B144 Lou Carrigan Espionegam Ping Pong

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    LOU CARRIGAN

    Brigitte Montfort

    Espionagem Ping-Pong

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    OS PREPARATIVOS

    A pequena sala ficou praticamente s escuras ao ser retirado o diapositivo colorido que mostrava o rosto de umhomem. No projetor, em seguida, n o foi colocado nenhumoutro.

    E depois de uns segundos de sil ncio, ouviu-senovamente a voz que estivera dando explica es sobretodos os personagens que tinham sido projetados na tela:

    Deixamos para o fim, propositalmente, o nicomembro feminino desta delega o esportiva americana quelogo chegar nossa capital. Coloc -la no fim uma mostrade cortesia e admira o pela beleza que os senhores v o ver.E reflete, tamb m, nosso cuidado especial pela personagemem quest o. Vejamo-la.

    Uma imagem feminina foi projetada na tela. Em coresvivas, nitidamente, no tamanho de um metro quadrado. E

    por um instante a respira o de todos os chineses reunidosnaquela sala ficou em suspenso. Muito possivelmente, adecantada impassibilidade oriental acabava de receber umduro golpe. Ou, pelo menos, um fort ssimo impacto.

    Com raz o.A imagem correspondia a uma mulher jovem, de peledourada, longos e ondulados cabelos negros; l bios rosados,doces, sorridentes; queixo delicado, com uma graciosacovinha no centro. Mas, em toda a maravilhosa belezadaquele rosto, nada t o not vel como os olhos de um azul

    pur ssimo, grandes, inteligentes. Uns olhos sem iguais nomundo inteiro. Uns olhos como nunca tinha visto nenhum

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    dos participantes daquela confer ncia de alto n vel doservi o secreto chin s.

    jornalista, claro... explicou a voz. Chama-seBrigitte Montfort e parece ser de origem franco-germ nica,mas tem cidadania americana desde sua inf ncia. Vaichegar a Pequim com a equipe ianque de jogadores de

    pingue-pongue, mas temos a certeza de que seu trabalho seafastar , consideravelmente do estrito regime da informa oesportiva. Miss Montfort chega como representante de ummatutino de Nova Iorque, o Morning News, no qual assina

    uma coluna. profissionalmente conhecida no mundointeiro, pois det m o Pr mio Pulitzer de jornalismo. Seusartigos t m-lhe granjeado a admira o e o respeitointernacionais, pois d o testemunho constante de uma raraacuidade mental a servi o de uma tica inatac vel. Aondequer que v , recebida com afeto. Ultimamente, no Rio deJaneiro, seus colegas brasileiros tributaram-lhe homenagens

    jamais prestadas naquela cidade a jornalista algum. Nemsequer artistas ou personalidades pol ticas internacionaistinham recebido da imprensa carioca as aten es que foramdedicadas a miss Montfort. Parece que fala v rias l nguas e

    possui vasta cultura. Os informes a seu respeito,

    precipitadamente obtidos por nossos agentes em territ rioamericano, indicam que pratica diversos esportes, tais como pra-quedismo, esgrima, nata o e, especialmente, jud , doqual possui o Terceiro Dan. uma mulher t oextraordin ria em todos os sentidos, que h dois anos foicoroada rainha de certo pequeno pais perto das costas dos

    Estados Unidos, denominado Atlantic Kingdom1

    . Viajou

    1 Ver SUA MAJESTADE BRIGITTE

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    por todo o mundo, a R ssia inclusive. Diplomada pelaUniversidade de Col mbia, obteve l as melhores l ureasconcedidas a estudantes americanos. Tem amigos em toda a

    parte, nunca se viu envolta em esc ndalo algum e, colegas,isto important ssimo: o que ela escreve no Morning News cedido a ag ncias jornal sticas internacionais que o

    publicam em diversos rgos da imprensa estrangeira. Deonde se depreende que a muito talentosa miss Montfort

    pode ser para n s um trunfo important ssima no que aimprensa mundial est chamando a... diplomacia do pingue-

    pongue. O que ela escrever sobre sua perman ncia naChina, mais exatamente em Pequim, vai ser de grandesignificado para nossaS aspira es de aproximar-nos do

    povo americano em particular e do mundo em geral. Semmencionar a influ ncia relativa que sua opini o pode ter emcertos setores pol ticos que at agora v m resistindo aonosso ingresso na ONU. Uma mulher n o pode ser t o importante objetouuma voz.

    Eu disse influ ncia relativa recalcou oinformante. Claro que ela n o poder influir diretamenteem ningu m, mas suas opini es sobre Pequim, sobre aChina, sobre n s, podem ser um pequeno gr o de arrozsemeado no campo da pol tica internacional. E todossabemos que um gr o de arroz se transforma numa espiga.E que com os gr os de uma espiga se pode Iniciar umasemeadura, que aos poucos se estender por todo um vale...Mas sempre, sempre, tem-se que partir do pequeno,

    modesto gr o de arroz. Est satisfeito o camarada Wei? Estou. Lamento a interrup o.

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    Bem. Voltemos a miss Montfort... Espero que todostenham compreendido que se trata de uma mulher especial:culta, poliglota, talentosa, esportiva, cosmopolita, de

    personalidade marcante...

    Esta poderia ser a descri o da agente Baby da CIA disse outra voz.Durante uns segundos, reinou na sala um sil ncio denso,

    tenso. Os rostos amarelentos, curiosamente matizados pelosreflexos multicores da tela, permaneciam inexpressivos,mas a sugest o estava lan ada e, certamente, ningu m

    parecia assombrado com ela.Por fim, o informante assentiu com a cabe a Pensou-se nessa possibilidade, naturalmente. Sem

    dvida alguma, miss Montfort re ne todos os requisitos,inclu dos seus not veis conhecimentos de jud e carat ,

    para ser uma mulher excepcional, como sabemos que aagente Baby . Poderia ser ela, sim... fez uma longa pausa. Entretanto, esta n o a ocasi o para fazer averigua es a respeito. Pelo contr rio, miss Montfort vaiser tratada e atendida como uma visitante simp tica, qualser o concedidas todas as aten es. A menos, claro est ,que ela se dedique na China a atividades inconvenientes,

    coisa que, dada sua intelig ncia, me permito duvidar. Por outro lado, ainda que fosse a pr pria Baby , no seremosidiotas a ponto de pensar que ela vem aqui para dar-se aconhecer. N o, n o, no... Para n s, durante todo o tempo,miss Montfort vai ser a formosa jovem que nos visita, nicomembro feminino da delega o americana de pingue-

    pongue, qual cobriremos de delicadezas... Sim. Esta a palavra: delicadeza. Queremos que, quando ela escrever seus artigos, toda a Am rica, todo o mundo, comece a

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    pensa,r que a China, que n s os chineses podemos ser tidosamavelmente em conta sob todos os aspectos. Insisto: o

    pequeno gr o de arroz. E os outros visitantes? Isso j est resolvido. Os senhores os viram na tela

    antes de miss Montfort. Cada um desses jogadores de pingue-pongue, cada um dos outros jornalistas que osacompanham, t m j designados os homens que os...controlar o delicadamente, discretissimamente. N o h cuidado a esse respeito, tudo est previsto. Vamos usar deum grande tato, mas sem descuidar-nos. Al m disso, certomembro dessa delega o americana chega a Pequim cominstru es concretas para conversa es com umrepresentante nosso... Conversa es margem do pingue-

    pongue, naturalmente. Mas, lgico, n o vamos nosesquecer de que a CIA talvez tenha sua pr pria opini osobre as possibilidades que esta visita americana encerra.Eu disse antes a palavra exata: delicadeza. N s sabemos quea CIA pode estar fazendo seu jogo a margem doconvencionado. E ela sabe que n s faremos o mesmo... massempre ambos agindo com delicadeza. Por nossa parte,fique bem claro que de maneira alguma podemos permitir-

    nos pisotear nosso pequeno gr o de arroz... Isso nos coloca novamente diante de miss Montfort. Sim. Ela a nica mulher do grupo americano, por

    isso vai receber tratamento especial. Especial? Em que sentido? Bom... Al m de suas pr prias dedu es de car ter

    profissional, n s queremos que miss Montfort leve umaopini o pessoal muito favor vel China e aos chineses. Aisso chamamos adubar o gr o de arroz.

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    timo. E como vamos conseguir isso? Temos o homem adequado. Luz.Fez-se luz na sala e o mi do e calvo chin s que estivera

    falando virou-se em sua cadeira, dirigindo seu olhar astuto aseu compatriota, que permanecia na extremidade da fila deassentos. A um sinal seu, aquele homem levantou-se,colocando-se de modo que todos o pudessem ver

    perfeitamente.Podia ter uns trinta ou trinta e cinco anos e seu rosto era

    bonito, nobre, inteligente. Olhos brilhantes, queixo firme,

    seus cabelos negr ssimos formavam contraste com a tez cor de marfim. Sua complei o atl tica era evidente, sua

    juventude e vigor patenteavam-se nas m os, no pesco o, noolhar. Tamb m sua estatura era pouco freq ente numchin s, pois quase atingia um metro e oitenta. Vestido europ ia, seu porte n o podia ser mais austero e elegante.Em todo o pa s, no poderiam ser encontrados oitocentoshomens como aquele. Quer dizer: um entre uni milh o.

    Suponho desnecess ria qualquer apresenta o denosso camarada, chefe dos servi os secretos que ligamCant o com Hong Kong e que foi chamado a Pequimexpressamente para o encargo de atender a miss Montfort.

    Somente a ela, pois o resto est sob controle. Inicialmente,nosso prezado camarada Wang Wu o atl tico e belochin s inclinou a cabe a vai ser o anfitri o pessoal dessafamosa visitante. Espero a opini o dos senhores sobre aadequabilidade da escolha de Wang Wu para este encargo.

    Conhecemos de sobra o camarada Wu disse um

    dos participantes da reuni o. E no creio que ningu maqui ponha em d vida sua intelig ncia e habilidade. Al m

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    disso, dadas suas... especiais qualidades f sicas, estamosconvencidos de que ser muito simp tico a miss Montfort.

    Houve sorrisos, pois certamente Wang Wu destacava-sede maneira not vel entre aqueles chineses reunidos em certolugar rec ndito de Pequim. Bem disse outra. Temos tudo preparado parareceber os americanos. Especialmente, a nica mulher dogrupo. Mas pergunto-me: que acontecer se miss Montfort ea agente Baby , da CIA, forem a mesma pessoa?

    Nada... por enquanto disse o anci o dirigente doservi o secreto chin s. Ns a deixar amos partir,naturalmente. Mas, se o , Wang Wu saber elimin -la nosEstados Unidos melhor que na China. Que pensaria de n s omundo, se nos mostr ssemos t o pouco hospitaleiros?

    E a deixar amos regressar aos Estados Unidos? perguntou quase incredulamente outro participante.

    Claro... sorriu o anci o. Espero que todoscompreendam que ser muito mais f cil.

    CAP TULO PRIMEIROO momento das retifica es

    Como?! exclamou o alegre rapaz. verdade quevoc fala chin s, Brlgitte? verdade sorriu miss Montfort. Cuidado, Larry! riu outro membro do grupo.

    Deve ser uma de suas brincadeiras. Depois ela vai rir devoc!

    No, no... Brigitte ergueu as m os. verdadeque falo chin s, rapazes.

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    Ento diga alguma coisa sugeriu razoavelmenteoutro membro da delega o esportiva.

