ball clay

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120 INTRODUÇÃO O termo “ball clay” é utilizado para designar qualquer argila sedimentar de elevada plasticidade, granulometria fina, cuja cor após queima seja branca. Esta denominação tem origem no antigo método de exploração utilizado na Inglaterra, que consiste em cortar a argila em cubos e arredondá-los para seu transporte, não possuindo nenhum significado mineralógico [1]. Mineralogicamente, as argilas “ball clays” são constituídas por caulinita, mica (ilita) e quartzo, podendo apresentar teores de esmectita e possivelmente clorita, sendo a caulinita, geralmente, mal cristalizada e de fina granulometria [2]. A cor escura, comum a essas argilas, deve-se à presença de matéria orgânica, que pode encontrar-se em teores de até 16% (em massa), porém em geral não ultrapassa 1 a 2%. A matéria orgânica nestas argilas pode estar presente desde a forma de fragmentos de lignina até como ácido húmico na forma de colóide protetor nas partículas argilosas, que é oxidado facilmente durante a queima [3]. As “ball clays” são usadas como agentes de suspensão, cargas e agentes ligantes em várias indústrias. Na indústria cerâmica são valorizadas por fornecer alta plasticidade, alta resistência a seco, cor branca após queima e propriedades reológicas ideais para colagem, sendo empregadas em massas para confecção de produtos cerâmicos como azulejos, porcelanas domésticas, louça de mesa, louça sanitária e isolantes elétricos de porcelana [1, 4]. Os depósitos de argilas plásticas para cerâmica branca não são comuns. Assim, os materiais estritamente classificados como “ball clays” se encontram apenas no Reino Unido, Estados Unidos e República Checa. Por outro lado, Alemanha, França, Brasil e alguns outros países possuem argilas plásticas de queima branca com propriedades semelhantes [3]. Um grande problema atual da indústria de cerâmica branca no Brasil é a falta de jazidas de argilas plásticas com as propriedades das “ball clays” estrangeiras. Apenas duas jazidas sedimentares são conhecidas, a do município de São Simão (SP) e a do município de Oeiras (PI). Ambas as argilas têm composição química e mineralógica e propriedades cerâmicas semelhantes às das “ball clays” inglesas, sendo as argilas Caracterização de argilas plásticas do tipo “ball clay” do litoral paraibano (Characterization of ball clays from the coastal region of the Paraiba state) R. R. Menezes, H. S. Ferreira, G. de A. Neves, H. C. Ferreira Departamento de Engenharia de Materiais Universidade Federal de Campina Grande Av. Aprígio Veloso, 882, Bodocongó, Campina Grande, PB, 58109-970 [email protected], [email protected] Resumo Os depósitos de argilas plásticas para cerâmica branca (“ball clays”) de alta qualidade não são comuns, estando localizados basicamente nos Estados Unidos e no Reino Unido. As “ball clays” são utilizadas em uma série de indústrias que vão desde a indústria cerâmica à de cosméticos. Assim, este trabalho tem por objetivo analisar argilas do tipo “ball clay” extraídas do litoral paraibano, realizando sua caracterização para fins cerâmicos. Sua caracterização foi realizada por meio da determinação da massa específica real, CTC, área superficial (BET), distribuição granulométrica, composição química, ATD/ATG, DRX e MET. Após caracterização, foram conduzidos ensaios tecnológicos para fins cerâmicos com as amostras. Com base nos resultados pode-se concluir que as amostras são argilas basicamente cauliníticas com queima branca em temperaturas de 1250 ºC e 1450 ºC. Além disso, apresentaram propriedades físico-mecânicas dentro das faixas indicadas na literatura para “ball clays” utilizadas em tecnologia cerâmica. Palavras-chave: ball clays, cerâmica branca, argilas, caracterização, Paraíba. Abstract Deposits of high quality ball clays are not common. They are mainly located in the United States and in the United Kingdom. Ball clays are used in several industries, from the ceramic industry to the cosmetic one. Thus, this work aims to analyse ball clays from the seabord of Paraíba State. The characterization of the samples for ceramic purposes was done through the determination of: specific mass, specific surface area, particle size distribution, chemical analysis, differential thermal analysis, thermogravimetric analysis, X-ray diffraction and transmission electron microscopy. Technological tests were also carried out for ceramic applications. The results show that the samples are basically composed of kaolinite and have white color after firing at 1250 ºC and 1450 ºC. Moreover, the physical-mechanical properties are in the range indicated in the literature to ball clays used in the ceramic industry. Keywords: ball clays, whiteware, clays, characterization, Paraíba State. Cerâmica 49 (2003) 120-127

