridade de Odum calculados em função da presença
ou ausência de Cyperus rotundus, Cynodon dactylon e as demais espécies
agrupadas em quatro conjuntos: cordas-de-viola; outras folhas largas propagadas
por sementes; gramíneas e perenes oriundas de rebrotas variaram entre 25% a
100% (Tabela 6). Esses resultados sugerem que pode haver condição para o
estabelecimento de agrupamentos de talhões com certo nível de semelhança quanto
à composição específica. No entanto, é importante destacar que esse coeficiente de
similaridade considera somente a ausência ou presença da espécie ou conjunto de
plantas deixando de considerar informações de densidade, biomassa e índice de
dispersão.
Também deve ser ressaltado que o coeficiente de similaridade de Odum
normalmente é calculado em função das espécies individuais presentes, porém,
como neste caso foi utilizado somente para obter um indicativo da existência ou não
de agrupamentos padrões esse coeficiente foi adaptado para comparar talhões
considerando as espécies mais importantes e os conjuntos de espécies
estabelecidos por critérios agronômicos.
58
Tabela 4. Valores de índice de agregação (V/m) obtidos para as principais espécies ou grupos de interesse em função da amostragem de plantas daninhas emergidas aos 120 DAC realizadas nas áreas monitoradas. Jaboticabal, 2006.
ÁREA CYPRO IPOHF IPOQU CORDAS DE VIOLA*
FOLHAS LARGA**
GRAMÍNEAS TOTAL
FSI-1 18,59 0,89 38,76 38,68 34,25 --- 26,60 FBV-2 69,20 8,35 1,00 8,83 6,75 1,00 73,56 NSF-3 45,07 --- 9,00 9,00 3,11 1,00 37,08 FSC-4 1807,62 --- 11,83 21,40 230,62 18,63 1727,00 FBV-5 22,89 32,86 13,37 27,07 23,58 7,06 23,73 UDP-6 --- 28,99 --- 20,48 14,91 1,00 14,32 UAN-7 48,00 --- --- 1,00 19,15 4,00 7,68 FSI-8 15,00 16,75 --- 14,27 18,25 2,00 14,59 FSI-9 727,07 0,89 20,06 16,37 12,66 --- 738,84
É P O C A 1
USB-10 34,96 --- --- --- --- --- 34,96 USB-11 --- --- --- 16,38 117,83 17,14 107,40 COP-13 270,68 --- --- --- 6,97 4,29 233,65 FM-14 47,42 --- --- 1,52 11,84 --- 44,68 FM-15 2,00 --- --- 2,00 3,43 --- 2,89 FM-16 23,87 --- --- 1,78 3,78 --- 26,07 FSI-17 1,86 --- --- 1,40 0,68 --- 2,54 FM-18 11,12 --- 1,93 1,93 3,73 --- 4,83
USM-19 71,08 1,52 --- 1,52 1,29 --- 65,10 USM-20 60,64 --- --- 1,00 2,33 --- 61,08
É P O C A 2
FSC-21 195,40 --- 1,00 3,22 1,97 5,35 184,57 FBV-22 --- 1,56 8,26 6,10 9,25 1,00 9,65 FBV-23 14,00 --- 0,89 6,18 5,12 1,00 13,05 FBV-24 --- --- --- --- 2,29 --- 2,29 FBV-25 --- --- --- 1,00 0,67 --- 0,67 FSO-26 --- --- 1,84 1,84 2,69 --- 2,21 FSO-27 53,00 --- --- 1,22 1,03 1,44 38,51 USM-28 29,49 --- --- --- 1,96 --- 24,38
É P O C A 3
USM-29 --- --- --- --- 3,22 --- 3,22 Média 172,9 11,47 9,81 8,88 20,45 4,99 125,88
* conjunto das cordas de viola ** folhas larga propagadas por semente exceto as cordas de viola
59
Tabela 5. Índice de diversidade das comunidades de plantas daninhas presentes nas áreas estudadas aos 120 DAC. Jaboticabal, 2006.
Àreas Índice de diversidade (H’)
Àreas Índice de diversidade (H’)
USB-10 0,000 FM-16 0,8539 USM-20 0,0705 FM-18 0,9676
FSI-9 0,0893 FSO-27 1,0099 USM-19 0,3051 UAN-7 1,1600 FSC-21 0,3318 FSA-17 1,2084 USM-29 0,3768 UDP-6 1,2513 FBV-2 0,4854 FBV-22 1,3131 FM-14 0,5118 FSI-1 1,3272 FBV-24 0,5623 FBV-5 1,3456 FBV-25 0,5623 FSI-8 1,3612 USM-28 0,6299 FM-15 1,4257 NSF-3 0,7393 USB-11 1,5155
COP-13 0,7437 FBV-23 1,5268 FSC-4 0,7615 FSO-26 1,6063
Tabela 6. Coeficiente de similaridade de odum obtidos na comparação entre talhões considerando grupos de plantas. Jaboticabal, 2006.
Área/Área FBV 2
NSF 3
FSC 4
FBV 5
UDP 6
UAN 7
FSI 8
FSI 9
USB 10
---
FSI-1 75 89 80 89 75 75 89 100 57 --- FBV-2 --- 89 80 89 75 100 89 75 57 --- NSF-3 --- --- 91 100 89 89 100 89 50 --- FSC-4 --- --- --- 91 80 80 91 80 67 --- FBV-5 --- --- --- --- 89 89 100 89 50 --- UDP-6 --- --- --- --- --- 75 80 67 25 --- UAN-7 --- --- --- --- --- --- 89 75 57 --- FSI-8 --- --- --- --- --- --- --- 89 50 --- FSI-9 --- --- --- --- --- --- --- --- 57 ---
Área/Área USB 11
COP 13
FM 14
FM 15
FM 16
FSA 17
FM 18
USM 19
USM 20
FSC 21
FSI-1 75 50 56 86 86 100 100 86 100 89 FBV-2 75 75 86 86 86 75 75 86 75 89 NSF-3 89 67 75 75 75 89 89 75 89 100 FSC-4 80 80 67 67 67 80 80 67 80 91 FBV-5 89 67 75 75 75 89 89 75 89 100 UDP-6 89 44 50 50 50 67 67 50 67 80 UAN-7 75 75 86 86 86 75 75 86 75 89 FSI-8 89 67 75 75 75 89 89 75 89 100 FSI-9 75 50 86 86 86 100 100 86 100 89
USB-10 29 86 67 67 67 57 57 67 57 50 Continua….
60
…continuação
Área/Área FBV 22
FBV 23
FBV 24
FBV 25
FSO 26
FSO 27
USM 28
USM 29
--- ---
FSI-1 75 89 --- 67 86 75 57 40 --- --- FBV-2 75 89 --- 67 57 100 86 40 --- --- NSF-3 89 100 --- 57 75 89 75 33 --- --- FSC-4 80 91 --- 50 67 80 67 29 --- --- FBV-5 89 100 --- 57 75 89 75 33 --- --- UDP-6 89 80 --- 57 75 67 50 33 --- --- UAN-7 75 89 --- 67 57 100 56 40 --- --- FSI-8 89 100 --- 57 75 89 75 33 --- --- FSI-9 75 89 --- 67 86 75 57 40 --- ---
USB-10 29 50 --- 40 33 57 67 50 --- --- Área/Área COP
13 FM 14
FM 15
FM 16
FSA 17
FM 18
USM 19
USM 20
FSC 21
---
USB-11 50 57 57 57 75 75 57 75 89 --- COP-13 --- 57 57 57 50 50 57 50 67 --- FM-14 --- --- 100 100 86 86 100 86 75 --- FM-15 --- --- --- 100 86 86 100 86 75 --- FM-16 --- --- --- --- 86 86 100 86 75 --- FSA-17 --- --- --- --- --- 100 86 100 89 --- FM-18 --- --- --- --- --- --- 86 100 89 ---
USM-19 --- --- --- --- --- --- --- 86 75 --- USM-20 89 ---
Área/Área FBV 22
FBV 23
FBV 24
FBV 25
FSO 26
FSO 27
USM 28
USM 29
--- ---
USB-11 100 89 --- 67 86 75 57 40 --- --- COP-13 50 67 --- 33 29 75 86 40 --- --- FM-14 57 75 --- 80 67 86 67 50 --- --- FM-15 57 75 --- 80 67 86 67 50 --- --- FM-16 57 75 --- 80 67 86 67 50 --- --- FSA-17 75 89 --- 67 86 75 57 40 --- --- FM-18 75 89 --- 67 86 75 57 40 --- ---
USM-19 57 75 --- 80 67 86 67 50 --- --- USM-20 75 89 --- 67 86 75 57 40 --- --- USM-21 89 100 --- 57 75 89 75 33 --- ---
Área/Área FBV 23
FBV 24
FBV 25
FSO 26
FSO 27
USM 28
USM 29
--- --- ---
FBV-22 89 --- 67 86 75 57 40 --- --- --- FBV-23 --- --- 57 75 89 75 33 --- --- --- FBV-24 --- --- --- --- --- --- --- --- --- --- FBV-25 --- --- --- 80 67 40 67 --- --- --- FSO-26 --- --- --- --- 57 33 50 --- --- --- FSO-27 --- --- --- --- --- 57 40 --- --- --- USM-28 --- --- --- --- --- --- 50 --- --- --- USM-29 --- --- --- --- --- --- --- --- --- ---
61
Conclusões
Em função dos resultados obtidos concluiu-se que C. rotundus foi a principal
espécie, apresentando os maiores valores de importância relativa seguida das
espécies de corda de viola, principalmente I. hederifolia e I. quamoclit, e outras plantas
de folha larga de propagação por sementes. O complexo de cordas-de-viola e
principalmente a população de C. rotundus apresentaram distribuição com elevados
índices de dispersão. A variabilidade dos coeficientes de similaridade obtido nas
comparações entre talhões indicou que existe uma tendência de os talhões formarem
agrupamentos padrões em função da maior ou menor semelhança quanto à
composição específica.