    Sim! Diga alguma coisa em chin s, Brigitte! Oestranho era que o avi o no se desequilibrasse, tendo emconta que todos os componentes da delega o estavam deum lado, rodeando Brigitte Montfort, que durante todo otempo era o centro a cujo redor gravitava o bem-humoradogrupo. Sentada junto janelinha, tendo embaixo as selvaschinesas, era como uma rainha rodeada de vassalos... queestavam encantados com seu papel.

    Est bem, est bem, direi algo em chin s. Vejamos oque lhes parece isto: chi suo pu u wu shih yu jen.

    Por um instante, todos ficaram at nitos, estupefatos.Depois se ouviu uma risada.

    Eu lhe preveni, Larry! Ela est fazendo voc de tolo! Claro que est ! riu um dos cronistas esportivos.

    Assim, qualquer um fala o chin s! Como, qualquer um? protestou miss Montfort. Como me custou aprender essa frase!

    Ora, vamos... Tolices! Escute isto: chap chip chop suey o li chap chup pe te.

    Que quer dizer isso?

    Que o menino precisa de chupeta para tomar a sopachop suey. No acredito! pura invencionice! exclamou

    outro.E todos tornaram a rir, inclusive Brigitte, que ao mesmo

    tempo agitava a m o, pedindo a palavra.

    uma brincadeira sua, Marlon pde dizer por fim. Mas meu chin s autntico, juro. Aprendi essa frase. Imposs vel... N o ser capaz de repeti-la.

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    Pois ai est : chi suo pu u wu shih yu jen. Eu diria que soou como antes... interveio outro.

    Que quer dizer? Quer dizer: no fa as aos outros o que n o queres

    que te fa am. E agora voc vai nos dizer que uma frase de

    Conf cio! Ou de Buda! No creio... Mas asseguro-lhes que estou falando

    srio. Faz tempo que quero aprender chin s e creio que estaser uma excelente ocasi o.

    Pois na verdade riu outro jornalista eu preferiria aprender a voar sem asas que aprender chin s...Levaria menos tempo!

    Todos tornaram a rir. Enquanto isso, o alto-falanteavisou que j estavam chegando ao aeroporto de Pequim,que deviam colocar os cintur es... Todos os rostos ficaramgraves. Os risos, as brincadeiras tinham terminado. A partir daquele momento, cada qual tinha que se manter conscientede sua miss o, de sua tarefa especifica. Cada qual deviafazer alguma coisa l embaixo, onde j se divisava Pequim,com seu centro murado contendo a Cidade Proibida. E o

    pal cio de Ver o, a Barca de M rmore, o Templo do C u...Mais ao norte, a Grande Muralha da China, como umsmbolo do isolamento em que o pa s tinha querido viver sempre.

    Tinha chegado o momento das retifica es?* * *

    Ao p da escadinha do avi o esperavam os chineses,

    alguns deles jogadores de pingue-pongue, que vinhamreceber seus colegas americanos. Foi uma acolhida cordial,amvel, cort s, cheia de apresenta es, de salamaleques, de

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    aten es m tuas. Um chin s baixinho de culos traduziafrases de seus conterr neos aos americanos e as respostasdestes aos chineses. Alguns jornalistas do pais, que falavamingl s, trocavam animados coment rios com seus colegasdos Estados Unidos. Eram feitas fotografias, especialmenteda bela visitante de sorriso encantador, agradecendo asflores com que a haviam obsequiado. Um grato ambiente desimpatia, de amabilidade...

    Miss Montfort?Brigitte acabou de sorrir a um dos fot grafos chineses e

    virou-se, ao que parecia disposta a permitir que afotografassem mais. Esta vez. por m, n o ia ser fotografada.Um pouco at nita, quase incr dula, ficou olhando o bonitochin s que tinha agora sua frente.

    Sim... Meu nome Wang Wu inclinou-se o elegante

    atleta. Tive a honra e o prazer de ser designadoexclusivamente para seu servi o pessoal, como cicerone eintrprete.

    Oh... Muito obrigada, senhor Wu. Agrade o-lheimensamente.

    Desejamos que sua perman ncia em Pequim seconstitua numa de suas recorda es mais gratas. At agora, tudo muito de meu agrado, asseguro-lhe.E no tenho a menor d vida de que a cortesia chinesa mecolocar em d bito para com este belo pa s.

    Esse meu maior desejo, em nome de toda a China,miss Montfort. Aqui apreciamos tanto a beleza como a

    intelig ncia e, se sua beleza algo t o evidente, a fama. desua intelig ncia j chegou at ns. N o se pode pedir mais

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    de uma mulher. A China se alegra por receb -la e est aseus p s.

    Brigitte ladeou a cabe a e entrecerrou as p lpebras,talvez para esconder uma breve centelha de ironia.

    Sua linguagem muito florida, senhor Wu. Masningu m deve lan ar-se a meus p s: no vim conquistar,mas simplesmente informar... e admirar.

    Entretanto, e justamente por essas palavras que ser o publicadas nos grandes jornais do mundo, acaba deconquistar toda a China.

    Bem... riu finalmente ela. Jamais territ rio t ogrande foi t o facilmente conquistado. jornalista, senhor Wu?

    No exatamente. No exatamente? Sou poeta. Mas, claro acrescentou com rapidez

    tenho meu trabalho produtivo para o pa s. E dos mais produtivos, segundo a opini o geral. Que trabalho esse? Sou professor. De jiu-jitsu?Wang Wu n o pde evitar um sorriso.

    No, no... Sou educador de crian as. Oh, agora compreendo bem. Mas... acha que vale a pena abandonar seus disc pulos por mim?

    Parece que meus disc pulos podem ser atendidostemporariamente por outro professor, enquanto que oservi o de rela es p blicas esportivas achou que eu n o

    podia ser substitu do no cargo de lhe prestar servi os.Espero n o decepcionar.

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    No se preocupe murmurou Brigitte. No sei seoutra pessoa poderia ocupar o seu posto, senhor Wu, masasseguro-lhe que o est exercendo bem. Al m disso, aprecioos poetas... Naturalmente me permitir ler algumas de suas

    poesias. L o chin s? H...? Oh, n o! Claro que n o! uma contrariedade

    em que n o havia pensado... Terei muito gosto em ler-lhe minhas poesias em

    chin s e depois traduzi-las, se assim desejar. Ficarei encantada. Diga-me: joga pingue-pongue,

    senhor Wu? Um pouco. No faz parte da equipe de seu pa s? No, no. Minhas prefer ncias esportivas s o outras. Foi o que pensei, ao ver seus ombros t o largos. Sem

    dvida, pratica o atletismo em geral e eu diria que a nata oem particular. Com efeito. Vejo que boa observadora. Costumo ser. Jud ou jiu-jitsu?Wang Wu, Que se sentia cada vez mais envolvido numa

    rede sutil de perguntas, hesitou ligeiramente.

    Jiu-jitsu murmurou. Embora n o desdenhe o jud. Mmm... Quer dizer que sua cortesia o impede de

    desdenhar uma... doutrina-luta que considera... inferior? Evidentemente, como doutrina o jud superior. Mas n o como luta?

    Penso que um judoca n o tem grandes possibilidadesdiante de um especialista em jiu-jitsu, miss Montfort.

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    Baby limitou-se a sorrir, n o menos cortesmente doque o estava fazendo Wang Wu. Claro, o chin s j seencontrava catalogado perfei o na mente da espi : alitinha um colega . Um espi o chin s, possivelmente dosmelhores. Poeta? Professor? Tamb m... Por que n o? Elaera jornalista, al m de espi .

    Parece que j estamos em marcha para nossosalojamentos, senhor Wu. Entendo que ficaremos no HotelPequim.

    Exato. E esperamos que o achem confort vel... H condicionadores de ar.

    Oh, sim? N o lhe parece que Isto seja um desperd ciocapitalista?

    Wang Wu teve que tornar a sorrir. Pequim uma cidade de clima extremado. No ver o,

    alcan amos os quarenta graus cent grados; no inverno,chegamos com freq ncia aos vinte abaixo de zero.Pensamos que at mesmo os mais pobres chinesescomunistas t m direito ao calor.

    E brisa fresca... riu Brigitte. De qualquer modo, natural que nos proporcionem um alojamentoconfort vel, senhor Wu. Parece que se fala de uma poss velretribui o de visita da equipe chinesa de pingue-pongueaos Estados Unidos, em cujo caso n o nos descuidaremosnas aten es devidas aos nossos h spedes. A prop sito: vir tamb m ao nosso pa s, senhor Wu?

    No creio. Que pena... Mas se for, eu gostarei de saber, pois o

    senhor me agrada.Wang Wu inclinou a cabe a. Obrigado. Tenho um carro para lev -la ao hotel...

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    A mim? Por qu ? No posso ir no nibus, com meuscompanheiros de viagem?

    Claro, se assim o deseja. Nesse caso, senhor Wu, se n o se incomoda, irei com

    eles. Como queira. Passarei pela sua su te no hotel para

    saber se tudo est a seu gosto. Com licen a... At logo.

    * * *Dentro do enorme Hotel Pequim, miss Montfort ocupou

    uma pequena su te, de duas pe as, muito s bria, masimpecavelmente limpa e com banheiro. Um boy, que senegou a aceitar sua gorjeta, levou-lhe a bagagem, compostaunicamente por duas maletas de tamanho reduzido. S duasmaletas. Para qualquer pessoa que a conhecesse bem, teriasido motivo de estranheza a aus ncia da maletinha vermelhaadornada de flores azuis, mas esta, juntamente com parte desua bagagem total, tinha ficado em Hong Kong, em boasmos.

    Proibiram voc de aceitar gorjeta? sorriu ela,insistindo em entregar ao boy a cdula de dez d laresamericanos.

    Obrigado, n o... disse o chin s. No, obrigado. Fala ingl s? Um pouco, miss. Chama se precisar. Sim? De acordo. Muito me alegra que haja aqui pessoal

    falando ingl s. Como seu nome? Chang Su, miss.

    Pois bem, Chang Su: muito obrigada e espero n o oincomodar muito.

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    No incomodar sorriu o chin s. Eu servir beme com prazer, miss. Pode chamar sempre, eu vir correndo.

    Okay... riu Brigitte. At logo, Chang Su. Okay, okay, sorriu o jovem chin s, encaminhando-

    se para a porta.Ela ficou sozinha. Muito bem, ali estava a espi mais

    audaz, inteligente e perigosa do mundo inteiro, em plenaChina... O centro do universo, segundo diziam os chineses.Claro que isso mesmo diziam os habitantes de Boston,Massachusetts, EUA. E n o havia d vida de que Bostonestava algo distante de Pequim.

    A primeira coisa que fez foi aproximar-se docondicionador de ar da saleta, que funcionava com muito

    baixo rendimento, j que a temperatura externa n o era m .Aps subir a uma das cadeiras, pois o condicionador estava

    bastante alto, adiantou a m o para medir a temperatura do ar que dele sa a. Depois fez a mesma coisa com o do quarto eregulou-o a seu gosto, pois estava produzindo demasiadocalor. Por fim, foi ao banheiro... Estava examinando-o,indiferente, quando soou a batida na porta da su te.

    Foi abrir e sorriu ao visitante. Ah, senhor Wu... Entre, por favor.Wang Wu entrou na su te e procurou sorrir. Este n o o Waldorf Astoria, nem nenhum dos

    grandes hot is de Miami Beach, mas esperamos que oconsidere... habit vel. Ocupei-me de sua bagagem, mas...

