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33 BACIA DO SÃO FRANCISCO Segmento Geológico-Geotécnico Vertente Direita VD-1 do rio São Francisco (OAE km 22+245- ao km 27+930) Vertente Direita VD-1 do rio São Francisco (Figura 48) é caracterizada por seção a meia encosta com presença de morros residuais por vezes capeados por solo coluvionar. Na contra encosta tem-se bacia de infiltração formada pelo vale aluvionar praticamente plano do córrego Sujo e córrego Santo Antônio. Na base da seção meia encosta o rio São Francisco se desenvolve em meandros que por vezes se aproximam do pé do talude de jusante (Figura 49), deflagrando rupturas por solopamento (Figura 50), podendo ocorrer aquelas mobilizadas por rebaixamento rápido, ou associação dos dois eventos (Figura 51). O leito do rio São Francisco apresenta trechos de assoalho rochoso e presença de blocos de rocha de dimensões variadas, provavelmente oriundos de detritos de deslizamentos que foram transportados pela força da água. Nas poucas seções em corte pleno verificam-se bombeamentos de água no pavimento (Figura 52). O solo desse segmento é relativamente homogêneo, sendo caracterizado por solo silte argiloso marrom avermelhado (Figura 53). Os eventuais afloramentos de rocha interceptados pela rodovia são muitos fraturados e, por consequência, susceptíveis a desprendimentos de blocos de rocha e rupturas planares e em cunha (Figura 54). De maneira geral, predominam os deslizamentos nos taludes de jusante devido a morfologia meandrante do rio. Figura 48 Morfologia da área da vertente direita VD-1 da bacia hidrográfica do rio São Francisco.

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BACIA DO SÃO FRANCISCO

Segmento Geológico-Geotécnico Vertente Direita VD-1 do rio São Francisco (OAE km

22+245- ao km 27+930)

Vertente Direita VD-1 do rio São Francisco (Figura 48) é caracterizada por seção a meia encosta

com presença de morros residuais por vezes capeados por solo coluvionar. Na contra encosta tem-se

bacia de infiltração formada pelo vale aluvionar praticamente plano do córrego Sujo e córrego

Santo Antônio. Na base da seção meia encosta o rio São Francisco se desenvolve em meandros que

por vezes se aproximam do pé do talude de jusante (Figura 49), deflagrando rupturas por

solopamento (Figura 50), podendo ocorrer aquelas mobilizadas por rebaixamento rápido, ou

associação dos dois eventos (Figura 51). O leito do rio São Francisco apresenta trechos de assoalho

rochoso e presença de blocos de rocha de dimensões variadas, provavelmente oriundos de detritos

de deslizamentos que foram transportados pela força da água. Nas poucas seções em corte pleno

verificam-se bombeamentos de água no pavimento (Figura 52). O solo desse segmento é

relativamente homogêneo, sendo caracterizado por solo silte argiloso marrom avermelhado (Figura

53). Os eventuais afloramentos de rocha interceptados pela rodovia são muitos fraturados e, por

consequência, susceptíveis a desprendimentos de blocos de rocha e rupturas planares e em cunha

(Figura 54). De maneira geral, predominam os deslizamentos nos taludes de jusante devido a

morfologia meandrante do rio.

Figura 48 – Morfologia da área da vertente direita VD-1 da bacia hidrográfica do rio São Francisco.

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Figura 49 – Morfologia meandrante do rio São Francisco, com deposição de material nas margens internas e

evolução de processos erosivos na curvatura externa do rio. O leito apresenta afloramentos em rocha e

presença de blocos de rocha. Trecho nas proximidades do km 27.

Figura 50 – Ruptura por erosão fluvial causada pela força da água atuante na curvatura externa do rio São

Francisco (km 22+515).

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Figura 51 – Ruptura no talude de jusante com trincas e abatimento no pavimento resultante do solopamento

da base associada ao rebaixamento rápido (km 27+110).

Figura 52 – Seção da rodovia em corte pleno com presença de bombeamento de água no pavimento e

surgências no talude para o lado de montante (km 24+110).