62
CAPÍTULO 5 - PADRÕES DE INFESTAÇÃO DE PLANTAS DANINHAS EM
AGROECOSSISTEMA CANA-CRUA.
RESUMO – Foi objetivo deste trabalho a obtenção de padrões de infestação de
plantas daninhas na cultura de cana-de-açúcar com histórico de colheita mecanizada
sem queima prévia da palha utilizando-se índices fitossociológicos das principais
espécies ou conjunto de espécies de planta daninha. Para obtenção dos índices
fitossociológicos, foram escolhidos vinte e oito talhões na região de Ribeirão-Preto, SP,
sendo que na escolha dos mesmos procurou-se abranger três épocas de colheita;
seca, úmida e transição entre seca e úmida. Em cada talhão foram geo-referenciados e
demarcadas áreas de avaliação e coleta (4 linhas x 4 m), na proporção de duas por
hectare, que ficaram livres do emprego de qualquer método de controle, e que serviram
de local para as amostragens de plantas emergidas no campo (densidade e biomassa).
As amostragens foram realizadas aos 120 dias após o corte (DAC) com quadrados
vazados (0,5 m x 0,5 m) lançados aleatoriamente duas vezes em cada uma das áreas
testemunhas. Com os dados obtidos foram calculados os índices fitossociológicos:
importância relativa – I.R. e índice de agregação – V/m. Esses índices foram calculados
para a espécie Cyperus rotundus (CY), e para quatro conjuntos de espécies: cordas de
viola (CV), outras folhas larga propagada por sementes (FL), gramíneas (GR) e
perenes oriundas de rebrotas (PER), dando origem a dez variáveis. Essas variáveis
foram submetidas à análise de correspondência para avaliar as mais discrepantes e
que poderiam estar contribuindo de forma mais intensa para formação de grupos. A
análise de agrupamento foi realizada utilizando como coeficientes de dissemelhança as
distâncias euclidianas e o método seqüencial, aglomerativo, hierárquico e sem
sobreposição (SAHN – Método de Ward´s). Foi possível distinguir quatro grupos em
função da importância relativa (I.R.) das espécies ou conjunto de espécies e cinco
grupos de talhões em função do índice de agregação (V/m), sendo que dentro de
alguns grupos houve formação de sub-grupos.
Palavras-chave: análise de correspondência, análise de agrupamento, cobertura
morta, fitossociologia, índice de agregação, Saccharum spp.
63
Introdução
Dentre os fatores bióticos, as plantas daninhas estão entre os principais
componentes do agroecossitema que interferem no desenvolvimento e na
produtividade das culturas. A presença dessas plantas pode interferir no processo
produtivo, competindo pelos recursos do meio, hospedando pragas e doenças ou
interferindo nas práticas culturais e na colheita (PITELLI, 1985). Com relação às perdas
de produtividade na cana-de-açúcar, segundo LORENZI (1988), podem chegar a 85%.
Os recursos dispensados para o controle das plantas daninhas correspondem em
média a 8% do custo total de produção da cana-planta e de 7% a 14% para a cana-
soca (AGRIANUAL, 2006).
A utilização de herbicidas químicos de controle é o método mais utilizado, pois
as áreas que a cana-de-açúcar ocupa são bastante extensas. Para melhor utilização
desta tecnologia o conhecimento das características dos herbicidas, das condições do
ambiente e da composição específicas da comunidade infestante são fatores
relevantes. O conhecimento mais aprofundado da composição da flora de planta
daninha poderá contribuir, sem dúvida, na redução dos custos destinados ao controle
de plantas daninhas, pois os recursos poderão ser empregados de maneira mais
criteriosa e específica em função das características da área, dos herbicidas e da
comunidade infestante.
Alguns trabalhos têm se dedicado a descrever os agroecossistemas quanto à
composição específica de plantas daninhas e os reflexos das práticas culturais nesta
composição. Em grande parte deles tem se recorrido aos índices fitossociológicos
(LARA et al., 2003, SOUZA et al., 2003) e a comparação entre áreas, na maioria dos
casos, tem sido realizada determinando-se pelo coeficiente de similaridade proposto
por SORENSEN (1972), que apresenta como limitação o fato de considerar somente a
composição de espécies, deixando de lado tamanho das populações, o acúmulo de
biomassa e suas distribuições. Além disso, com essa técnica somente é possível
comparar as áreas duas a duas (MACEDO, et al., 2003), o que dificulta a obtenção de
padrões de infestação. O agrupamento de talhões com algumas similaridades, se
realizado com ferramentas estatísticas e se considerados os índices relevantes e
práticos, poderá ser bastante útil na tomada de decisões.
64
Um procedimento estatístico que pode ser utilizado para o estabelecimento de
grupos padrões é a análise multivariada de dados pela técnica de agrupamento, que
permite a construção de dendrogramas que arranja os grupos em função do coeficiente
de dissimilaridade, distância euclidiana ou outros coeficientes. Na ciência das plantas
daninhas ROWE et al. (1997) e WINKLER et al. (2003) recorreram a esse tipo de
análise de dados para estudar a divergência genética de Euphorbia esula e Euphorbia
heterophylla, respectivamente.
Com estes argumentos, foi objetivo deste trabalho verificar a possibilidade de
obtenção de padrões de infestação de plantas daninhas na cultura da cana-de-açúcar
colhida mecanicamente através da análise de agrupamento, utilizando como variáveis
os índices fitossociológicos importância relativa e índice de agregação das diferentes
espécies e grupos de espécies.
Material e Métodos
Os dados utilizados neste trabalho foram obtidos durante a safra de 2004, em
vinte e oito talhões de cana-soca com histórico de colheita mecanizada, localizados em
usinas e fornecedores da região de Ribeirão Preto, SP. Esses talhões foram separados
em três grupos em função da época de corte. O primeiro grupo foi composto por dez
talhões colhidos no mês de julho (Época 1); o segundo por dez talhões colhidos a partir
da segunda quinzena de agosto até meados de setembro (Época 2) e o terceiro por
oito talhões colhidos no final de safra nos meses de outubro e novembro (Época 3). Os
talhões estudados, bem como as datas da realização das colheitas e as informações
mais importantes encontram-se no anexo 1. Os elementos meteorológicos registrados
durante o período de coleta dos dados foram extraídos de um conjunto de dados
pertencentes ao acervo da área de Agrometeorologia do Departamento de Ciências
Exatas e encontram-se sumarizadas no anexo 2.
Os talhões tiveram o tamanho limitado ao valor máximo de cinco hectares e,
após o corte da cana, tiveram seu perímetro geo-referenciado (GPS Garmim 12;
Software GPS Track maker). Em cada talhão foram demarcadas áreas de coleta e
avaliação que ficaram sem aplicação de herbicidas e que serviram de local para a
realização dos levantamentos e coleta das amostras. Essas áreas foram locadas
65
aleatoriamente, na quantidade de duas a cada hectare e foi constituída de áreas
retangulares (4 linhas x 4 metros). A flora emergente foi avaliada aos 120 dias após o
corte (DAC) utilizando-se de quadrados vazados de 0,5 x 0,5 m lançados ao acaso por
duas vezes dentro de cada área de coleta e avaliação. As plantas abrangidas pelo
quadrado de amostragem foram identificadas, contadas e recolhidas para
determinação da massa seca acumulada por população após secagem em estufa com
aeração forçada e ajustada para 75oC, com posterior pesagem.
Os dados obtidos foram utilizados para a obtenção da importância relativa (I.R.)
e do índice de agregação (V/m) das plantas daninhas, calculados segundo fórmulas
contidas em MUELLER-DOMBOIS & ELLENBERG (1974). Esses índices foram
calculados para a espécie Cyperus rotundus (CY) e para quatro conjuntos de espécies,
obedecendo a critérios agronômicos: cordas de viola (CV), outras plantas de folha larga
propagada por sementes (FL), gramíneas (GR) e perenes oriundas de rebrotas (PER).
Os principais componentes de cada conjunto encontram-se listados na Tabela 1. A
combinação dos grupos de plantas com os índices fitossociológicos originou dez
variáveis: CY_I.R.; CY_V/m; CV_I.R.; CV_V/m; FL_I.R.; FL_V/m; GR_I.R.; GR_V/m;
PER_I.R. e PER_V/m, que foram submetidas às técnicas de análise de
correspondência para seleção de variáveis segregantes.
Tabela 1. Relação das principais espécies de plantas daninhas que compuseram os conjuntos estabelecidos para a análise de agrupamento dos talhões. Jaboticabal, 2006.
