Azulejos e talha dourada em Évora

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EM ÉVORA

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Catálogo da exposição realizada no arquivo Distrital de Évora com documentos para a história das campanhas decorativas de talha e azulejo em Évora. Textos de Celso Mangucci, Francisco Lameira, Sílvia Ferreira e Artur Goulart de Melo Borges. Apresentação de Jorge Janeiro e introdução de Alexandra Gago da Câmara.

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D O C U M E N T O SPA R A A H I S T Ó R I A

D A TA L H A D O U R A D AE A Z U L E J OEM ÉVORA

Page 2: Azulejos e talha dourada em Évora

EXPOSIÇÃO DOCUMEN TOS PARA A HISTÓRIA DA TALHADOURADA E AZULEJO EM ÉVORA

Organização: Arqui vo Di stri tal de Évora | Centro de Hi stóri a da Arte eInvesti gação Artísti ca (CHAIA) | Rota do Azulejo no AlentejoTextos: Jorge Janei ro, Celso Mangucci , Alexandra Gago da Câmara,Sílvi a Ferrei ra, Artur Goulart de Melo Borges, Franci sco Lamei raTranscrição: Celso Mangucci , Cél i a Malarranha e Paul i na AraújoFotografias: Joaqui m Carrapato, Artur Goulart de Melo Borges, Antóni oSevero e Mi guel CardosoMontagem: Franci sca Mendes, Rosári a Eduardo, Adel i na Neto, Estevãodas Neves, Eduarda Fanha, Candi da Vi ei ra e Antóni a Sá31 de Outubro de 201 4 – 28 de Março de 201 5

ISBN: 978-989-98150-2-5

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D O C U M E N TO SPA R A A H I S TÓ R I A

D A TA L H A D O U R A D AE A Z U L E J OE M É V O R A

ARQUIVO DISTRITAL DE ÉVORA | OUTUBRO 201 4 - MARÇO 201 5

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A d i vu l gação d o patri m ón i o arq u i vísti co d o Arq u i vo D i stri tal d e

Évora e d as en ti d ad es d o D i stri to faz parte d a n ossa m i ssão. Apesar d as

l i m i tações d e m ei os, o n osso arq u i vo tem vi n d o a organ i zar exposi ções

com regu l ari d ad e, n orm al m en te, u m a por sem estre. O seu i m pacto

j u n to d a popu l ação é rel ati vam en te m od esto, l i m i tan d o-se aos

u ti l i zad ores q u e n os vi s i tam , pel o q u e, d e form a a assegu rar a

perm an ên ci a d as exposi ções para l á d o períod o em q u e estão paten tes

ao pú bl i co, en ten d eu -se q u e se d everi a d i spon i bi l i zar gratu i tam en te os

seu s catál ogos n a I n tern et. Com o S ervi ço Pú bl i co d ei tam os m ão às

ferram en tas tecn ol ógi cas para d em ocrati zar o acesso à Cu l tu ra,

con tri bu i n d o para a form ação d os ci d ad ãos.

Os arq u i vos têm vi n d o a ser ol h ad os com o espaços reservad os a

pú bl i cos eru d i tos, com forte preval ên ci a d os h i stori ad ores. O Arq u i vo

D i stri tal d e Évora está apostad o em m od i fi car essa vi são, ten d o u m a

estratégi a d e abertu ra a tod a a popu l ação através d a pu bl i cação d o

B ol eti m , d as vi s i tas gu i ad as e d as Ofi ci n as E d u cati vas e a tod as as

en ti d ad es através d e proj etos d e d i vu l gação d o patri m ón i o e d e

q u al i fi cação d os s i stem as d e arq u i vo. E stam os n a E ra d as parceri as e

d os proj etos col aborati vos em q u e cad a pessoa ou en ti d ad e se pod e

revel ar u m a m ai s-val i a para o su cesso d os prod u tos e servi ços

prestad os a ci d ad ãos cad a vez m ai s exi gen tes.

A exposi ção “ D ocu m en tos para a H i stóri a d os Azu l ej os e Tal h a

D ou rad a em Évora” é prod u to d e u m esforço d e coord en ação d e vári as

pessoas e en ti d ad es. N o en tan to, h á q u e d estacar o D r. Cel so

M an gu cci , respon sável pri n ci pal pel a su a organ i zação. A exposi ção

n asce d o tratam en to d ocu m en tal real i zad o por este técn i co a al gu n s

fu n d os d u ran te a su a perm an ên ci a n este Arq u i vo D i stri tal . D i fi ci l m en te

NOTA DE ABERTURA

J orge J anei ro

Director do Arquivo Distri tal de Évora

N OTA D E AB E RTU RA

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prod u tos cu l tu rai s rel ati vam en te com pl exos.

Os regi stos con fi rm am as d atas, os

i n terven i en tes, os val ores e as escol h as em

torn o d a prod u ção azu l ej ar e d a tal h a em Évora,

com provan d o ten d ên ci as artísti cas, pen sam en to

pol íti co, rel i gi oso e cu l tu ral , rel ações soci ai s e

j ogos d e força ao l on go d aq u el a época.

