Badi Assad - A Nova Democracia

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12 1 A QUINZENA DE JANEIRO DE 2015 Rosa Minine Se identificando com di- versas formas de artes e as in- tegrando no seu universo, Badi Assad é uma brasileira que faz música e se apresenta pelo país e o mundo. Inventando ritmos, representando suas letras, Badi entrou recentemente no mundo infantil, vivendo um dia musical na vida de uma criança com o Cantos de Casa. — Não sei se descobri a mú- sica ou se foi a música que me descobriu, porque sempre esteve presente na minha vida. Passei por várias fases, a primeira foi acompanhar meu pai com violão nas rodas de choro — conta Badi. — Depois fui cursar bachare- lado em violão, juntamente com meus irmãos. Porém, no decorrer da faculdade, vi que a música erudita não era o meu universo. Então fui lentamente migrando para o violão instrumental bra- sileiro — continua. — Mais tarde descobri que também cantava, que tinha um prazer enorme fazendo isso. Só que no início a voz entrou muito como um instrumento comple- mentar ao meu violão. Era mais como efeito mesmo. A artista fez uma pesquisa vocal que durou anos, a colo- cando em contato com a músi- ca étnica do mundo todo. Mais tarde descobriu que também gostava de escrever, compor suas próprias cantigas. — Descobri o amor pela pa- lavra e, desde então, meu tra- balho teve uma aproximação maior com a música popular. Acabei abandonando a facul- dade de violão, mas não foi por- que era voltada para o erudito e sim porque já estava fazendo shows e não deu para conciliar — explica. — Gostava muito da facul- dade em si. Participava do coral e fazia matérias extracurriculares que amava e que não tinham nada a ver com a música erudita, por exemplo, teatro e voz. — Enfim, foi quando desco- bri outras formas de arte que não a música e que serviram dentro da música. Acabaram fazendo parte do meu acervo pessoal. O teatro mesmo eu uso muito no palco — acrescenta. Por conta de pesquisas e in- fluências diversas, Badi conta que seu trabalho não cabe em um só compartimento. — Ele é muito diversifica- do, costumo dizer que no balaio tem muitos gatos. Não tem estilo algum que eu goste de explorar mais do que outro. Meu leque de preferências musicais é bem aberto. — Porém, ao mesmo tem- po, é bem estreito porque uma música, de qualquer gênero que seja, tem duas facilidades: ou me emociona ou não me emociona — continua. — Dentro dessa perspectiva qualquer estilo pode me emocio- nar e é nessa caminhada que es- colho meu repertório, incluindo músicas do cancioneiro interna- cional, que eu posso trazer para o meu próprio universo, onde o violão é mais presente, apare- ce um ritmo brasileiro, minha vivência. A arte de trabalhar com música — Gosto da possibilidade de desconstruir uma música e construí-la novamente, inven- tar até mesmo um novo ritmo, inovar. É muito ampla essa gama de possibilidades, e deixo aberto para que elas aconteçam natu- ralmente — declara Badi. — Nas minhas turnês inter- nacionais não tenho exatamente uma preocupação de mostrar música brasileira. Mostro o que tenho, e acaba que a música bra- sileira aparece pelo fato de estar em mim. Eu sou brasileira e mi- nha música é um pouco de mim. — Não posso dizer que o meu show seja de música brasileira no sentido de apresentar o ritmo tal e tal, porque têm alguns que eu invento para certas músicas que nem são brasileiras. E vou inventando com o meu próprio repertório. Badi acredita que sua for- ma de trabalhar é que faz a diferença. Música e teatro no palco — Acho que o que os gringos mais gostam em mim é cantar, tocar e representar aquilo que canto. Porque mergulho mes- mo no universo de uma música, procuro viver aquilo que ela está querendo dizer — conta. — Agora em maio devo vol- tar para a Alemanha. Estive lá recentemente para um projeto de formar um quarteto com dois irmãos alemães e um percussio- nista árabe. Entre turnês internacionais e apresentações pelo país, Badi encontrou tempo e está traba- lhando para crianças. — Meu CD mais recente, Cantos de Casa, é esse mergu- lho no universo infantil. E tem o show com o mesmo nome, onde exerço todos os cursos de teatro que fiz lá na adolescência, na faculdade — diz. — Me utilizo de uma perso- nagem, a Roberta, para fazer todo o espetáculo. A Badi não aparece. Quem canta, quem faz tudo é a Roberta. E me divirto tanto que posso dizer que desco- bri ter nascido para fazer show para crianças. É muito prazero- so, gratificante. — Na verdade, sempre tive uma conexão com as crianças. Agora, com esse trabalho, estou podendo realmente experimen- tar isso numa escala um pouco maior. E com certeza a minha filha, Sofia, de 7 anos de idade, é a grande responsável por eu exercer essa liberdade com as crianças — explica. O disco foi todo feito por Ba- di, inclusive produção e direção. — Foi a primeira produção exclusivamente minha. As mú- sicas foram letras que surgiram a princípio do cotidiano, de con- vivência com a minha filha. — E, quando fui procurar um elemento condutor, uma linha condutora para fazer o disco, percebi que tinha material su- ficiente para tratar um dia na vida de uma criança dentro de uma casa. Por isso que é cantos de casa — diz. — O CD percorre todo o dia da criança. Na hora que acorda tem a cantiga do bom dia, depois tem a música para escovar os dentes. E assim vai, até a hora que ela vai dormir com uma cantiga de ninar. Não existem instrumentos de percussão tradicional no Cantos de Casa. — Toda a linha rítmica foi feita com instrumentos através de materiais reciclados, ou a partir de objetos da casa. Cada cômodo da casa tem a sua per- cussão. Se uma música acontece na cozinha, eu toco prato com colheres etc — conta. — Na música que falo sobre escovar os dentes, faço o ritmo com a escova de dente mesmo, e com a pia. Então tem uma ca- racterística também ligada à sustentabilidade, o que é muito interessante. Badi tem projeto de traba- lhar o disco em escolas e prepara um livro didático. — Quero levar os shows para algumas escolas que têm a ca- racterística de abraçar projetos como o meu. Já tem alguma coisa nesse sentido em andamento. E esse ano está programado para sair o livro. — Ele terá todas as músicas do Cantos de Casa cifradas e direcionadas para algo mais educativo. Então é uma verten- te do meu trabalho que quero continuar, acompanhando com o crescimento da minha filha – conclui Badi Assad. O site www.badiassad.com é o contato da artista.

