Bairro Piraja

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http://wiki.dcc.ufba.br/OndaDigital/CartilhaHistoriaPiraja O bairro de Pirajá fica localizado nas margens da BR-324 e de subúrbio ferroviário de Salvador . Bairro histórico - por ter sido palco de episódios ligados à Independência da Bahia- concentra garagens de empresas de ônibus, galpões atacadistas, várias lojas de autopeças, uma estação de ônibus (Estação Pirajá), um Portoseco, conjuntos habitacionais, a Represa do Cobre e o Parque Metropolitano de São Bartolomeu - local sagrado para as práticas do candomblé. Também abriga a sede do "Cortejo Afro", agremiação voltada à cultura negra e cantada por Daniela Mercury (na música "Preta"). Em Pirajá estão disponíveis seis linhas fixas de ônibus que são pertencentes a empresa de ônibus Axé. Em Pirajá estão disponíveis seis linhas fixas de ônibus que são pertencentes a empresa de ônibus Axé. Principais linhas de ônibus em funcionamento Linha Origem Destino 1505 Pirajá(RV) Barra 1507 Pirajá(RN) Lapa 1504 Pirajá(RN) Bx.Sapateir os 1508 Pirajá(RV) Pituba 1502 Pirajá(RN) Brotas H010 Pirajá (RN/RV) CAB História do Bairro Quem anda pelas ruas do bairro de Pirajá desconhece a imensa riqueza histórica desta localidade que é pouco valorizada pelos poderes públicos e a cuja história não é reconhecida pela maioria de seus moradores. Isso ocorre devido a falta de informação e ausência do sentimento de pertencimento, ou seja, a população não percebe que a relevância de Pirajá vai muito além dos festejos do 2 de julho, data em que o bairro é visitado por autoridades politicas e recebe cuidados especiais para as comemorações. No entanto, a valorização e importância histórica do 2 de Julho e os fatos

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http://wiki.dcc.ufba.br/OndaDigital/CartilhaHistoriaPiraja

O bairro de Pirajá fica localizado nas margens da BR-324 e de subúrbio ferroviário de Salvador. Bairro histórico - por ter sido palco de episódios ligados à Independência da Bahia- concentra garagens de empresas de ônibus, galpões atacadistas, várias lojas de autopeças, uma estação de ônibus (Estação Pirajá), um Portoseco, conjuntos habitacionais, a Represa do Cobre e o Parque Metropolitano de São Bartolomeu - local sagrado para as práticas do candomblé. Também abriga a sede do "Cortejo Afro", agremiação voltada à cultura negra e cantada por Daniela Mercury (na música "Preta").

Em Pirajá estão disponíveis seis linhas fixas de ônibus que são pertencentes a empresa de ônibus Axé.

Em Pirajá estão disponíveis seis linhas fixas de ônibus que são pertencentes a empresa de ônibus Axé.

Principais linhas de ônibus em funcionamentoLinha Origem Destino1505 Pirajá(RV) Barra1507 Pirajá(RN) Lapa1504 Pirajá(RN) Bx.Sapateiros1508 Pirajá(RV) Pituba1502 Pirajá(RN) BrotasH010 Pirajá (RN/RV) CAB

História do Bairro

Quem anda pelas ruas do bairro de Pirajá desconhece a imensa riqueza histórica desta localidade que é pouco valorizada pelos poderes públicos e a cuja história não é reconhecida pela maioria de seus moradores. Isso ocorre devido a falta de informação e ausência do sentimento de pertencimento, ou seja, a população não percebe que a relevância de Pirajá vai muito além dos festejos do 2 de julho, data em que o bairro é visitado por autoridades politicas e recebe cuidados especiais para as comemorações. No entanto, a valorização e importância histórica do 2 de Julho e os fatos ocorrídos na região de Pirajá não é disseminada e esclarecida o suficiente.

Na linguagem tupi-guarani, Pirajá significa lugar alagadiço, braço de rio ou mar, estreito que adentra a terra. No linguajar cotidiano dos moradores do atual bairro de Pirajá, o nome representa um lugar distante do centro, carente de infra-estrutura urbana e sem opções de lazer ou entretenimento para crianças e jovens da comunidade, como afirmaram os entrevistados para esta pesquisa: "No lazer precisamos de um parque, uma melhora na praça, melhorar os poucos campos de futebol e desenvolver um pequeno grupo de teatro para os jovens, pequenas fábricas de alimentos (consumo), implantar farmácias, mercados e outros no conjunto Pirajá que é o setor que possui menos comércio". (Paulo Henrique). Para outro morador o problema mais sério que enfrenta o bairro é ausência de cursos profissionalizantes, vagas de estágio nos mercados e outros pontos comerciais do bairro para os jovens da localidade.

Mas, por que Pirajá tem tanta importância para este projeto? qual o significado do Panteon e a Igreja de São Bartolomeu? que outros registros históricos estão presentes no bairro?

Para Reinan Reirim, um dos estudantes que participaram deste projeto, o desconhecimento sobre a história de Pirajá se assemelha ao Software Livre, ou seja, todo mundo usa software proprietário

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porque desconhece que existe outra possibilidade. Assim, a população de Pirajá comemora os festejos do 2 de julho mas não conhece a luta histórica que se travou nesta área.