Évora, com o é possível aperceberm o-n os

com esta exposi ção, teve u m forte l abor n o q u e

respei ta à tal h a e à azu l ej ari a, converten d o-se

n u m cen tro q u e i rrad i ava a su a i n fl u ên ci a sobre

a regi ão. Aq u i se i n stal aram m estres ori u n d os

d e ou tros pon tos d o país e até estran gei ros,

h aven d o vári as ofi ci n as n a ci d ad e com

d i feren tes n ívei s d e q u al i d ad e. A d evoção,

ben efi ci an d o d a exi stên ci a d e recu rsos, gan h ou

expressão m ateri al em m ú l ti pl as obras q u e

ai n d a h oj e perd u ram , d an d o o seu pecú l i o para

q u e Évora fosse Ci d ad e Patri m ón i o M u n d i al d a

U N E S CO.

E sse l egad o atrai m i l h ares d e vi s i tan tes

cati vad os pel a bel eza d esl u m bran te d os

m on u m en tos e pel a su a h i stóri a, escri ta com

base n os d ocu m en tos exi sten tes n os arq u i vos. A

cu l tu ra, ao i nvés d e ser u m peso, afi rm a-se,

cad a vez m ai s , com o u m ati vo preci oso para a

su sten tabi l i d ad e d o terri tóri o, en fren tan d o com

su cesso o probl em a d o d espovoam en to. H oj e,

Évora é o exem pl o d o poten ci al q u e a cu l tu ra

en cerra para garan ti r a vi tal i d ad e econ óm i ca,

tão n ecessári a para a fi xação d e gen te.

A presen te exposi ção é m ai s u m con tri bu to

para a d i vu l gação d o n osso patri m ón i o d e u m a

teri a s i d o prod u zi d a por ou tra pessoa d a n ossa

organ i zação, poi s apen as o D r. Cel so M an gu cci

tem sen si bi l i d ad e, apu rad a por m u i tos an os d e

estu d o, para a H i stóri a d a Arte.

Através d o percu rso exposi ti vo é possível

aperceberm o-n os d a i m portân ci a d os arq u i vos

para a l egi bi l i d ad e d o patri m ón i o ed i fi cad o,

su sten tan d o-se os vári os estu d os d o catál ogo

n as fon tes d ocu m en tai s d i spon ívei s e

con h eci d as para, através d o cru zam en to d e

i n form ação, com pl em en tarem o con h eci m en to

acerca d as vári as obras d e arte tocad as por esta

exposi ção.

A com pl em en tari d ad e en tre arq u i vos e

m on u m en tos con sti tu i , portan to, u m aspeto

cru ci al n a val ori zação d o patri m ón i o cu l tu ral ,

especi al m en te n u m a al tu ra em q u e o Al en tej o

el ege a cu l tu ra com o u m vetor estratégi co para

o seu d esenvol vi m en to até 2 02 0. A

con servação e ren tabi l i zação d o patri m ón i o

ed i fi cad o gan h am com o recu rso aos arq u i vos,

verd ad ei ros reposi tóri os d o passad o q u e

aj u d am a com preen d er o q u e exi ste e a

recu perar o q u e d esapareceu pel as m ai s

d i versas vi ci ss i tu d es. Os d ocu m en tos perm i tem

u m a an ál i se retrospeti va q u e pod e cati var os

vi s i tan tes q u an d o estes se en con tram , por

exem pl o, peran te u m al tar-m or. Razão pel a

q u al se pod eri a arti cu l ar, cad a vez m ai s , a

con tem pl ação com o forn eci m en to d e

i n form ação basead a n os d ocu m en tos q u e

sati sfaça o apeti te d e u m pú bl i co cu j o perfi l se

assu m e com o con h eced or, em bu sca d e

Page 6: Azulejos e talha dourada em Évora

form a i n tegrad a, poi s esse é o cam i n h o a segu i r

para expl orar tod o o poten ci al exi sten te n a

ci d ad e d e Évora.

G ostari a, agora, d e agrad ecer

a tod os os q u e se esforçaram

para q u e a exposi ção fosse

possível , em especi al à Câm ara

M u n i ci pal d e Évora, à

Associ ação d as G u i as

I n térpretes d e Évora, ao

fotógrafo An tón i o S evero, ao

Pad re M an u el M ad u rei ra d a

S i l va, ao Cen tro d e H i stóri a d e

Arte e I nvesti gação Artísti ca e

aos vári os au tores d e arti gos

q u e en ri q u eceram d e form a

n otável este catál ogo: Fran ci sco

Lam ei ra, d a U n i vers i d ad e d o

Al garve; S íl vi a Ferrei ra, d a

U n i vers i d ad e N ova d e Li sboa;

Artu r G ou l art, Coord en ad or d o

I nven tári o Artísti co d a

Arq u i d i ocese d e Évora; e

Al exan d ra G ago d a Câm ara, d a

U n i vers i d ad e Aberta.