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    INTRODUO

    O termo ball clay utilizado para designar qualquer argilasedimentar de elevada plasticidade, granulometria fina, cuja coraps queima seja branca. Esta denominao tem origem noantigo mtodo de explorao utilizado na Inglaterra, que consisteem cortar a argila em cubos e arredond-los para seu transporte,no possuindo nenhum significado mineralgico [1].

    Mineralogicamente, as argilas ball clays so constitudaspor caulinita, mica (ilita) e quartzo, podendo apresentar teoresde esmectita e possivelmente clorita, sendo a caulinita,geralmente, mal cristalizada e de fina granulometria [2].

    A cor escura, comum a essas argilas, deve-se presenade matria orgnica, que pode encontrar-se em teores de at16% (em massa), porm em geral no ultrapassa 1 a 2%. Amatria orgnica nestas argilas pode estar presente desde aforma de fragmentos de lignina at como cido hmico naforma de colide protetor nas partculas argilosas, que oxidado facilmente durante a queima [3].

    As ball clays so usadas como agentes de suspenso,

    cargas e agentes ligantes em vrias indstrias. Na indstriacermica so valorizadas por fornecer alta plasticidade, altaresistncia a seco, cor branca aps queima e propriedadesreolgicas ideais para colagem, sendo empregadas em massaspara confeco de produtos cermicos como azulejos,porcelanas domsticas, loua de mesa, loua sanitria eisolantes eltricos de porcelana [1, 4].

    Os depsitos de argilas plsticas para cermica branca noso comuns. Assim, os materiais estritamente classificadoscomo ball clays se encontram apenas no Reino Unido,Estados Unidos e Repblica Checa. Por outro lado, Alemanha,Frana, Brasil e alguns outros pases possuem argilas plsticasde queima branca com propriedades semelhantes [3].

    Um grande problema atual da indstria de cermica brancano Brasil a falta de jazidas de argilas plsticas com aspropriedades das ball clays estrangeiras. Apenas duas jazidassedimentares so conhecidas, a do municpio de So Simo(SP) e a do municpio de Oeiras (PI). Ambas as argilas tmcomposio qumica e mineralgica e propriedades cermicassemelhantes s das ball clays inglesas, sendo as argilas

    Caracterizao de argilas plsticas do tipo ball clay do litoral paraibano(Characterization of ball clays from the coastal region of the Paraiba state)

    R. R. Menezes, H. S. Ferreira, G. de A. Neves, H. C. FerreiraDepartamento de Engenharia de Materiais Universidade Federal de Campina Grande

    Av. Aprgio Veloso, 882, Bodocong, Campina Grande, PB, [email protected], [email protected]

    Resumo

    Os depsitos de argilas plsticas para cermica branca (ball clays) de alta qualidade no so comuns, estando localizadosbasicamente nos Estados Unidos e no Reino Unido. As ball clays so utilizadas em uma srie de indstrias que vo desde aindstria cermica de cosmticos. Assim, este trabalho tem por objetivo analisar argilas do tipo ball clay extradas do litoralparaibano, realizando sua caracterizao para fins cermicos. Sua caracterizao foi realizada por meio da determinao damassa especfica real, CTC, rea superficial (BET), distribuio granulomtrica, composio qumica, ATD/ATG, DRX eMET. Aps caracterizao, foram conduzidos ensaios tecnolgicos para fins cermicos com as amostras. Com base nos resultadospode-se concluir que as amostras so argilas basicamente caulinticas com queima branca em temperaturas de 1250 C e 1450 C.Alm disso, apresentaram propriedades fsico-mecnicas dentro das faixas indicadas na literatura para ball clays utilizadasem tecnologia cermica.Palavras-chave: ball clays, cermica branca, argilas, caracterizao, Paraba.