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Figura 53 - Talude de corte em solo silte argiloso marrom avermelhado (km 22+365), tipo de solo

predominante no segmento geológico-geotécnico.

Figura 54 - Seção de corte pleno em afloramento rochoso muito fraturado (km 25+340, pistas 1 e 2).

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BACIA DO SÃO FRANCISCO

Segmento Geológico-Geotécnico Vertente Direita VD-2 do rio São Francisco (km27+930 ao

km 31+120)

A região da vertente direita VD-2 do rio São Francisco é caracterizada pela presença de derrames

coluvionares compostos por solo argilo siltoso marrom avermelhado bastante homogêneo (km

27+930 ao km 28+500) e por depósitos de tálus-colúvio interceptados por falhamento geológico

que mergulham na direção da rodovia (km 28+500 ao km 31+120), cujo relevo apresenta formação

caótica (Figura 55). Na contra encosta tem-se vale aluvio-coluvionar plano situado em cota superior

à plataforma rodoviária. Sua formação ocorre após o encontro com o córrego da Água Suja com o

córrego Sujo. A atitude das fraturas e descontinuidades associadas é desfavorável a estabilidade do

talude e favorável a percolação de água na direção da rodovia. Ocorrem vários pontos de surgência

de água nos taludes e bombeamentos de água subterrânea no pavimento.

Figura 55 – Morfologia e geologia da vertente direita VD-2 do rio São Francisco.

A região apresenta encostas em condição muito frágil de estabilidade, principalmente no trecho de

tálus-colúvio em região de falhamento com contato de diferentes compartimentos geológicos.

Nesses trechos têm-se deformações pista e movimentação de rastejo com velocidades e

deslocamentos elevados (Figura 56). Tais movimentações ocorrem em profundidade, no horizonte

rochoso, caracterizado por descontinuidades inclinadas e pelo fácil desplacamento de lajes

rochosas, decorrentes principalmente de alívios de tensões (Figura 57). Nos derrames coluvionares

notam-se rupturas rotacionais resultante de perda de coesão (Figura 58). Os taludes de jusante são

afetados pelo lençol freáticos e por processos erosivos. As características do solo de deposição com

presença de blocos de rocha rolados favorecem ao surgimento de processos erosivos, que por vezes

aprofunda o suficiente para atingir o lençol freático, deflagrando voçorocas nos taludes de jusante

(Figura 59). A condição de estabilidade dos taludes de jusante é fragilizada por sua geometria,

Falha geológica

Bacia de infiltração

córrego Sujo

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principalmente altura, perfil geológico e por pressões de água subterrânea (Figura 60). A

complexidade geológica promove diversos mecanismos de ruptura em uma mesma encosta (Figura

61).

Figura 56 – Ruptura decorrente de alívio de tensões associado a pressões de água subterrânea. Após o alívio

de tensões, o rastejo lento que ocorria ao longo de anos, ganhou outra proporção - movimentação de encosta

com velocidade e deslocamentos elevados, que ocorrem desde a superfície do terreno até em profundidade

superior a 30m dentro do horizonte rochoso (km 29+095).

Figura 57 - Talvegue em assoalho rochoso a montante do bueiro situado no km 29+205. A rocha exposta

caracteriza a unidade geológica do km 29+095 - finas camadas de lajes rochosas separadas por fraturas de

elevada persistência se sobrepondo com mergulho no sentido de percolação do lençol freático. Com a

relaxação das tensões essas lajes rochosas tendem a deslizar e desplacar. Fenômeno vulgarmente conhecido

como efeito cebola.

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Figura 58 - Rupturas rotacionais por perda de coesão em derrames coluvionares homogêneos compostos por

solo argilo siltoso marrom avermelhado e poroso (km 28+015 e km 28+195). Nota-se formação de

voçorocas no talude de jusante avançando em direção à plataforma rodoviária.

Figura 59 – Evolução de processos erosivos que atingem a profundidade do lençol freático formando

voçorocas nos taludes de jusante que avançam em direção à plataforma rodoviária.

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Figura 60 – Taludes de jusante formados por material de deposição de sopé de encosta apresentado

geometria desfavorável à estabilidade (elevada altura) agravada pelo perfil geológico-geotécnico e por

pressões de água subterrânea.

