PORQUÊ MORAR NO ESPÍRITO SANTO? PORQUÊ MORAR NO ESPÍRITO SANTO?
Bacia do Espírito Santo
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B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 501-509, maio/nov. 2007 | 501
Bacia do Espírito Santo
Rosilene Lamounier França1, Antônio Cosme Del Rey2, Cláudio Vinícius Tagliari1,
Jairo Rios Brandão1, Paola de Rossi Fontanelli1
Palavras-chave: Bacia do Espírito Santo l Estratigrafia l carta estratigráfica
Keywords: Espírito Santo Basin l Stratigraphy l stratigraphic chart
1 Unidade de Negócio de Exploração e Produção do Espírito Santo/Exploração/Avaliação de Blocos e Interpretação
Geológica e Geofísica e Ring Fence – e-mail: [email protected] Unidade de Negócio de Exploração e Produção do Espírito Santo/Engenharia de Produção/Caracterização e
Estudos Especiais de Reservatórios
introdução
A Bacia do Espírito Santo está situada no Estadodo Espírito Santo, delimitada a sul com a Bacia de Cam-pos, através do Alto de Vitória, e a norte com a Bacia deMucuri. Possui uma área explorável de aproximadamente41.500 km2, dos quais 3.000 km2 referem-se à baciaterrestre, considerando a fronteira leste coincidente como limite crosta continental/oceânica. A existência do Bancode Abrolhos, a leste, atribui à bacia uma fisiografia par-ticular, evidenciada por um alargamento da plataformacontinental, que de uma média de 40 km de largura asul alcança cerca de 240 km na porção centro-norte.
O conhecimento adquirido ao longo de 50anos de exploração, com centenas de poços ex-ploratórios e inúmeras linhas sísmicas 2D e 3D, nasporções terrestre e marinha de águas rasas, profun-das e ultraprofundas, somado a contínua integraçãode novos dados, foram fundamentais para a atuali-zação da Carta Estratigráfica da Bacia.
A primeira estratigrafia formal da Bacia doEspírito Santo foi apresentada por Asmus et al. (1971),seguida de várias alterações, culminando com a car-ta apresentada por Vieira et al. (1994).
Este trabalho resume o conhecimento adqui-rido desde a sua última publicação, enfatizando acronoestratigrafia. Entretanto, os princípios litoestra-tigráficos que embasam este trabalho seguem osmesmos estabelecidos na última edição da carta es-tratigráfica (Vieira et al. 1994).
embasamento
O embasamento está localizado a sudeste doCráton do São Francisco e faz parte da Faixa Araçuaí,integrando o setor norte da Província da Mantiqueira.É constituído de rochas infracrustais, representadas por
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migmatitos, granulitos, gnaisses granatíferos e granitóides,pertencentes ao Cráton do São Francisco, cujas rochas deidade arqueana, foram retrabalhadas parcialmente nos ci-clos Transamazônico e Brasiliano.
Vários poços, principalmente terrestres,amostraram o embasamento, inclusive alguns deles comtestemunhagens. No entanto, este não foi atingido naporção média e distal da bacia submersa, por encon-trar-se a grandes profundidades.
Superseqüência Rifte
Nesta época (Valanginiano ao Aptiano Inferior)predominava um ambiente lacustre com contribuiçãofluvial e aluvial nas bordas dos falhamentos, enquantoque nos altos estruturais internos depositaram-se coquinase outros carbonatos. Os diversos pulsos tectônicos estãoregistrados por conglomerados sintectônicos de bordasde falhas, bem como vulcânicas da Formação Cabiúnas.
Seqüência K20
Representa a base do Grupo Nativo, FormaçãoCricaré, que são os sedimentos mais antigos da Bacia doEspírito Santo, depositados durante o Valanginiano. É li-mitada na base pela discordância definida pelo contatodas rochas do Cretáceo Inferior com o embasamento pré-cambriano, enquanto que o topo é representado por umadiscordância erosiva, dentro da Formação Cricaré(Discordância Intracricaré), detectável em poços na parteterrestre da bacia.
