Rio Mondego e Cidade Alta Década 1950. Ano 2011 Rio Mondego e Cidade Alta.
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Projecto Hidroagrícola do Baixo Mondego
Designação e Localização
Situada na região da Beira Litoral, o Vale do Baixo Mondego corresponde a uma
extensa planície de origem aluvial, que globalmente perfaz cerca de 14.000
hectares, situada entre as cidades de Coimbra e da Figueira da Foz.
É constituído por uma faixa que se desenvolve ao longo do rio Mondego — o Vale
Principal — e por algumas ramificações laterais, que constituem os seus
afluentes — os Vales Secundários — casos dos rios Cernache, Ega, Arunca e
Pranto, na margem esquerda, e Ançã e Foja na margem direita.
Administrativamente está disperso por cinco municípios do distrito de Coimbra:
Montemor-o-Velho, Figueira da Foz, Coimbra, Soure e Condeixa-a-Nova.
A distribuição da superfície abrangida é a seguinte:
Vale Principal 59,7%
zonas de montante e intermédia 51,1%
zona de jusante 8,6%
Vales Secundários 40,3%
Ançã/S. Facundo (margem direita) 1,4%
Cernache/Arzila (margem esquerda) 2,2%
Ega (margem esquerda) 4,3%
Arunca (margem esquerda) 11,0%
Foja (margem direita) 6,1%
Pranto (margem esquerda) 15,3%
Objectivos
1
Apesar de dotado de um elevado potencial produtivo agrícola, todo o Aproveitamento do Baixo Mondego e em especial o Vale Principal, deparava-se com factores de estrangulamento, dos quais merecem relevância especial:
Ø cheias violentas e frequentes, sujeitando o vale a inundações prolongadas e
a um processo de em assoreamento continuado.
Ø acentuada variabilidade sazonal e anual de caudais.
Ø elevadas taxas de deposição de material sólido de arrastamento, atingindo
valores médios de cerca de 20 mm/ano.
Ø rede de drenagem agrícola bastante incipiente e muito pouco funcional, rede de rega insuficiente e degradada, rede viária quase inexistente, dificultando o acesso às explorações agrícolas.
Ø estrutura fundiária desordenada e dispersa, com inúmeros prédios, de
grandes diferenciações de tamanho e forma.
As obras primárias que incidiram no
Aproveitamento Hidráulico tiveram como
objectivos essenciais, entre outros, o
controlo dos caudais sólidos e líquidos do
rio e seus afluentes, a defesa contra as
cheias, a condução de água de rega
derivada a partir de um açude no Mondego,
junto a Coimbra.
Após uma primeira fase de estudos de base — cartográficos, pedológicos,
agronómicos, económicos, hidrológicos e hidráulicos — procedeu-se à definição dos
Blocos Hidroagrícolas, a qual permitiu sistematizar a intervenção da equipa do
Projecto.
Pretende-se equipar cada um destes blocos com redes secundárias de rega, de
drenagem e de caminhos, devidamente adaptadas a um novo ordenamento da
propriedade rústica, através de operações de emparcelamento rural.
Descrição e Divisão em Blocos
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Quadro 1 – Vale do Mondego — Divisão em Blocos
Vale
Principal
Zona de
Montante
Margem Direita
Bloco nº 18 — Bolão 340 ha
Bloco nº 17 — S. Martinho e S. João 696 ha
Bloco nº 15 — S. Silvestre e S. Martinho 726 ha
de Árvore 700 ha
Bloco nº 14 — Tentúgal 593 ha
Bloco nº 13a — Meãs do Campo 722 ha
Bloco nº 13 — Carapinheira 515 ha
Bloco nº 10 — Alfarelos
Margem
Esquerda
Bloco nº 16 — Margem Esquerda Vale
Central571 ha
Zona
Intermédi
a
Margem Direita
Bloco nº 8 — Montemor e Ereira 868 ha
Bloco nº 6 — Maiorca 460 ha
Zona de
Jusante
Margem Direita Bloco nº 3 — Quada/Lares 380 ha
Margem
EsquerdaBloco nº 4 — Moinho do Almoxarife 344 ha
Sub-Total 7.262 ha
Vales
Secundário
s
Zona de
Montante
Margem Direita Bloco nº 17a — Ançã/ S. Facundo 173 ha
Margem
EsquerdaBloco nº 12 — Ega e Arzila 720 ha
Zona
Central
Margem Direita Bloco nº 7 — Foja 767 ha
Margem
EsquerdaBloco nº 11 — Arunca 1.384 ha
Zona de
Jusante
Margem
Esquerda
Bloco nº 2 — Pranto (jusante) 1.282 ha
Bloco nº 5 — Pranto (montante) 782 ha
Sub-Total 5.108 ha
Total 12.370 ha
Como se observa no Quadro 1, o vale do Baixo Mondego abrange uma S.A.U. de 12.370
ha, em que o Vale Principal ocupa 7.262 ha (58,7%), enquanto os Vales Secundários
englobam 5.108 ha (41,3%). Nesta área existem cerca de 6.500 explorações agrícolas,
a que correspondem cerca de35 mil prédios.