Figura 61 - Diversos mecanismos de ruptura deflagrados em uma mesma encosta (km 30+305).

A ocorrência do km 30+305 refere-se a uma encosta composta por 5 segmentos de ocorrências

geotécnicas: (1) capa de solo sobre laje rochosa remanescente de deslizamento pré-existente; (2)

ruptura retrogressiva múltipla translacional e rotacional; (3) ruptura de base com processos erosivos

em evolução; (4) ruptura retrogressiva múltipla translacional e rotacional e (5) bloco de rocha com

volume de 2.000m3. Fazem parte da área de influência: (i) talvegue de montante e (ii) bacia de

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acumulo e infiltração de água. Há na base da encosta pontos de surgência de água subterrânea. A

Figura 62 apresenta esses pontos na vista frontal (foto aérea).

Figura 62 – Vista da encosta do km 33+305 com indicação da segmentação geotécnica.

No final do segmento VD-2 tem-se iniciado uma movimentação de rastejo em depósito de tálus-

colúvio que devida à distância da plataforma rodoviária ainda não mobilizou deformações visíveis

na pista de rolamento. A movimentação é contínua e observam-se trincas muito abertas decorrentes

de rupturas na crista com potencial de infiltração de água. Nas Figuras 63 e 64 apresentam-se as

imagens aérea e terrestre da movimentação em língua de tálus-colúvio do km 30+780.

Figura 63 – Movimentação de rastejo em língua de tálus-colúvio no final do segmento VD-2 (km 30+780).

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Figura 64 - Movimentação de rastejo em língua de tálus-colúvio na direção da plataforma rodoviária (km

30+780).

A calha do rio São Francisco apresenta declividade variável, havendo trechos em corredeira e

outros relativamente planos, desenvolvendo-se em meandros com presença de assoalho rochoso e

matacões de rocha de dimensões variáveis oriundos de deslizamentos de detritos transportados ou

não pela força da água (Figura 65). Nos trechos de maiores declividades o vale é mais estreito com

formato em “V” (Figura 65).

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Figura 65 – Calha do rio São Francisco se desenvolve em meandro apresenta declividade variável. Nos

trechos mais inclinados do canal fluvial tem-se assoalho rochoso e vale encaixado em forma de “V”. Nos

trechos planos do rio o vale é aberto com deposições alúvio-coluvionares com presença de matacões de

dimensões variáveis.

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BACIA DO SÃO FRANCISCO

Segmento Geológico-Geotécnico Vertente Direita VD-3 do rio São Francisco (km 31+120 ao

km 33+800 OAE)

O segmento geológico-geotécnico Vertente Direita VD-3 situa-se em domínio de morros elevados

com ocorrência de "pães-de-açúcar" (soerguimentos rochosos) e apresenta relevos de degradação

em planaltos dissecados ou superfícies aplainadas, de morros convexo-côncavos dissecados e topos

arredondados ou aguçados, com sedimentação de colúvios, alúvios e, ocasionalmente, depósitos de

tálus-colúvio. Ocorrência de compartimentos colinosos em seções alveolares no vale do rio São

Francisco. Densidade de drenagem média a alta com padrão de drenagem variável, de dendrítico a

retangular. Predomínio de amplitudes topográficas entre 200 e 500m e gradientes médios, com

presença de formas residuais proeminentes e gradientes elevados. Na Figura 66 apresenta-se a

morfologia do relevo da Vertente Direita VD-3.

Figura 66 - Relevo da Vertente Direita VD-3 caracterizado por formas residuais com afloramentos de rocha

fraturada nas bases das encostas e soerguimentos rochosos maciços residuais capeados por colúvios. Para o

lado de jusante da rodovia ocorre rampas colúvio-aluvionais sotopondo terraço aluvionar da calha do canal

fluvial do rio São Francisco.