É composta por arenitos médios a conglomeráticos econglomerados com seixos de rochas metamórficas commatriz feldspática (Membro Jaguaré), que para porções maisdistais gradam para litologias mais argilosas (MembroSernambi). Ocorrem intercalações de derrames basálticos,parcialmente alterados, vulcanoclásticas e tufos vulcânicosda Formação Cabiúnas.
Seqüência K30
A Seqüência K30 encontra-se no mesmo pacotesedimentar que a seqüência anterior. Corresponde àporção média e superior da Formação Cricaré, cujo limi-te inferior é representado pelo contato discordante(Discordância Intracricaré) com a Seqüência K20 e o su-perior marcado por uma ampla discordância, identificada
na sísmica e poços que atingiu toda a bacia no final doandar Jiquiá, (Discordância Alagoas) denominada“Discordância Pré-Alagoas” (Dias, 2005).
A Formação Cricaré é composta pelos Mem-bros Jaguaré e Sernambi. O Membro Jaguaré englo-ba a fácies mais clástica, intercalada por rochas vul-cânicas e vulcanoclásticas da Formação Cabiúnas,enquanto o Membro Sernambi representa a predo-minância de folhelhos, carbonatos e margas.
Durante a deposição desta seqüência predo-minava um ambiente lacustre, onde nas bordas dosfalhamentos desenvolviam-se sistemas de leque alu-vial e fluvial e, eventualmente, nos altos estruturaisformavam-se coquinas e fácies associadas.
As intercalações vulcânicas da Formação Ca-biúnas se intensificam principalmente na porção ba-sal. As datações realizadas pelo método K/A forne-cem idades entre 118 e 136 Ma, o que inclui osbasaltos na Seqüência K20.
A ocorrência dessa seqüência está restrita às por-ções mais profundas dos Paleocânions de Fazenda Ce-dro, Regência e Plataforma de Regência, tendendo aum maior espessamento e aprofundamento em direçãoà porção marinha. Por esta razão, foi bem amostradana parte proximal. Estima-se, a partir de dados sísmicosexistentes, que toda a seção da Formação Cricaré podechegar a espessuras em torno de 3.500 m.
Superseqüência Pós-Rifte
Seqüência K40
Corresponde à porção basal da Formação Ma-riricu, compreendendo o Membro Mucuri, deposita-do durante o Eo e Mesoaptiano (correlacionado aoAndar local denominado Alagoas Inferior a Médio).Limita-se na base pela Discordância Alagoas e notopo pelo contato com a seção evaporítica que tam-bém é discordante (Discordância Base dos Evaporitos).
Na Seqüência K40 encontram-se os sedimen-tos mais basais da Formação Mariricu, identificadosatravés de ostracodes em poços na porção terrestre,separados da seção média/superior do Alagoas poruma discordância intra-alagoas, reconhecida nos tra-balhos de Vieira et al. (1994) e Dias (2005).
A porção média/superior da Formação Mariricu/Membro Mucuri é bem amostrada na bacia terrestre,principalmente por poços e testemunhos. A partir des-
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ses dados, Vieira (1998) identificou três seqüências,separadas por discordância angular, que podem serestendidas até a porção rasa da bacia, quais sejam:
• seqüência basal controlada por intensotectonismo remanescente, ainda da fase rifte.Representa as fácies média a distal de lequesaluviais e das fácies mais proximais do sistemafluvial entrelaçado. É caracterizada porortoconglomerados polimíticos na base,gradando para arenitos arcoseanos grossos, pas-sando a arenitos finos e siltitos, culminando comum nível de anidrita e/ou carbonato brechado.Seu limite com a seqüência intermediária se fazatravés de uma discordância angular;
• a seqüência intermediária, representada porum afogamento progressivo dos leques e dosistema fluvial da seção inferior, é compostapor arenitos basais, sílticos e arenitos finos amuito finos. Seu limite superior é definido poruma camada de anidrita ou carbonato, quedefine uma discordância angular em algunspontos da bacia. A variação das isópacas ain-da mostra certa influência de altos do emba-samento na sedimentação;
• a seqüência superior, formada a partir de umsistema de lagunas com planícies lamosas queevolui para o ambiente evaporítico do tiposabkha. Localmente ocorrem arenitos finos agrossos, representando depósitos de praias eplanícies arenosas do sistema lagunar. O con-tato superior é discordante com os evaporitosdo Membro Itaúnas.