O arroz continua a ser o cultivo predominante, ocupando 50 a 60% da S.A.U., com
maior implantação nas zonas intermédia e jusante do Vale Principal e nos Vales
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Secundários de Ançã/S. Facundo, Arunca, Foja e Pranto. A área restante é
essencialmente ocupada pela cultura do milho-grão, já que outros cultivos, como as
horto-industriais e a beterraba sacarina, apresentam ainda um peso bastante restrito.
Infra-estruturas
O critério geral que presidiu ao traçado das redes
secundárias foi o de conduzir água de rega à cabeceira
de cada parcela, o de assegurar a drenagem agrícola a
todos os prédios e o de facultar fácil acesso para a
maquinaria agrícola a cada um dos diferentes prédios.
Uma vez que o minifúndio é largamente dominante, as
redes secundárias já construídas e a construir
apresentam em geral uma malha bastante densa, além
de estarem adaptadas às exigências da cultura do
arroz. As redes secundárias, são no seu conjunto as
seguintes:
A – Rede Secundária de Rega
É essencialmente constituída por tubagem enterrada — as regadeiras —
ligando a infra-estrutura primária às caixas de rega localizadas em cada
parcela.
As tomadas ou caixas de rega são estruturas de betão, de secção
circular, fechadas e munidas de um tubo ventilador e a que se acoplam
2 válvulas de tanque, as quais conjuntamente debitam o caudal de
maneio preconizado — 30l/s.
O objectivo de uma regadeira é o de distribuir água às parcelas de rega
com eficiência. Para isso, o seu traçado deve-se articular perfeitamente
com a matriz fundiária resultante do emparcelamento.
O traçado da rede secundária de rega depende das características
agrícolas e estruturais de cada bloco, como sejam:
a) a parcela de rega
Para que esta parcela se apresente homogénea e consistente, torna-se
fundamental reestruturar a propriedade rústica, por via do emparcelamento
4
rural. Esta parcela de rega, nesta zona de minifúndio, é usualmente composta
por mais de 1 lote/prédio. Como forma de proporcionar aos regantes uma certa
autonomia, foi adoptado o critério de as parcelas não incluírem mais de 5
prédios, nem apresentar uma área superior a 2,5 ha.
A colocação das tomadas ou caixas de rega é feita essencialmente na parte
superior-central de cada parcela, junto ao caminho que a delimita, permitindo
assim um fácil acesso à água e às operações de manutenção e fiscalização.
b) os sistemas culturais predominantes
As culturas do arroz e do milho ocupam mais de 90% da S.A.U. do Vale. Mas o
cultivo do arroz — mais exigente em termos de necessidades hídricas — continua
a ser preponderante, mesmo em algumas áreas mais a montante. Este facto
levou a adoptar para todo o Vale uma rede secundária adaptada à cultura
orizícola, possibilitando a sua viabilização sem quaisquer restrições.
c) os métodos de rega
Pela mesma razão de dominância da cultura do arroz, a rega de
superfície é a que melhor se adequa às condições do Vale. O arroz
utiliza o processo de rega de submersão ou alagamento, enquanto para
as outras culturas o processo é o dos sulcos ou faixas.
