B-2 Jornal do Commercio MERCADOS DE OLHO NO MERCADO Olho no Merc_08_08_… · de onde deriva o...

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MARCELO HENRIQUES DE BRITO, DIRETOR DA ASSOCIAÇÃO COMERCIAL DO RIO DE JANEIRO DE ACORDO COM The Economist, o preço do famoso sanduíche, em dólares, no Brasil, é US$ 6,16 – para cálculo foi utilizada a taxa de câmbio do dia 25 de julho, de R$ 1,54 por unidade norte-americana e o preço em reais (R$ 9,50). Nos Estados Unidos (emissor da moeda de referência – o dólar), o Big Mac custa US$ 4,07. Segundo o con- sultor Marcelo Henriques de Brito, diretor da Associação Comercial do Rio de Janeiro e autor de um livro que esmiúça o tema – Cri- se e Prosperidade Comercial Financeira e Política – a partir do último resultado do Ín- dice Big Mac (IBM) e do próprio histórico do Brasil no indicador, a partir de 1992, perce- be-se claramente que o atual nível da moe- da brasileira é insustentável. HENRIQUES DE BRITO explica que no gráfico publicado pela revista a reta de regressão (linha amarela) indica qual de- veria ser o preço do Big Mac, em dólares, para um dado PIB per capita, consideran- do-se, assim, a posição do país na cadeia produtiva global. No caso brasileiro, para o preço da guloseima convergir para a reta, haveria três possibilidades (que, em tese, podem ocorrer em conjunto): o preço no- minal (em reais) declinar substancialmen- te; o PIB per capita dar um salto extraordi- nário; ou a taxa de câmbio se desvalorizar. Dentre as três hipóteses, ressalta o admin- istrador, a última é a que parece ser viável no curto prazo. Tomando-se como base o PIB per capita brasileiro de 2010 (R$ 19.016 ou US$ 12.384, usando-se a paridade de R$ 1,54 por dólar), a taxa de câmbio de equilí- brio, segundo a revista, seria de R$ 2,34 por dólar, o que levaria o Big Mac no Brasil a custar US$ 4,06 (9,50/2,34) e o PIB per capi- ta, em dólares, a US$ 8.126 (19.016/2,34). Note-se que, desde o dia 25, o real se desva- lorizou 3,1% frente ao dólar (de R$ 1,54 para R$ 1,587). Pelos dados da The Economist, contudo, haveria espaço para uma desvalo- rização bem mais acentuada da divisa bra- sileira, levando a taxa de câmbio a R$ 2,34 por dólar. HÁ OUTRAS INDICAÇÕES impor- tantes nos resultados do IBM, ressaltadas por Marcelo Henriques de Brito. Nos Estados Unidos, onde o sanduíche está supostamen- te barato, seria de se esperar acréscimo no preço nominal e/ou decréscimo do PIB per capita que ajuste o preço à renda do ameri- cano. Para o professor do Ibmec-RJ, pelo an- dar da carruagem, o desequilíbrio tende a ser corrigido com inflação ao consumidor e o consequente encarecimento do produto. Na China, tão criticada pelo controle ferrenho do valor de sua moeda, nota-se que o yuan está em patamar coerente com a renda per capita (bem próximo à reta). O problema chinês, le- vantado por Henriques de Brito, é que está havendo crescimento com forte concentração de renda. O consultor entende que a estratégia do dragão se assemelha à brasileira nos anos 70, quando foi cu- nhada a frase: ‘crescer primeiro para distribuir o bo- lo depois’. “Há bolsões de pobreza comparados a re- giões africanas contrastando com centros extrema- mente prósperos, que não deixam nada a dever a Nova York”, assinala. Nessas circunstâncias, obvia- mente, perde-se um pouco o sentido de se associar um preço único do Big Mac ao PIB per capita. DE MANEIRA SIMILAR, isso também acontece na Zona do Euro. Embora o preço do san- duíche esteja em cima da reta de regressão, trata-se de uma situação média, pois em alguns países o Big Mac está mais caro do que deveria ser. “Isso não deixa de ser mais uma evidência das enormes difi- culdades da União Europeia para gerir uma moeda única e padronizar uma política fiscal”, constata Henriques de Brito. O consultor enfatiza ainda a forte apreciação das divisas da Noruega, onde se vende o Big Mac mais caro do mundo (na compara- ção em dólares), a US$ 8,31, da Suíça (US$ 8,06) e da Suécia (U$ 7,64). Ele chama a atenção, porém, que sendo a renda per capita desses países bastante su- perior à brasileira, os preços do Big Mac não estão tão distantes da reta de regressão quanto no caso do Brasil. O que