    Oh, sim, j a tenho comigo. Est no quarto. Muito bem. Precisa de alguma coisa?

    Por ora, n o. E n o penso lhe dar demasiado trabalho,senhor Wu, j que Chang Su ofereceu-se amavelmente para pequenos servi os.

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    Chang Su? Entendo que o boy encarregado deste andar do

    hotel. Ah, sim... Bem, n o me referia a essa esp cie de

    servi os, claro. Mas... Compreendo. Entretanto, tudo quanto desejo agora tomar um banho e descansar um pouco antes de descer para

    jantar... Embora me pare a que h um coquetel em nossahonra num dos sal es do hotel, esta tarde. Nos veremos l ,senhor W.... se n o tem nada melhor que fazer.

    Durante sua perman ncia aqui, n o terei nada melhor que fazer.

    Muito obrigada. At logo, ent o.Wang Wu despediu-se. Pouco depois, chegava aos

    por es do hotel, onde dois boys, um ajudante de cozinha eum gar om passeavam como quem n o sabe o que fazer.Dirigiu-lhes um olhar expressivo, foi a uma das portas,

    bateu e, poucos segundos depois, a mesma se abriu. Uma porta grossa, muito grossa, devido camada de materialisolante que a forrava por dentro.

    Tudo em marcha? perguntou Wu Sim.Havia outra porta, tamb m prova de som. Entraram por ela num por o muito maior, onde, num painel que ocupava

    quase toda a parede, havia vinte telas de televis o. Dezoitoestavam acesas e em cada uma via-se um dos componentesdo grupo americano rec m-chegado a Pequim. No por o,havia meia d zia de chineses, olhando atentamente para as

    telas, dois deles munidos de c maras fotogr ficas com flashincorporado, esperando a ocasi o que merecesse umafotografia. Este era o servi o Indireto de informa o. O

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    direto estava no exterior e compunha-se de homens emulheres em n mero suficiente para que nem um s dosamericanos desse um passo que a China ignorasse.

    Nas telas, tudo era normal. Os americanos ocupavam-seem desfazer suas malas. Alguns deles estavam emhabita es duplas e conversavam, enquanto iam colocandosuas coisas no lugar adequado. Naturalmente, todas asconversas estavam sendo gravadas, embora os chineses n ofossem t o ing nuos a ponto de conseguir esperar algo comisso. Era preciso tomar em conta que os americanos, tanto

    os jogadores de pingue-pongue como os jornalistas que osacompanhavam, deviam ter sido muito bem instru dos antesde entrar na China. Realmente, ningu m esperava nada deningu m, no sentido de espionagem ou qualquer outraatividade... nociva, mas todos sabiam que os chinesesvigiariam os americanos. Ainda que s por curiosidade.

    Ningu m estava enganado e a nica coisa que se esperavaera que a ping-pong diplomacia desse resultadossatisfat rios ou, pelo menos, se desenvolvesse numambiente cordial e cort s.

    Rosto inexpressivo, Wang Wu colocou-se diante dastelas de televis o que captavam a su te de Brigitte Montfort.Esta se encontrava no quarto, tirando suas coisas dasmaletas, como todos.

    Procurou algo? indagou o chin s. No, nada replicou um dos homens que cuidavam

    do sistema de televis o. Quando o boy se retirou, elasubiu a uma cadeira, diante do condicionador de ar. Fiquei

    sobressaltado, mas tudo quanto queria era saber sefuncionava. Fez o mesmo depois com o aparelho do

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    quarto... N o viu as objetivas colocadas noscondicionadores, com certeza. Nem procurou nada.

    Wu assentiu com a cabe a e continuou olhando BrigitteMontfort, fixamente, quase obsessivamente. Era t oformosa, que s por Isto valia a pena n o a perder de vista.Mas tamb m Wang Wu tinha percep o muito fina e sabiaque aquela mulher n o era absolutamente comum. Coisaque, ali s, j era de seu conhecimento antes de receb -la noaeroporto de Pequim. A id ia de que ela fosse a agenteBaby , em principio admiss vel, tornava-se absurdaquando se pensava. detidamente nessa possibilidade. Antesde qualquer coisa, significava um grande risco para umaespi pela qual o servi o secreto chin s estava disposto a

    pagar cinco milh es de d lares. Um risco que Baby no iaser t o louca de enfrentar. Depois, se ela fosse Baby , quefazia ali, em Pequim? Que esperava conseguir? Se aceitava

    durante todo o tempo sua companhia, n o poderia fazer nada. Se n o a aceitasse e fizesse alguma coisa arriscada,colocar-se-iam numa evid ncia perigos ssima para ela.

    Portanto, n o podia ser Baby .Mas, supondo que aquela bel ssima jovem fosse mesmo

    a mais eficaz agente da CIA e de todo o mundo, caberia a

    pergunta: que estava procurando em Pequim, onde a todomomento ia ficar sob controle?

    Por enquanto, a nica coisa que miss Montfort pareciadesejar era, efetivamente, banhar-se. Viram-na desaparecer no banheiro, cuja porta ficou entreaberta, mas n o osuficiente para que a pudessem ver na banheira. Depois se

    ouviu o rumor da gua, viu-se o ligeiro vapor produzido pela gua quente...

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    Wang Wu, como uma est tua, permaneceu diante da telade televis o, sem a perder de vista. Durante quase meiahora, esteve ornando aquela porta, ouvindo miss Montfort

    banhar-se e cantarolar alegres can es americanas. S bito,ela emudeceu. Ouviu-se o forte jorro do chuveiro, semdvida de gua fria, j que desaparecera o leve vapor.Depois, o sil ncio.

    E em seguida miss Montfort saiu do banheiro, envoltanuma toalha, cabelos soltos. O chin s que estava junto deWang Wu murmurou alguma coisa e este o olhou friamente,

    sem fazer nenhum coment rio. Miss Montfort foi at a cama, tomou a bolsa que estava

    sobre esta e dela tirou um ma o de cigarros e um isqueiro,que parecia de platina e brilhantes. Um sorriso duro,sarc stico, crispou os l bios de Wang Wu. Quanta deviavaler aquela j ia?

    Ela acendeu o cigarro, guardou o isqueiro e aproximou-se da janela, fumando. Esteve ali at terminar de fumar,contemplando a ampla avenida. Finalmente, apagou ocigarro num cinzeiro, tirou a toalha e foi ao arm rio.

    O chin s que estava ao lado de Wang Wu quase deu um pulo, mas este permaneceu imperturb vel, contemplandoinexpressivamente o mais famoso corpo de mulher quetinha visto em sua vida. O outro chin s engoliu em seco,olhos reluzentes. Fez um sinal aos companheiros, que seaproximaram velozmente. Durante uns segundos, at queBrigitte Montfort enfiou-se numa curta camisola de dormir,constituiu-se no centro da pr pria China, tal a aten o com

    que era contemplada. Houve uma esp cie de resmungocontido, quando ela cobriu parcialmente sua espl ndidanudez.

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    Depois se deitou e, em poucos segundos, dormia umsono pl cido.

    J adormeceu! exclamou o vigia da tela. E dai? No sei... Nunca vi ningu m adormecer assim, t o...

    de repente. Apague. Ela vai dormir por duas horas. Isso n o nos

    interessa. Talvez acorde antes... No. S despertar dentro de duas horas

    murmurou Wang Wu, olhando seu rel gio.Duas horas menos dez minutos mais tarde, sentado numa

    cadeira diante das telas, Wang Wu mandou outro chin sacender a correspondente sute de Brigitte Montfort, quese iluminou em poucos segundos. E exatamente quando secompletavam as duas horas, miss Montfort abria os olhos e

    saltava da cama. O chin s que atendia tela ficouestupefato, mas Wang Wu tornou a sorrir, com certa durezasard nica. A pergunta era inevit vel: como havia eladespertado t o pontualmente? Tinha dito que tencionavadormir duas horas e duas horas dormira... menos doissegundos. Isso s poderia conseguir uma pessoa queestivesse bem treinada em tal sentido. E era uma faculdadeque, em sua maioria, as pessoas nunca conseguiamdesenvolver. Os espi es, sim, como uma deriva o de seuinstinto de sobreviv ncia.

    Num tempo assombrosamente breve, miss Montfort penteou-se, retocou ligeiramente o belo rosto, vestiu-se

    (com o que o servi o secreto chin s teve uma nova e brevemas fulgurante e arrebatadora sess o de strip-tease ao

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    inverso) e olhou a seu redor. Mas tudo estava em perfeitaordem.

    Olhou seu rel gio, foi at a bolsa, apanhou-a e dirigiu-se para a porta do quarto. Deteve-se l , voltou-se e seudelicado narizinho se franziu, enquanto seus olhos giravam

    por toda a habita o. Imediatamente, Wang Wu apertou as plpebras... Que estava acontecendo agora?

    Soube-o em seguida. Miss Montfort foi ao arm rio, abriu-o, tirou uma de suas

    maletas e dela um pequeno frasco atomizador de perfume.

    Tornou a guardar a maleta, fechou o arm rio e espalhou jatos de perfume atomizado em todas as dire es. Depoisfez o mesmo na saleta. Finalmente, saiu da su te.

    O chin s soltou uma risada. Deve ter sentido algum cheiro desagrad vel disse. Os americanos s o demasiado sens veis...

    comentou um tanto acremente Wang Wu. De qualquer modo, ela tem o direito de usar seu perfume como quiser.Deve estar chegando ao sal o onde se realiza o coquetel.

    Bem. Revistamos suas coisas? No... Ainda n o. algo que deve ser feito com

    tempo e essa mulher pode resolver voltar sua su te aqualquer momento. Amanh , eu a levarei do carro para ver a Grande Muralha, de modo que estaremos ausentes dohotel por v rias horas: encarreguem-se disso ent o.

    Entendido. E muito cuidado. Cuidado? De qu ?

    De como far o as coisas. Essa mulher tem olhos que parecem ver tudo. No notar nada.

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    Assim espero. O que cometer a menor falha pagar caro por isso, Liao. N o o esque a.

    Dirigiu-se para a porta, olhando as outras telas, que iamsendo apagadas medida que seus ocupantes abandonavamos aposentos que lhe haviam sido designados, a fim decomparecer ao coquetel oferecido em honra dos esportistasamericanos. Costume divertido. Mas, afinal de contas, emassuntos de comer e beber, os chineses t m sido mestresdesde h muitos s culos, pelo que a Wang Wu a id ia no

    parecia m .Alm disso, no coquetel ia encontrar miss Montfort,

    perspectiva que lhe produziu uma estranha, inquietante,desconcertante alegria.

    * * *E sentiu-se absurdamente feliz quando, assim que o viu

    aparecer no sal o, miss Montfort aproximou-se dele,sorrindo daquele modo t o encantador. Ah, senhor Wu... Pensei que me tivesse abandonado.

    Abandonado, miss Montfort? Como disse que estaria durante todo o tempo minha

    disposi o e n o o vi chegar aqui... Lamento o atraso. Tive que p r um pouco de ordem

    em minha casa. Algo n o vai bem, necessita de...? No, no... Tudo vai bem. que, simplesmente, n ome queria privar do prazer de sua companhia. Vejo quetrocou de roupa... Muito correto. Acho-o verdadeiramenteelegante, senhor Wu.