Para garantir os mais elevados índices de eficiência das operações
culturais, sobretudo a rega, todos os novos lotes resultantes da
reestruturação fundiária são sujeitos a operações de regularização e
nivelamento das suas terras.
d) o módulo de rega
O caudal de maneio a disponibilizar por cada caixa de rega procura
traduzir de algum modo as características das práticas de rega já
existentes, tendo sido adoptado o valor de 30 l/s.
B – Rede de Drenagem
Formada por um conjunto de valas a céu aberto, não revestidas, de
secção trapezoidal. Visam a evacuação das águas em excesso e o
controlo limitado dos níveis freáticos.
5
O dimensionamento desta rede foi definido de acordo com os seguintes
critérios de drenagem: o escoamento de um caudal udométrico de 2,5
litros/segundo/ha e a manutenção de um plano de água com uma
profundidade mínima de 0,60 metros.
Para cada Bloco Hidroagrícola, o traçado desta rede assume um papel
estruturante, pois permite definir o seu delineamento geométrico, onde
se irão inserir as outras redes — a de caminhos e a de rega.
C – Rede Viária
A concepção da rede viária assentou
num duplo objectivo:
- possibilitar o acesso a todos os
prédios ou parcelas, em cada Bloco
(caminhos agrícolas ou secundários);
- fazer a ligação deste tipo de caminhos com os núcleos populacionais
confinantes (caminhos rurais ou principais).
A implantação procurou ligar as povoações onde se radicam os centros
de lavoura com as explorações agrícolas, qualificando e quantificando o
tráfego, adequando distâncias médias de transporte e racionalizando
os trabalhos da maquinaria agrícola.
O emparcelamento rural.
A componente da reestruturação
fundiária tem sido sentida por parte
dos agricultores, como a medida de
maior impacto no reforço das
vertentes técnico-agrícola esócio-
económica.
É que, perante a estrutura fundiária
original, assente numa malha predial profundamente fragmentada,
dispersa e irregular e em consequência muito pouco funcional, a outorga
6
de novos prédios (lotes) submetidos a uma radical e profunda alteração
geométrica e física, inteiramente remodelados e corrigidos nas suas
assimetrias, converte-se numa ampla acção de ordenamento sustentado
do espaço agrícola, potenciando a dinamização económica de toda a zona.
Os traçados das redes de caminhos e de drenagem constituem uma malha
de unidades estrutural-fundiárias, com uma forma mais ou menos
rectangular, e em cujo interior se traçam os novos lotes de prédios
emparcelados. Tais unidades são por isso designadas por massas de
repartição.
As operações de emparcelamento são morosas, uma vez que, por força da
Lei estão subordinadas a um conjunto de preceitos faseados, que
envolvem sempre a participação interessada de centenas de
proprietários, o que obriga a um integral e perfeito conhecimento das
situações reais de campo e a um elevado grau de cooperação e consenso,
para se conseguir obter uma aprovação maioritária. Há assim um
conjunto de fases dos respectivos estudos e projectos, que vão sendo
submetidas à apreciação e consideração global dos interessados, até
atingirem o seu patamar último, a aprovação pela maioria dos
proprietários do bloco. Uma dificuldade adicional decorre do facto de a
forma de exploração predominante ser o arrendamento rural. A
abordagem da questão do emparcelamento foi pois feita no contexto dos
Blocos Hidroagrícolas. Conseguiu-se desta forma obter a flexibilidade
necessária a uma melhor identificação dos proprietários e das terras
abrangidas, à aplicação das medidas técnico-jurídicas a que ficam sujeitos
os titulares dos novos prédios e ainda à salvaguarda dos interesses do
agricultor-rendeiro. Muito sucintamente, a faseamento das operações de
emparcelamento é o seguinte:
1º. - Fixação das bases do projecto, com a delimitação do Perímetro, a
determinação da situação jurídica dos prédios, a classificação e
avaliação dos terrenos e benfeitorias, as condições de atribuição da
reserva de terras, etc.
2º. - Traçados dos novos lotes.
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3º. - Entrega dos novos prédios resultantes do plano de recomposição
predial, a todos os proprietários, com a inerente titulação por auto.