A deposição continental predominou nas por-ções mais proximais da bacia terrestre e na água rasa,manifestando-se através de sistemas deposicionaisdominados por leques aluviais e canais fluviais.
Por outro lado, a parte distal é marcada pelapassagem gradativa de sistemas deposicionais con-tinentais para transicionais, depositados em ambienteraso, sob relativa quiescência tectônica que se tra-duz em intercalações plano-paralelas de folhelhosesverdeados, calcilutitos e arenitos finos.
Observa-se um espessamento do MembroMucuri para leste, em direção ao depocentro da ba-cia. Sua espessura foi estimada através de seçõessísmicas, podendo chegar a 2.000 m.
Sua ocorrência é ampla em toda a bacia, es-tando ausente na parte oeste, próximo ao limiteexploratório, onde os sedimentos do Membro Mu-curi acunham-se contra o embasamento.
Seqüência K50
Corresponde aos evaporitos do Membro Itaúnas,parte superior do Grupo Nativo/Formação Mariricu, deposi-tados durante o Andar Aptiano (Alagoas Superior).
Está limitada, na base, pela discordância quemarcou o topo das seqüências neo-aptianas e, no topo,pela discordância ocorrida antes da deposição do GrupoBarra Nova.
Sob condições de uma bacia restrita e com alta eva-poração, ocorreu a precipitação de espessos depósitos deanidrita e halita, em uma superfície peneplanizada durantea fase de quiescência tectônica.
Provavelmente, as halitas depositaram-se, preferen-cialmente, nas porções centrais da bacia, enquanto quenas bordas, mais sujeitas à erosão, predominavam asanidritas, carbonatos e, subordinadamente, as halitas.
Vieira (1998) identificou quatro seqüências depo-sicionais, compondo o pacote das anidritas, separadaspor três níveis síltico-argilosos, correlacionáveis ao longode toda a bacia, representando o registro de pequenastransgressões marinhas.
A seqüência é tipicamente evaporítica com calcáriose anidritas nas partes proximais a oeste e halita nas partesmais centrais da bacia. Podem ocorrer localmente dolomitos/calcários e raras laminações de anidritas.
O tempo estimado de deposição das halitas é emtorno de 0,6 Ma (Dias, 2005), com taxa de deposiçãoincerta devido à sua característica de fluir e espessar-seem direção ao depocentro da bacia.
As espessuras do Membro Itaúnas variam de 50 mna parte emersa, onde predominam anidritas, podendochegar a mais de 5.000 m de halita nas províncias dediápiros e muralhas em direção às águas profundas eultraprofundas (França e Tschiedel, 2006).
A movimentação da halita contida nessa super-seqüência foi de grande importância na formação debarreiras e baixos estruturais, que controlaram a deposi-ção de sedimentos arenosos das seqüências sobrepos-tas, bem como na formação de estruturas positivas quepropiciaram a ocorrência de trapas.
Superseqüência Drifte
Seqüência K62
Corresponde ao Grupo Barra Nova composto pe-las Formações São Mateus (predominância de arenitos)e Regência (calcários de alta a baixa energia).
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A deposição dos sedimentos do Grupo Barra Novainiciou-se com a sedimentação em um ambiente aindacom características de mar epicontinental, herdada da faseevaporítica. Nesse estágio, as variações relativas do níveldo mar condicionavam a deposição dos estratos por gran-des extensões. As litologias alternavam-se em depósitosde arenitos, siltitos, folhelhos, calcarenitos oolíticos ebioclásticos, calcilutitos e calcissiltitos com ostracodes,miliolídeos, pelecípodes e gastrópodes. Esta sucessão defácies, que principia com folhelhos, siltitos e carbonatosvariando para arenitos em direção a parte superior, é bemcaracterizada na porção proximal da bacia (Tagliari, 1993).