    Abstract

    Deposits of high quality ball clays are not common. They are mainly located in the United States and in the United Kingdom.Ball clays are used in several industries, from the ceramic industry to the cosmetic one. Thus, this work aims to analyse ballclays from the seabord of Paraba State. The characterization of the samples for ceramic purposes was done through thedetermination of: specific mass, specific surface area, particle size distribution, chemical analysis, differential thermal analysis,thermogravimetric analysis, X-ray diffraction and transmission electron microscopy. Technological tests were also carriedout for ceramic applications. The results show that the samples are basically composed of kaolinite and have white color afterfiring at 1250 C and 1450 C. Moreover, the physical-mechanical properties are in the range indicated in the literature to ballclays used in the ceramic industry.Keywords: ball clays, whiteware, clays, characterization, Paraba State.

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    nacionais de referncia para a indstria de cermica branca.Outras argilas plsticas, queimando com cor branca, so usadasem substituio parcial ou total argila So Simo em indstriasde cermica branca nos estados do sul e sudeste, como as argilasdos municpios de Suzano, Ribeiro Pires, Itaquacetuba,Jundiaopeba e Moji das Cruzes (SP) e Mag (RJ).

    Desde a dcada de 60 vrios estudos [4-16] abordam aanlise de argilas plsticas de queima branca, em especial asargilas do municpio de So Simo, para aplicao em cermicabranca no sul e sudeste do pas. No entanto, a carncia deargilas do tipo ball clays ou com caractersticas semelhantescontinua sendo marcante no mercado nacional, em virtude daquase inexistncia de argilas com caractersticas adequadasdisponveis no pas.

    Particularmente no estado de So Paulo foram desenvolvidostrabalhos sistemticos [17], onde foram observados que asjazidas de ball clays so numerosas. Contudo, foi evidenciadoque cerca de 90% destas jazidas esto na grande So Paulo,onde o problema de ocupao do solo torna-se crtico. A extraodessas argilas deveria obedecer a uma srie de critrios eexigncias, o que resultaria na elevao de custos e numa sensvelreduo de reserva possvel de ser extrada.

    Em 1973 estudos [18] sobre economia de argilas em nvelnacional, envolvendo matrias-primas para os mais diversosusos industriais que tm argila como matria-prima principal,evidenciaram uma grande necessidade de descoberta de novosdepsitos de ball clays, com propriedades idnticas ousemelhantes, as de So Simo.

    Buscando descobrir novos jazimentos de argilas plsticaspara cermica branca no nordeste do Brasil, em 1974 foramconduzidos estudos [19] de argilas das vrzeas do RioCapibaribe, PE, sendo identificadas argilas plsticas para usotanto em cermica branca como cermica vermelha. Seguindoessa diretriz, em 1982 estudos [20] mencionaram os depsitosde argila plstica para cermica branca da faixa costeira donordeste do pas, se estendendo do Estado de Alagoas ao suldo Estado da Paraba, bem como, os jazimentos de Oeiras noPiau, havendo grande destaque s argilas do Municpio deAlhandra na Paraba, cujas matrias-primas eram utilizadaspor indstrias de Recife (PE), Natal (RN) e Campina Grande(PB) e cujos jazimentos eram pouco conhecidos.

    Com a criao do plo cermico do Rio Grande do Nortena dcada de 80, foram desenvolvidos estudos [21] objetivandoanalisar a oferta de matrias-primas minerais na regioNordeste. Tendo recebido grande destaque a jazida de Oeiras(PI), que na poca atendia a demanda da indstria de cermicabranca de Pernambuco, com uma distncia de transporte deaproximadamente 1000 km.

    O Departamento de Engenharia de Materiais daUniversidade Federal de Campina Grande desde 1997 vemdesenvolvendo uma srie de estudos [22-26] buscando estudaros jazimentos de argilas ball clays do litoral paraibano. Sendoobservada a existncia de jazimentos de alta qualidade emvrias cidades do litoral sul paraibano.