Observam-se afloramentos de rocha fraturada a muito fraturada situados nas bases das encostas

recobertos por horizontes de solos residuais jovem e maduro (Figura 67), ocasionalmente com

capeamento coluvionar. Ocorrem taludes de corte em rocha fraturada com atitude desfavorável,

formação de blocos e lascas de rocha, sinais de rupturas e presença de blocos soltos sobre plano

inclinado. No maciço rochoso notam-se rupturas planares e em cunha e superfícies com inclinação

negativa e blocos de rocha soltos.

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Figura 67 – Afloramento em rocha fraturada na base da encosta escavado para implantação da rodovia

recoberto por horizonte de solo residual. Sistema de faturamento caracterizado por planos com mergulhos na

direção da rodovia e formação de lascas e blocos de rocha (km 31+310).

Os relevos residuais apresentam espessa camada de solo formando taludes de corte e natural com

elevada altura, sem escalonamento, com inclinações da ordem de 45°. O efeito da sucção é

significativo devido a presença de finos no solo, havendo variações na sua resistência ao

cisalhamento em função do clima, períodos chuvoso e seco. Nos períodos chuvosos, a redução do

intercepto coesivo associada a configuração geométrica conduz a uma condição de segurança

próxima de um colapso. As rupturas podem ocorrer mesmo que o solo não tenha atingido sua

condição saturada e quando ocorrem mobilizam uma porção significativa do talude (Figura 68) e

passam a sofrer processos erosivos contínuos.

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.

Figura 68 – Rupturas de grandes proporções em morros com camadas espessas de solo residual (km 31+470

e km 31+585).

Devido as grandes proporções que essas rupturas alcançam quando tratadas tendem a conduzir para

soluções de terraplenagem (escalonamento do talude) associadas a um sistema de drenagem (Figura

69). Entretanto, a reconformação do talude através do escalonamento engloba boa parte do terreno

de montante, de forma a envolver quase toda encosta. Nesse casos cuidados especiais devem dados

à drenagem para evitar a reativação de processos erosivos.

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Figura 69 – Solução de escalonamento de talude adotada para melhoria da condição de estabilidade de

encosta colapsada (km 32+675). Nota-se que há importante contribuição de água subterrânea oriunda do

talvegue situado na contra encosta em cota muito superior ao nível da plataforma.

Taludes de jusante são afetados pelas erosões fluviais das curvaturas externas do rio São Francisco

e por intervenções antrópicas para implantação de rampas de acesso. As rupturas mobilizadas por

solopamento da base do talude de jusante são as mais importantes, pois sua tipologia normalmente é

retrogressiva (Figura 70). Pode-se por um determinado período de tempo ter uma ruptura no pé sem

afetar a porção superior, mas devida sua verticalização, rupturas superficiais por perda de coesão e

processos erosivos fluviais associados a saturação do talude mobilizarão uma ruptura retrogressiva

brusca, podendo atingir a pista de rolamento da rodovia.

Figura 70 – Rupturas retrogressivas ativadas por solopamento da base do talude de jusante que virá a

mobilizar a porção superior do maciço terroso.

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Entre os quilômetros km 33 e km 34 soerguimentos rochosos aflorados em matrizes de solo por

intemperismo diferencial (Figura 71) apresentam-se muito sãos com alguns blocos de grandes

dimensões destacados apoiados em fraturas inclinadas e abertas (Figura 72).

Figura 71 – Soerguimentos rochosos aflorados em matriz de solo por intemperismo diferencial.

Figura 72 – Escarpas em rocha sã com blocos destacados apoiados em fraturas abertas e inclinadas.

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No sopé das escarpas rochosas as matrizes de solo são afetadas por rupturas mobilizadas

principalmente pela ação da água subterrânea infiltrada no contato do pé da escarpa com a matriz de

solo e presentes nas fraturas da rocha sob o solo que mergulha na direção da face do talude. A

percolação de água na camada de solo mais permeável (solo residual jovem ou saprólito) é

dificultada no contato com o solo menos permeável, causando pressões excessivas de água que

deflagram o colapso do talude situado no sopé da escarpa (Figura 73). Ou seja, ocorre ruptura

resultante da descontinuidade hidráulica e mecânica dos materiais de diferente propriedades

geotécnicas.