explica a valorização das moedas des- sas três nações, segundo Henriques de Brito, seria a busca de investidores por portos considerados mais seguros ante a turbulência global. “O IBM CUMPRE a importante função de atestar a insustentabilidade da Lei do Preço Úni- co”, enfatiza Marcelo Henriques de Brito. Na sua visão, a prática de preços iguais (comparados em uma moeda referencial) é inviável, sobretudo quando se nota a presença de obstáculos à livre comercialização e se consideram as peculiarida- des de cada país dentro da cadeia produtiva mun- dial. Ele sustenta o argumento dizendo que países que são grandes importadores de matérias-primas e exportadores de produtos de alto valor agregado, por exemplo, teriam, a princípio, interesse em manter suas moedas mais valorizadas. Isso ocorre porque seus produtos com alto valor agregado tendem a apresentar demanda mais inelástica, apoiados em forte marketing, em leis eficazes de proteção à propriedade intelectual e em marcas poderosas, pelos quais consumidores mundiais estão dispostos a pagar. Nesse grupo estaria in- cluída a Suíça. “No Brasil, assim como em outras economias de PIB per capita mais baixos, o poder aquisitivo da população não com- porta os mesmos preços praticados em economias mais ricas (com PIB per capita mais altos), além de a sua posição na cadeia produtiva global não suportar de forma du- radoura uma divisa mais apreciada”. Henri- ques de Brito acredita que, para países atuantes em etapas preliminares da cadeia produtiva, produtores de mercadorias de baixo valor agregado e/ou que sejam gran- des exportadores de matérias-primas (no setor primário) beneficiam-se em ter a moeda na situação mais desvalorizada pos- sível, até o limite de impedir uma saudável concorrência de produtos estrangeiros e in- viabilizar a exportação de produtos que contêm componentes importados. O TOMBO NA BOVESPA em 2011 é o pior, entre as principais bolsas do planeta. O que isso tem a ver com o Índice Big Mac? Ba- sicamente, nos últimos dez anos, não falta- ram atrativos para a entrada de recursos es- trangeiros no País, o que resultou, em última instância, em valorização excessiva do real e de outros ativos nacionais, assim como na atual posição brasileira no IBM. EM 2002, NO BRASIL, havia um am- biente de ativos altamente desvalorizados, com imenso potencial para apreciação, ta- xas de juros extremamente convidativas (as maiores do mundo), enorme espaço para a valorização do real, além de um mercado in- terno em expansão. O dinheiro lá fora estava barato e abundante, a conjuntura global era tranquila, a economia mundial crescia in- discriminadamente e o apetite por risco es- tava aguçado. O estrangeiro veio e esticou a corda até onde deu. Atualmente, o real está sobrevalorizado (aumentando os riscos de perda cambial ao se trazer recursos para cá), a Bolsa de São Paulo atingiu patamares dis- crepantes com o momento econômico glo- bal, a inflação ameaça e o consumidor está endividado. No plano externo, até agora, não saiu uma nova rodada de compra de títulos do governo pelo Federal Reserve nos EUA (QE3), o que começa, de forma tímida, a di- minuir a liquidez. Ou seja, com exceção dos juros domésticos estratosféricos no Brasil, todo o resto mudou. O IBOVESPA QUASE cravou um topo duplo histórico – o primeiro em 73.920 pon- tos, em maio de 2008, e o segundo em 73.103 pontos, em novembro de 2010. Essa performance resultou de duas característi- cas básicas dos mercados financeiros. A pri- meira diz respeito a que agentes sempre se atêm a perspectivas futuras. A segunda se refere à tendência de investidores exacerba- rem (e prolongarem) essas mesmas perspectivas, de onde deriva o efeito manada, uma vez que se es- palha a crença de que a trajetória das cotações (e da própria economia) só podem seguir em deter- minada direção. Em 2009, os ganhos auferidos na Bolsa de São Paulo, para quem apostou na valori- zação do Ibovespa, superou, em dólares, a impres- sionante marca de 145%, um manancial e tanto pa- ra investidores estrangeiros. RECENTEMENTE, no mundo inteiro, as pers- pectivas futuras que justificam as apostas se inver- teram. Em termos empresariais, após ser registrado nos EUA