    Pouca informao sobre as caractersticas e propriedadesde materiais argilosos tem como conseqncia produtos finais

    de qualidade inferior. Assim, muito importante a suacaracterizao a fim de ter um perfeito entendimento das suascaractersticas, gerando conhecimentos que contribuam paraa obteno de produtos de melhor qualidade, tal comoevidenciado por uma srie de estudos recentes [26-30].Portanto, esse trabalho tem por objetivo analisar argilas dotipo ball clay extradas do litoral paraibano, realizando suacaracterizao para fins cermicos.

    MATERIAIS E MTODOS

    Materiais

    Foram estudadas quatro amostras de argilas ball claysoriundas da indstria ARMIL MINRIOS Ltda, localizada noDistrito Industrial de Campina Grande, PB. As amostras soprovenientes do municpio Alhandra, PB, e so representativasdos jazimentos de argilas do tipo ball clays existentes nacidade de Alhandra.

    As amostras passaram por um processo de desaglomeraovia mida, secagem e ensacagem, realizado pela ARMILMINRIOS Ltda. No sendo realizado nenhumbeneficiamento no que se refere a retirada de possveis fraesarenosas (silte) presente no material.

    Metodologia

    Foi realizada a caracterizao fsica das amostras por meiode: massa especfica real, segundo o mtodo do picnmetrode He, em aparelho Micromeritics, modelo Accupyc 1330;distribuio granulomtrica pelo mtodo de absoro de raiosX, com utilizao de equipamento Sedigraph, modelo 5100da Micromeritics; rea superficial especfica pelo mtodo deadsoro de N2 (utilizando He como gs de arraste) emequipamento da Micromeritcs, modelo ASAP 2370 e pelomtodo de saturao com soluo aquosa de azul de metileno,segundo metodologia proposta por Ferreira [31], capacidadede troca de ctions, pelo mtodo de saturao com soluoaquosa de azul de metileno, segundo metodologia propostapor Ferreira [31]; Limites de Atterberg (limite de liquidez,limite plstico e ndice de plasticidade), segundo s normasABNT NBR 6459 [32] e NBR 7180 [33].

    A caracterizao mineralgica foi realizada atravs de:anlise qumica por via mida, segundo mtodos doLaboratrio de Anlises Minerais do CCT/UFCG; anlisetrmica diferencial e trmica gravimtrica, em aparelho deanlises trmicas da BP Engenharia, modelo RB 3000, comvelocidade de aquecimento de 12,5 C/min; difrao de raiosX (DRX) em equipamento Siemens modelo D5005, comradiao Cu k (40 kV/40 mA) e microscopia eletrnica detransmisso em equipamento Philips CM 200, operando a 200kV.

    As propriedades fsico-mecnicas, visando uso cermico,foram determinadas segundo a sistemtica de Souza Santos[34] para ensaios preliminares. Os corpos de prova foramconfeccionados com dimenses de 6 cm x 2 cm x 0,5 cm por

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    prensagem uniaxial de 20 MPa, secagem a 110 C e queima a1250 e 1450 C. Foram determinadas, a retrao linear desecagem e queima, a absoro de gua aps queima e a tensode ruptura flexo (mtodo dos trs pontos) aps secagem equeima. A cor de queima foi tambm avaliada.

    RESULTADOS E DISCUSSO

    A Tabela I apresenta os resultados de densidade real,capacidade de troca de ctions (CTC) e rea superficialespecfica pelos mtodos de BET e azul de metileno para asamostras estudadas.

    Da Tabela I pode-se observar que as amostras apresentaramvalores de densidade variando entre 2,55 e 2,72 g/cm3. A CTCvariou de 12,00 a 14,00 meq/100 g, sendo esta faixa de valoressuperior a indicada na literatura [15] para argilas plsticasbrasileiras de queima branca (6 a 13 meq/100 g). A faixa de valoresindicada na literatura [15, 34] para a CTC da argila So Simo,determinada pelo mtodo do azul de metileno (argila brasileirautilizada como referncia), situa-se entre 6 e 32 meq/100 g.