Conjunto Componentes CY Cyperus rotundus
CV Ipomoea hederifolia; I. quamoclit; I. nil; I. grandifolia; I. purpúrea; Merremia cissoides
FL
Amaranthus spp; Chamaesyce hissopifolia; Croton glandulosus; Bidens pilosa; Solanum americanum: Emilia sonchifolia: Tridax procumbens: Sida spp.; Conyza bonariensis; Physalis angulata, Commelina benghalensis, Euphorbia heterophylla; Phylanthus tenellus.
GR Brachiaria decumbens; Brachiaria plantaginea; Eleusine indica; Panicum maximum; Digitaria spp, Digitaris insularis; Cenchrus echinatus
PER Vernonia polyanthes; Cissampelos glaberrima; Pyrostegia venusta; Talinum paniculatum além de outras espécies não identificadas.
A seleção de variáveis foi realizada pela análise de correspondência
multivariada. Para isso os valores dos índices fitossociológicos obtidos nos diferentes
66
talhões foram categorizados em dois níveis, A e B (Ex: CY_I.R - A e CY_I.R - B).
Quando o valor ficou abaixo da média atribuiu-se o valor 1 (um) para o nível A e 0
(zero) para o nível B, por outro lado, quando o valor ficou acima da média atribuiu-se o
valor 0 (zero) para o nível A e 1 (um) para o nível B. Com este procedimento as
variáveis quantitativas foram transformadas em variáveis categóricas. A matriz,
formada por valores 0 e 1, obtida foi multiplicada pela sua transposta, resultando na
Tabela de Burt, que foi submetido à análise de correspondência.
Determinado as variáveis mais importantes, processou-se a análise de
agrupamento para avaliar a formação de grupos com características comuns,
procurando considerar, também, os aspectos importantes para orientar ou direcionar
estratégias de manejo. Como os grupos de plantas estabelecidos para este estudo não
apareceram em todas as áreas, a análise de agrupamento foi realizada em etapas,
uma para as variáveis do tipo I.R. (importância relativa) e outra para as variáveis do
tipo V/m (índice de agregação). Quando determinado grupo de plantas não apresentou
representante na área, foi acrescentado o valor 0 (zero) quando a variável foi do tipo
I.R.; já para as variáveis do tipo V/m, esse procedimento não é válido e a área foi
retirada da análise.
A análise de correspondência e de agrupamento em função dos variáveis
selecionadas foi realizada com o auxílio do programa computacional Statistica. Nas
Análises de agrupamento utilizaram-se a distância euclidiana como coeficiente de
semelhança e o método SANH (Sequential, Agglomerative, Hierarchical and
Nonverlaping methods) - Método de Ward´s.
Resultados e Discussão
A análise de correspondência indicou que todas as variáveis poderiam estar
contribuindo para a formação de agrupamentos, pois os pares de variáveis (A e B)
ocuparam posições opostas, principalmente CV_I.R.; CY_I.R.; PER_V/m; FL_I.R.;
CY_V/m (Figura 1). Por outro lado, as variáveis relativas aos conjuntos GR e PER
estiveram presentes com valores elevados em poucas áreas e ficaram fora da análise
de agrupamento. As variáveis escolhidas para a realização das análises de
agrupamento foram, portanto, CY_I.R.; CV_I.R.; FL_I.R.; CY_V/m; CV_V/m e FL_V/m.
67
CY_V/m_B
CY_IR_B
CY_IR_A
CV_V/m_B
CV_IR_B
CV_IR_A
FL_V/m_B
FL_IR_B
FL_IR_A
GR_V/m_B
GR_V/m_A
Gr_IR_B
Gr_IR_A
PE R_V/m_B
P ER_V/m_A
PER_IR_B
PER_IR_A
-1,5 -1,0 -0,5 0,0 0,5 1,0
Dimensão 1; Autov alor: 0,21476 (21,48% de inércia)
-1,0
-0,5
0,0
0,5
1,0
1,5
2,0
2,5
Dim
ensã
o 2;
Aut
oval
or:
0,19
588
(19,
59%
de
inér
cia)
CY_V/m_A
CV_V/m_AFL_V/m_A
Figura 1. Mapa perceptual/intuitivo resultante da análise de correspondência aplicada às variáveis do tipo importância relativa e índice de agregação das diferentes espécies ou grupo de espécies de plantas daninhas. Jaboticabal, 2006
Sendo assim, a primeira análise foi realizada em função da importância relativa
das espécies ou conjunto de espécies (CY_I.R.; CV_I.R. e FL_I.R.) e foi aplicada
englobando as vinte e oito áreas. Na segunda análise, foram consideradas somente as
dezoito áreas que apresentaram valores de V/m para os três conjuntos de espécies
selecionadas (CY_V/m; CV_V/m e FL_V/m).
Os resultados obtidos encontram-se sumarizados nos dendrogramas das
Figuras 2 e 3, sendo que considerou-se as amplitudes dos valores obtidos em todas as
áreas analisadas para o estabelecimento dos conceitos alto, médio e baixo, utilizados
na descrição e discussão dos resultados obtidos e a seguir apresentados.
A análise de agrupamento utilizando as variáveis que retratam a importância
relativa das espécies ou conjunto de espécies (CY_I.R.; CV_I.R. e FL_I.R.), que é uma
ponderação entre a densidade, a biomassa e a freqüência, revelaram o
estabelecimento de quatro grupos principais (X, Y, Z e W) com características comuns
de infestação, conforme dendrograma da Figura 2. Uma análise mais minuciosa indicou
que dentro de alguns grupos houve formação de sub-grupos com diferenciais
importantes e que poderão ser úteis na tomada de decisões quanto às estratégias de
controle e manejo.
68
Os cinco talhões que compuseram o grupo X (FM-18, USM-29, FBV-24, FM-15 e
USB-11) apresentaram elevada participação de plantas de folha larga propagadas por
sementes (FL_I.R.), baixa participação de Cyperus rotundus (CY_I.R.) e participações
variáveis das cordas-de-viola (CV_I.R.), mas que nunca superou a participação do
conjunto das demais plantas de folha larga (FL_I.R.). Pôde ser identificado dois sub-
grupos: Xa (USB-11), caracterizado pela alta participação de gramíneas (GR_I.R.)
(Tabela 2) que ficou fora da análise, e Xb (FM-15; FM-18; FBV-24 e; USM-29),
caracterizado pela baixa participação dos demais conjuntos. Durante vários anos o foco
principal das indústrias de herbicidas presentes no mercado de cana-de-açúcar e dos
canavicultores foram plantas daninhas das famílias Poaceae e Cyperaceae, pois
destas famílias sempre se destacava algumas espécies dentre as principais e que
causavam os maiores danos. Os herbicidas específicos para as dicotiledôneas, como o
2,4 D, tiveram sua utilização bastante reduzida, mas as sementes destas espécies, por
apresentarem dormência e longevidade permaneceram no solo e, com a mudança no
sistema, vem ganhando importância nos canaviais.
O grupo Y foi composto por sete talhões (FSO-26, FSI-8, FBV-22, UDP-6, FBV-
23, FBV-25, FBV-5) que se caracterizaram pela maior participação das cordas de viola
(CV_I.R.) e participações variáveis de Cyperus rotundus (CY_I.R) e folhas larga
(FL_I.R), mas que nunca superaram a participação das cordas de viola. Dependendo
da participação do conjunto composto pelas folhas largas (FL_I.R), puderam ser
distinguidos três sub-grupos, Ya (FBV-5; FBV-25; FBV-23 e UDP-6), caracterizado pela
baixa participação de folhas larga (FL_I.R.), Yb (FBV-22), caracterizado por uma
participação significativa das plantas de folha larga (FL_I.R.) e Yc (FSI-8 e FSO-26),
caracterizado pelo equilíbrio entre a participação das cordas-de-viola (CV_I.R.) e das
demais plantas de folha larga (FL_I.R.). Um fator importante e que pode ter contribuído
para o estabelecimento deste padrão de comunidade é que a germinação e a
emergência de várias espécies de corda-de-viola são pouco afetadas pela camada de
palha (MARTINS, et al., 1999; AZANIA, et al., 2002 e GRAVENA, et al., 2004). Além
disso, as colhedeiras introduzidas neste sistema funcionam como eficientes agentes de
disseminação, fazendo com que as populações se espalhem rapidamente nos
diferentes talhões.
Os talhões que se encaixaram no grupo Z (FSC-4, FM-16, UAN-7, FM-14, COP-
13, FSI-9, FSC-21, USM-20, USM-19, USB-10, NSF-3, FBV-2) caracterizaram-se pela
69
alta participação de Cyperus rotundus, com elevados valores de CY_I.R. e baixa
participação dos outro conjuntos de espécies, baixos valores de CV_I.R. e FL_I.R.