recorde de rentabilidade nos últimos 18 anos, a maioria dos estrategistas enxerga declínio no futuro próximo, no que tange ao desempenho não apenas das corporações americanas, mas de companhias no âmbito global. O aperto de cinto geral soa inevitável. POR FIM, em determinado momento, especula- dores passam a vender a descoberto e a casa cai, ou seja, as cotações desabam. É o que está acontecendo agora. Lembrando sempre que a venda a descoberto pode gerar lucros extraordinários, quando as ações são compradas (ao se encerrarem as posições), a pre- ços inferiores aos que foram (inicialmente) vendidos. SEGUNDA-FEIRA BRASIL £ Pesquisa Focus (BC)/semanal £ Balança Comercial (MDIC)/semanal £ IPC-S (FGV)/agosto £ IGP-DI (FGV)/julho JAPÃO £ Balança Comercial/junho CHINA £ Índice de Preços ao Produtor (PPI)/julho £ Índice de Preços ao Consumidor (CPI)/julho £ Produção Industrial/julho £ Vendas no Varejo/julho TERÇA-FEIRA BRASIL £ IPC (Fipe)/agosto £ Pesquisa Industrial Mensal (IBGE)/junho £ Produção Agrícola (IBGE)/julho EUA £ Anúncio do Fed (Decisão Monetária) £ Custo da Mão-de- Obra/2° trimestre ALEMANHA £ Balança Comercial/junho REINO UNIDO £ Produção Industrial/junho £ Balança Comercial/junho JAPÃO £ Índice do Setor Terciário/junho £ Índice de Preços ao Consumidor (CGPI)/julho CHINA £ Balança Comercial/julho QUARTA-FEIRA BRASIL £ IGP-M (FGV)/agosto EUA £ Estoques no Atacado/junho £ Estoques de Petróleo/semanal £ Orçamento do Tesouro/julho ALEMANHA £ Índice de Preços ao Consumidor (CPI)/julho JAPÃO £ Pedidos de Máquinas/junho QUINTA-FEIRA BRASIL £ Vendas no Varejo (IBGE)/junho £ Pesquisa Mensal de Emprego e Salário (IBGE)/junho EUA £ Balança Comercial/junho £ Pedidos Iniciais de Auxílio Desemprego/ semanal JAPÃO £ Produção Industrial/junho SEXTA-FEIRA EUA £ Vendas no Varejo/julho £ Estoques de Empresas/junho £ Confiança do Consumidor da Universidade de Michigan/agosto ZONA DO EURO £ Produção Industrial/junho PARA OLHAR DURANTE A SEMANA DE OLHO NO MERCADO [email protected] P A U L O G U I M A R Ã E S Ibovespa O mercado é urso. Só uma sucessão de notícias boas da China e dos EUA poderia amainar a volúpia vendedora. O próximo suporte relevante está em 48.260 pontos, com possível enrosco na casa dos 51.000. Mais abaixo, a referência passa a ser 44.274 pontos. Para cima, a jornada será árdua. É necessário a formação consistente de fundos e topos ascendentes para o índice ganhar momentum. MERCADOS B-2 Segunda-feira, 8 de agosto de 2011 Jornal do Commercio Em meio a colapso de ações, Índice Big Mac aponta para desvalorização do real O colapso da bolsa de valores brasileira era tragédia anunciada. A desvaloriza- ção de 23,6% no ano e de 10% somente na semana passada não chega a sur- preender, já que alertas foram emitidos repetidamente por conceituados analistas, tanto em nível doméstico, quanto no exterior. Em 28 de julho, a re- vista The Economist publicou sua mais recente edição do Índice Big Mac, que afere o nível de valorização (ou desvalorização) de moedas. Nela, o real aparece como uma das divisas mais apreciadas no mundo, em termos da Paridade de Poder de Compra frente ao dólar dos EUA, sobretudo se for considerado o Produto Interno Bruto (PIB) per ca- pita de cada nação. Há pouco tempo, quando o Ibovespa se encontrava na casa dos 70 mil pontos e a taxa de câmbio na faixa de R$ 1,60 por dólar (em queda), as empresas brasileiras estavam entre as mais valorizadas do planeta, em um momento de incertezas econômicas crescentes, dívidas soberanas explodindo e ameaças inflacionárias disseminadas por todos os continentes. A derrocada do mercado acionário nacional emite um sinal muito claro: a percepção internacional do Brasil como uma ilha de prosperidade pode estar sucumbindo. O ÍNDICE BIG MAC No Brasil, assim como em outras economias de PIB per capita mais baixos, o poder aquisitivo da população não comporta os mesmos preços praticados em economias mais ricas 0 20 40 60 80 100 CHINA 2,27 PREÇO DO BIG MAC U$ PIB PER CAPITA , 2010, EM US$ 000 PREÇO DO BIG MAC/PIB PER CAPITA JULHO 2011 FONTE: THE ECONOMIST 0 3 6 9 NORUEGA 8,31 SUIÇA 8,06 SUÉCIA 7,64 BRASIL 6,16 ZONA DO EURO 4,93 ESTADOS UNIDOS 4,07 FÁBIO COSTA/JCOM/DAPRESS