    Est sendo maravilhosamente am vel comigo, miss

    Montfort. Chi suo pu u wu shih yu jen disse ela. Fala o chin s? perguntou finalmente.

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    No... riu ela. apenas uma frase que aprendiem Hong Kong. Pareceu-me interessante. Entendeu o queeu disse?

    Claro. Embora... n o saiba se encaixa naconversa o. Oh, sim. Uma vez que est ... a meu servi o, eu n ovou ser desagrad vel consigo, j que, se a situa o fosseinversa, n o gostaria que fosse desagrad vel comigo. Uma

    presta o de servi o to simp tica e desinteressada como asua n o merece desagradecimento de minha parte, n oacha?

    extremamente gentil, miss Montfort... Mas, por favor, estou aqui para servi-la, n o para ocupar seu tempo.Se prefere conversar com outras pessoas...

    Fez um gesto amplo, abrangendo todos os presentes nosalo. Chineses e americanos confraternizavam numambiente t o refinadamente cort s, to... for osamenteformal e circunspeto, que, sem d vida, a espi internacionalo encontrava dos mais divertidos.

    Na verdade respondeu ela minha presen a aquino se deve a assuntos esportivos, senhor Wu.

    No? A que outros assuntos, se me permite perguntar? Ora, vamos... riu Brigitte. No me diga queignora minha posi o em certo jornal de Nova Iorque,senhor Wu! Tenho a meu cargo a Se o Mundial e,evidentemente, minha perman ncia em Pequim ser aproveitada para escrever artigos n o relacionados com o

    pingue-pongue. Espero que nesses artigos seja benevolente com avelha China.

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    Mmm... Serei, se o senhor me ajudar. J lhe disse que estou sua completa disposi o, para

    tudo absolutamente. Bem... Olhe, esta viagem devia ter sido feita por um

    querido amigo e colega meu, chamado Frank Minello. oredator-chefe da Se o Esportiva de meu jornal. Mas, por desgra a, pouco antes de empreender a viagem, eleadoeceu. Ent o, meu diretor teve a id ia que considerougenial: enviar a mim e, com os gastos de um s jornalista,obter informa o dupla: esportiva e humana... Explico-me

    bem, senhor Wu? Explica-se perfeitamente. Obrigada. Quanto informa o humana, conto com

    sua colabora o, seus informes em geral, sua companhia...Farei muitas perguntas, que espero n o o incomodem. Mas,quanto informa o esportiva, creio que terei inclusive queabusar do senhor... Espero que entenda de pingue-pongue osuficiente para dizer-me o que devo escrever a respeito decada partida. Mmm... Temo que lhe ser necess riodescrever por mim estas partidas, senhor Wu. O meu chefeconfiou demasiado em mim, neste particular.

    Para mim, ser uma honra...

    Mas Brigitte ergueu um dedo sem poesia,senhor Wu, ou o meu chefe logo compreender que n o fuieu quem redigiu esses artigos.

    Uma vez mais, Wang Wu n o pode evitar um sorriso. Esquecerei que sou poeta para ajud -la a escrever

    sobre pingue-pongue, miss Montfort. Permite que lhe traga

    um coquetel? Se me acompanhar, sim.

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    Wang Wu inclinou-se e foi at a mesa onde se serviacoquet is. Sem d vida, a perspectiva de tomar coquetel dechampanha em companhia de t o formosa jovem n o lhedesagradava em absoluto. Possivelmente, levaria muito,muito tempo a tornar a beber champanha... O que seoferecia em honra dos americanos n o estava, comumente,ao alcance dos chineses. Este era um detalhe contra o qual

    podia esbarrar qualquer sistema de filosofia chinesa,certamente.

    Quando se virava, com uma ta a na m o, viu, bastante perto de miss Montfort, um dos altos chefes da espionagemchinesa que tinham participado da reuni o em que ele vira

    pela primeira vez a formosa jornalista americana, projetadasobre a tela. E, um pouco mais al m, igualmente camufladoem seu papel de jornalista, outro chefe, que conversava comdois colegas americanos... Isto era normal, tudo estavaestudado e previsto.

    Mas quase lhe ca ram as ta as das m os, quando, aoolhar mias Montfort, viu-a acendendo um cigarro comaquele bonito isqueiro, orientado, justamente, para os doismaiores da espionagem chinesa. Teve que fazer um grandeesfor o para n o lan ar uma exclama o ante tantadesfa atez... Porque, ou ele n o entendia nada deespionagem, ou miss Montfort estava batendo microfotos detodos os chineses presentes.

    Seu coquetel, miss Montfort. Obrigada... ela ia beber, mas olhou-o

    interrogativamente. Sente alguma coisa, senhor Wu?

    No, no... Por que pergunta? Acho-o um pouco... alterado. N o lhe quero parecer descort s mas, se n o fosse pela cor indefin vel da epiderme

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    chinesa, quase diria que o senhor est um tanto... p lido.Tome seu coquetel, que lhe far bem. Quer um cigarro?Americano: comprado em Hong Kong.

    Aceito, obrigado.Com natural ssima eleg ncia, mantendo a ta a numa das

    mos, Brigitte Montfort abriu a bolsa que pendia do pulsocom a outra, tirou o ma o de cigarros e ofereceu-o a WangWu, que tirou um.

    Depois, ela sacou o isqueiro de platina e brilhantes,acendendo-o... seria ou n o por casualidade que, ao faz -lo,ficasse orientada para a parte do sal o onde estava outrochefe do servi o secreto chin s?

    Ela ia guardar o isqueiro na bolsa, quando Wang Wucomentou:

    muito bonito seu isqueiro. Agrada-lhe? apresentou-o na palma da m o.

    Presente de um querid ssimo amigo. Platina e diamantes,com minhas iniciais em ouro. s vezes, acho-o demasiadoostensivo.

    Na China, ... murmurou Wang Wu. Permite? Claro.Wang Wu tomou o isqueiro e acendeu-o duas vezes,

    enquanto, baixando a cabe a, procurava o inevit vel ediminuto orif cio da objetiva da microc mara. Mas n o pde ver nada, o que lhe causou irrita o e perplexidade.

    magn fico. Um belo presente, sem d vida. E do qual muito gosto. N o fosse por isso, teria muito

    prazer em obsequi -lo com ele.

    De maneira nenhuma... murmurou o chin s. Jamais o aceitaria, miss Montfort. Poderia ser considerado um suborno? riu ela.

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    Wang Wu abriu a boca, mas naquele momento tr schineses se aproximaram deles, desejosos de conversar coma formosa colega americana. Af veis, sorridentes,cerimoniosos, foram acolhidos com o mais sensacionalsorriso da, espi mais perigosa do mundo. Falavamaceitavelmente ingl s, pelo que tinham sido escolhidos, e,durante o resto da pequena festa, tanto esses tr s chinesescomo outros que foram engrossando o grupo monopoliaramBrigitte Montfort, cuja gra a e simpatia seriam postas emdestaque no dia seguinte em todos os jornais.

    Quando chegou a hora do jantar, que tamb m serealizaria no hotel, a amabilidade chinesa teve que ser esgrimida com sua for a plena com respeito ao desejo por todos revelado de sentar-se junto a miss Montfort. No

    primeiro dos artigos enviados a Nova Iorque, eladescreveria a alta civilidade chinesa, dizendo que: nos

    Estados Unidos teria havido bofetadas mas, por sorte,combinando as cortesias chinesas e minha, resolveu-se oassunto prontamente, pois resolvi sentar-me entre doiscavalheiros de idade avan ada, cuja brilhante conversa mecausou grande prazer durante todo o jantar .

    Quem n o sentiu nenhum prazer foi Wang Wu. E n o s por sentir-se afastado de sua pupila, mas porque(casualidade?) um dos cavalheiros de idade avan ada eraum dos chefes locais do servi o secreto chin s.

    O jantar descreveria tamb m a famosa jornalista foi um sensacional desfile de iguarias chinesas, desde omodesto arroz com sake, at a sopa de ninho de salangana,

    o pato com laranja, os past is variados... Se n samericanos estiv ssemos receosos, ter amos pensado quenossos amabil ssimos anfitri es tinham planejado

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    restavam do total de quatrocentos mil que haviam iniciado aGrande Marcha. Naquela ocasi o, Mao falou dando ascostas Cidade Proibida, encerrada em seus muros. Desdeaquele dia, a cidade ficou aberta a todos os chineses. Umacidade proibida que se havia considerado o centro douniverso desde que a constru ra o neto de Gengis Khan,Kublai, que quando foi Grande Khan permitiu-se, inclusive,governar o sol. Cada manh , voltado para a Grande Porta doOriente, autorizava o sol a nascer; cada tarde, olhando paraa Grande Porta do Ocidente, concedia ao sol a permiss o demorrer...

    Evidentemente comentou mias Montfort a estaexplica o de Wang Wu o Grande Khan foi pessoa deimensa autoridade. Espero que n o tenha deixado escrito osegredo para dispor do sol.

    Wu contemplou-a fixamente um instante, n o sabendose devia sentir-se triste, irritado, ou permanecer naquela

    perplexidade que lhe causava a mulher mais formosa que j havia visto.

    J muito tarde... murmurou. Se est deacordo, podemos voltar ao hotel e amanh acabarei demostrar-lhe o mais importante de Pequim. Gostaria de

    passear pela Grande Muralha? Jamais me perdoaria n o o ter feito sorriu ela. Embora n o tencione percorrer a p seus tr s milquilmetros.

    Ser apenas um curto passeio pela parte mais pr xima de Pequim. Ter que finalmente aceitar o carro,

    pois fica a uns quarenta quil metros, para o norte. Aceitarei o carro, naturalmente. Conhece a GrandeQueixa Chinesa, senhor Wu?

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    Como? A Grande Queixa Chinesa... a respeito da Muralha. Oh, sim... Bem, s vezes se exagera um pouco... Pode ser. Essa Grande Queixa diz assim, se minha

    mem ria n o falha: Se tens uma filha, afoga-a. Para que aqueres? Se tens um filho, afoga-o tamb m... N o vs que s seria um a mais na montanha de cad veres sobre a qual est sendo edificada a Grande Muralha? Creio que algoassim, n o?

    Todas as grandes obras foram feitas com sacrif cio. Creio que sim... murmurou Brigitte. Parece-me

    que o melhor voltarmos agora ao hotel.Wang Wu deu a. ordem ao cule, que tomou aquele

    caminho imediatamente. Bem, pensou ele, ia terminar aquele dia de pequenas surpresas e sobressaltos junto a t oextraordin ria mulher. noite, teria tempo de refletir, a fimde enfrentar o dia seguinte, que n o se apresentava muitof cil, j que miss Montfort fazia perguntas, perguntas,

    perguntas... sem parecer se dar conta de que algumas delaschegavam indiscri o e outras, como o coment rio sobre oGrande Khan e seu poder sobre o sol, continham uma fortedose de condescendente ironia...

    Mas miss Montfort tinha ainda mais uma surpresa para osenhor Wu: justamente quando, saltando do carrinho,dispunham-se a entrar no hotel, ela abriu a bolsa, tirou unsculos escuros e colocou-os... Com o que o chin s, no semmotivo, ficou at nito.

    Surpreende-se? perguntou-lhe Brigitte.

    Bem... Francamente, um pouco. Entendo que culosdessa esp cie s o para o sol.

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    Ou para excesso de luz sorriu ela. Ultimamentetive pequenos inc modos com a vista e meu m dicorecomendou-me que n o expusesse demasiado os olhos luz, especialmente luz el trica.