É no Baixo Mondego, designadamente na zona central do seu Vale Principal, que se situa a maior área emparcelada do País, cujo valor atinge os 4 150 ha, distribuídos pelos seguintes Blocos:
· Bloco de S. Martinho & S. João do Campo
Situação antes 696 ha 481 proprietários 1.883 prédios
Situação depois 673 ha 480 proprietários 513 prédios
· Bloco de Tentúgal
Situação antes 700 ha 739 proprietários 2.063 prédios
Situação depois 688 ha 737 proprietários 767 prédios
· Bloco de Meãs do Campo
Situação antes 593 ha 529 proprietários 868 prédios
Situação depois 565 ha 529 proprietários 537 prédios
· Bloco de S.Silvestre e S.Martinho de Árvore
Situação antes 726 ha 597 proprietários 1.590 prédios
Situação depois 699 ha 596 proprietários 734 prédios
· Bloco da Carapinheira
Situação antes 722 ha 625 proprietários 2.152 prédios
Situação depois 687 ha 624 proprietários 684 prédios
· Bloco de Montemor & Ereira
Situação antes 873 ha 409 proprietários 1.565 prédios
Situação depois 838 ha 407 proprietários 446 prédios
Como se verifica, a situação inicial abrangia uma área agrícola de 4.310 ha, ocupada por 10.121
prédios, pertencentes a 3.380 proprietários. Após a realização das operação de emparcelamento em
6 Blocos Hidroagrícolas, obtiveram-se os seguintes resultados da concentração parcelar: uma
superfície agrícola útil de 4.150 ha (uma dedução de 3,7% a fim de implantar as infra-estruturas de
engenharia), ocupada por 3.681 prédios (concentração de 63,6%) pertencentes a 3.373
proprietários.
Os benefícios mais sentidos da reestruturação fundiária no Baixo Mondego
referem-se a:
Ø aumento da dimensão das explorações agrícolas, quer pela concentração das
diversas parcelas de cada proprietário, quer pela incorporação de terrenos da
reserva de terras.
Ø aumento da produtividade do trabalho, diminuição dos custos de produção,
menores custos de transporte, utilização mais racional dos meios de
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mecanização e mão-de-obra, aplicação mais adequada dos bens de produção
efémeros, menor precaução no capital de reserva, etc.
Ø resolução de alguns conflitos de ordem social e patrimonial (servidões,
encraves, acesso a águas, estremas).
A complementar esta componente do emparcelamento rural, estão os trabalhos
de adaptação ao regadio, consubstanciados pela preparação, regularização e
nivelamento dos terrenos, o que tem tido um enorme impacto nos rendimentos
dos agricultores. Estes melhoramentos fundiários permitiram a recuperação e
correcção de vastas manchas de solos algo irregulares e mesmo improdutivas.
Verifica-se assim uma articulação perfeita de um conjunto de medidas
diferenciadas — as redes secundárias, as acções de emparcelamento a
preparação, regularização e nivelamento dos terrenos — as quais permitiram
potenciar as capacidades endógenas da região, contribuindo para a
intensificação da produção agrícola. Além disso, suprimiram-se problemas que
embaraçavam o êxito de uma agricultura competitiva, motivando e
responsabilizando os agricultores.
Certamente foram estes factos que vieram a determinar que os estudos de
emparcelamento, que numa primeira fase se circunscreveram aos Blocos
Hidroagrícolas da zona central do Vale Principal, estejam hoje alargados a todo
o Aproveitamento por desejo explícito dos agricultores.
Faseamento
Apesar de os estudos terem tido início em 1979, as obras de rega, drenagem,
caminhos e emparcelamento começaram em 1984. Já foram concluídas as obras
em 8 Blocos Hidroagrícolas, todos no vale principal, totalizando 4.996 ha, cuja
gestão foi já entregue à Associação de Beneficiários da Obra de Fomento
Hidroagrícola do Baixo Mondego:
Bloco nº 17 - S. Martinho & S. João
Bloco nº 15 - S. Silvestre & S. Martinho de Árvore
Bloco nº 14 - Tentúgal
Bloco nº 13a - Meãs do Campo
Bloco nº 13 - Carapinheira
Bloco nº 8 - Montemor & Ereira
Bloco nº 4 - Moinho do Almoxarife
Bloco nº 1 - Quinta do Canal
9
Para além do Perímetro de Alfarelos, actualmente em fase de execução das
obras, é objectivo do IDRHa realizar as obras nos Blocos que ainda restam do
Vale Central: Bolão, Maiorca e Margem Esquerda. Ficarão por ultimar os Blocos
referentes aos Vales Secundários, que estão dependentes das infra-estruturas
primárias — regularização do curso de água principal e de drenagem primária —
a cargo do Ministério do Ambiente. Contudo, no âmbito de um protocolo
realizado com a Associação de Beneficiários, estão a realizar-se, desde já, os
projectos de emparcelamento e infra-estruturas dos Campos do Vale do Pranto,
de forma a encurtar os prazos para entrada em fase de obra.