Após esta fase inicial, de mar com característicasepicontinentais, a bacia grada paulatinamente para umamorfologia de rampa com gradiente suave, com a dispu-ta entre terrígenos e carbonatos com predomínio dos pri-meiros. Existe uma tendência à concentração desiliciclásticos nas porções mais proximais e carbonatos nasáreas distais. Esta fase culmina com uma discordânciaerosiva, que marca o fim da palinozona P280B, reconhe-cida tanto sismicamente quanto na análise de rocha epaleontologia na bacia terrestre e, provavelmente, naparte marinha rasa (Tagliari, 1993).
Seqüência K64-K70
Após esta fase inicial do Albiano (palinozona P-280B),segue-se uma seqüência que registra a continuação da bus-ca pelo espaço de deposição entre siliciclásticos e carbona-tos nas partes proximais da bacia, com predominância doscarbonatos nas porções mais distais. Neste estágio, a plata-forma em rampa apresenta um gradiente mais acentuado,com uma tendência a uma maior segregação das fácies. Aalternância de caráter marcantemente cíclico das fáciescarbonáticas e siliciclásticas (conhecida com maiorconspicuidade na Plataforma de Regência) permite inferiruma freqüente variação relativa do nível do mar, ao longode todo o Albiano, agindo no sentido de segregação dasdiversas faciologias registradas, desde o ambiente continen-tal proximal até o marinho de plataforma (Tagliari, 1993).
Na Plataforma de Regência, ao sul do Paleocâ-nion de Cedro, observa-se uma grande discordânciaangular erosiva na parte superior da Seqüência Albiana,dominantemente carbonática.
Poços perfurados na porção submersa na áreacentro-sul da bacia tem mostrado freqüente intercala-ção entre siliciclásticos e carbonatos, tal qual constata-se na Plataforma de Regência.
A partir do topo da K64-K70, que representa otopo do Grupo Barra Nova (Albiano), muda acentuada-mente o estilo tectônico da bacia. O basculamento con-tínuo para leste devido à subsidência térmica causou olento escorregamento dos sais solúveis sotopostos, oca-
sionando a formação de “jangadas”, principalmen-te na porção central da bacia. Uma ampla discor-dância instalou-se no final do Albiano, a Discordân-cia Pré-Urucutuca (DPU), responsável pela escava-ção dos paleocânions de Regência e Fazenda Ce-dro, ambos localizados na porção terrestre, esten-dendo-se para a parte marinha rasa da bacia.
Esta discordância é mais significativa na por-ção emersa. À medida que se avança para águasprofundas, a passagem da Sequência K64-K70 paraa K82-K86 tende a ser gradacional.
A Seqüência K64-K70 foi perfurada por umacentena de poços na bacia terrestre, tornando-seescassa suas amostragens em direção ao depocentroda bacia, devido às altas profundidades alcançadas.
Seqüência K82-K86
A Seqüência K82-K86 representa um afoga-mento da plataforma carbonática, iniciado no Ceno-maniano, ocorrendo seu ponto culminante noTuroniano. Ela é retrogradante e foi depositada emonlap sobre a DPU, discordância angular, facilmenteidentificada na porção proximal, chegando a umaconcordância relativa na água profunda.
Ela representa a base da Formação Urucutucado Grupo Espírito Santo, composta por folhelhos cin-za-escuros, calcíferos e arenitos turbidíticos. Localmen-te, na seção basal da Seqüência K82-K86, encontram-se brechas carbonáticas, resultado do retrabalhamen-to da plataforma carbonática do Albiano, com matrizlamosa, datadas do Cenomaniano, denominada in-formalmente de “Seqüência” Comboios. No entan-to, por ter uma ocorrência muito local, mais precisa-mente no bloco baixo da Plataforma de Regência,não foi individualizada neste trabalho.
A Seqüência K82-K86 é predominante na partesubmersa e bastante restrita na porção terrestre. Entre-tanto, está representada, localmente, nas porções basaisdos paleocânions de Fazenda Cedro e Regência alémde uma calha remanescente na Plataforma de Regên-cia. Essa calha está preenchida por folhelhos, calcilutitose arenitos da Formação Urucutuca. São sedimentos defácies relativamente proximais, representando condiçõesneríticas e, por vezes, deformados pela tectônica salífera.