    Indicou a entrada do hotel e Wang Wu olhou torvamente para l . Na verdade, a ilumina o do Hotel Pequim n o eraum prod gio mas, se miss Montfort tinha a vista delicada,fazia bem em proteg -la.

    Espero que esses pequenos inc modos logoterminem.

    Assim ser , se eu tiver cuidado. N o imagina como passei mal, no sal o, quando fizeram fotografias com flash.E tudo t o iluminado... Mas pareceu-me uma descortesiaocultar meus olhos queles que falavam comigo.

    Sim, compreendo. N o obstante, se me tivesse prevenido...

    J passou. Bem, senhor Wu, foi muito am vel eagrade o-lhe por tudo. A que horas venho busc -la amanh ? s nove. Boa-noite.Wang Wu inclinou-se e Brigitte entrou no hotel. Dois

    minutos depois, ele fez o mesmo, dirigindo-se rapidamente

    ao controle de televis o. Quando entrou na grande sala ondeestava o painel, tudo continuava como antes, em guarda permanente. Apenas doze telas estavam iluminadas,mostrando os americanos. Os que faltavam deviam estar ainda passeando por Pequim, ou no bar...

    Diante das duas telas correspondentes sute de Brigitte

    Montfort, postava-se um chin s de idade avan ada, fixandoos olhos diminutos na jornalista americana, que se mantinha

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    uma cadeira... Depois ela apertou a campainha de servi o eacendeu um cigarro.

    claro que, de qualquer modo, Tang e eu vamos sair em fotografias murmurou Hui Chu.

    Isso n o importa, pois estamos bem protegidos na profiss o de jornalistas, naturalmente. Mas, quando uma pessoa faz microfotos, seria conveniente poder conhecer osmotivos exatos. Bem considerado, pueril: por que fazer microfotos, se pode dispor de fotografias normais?

    No sei. A seu ver, que probabilidade tem ela de ser Baby ? Noventa por cento.Hui Chu olhou alarmado para seu colega. Tanta? Por ora, sim. Mas pode ser impress o minha. Sim... Pode ser.Ouviram claramente a batida na porta. Brigitte foi abrir e

    ficou contemplando o boy chin s. Voc no Chang Su ouviram-na dizer. No miss. Chang Su descansar agora. Eu servir at

    oito da manh . Servir miss com prazer. Obrigada. Bem, esqueci o papel de escrever na

    bagagem que deixei em Hong Kong. Voc poderiaconseguir-me algumas folhas? Sim, miss. Eu conseguir. Obrigada. Como seu nome? Mm Tao, miss. Pois bem, Mm Tao: quando voc voltar com o papel,

    entre sem bater e leve-o ao quarto. Deixarei a porta aberta.Isso porque talvez eu esteja no banheiro.

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    Est bem, miss. Eu compreender bem. Brigitte sorriua Mm Tao, que se retirou. Ela deixou a porta somenteencostada e regressou ao quarto.

    Que import ncia pode ter o nome do boy? surpreendeu-se Hui Chu.

    No sei. Tamb m perguntou o nome de Chung Su,evidentemente. E se vai tomar outro banho, deve ser limp ssima. J se banhou esta tarde. E al m disso, espalhou

    perfume pela su te. uma flor delicada e elegante sorriu Hui Chu.

    No pode ser Baby , Wu. Por que n o? Seria tudo f cil demais. Se ela fosse Baby , tudo o

    que n s sabemos e entendemos de espionagem careceria desentido... um risco in til e absurdo. Mas, sobretudo, queia ela ganhar com essa visita controlad ssima a Pequim?

    Essa pergunta eu j me fiz. Todos sabemos muito bem que a CIA s monopoliza Baby quando o assunto da maior import ncia. Coisa muito natural. Agora,

    pergunto: que tem de importante este torneio de pingue- pongue, ocasionando uma simples visita a Pequim? Porquese essa mulher Baby e espera fazer algo sem que n s, eespecialmente eu, o saibamos, est muito iludida. Seria omesmo que apresentar o pesco o ao machado do carrasco.

    Bem... Foi voc quem calculou as possibilidades emnoventa por cento, n o?

    Referia-me sua personalidade. Quanto ao resto,seria tudo t o est pido, que n o pode ser. Ai vem Mm Tao.

    E ela n o foi ao banheiro... Seria divertido que tentasse fazer perguntas capciosasa Mm Tao ou a Chang Su.

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    Muito divertido. E in til. Os dois sabem muito bem oque devem fazer em todas as ocasi es.

    Mm Tao n o teve que fazer nada.Simplesmente, miss Montfort recebeu de suas m os as

    folhas de papel pedidas, abstendo-se de dar-lhe uma gorjeta, j que, obviamente, havia aprendido a primeira li o, O boy,chin s abandonou a su te e a jornalista americana acendeuoutro cigarro, colocou-se mquina e esteve escrevendodurante uns dez minutos, a uma velocidade verdadeiramentefabulosa. S bito, deteve-se, leu o que tinha escrito, franziu atesta, amarrotou as folhas de papel e atirou-as a um canto doquarto... Parecia aborrecida.

    Parece que n o lhe agrada o que escreveu murmurou Wang Wu.

    Hui Chu acariciou o queixo. Examine essas folhas amanh , depois da limpeza da

    sute sugeriu. Vou me ocupar desse Frank Minello. Amenos que nossos sistemas estejam com uma dessasincmodas avarias, amanh cedo saberemos a verdade arespeito de sua doen a.

    Espere... N o fica para v -la? Ela vai se deitar easseguro-lhe que o espet culo vale a pena.

    Hui Chu ficou, olhos fixos na tela. Miss Montfortdespiu-se, p s sua ex gua camisola de dormir, deitou-se...S ento o velho chin s pde reagir.

    dessa esp cie de mulheres pelas quais qualquer homem cometeria n o importa que loucura... murmurou. Espero que voc no seja um homem qualquer, Wu.

    No negou este com voz um tanto rouca. No sou um homem qualquer.

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    CAP TULO SEGUNDOO mais infeliz dos homens

    As nove menos cinco minutos da manh seguinte, missMontfort apertou a campainha para chamar o servi o dohotel e, segundos depois, Chang Su aparecia na su te,sorridente, sol cito.

    Bom-dia, miss. Eu servir bem, sim. Obrigada, Chang Su. Mas n o vou lhe incomodar

    muito hoje... Acho que passarei o dia fora de Pequim ou,

    pelo menos, fora do hotel. Mas aconteceu-me algo muitoincmodo, h poucos minutos.

    Chang Su sobressaltou-se visivelmente. No est bem aqui, miss? Oh, sim, sim... Foi na banheira. Deixei cair um

    grampo pela v lvula e acho que causou entupimento.Venha, por favor.

    Foram os dois ao banheiro e miss Montfort indicou a banheira, que ainda continha gua e espuma de sab o.Chang Su olhou e assentiu com a cabe a.

    Eu consertar, miss. Pode ser agora, por favor?

    Eu tenta consertar agora.Ela saiu do banheiro, apanhou a bolsa, esteve uminstante olhando pela janela a ampla avenida e virou-se aoouvir as leves pisadas do chin s, que sa a do banheiro.

    H alguma coisa, sim, miss. Ir buscar um arame eferramenta para tirar.

    Ah, muito obrigada. Sinto bastante, mas que medescuido s vezes... Bem, vamos agora, depois voc volta para retirar o grampo, Est um bonito dia, n o verdade?

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    Chang Su sorriu. Muito bonito dia chin s, sim, miss. Brigitte Montfort abriu a bolsa, tirou os culos escuros,

    colocou-os e dirigiu-se para a porta, seguida de Chang Su.Wang Wu desviou os olhos da tela de televis o para

    olhar o chin s que estava junto a ele. No esque a: passaremos quase todo o dia fora, entre

    uma coisa e outra. Quero que revistem bem toda a su te,especialmente suas coisas. E muito cuidado para n o deixar nenhum sinal da busca.

    Tudo ser bem feito sorriu friamente Liao.Wu assentiu com a cabe a e retirou-se rapidamente dali.

    Chegou ao vest bulo antes de miss Montfort e foi ao seuencontro Quando ela apareceu na escada.

    Bom-dia. Vejo que muito pontual, miss Montfort. um mau costume americano. E, pelo que estou

    vendo, um bonito costume chin s. No compreendo... O costume mau para osamericanos e bonito para os chineses?

    Brigitte sorriu como um anjo. Minha primeira cortesia de hoje, senhor Wu.Wang Wu inclinou-se profundamente.

    Obrigado em nome da China. Seus olhos aincomodam? Um pouco. Desculpe-me, mas dif cil para eu

    suportar a luz do sol. Receio que tenha que usar meusculos durante todo o dia.

    Uma infelicidade para meu pa s... A luz de seus olhos

    mais formosa que a do sol.Ela pareceu surpreendida, primeiro. Depois riu, tomou o bra o de Wang Wu e sa ram ambos do hotel. Fora os

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    esperava o carro, com chofer inclusive, mas, a um sinal deWu, o homem afastou-se com uma breve inclina o. O

    pr prio Wu p s-se ao volante e miss Montfort instalou-se aseu lado.

    Pensei que pod amos dedicar a manh a visitar aMuralha e os t mulos dos Ming disse Wang Wu. H um restaurante tranq ilo nas montanhas e me sentiriahonrado, se aceitasse meu convite. Depois poder amosdedicar a tarde a conhecer muito mais coisas sobre Pequim.

    Pode-se conhecer Pequim num dia? Pequim n o se pode conhecer nem em toda uma vida. Oh... Mas pode deslumbrar, em poucas horas, a mais bela

    de suas visitantes. Espero saber escolher o mais valioso dePequim para lhe mostrar.

    Senhor Wu, acaba de convencer-me definitivamentede que um grande poeta. Adiante: estou em suas m os...* * *

    Ao fim da tarde, estavam de regresso ao hotel,atravessando Pequim, quando de s bito Wang Wu moderoua velocidade do carro e, sorrindo, virou-se para BrigitteMontfort.

    No a posso deixar no hotel sem antes ter tomado ch numa das mais... refinadas casas de Pequim. Creio que istono deve faltar num giro tur stico. Que lhe parece?

    Parece-me perfeito. Mas, senhor Wu, deveestar t o cansado de minha companhia, de minhas

    perguntas...

    No, no, no... o chin s baixou a voz. Na verdade, n o. Nunca realizei trabalho t oagrad vel como este de lhe servir de cicerone. Conhe o

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    uma casa adequada bem perto daqui. Espero que, como tudoo que viu at agora, mere a sua aprova o.

    Cinco minutos mais tarde, entraram na casa de ch . S da entrada, Brigitte deu sua aprova o, com um olhar dosmais eloq entes. Ocuparam uma mesinha baixa, de laca,dentro de um reservado protegido por cortina de contas devidro vermelho. Um chin s muito jovem, vestido de azul,olhar risonho e gestos suaves, escutou em sil ncio o pedidode Wang Wu, dirigiu um olhar relampejante estrangeira esaiu do reservado. Espalhava-se pelo ambiente o perfume

    adocicado das flores que enchiam grandes vasos de esmalteazul e vermelho. Na parte n o reservada, Brigitte tinha vistochineses de olhar frio, imperturb vel, alguns delesacompanhados de formosas jovens, que pareciam bonecasde porcelana...