    Com base na Tabela I pode-se observar que a rea superficialespecfica das amostras variou de 17,26 a 41,94 m2/g, para omtodo do BET, e de 93,65 a 109,26 m2/g, para o mtodo deadsoro de azul de metileno. Comparativamente [34] pode-seobservar que os valores obtidos com o azul de metileno so deforma geral superiores aos indicados para argilas plsticasbrasileiras de queima branca (54,0 a 115,0 m2/g), sendo o valorda argila So Simo indicado como 54,0 m2/g.

    A Fig. 1 apresenta as distribuies granulomtricas dasamostras estudadas. A Tabela II resume os resultados dasdistribuies granulomtricas mostrados na Fig 1.

    Com base na Tabela II pode-se observar que a frao argilavariou de 36,8 a 50,4% e que a quantidade de silte fino varioude 28,3 a 47,1%. Os valores de distribuio granulomtricaindicados [34] para a argila So Simo evidenciam que suafrao argila superior a frao argila das amostras estudadas( 63%), no entanto, a frao abaixo de 5 m bem semelhantea das argilas estudadas ( 80%). Como referncia tem-se naliteratura [3] que a frao abaixo de 2 m de argilas ballclays inglesas comerciais varia de 61 a 82% e que a frao

    abaixo de 1 m varia de 51 a 67%.A Tabela III apresenta os resultados dos limites de Atterberg

    das amostras estudadas; limite de liquidez (LL), limite plstico(LP) e ndice de plasticidade (IP). Pode-se observar que oslimites de liquidez variaram de 48,0 a 56,0% e que os limitesde plsticos variaram de 22,3 a 27,1%. Os ndices deplasticidade situaram-se no intervalo de 20,9 a 30,7%. Verifica-se que todas as amostras so consideradas altamente plsticaspor apresentarem ndices de plasticidade superiores a 15%.Com referncia as ball clays, [3] inglesas observa-se que osndices de plasticidade esto na faixa de 26-38%.

    A Tabela IV apresenta a composio qumica das amostrasestudadas. Com base nesta Tabela pode-se observar que osteores de Fe2O3 so baixos nas amostras B, C e D e elevado naamostra A, sendo os intervalos referenciados para a argila SoSimo [15, 34] e ball clays inglesas de 0,52 a 1,76% e 0,80a 1,10%, respectivamente.

    O K2O presente na amostra A est provavelmenterelacionado a uma possvel presena de mica. A presena deMgO na amostra B est relacionada provvel presena de

    Amostras Densidade CTC rea Especfica(g/cm3) (meq/100 g)* (m2/g)

    BET Azul de MetilenoA 2,72 14,00 41,94 109,26B 2,59 13,30 23,73 104,06C 2,55 12,00 17,76 93,65D 2,69 12,00 17,26 93,65

    Tabela I Massa especfica real, CTC e rea superficial especfica das amostras.[Table I Specific mass, CEC and specific surface area of the samples.]

    * Mtodo do azul de metileno

    Figura 1: Distribuio de tamanho de partculas das amostras.[Figure 1: Particle size distribution of the samples.]

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    esmectita, que dificilmente identificada por se encontrar empequena quantidade e geralmente aderida as faces do materialcaulintico.

    A Fig. 2 apresenta as curvas de ATD e ATG das amostrasestudadas. Pode-se observar que as curvas de ATD apresentampicos endotrmicos em torno de 110 a 120 C, associados perda de gua livre; picos endotrmicos em torno de 590 a600 C, associados desidroxilao do material argiloso e picosexotrmicos por volta de 950 e 960 C, associados nucleaode mulita. Todas as curvas de ATD so extremamentesemelhantes e caractersticas de materiais caulinticos.

    Com base na Fig. 2, pode-se observar que os materiaisapresentaram perda de massa entre 9,5 e 14%. Havendo umaperda contnua de massa desde o incio do aquecimento com aperda de gua livre at o final da banda associada a

    desidroxilao do material argiloso. Isto est relacionado eliminao da matria orgnica presente nas amostras, que nopossui uma temperatura caracterstica de combusto j quesua combusto (temperatura e cintica) depende da forma comoest presente e associada ao material.