Esse grupo acolheu doze talhões estudados e apresentou talhões com elevada
similaridade, com distâncias euclidianas muito próximas de zero (FBV-2; NSF-3; USB-
10; USM-19; USM-20; FSC-21; FSI-9; COP-13 e FM-14) e talhões com maior
diferenciação, ou seja, maiores distâncias (FSC-4; FM-16 e UAN-7), levando a
formação de dois sub-grupos distintos, Za e Zb. Os dois sub-grupos apresentam em
comum a elevada participação de Cyperus rotundus (CY_I.R.), acima de 90%;
entretanto, o subgrupo Zb apresentou uma baixa participação, porém significativa, das
cordas de viola (CV_I.R.) (FM-16) ou plantas de folha larga propagadas por sementes
(FL_I.R.) (FSC-4 e UAN-7). Das espécies importantes no sistema tradicional de
colheita, ou seja, manual queimada, Cyperus rotundus foi uma das que mantiveram a
sua participação nos canaviais com grande importância confirmando resultados de
pesquisas que apontavam essa tendência (SILVA et al., 2003 e DURIGAN et al., 2006).
Os talhões que se encaixaram no grupo W, (FSI-1, FSC-17, FSO-27 e USM-28)
tiveram participação de Cyperus rotundus, com CY_I.R. variando entre 1,49 a 46,88%
Em função da participação diferencial das demais espécies, constatou-se que houve
divisão em dois sub-grupos: Wa, cujos talhões apresentaram grande participação de
variáveis que ficaram ausentes da análise de agrupamento (GR_I.R. e PER_I.R.),
conforme pode ser observado na Tabela 2; Wb (USM-28), caracterizado por equilíbrio
entre a participação das plantas de folha larga e tiririca (CY_I.R. e FL_I.R.). A presença
de plantas perenes, entre elas Vernonia polyanthes, Cissampelos glaberrima e
Pyrostegia venusta, antes confinadas às áreas de pastagens ou áreas marginais, pode
estar relacionada à redução na freqüência de distúrbio mecânico no solo. Além disso,
essas plantas, quando ceifadas pela colhedeira podem estar sendo induzidas a
desenvolver mais intensamente o sistema subterrâneo, dificultando o controle pelos
herbicidas registrados para a cana-de-açúcar, que são naturalmente pouco eficientes
para estas plantas. A ocorrência destas plantas indica que os herbicidas hoje utilizados
em pastagens possam ser futuramente aproveitados na cultura da cana-de-açúcar para
conter o avanço destas populações.
Quando se utilizou as variáveis que indicam o índice de agregação das
populações das espécies ou do conjunto de espécies (CY_V/m; CV_V/m e FL_V/m),
cinco grupos puderam ser observados (P, Q, R, S, T.), conforme Tabela 2 e
70
dendrograma da Figura 3. Os três primeiros, P, Q e R, foram grupos unitários, ou seja,
apenas um talhão se encaixou no perfil. Caracterizaram-se pelo elevado índice de
agregação de Cyperus rotundus (CY_V/m), superior a 195, mas permaneceram em
grupos diferentes porque os valores de CY_V/m foram muito discrepantes. O grupo P
foi formado pelo talhão FSC-4 e apresentou forte agregação para Cyperus rotuntus
(CY_V/m = 1807,62), para as cordas-de-viola (CV_V/m = 20,32) e para as plantas de
folha larga propagadas por sementes (FL_V/m = 226,52). O grupo Q foi formado pelo
talhão FSI-9 e apresentou forte agregação de Cyperus rotundus (CY_V/m = 727,07) e
para as cordas de viola (CV_V/m = 16,37) e o grupo R, formado pelo talhão FSC-21
apresentou forte agregação somente para Cyperus rotundus (CY_V/m = 195).
O grupo S caracterizou-se por baixos valores de agregação para Cyperus
rotundus (CY_V/m < 30). Fazendo uma análise mais detalhada dentro do grupo,
avaliando os demais conjuntos de plantas, puderam ser identificados dois sub-grupos.
O sub-grupo Sa foi formado pelos talhões FM-15; FM-16; FM-18; FSA-17 e FBV-23 que
apresentaram em comum os mais baixos valores de agregação para todos os
conjuntos considerados, aproximando-se em várias ocasiões ao padrão aleatório de
distribuição (V/m = 1), principalmente para as cordas de viola (CV_V/m) e demais
plantas de folha larga (FL_V/m). O sub-grupo Sb foi composto pelos talhões FSI-1;
FBV-5 e FSI-8, que apresentaram valores de agregação elevados para as cordas-de-
viola.
Um outro grande grupo, denominado como T, caracterizou-se por apresentar
padrão agregado de distribuição com valores médios, dentro da amplitude dos dados,
para Cyperus rotundus (CY_V/m). Os índices variaram entre 45 e 71. Em função dos
índices de agregação dos outros dois conjuntos de espécies puderam ser separados
em três sub-grupos, Ta, Tb e Tc. O sub-grupo Ta, formado pelos talhões FSO-27,
USM-20 e NSF-3, apresentou baixos valores de agregação para as cordas-de-viola
(CV_V/m) e para as folhas larga (FL_V/m), Tb, formado pelos talhões FBV-2 e USM-
19, apresentou baixos valores de agregação para folhas larga (FL) e média para as
cordas-de-viola (CV_V/m) ao passo que Tc, representado pelos talhões UAN-7 e FM-
14 apresentou baixa agregação para as cordas-de-viola (CV_V/m) e média para as
plantas de folha larga (FL_V/m).
A tiririca é uma planta de propagação vegetativa e sua disseminação depende
muito das atividades realizadas pelo homem. Na cana-de-açúcar colhida
71
mecanicamente, ocorre redução da movimentação do solo por meio dos cultivadores,
contribuindo para a redução de sua disseminação. A camada de palha por si só é
incapaz de conter a emergência e o desenvolvimento da tiririca (DURIGAN et al.,
2006), podendo levar a formação de populações extremamente agregadas, conforme
pode ser observado nos grupos P, Q e R. Em contrapartida, plantas propagadas por
sementes, especialmente aquelas que as possuem num tamanho relativamente
grande, com quantidades de reservas suficientes para garantir a passagem da camada
de palha, podem estar sendo beneficiadas. As colhedeiras de cana-de-açúcar
funcionam como excelentes agentes de disseminação de plantas daninhas,
especialmente quando a época de colheita da cana coincide com o fim do ciclo de seu
desenvolvimento e maturação de suas sementes. As principais espécies de corda-de-
viola apresentam esta sincronia e, neste caso, ao longo do tempo tendem a formar
grandes populações, porém com menores índices de agregação.
Alguns trabalhos, dentre os quais os de SHIRATSUCHI, (2001); GREEN &
VENCIL (1997); ENGQVIST et al. (1997) e HEISEL et al. (1997), destacaram o padrão
agregado de populações de plantas daninhas e obtiveram economia de herbicida com
a aplicação diferencial. Essa diferenciação nas taxas de aplicação dentro de um
mesmo talhão ainda é de difícil adoção em escala comercial, pois envolve o
desenvolvimento de outras tecnologias, tais como a obtenção de mapas de distribuição
e sensores. Entretanto, é possível prever, com os resultados obtidos que a simples
diferenciação entre talhões ou mesmo glebas, baseados no conhecimento da sua
composição de plantas daninhas, distribuição e organização em padrões poderá
acarretar em economia de despesas de controle.
Nos dois dendrogramas obtidos não foi observada nenhuma relação entre os
grupos formados e a época de corte dos talhões. A análise de agrupamento padroniza
os talhões formando grupos, mas associar os grupos com práticas culturais adotadas e
suas implicações (quantidade de palha, época de corte, espaçamento, adubação, etc.)
não é uma tarefa fácil. Além disso, as variáveis associadas às práticas culturais como,
por exemplo, a época de corte, contém embutidas em si outras inúmeras variáveis
ambientais, dentre elas temperatura, precipitação pluviométrica, insolação, umidade
relativa, etc. Quando o objetivo é estabelecer os grupos, pode se recorrer à análise de
agrupamento; quando se quer associá-los às práticas culturais pode recorrer à análise
72
FM
-18
US
M-2
9
FB
V-2
4
FM
-15
USB
-11
FS
O-2
6
FS
I-8
FB
V-2
2
UD
P-6
FB
V-2
3
FB
V-2
5
FB
V-5
FS
C-4
FM
-16
UA
N-7
FM
-14
CO
P-1
3
FS
I-9
FS
C-2
1
US
M-2
0
US
M-1
9
US
B-1
0
NS
F-3
FBV
-2
US
M-2
8
FS
O-2
7
FS
A-1
7
FS
I-10
20
40
60
80
100
120
140
Link
age
Dis
tanc
e
de correspondência e quando se quer associá-los às variáveis ambientais e/ou
edáficas, a análise de correspondência canônica é a melhor alternativa.
Figura 2. Dendrograma resultante da análise de agrupamento realizado em função da importância relativa (I.R.) dos diferentes conjuntos de plantas daninhas calculado, a partir de dados coletados aos 120 dias após o corte da cana. Jaboticabal, 2006
X Y Z W
73
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7
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FS
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FS
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40
60
80
100
120
140
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Figura 3. Dendrograma resultante da análise de agrupamento realizado em função do índice de agregação (V/m) dos diferentes conjuntos de plantas daninhas, calculado a partir de dados coletados aos 120 dias após o corte da cana. Jaboticabal, 2006.