Figura 73 – Rupturas na matriz de solo situada no sopé dos soerguimentos rochosos resultante da infiltração

de água associada à descontinuidade hidráulica e mecânica dos materiais de diferentes propriedades

geotécnicas (solo residual jovem ou saprólito e solo argiloso com capeamento coluvionar).

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BACIA DO SÃO FRANCISCO

Segmento Geológico-Geotécnico Volta do Pião (OAE km 33+800 ao km 37+000)

O segmento geológico-geotécnico Volta do Pião situa-se em domínio de morros elevados com

amplitudes topográficas entre 100 e 300m e gradientes médios, com predomínio de presença de

formas residuais de morros convexos e topos arredondados ou aguçados, com ocorrência de

compartimentos colinosos em seções alveolares nos vales do rio São Francisco e do córrego Boa

Esperança. Densidade de drenagem média a alta com padrão de drenagem variável, de dendrítico a

retangular. Na Figura 74 apresenta-se a morfologia do relevo do segmento geológico-geotécnico

Volta do Pião. Conforme vista aérea típica apresentada na Figura 75, o segmento é em seção meia

encosta, sendo caracterizado pela ocorrência de encosta e morros convexos para o lado direito (pista

1) e taludes de aterro ou naturais para o lado esquerdo (pista 2).

Figura 74 – Morfologia do relevo do segmento geológico-geotécnico Volta do Pião.

Figura 75 – Segmento em seção meia encosta com morro convexos (LD, pista 1) e taludes de aterro ou

natural para o lado esquerdo (pista 2).

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A forma convexa dos morros e encostas é menos estável que a côncava, entretanto, não são

observadas rupturas profundas nos maciços residuais compostos por pacote espesso de solo. De

maneira geral, esses pacotes são escavados sem escalonamento atingindo elevadas alturas com

inclinação de 45°, sendo afetados por processos erosivos, predominando os ravinamentos (Figura

76) e rupturas superficiais pontuais por perda de coesão. Entretanto, devida a altura dos taludes

pode-se mobilizar volume significativo de solo. Ocorrem intervenções antrópicas na região a

montante dos taludes de corte que podem afetar a condição dos mesmos, desde o aumento dos

processos erosivos até a ocorrência de rupturas pontuais. Por vezes, ocorrem afloramentos de rocha

com laje inclinada na base desses pacotes de solo residual. Pode haver deslizamentos do tipo

múltiplo retrogressivo translacional rotacional no manto de alteração sobre o maciço rochoso

(Figura 77). A ruptura translacional é mobilizada no contato da laje rochosa do afloramento com o

manto de alteração. Por descalçamento da base da porção superior tem-se a deflagração de ruptura

rotacional envolvendo os horizontes de solos residuais jovem e maduro. Verificam-se surgências

d’água nas duas seções geológicas (pacote espesso de solo e afloramento rochoso recoberto por

manto de alteração), predominando nas fraturas das rochas. Em alguns pontos ocorrem

bombeamento de água subterrânea no pavimento.

Figura 76 – Processos erosivos e, consequentes, rupturas em talude de corte (km 36+750, pista 1). No local

também se observa bombeamento de água subterrânea no pavimento e voçoroca evoluindo na direção da

plataforma rodoviária.

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Figura 77 – Cicatriz de deslizamento múltiplo retrogressivo translacional rotacional mobilizado no manto de

alteração acima do afloramento rochoso (km 34+565, pista 1). A ruptura é iniciada no contato do solo

residual jovem com a laje inclinada do afloramento rochoso.

Os taludes de jusante, aterro ou natural, são afetados por processos erosivos. Verifica-se que o solo

do segmento apresenta certa susceptibilidade a deflagração de processos erosivos, sendo observada

também nos taludes de montante. A erosão de origem fluvial é a mais importante. Com o

solopamento da base dos taludes nos trechos convexos do curso d’água tem-se ruptura remontante

do talude, deixando-o verticalizado, com solo exposto e, por consequência, em condição precária de

estabilidade e susceptível a ravinamentos (Figura 78). Assim, a ruptura avança continuamente em

direção da rodovia. Em alguns casos há offset suficiente para efetuar operações de terraplenagem no

sentido de suavizar e revegetar o talude. Entretanto, ocorrem trechos em que a escarpa da ruptura

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verticalizada com 4m de altura encontra-se muito próxima do bordo do pavimento (Figura 79),

sendo necessário outro tipo de intervenção na linha de um sistema de contenção. Em locais com

indicação de surgência de água subterrânea (bombeamento no pavimento), a erosão pode evoluir em

profundidade até atingir a linha do lençol freático, deflagrando voçorocas no talude de jusante

(Figura 80).