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❞ MARCELO HENRIQUES DE BRITO,DIRETOR DA ASSOCIAÇÃO COMERCIAL DO RIO DE JANEIRO

DE ACORDO COM The Economist, opreço do famoso sanduíche, em dólares, noBrasil, é US$ 6,16 – para cálculo foi utilizadaa taxa de câmbio do dia 25 de julho, de R$1,54 por unidade norte-americana e o preçoem reais (R$ 9,50). Nos Estados Unidos(emissor da moeda de referência – o dólar),o Big Mac custa US$ 4,07. Segundo o con-sultor Marcelo Henriques de Brito, diretorda Associação Comercial do Rio de Janeiro eautor de um livro que esmiúça o tema – Cri-se e Prosperidade Comercial Financeira ePolítica – a partir do último resultado do Ín-dice Big Mac (IBM) e do próprio histórico doBrasil no indicador, a partir de 1992, perce-be-se claramente que o atual nível da moe-da brasileira é insustentável.

HENRIQUES DE BRITO explicaque no gráfico publicado pela revista a retade regressão (linha amarela) indica qual de-veria ser o preço do Big Mac, em dólares,para um dado PIB per capita, consideran-do-se, assim, a posição do país na cadeiaprodutiva global. No caso brasileiro, para opreço da guloseima convergir para a reta,haveria três possibilidades (que, em tese,podem ocorrer em conjunto): o preço no-minal (em reais) declinar substancialmen-te; o PIB per capita dar um salto extraordi-nário; ou a taxa de câmbio se desvalorizar.Dentre as três hipóteses, ressalta o admin-istrador, a última é a que parece ser viávelno curto prazo. Tomando-se como base oPIB per capita brasileiro de 2010 (R$ 19.016ou US$ 12.384, usando-se a paridade de R$1,54 por dólar), a taxa de câmbio de equilí-brio, segundo a revista, seria de R$ 2,34 pordólar, o que levaria o Big Mac no Brasil acustar US$ 4,06 (9,50/2,34) e o PIB per capi-ta, em dólares, a US$ 8.126 (19.016/2,34).Note-se que, desde o dia 25, o real se desva-lorizou 3,1% frente ao dólar (de R$ 1,54 paraR$ 1,587). Pelos dados da The Economist,contudo, haveria espaço para uma desvalo-rização bem mais acentuada da divisa bra-sileira, levando a taxa de câmbio a R$ 2,34por dólar.