Conclusões
Os resultados obtidos neste estudo mostraram que é possível estabelecer
padrões de comunidades de plantas daninhas do agroecossistema cana-crua por meio
de técnicas estatísticas mutivariadas de análise de dados aplicadas aos índices
fitossociológicos das espécies ou conjunto de espécies. Utilizando variáveis do tipo
importância relativa (I.R.) foi possível segregar quatro agrupamentos e com variáveis
do tipo índice de agregação (V/m) cinco grupos foram estabelecidos.
R S T
74
CAPÍTULO – 6 CORRESPONDENCIA ENTRE VARIÁVEIS DA COMUNIDADE
INFESTANTE DE PLANTAS DANINHAS E VARIÁVEIS LIGADAS AO AMBIENTE
CANA-CRUA.
RESUMO – O objetivo deste trabalho foi estudar as correlações entre variáveis
relacionadas à comunidade infestante (densidade relativa – De.R.; dominância relativa
– Do.R. ; importância relativa – I.R. e índice de agregação – V/m), textura do solo
(SOL) e variáveis relacionadas à cultura (quantidade inicial de palha - PLH) e seu
manejo (época de corte - EC). Essas variáveis foram obtidas para vinte e oito talhões
localizados na região de Ribeirão Preto, SP, com histórico de colheita mecanizada sem
queima prévia da palha, com colheita distribuída entre julho e novembro de 2004. Logo
após o corte foram coletadas amostras de palha para obtenção da quantidade média
de massa seca por metro quadrado e de solo para determinação da textura. Para a
obtenção das variáveis relacionas à comunidade infestante foram demarcados áreas
de avaliação e coleta (4 linhas x 4 m), na proporção de duas por hectare, que ficaram
livre do emprego de qualquer método de controle, e que serviram de local para as
amostragens de plantas emergidas no campo. As amostragens foram realizadas aos
120 DAC (dias após o corte) com quadrados vazados (0,5 m x 0,5 m) lançados
aleatoriamente duas vezes em cada uma das áreas testemunhas. Com os dados
obtidos foram calculados os índices fitossociológicos: importância relativa – I.R. e
índice de agregação – V/m. As variáveis obtidas foram categorizadas, quando
necessário, e foram submetidas à análise de correspondência. Concluiu-se que
Cyperus rotundus apresentou maior densidade, biomassa seca de manifestações
epígeas e importância relativa quando os talhões foram colhidos na época de transição
entre a época seca e úmida (época 2) e apresentaram menores quantidades de palha.
Para as cordas de viola e demais plantas de folha larga ocorreu o inverso, ou seja, a
importância relativa foi maior nos talhões colhidos na época úmida (época 1) e com
maiores quantidades iniciais de palha do que nos talhões colhidos nas demais épocas.
Palavras-chave: análise de correspondência, cobertura morta, fitossociologia,
Saccharum spp.
75
Introdução
Na cultura da cana-de-açúcar, especialmente nas soqueiras colhidas
mecanicamente e sem queimada, a composição da flora de plantas daninhas que se
estabelece é resultante da composição do banco de diásporos e de suas respostas às
inúmeras variáveis que na sua maioria são derivadas do manejo imposto pelo produtor.
A manutenção da palha alterou e vem alterando as condições microclimáticas,
químicas e biológicas do solo com influência direta na germinação e estabelecimento
de plantas. A quantidade inicial de palha e a velocidade de sua decomposição são
fatores importantes e estão relacionados com a nutrição, variedade, época de corte e
espaçamento entre-linhas, entre outros fatores. A palha mantida sobre a superfície atua
como barreira física à emergência de plântulas, altera o balanço hídrico, a
luminosidade que atinge o solo a temperatura além e reduzir a amplitude térmica. A
partir da decomposição dos seus tecidos potencializa-se a liberação de compostos
alelopáticos podendo interferir no desenvolvimento de algumas espécies de planta
daninha (PITELLI, 1998).
O longo período de safra, que se inicia no outono, atravessa o inverno e termina
no verão submete os talhões a diferentes condições macroclimáticas (precipitação
pluviométrica, temperatura e luminosidade), justamente no período que a relação entre
cultura e comunidade de plantas daninhas é mais importante, na fase de
desenvolvimento inicial até o fechamento das entre linhas. As variações ocorrem
principalmente com relação a dois componentes, temperatura e precipitação
pluviométrica. Os talhões colhidos no inicio de safra apresenta umidade residual da
estação chuvosa anterior e a temperatura ambiente é elevada, porém com tendência
de queda à medida que se aproxima do inverno. Os talhões colhidos no inverno
encontram condições de baixa umidade e temperatura. Com o início das primeiras
chuvas, em meados de setembro, a umidade volta de forma lenta, pois as precipitações
ainda são escassas e o estoque no solo é reduzido. A temperatura encontra-se em
elevação. No final da safra as precipitações pluviométricas são freqüentes e a
temperatura média é elevada.
Em suma, a composição específica de plantas daninhas que se estabelece em
talhões de cana-crua é condicionada a vários fatores ligados a cultura, a composição
do banco de diásporos às condições ambientais, sendo, portanto, de natureza
76
multivariada. Alguns dos fatores podem estar fortemente correlacionados com a
composição e distribuição de plantas daninhas, outros nem tanto, e a identificação dos
principais fatores associados pode ser importante para a predição da infestação
dependendo da época de colheita da cana, da quantidade de palha, entre outros.
O presente trabalho teve por objetivo verificar, através da análise de
correspondência, as correlações de algumas variáveis relacionadas ao ambiente ou ao
manejo imposto pelo produtor (época de corte, quantidade inicial de palha e textura do
solo) com variáveis da comunidade infestante (densidade, dominância, importância e
índice de agregação das espécies ou conjunto de espécies).
Material e Métodos
Os dados utilizados neste trabalho foram obtidos durante a safra de 2004, em
vinte e oito talhões de cana-soca com histórico de colheita mecanizada, localizados em
usinas e fornecedores da região de Ribeirão Preto, SP. As localizações dos talhões
monitorados, bem como as informações mais importantes encontram-se no anexo 1.
Os elementos meteorológicos registrados durante o período de coleta dos dados foram
extraídos de um conjunto de dados pertencentes ao acervo da área de
Agrometeorologia do Departamento de Ciências Exatas (Unesp – Jaboticabal) e
encontram-se sumarizadas no anexo 2.
Os talhões tiveram o tamanho limitado ao valor máximo de cinco hectares e
após o corte da cana, tiveram seu perímetro geo-referenciado (GPS Garmim 12;
Software GPS Track maker). Foram escolhidos de modo a abranger cinco meses de
colheita (julho a novembro). Logo após o corte foi realizada amostragem de solo e da
quantidade de palha. As amostras de solo foram enviadas ao Laboratório de Solos e
Adubos (FCAV/UNESP – Campus de Jaboticabal) para a determinação da classe
textural. A amostragem para determinação da quantidade de palha foi realizada por
meio de quadrados vazados (0,5m x 0,5m) que foram lançados ao acaso por quatro
vezes no talhão estudado. A palha contida dentro dos limites do quadrado foi recolhida
para determinação da massa seca com auxilio de estufa com aeração forçada e
ajustada para 75oC, com posterior pesagem. Com esses procedimentos foram
originadas três variáveis relacionadas ao ambiente ou às práticas culturais, sendo duas
77
do tipo categórico; época de corte (EC), e textura do solo (SOL) e uma do tipo
quantitativo; quantidade inicial de palha (PLH).
Para avaliação das plantas daninhas, em cada talhão foram demarcadas
parcelas de avaliação e coleta que ficaram livres da aplicação de herbicidas e que
serviram de local para a realização dos levantamentos e coleta das amostras. Essas
parcelas consistiram de áreas retangulares (4 linhas x 4 metros) e foram demarcadas
na proporção de duas por hectare. Em cada uma das parcelas demarcadas foi
realizado levantamento da densidade (De) e massa seca específica (Do) de plantas
daninhas presentes aos 120 DAC. A avaliação da flora emergida foi realizada por meio
de quadrados vazados de 0,5 x 0,5 m lançados ao acaso por duas vezes dentro de
cada área demarcada mantida sem controle. As plantas abrangidas pelo quadrado de
amostragem foram identificadas, contadas e recolhidas para determinação da massa
seca específica com auxilio de estufa com aeração forçada e ajustada para 75oC com
posterior pesagem.
Os dados obtidos foram utilizados para a obtenção da importância relativa (I.R.)
e do índice de agregação (V/m) das plantas daninhas, calculados segundo fórmulas
contidas em MUELLER-DOMBOIS & ELLENBERG (1974). Esses índices foram
calculados para a espécie Cyperus rotundus (CY), e para dois conjuntos de espécies,
obedecendo a critérios agronômicos: cordas de viola, (CV) e outras plantas de folha
larga propagada por sementes, (FL). Os principais componentes de cada conjunto
encontram-se listadas na Tabela 1. A combinação dos grupos de plantas com os
valores de densidade (De), dominância (Do), importância relativa (I.R.) e índice de
agregação (V/m) deu origem a doze variáveis quantitativas diretamente relacionadas
com a composição de plantas daninhas; CY_De; CY_Do; CY_I.R.; CY_V/m; CV_De;
CV_Do; CV_I.R.; CV_V/m; FL_De; FL_Do; FL_I.R. e FL_V/m.
Tabela 1. Relação das espécies de plantas daninhas que compuseram os conjuntos estabelecidos para as análises de correspondência. Jaboticabal, 2006.