    A Fig. 3 apresenta os difratogramas de raios X das amostrasestudadas. Observa-se que o difratograma da amostra A, possuipicos indicativos da presena de caulinita, quartzo e mica,

    Amostras Argila* (%) Silte (%)Fino** Mdio***

    A 50,4 47,1 2,5B 50,4 28,3 21,3C 36,8 41,5 21,7D 41,3 40,6 18,1

    Tabela II Distribuio de tamanho de partculas das amostras.[Table II Particle size distribution of the samples.]

    * Frao < 2 m ** Frao > 2 m e < 6 m *** Frao > 6 me < 20 m

    Amostra LL (%) LP (%) IP (%)A 56,0 25,4 30,6B 53,0 22,3 30,7C 56,0 29,2 26,8D 48,0 27,1 20,9

    Tabela III Limites de liquidez (LL), limite plstico (LP) endice de plasticidade (IP) das amostras.[Table III Liquid and plastic limits and plasticity index.]

    Amostras Composio Qumica (% em massa)PFa SiO2 Fe2O3 Al2O3 CaO MgO Na2O K2O RIb

    A 12,60 49,34 6,87 20,50 3,50 * 2,40 3,00 ND#

    B 13,95 51,02 1,35 32,12 * 0,73 * * ND#

    C 13,17 57,20 1,60 27,68 * * * * ND#

    D 11,97 52,27 3,11 31,44 * * * * 1,15

    Tabela IV Composio qumica das amostras.[Table IV Chemical composition of the samples.]

    aPF Perda ao Fogo, bRI Resduo Insolvel, *Traos, #ND No determinado

    Figura 2: Anlise trmica das amostras: a) ATD; b) ATG.[Figure 2: Thermal analysis of the samples: a) DTA; b) TGA.]

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    Temperatura (C)

    Temperatura (C)

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    Amostras Constituintes (%)Caulinita Quartzo Mica Acessrios

    A 27,2 25,2 25,4 22,2B 81,3 13,2 - 5,5C 70,1 24,6 - 5,3D 79,6 15,2 - 5,2

    enquanto que os difratogramas das demais amostrasapresentam picos indicativos da presena apenas de caulinitae quartzo. O que vem de encontro aos resultados obtidos daanlise trmica diferencial (ATD). Os difratogramas tambmjustificam o elevado teor de K2O na amostra A, estando esseprovavelmente associado presena de mica.

    Com base nos difratogramas mostrados na Fig. 3 e nacomposio qumica das amostras (Tabela IV), foi realizada aanlise racional dos constituintes presentes nas amostras,segundo o mtodo UFSC [35]. Nesta anlise foram consideradasas seguintes frmulas ideais: Al2O3.2SiO2.2H2O para a caulinita,SiO2 para o quartzo e K2O.3Al2O3.6SiO2 .2H2O para a mica. ATabela V apresenta os resultados obtidos para a anlise racional.

    Comparativamente observa-se que as porcentagenscalculadas esto dentro dos intervalos indicados na literatura[2-4] para argilas ball clays inglesas (caulinita 20 a 90%,quartzo 0 a 60%, mica 0 a 40%). A grande porcentagem dematerial acessrio na amostra A est provavelmenterelacionada ao elevado teor de Fe2O3, CaO e Na2O, pois nasfrmulas tericas consideradas no se levou em contasubstituies de ctions na estrutura cristalina, solues slidasou adsoro nas faces das partculas do material argiloso.

    Correlacionando a anlise racional obtida com a anlise

    granulomtrica (Fig. 1 e Tabela II), verifica-se que os resultadospara a amostra A esto em grande concordncia com osresultados presentes na Tabela II (considerando a caulinita emica como a frao argila). Os resultados obtidos para asamostras B, C e D aparentam indicar que os valores obtidospara a frao argila (frao < 2 m) no ensaio de distribuiogranulomtrica so inferiores aos valores estimados atravs doclculo terico (anlise racional). No entanto, esses resultadosseriam bastante concordantes, caso a frao indicada como siltefino (Tabela II) fosse material argiloso na forma de aglomerados.O que evidenciaria uma falha na desaglomerao do materialargiloso durante o ensaio de distribuio granulomtrica.