    Wang Wu lan ou de s bito uma exclama o contida.

    Pode perdoar-me um minuto, miss Montfort? Esquecique devia dar um telefonema s seis... Mas j passa das seis e meia! Lament vel atraso o meu. Espero que a pessoa que

    est aguardando meu telefonema saiba perdoar-me... Contocom seu perd o tamb m?

    Claro sorriu Brigitte. No me moverei daqui. Obrigado.Wang Wu saiu do reservado e miss Montfort, sorrindo

    um tanta ironicamente, acendeu um cigarro. Sabia muito bem que Wang Wu usava um r dio de bolso e, sem d vida,ele teria ficado muito surpreendido, quase assustado, se

    soubesse que o leve zumbido de chamada do aparelhinhotinha sido captado pelos fin ssimos ouvidos da espi maiscompleta de todos os tempos.

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    Mas aquela chamada n o importava. Estava prevista. Naverdade, devia se ter produzido antes e, por n o ter sidoassim, Baby chegara conclus o de que o pessoalencarregado de revistar seus pertences, na su te do HotelPequim, n o era l muito eficiente. Para realizar o mesmotrabalho que eles em dez horas, a ela teriam bastado dezminutos. A estava a diferen a.

    Mas, por enquanto, n o vinha ao caso pensar nisso.Tinha que pensar em seu artigo, o que devia escrever paraenviar a Miky Grogan, que, como sempre, estaria

    resmungando a respeito da exorbit ncia que lhe custavamanter uma jornalista como ela. E devia ter muito cuidadocom o que ia escrever, pois pensava permitir que oschineses o lessem, deixando-o descuidadamente namquina antes de remet -lo.

    Por exemplo, a Grande Muralha da China.

    Tinha, segundo Wang Wu, tr s mil duzentos e noventaquilmetros de extens o, e boa parte dela se adentrava nomar... Tinha estado passeando pela cal ada que a recobria,ouvindo as explica es do elegante chin s, enquantocontemplava sorridente os turistas nacionais e estrangeiros.Mais al m da Muralha, as montanhas mong licas, das quaistinham chegado, s culos antes, as temidas invas es.Edificadas sobre l grimas e cad veres, realmente, a GrandeMuralha bem pouco tinha servido aos chineses, pois tantoos mong is como os t rtaros tinham invadidorepentinamente o pa s, a seu bel-prazer. Na atualidade, comsua altura, sua largura, suas velhas pedras e seu caminho

    levando de uma torre de vigia a outra, a Grande Muralha erasomente uma.. curiosidade mundial. Como um seixo nocaminho de um carro de combate. Embora nem sequer

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    fossem necess rios carros de combate para passar aMuralha. Ao longo de toda a fronteira chinesa, divis esrussas inteiras, equipadas com armamento nuclear, podiam

    perfeitamente ignor -la para transformar em cinzas aquela parte da enorme na o.

    E por falar dos russos... como deviam eles estar vendo asrela es sino-americanas iniciadas com a ping-pong diplomacy? Muito mal, claro. E algo tinham que fazer...

    De regresso da Grande Muralha, tinham passados pelostmulos dos imperadores Ming, percorrendo a larga avenida

    bordeada de est tuas de animais diversos: camelos, cavalos,lees, grifos, unic rnios, elefantes... Era um caminhoassombroso, fascinante, at chegar ao grande t mulo doImperador Yonglo, com seu duplo telhado recurvo, seugrande muro de pedra. Uma avenida de v rios quil metros

    para visitar as tumbas de homens-deuses falecidos havia

    multo s culos. As est tuas de animais e guerreirosrecortavam-se contra as verdes montanhas pr ximas. E tudoem paz, tudo em sil ncio, sob o luminoso c u azul. No

    pensamento do visitante, formavam-se umas palavras que pareciam mais adequadas do que nunca: Celeste Imp rio.

    Por m, mais que a Grande Muralha, mais que ostmulos dos Ming, impressionara-a a cidade Proibida, comseus grandes p tios adornados de le es, tartarugas, p ssaros.Seus recurvos telhados vermelhos, de beirais salientes... Eno centro geom trico da Cidade Proibida, o Pal cio daSuprema Harmonia, cuja beleza lhe iria ser muito dif cildescrever. Tinham sa do da Cidade Proibida pela chamada

    Porta da Paz Celestial, vermelha, adornada de brancoscaracteres chineses que Wang Wu lhe havia decifrado pacientemente.

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    At que, por fim, chegaram ao Templo do C u. Dentrode um recinto quadrado que simboliza a Terra, o Templo doCu, com seus tr s telhados circulares e as balaustradas demrmore, todas elas conc ntricas com o templo, representaexatamente o que seu nome indica: o c u. Flores, grandesmaci os de folhagem, m rmore branco, telhados ocre eazul, sustentados por uma dupla fileira de doze colunas,uma interior e outra exterior. A exterior simboliza as dozedivis es do dia e da noite, a interior os doze meses do ano.

    No centro, as quatro esta es est o representadas por drag es em baixo-relevo...

    Marco P lo, o ilustre viajante, foi chamado por toda aEuropa o Grande Mentiroso, quando, ao regresso de sualonga perman ncia na China, contou tudo o que tinha visto.

    Ningu m lhe deu cr dito. Entretanto, tudo era verdade. Asilenciosa, a retra da, a solit ria China tinha multo o queoferecer e ensinar ao mundo.

    Ping-pong diplomacy? Que fosse bem-vinda, se havia deservir para colocar a China na rbita dos pa ses que n oqueriam a guerra, que buscavam a paz e a prosperidade. E...

    por que n o? Ela podia subordinar sua s rie de artigos aottulo: Seja bem-vinda, China.

    Mas, enquanto miss Montfort lembrava o que tinha vistoaquele dia e pensava no titulo da sua s rie de artigos, WangWu, que simulara ir dar um telefonema, na realidade estavafalando pelo radinho de bolso cuja vibra o o tinha avisadoali, pela terceira vez, que o assunto era urgente.

    Wang Wu murmurara.

    Aqui Liao. Encontramos um microfilme na su te damulher americana.Wang Wu ficara uns segundos em sil ncio.

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    Um microfilme? Tolice. Ela n o... E um microfilme, cont m palavras em ingl s e est

    sua disposi o. Onde o encontraram? Dentro do rolo da m quina de escrever. Puderam ler alguma coisa? Quase nada. Faz pouco tempo que o encontramos.

    Est sendo utilizado um visor, mas acho que seria muitomais pr tico ficarmos com o microfilme. Por que tantascontempla es?

    Depende do conte do murmurou Wang Wu. Se um microfilme sem import ncia que... A CIA mencionada v rias vezes, em sua sigla

    curada que descobrimos em Han i h tr s semanas.Chamamos dois especialistas, que se encarregaram domicrofilme e, por enquanto, sua opini o que cont minstru es gerais para toda uma rede de agentes chinesesque est o trabalhando para a CIA.

    No poss vel! Bem... Venha e discuta o caso com os especialistas,

    Wu. Eu s lhe estou informando. So mencionados nomes? a voz de Wang Wu

    estava ofegante. No. S se especificam instru es. Naturalmente,essas instru es, embora escritas em ingl s, est o emcdigo. Os especialistas dizem que necessitam de pelomenos oito horas para decifrar tudo.

    Imposs vel... N o posso reter miss Montfort por oito

    horas 1 Nesse caso, teremos que det -la. No, no, no...

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    Ora, vamos, Wu! resmungou Liao. Ela muito bonita e n o duvidamos que sua companhia seja das maisagrad veis, mas a realidade n o admite contempla es. Essamulher uma espi importante. Tanto, que trouxeinstru es para traidores chineses que trabalham para aCIA. Que mais voc quer para det -la? Que atire uma

    bomba na resid ncia de Mao? Se ela... Um momento: HuiChu quer falar com voc .

    Bem... Wu? soou atrav s do radinho a voz do velho

    chin s. Sim, estou ouvindo... Pois ou a bem: essa mulher s pode ser Baby . No

    percamos mais tempo. N o sei o que pretendem osamericanos, mas se esperam poder zombar de...

    Espere... Espere, Hui Chu. N o nos precipitemos.Antes de dar um passo decisivo, ter amos que estar bemcertos do que fazemos.

    Mas estamos. Creio que dever amos decifrar esse microfilme antes

    de deter a jornalista americana, Se cometermos a menor falha, todos os esfor as destes meses para conseguirmosestabelecer rela es com os Estados Unidos se perder o. Eu sei. Mas eles jogaram sujo. Aproveitaram essastolas partidas de pingue-pongue para enviar sua melhor agente com a incumb ncia de reorganizar a rede que...

    Certifiquemo-nos disso. Decifrem o microfilme. So necess rias oito horas, pelo menos. E ouvi muito

    bem voc dizer a Liao que n o podia reter miss Montfort por tanto tempo. Al m disso, se ela n o estiver esta noite no

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    hotel, os outros americanos estranhar o, o que ser natural,e...

    Tenho uma id ia. Quer ouvi-la, Hui? Espero n o perder nada com isso. Adiante. Vamos deixar que ela entregue esse microfilme. Voc est louco? Se permitirmos isso, saberemos... Acha que n o pensamos nisso? Certo: podemos

    vigiar t o estreitamente miss Montfort, que ela mesma nosleve at seu contato em Pequim, para entregar-me omicrofilme. Mas, Wu, se essa mulher Baby , as coisasno seriam t o simples. Por que nos iludir? A agenteBaby est h anos tornando os russos malucos... e a n stamb m. Voc espera realmente que seja t o f cilsurpreend -la entregando esse microfilme, como se fosseuma principiante?

    Bem... N o, mas... A entrega pode e deve ser combinada de tal modo,que mesmo todos n s estando presentes n o nos dar amosconta. arriscado demais, Wu. Entenda: se lhe deixarmos omicrofilme e ela o entregar sem que saibamos como nem aquem, ter amos perdido essa pista e j no a poder amosdeter, pois n o ter amos a prova contra ela que essemicrofilme significa. Entretanto, se ficarmos com omicrofilme agora, poderemos det -la, acus -la e, uma vezele decifrado, n o duvido que chegar amos at os traidoresque est o trabalhando para a CIA: imposs vel que voc no tenha compreendido isto, Wang Wu.

    Sim, sim... Est certo Wang Wu passou a outramo pela testa, orvalhada de suor fino. Mas se a detivermos, estragaremos tudo...

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    Os americanos ter o estragado tudo dissefriamente Hui Chu. Voc bem sabe que a China est

    jogando limpo desta vez, com legitimo empenho de iniciar longas e amistosas rela es com os Estados Unidos. E eles,a CIA, apressaram-se a aproveitar a oportunidade para fazer trabalhos de espionagem em larga escala, enviandoinstru es que n o duvidamos sejam gerais. para todos osseus agentes da China.

    Eu sei, eu sei... Mas, se detivermos essa mulher, tudoestar perdido, Hui Chu. Escute, outra coisa... Por que n oobtemos uma c pia desse microfilme, deixamos que ela oentregue, deixamos que regresse aos Estados Unidos e,depois de destruir toda a rede de espionagem da CIA,ordenamos que a eliminem em sua pr pria p tria? Tudoseria muito mais simples assim e as boas rela es queiniciamos com os Estados Unidos seguiriam adiante,

    muito... diplomaticamente. Est me ouvindo? Est meouvindo, Hui Chu? Mmmm... disse ap s uns segundos o velho espi o.