O bairro é um dos mais antigos de Salvador, surgiu a partir de engenhos de açúcar e das primeiras missões jesuíticas que aportaram na Bahia no período da colonização, como constata o professor Luís Henrique Dias Tavares: “Na Ribeira de Pirajá os jesuítas estabeleceram nos primeiros anos de colonização a aldeia de São João de Plataforma, dando início às primeiras experiências de catequese. Alí surgiram os primeiros engenhos de açucar, como o de El-Rei ou Pirajá. No engenho São João, pertencente à Companhia de Jesus, onde o Padre Antonio Vieira pregou o seu primeiro sermão, em 1633. Pelas colinas de Pirajá corria a mais antiga via de penetração para o interior do país, a Estrada das Boiadas. A enseada do Cabrito oferecia, por outro lado, o único abrigo verdadeiramente seguro para as naus, nas vizinhanças da cidade.”

O QUE REPRESENTA O 2 DE JULHO PARA A INDEPENDÊNCIA DO BRASIL?

Mesmo após D.Pedro ter eternizado o grito do Ypiranga “independência ou morte” em 7 de setembro de 1822, a Bahia continuava sob o domínio da coroa portuguesa. Com a insatisfação do povo baiano, inicia-se o movimento libertário em Santo Amaro e em Cachoeira que era a cidade mais importante da região e até hoje seu parque arquitetônico guarda acervo considerável sobre este período da história.

Antes que D.Pedro proclamasse o "grito do Ypiranga", a guerra pela independência do Brasil na Bahia já estava iniciada desde 25 de junho de 1822 na Vila de Nossa Senhora do Rosário da Cachoeira, hoje cidade de Cachoeira, sob o comando do coronel de milícias Joaquim Pires de Carvalho e Albuquerque de Ávila Pereira, posteriormente nomeado Visconde de Pirajá, que comandava as operações de guerra mesmo sem uma estrutura militar. Em julho de 1822 o coronel Joaquim Pires reuniu todo o armamento e tropa (formada por milicias e voluntários) que comandava no quartel do Engenho Novo de Pirajá e entregou ao comando do general francês Pedro Labatut enviado pelo governo do principe D.Pedro, que veio para organizar o exército e enfrentar as forças portuguêsas que eram comandadas por Madeira de Melo.

Ao organizar seu exército Labatut constatou que o mesmo era composto por “brancos pobres, negros libertos, escravos enviados por seus senhores, voluntários” e ressaltou em documento encaminhado ao Ministro José Bonifácio que “nenhum filho de proprietário rico constava como voluntário”.

Hoje a rua de maior movimento de comércio chama-se 8 de novembro. Por que esta data?

A batalha começou na madrugada do dia 8 de novembro de 1822, quando 250 soldados portugueses que desembarcaram em Itacaranha atacando a área do Engenho do Cabrito, enquanto um outro grupo avançava por terra até Pirajá. A batalha durou 8 horas com um total de 4.000 homens e revelando-se na mais alta demonstração de resistência brasileira ao longo da luta pela independência.

A vitória desta batalha guarda uma dúvida até hoje não esclarecida, pois atribui a uma falha do “Corneteiro Lopes” que não se sabe se intencionalmente ou não trocou o toque da corneta. A versão deve-se a Ladislau dos Santos Titara, encarregado de registrar em livros toda a correspondência do General Labatut, onde ele consta que o cabo-corneta Luís Lopes salvou o exército brasileiro com o toque de “avançar a cavallaria, e sucessivamente à degola”, ao contrário do toque de retirada que lhe havia sido ordenado pelo tenente-coronel Barros Falcão. "Mas há quem diga que o corneteiro Lopes e sua façanha não passe de balela. Um deles é o historiador Ubiratan Castro. Segundo acredita, o corneteiro Lopes não passa de uma lenda inventada pelos portugueses. Estaria mais próxima de um deboche: brasileiro só ganhou a campanha porque errou o toque da corneta. A essa idéia, soma-se o preparo do exército português, acostumado às campanhas napoleônicas. Sendo assim, ficaria difícil acreditar que um simples toque de corneta levassem os lusos a fugir. Bem, verdade ou mentira, a figura do corneteiro Lopes está incorporada à história da Independência da Bahia. É assim que se criam os mitos".(fonte:http://www.abcvbahia.com.br/novaonda/15_corneteiro8.htm)

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LABATUT: HERÓI OU ALGOZ?