HÁ OUTRAS INDICAÇÕES impor-tantes nos resultados do IBM, ressaltadas porMarcelo Henriques de Brito. Nos EstadosUnidos, onde o sanduíche está supostamen-te barato, seria de se esperar acréscimo nopreço nominal e/ou decréscimo do PIB percapita que ajuste o preço à renda do ameri-cano. Para o professor do Ibmec-RJ, pelo an-dar da carruagem, o desequilíbrio tende a sercorrigido com inflação ao consumidor e oconsequente encarecimento do produto. NaChina, tão criticada pelo controle ferrenhodo valor de sua moeda, nota-se que o yuanestá em patamar coerente com a renda percapita (bem próximo à reta). O problema chinês, le-vantado por Henriques de Brito, é que está havendocrescimento com forte concentração de renda. Oconsultor entende que a estratégia do dragão seassemelha à brasileira nos anos 70, quando foi cu-nhada a frase: ‘crescer primeiro para distribuir o bo-lo depois’. “Há bolsões de pobreza comparados a re-giões africanas contrastando com centros extrema-mente prósperos, que não deixam nada a dever aNova York”, assinala. Nessas circunstâncias, obvia-mente, perde-se um pouco o sentido de se associarum preço único do Big Mac ao PIB per capita.

DE MANEIRA SIMILAR, isso tambémacontece na Zona do Euro. Embora o preço do san-duíche esteja em cima da reta de regressão, trata-sede uma situação média, pois em alguns países o BigMac está mais caro do que deveria ser. “Isso nãodeixa de ser mais uma evidência das enormes difi-culdades da União Europeia para gerir uma moedaúnica e padronizar uma política fiscal”, constataHenriques de Brito. O consultor enfatiza ainda aforte apreciação das divisas da Noruega, onde sevende o Big Mac mais caro do mundo (na compara-ção em dólares), a US$ 8,31, da Suíça (US$ 8,06) e daSuécia (U$ 7,64). Ele chama a atenção, porém, quesendo a renda per capita desses países bastante su-

perior à brasileira, os preços do Big Mac não estãotão distantes da reta de regressão quanto no caso doBrasil. O que explica a valorização das moedas des-sas três nações, segundo Henriques de Brito, seria abusca de investidores por portos considerados maisseguros ante a turbulência global.

“O IBM CUMPRE a importante função deatestar a insustentabilidade da Lei do Preço Úni-co”, enfatiza Marcelo Henriques de Brito. Na suavisão, a prática de preços iguais (comparados emuma moeda referencial) é inviável, sobretudoquando se nota a presença de obstáculos à livrecomercialização e se consideram as peculiarida-des de cada país dentro da cadeia produtiva mun-dial. Ele sustenta o argumento dizendo que paísesque são grandes importadores de matérias-primase exportadores de produtos de alto valor agregado,por exemplo, teriam, a princípio, interesse emmanter suas moedas mais valorizadas. Isso ocorreporque seus produtos com alto valor agregadotendem a apresentar demanda mais inelástica,apoiados em forte marketing, em leis eficazes deproteção à propriedade intelectual e em marcaspoderosas, pelos quais consumidores mundiaisestão dispostos a pagar. Nesse grupo estaria in-cluída a Suíça. “No Brasil, assim como em outras

economias de PIB per capita mais baixos, opoder aquisitivo da população não com-porta os mesmos preços praticados emeconomias mais ricas (com PIB per capitamais altos), além de a sua posição na cadeiaprodutiva global não suportar de forma du-radoura uma divisa mais apreciada”. Henri-ques de Brito acredita que, para paísesatuantes em etapas preliminares da cadeiaprodutiva, produtores de mercadorias debaixo valor agregado e/ou que sejam gran-des exportadores de matérias-primas (nosetor primário) beneficiam-se em ter amoeda na situação mais desvalorizada pos-sível, até o limite de impedir uma saudávelconcorrência de produtos estrangeiros e in-viabilizar a exportação de produtos quecontêm componentes importados.