Na Seqüência K82-K86 ocorre um eventoanóxico, que registra o máximo afogamento desta se-qüência, caracterizado pela presença de folhelhos es-curos, radioativos e de baixa velocidade sônica. Predo-minam pelitos, mas alguns arenitos podem ser encon-trados, especialmente na porção distal da bacia.
A Seqüência K82-K86 é muito restrita na ba-cia terrestre, onde foi amostrada por poucos poços,sendo mais espessa na parte distal da bacia. Seu
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limite superior é mostrado por uma discordância nabase do Conianciano (Discordância Turoniano).
O Turoniano é, em geral, delgado, pouco expres-sivo na parte terrestre devido à erosão. Porém, está re-gistrado localmente em alguns poços nos paleocânionse no bloco baixo da Plataforma de Regência.
Seqüência K88
Corresponde à Formação Urucutuca deposi-tada do Coniaciano ao Santoniano, em padrão re-trogradante. É predominantemente pelítica e os are-nitos turbidíticos presentes estão localizados, princi-palmente, nas desembocaduras dos Paleocânions deFazenda Cedro e Regência, apresentando um certocontrole deposicional através de calhas criadas pelahalocinese. Seu limite inferior é marcado por discor-dância melhor observada na parte proximal e identi-ficada na bacia até a região distal da bacia.
Seqüência K90-K100
Engloba os sedimentos da Formação Urucu-tuca de idade eo a meso-campaniana. Predominamfolhelhos e arenitos turbidíticos, cujos limites inferiore superior são, respectivamente, a discordância Cam-paniana a discordância Intra-campaniana.
Com a contínua subsidência e basculamento dabacia, ocorre a sedimentação de uma espessa seçãoretrogradante. Os corpos turbidíticos ainda apresentamuma forte influência dos Paleocânions de Fazenda Ce-dro e Regência entre o Coniaciano e o Meso-Campa-niano, limitados por uma discordância Intracampaniana,que os separa da seqüência superior.
Seqüência K110-K130
Refere-se aos sedimentos da Formação Urucu-tuca dos andares Neo-Campaniano a Maastrichtiano.Seu limite inferior é marcado pela discordância Intra-campaniano, e o superior por uma ampla discordânciaque atingiu toda a bacia, facilmente identificável nospoços e seções sísmicas que é a passagem do Cretáceopara o Paleógeno (Discordância Paleoceno).
Predominam folhelhos, arenitos e, nas porçõesmais distais, margas. Os turbiditos encontrados sãomais expressivos na base, ocorrendo uma diminuiçãodos mesmos à medida que se aproxima do Maastri-chtiano, embora haja uma concentração de turbiditosmaastrichtianos, canalizados nos paleocânions deCedro e Regência (parte terrestre). Estes paleocânionsforam os principais condutos responsáveis pelo aporte
sedimentar que alimentou os turbiditos encontrados nasporções mais distais da bacia.
Seqüências do Paleógeno
Durante o Paleógeno, a Bacia do Espírito Santosofreu nova fase tectônica, o que provocou rebaixamentodo nível do mar devido à ocorrência de expressivos even-tos como o soerguimento da Serra do Mar, vulcanismo deAbrolhos e a contínua halocinese, controlando cada vezmais a distribuição das areias provenientes de noroeste.
O Vulcanismo de Abrolhos foi um evento magmáticode grandes proporções, envolvendo cerca de dois terços daBacia do Espírito Santo, parte submersa, e que influenciou,fortemente, a sedimentação das Seqüências do Paleógeno.Estudos anteriores indicam que o período de maior ativida-de vulcânica foi entre 59 e 37 Ma.
O Paleógeno pode ser dividido em quatro seqüên-cias de segunda ordem, depositadas dentro do Trato deMar Baixo, denominadas informalmente de Seqüências“Lagoa Parda”, “Império”, “Cangoá” e “Peroá”. Emboraos ciclos tenham um caráter global, a intensidade do seudesenvolvimento sofreu forte influência dos fatores já rela-cionados no parágrafo anterior.