    A literatura [36] indica que a distribuio granulomtricavaria como funo das foras cisalhantes que atuam no materialdurante a preparao da disperso. A frao de finos aumentasignificativamente quando o material submetido a tcnicasde elevada intensidade de disperso (como ultra-som ouagitadores com elevadas velocidades de rotao, 20000 rpm)por longos tempos. O aumento da frao de finos por essametodologia atribudo exatamente [36] quebra dosaglomerados de partculas em partculas individuais ou emaglomerados menores.

    A Fig. 4 apresenta as micrografias obtidas por microscopiaeletrnicas de transmisso (MET) das amostras. Observa-se quea micrografia da amostra A indica a presena de placas de caulinitade perfil hexagonal com arestas bem definidas, de partculaslamelares menores de perfil irregular (provavelmente de caulinitacom desordem ao longo do eixo b), de aglomerados e de partculasescuras de elevado poder de espalhamento, provavelmenterelacionadas com algum composto base de ferro, o quejustificaria o alto teor de ferro presente na amostra A.

    As micrografias das amostras B e C indicam a presena deplacas de caulinita de perfil hexagonal e arestas bem definidas,de partculas lamelares menores com perfil irregular e deaglomerados. A micrografia da amostra C bem semelhanteao das amostras B e C, com a presena de partculas com perfilirregular e de aglomerados, sendo verificada a presena departculas no identificadas.

    As micrografias so semelhantes a resultados presentes naliteratura [37] obtidos com amostras submetidas a dispersoem baixas taxas de cisalhamento, onde as partculasapresentavam-se basicamente na forma de grandesaglomerados. Os quais foram eliminados com a utilizao deelevada intensidade de cisalhamento durante a disperso, comsuas micrografias passando a apresentar elevada quantidade

    Figura 3: Difratogramas de raios X das amostras.[Figure 3: X-ray diffraction patterns of the samples.]

    Tabela V Anlise racional das amostras.[Table V Rational mineralogical analysis of the samples.]

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    Figura 4: Micrografias obtidas por microscopia eletrnica de transmisso das amostras A, B, C e D.[Figure 4: TEM images of samples A, B, C and D.]

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    de partculas finas e apenas alguns aglomerados.Os resultados obtidos por microscopia eletrnica de

    transmisso, juntamente com os dados da anlise racional,indicam que as amostras so materiais com fraes argilosasbem maiores que as obtidas com a distribuio granulomtrica.Os aglomerados observados atravs das micrografias podemter sido classificados como partculas grandes durante aanlise granulomtrica.

    A Tabela VI apresenta os resultados das propriedades fsico-mecnicas das amostras estudadas. Com base na Tabela VI pode-se observar que os valores de tenso de ruptura flexo apssecagem a 110 C variaram de 1,70 a 4,52 MPa. Comparandocom os valores indicados na literatura [4, 15, 16] para a argilaSo Simo (3,90 a 5,12 MPa), observa-se que os valores obtidosso, de forma geral, inferiores aos indicados para a argila SoSimo. Como referncia tem-se que as ball clays inglesasapresentam valores de tenso de ruptura flexo aps secagema 110 C que situam-se nos intervalos de 4 a 10 MPa [3] e de1,1 a 8,5 MPa [38]. De acordo com classificao da literatura[38], os valores obtidos so considerados medianos, comexceo da amostra A, cuja tenso de ruptura seria classificadacomo intermediria superior.

    Os resultados de retrao linear, absoro de gua e tensode ruptura flexo aps queima a 1250 C, esto de acordocom valores indicados na literatura [16] para argilas plsticasde queima branca. No que se refere cor de queima observa-se que todas as amostras apresentam cores claras com a queimaat 1450 C, exceo da amostra A, cuja cor a 1250 C j

    foi escura. A amostra A apesar de possuir cor escura apsqueima a 1250 C, apresentou colorao clara (rosa) apsqueima em torno de 1150 C, o que fez com que fosse estudadano presente trabalho.