    A id ia francamente aceit vel. Wu. Mas tamb m paraobter uma c pia desse microfilme e tornar a colocar ooriginal dentro do carro da m quina, precisamos de tempo,voc sabe. Posso entreter miss Montfort.

    E alarmar os americanos que est o no hotel? Muitosdeles j esto perguntando por ela.

    Deixe-me tentar um jeito. Comecem a fazer a c piadeste microfilme e, se eu n o puder reter miss Montfort e

    chegarmos ao hotel antes que tenham recolocado o originalem seu lugar, ent o... tanto pior. Deixarei tudo em suas

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    mos, Hui Chu. Mas, se conseguir entret -la o suficiente,tudo se arranjara.

    Sim... seria muito conveniente. De acordo, Wu: voc foi escolhido para atender a essa mulher, que desde o

    princ pio suspeitamos que poderia ser Baby . Faa seutrabalho, que n s faremos o nosso.

    Procurarei entret -la o m ximo poss vel. Obrigado,Hui Chu.

    Obrigado. Por qu ?Wang Wu engoliu em seco.

    Por dar-me esta oportunidade de contribuir para um bom trabalho...

    Ah. Bem, adeus. Adeus.Wang Wu fechou o radinho, enganchou o telefone ao

    qual estivera simulando falar e ficou um instante junto ao

    aparelho, sentindo o suor em sua testa. Guardou o radinho evirou-se para as cortinas que isolavam, pelo menossimbolicamente, o telefone. N o podia ver miss Montfortdentro do reservado, mas adivinhava-a... Vi-a com toda anitidez em sua imagina o formosa, doce... t o ador vel.

    Era demasiado inteligente para enganar-se a si mesmo.

    Por isso, pensou: Menti a Hui... Na verdade, tudo que estou fazendo simplesmente evitar que nada de mau lhe ocorra... Por enquanto, pelo menos. E creio... que nunca permitirei quesofra dano algum...

    Mas, entre estes pensamentos e a certeza de que Brigitte

    Montfort era uma espi de alto v o o chin s sentiu-seterrivelmente desgra ado. Sim... Quando ele iniciou o

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    regresso ao reservado da casa de ch , sentia-se o maisinfeliz de todos os homens.

    * * *Em troca, miss Montfort parecia a mais feliz e

    encantadora das mulheres. Dirigiu-lhe um radioso sorriso eindicou o ma o de cigarros americanos, que, com o isqueirode platina e diamantes, estava sobre a mesa, junto sua

    bolsa. Quer fumar, senhor Wu?Wang Wu assentiu com a cabe a. Acendeu um cigarro,

    procurando n o olhar para Brigitte, que fumava placidamente. Chegou o gar om chin s, serviu o ch comdiminutos past is e retirou-se em sil ncio.

    Pde solucionar seus assuntos? sorriu Brigitte. H...? Oh, sim. Sim, felizmente. Alegro-me... ela tomou um pastelzinho e mordeu-

    o. Mmmmm! Maravilhoso! De que ? De farinha e mel. Oh! Espero que a receita esteja em algum livro de

    cozinha. N o que goste de cozinhar, mas vez por outra medivirto tentando. Se for um dia a Nova Iorque, senhor Wu,terei prazer em convid -lo para um peru recheado comcastanhas. muito gentil, miss Montfort.

    Espero poder estar sua altura quando me visitar. No prov vel que eu v aos Estados Unidos. Quem sabe? Diga-me: alguma coisa errada? Por que pergunta?

    No sei... O senhor me parece... triste. Bem. J que o percebeu, parece-me desnecess rioocult -lo por mais tempo. Com efeito: estou triste.

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    Recebeu alguma noticia desagrad vel, talvez? No, no... Trata-se de algo que eu j sabia desde esta

    manh : que nos deveremos separar dentro de algunsminutos.

    Isso lhe... desagrada? Sim.Brigitte Montfort olhou fixamente o bonito chin s e,

    s bito, colocou a m o sobre a dele. Tamb m a mim isso entristece, Wang.Ele quase estremeceu.

    verdade? exclamou. verdade. Estava justamente me perguntando se n ohaveria alguma possibilidade de continuar perto de voc ...ainda que s por maia algumas horas.

    Deseja isto realmente, Brigitte? De todo o cora o, Wang. N o seria poss vel?

    Bem... Minha obriga o consiste em satisfaz -la emtudo... Creio que seria poss vel, claro. Voc poderiatelefonar para o hotel a seus companheiros e dizer-lhes quedemorar um pouco a chegar, para que n o se inquietem.Por minha parte, estou disposto a continuar junto de voc todo o tempo que me conceder.

    Ento, vou telefonar para meus amigos e dizer-lhesque n o me esperem para o jantar, que chegarei um poucotarde esta noite.

    timo. O n mero do hotel o gar om pode discar, oueu mesmo...

    Ora essa riu ela. Sou uma mulher muito

    viajada, Wang. N o preciso que ningu m disque umnmero de telefone para mim. E minha mem ria bastante

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    boa para record -lo. Bem... Agora voc quem vai ficar s alguns minutos.

    Wang Wu p s-se rapidamente de p , quando Brigitte ofez. Esta saiu do reservado e ele ficou olhando para oisqueiro, ao alcance de sua. m o, sobre a mesa. Sabia quesua companheira n o o poderia ver do telefone, portantodecidiu-se. Tomou o isqueiro, deu-lhe umas voltas entre osdedos e, s bito, tirou a pequena tampa que fechava odepsito de fluido. Depois a que correspondia pedra e suacorrespondente mola... A um espi o de sua experi ncia

    bastaria um minuto para encontrar qualquer microc maraem esconderijo t o banal como um isqueiro.

    Entretanto, dois minutos mais tarde, n o haviaencontrado tal microc mara. Por uma simples raz o: noexistia. N o havia nenhuma c mara microfotogr ficanaquele bonito isqueiro. Isto era t o certo como ele sechamar Wang Wu, estar na China e o planeta Terra cumprir incessantemente seu giro em torno de um imagin rio eixo.

    Mas... N o compreendo... murmurou. Ento, tudo era casualidade, ela n o fotografou

    ningu m... Estamos nos enganando a seu respeito? Mas, seassim , que faz em sua m quina de escrever um microfilme

    preparado pela CIA com a chave de Han i?Desconcertado, Wang Wu colocou rapidamente todas as peas do isqueiro e deixou-o em seu lugar. Bem... Afinal decontas, aquilo podia n o significar nada. Nem todos osespi es usam microc maras, naturalmente. No cinema, sim,mas na realidade a espionagem muito diferente de como

    aparece nas telas... E tampouco ele usava uma microc mara,embora fosse um dos melhores homens do servi o secretochin s. To eficiente, que tinha sido escolhido nada menos

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    que para enfrentar a mulher que se suspeitava fosse a agenteBaby ...

    Demorei muito?Virou-se sobressaltado ao ouvir a voz e o som das contas

    de vidro da cortina colorida. Miss Montfort apareceu,sorridente.

    No, no, no...Ela sentou-se, inclinando um pouco a cabe a, de modo

    que Wang n o pde ver o olhar veloz que dirigiu aoisqueiro. Notando que n o estava exatamente como odeixara e que seu companheiro fumava ainda o mesmocigarro, isto , que n o tivera por que tocar naquele, umleve sorriso brincou em seus l bios. Wang Wu viu essesorriso quando ela o olhou, mas considerou-o um sorrisomais daquela formosa mulher.

    Tudo arranjado disse ela. Ningu m se inquietar por mim. Refiro-me aos meus amigos americanos, claro. Voc deve estar brincando tentou sorrir o chin s.

    Um pouco admitiu ela. Tornou a colocar a m osobre a dele. Mas, seja pelo que for, Wang, alegro-me

    por terem posto voc minha disposi o. Quer fazer-me umfavor?

    Sim... Naturalmente! Saiamos j daqui. Gostaria de dar um passeio decarro pelos arredores do hotel, para poder descrever bemessa parte de Pequim em meus artigos. Depois, gostaria de...encontrar um local tranq ilo, para podermos conversar e euouvir seus poemas, saber como vive e pensa realmente um

    chin s culto... Embora receie que voc viva um pouco...inconfortavelmente, compartilhando sua vivenda comoutros homens que...

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    No... negou Wang Wu. Tenho um pequenoapartamento para mim sozinho, no que voc s chamariam oCaminho do Pavilh o da Alegria, perto do Templo daAgricultura, na Cidade Chinesa.

    A cidade chinesa? No compreendo... Acaso todaPequim n o chinesa? riu Brigitte.

    Claro... Bem, n s fazemos uma distin o entre essa parte de Pequim e a Cidade Proibida, que dentro de seusmuros cont m as chamadas Cidade Imperial e CidadeTrtara...

    Oh, verdade... Voc me explicou antes. Bem...Vamos?

    * * *Eram mais de nove horas da noite quando Wang Wu

    abriu a porta de seu apartamento, empurrou-a, acendeu a luze deu passagem sua convidada. Brigitte entrou sorridente,olhando para todos os lados. J no usava os culos, peloque o chin s pde captar em seus belos olhos um olhar admirativo ante o mobili rio e a decora o. O vest bulo,diminuto, era tamb m uma esp cie de sala de estar, comflores, um biombo perto da janela que dava para a rua, duas

    poltronas e um pequeno div , muito baixo. Um espessotapete cobria todo o ch o. Nas paredes, havia paisagenschinesas, uma foto de Mao Tse-Tung e, debaixo,emoldurados, alguns caracteres chineses.

    Mais pensamentos de Mao? sorriu ela, indicando amoldura.

    Sim, com efeito.

    Esto em toda, a parte. Encontrei dois livrinhos com pensamentos de Mao em minha su te.

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    E que acha deles? Oh, bem, suponho que estar o emingl s...

    Naturalmente! riu Brigitte. Voc s no iriamdeixar escapar esta oportunidade de que uns quantosamericanos os lessem, e em chin s tal n o teria sido

    poss vel, O que acho deles? Bem... direi que o senhor Maotem o direito de pensar como queira.

    E isso que quer dizer? sorriu Wang. Absolutamente nada tornou a rir Brigitte. um

    modo cort s de n o responder com a verdade uma pergunta.Isto parece muito pequeno, Wang.

    Na cozinha s cabem duas pessoas, h um pequeno banheiro e eis tudo. Para uma s pessoa, pode ser considerado um luxo.

    Compreendo. Suponho que muitos chineses medesprezariam vendo meu apartamento de Nova Iorque.

    Como ? Bem... Direi apenas que um aposento maior que esteaqui est disposi o de minha empregada s para elaguardar suas coisas.

    Wang Wu mordeu os l bios. Ento... voc uma mulher rica?

    Muito. Tem... um milh o de d lares? Bastante mais. Tenho dinheiro suficiente para, se eu

    fosse uma espi , tentar suborn -lo, Wang. Qual seria seu... pre o?

    Wang Wu entrecerrou as p lpebras obl quas.

    Duvido que voc disponha de dinheiro suficiente paracomprar-me.

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    Oh, n o seja tolo... Meu dinheiro talvez n o fossesuficiente, mas... e o da CIA? Em toda a parte h traidores,Wang.

    Sim, isso verdade... Quanto acha voc que meofereceria a CIA, se eu fosse um espi o que pudesse...desertar da China?

    No sei. Suponho que dependeria da quantidade equalidade da informa o que voc lhe pudesse fornecer.