Minimização de Impactes
No âmbito desta temática, foram adoptadas várias medidas de valorização da
paisagem, do património e da conservação da natureza, de forma a realçar e
salvaguardar os seus valores mais relevantes e manter o equilíbrio ecológico e a
qualidade paisagística que melhor se coadunem com as características da
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agricultura diversa que aqui se pratica. Com efeito, a paisagem é principalmente
construída pela actividade agrícola e, como tal, terá que ser coerente com ela.
Na sequência dos Estudos de Impacte Ambiental realizados para os Blocos de
Montemor-Ereira, Alfarelos e Margem Esquerda, foram preconizadas diversas
medidas de conservação e recuperação paisagística. Tais medidas deram origem
a projectos de recuperação da vegetação ribeirinha nas novas valas a construir.
No Bloco de Montemor-Ereira o projecto correspondente foi já implementado,
prevendo-se que o mesmo venha a suceder nos Blocos da Margem Esquerda e
Alfarelos, logo após a realização das obras. Outras medidas relevantes são as
referentes à qualidade das águas, encontrando-se em elaboração um plano de
monitorização da qualidade das águas subterrâneas e superficiais para os
referidos blocos.
Na implementação destas medidas foram envolvidos os agricultores,
representados pela Associação de Beneficiários da Obra de Fomento e as
Comissões de Agricultores Locais (C.A.L.).
Execução Financeira
No cômputo geral destas realizações públicas, foram despendidos, para os 8
Blocos descritos, cerca de 39,5 milhões de euros.
No momento presente, desenvolve-se um conjunto de obras que perfaz um
montante de cerca de 6,27 milhões de euros, em que só no Bloco Hidroagrícola
de Alfarelos se prevê despender 4,421 milhões de euros.
Quanto aos investimentos previstos executar no presente Quadro Comunitário
de Apoio, avaliam-se que atinjam os 33,2 milhões de euros, assim distribuídos:
Bloco da Margem Esquerda 5.552.085 euros
Adutor de Rega da Margem Esquerda 4.703.640 euros
Bloco do Bolão 4.658.170 euros
Bloco de Maiorca 5.770.930 euros
Bacia de Recepção de Maiorca/Foja 1.636.725 euros
Bloco do Pranto (1ª fase) 9.033.095 euros
Edifício-sede da Associação de Beneficiários 1.845.000 euros
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II - Caracterização do Paúl
Linhas de água (hidrografia)
O paúl propriamente dito é uma zona baixa, húmida, com cerca de 165 ha, que se alonga por parte da Ribeira de Cernache, no sentido N-S. Esta ribeira sofreu obras de regularização hidráulica no século passado, tendo sido dividida em dois braços (Vala da Costa, a oeste, e Vala dos Moinhos, a leste), que ladeiam o vale e recebem as escorrências das encostas. Foi aberto um terceiro canal (Vala do Meio), para escoamento da água das exsurgências do plaino aluvial, localmente designadas por «olheiros». As três valas confluem em frente à povoação de Arzila, indo desaguar no rio Mondego, a cerca de 1 km desta povoação. Apesar destas obras de drenagem, o vale manteve sempre características de paúl, não só devido às exsurgências já citadas, mas também ao facto de serem as cotas a montante, 2 a 3 metros mais baixas que a juzante.
As zonas húmidas foram, até não há muito tempo, consideradas como terras inúteis, sendo drenadas ou utilizadas como receptáculo de efluentes urbanos ou industriais. Os progressos verificados com a investigação científica, permitiram estabelecer que as zonas húmidas são as áreas de maior produtividade primária da Terra, estando a sobrevivência de inúmeras espécies dependente da existência deste ecossistema.