Figura 78 – Ruptura por erosão fluvial mobilizada na curvatura externa do curso d’água obstruída por

afloramento rochoso (km 34+865, pista 2).

Figura 79 – Escarpa de ruptura verticalizada com 4m de altura avançando em direção à pista – processos

erosivos e ruptura superficiais por perda de coesão contínuos (km 35+555, pista 2).

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Figura 80 – Evolução de voçoroca no talude de jusante em trecho caracterizado por susceptibilidade a

mobilização de processos erosivos e bombeamento de água subterrânea no pavimento (km 36+685, pista 2).

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BACIA DO CAPIM

Segmento Geológico-Geotécnico Capim (km 37+000 ao km 48+850)

O segmento geológico-geotécnico Capim situa-se em domínio de morros elevados com amplitudes

topográficas entre 300 e 700m e gradientes médios a elevados, com predomínio de presença de

formas residuais de morros convexos-côncavos e topos arredondados ou aguçados e alinhados, com

ocorrência de serras (do Capim, da Boa Vista, da Bacia e da água Quente) e de compartimentos

colinosos em seções alveolares do rio do Capim ou Pião. No vale do rio Capim predominam

terraços aluvionares. A densidade de drenagem é média a alta com padrão de drenagem variável, de

dendrítico a retangular. O fluxo de água da bacia de drenagem é realizado na direção do rio Preto.

Nas Figuras 81 e 82 apresenta-se a morfologia do relevo do segmento geológico-geotécnico Capim.

Figura 81 – Morfologia do Segmento Geológico-Geotécnico Capim.

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Figura 82 – Visão aérea da configuração do relevo do segmento do Capim - domínio de morros convexos-

côncavos residuais, com ocorrência de serras, compartimentos colinosos em seções alveolares do rio do

Capim e terraços com deposições aluvionares nas partes mais aberta do vale.

Trecho de seção meia encosta, em que a partir do km 38+580 (travessia do rio Capim sob a rodovia

– OAC bueiro celular de concreto) têm-se as encostas e morros convexos-côncavos para o lado

esquerdo (pista 2) e talude de aterro ou natural para o lado da direita (pista 1) ou lado do rio do

Capim ou Pião. De maneira geral, a calha fluvial medianamente meandrante é afastada do corpo

estradal e se desenvolve no sopé das encostas e morros do lado direito (margem direita do rio)

configurando superfícies aplainadas de depósitos aluvionares, havendo pontos em que o rio se

aproxima do talude de jusante. A Figura 83 ilustra através de fotos aéreas trechos típicos do

segmento geológico-geotécnico Capim.

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Figura 83 – Terraços com deposições aluvionares (lado direito da rodovia) situados entre domínio de colinas

e morros (fotos no sentido crescente da quilometragem e no sentido do fluxo de água do rio Capim).

Destacam-se alguns meandros na calha fluvial do rio Capim.

O trecho entre o km 37+000 e a travessia do rio Capim sob a rodovia (km 38+580) pode ser

compreendido como uma transição entre o segmento Volta do Pião e Capim, tendendo mais para as

características observadas no segmento anterior. Pode haver ruptura superficial nas porções mais

inclinadas das encostas associadas à perda de coesão do solo residual maduro (Figura 84). Mantos

de alteração sobre afloramentos rochosos podem ser mobilizados por redução da resistência ao

cisalhamento na interface da laje inclinada da rocha com o solo residual jovem. E esses

afloramentos rochosos mais intemperizados apresentam sistema de fraturas que favorecem a

formação e de lascas e blocos de rocha por vezes apoiados em planos inclinados (Figura 85). Trata-

se de um trecho curto que não reflete muito os aspectos geológico-geotécnicos do segmento Capim.