Conjunto Componentes CY Cyperus rotundus CV Ipomoea hederifolia; I. quamoclit; I. nil; I. grandifolia; I. purpúrea; Merrêmia
cissoides FL Amaranthus spp; Chamaesyce hissopifolia; Cróton glandulosus; Bidens
pilosa; Solanum americanum: Emilia sonchifolia: Tridax procumbens: Sida spp.; Conyza bonariensis; Physalis angulata, Commelina benghalensis, Euphorbia heterophylla; Phylanthus tenellus.
78
Para a realização da análise de correspondência os valores das variáveis,
quando quantitativos, foram categorizados, ou seja, foram divididos em dois (A e B) ou
três (A, B e C) níveis. Quando a categorização ocorreu em dois níveis aos valores
abaixo da média atribuiu-se o valor 1 (um) para o nível A e 0 (zero) para o nível B, por
outro lado, aos valores acima da média atribuiu-se o valor 0 (zero) para o nível A e 1
(um) para o nível B. Quando a categorização ocorreu em três níveis o procedimento foi
semelhante com a diferença que a amplitude dos dados foi dividida em três níveis.
Com esse procedimento originou-se a matriz, formada por valores 0 e 1 que foi
submetida a análise de correspondência com o auxílio do programa computacional
Statistica. A análise foi realizada em etapas tomando-se conjuntos de variáveis que
pudesse proporcionar a extração de informações relevantes. Os resultados foram
representados na forma de mapas perceptual-intuitivos, onde as categorias com
localização próxima na projeção plana têm relação mais forte do que categorias
separadas por distâncias maiores.
Resultados e Discussão
Os talhões estudados, de acordo com a época de colheita, puderam ser
divididos em função da época de corte em três conjuntos: época 1, colhida em julho;
época 2, colhida de meados de agosto a meados de setembro e época 3, colhida em
outubro e novembro. A época 1 é caracterizado por baixas temperaturas e solo seco, a
época 3 é caracterizado por altas temperaturas e solo úmido e a época 2 pela elevação
de temperatura e umidade do solo. As análises físicas de solo indicaram que textura
variou entre média a muito argilosa, sendo a maioria de textura argilosa. A quantidade
inicial de palha apresentou um gradiente, variando entre um mínimo de 6,51 t.ha-1 na
área USB-10 a um valor máximo de 19,91 t.ha-1 na área FM-16 (Tabela 2). A
quantidade dos resíduos (folhas e palmitos) resultantes da colheita mecanizada de
cana-crua depende de uma série de condições relacionadas à planta ou à condição de
manejo da mesma (ABRAMO FILHO et al., 1993). Segundo TRIVELIN et. al. (1996), a
quantidade de palha em canaviais colhidos sem queima varia de 10 a 30 t.ha-1.
79
Tabela 2. Variáveis relacionadas ao ambiente ou ao manejo utilizadas na análise de correspondência. Jaboticabal, 2006.
Área Textura do solo Época de corte Quantidade inicial de palha
FSI-1 Muito argilosa (SOL_C) Época 1 (EC_A) 11,74 (PLH_B) FBV-2 Argilosa (SOL_B) Época 1 (EC_A) 7,59 (PLH_A) NSF-3 Média (SOL_A) Época 1 (EC_A) 9,62 (PLH_A) FSC-4 Argilosa (SOL_B) Época 1 (EC_A) 9,21 (PLH_A) FBV-5 Muito argilosa (SOL_C) Época 1 (EC_A) 13,56 (PLH_B) UDP-6 Média (SOL_A) Época 1 (EC_A) 9,52 (PLH_A) UAN-7 Argilosa (SOL_B) Época 1 (EC_A) 12,13 (PLH_B) FSI-8 Argilosa (SOL_B) Época 1 (EC_A) 11,50(PLH_B) FSI-9 Muito argilosa (SOL_C) Época 1 (EC_A) 13,27 (PLH_B)
USB-10 Média (SOL_A) Época 1 (EC_A) 6,51 (PLH_A) USB-11 Média (SOL_A) Época 2 (EC_B) 11,50 (PLH_B) COP-13 Argilosa (SOL_B) Época 2 (EC_B) 11,75 (PLH_B) FM-14 Argilosa (SOL_B) Época 2 (EC_B) 15,78 (PLH_C) FM-15 Argilosa (SOL_B) Época 2 (EC_B) 11,73 (PLH_B) FM -16 Argilosa (SOL_B) Época 2 (EC_B) 19,91 (PLH_C) FSA-17 Média (SOL_A) Época 2 (EC_B) 13,99 (PLH_B) FM -18 Argilosa (SOL_B) Época 2 (EC_B) 14,65 (PLH_B) USM-19 Média (SOL_A) Época 2 (EC_B) 14,89 (PLH_B) USM-20 Média (SOL_A) Época 2 (EC_B) 10,58 (PLH_B) FSC-21 Argilosa (SOL_B) Época 2 (EC_B) 12,32 (PLH_B) FBV-22 Argilosa (SOL_B) Época 3 (EC_C) 17,07 (PLH_C) FBV-23 Argilosa (SOL_B) Época 3 (EC_C) 17,79 (PLH_C) FBV-24 Argilosa (SOL_B) Época 3 (EC_C) 14,20 (PLH_B) FBV-25 Argilosa (SOL_B) Época 3 (EC_C) 11,90 (PLH_B) FSO-26 Argilosa (SOL_B) Época 3 (EC_C) 16,03 (PLH_C) FSO-27 Argilosa (SOL_B) Época 3 (EC_C) 18,08 (PLH_C) USM-28 Argilosa (SOL_B) Época 3 (EC_C) 17,88 (PLH_C) USM-29 Argilosa (SOL_B) Época 3 (EC_C) 17,51 (PLH_C)
Os valores de densidade (De.), dominância (Do.), importância relativa (I.R.) e
índice de agregação (V/m) para Cyperus rotundus (CY) e para os conjuntos das cordas
de viola (CV) e das demais plantas de folha larga propagadas por sementes (FL)
calculados a partir dos dados coletados, encontram-se na Tabela 3.
80
Tabela 3. Valores de densidade (De.), dominância (Do.), importância relativa (I.R.) e do índice de agregação (V/m) para os diferentes conjuntos de plantas utilizados como variáveis nas análises de correspondência. Jaboticabal, 2006.
Áreas CY_De CV_De FL_De CY_Do CV_Do FL_Do CY_I.R CV_I.R. FL_I.R. CY_V/m CV_V/m FL_V/m FSI-1 0,34 0,25 0,04 0,18 0,00 0,00 22,60 0,00 0,00 18,59 38,68 1,33 FBV-2 2,14 0,21 0,09 3,95 0,02 0,40 99,78 0,03 0,19 69,20 8,83 1,97 NSF-3 1,50 0,09 0,17 2,55 0,00 0,00 100,00 0,00 0,00 45,07 9,00 1,05 FSC-4 38,65 0,54 17,32 8,07 1,28 4,32 83,15 0,06 16,74 1807,62 20,32 226,52 FBV-5 0,50 3,70 0,39 0,50 0,95 0,00 0,60 99,33 0,00 22,89 27,07 6,56 UDP-6 0,00 0,76 0,11 0,00 3,22 3,22 0,00 97,26 2,70 # 20,48 5,43 UAN-7 2,00 0,01 1,10 3,72 0,00 0,54 95,94 0,00 3,82 48,00 1,00 22,83 FSI-8 0,08 0,22 0,31 0,15 0,71 0,34 1,85 39,30 58,86 15,00 14,27 28,50 FSI-9 70,59 0,20 0,30 7,07 0,59 0,67 99,92 0,01 0,00 727,07 16,37 5,13
USB-10 1,91 0,00 0,00 1,50 0,00 0,00 100,00 0,00 0,00 34,96 # # USB-11 0,00 3,00 45,62 0,00 5,17 10,99 0,00 2,06 75,31 # 16,38 129,35 COP-13 105,00 0,00 21,00 33,70 0,00 9,50 99,20 0,00 0,58 270,68 # 6,97 FM-14 21,00 0,30 2,60 1,57 1,05 0,78 99,22 0,31 0,46 47,42 1,52 13,69 FM-15 0,20 0,20 1,10 0,03 0,13 1,09 0,45 1,88 97,67 2,00 2,00 4,13 FM -16 2,80 0,40 0,60 0,32 0,16 0,11 91,51 6,52 1,97 23,87 1,78 3,04 FSA-17 1,17 0,50 0,33 0,05 0,38 0,21 1,49 3,13 0,29 1,86 1,40 0,80 FM -18 0,35 0,03 0,31 7,59 1,41 36,90 8,88 0,12 91,00 11,12 1,93 3,34 USM-19 0,56 0,30 0,40 7,00 0,00 0,00 100,00 0,00 0,00 71,08 1,52 1,78 USM-20 53,60 0,10 0,40 29,40 0,00 0,00 100,00 0,00 0,00 60,64 1,00 1,78 FSC-21 1,89 0,03 0,12 17,20 5,16 0,00 99,96 0,03 0,00 195,00 3,22 3,12 FBV-22 0,00 2,80 2,00 0,00 2,20 0,68 0,00 79,52 19,11 # 6,10 5,67 FBV-23 1,40 2,70 0,40 0,23 2,94 1,22 1,32 97,47 0,73 14,00 6,18 2,33 FBV-24 0,00 0,00 0,50 0,00 0,00 11,60 0,00 0,00 100,00 # # 2,29 FBV-25 0,00 0,10 0,30 0,00 0,03 9,68 0,00 98,82 1,18 # 1,00 0,78 FSO-26 0,00 0,90 1,60 0,00 9,48 12,15 0,00 58,17 41,66 # 1,84 2,25 FSO-27 5,30 0,40 0,90 9,83 2,01 15,80 46,88 2,17 10,43 53,00 1,22 1,10 USM-28 6,30 0,00 1,50 3,36 0,00 12,20 46,58 0,00 53,42 29,49 # 1,96 USM-29 0,00 0,00 1,60 0,00 0,00 6,80, 0,00 0,00 100,00 # # 3,22 Média 11,33 0,63 3,61 4,93 1,32 4,97 46,39 20,94 24,15 226,58 9,10 18,70