Seqüência E10-E30
É uma seqüência retrogradante englobando os se-dimentos do Paleoceno e Eo-Eoceno (informalmente de-nominada “Seqüência Lagoa Parda”), sendo seus limitesinferior e superior definidos, respectivamente, peladiscordância do Paleoceno e pela discordância do EocenoInferior no topo. Internamente, observa-se uma superfíciede máxima inundação representada por calcilutitos.
No topo dessa seqüência, os folhelhos e arenitosmostram um padrão offlap na porção proximal, gradandoa subparalelo a plano em direção à porção intermediá-ria do depocentro da bacia, indicando soerguimento daborda da bacia.
Encontra-se bem distribuída na parte terrestre (nospaleocânions de Regência e Fazenda Cedro e na Plata-forma de Regência) e na porção marinha, principalmen-te na água rasa.
Durante a deposição desta seqüência começam asurgir as primeiras manifestações do vulcanismo de Abro-lhos através de derrames intermitentes.
Seqüência E40-E50
Esta seqüência (informalmente denominada como“Seqüência Império”) depositou-se discordantemente so-bre os sedimentos da seqüência anterior em onlap na
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plataforma rasa e downlap nas partes distais, seguidosde truncamento erosional no topo.
A presença de espessos pacotes de corpos arenososna base dessa seqüência está relacionada a um forte aportede siliciclásticos ocorrido a partir das bordas (principalmentenos Paleocânions de Fazenda Cedro e Lagoa Parda), prova-velmente devido ao soerguimento da Serra do Mar e aoVulcanismo de Abrolhos. Os mais espessos corpos turbidíticosforam depositados dentro de um trato de mar baixo, naforma de sistemas canalizados e leques de assoalho.
Registra-se também a ocorrência de rochas vul-cânicas ao nível da discordância do Eoceno Inferior, evi-denciando instabilidade crustal. Nesta seqüência verifi-ca-se a mais intensa atividade vulcânica registrada,marcada por derrames intercalados a arenitos turbidíticos,folhelhos e carbonatos.
Nesta fase de intensas manifestações magmáticas,houve um soerguimento na área onde se instalou o Bancode Abrolhos (porção média/distal da Bacia). Esta áreasoerguida condicionou o desenvolvimento de uma pla-taforma carbonática rasa, formando calcários da Forma-ção Caravelas por sobre o substrato de Abrolhos.
O resultado é a formação de uma sub-baciameso-oceânica, confinada, pelo lado oeste através doembasamento e, a leste, pela presença do edifíciovulcânico e os carbonatos.
Desta maneira, a sub-bacia recebeu contribuiçãode duas áreas fontes: pela contribuição natural da áreasoerguida a oeste e pela progradação de vulcanoclásticose calcários detríticos vindos de leste (Biassusi, 1996).
O limite superior dessa seqüência é marcado por umaampla discordância angular, bem identificado na porção terres-tre e denominada “Discordância Pré-Eoceno Superior’ (DPES).
Esta discordância é correlacionada ao eventoeustático, ocorrido há 40 Ma, de grande importância napeneplanização da bacia, sobretudo nas áreas proximais,inclusive no embasamento. Na área submersa, sua ca-pacidade erosiva se restringiu às partes superiores doEoceno Inferior, transformando-se, nas partes distais, emuma concordância correlativa.
Esta seqüência é bem amostrada por poços tantona parte emersa quanto na submersa.
Seqüência E60-E70
Esta seqüência (informalmente denominada “Se-qüência Cangoá”) foi depositada sobre a “Discordân-cia Pré-Eoceno Superior” e que constitui o seu limite infe-rior. Ela apresenta o aspecto sigmoidal com base marcadapor downlaps nas fácies mais distais e onlap nas proximais.
A Seqüência E60-E70, embora tenha se formado emuma fase de quiescência tectônica, depositou-se em um
substrato marcado por altos e baixos estruturais comoconseqüência do tectonismo das fases anteriores, mar-cados por compressões, vulcanismo e halocinese. Estetectonismo gerou calhas e barreiras por onde se deposi-taram os corpos turbidíticos desta seqüência.