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Figura 84 – Ruptura da porção superior da encosta decorrente de perda de coesão (km 37+675, pista 1).

Região de transição entre o segmento Volta do Pião e Capim.

Figura 85 – Afloramento em rocha fratura na base da encosta: desprendimentos e quedas de blocos e lascas

de rocha e possibilidade de deslizamento do manto de alteração no contado com a laje rochosa do

afloramento (km 37+580, pista 1). Região de transição entre o segmento Volta do Pião e Capim.

A força da água do rio Capim ou do Pião pode ser observada na sua travessia sob a rodovia (km

38+580). Nota-se que o volume de água é expressivo mesmo próximo da nascente do rio. Tais

aspectos são mostrados na Figura 86.

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Figura 86 – Travessia do rio do Capim ou Pião sob a rodovia (km 38+580) – força e volume de água

expressivos.

Por conta do volume de força da água do rio do Capim ou Pião é de se esperar rupturas por

solopamento da base do talude nos trechos em que a calha fluvial se aproxima do talude de aterro

ou natural, principalmente quando esses taludes pertencem a margem da curvatura externa do rio. O

material colapsado expõe a superfície do talude, favorecendo a evolução de processos erosivos.

Associado aos processos erosivos tem-se a configuração geométrica (verticalização do talude) que

mobilizam rupturas rotacionais superficiais por perda de coesão na direção da rodovia (Figura 87).

Ainda que a crista da escarpa da ruptura esteja distante do bordo da rodovia, em locais que o

meandro do rio intercepta ou aproxima da base do talude, é recomendável a implantação de

enrocamento, mesmo que não tenha havido ruptura do talude. Trata-se de uma medida preventiva.

No caso daquelas rupturas já deflagradas e distantes da rodovia, dependendo, podem-se efetuar

operações de terraplenagem, plantio de vegetação e enrocamento na base do talude. São soluções de

custo baixo que podem evitar maiores problemas, tanto para a rodovia quanto para o rio

(assoreamento).

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Figura 87 – Mobilização de ruptura no talude de margem do rio do Capim resultante da força da água

atuando na curvatura externa do rio (km 39+160 e km 39+775_5, pista 1).

Nos taludes de corte com camada de solo pouco profunda as pressões de água na interface capa de

solo com saprólito ou rocha são prejudiciais à estabilidade do talude (Figura 88). De maneira geral,

nas capas de solo verificam-se rupturas translacionais. Devida às descontinuidades mecânica e

hidráulica, pode haver rupturas múltiplas translacionais rotacionais mobilizadas principalmente por

pressões de água. Em soluções de suavização do talude para melhoria de sua estabilidade, deve

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atentar para o perfil de alteração do terreno, pois a redução da espessura do solo menos permeável,

ao contrário do esperado, poderá deflagra a ruptura do talude.

Figura 88 – Escorregamento translacional raso no contato da capa de solo com horizonte de saprólito ou

rocha alterada, decorrente das descontinuidades hidráulica e mecãncia associadas à pressões de água

subterrânea (km 40+080, pista 2).

Os taludes de jusante também são afetados pelas intervenções antrópicas. Destaca-se o trecho entre

os quilômetros km 40+635 e km 41+270, em que ao longo de toda extensão da base do talude

ocorrem escavações verticalizadas que comprometem a estabilidade do talude (Figura 89).

Escavações na base do talude também ocorrem em outros trechos e, como esperado, deflagram

trincas no pavimento indicando a mobilização de ruptura (Figura 90).

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Figura 89 – Talude de jusante com intervenções antrópicas: escavações na base do talude que comprometem

a condição de estabilidade do talude ao longo do trecho entre os quilômetros km 40+635 e km 41+270.

Como esperado no km 41+140, pista 1, houve ruptura rotacional no talude.

Figura 90 – Deflagração de trincas e abatimento no pavimento resultante de mobilização de ruptura ativada

por escavação da base do talude (km 46+950, pista 1).