O TOMBO NA BOVESPA em 2011 é opior, entre as principais bolsas do planeta. Oque isso tem a ver com o Índice Big Mac? Ba-sicamente, nos últimos dez anos, não falta-ram atrativos para a entrada de recursos es-trangeiros no País, o que resultou, em últimainstância, em valorização excessiva do real ede outros ativos nacionais, assim como naatual posição brasileira no IBM.

EM 2002, NO BRASIL, havia um am-biente de ativos altamente desvalorizados,com imenso potencial para apreciação, ta-xas de juros extremamente convidativas (asmaiores do mundo), enorme espaço para avalorização do real, além de um mercado in-terno em expansão. O dinheiro lá fora estavabarato e abundante, a conjuntura global eratranquila, a economia mundial crescia in-discriminadamente e o apetite por risco es-tava aguçado. O estrangeiro veio e esticou acorda até onde deu. Atualmente, o real estásobrevalorizado (aumentando os riscos deperda cambial ao se trazer recursos para cá),a Bolsa de São Paulo atingiu patamares dis-crepantes com o momento econômico glo-bal, a inflação ameaça e o consumidor estáendividado. No plano externo, até agora, nãosaiu uma nova rodada de compra de títulosdo governo pelo Federal Reserve nos EUA(QE3), o que começa, de forma tímida, a di-minuir a liquidez. Ou seja, com exceção dosjuros domésticos estratosféricos no Brasil,todo o resto mudou.

O IBOVESPA QUASE cravou um topoduplo histórico – o primeiro em 73.920 pon-tos, em maio de 2008, e o segundo em73.103 pontos, em novembro de 2010. Essaperformance resultou de duas característi-cas básicas dos mercados financeiros. A pri-meira diz respeito a que agentes sempre seatêm a perspectivas futuras. A segunda serefere à tendência de investidores exacerba-

rem (e prolongarem) essas mesmas perspectivas,de onde deriva o efeito manada, uma vez que se es-palha a crença de que a trajetória das cotações (eda própria economia) só podem seguir em deter-minada direção. Em 2009, os ganhos auferidos naBolsa de São Paulo, para quem apostou na valori-zação do Ibovespa, superou, em dólares, a impres-sionante marca de 145%, um manancial e tanto pa-ra investidores estrangeiros.

RECENTEMENTE, no mundo inteiro, as pers-pectivas futuras que justificam as apostas se inver-teram. Em termos empresariais, após ser registradonos EUA recorde de rentabilidade nos últimos 18anos, a maioria dos estrategistas enxerga declíniono futuro próximo, no que tange ao desempenhonão apenas das corporações americanas, mas decompanhias no âmbito global. O aperto de cintogeral soa inevitável.

POR FIM, em determinado momento, especula-dores passam a vender a descoberto e a casa cai, ouseja, as cotações desabam. É o que está acontecendoagora. Lembrando sempre que a venda a descobertopode gerar lucros extraordinários, quando as açõessão compradas (ao se encerrarem as posições), a pre-ços inferiores aos que foram (inicialmente) vendidos.

SEGUNDA-FEIRA

BRASIL£ Pesquisa Focus

(BC)/semanal£ Balança Comercial

(MDIC)/semanal£ IPC-S (FGV)/agosto£ IGP-DI (FGV)/julho

JAPÃO£ Balança

Comercial/junho

CHINA£ Índice de Preços ao

Produtor (PPI)/julho£ Índice de Preços ao

Consumidor(CPI)/julho

£ ProduçãoIndustrial/julho

£ Vendas noVarejo/julho

TERÇA-FEIRA

BRASIL£ IPC (Fipe)/agosto£ Pesquisa Industrial

Mensal(IBGE)/junho

£ Produção Agrícola(IBGE)/julho

EUA£ Anúncio do Fed

(DecisãoMonetária)