Ainda se observam as progradações de car-bonatos detríticos e vulcanoclásticas provindas daspartes distais (Banco de Abrolhos) em direção ao con-tinente, contrapondo-se a progradação da cunhaclástica vinda de leste, controlados pela migraçãoda quebra da plataforma e pela halocinese.
Os turbiditos aí encontrados são corposacanalados que se depositaram no trato de mar bai-xo, cuja fonte consistiu, predominantemente, de ro-chas retrabalhadas de seqüências subjacentes.
O topo desta seqüência é marcado por umadiscordância, gerada pelo rebaixamento ocorrido noOligoceno Superior (Chatiano), que também coinci-de com um rebaixamento eustático descrito por Vail(1977) e Haq (1987) apud Biassusi (1996).
Da mesma maneira que a seqüência anterior,esta seqüência apresenta-se melhor representada naporção emersa (águas rasas), amostrada por umadezena de poços.
Seqüência E80-N10
Esta seqüência está limitada na base por umadiscordância gerada por um rebaixamento ocorri-do no final do Oligoceno Inferior (Chatiano) e seulimite superior é a discordância do Mioceno Infe-rior (informalmente denominada “Seqüência Pe-roá”). A Seqüência E80-N10 apresenta um notá-vel padrão sigmoidal.
Durante a deposição desta seqüência, o eixodeposicional permaneceu com a direção sul/sudes-te. Arenitos turbidíticos desenvolveram-se na formade sistemas canalizados, controlados pela existênciade domos e inversões.
Seqüência N20-N30
Ela corresponde na base aos sedimentos doMioceno Inferior, andares Burdigaliano e, no topo,aos sedimentos do Mioceno Médio (Langhiano/Ser-ravaliano). Inclui as formações Rio Doce, Caravelase Urucutuca. São compostos, na porção terrestre,principalmente, por arenitos da Formação Rio Docee calcarenitos bioclásticos da Formação Caravelas(porção média proximal), além de folhelhos e areni-
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tos turbidíticos da Formação Urucutuca nas partesmédias e distais da bacia. Diamictitos ocorrem nabase de talude e margas predominam nas porçõesde águas profundas a ultraprofundas.
Seqüência N40
No estudo da Bacia do Espírito Santo depara-secom um alto grau de dificuldade na identificação desuperseqüências mais jovens. O fato é que há um pre-domínio de areias adentrando cada vez mais na bacia,interdigitando-se com calcarenitos da Formação Cara-velas e passando a argilitos na água profunda.
Sua deposição paleogeográfica estabeleceua configuração atual da bacia. Portanto, encontram-se no talude, diamictitos resultantes do desmorona-mento da plataforma e argilitos com incipiente com-pactação da seção pelítica.
A Seqüência N40 é limitada na base pela dis-cordância do Mioceno Superior e no topo pela dis-cordância do Plioceno.
Seqüência N50
Corresponde aos sedimentos do Plioceno, re-presentada pelas formações aflorantes Barreiras eRio Doce. A primeira, depositada em ambientes con-tinentais fluvio/aluviais e, a segunda, continental/transicional/marinho raso. Nas partes distais consta-tam-se alguma intercalação com calcarenitos da For-mação Caravelas, próximo à quebra da plataforma.No sopé do talude, constatam-se diamictitos, resul-tantes do desmoronamento da plataforma, além deargilitos. É comum a formação de cânions recentes,principalmente na quebra da plataforma.
Segundo Morais (2007), as formações RioDoce e Barreiras representam pacotes distintos devi-do a uma série de evidências observadas no campo,referentes ao grau de litificação ocorrente nos sedi-mentos da Formação Rio Doce, o que indica trans-formações diagenéticas não verificadas na Forma-ção Barreiras, além de contato erosivo.
Seqüência N60
A Seqüência N60 ocorre na parte emersa dabacia, constituída pelos sedimentos de planícies pró-ximo à foz dos rios São Mateus e, principalmente, doRio Doce e por cordões litorâneos ao longo da costa.
referências bibliográficas
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508 | Bacia do Espírito Santo - França et al.
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B. Geoci. Petrobras, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 501-509, maio/nov. 2007 | 509