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Matéria com Badi Assad publicada em Janeiro/2015 no Jornal "A Nova Democracia".

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12 1a quinzena de Janeiro de 2015

Rosa Minine

Se identificando com di-versas formas de artes e as in-tegrando no seu universo, Badi Assad é uma brasileira que faz música e se apresenta pelo país e o mundo. Inventando ritmos, representando suas letras, Badi entrou recentemente no mundo infantil, vivendo um dia musical na vida de uma criança com o Cantos de Casa.

— Não sei se descobri a mú-sica ou se foi a música que me descobriu, porque sempre esteve presente na minha vida. Passei por várias fases, a primeira foi acompanhar meu pai com violão nas rodas de choro — conta Badi.

— Depois fui cursar bachare-lado em violão, juntamente com meus irmãos. Porém, no decorrer da faculdade, vi que a música erudita não era o meu universo. Então fui lentamente migrando para o violão instrumental bra-sileiro — continua.

— Mais tarde descobri que também cantava, que tinha um prazer enorme fazendo isso. Só que no início a voz entrou muito como um instrumento comple-mentar ao meu violão. Era mais como efeito mesmo.

A artista fez uma pesquisa vocal que durou anos, a colo-cando em contato com a músi-ca étnica do mundo todo. Mais tarde descobriu que também gostava de escrever, compor suas próprias cantigas.

— Descobri o amor pela pa-lavra e, desde então, meu tra-balho teve uma aproximação maior com a música popular. Acabei abandonando a facul-dade de violão, mas não foi por-que era voltada para o erudito e sim porque já estava fazendo shows e não deu para conciliar — explica.

— Gostava muito da facul-dade em si. Participava do coral e fazia matérias extracurriculares que amava e que não tinham nada a ver com a música erudita, por exemplo, teatro e voz.

— Enfim, foi quando desco-bri outras formas de arte que não a música e que serviram dentro da música. Acabaram fazendo parte do meu acervo pessoal. O teatro mesmo eu uso muito no palco — acrescenta.

Por conta de pesquisas e in-fluências diversas, Badi conta que seu trabalho não cabe em um só compartimento.

— Ele é muito diversifica-do, costumo dizer que no balaio tem muitos gatos. Não tem estilo algum que eu goste de explorar mais do que outro. Meu leque

de preferências musicais é bem aberto.