Para o historiador Luís Henrique Dias Tavares "A construção do 2 de julho é lenta e se faz com alguns equívocos, porque a Bahia continua até hoje homenageando o general Labatut no 2 de julho, e não há a menor razão para isso. Foram os brasileiros que de fato libertaram a cidade do Salvador de armas nas mãos. Primeiro foram os brasileiros de Santo Amaro, Maragogipe, Cachoeira, São Francisco do Conde, Nazaré das Farinhas, Jaguaripe que formavam um exército de esfarrapados... Depois entraram os brasileiros que desceram lá de Caetité e de outros pedaços do sertão e da Chapada Diamantina, formando um exército das mais diferentes cores, de brasileiros filhos de escravos, descendentes de escravos, brasileiros brancos pobres que nada tinham além de uma roça de cana plantada para o senhor de engenho". (fonte:http://www.revistapesquisa.fapesp.br/?art=2755&bd=1&pg=6&lg=)

Em janeiro de 1823, Labatut foi preso e enviado para o Rio de Janeiro, pois suas decisões eram consideradas arbitrárias e ditatoriais. Dentre os demandos atribuídos ao General Labatut consta que após a prisão de alguns escravos, destes, 50 homens e 20 mulheres. Labatut deu ordens para que todos os homens fossem fuzilados e as mulheres chiocoteadas.

Para substituí-lo foi escolhido José Joaquim de Lima e Silva, que manteve a mesma tática de guerrilha, com o apoio da esquadra de Lord Cochrane, fazendo o cerco marítimo.

Em 2 de julho de 1823, Madeira de Melo, sem saída, foge para Portugal. O embarque do exército português ocorreu na madrugada do dia 2 de julho de 1823, a cidade do Salvador amanheceu quase deserta, dando-se sua ocupação a partir do quartel de Pirajá sob o comando do coronel Lima e Silva e tendo a frente o batalhão do Imperador vindo do Rio de Janeiro, seguido do batalhão de Pernambuco e a retaguarda estavam os soldados “descalços e quase nus por causa das fardas rasgadas”, depois vinham os negros do batalhão dos Libertos.

O povo baiano foi decisivo na luta pela Independência da Bahia. A figura do caboclo e da cabocla, que representam a veia indígena da população e os “donos da terra”, fazem parte do folclore regional e da história do Dois de Julho. Outra grande heroína foi Maria Quitéria de Jesus Medeiros. Nascida no Recôncavo baiano, a jovem alistou-se no exército e teve atuação destacada na luta contra os portugueses.

QUAL A IMPORTÂNCIA DA IGREJA E DO PANTEON QUE ESTÃO NA PRAÇA?

Esta importante construção da segunda metade do século XVIII encontra-se na principal via de acesso ao bairro de Pirajá e origina-se da primitiva igreja, do século XVI que ficava em uma planície deserta e montuosa. A igreja abrigou até 1914, os restos mortais do general Labatut, sepultado ao lado de outros heróis da independência, como o brigadeiro Luis da França Pinto Garcez, Manoel Joaquim Pinto Laca, José Jaciene de Menezes e do major Francisco Lopes Jiquiriçá. Em 26 de julho de 1914, a Liga Bahiana de Educação Cívica transferiu o túmulo do general Pedro Labatut da Igreja de São Bartolomeu para um panteão construído ao lado da igreja.

POR QUE EXISTE A FESTA DE LABATUT?

A Festa de Labatut ou de São Bartolomeu existe desde 1853, criada quatro anos após a morte do general Pedro Labatut. Nessa época, iniciou-se uma romaria ao túmulo do general, que até hoje é reverenciado como o principal personagem da independência da Bahia.

A festa de Labatut inicia-se uma semana depois da maior festa do 2 de Julho, os moradores de Pirajá e bairros vizinhos, se reúnem e fazem a sua festa particular que dura três dias. Para Angela Santos, estudante e moradora do bairro, atualmente a festa perdeu o simbolismo e representa apenas mais uma festa onde se tem várias atrações musicais no largo da Igreja.

O PARQUE DE SÃO BARTOLOMEU

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A importância histórica e paisagística do Parque de São Batolomeu ainda não teve lugar de destaque nas políticas públicas de preservação ambiental. nesta região localizava-se aldeias indígenas e era onde os padres jesuítas mantinham um engenho de açúcar "Engenho de São João" e faziam a catequese dos índios. O parque guarda uma verdadeira aula de história da Bahia, pois foi nesta região que se estabeleceu a primeira aldeia indígena, para este local corriam os escravos que conseguim fugir de seus senhores e nestas matas da reserva fundaram o quilombo do Urubu. O fato de ter servido de refúgio para os escravos talvez justifique porque o parque tem um grande valor para os praticantes do candomblé, fruto da herança e devoção com as divindades africanas. O livro “Memorial Pirajá”, editado em 1998 pela EDUFBA traz um importante registro documental de todo o sítio histórico de Pirajá e segundo o agbagigan e economista Everaldo Duarte "o Parque de São Bartolomeu, pela sua composição, se identifica como local sagrado". Ainda hoje as oferendas são feitas nas pedras e árvores consideradas sagradas a seus orixás. Representando para os devotos a expressão da natureza, dos deuses criadores. O parque de São Bartolomeu também é chamado de Oxumarê, senhor do arco Íris e possui as cachoeiras de Oxum, Nanan, Oxumarê, além da existência da represa do Cobre, responsável pelo abastecimento de aproximadamente 200 mil pessoas nos bairros que circundam o parque. Hoje, o parque encontra-se em situação de constante degradação, e assim, o que antes era uma descrição paradisíaca do Parque cede lugar a uma visão de abandono e devastação em uma das últimas reservas de mata atlântica em local urbano no Brasil.