# valor inexistente.
81
A textura do solo não teve nenhuma correlação com as variáveis relacionadas à
comunidade infestante, pois não apresentou um comportamento padrão (Figuras 1, 2, 3
e 4). Esse resultado indica que este fator foi pouco importante na definição da
composição e distribuição das espécies de planta daninha nos talhões de cana-crua
estudados. Nos ecossistemas naturais a correlação entre fatores edáficos e
comunidade de plantas ocorre de maneira mais forte e exerce maior influência sobre a
distribuição das espécies vegetais, porém, nos agroecossistemas as alterações
promovidas pelas práticas culturais exercem maior influência. Segundo PITELLI 1998
os fatores ecológicos apresentam influência diferenciada sobre a distribuição de plantas
sendo mais significativo quando for de caráter fortuito, ou seja, fatores periódicos
primários apresentam menor influência quando comparado a um fator periódico
secundário que por sua vez apresenta menor influência em relação a um fator não
periódico.
O gradiente de quantidade de palha mostrou-se bastante associado à época de
corte, ou seja, talhões colhidos na época 3 apresentaram maior quantidade em relação
aos talhões colhidos na época 2, que por sua vez apresentou maior quantidade em
relação aos talhões colhidos na época 1. A quantidade média de palha para as
diferentes épocas de colheita foram 10,46; 13,71 e 16,31t.ha-1 (Tabela 2). Essa
associação pode ser vista em todos os mapas perceptual-intuitivos (Figuras 1, 2, 3 e 4),
pois houve proximidade entre as variáveis do tipo EC_A com PHL_A; EC_B com
PHL_B e EC_C com PHL_C. A proximidade às vezes foi intensa e em outras ocasiões
mais branda.
Considerando as variáveis do tipo importância relativa (CY_I.R; CV_I.R. e
FL_I.R.) e as relacionadas ao ambiente e manejo (PLH, EC e SOL) numa análise de
correspondência multivariada constatou-se que Cyperus rotundus (CY_I.R.) teve sua
maior importância associada ao corte na época 1 (EC_A) e principalmente na época 2
(EC_B) e menores valores associados aos talhões colhidos na época 3 (EC_C). Para
as cordas de viola (CV_I.R) e demais plantas de folha larga propagadas por sementes
(FL_I.R.) efeito contrário foi observado, ou seja, os maiores valores de importância
relativa esteve associado ao corte na época 3 (EC_C) e com maiores quantidades
82
CY_I.R. ACY_I.R. B
CV_I.R A
CV_I.R. B
FL_I.R. A
FL_I.R. B
EC_A
EC_B
EC_C
PLH_A
PLH_BPLH_C SOL_B
SOL_C
-2,0 -1,5 -1,0 -0,5 0,0 0,5 1,0 1,5
Dimensião 1; Autovalor: 0,42486 (28,32% de Inércia)
-1,5
-1,0
-0,5
0,0
0,5
1,0
1,5
2,0
Dim
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Aut
oval
or: 0
,297
44 (
19,8
3% d
e In
érci
a)
SOL_A
iniciais de palha (PLH_C) ao passo que os menores valores se associaram mais
fortemente com a colheita na época 2 (EC_B), com valores intermediários de palha
inicial (PLH_B). Em condições de umidade a camada de palha pode limitar, mas não
impede o desenvolvimento das cordas-de-viola e de algumas plantas de folha larga
(MARTINS et al., 1999; AZANIA et al., 2002; GRAVENA et al., 2004 e CORREIA &
DURIGAN 2004). Mesmo diante de camadas menos espessas de palha, havendo
limitação de água essas plantas desenvolvem menos. A espécie Cyperus rotundus
também emite suas manifestações epígeas na presença de camadas de palha
(DURIGAN et al., 2006 e AZANIA et al., 2006). Quando os talhões foram cortados nas
duas primeiras épocas, sob condições de solo seco seguido da ocorrência de chuvas
irregulares os tubérculos de Cyperus rotundus emitem suas manifestações epígeas que
se mantém mesmo com períodos de interrupção das chuvas. As plântulas originárias de
sementes são mais sensíveis à interrupção do fornecimento de água, pode iniciar o
processo germinativo e sucumbir aos períodos de seca.
Figura 1. Mapa perceptual-intuitivo correlacionando variáveis do tipo importância relativa (I.R.) com as variáveis relacionadas ao manejo e ao ambiente. Jaboticabal, 2006.
83
Os valores de importância relativa das espécies são dependentes entre si, ou
seja, o aumento do seu valor para uma espécie ou conjunto de espécie implica em
redução para outras espécies ou conjuntos. Sendo assim, estudar esse tipo de
correlação considerando os valores absolutos de densidade (CY_De; CV_De e FL_De)
e dominância (CY_Do;. CV_Do e FL_Do) é essencial pois a importância relativa (I.R.)
de determinado conjunto pode ser inferior em relação a um segundo conjunto mas
apresentar maior densidade (De.) ou dominância (Do).
Neste sentido, maiores densidade de Cyperus rotundus (CY_De) e das folhas
largas propagadas por sementes (FL_De) estiveram associadas a época 1 de corte
(EC_A) e principalmente à época 2 (EC_B). Para o conjunto das cordas de viola
(CV_De) as maiores densidades estiveram associadas com talhões colhidos na época 3
(EC_C) e as menores densidades com a época 3 (EC_B) (Figura 2).
Com relação ao acúmulo de biomassa pelos diferentes conjuntos observou-se
que Cyperus rotundus (CY_Do) foi capaz de acumular maior quantidade de matéria
seca na parte aérea quando os talhões foram colhidas na época 2 (EC_B). Em
contrapartida para as plantas de folha larga, inclusive para as cordas de viola (FL_Do e
CV_Do) as maiores biomassas acumuladas pela parte aérea foram obtidas quando os
talhões foram colhidos na época 3 (EC_C) (Figura 3).
Para os índices de agregação (V/m) observou-se, para todos os conjuntos, que
maiores agregações foram formadas quando os talhões foram colhidos na época 1
(EC_A), quando a quantidade inicial de palha era menor (PLH_A) ao passo que as
menores agregações foram formadas nos talhões colhidos na época 2 (EC_B) (Figura
4), com maiores quantidades iniciais de palha (PLH_B).
É importante destacar que as variáveis ora apresentaram forte correlação e
outrora as correlações foram fracas. Entretanto, com a elevação do número de talhões
e a categorização em maior número de níveis esses efeitos podem ser gradativamente
reduzidos proporcionando a obtenção de correlações com variáveis mais fortemente
associadas.
84
CY_De A
CY_De B
CV_De A
CV_De B
FL_De B
EC_A
EC_B
EC_CPLH_B
PLH_C
SOL_A
SOL_B
SOL_C
-2,0 -1,5 -1,0 -0,5 0,0 0,5 1,0 1,5 2,0
Dimensão 1; Autov alor: 0,44324 (29,55% de inércia)
-2,0
-1,5
-1,0
-0,5
0,0
0,5
1,0
1,5
2,0
2,5
Dim
ensã
o 2;
Aut
oval
or:
0,28
390
(18,
93%
de
Inér
cia)
PLH_A
FL_De A
CY_Do A
CY_Do B
CV_Do A
CV_Do B
FL_Do A
FL_Do B
EC_A
EC_B
EC_C
PLH_A
PLH_B
PLH_C SOL_A
SOL_B
SOL_C
-2,0 -1,5 -1,0 -0,5 0,0 0,5 1,0 1,5 2,0
Dimensião 1; Autovalor: 0,42606 (28,40% of Inércia)
-1,5
-1,0
-0,5
0,0
0,5
1,0
1,5
Dim
ensã
o 2;
Aut
oval
or: 0
,309
77 (
20,6
5% d
e In
érci
a)
Figura 2. Mapa perceptual-intuitivo correlacionando variáveis do tipo densidade (De) com variáveis relacionadas ao manejo e ao ambiente. Jaboticabal, 2006.
Figura 3. Mapa perceptual/intuitivo correlacionando variáveis do tipo dominância com variáveis relacionadas com o manejo e ao ambiente. Jaboticabal, 2006.