— Porém, ao mesmo tem-po, é bem estreito porque uma música, de qualquer gênero que seja, tem duas facilidades: ou me emociona ou não me emociona — continua.

— Dentro dessa perspectiva qualquer estilo pode me emocio-nar e é nessa caminhada que es-colho meu repertório, incluindo músicas do cancioneiro interna-cional, que eu posso trazer para o meu próprio universo, onde o violão é mais presente, apare-ce um ritmo brasileiro, minha vivência.

A arte de trabalhar com música

— Gosto da possibilidade de desconstruir uma música e construí-la novamente, inven-tar até mesmo um novo ritmo, inovar. É muito ampla essa gama de possibilidades, e deixo aberto para que elas aconteçam natu-ralmente — declara Badi.

— Nas minhas turnês inter-nacionais não tenho exatamente uma preocupação de mostrar música brasileira. Mostro o que tenho, e acaba que a música bra-sileira aparece pelo fato de estar em mim. Eu sou brasileira e mi-nha música é um pouco de mim.

— Não posso dizer que o meu show seja de música brasileira no sentido de apresentar o ritmo tal e tal, porque têm alguns que eu invento para certas músicas que nem são brasileiras. E vou inventando com o meu próprio repertório.

Badi acredita que sua for-ma de trabalhar é que faz a diferença.

Música e teatro no palco

— Acho que o que os gringos mais gostam em mim é cantar, tocar e representar aquilo que canto. Porque mergulho mes-mo no universo de uma música, procuro viver aquilo que ela está querendo dizer — conta.

— Agora em maio devo vol-tar para a Alemanha. Estive lá recentemente para um projeto de formar um quarteto com dois irmãos alemães e um percussio-nista árabe.

Entre turnês internacionais

e apresentações pelo país, Badi encontrou tempo e está traba-lhando para crianças.

— Meu CD mais recente, Cantos de Casa, é esse mergu-lho no universo infantil. E tem o show com o mesmo nome, onde exerço todos os cursos de teatro que fiz lá na adolescência, na faculdade — diz.

— Me utilizo de uma perso-nagem, a Roberta, para fazer todo o espetáculo. A Badi não aparece. Quem canta, quem faz

tudo é a Roberta. E me divirto tanto que posso dizer que desco-bri ter nascido para fazer show para crianças. É muito prazero-so, gratificante.

— Na verdade, sempre tive uma conexão com as crianças. Agora, com esse trabalho, estou podendo realmente experimen-tar isso numa escala um pouco maior. E com certeza a minha filha, Sofia, de 7 anos de idade, é a grande responsável por eu exercer essa liberdade com as crianças — explica.

O disco foi todo feito por Ba-di, inclusive produção e direção.

— Foi a primeira produção exclusivamente minha. As mú-sicas foram letras que surgiram a princípio do cotidiano, de con-vivência com a minha filha.

— E, quando fui procurar um elemento condutor, uma linha condutora para fazer o disco, percebi que tinha material su-ficiente para tratar um dia na vida de uma criança dentro de uma casa. Por isso que é cantos de casa — diz.

— O CD percorre todo o dia da criança. Na hora que acorda tem a cantiga do bom dia, depois tem a música para escovar os dentes. E assim vai, até a hora que ela vai dormir com uma cantiga de ninar.

Não existem instrumentos de percussão tradicional no Cantos de Casa.

— Toda a linha rítmica foi feita com instrumentos através de materiais reciclados, ou a partir de objetos da casa. Cada cômodo da casa tem a sua per-cussão. Se uma música acontece na cozinha, eu toco prato com colheres etc — conta.

— Na música que falo sobre escovar os dentes, faço o ritmo com a escova de dente mesmo, e com a pia. Então tem uma ca-racterística também ligada à sustentabilidade, o que é muito interessante.

Badi tem projeto de traba-lhar o disco em escolas e prepara um livro didático.

— Quero levar os shows para algumas escolas que têm a ca-racterística de abraçar projetos como o meu. Já tem alguma coisa nesse sentido em andamento. E esse ano está programado para sair o livro.

— Ele terá todas as músicas do Cantos de Casa cifradas e direcionadas para algo mais educativo. Então é uma verten-te do meu trabalho que quero continuar, acompanhando com o crescimento da minha filha – conclui Badi Assad.

O site www.badiassad.com é o contato da artista.