    CONCLUSES

    Este trabalho teve por objetivo analisar argilas do tipo ballclay extradas do litoral paraibano, realizando suacaracterizao para fins cermicos. Pode-se concluir que: a)as amostras apresentaram uma CTC superior indicada naliteratura para argilas plsticas de queima branca brasileiras;b) a frao argila situou-se em torno de 36 a 50%; c) as argilasso constitudas basicamente por material caulintico epequenos teores de quartzo e material acessrio; d) a anlisepor MET evidenciou a presena de placas de caulinita de perfilhexagonal com arestas bem definidas e partculas lamelaresmenores de perfil irregular; e) as amostras apresentaram valoresde resistncia mecnica, aps secagem e resistncia mecnica,absoro de gua e porosidade, aps queima dentro da faixaindicada na literatura, bem como apresentaram cores clarasaps queima em temperaturas de at 1450 C.

    REFERNCIAS

    [1] J. T. McCuison, Am. Ceram. Soc. Bull. 76, 6 (1997) 73.[2] A. K. Bougher, Am. Ceram. Soc. Bull. 74, 6 (1995) 102.[3] A. Barba, V. Beltrn, C. Feliu, J. Garca, F. Gnes, E. Snchez,V. Sanz, Materias Primas para la Fabricacin de Soportes deBaldosas Cermicas, AICE, Castelln, Espanha (1997).[4] I. R. Wilson, Cermica 44, 291 (1998) 287.[5] P. Santini, P. Souza Santos, V. F. Alves, Cermica 8, 30(1962) 46.[6] P. Souza Santos, I. B. Kapel, H. L. Souza Santos, Cermica8, 31 (1962) 2.[7] F. B. Angeleri, P. Souza Santos, J. E. Paiva Neto, A. C.Nascimento, H. L. Souza Santos, Cermica 8, 33 (1962) 33.[8] F. B. Angeleri, Cermica 12, 47/48 (1966) 223.[9] S. F. Calil, F. B. Angeleri, P. Souza Santos, P. Mazzucato,J. Cristino, Cermica 17, 66 (1971) 149.[10] S. F. Calil, P. Souza Santos, Cermica 20, 80 (1974) 347.[11] F. B. Angeleri, Cermica 21, 82 (1975) 85.[12] A. Amarante Jnior, P. R. Santos, Cermica 26, 128 (1980) 217.[13] L. C. Tanno, J. F. N. Mota, M. Cabral Jnior, S. Saka, D.D. Souza, Anais do 34o Congresso Brasileiro de Cermica,Blumenau, SC (1990) p. 360.[14] J. L. Aumont, Cermica 39, 260 (1993) 91.[15] S. R. F. Cardoso, H. S. Santos, A. C. V. Coelho, P. SouzaSantos, Cermica Industrial 3, 3 (1998) 47.[16] S. R. F. Cardoso, H. S. Santos, A. C. V. Coelho, P. SouzaSantos, Cermica Industrial 3, 4-6 (1998) 39.[17] E. G. C. S. Dias, F. M. Valverde, M. R. Neves, M. A.Kiyotani, Cermica 28, 153 (1982) 347.[18] P. Souza Santos, Cermica 19, 76 (1973) 325.[19] A. P. R. Arajo, Cermica 20, 77 (1974) 18.[20] A. M. Gusmo, M. A. H. Tavares, Cermica 28, 153 (1982)353.

    Amostras Temperatura RLa AAb TRFc Cor(oC) (%) (%) (MPa)

    A* 110 0,90 - 4,52 -1250 7,10 5,76 17,48 Vermelho*1450 9,90 2,71 28,36 Marrom*

    B 110 0,24 - 1,80 -1250 5,34 2,15 32,71 Creme1450 6,03 0,76 52,37 Creme

    C 110 0,37 - 1,70 -1250 4,84 1,20 35,87 Creme1450 5,54 0,75 38,91 Creme

    D 110 0,80 - 2,50 -1250 6,75 5,94 22,44 Branca1450 10,37 2,30 38,21 Creme

    Tabela VI Propriedades fsico-mecnicas visando finscermicos das amostras.[Table VI Physico-mechanical properties of the samples.]

    aRL-Retrao linear de queima e secagem;bAA-Absoro de gua; cTRF-Tenso de ruptura flexo* A amostra A apresentou cor clara (rosa) em queima realizada porvolta dos 1150 C, por isso foi analisada no presente estudo.

    R. R. Menezes et al. / Cermica 49 (2003) 120-127

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    R. R. Menezes et al. / Cermica 49 (2003) 120-127