As zonas húmidas são igualmente importantes como reguladoras do regime hídrico, mantendo o nível freático, constituindo importantes reservas aquíferas, minorando os efeitos das enchentes e da erosão ou, ainda, em termos de precipitação biológica de impurezas.
Relevo (orografia)
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O paúl insere-se num pequeno vale aberto, com cerca de 6 km de extensão, oscilando a largura entre 300 e 600 metros; é ladeado por duas cadeias de montes, originadas por enrugamentos geológicos.
A altitude é baixa, mantendo as cumeadas uma certa uniformidade, atingindo 89 metros na margem esquerda (v.g. S. Tiago) e 120 metros na margem direita (v.g. Inculca); no paúl as cotas rondam os 6-7 metros, aumentando para juzante.
Os declives são medianamente acentuados, aumentando para norte e atingindo o maior pendente perto de Arzila, na vertente oposta à povoação.
Clima
O clima da RNPA, tendo em conta os registos meteorológicos das estações de Coimbra/Bencanta e Montemor-o-Velho, caracteriza-se como temperado húmido, de Verão seco, correspondendo à sobreposição dos climas Mediterrânico-Atlântico e Atlante-Mediterrânico da Carta Ecológica de Portugal.
Geologia
Em termos litológicos encontram-se na RNPA as seguintes unidades:
1. arenitos e argilas de Taveiro (do Cretáceo Superior);2. terraços aluviais do Plistocénico, constituídos por
cascalheiras ricas em seixos e calhaus;3. aluviões do Holocénico essencialmente argilo-
arenosos.
Flora
A Reserva está situada numa zona de transição florística atlântico-mediterrânica, caracterizada pela presença do carvalho-cerquinho. Assim, tanto se podem encontrar plantas mediterrânicas, como o medronheiro e o sobreiro, como também plantas tipicamente atlânticas como a aveleira e o carvalho alvarinho.
É uma área muito rica, em termos florísticos, evidenciada no seu extenso elenco de espécies, que atinge já cerca de 300 plantas, prevendo-se que venha a ser aumentado com a inclusão de novos taxa, uns cuja existência é provável (plantas aquáticas e anfíbias) e outros, já assinalados mas não identificados seguramente, supondo-
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se que possa vir a atingir um total de cerca de 400 espécies.
Este elevado número de plantas, encontra-se a par com a sua diversidade; pela sua situação geográfica e características climáticas e edáficas, esta área apresenta espécies xerófilas e espécies higrófilas, além de, em termos mais latos, surgir uma interpenetração entre a Região Mediterrânica e a Região Eurosiberiana, com a presença de espécies próprias de cada uma delas.
Encontramos, assim, a ocorrência, um tanto inesperada, da aveleira, feto-real, bonina, e, até, do raro selo-de-Salomão, em locais húmidos e sombrios, enquanto que, nas vertentes mais soalheiras e de menor humidade edáfica, se podem encontrar o rosmaninho, o lentisco-bastardo, o sanguinho-das-sebes, etc.
No que respeita à quantidade e variedade das associações vegetais, a sua riqueza não é menor; existe, nesta área, uma ecotonia entre os domínios climácicos do sobreiro e do carvalho alvarinho, além da presença do carvalho cerquinho — este como acompanhante do primeiro, já que o seu domínio climácico parece situar-se no Maciço Calcário Estremenho.
Sendo de destacar, ainda, a ocorrência das seguintes espécies: medronheiro, salgueiro, amieiro, choupo, caniço, bunho, tabúa, lírio-amarelo, espadana.
Fauna
A RNPA foi criada devido às riquezas faunísticas e florísticas que encerra, com destaque para a lontra e para a grande diversidade do ponto de vista ornitológico.
A existência das diferentes comunidades faunísticas, bem como dos seus efectivos populacionais, não apresentam de forma alguma valores estáticos. Pelo contrário, são indicadores da evolução de um ecossistema naturalmente frágil.
Insectos
Na Reserva, encontram-se referenciadas 9 ordens de insectos, abrangendo 61 famílias num total de 171 espécies.