£ Custo da Mão-de-Obra/2° trimestre

ALEMANHA£ Balança

Comercial/junho

REINO UNIDO£ Produção

Industrial/junho£ Balança

Comercial/junho

JAPÃO£ Índice do Setor

Terciário/junho£ Índice de Preços ao

Consumidor(CGPI)/julho

CHINA£ Balança

Comercial/julho

QUARTA-FEIRA

BRASIL£ IGP-M (FGV)/agosto

EUA£ Estoques no

Atacado/junho£ Estoques de

Petróleo/semanal£ Orçamento do

Tesouro/julho

ALEMANHA£ Índice de Preços ao

Consumidor(CPI)/julho

JAPÃO£ Pedidos de

Máquinas/junho

QUINTA-FEIRA

BRASIL£ Vendas no Varejo

(IBGE)/junho£ Pesquisa Mensal de

Emprego e Salário(IBGE)/junho

EUA£ Balança

Comercial/junho£ Pedidos Iniciais de

AuxílioDesemprego/semanal

JAPÃO£ Produção

Industrial/junho

SEXTA-FEIRA

EUA£ Vendas no

Varejo/julho£ Estoques de

Empresas/junho£ Confiança do

Consumidor daUniversidade deMichigan/agosto

ZONA DO EURO

£ ProduçãoIndustrial/junho

PA

RA

OLH

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DU

RA

NTE

A S

EMA

NA

DE OLHONO MERCADO

[email protected] A U L O G U I M A R Ã E S

IbovespaO mercado é urso. Só uma sucessão de notícias boas da China edos EUA poderia amainar a volúpia vendedora. O próximo suporterelevante está em 48.260 pontos, com possível enrosco na casa dos51.000. Mais abaixo, a referência passa a ser 44.274 pontos. Paracima, a jornada será árdua. É necessário a formação consistente defundos e topos ascendentes para o índice ganhar momentum.

MERCADOSB-2 Segunda-feira, 8 de agosto de 2011Jornal do Commercio

Em meio a colapso de ações, Índice Big Macaponta para desvalorização do real

Ocolapso da bolsa de valores brasileira era tragédia anunciada. A desvaloriza-ção de 23,6% no ano e de 10% somente na semana passada não chega a sur-preender, já que alertas foram emitidos repetidamente por conceituadosanalistas, tanto em nível doméstico, quanto no exterior. Em 28 de julho, a re-vista The Economist publicou sua mais recente edição do Índice Big Mac,

que afere o nível de valorização (ou desvalorização) de moedas. Nela, o real aparece comouma das divisas mais apreciadas no mundo, em termos da Paridade de Poder de Comprafrente ao dólar dos EUA, sobretudo se for considerado o Produto Interno Bruto (PIB) per ca-pita de cada nação. Há pouco tempo, quando o Ibovespa se encontrava na casa dos 70 milpontos e a taxa de câmbio na faixa de R$ 1,60 por dólar (em queda), as empresas brasileirasestavam entre as mais valorizadas do planeta, em um momento de incertezas econômicascrescentes, dívidas soberanas explodindo e ameaças inflacionárias disseminadas por todosos continentes. A derrocada do mercado acionário nacional emite um sinal muito claro: apercepção internacional do Brasil como uma ilha de prosperidade pode estar sucumbindo.

O ÍNDICE BIG MAC

No Brasil, assim como em

outras economias de PIB

per capita mais baixos, o

poder aquisitivo da

população não

comporta os mesmos

preços praticados

em economias

mais ricas

0 20 40 60 80 100

CHINA

2,27

PR

O

DO

B

IG

M

AC

U

$

PIB PER CAPITA , 2010, EM US$ 000

PREÇO DO BIG MAC/PIB PER CAPITAJULHO 2011

FONTE: THE ECONOMIST

0

3

6

9

NORUEGA

8,31

SUIÇA

8,06

SUÉCIA

7,64

BRASIL

6,16

ZONA DO EURO

4,93

ESTADOS UNIDOS

4,07

FÁB

IO C

OST

A/J

CO

M/D

AP

RES

S