85
CY_V/m B
CV_V/m A
CV_V/m B
FL_V/m A
FL_V/m B
EC_A
EC_B
EC_C
PLH_APLH_B
PLH_C SOL_A
SOL_B
SOL_C
-2,0 -1,5 -1,0 -0,5 0,0 0,5 1,0 1,5 2,0
Dimensão 1; Autov alor: 0,47969 (31,98% de inércia)
-1,5
-1,0
-0,5
0,0
0,5
1,0
1,5
2,0
2,5
Dim
ensã
o 2;
Aut
oval
or:
0,27
541
(18,
36%
de
Inér
cia)
CY_V/m A
Figura 4. Mapa perceptual/intuitivo correlacionando variáveis do tipo índice de agregação (V/m) com variáveis relacionadas com o manejo e ao ambiente. Jaboticabal, 2006.
Conclusões
A textura do solo não apresentou nenhuma relação com as variáveis da
comunidade infestante tampouco com a quantidade inicial de palha. Houve um
gradiente na quantidade de palha que se correlacionou com a época de corte sendo
menor nos talhões colhidos na época 1 e maior nos talhões colhidos na época 3.
Para o universo de talhões considerados no estudo concluiu-se que a espécie
Cyperus rotundus apresentou maior densidade (CY_De B), biomassa seca de
manifestações epígeas (CY_Do B) e importância relativa (CY_I.R. B) quando os talhões
foram colhidos na época 2, transição entre a época seca e úmida, (EC_B) e menores
quantidades de palha (PLH_A). Para as cordas de viola e demais plantas de folha larga
ocorreu o inverso, ou seja, a importância relativa (FL_I.R. B e CV_I.R. B) foi maior nos
86
talhões colhidos na época 3 e com maiores quantidades iniciais de palha do que nos
talhões colhidos nas demais épocas.
CAPÍTULO 7 - IMPLICAÇÕES
Os resultados obtidos da análise do banco de sementes de plantas daninhas,
considerando a metodologia usada para coletar as amostras e sub-amostras, foi pouco
eficiente para estimar a composição da comunidade de plantas daninhas que
efetivamente se estabeleceu nos talhões até 120 DAC, independentemente da época
em que foi colhida a cana-de-açúcar. Nestas condições qualquer recomendação de
herbicidas pré-emergentes baseados no resultado de banco de sementes fica bastante
prejudicado. Para viabilizar a utilização prática deste tipo de informação as
amostragens devem ser mais intensificadas e o processamento realizado com maior
agilidade e a correlação com a flora emergida deve ser mais estreito.
A composição de plantas daninhas emergidas indicou que ocorreu e vem
ocorrendo mudança de flora com a adoção do sistema de colheita mecanizado sem
queima da palha. Algumas das espécies que ganharam importância com o novo
sistema devem ser avaliadas quanto ao controle pelos herbicidas registrados à cultura,
principalmente na presença de camadas de palha. Para outras plantas, principalmente
as perenes oriundas de rebrotas, novos herbicidas merecem ser testados.
Os maiores índices de agregação obtidos em alguns talhões para Cyperus
rotundus e cordas-de-viola despertam a possibilidade de aplicação localizada ou
diferencial de herbicidas mediante a gerarão de mapas de distribuição com utilização de
técnicas da geoestatística, desenvolvimento de sensores e equipamentos de aplicação
diferencial.
Os estudos de fluxo de emergência indicaram que entre 90 e 120 dias após o
corte da cana ocorre a maior infestação de plantas daninhas, independentemente da
época de colheita. Algumas usinas têm procurado conhecer melhor a infestação de
suas fazendas, setores, glebas ou talhões e para isso têm adotado a “matologia”. A
87
metodologia mais usada consiste em manter áreas de observação que ficam sem
aplicação de herbicidas e que servem para avaliar a real contribuição dos herbicidas
aplicados no restante do talhão e também para conhecer o potencial de infestação para
as soqueiras seguintes. Assim sendo, o período entre 90 e 120 dias após a colheita é
uma boa época para a realização de vistorias.
A formação de agrupamentos padrões em função de variáveis da comunidade
infestante (importância relativa –I.R.; índice de agregação – V/m) e as correlações
observadas entre variáveis da comunidade infestante e variáveis relacionadas à cultura
(quantidade inicial de palha - PLH) e ao seu manejo (época de corte – EC) demonstram
que essas técnicas de análise de dados podem ser úteis na tomada de decisão quando
a modalidade, intensidade e estratégia de controle das plantas daninhas na cultura da
cana-de-açúcar. Com um banco de dados mais vasto, informações mais relevantes
poderão ser obtidas com essas técnicas de tratamento de dados. O enriquecimento do
banco de dados poderá ser conseguido através do monitoramento de todas as
unidades (fazenda, setor, glebas ou talhões) registrando informações que caracterizam
as infestações antes da adoção de medidas de controle, informações durante a
operação de aplicação de herbicidas (produtos, doses, condições climáticas, tecnologia
de aplicação, equipe de aplicação) e informações sobre o resultado obtido. O
armazenamento dessas informações e o cruzamento destas variáveis por meio de
ferramentas ágeis e baseadas na estatística serão, com certeza, bastante úteis e
implicarão em economia no sistema produtivo da cana-de-açúcar.
88
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APÊNDICE
Anexo 1. Relação principais informações dos talhões que serviram para a coleta dos dados utilizados no trabalho.
Código Fazenda - Município Área (ha) Variedade Espaçamento Palha (t/ha) Data de corte FSI-01 Faz. Santa Isabel - Jaboticabal 4,70 SP-813250 1,50 m 11,74 04/07/04 FBV-02 Faz. Bela Vista - Jaboticabal 5,0 RB-835486 1,50 m 7,59 16/07/04
FNSF-03 Faz. N. Sra. de Fátima - Taquaritinga 2,25 RB-825336 1,40 m 9,62 02/07/04 FSC-04 Faz. Santa Cecília - Jaboticabal 4,92 SP-801842 1,40 m 9,21 05/0704 FBV-05 Faz. Bela Vista - Jaboticabal 5,0 RB-835054 1,35 m 13,56 19/07/04
USDP-06 Us. da Pedra – Ribeirão Preto 4,4 RB-835486 1,50 m 9,52 07/07/04 USAN-07 Us. Andrade - Pitangueiras 1,8 SP-791011 1,50 m 12,13 30/0604
FSI-08 Faz. Santa Isabel- Jaboticabal 4,97 SP-801816 1,50 m 11,50 27/07/04 FSI-09 Faz. Santa Isabel - Jaboticabal 4,39 RB-825336 1,35 m 13,27 25/07/04 USB-10 Faz. Diamantina 5,09 RB-815156 1,40 m 6,51 14/05/04 USB-11 Faz. Cucuhy 4,33 RB-855536 1,40 m --- 13/08/04
COPL-13 Faz. Coplana – Guariba 4,25 mistura 1,40 m 11,75 18/09/04 FM-14 Faz. Morumbi - Guariba 5,50 SP-813250 1,50m 15,78 25/08/04 FM-15 Faz. Morumbi - Guariba 5,36 SP-803280 1,50 m 11,73 28/08/04 FM -16 Faz. Morumbi - Guariba 4,95 SP-855536 1,50 m 19,91 05/09/04 FSA-17 Faz. Santo Antônio 2,23 SP-803280 1,50 m 13,99 19/08/04 FM -18 Faz. Morumbi 4,89 RB-855113 1,50 m 14,65 12/09/04 USX-19 Faz. Porto Pinheiro 17 5,11 SP-80185 1,50 m 14,89 03/09/04 USX-20 Faz. Porto Pinheiro 17 5,25 SP-80185 1,50 m 10,58 03/09/04 FSC-21 Faz. Santa Cecília 5,09 RB-855536 1,40 m 12,32 12/09/04 FBV-22 Faz. Bela Vista 5,57 RB-72-454 1,50 m 17,07 08/10/04 FBV-23 Faz. Bela Vista 4,91 SP-803280 1,35 m 17,79 17/10/04 FBV-24 Faz. Bela Vista 3,78 SP-803280 1,35 m 14,20 17/10/04 FBV-25 Faz. Bela Vista 4,98 SP-803280 1,50 m 11,90 21/10/04 FSO-26 Faz. Santa Olívia 5,01 SP-80 3280 150 m 16,03 06/11/04 FSO-27 Faz. Santa Olívia 5,05 RB-835486 1,50 m 18,08 10/11/04 USM-28 Faz. Barrinha 4,94 SP-801816 1,50 m 17,88 28/10/04 USM-29 Faz. Conceição 5,26 RB-83 5486 1,50 m 17,51 13/11/04 USB-30 Usina Bonfim 5,03 RB-72-454 1,50 m 15,11 20/11/04
105
mai/04
jun/04
jul/04
ago/0
4se
t/04
out/0
4
nov/0
4
dez/0
5jan
/05fev
/05
mar/05
abr/0
5 --
10
12
14
16
18
20
22
24
26
28
30
32
34
mês/ano
tem
pera
tura
(o C)
0
50
100
150
200
250
300
350
400precipitação (m
m)
Anexo 2. Registro dos parâmetros climatológicos de precipitação mensal acumulada, temperatura média, mínima e máxima mensais durante o período de coleta de dados. (fonte: Departamento de Ciências Exatas – Unesp Jaboticabal)