Peixes
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Foram referenciadas 6 famílias de peixes com um total de 13 espécies, merecendo destaque o ruivaco e a boga.
Anfíbios e répteis
Foram identificadas 9 espécies de anfíbios pertencentes a 6 famílias, e 5 famílias de répteis com um total de 10 espécies.
Sendo de destacar: o lagarto de água, o lagarto comum, a rã-de-focinho-ponteagudo, a rã-castanha e a rela.
Aves
A RNPA oferece abrigo e alimentação a numerosas espécies de aves aquáticas (cerca de 120), quer sedentárias — como o pato-real, a águia-de-asa-redonda, o guarda-rios, o tartaranhão-ruivo-dos-paúis — quer migradoras.
Destas, como visitantes de Verão, destacam-se a garça-vermelha, a cegonha, o milhafre-preto; de entre as invernantes, salientam-se a garça-branca, a franga-de-água, o marequinho e a garça-real; como visitantes de passagem, surgem o milhafre-real, a andorinha-das-barreiras, o pisco-de-peito-azul, etc.
A RNPA, Zona Húmida de Importância Internacional, destaca-se como local importante nas migrações outonais de passeriformes trans-sarianos, assim como local de reprodução e invernada de espécies que se encontram ameaçadas em grande parte das suas áreas de distribuição europeias; sendo também uma área importante como local de nidificação de aves de caniçal.
Mamíferos
Registaram-se, já, 12 espécies de mamíferos distribuídas por 7 famílias.
De entre as diversas espécies de mamíferos, destaca-se a presença da geneta e da lontra. Esta é uma espécie ameaçada devido à destruição do seu habitat, pela regularização das margens das linhas de água, poluição e perseguição de que é alvo pela cobiça do Homem, sendo uma espécie que urge preservar.
A presença de recursos que possibilitam satisfazer os requisitos da espécie (locais de abrigo, de reprodução e
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alimento) permitem a existência de uma população residente de lontra.
O acentuado declínio que se tem vindo a verificar nas últimas décadas provocou um aumento de interesse pela espécie. A lontra é objecto de vários estudos de investigação e campanhas de conservação.
Para conservar a lontra é necessário:
1. uma fonte alimentar adequada e não contaminada;2. vegetação ribeirinha que possibilite abrigo;3. perturbação humana disciplinada;4. fiscalização adequada em termos dos princípios vigentes
na legislação;5. programas de educação ambiental.
Caracterização morfológica e adaptações à vida aquática:
A pelagem é espessa, brilhante e uniformemente castanha, com excepção da região do ventre que é mais clara. O corpo alongado, a cabeça achatada e com olhos pequenos, os membros curtos e a cauda longa, ligeiramente achatada e afilada na ponta, são características que manifestam a sua perfeita adaptação à vida aquática. As patas, curtas e vigorosas, com 5 dedos ligados por uma membrana interdigital bem desenvolvida, permitem-lhe mover-se agilmente na água. Mergulham e chegam a estar submersas durante algum tempo.
Move-se dentro de água com o impulso das patas posteriores e do movimento sinuoso do corpo. A cauda desempenha a função de leme. A posição elevada das narinas e dos olhos permite-lhe manter-se à superfície sem ser notada.
Situação da espécie:
Nas últimas décadas têm vindo a reduzir de forma significativa, os locais de ocorrência e o seu número de efectivos.
Esta situação ocorre principalmente na Europa Ocidental, nos países do norte e centro, mais povoados e industrializados.
Factores que afectam a espécie:
a. abate furtivo;
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b. perturbação humana causada por actividades recreativas junto dos cursos de água;
c. mortalidade acidental: redes de pesca e acidentes de tráfego;
d. poluição química: agrícola e industrial;e. alteração dos cursos de água: drenagens, regularização,
extracção de inertes, construção de barragens, etc.;f. destruição da vegetação ribeirinha.
Factores de perturbação
Os principais problemas que afectam esta área protegida são a diminuição do nível freático, devido às obras de regularização efectuadas no Baixo Mondego, e a poluição da água, provocada pelos efluentes industriais e urbanos, e pela utilização de agro-químicos. Outros problemas são a diminuição de clareiras na vegetação aquática, provocada pela invasão do caniço, e a modificação do coberto vegetal nas vertentes devido à tendência para a substituição da vegetação natural pelo eucalipto.