    No entendo muitos destas coisas, mas penso que a CIAtalvez estivesse disposta a investir at cem milh es dedlares na compra de um... lote de espi es chineses. Espi esimportantes, claro.

    Algu m a instruiu no sentido de me dizer isto?Brigitte Montfort olhou-o com olhos muito abertos. Claro que n o! Ora vamos, Wang riu estou

    prosseguindo com a brincadeira, eis tudo! Posso ver o

    resto? Sim, naturalmente...Ela deixou a bolsa sobre o pequeno div e dirigiu-se

    para uma das portas. Wang Wu deixou junto da bolsa ogrande embrulho envolto em grosso papel e acompanhou-a.

    O quarto era pequeno, a cozinha pequen ssima, o bandeira ex guo. Cozinha e banheiro tinham pequenas janelas altas, simples respiradouros. O quarto tinha uma janela comum, com veneziana de bambu, coisaencantadoramente t pica.

    Posso beber alguma coisa? perguntou Brigitte,regressando salinha. Estou cansad ssima. Esse passeio

    pela zona velha da cidade foi arrasador... e terr vel. Comoas pessoas podem viver assim, praticamente na rua, t oamontoadas...?

  • 7/28/2019 B144 Lou Carrigan Espionegam Ping Pong

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    Vi fotografias da Quinta Avenida de Nova Iorque sorriu Wang Wu. Acha que l as pessoas est o menosamontoadas que aqui? A diferen a que usam bons sapatose gravata. E em que os edif cios s o muito altos. A gente amesma e vive do mesmo modo.

    Brigitte olhou-o surpreendida, mas acabou por sorrir.Tomou o pacote que ele deixara junto sua bolsa ecome ou a abri-lo.

    Voc foi muito gentil ao gastar comigo parte de seudinheiro, Wang. Suponho que lhe tenham parecido

    caprichos tolos de uma americana rica. Muita gente aprecia as coisas chinesas admitiu ele.

    Vou lhe servir sake. Melhor, por m, que o que se faz noJapo.

    Claro... riu ela. Aqui tudo melhor! N o deliciosa esta blusinha? E estas cal as...?

    Ps-se de p , mostrando-as a Wang, como se este j noas tivesse visto. Era a cl ssica indument ria de cal a e blusaazuis, usada por milh es de mulheres chinesas. Tamb mhavia sapatos chineses, de sola de borracha, um chap ucnico de palha, quinquilharias de jade, um biombo emminiatura com flores e aves ex ticas pintadas a m o,

    pauzinhos de marfim para comer arroz...Wang Wu voltou com dois copinhos de porcelana,

    cheios de sake, quando Brigitte experimentava a blusa por cima do vestido.

    No creio que voc se atrevesse a us -la na QuintaAvenida sorriu.

    Querido, eu me atrevo a tudo.Ele pestanejou. Aproximou-se e estendeu o copinho aBrigitte, que, ap s provar o conte do, encolheu os ombros.

  • 7/28/2019 B144 Lou Carrigan Espionegam Ping Pong

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    No se ofenda, mas prefiro champanha... Emborasuponha que voc no o tenha.

    Justamente ontem terminou a ltima caixa das querecebo mensalmente de Paris.

    A ltima caixa de...? Oh! ela se p s a rir. Voc est zombando de mim!

    Wang Wu n o respondeu. Deixou seu copinho de sake,aproximou-se e tirou o que estava na m o dela, depois aabra ou pela cintura, lentamente.

    Nunca poderia zombar de voc murmurou. Wang... Wang, ......Mas, quando ele se inclinou sobre seus l bios, n o

    tentou esquivar-se. Pelo contr rio, fechou os olhos,abra ou-o e seus l bios rosados se entreabriram espera do

    primeiro beijo... E ao tocar aqueles l bios com os seus,Wang Wu sentiu como se, de s bito, o perfume de ummilh o de rosas o envolvesse e, sob o c u azul do seuCeleste Imp rio, tudo come asse a formar sentido, enfim.

    Quando reergueu a cabe a, Brigitte ficou como suspensaem seus bra os, ainda com os olhos fechados, rostolevantado, mostrando a terna linha de sua garganta dourada.Ele beijou-se a garganta, depois os ombros, novamente os

    l bios... Tinha a impress o de que envolvia em seus bra osuma pombinha arrulhante, vida por ser acariciada. Brigitte... balbuciou. Brigitte, v -se embora...

    Abandone a China o quanto antes... neste momento... Estou bem na China, agora, Wang... Faa o que estou dizendo, pe o-lhe...

    Antes, quero ouvir seus poemas... Novamente sentiu o chin s aquele aroma de um milh ode rosas e outra vez beijou aqueles l bios cuja suavidade era

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    superior da p tala mais suave da mais delicada rosa domundo...

    Wang Wu abriu os olhos e viu-a de p , junto ao leito...Uma bela sombra matizada pela luz das estrelas na janela.

    Brigitte... Diga, querido. Que h ? Nada. Vou meter-me debaixo do chuveiro ... Estou

    com calor. Ah, bem...Viu-a sair do quarto e ficou im vel, olhos muito abertos,

    fixos na escurid o do teto. Sabia que alguma coisa estavaacontecendo... Alguma coisa estava acontecendo dentrodele, mas negava-se a admiti-lo... Algo novo para WangWu. Algo novo, diferente, doce e doloroso ao mesmotempo. Algo que provinha exclusivamente da mulher

    americana chamada Brigitte Montfort, daquela mulher queera uma espi dos Estados Unidos. Talvez n o fosse a

    pr pria Baby , mas n o podia duvidar que era uma espi ,uma intermedi ria, um elo t o importante que,for osamente, o nome de Baby estava associado a ela,quisesse ou n o. E estava tia mente de flui Chu, na de WoTang, na de todos os chefes chineses reunidos em Pequim

    para tender, com refinada discri o, visita de uma vintenade americanos, vigiando-os, estudando-os...

    No pode ser Baby ... pensou Wang Wu. Oxal ela n o seja Baby !

    Mas os desejos de Wang Wu teriam sofrido um rude

    golpe, se naquele momento tivesse podido ver missMontfort no ex guo banheiro. Ela havia aberto o chuveiro,certamente, mas n o estava debaixo dele. Manipulava os

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    dois vidrinhos de perfume tirados de sua bolsa, sobre olavat rio. A tampa de um daqueles vidrinhos era oca e nelaBrigitte Montfort vertia umas gotas de um perfume .Depois tampou aquele vidrinho, deixou a tampa do outrocolocada verticalmente e tirou da bolsa um len o de papel.Rasgou-o em peda os, fez bolinhas desses peda os eintroduziu-as nos ouvidos e nas fossas nasais, apertandofortemente. Isto feito, apertou fortemente os l bios e, natampa oca, verteu sobre as gotas do perfume outras gotasdo outro vidro, obtendo assim uma mistura.

    Imediatamente, tomou a tampa e, com a ponta do dedo polegar, tapou hermeticamente a cavidade. Aspergiu-se um pouco de gua, fechou o chuveiro... Sem tocar em maisnada, apagou a luz, saiu do banheiro e, voltando ao quarto,estendeu-se na cama.

    J no sente calor? ouviu o sussurro de Wangcomo muito distante, devido aos tamp es que colocara nasorelhas.

    Nenhum. Poderei dormir bem, agora...Sentiu os l bios dele no ombro, mas permaneceu im vel.

    Poucos minutos depois, ouvia a compassada respira o dochin s, lenta, profunda.

    Ento, moveu a m o direita, aproximando-a do rosto deWang Wu. Retirou o dedo e, da cavidade da tampa, brotoufinalmente o g s resultante da mistura dos l quidos

    preparados na Central da CIA para um caso deemerg ncia... como o que estava ocorrendo.

    Durante um minuto, permaneceu novamente im vel.

    Depois saiu da cama, voltou ao banheiro, tirou os tamp esdos ouvidos e narinas, e respirou profundamente, poisestivera por quase dois minutos retendo o f lego, com a

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    boca bem fechada. Atirou os tamp es na privada, recolocoua tampa no vidro, guardou ambos na bolsa e, com esta namo, dirigiu-se saleta.

    Sem acender a luz, p s as roupas que Wang Wu lhehavia comprado, como am vel souvenir, na parte velha dePequim. Enrolou os cabelos e foi ao quarto. Tirou a chavedo apartamento do bolso da cal a de Wang e aproximou-sedeste, contemplando-o, sorridente. Quando ele acordasse,fosse por terem cessado os efeitos do g s. tr s horas maistarde, fosse sua hora habitual, pela manh , no teria nem amais remota id ia de que estivera como morto durante tr shoras. Segurou-lhe uma das m os, levantou-a e deu-lhe um

    pux o que teria bastado para acord -lo... Mas Wang Wu,efetivamente, parecia morto.

    Baby voltou saleta, descal a. Apanhou o chap ucnico, os sapatos e, sempre descal a, dirigiu-se para a

    porta, olhando seu rel gio de mostrador luminoso: duas emeia da madrugada.Abriu a porta, saiu para o patamar da escada e sorriu.

    Claro, n o havia ningu m. Nem viu ningu m na rua, poucodepois. Dobrou a bainha da cal a chinesa, enrolou asmangas da blusa, colocou o chap u, ps os sapatos e p s-sea andar.

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    CAP TULO TERCEIRO

    Um quebra-cabe a muito f cil de resolver

    Chang Su abriu a porta da velha casa de madeira queocupava na parte velha de Pequim, acendendo ao mesmotempo a luz. Ficou olhando assombrado o cule que tinhadiante de si e que escondia os olhos atr s de uns culosescuros.

    Come ou a balbuciar algo em chin s, irritado, naverdade nada atraente em suas cuecas... O cule que baterana porta quelas horas da noite levantou a m o, paraIndicar-lhe que se calasse, e disse em russo:

    No falo chin s, Chang Su. Mas sei que voc falarusso.

    Empurrou-o amavelmente. Mesmo porque n o era preciso muita for a, pois Chang Su parecia a ponto de cair com um simples sopro no peito. O cule entrou, fechou a porta, tirou os culos e seus luminosos olhos azuis Lixaram-se nos do chin s. Depois tirou o chap u cnico e deixou quetombassem at os ombros seus magn ficos cabelos negros,com o que Chang Su passou do amarelo ao branco sujo.

    Miss Montfort... balbuciou por fim, at nito. Ol! saudou ela. melhor que falemos emrusso, Chang.

    No... Eu n o... n o sei falar russo... Garanto que n osei nem uma s palavra de russo...

    Ah, mas fala melhor o ingl s agora que no hotel. Isso

    quer dizer que conhece v rios idiomas, por m,representando o seu papel de boy, no tinha que ser demasiado instru do, nem esperto. Entretanto, . Um agente

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    do servi o secreto chin s colocado no hotel onde sehospedam v rios americanos tem que ser esperto einstru do. Al m disso, Chang, por que diz que n o fala orusso, se me entendeu perfeitamente quando lhe disse parausarmos essa l ngua? Bem, agora...

    Chang Su lan ou uma exclama o abafada, deu meia-volta e precipitou-se pelo estreito e escuro corredor, a toda avelocidade, descal o. Chegou ao quarto, abriu o arm rio,sacou urna pistola com silenciador... e uma garra de a oaferrou-lhe o pulso, com tanta for a que os ossos rangeram.

    Imediatamente, um pequeno punho golpeou seuestmago com a pot ncia de um mbolo e ele