Apesar de já se terem dado alguns passos significativos para o atenuar destes problemas, a sua resolução depende do esclarecimento e colaboração de todos, em particular dos agricultores, industriais e autarcas.
Aspectos Humanos - esteiras de Arzila
A ligação da população de Arzila ao seu paúl perde-se na memória dos tempos. Há alguns anos, quando a agricultura era para muitas famílias o principal meio de subsistência, o espaço alagadiço, era o local onde crescia o bunho, matéria-prima essencial no fabrico das esteiras, cuja venda proporcionava rendimento extra, bastante apreciado numa época marcada por grandes dificuldades.
As esteiras de Arzila assemelham-se a outras existentes nalguns locais do distrito de Aveiro, tais como a zona Estarreja-Canelas ou em Fermentelos, lugares onde existem zonas alagadiças e ocorre a presença do bunho.
Os processos rudimentares utilizados no fabrico artesanal das esteiras mantiveram-se inalterados ao longo dos tempos.
O corte do bunho é efectuado por homens, no final do Verão, utilizando o «foição», sendo uma tarefa de grande dureza; os trabalhos de escolha, ajuntamento e recolha, assim como os cuidados com a secagem, são efectuados
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por mulheres, que igualmente cortam o junção para fazer a «baraça», utilizada, também, no fabrico das esteiras.
São feitas num tear rudimentar, composto por duas varas laterais — os «canenhos» — encostadas a uma parede, que sustentam uma tábua horizontal com entalhes, onde é colocado o bunho, prendendo-se com as «baraças» a cujas pontas foram amarradas pedras, com a função de contrapesos. Dos dois molhos de bunho encostadas aos «canenhos», a esteireira vai retirando as hastes, colocando-as horizontalmente na tábua sobre as baraças; estas, são viradas alternadamente, as do lado direito com as do lado esquerdo, trocando as pedras da frente com as pedras de trás. Ao colocar as últimas hastes de bunho, a esteireira retira as pedras e ata as pontas da baraça.
A maior parte das esteiras são comercializadas através de intermediários que as procuram em Arzila. São utilizadas pelos viveiristas para protecção de árvores jovens no transporte; servem, ainda, para forrar adegas e esplanadas, para o acondicionamento de mobiliário e vasilhame, para protecção de vegetais aquando das geadas, como capacho, etc.
A melhoria das condições económicas, através da ocupação nos sectores secundário e terciário na cidade de Coimbra, aliada à dureza do trabalho do corte do bunho, levou a uma progressiva diminuição do seu fabrico.
Com a criação da RNPA, procura-se incentivar esta actividade artesanal, não só pela componente económica e social, mas também pela manutenção e conservação do ecossistema.
Conclusão
Zona húmida do vale inferior do Rio Mondego. Paúl com cerca de 165 ha, alonga-se por parte do percurso da Ribeira de Cernache. É drenado por 3 valas denominadas, de nascente para poente, Vala dos Moinhos, Vala do Meio e Vala da Costa. As 3 valas confluem em frente à povoação de Arzila, indo desaguar no Rio Mondego. A cobertura de vegetação hidrófila é essencialmente formada por bunho, caniço e tabúa. Nas margens das valas e nas zonas de transição para a área florestada encontram-se plantas arbustivas e arbóreas típicas de zonas alagadiças (choupos e salgueiros).
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A área tem um incontestável valor biológico, com elevada biodiversidade, particularmente sob o ponto de vista faunístico, com várias espécies estritamente protegidas por convenções internacionais. É a única zona húmida, até à data, integrada na Rede Europeia de Reservas Biogenéticas.
A reserva possui um centro de interpretação onde os visitantes poderão obter todo o tipo de informações, e possui um trilho pedestre, que permite um contacto directo com o ambiente paludícola.
Merece ainda destaque o artesanato característico da povoação de Arzila, que consiste no aproveitamento do bunho, espécie abundante no paúl, para a confecção de esteiras.
A principal actividade da área do paúl é a agricultura, seguindo-se a pesca artesanal nas valas, embora em menor grau
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