Convi d o-vos, fi n al m en te, a

u su fru i r d o pri vi l égi o d e aced er

a esta exposi ção!

J esus e a Samari tana. Gabriel del Barco, 1700. I greja de Santiago. Foto António Severo.

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A ci d ad e d e Évora, cen tro u rban o i m portan te, n os fi n ai s d o sécu l o

XV e n a pri m ei ra m etad e d o sécu l o XVI , con gregou u m esforço d e

proj eção d a su a i d en ti d ad e cu l tu ral q u e, por vári as vezes, em si tu ações

h i stóri cas rel evan tes, d esem pen h ou o papel d e capi tal cu l tu ral d o S u l

d o País , e d e cen tro d i fu sor d e n ovas i d ei as artísti cas.

Ao l on go d a época m od ern a, esta regi ão parti l h a trad i ções cu l tu rai s

sej a com o sed e d o pod er rel i gi oso ou sej a n a su a progress i va

i m pl an tação d e d i versas ord en s rel i gi osas.

N este âm bi to geográfi co, pol íti co e cu l tu ral , as artes d a tal h a e d o

azu l ej o são d u as d as m ai s i m portan tes expressões d e arte apl i cad a

presen tes n o patri m ón i o ed i fi cad o rel i gi oso d e Évora. É este u m

patri m ón i o i n tegrad o q u e se reveste d e u m si gn i fi cad o profu n d o n o

con texto d a obra d e arte total d o barroco portu gu ês q u e é preci so

el en car, i nven tari ar a d ar a con h ecer.

E stas artes assu m em -se d este i n íci o com o agen tes tran sform ad ores

d o espaço rel i gi oso, d otan d o al gu n s con j u n tos d a regi ão d o Al en tej o

m eri d i on al d e u m a presen ça si n gu l ar e ori gi n al , con sti tu i n d o u m a

i m en sa prod u ção artísti ca.

É especi fi cam en te em rel ação ao azu l ej o, por tod os recon h eci d a, a

su a rel ação i n trín seca com a arq u i tetu ra.

N este con texto al argad o, su rge em 2 01 1 i n tegrad o n a l i n h a d e

i nvesti gação em H i stóri a d e Arte d o Cen tro d e H i stóri a d a Arte e

I nvesti gação Artísti ca d a U n i vers i d ad e d e Évora (CH AI A) em parceri a

com o Laboratóri o H E RCU LE S – H eran ça Cu l tu ral , E stu d o d e

S al vagu ard a e a D i reção Regi on al d e Cu l tu ra d o Al en tej o, esten d en d o-

se às d i feren tes au tarq u i as e às en ti d ad es q u e gerem espaços

m on u m en tai s - u m proj eto d e trabal h o sobre a Rota d o Azu l ej o n o

TALHA E AZULEJOS. AS ARTES EM "CONTEXTO"NOTAS PARA A VISI TA À EXPOSIÇÃO

Maria Alexandra Trindade Gago da Câmara

Universidade Aberta CHAIA

TALH AE AZU LE J OS

AS ARTE S E M" CON TE XTO"

Page 8: Azulejos e talha dourada em Évora

Ó para a i grej a d o Conven to d os Rem éd i os.

E m com pl em en to à presen te exposi ção, a

Rota d o Azu l ej o n o Al en tej o col abora n a

real i zação d e u m program a d e vi s i tas gu i ad as e

n u m program a específi co d e form ação para os

gu i as tu rísti cos e para os técn i cos q u e

trabal h am q u oti d i an am en te n a sal vagu ard a

d esse patri m ón i o.

Al en tej o, cu j o obj eti vo tem si d o d ar a

con h ecer o Patri m ón i o Azu l ej ar d os sécu l os

XVI a XX, com a fi n al i d ad e d e d i vu l gar u m a

i d en ti d ad e artísti ca q u e é tam bém u m fator d e

d i n am i zação cu l tu ral , soci al e econ óm i ca.

A ri q u eza d o patri m ón i o azu l ej ar h i stóri co

n a Regi ão d o Al en tej o, é i n con torn ável , com

ed i fíci os em bl em áti cos, rel evan tes tan to n o

âm bi to regi on al q u an to n aci on al , perm i ti n d o a

estru tu ração d e u m a rota q u e val ori za a fru i ção

d este patri m ón i o n o terri tóri o.

A i n form ação ao vi s i tan te, sej a em vi agem

cu l tu ral ou d e l azer, é o ei xo fu n d am en tal d o

proj eto q u e se estru tu ra pel a ed i ção d e

pu bl i cações (rotei ros, m on ografi as e

d esd obrávei s ) e prod u ção d e con teú d os d i gi tai s

faci l i tan d o o acesso e a pesq u i sa a

d ocu m en tação vari ad a.

A presen te exposi ção real i zad a pel o

Arq u i vo D i stri tal d e Évora preten d e d i vu l gar

d ocu m en tação arq u i vísti ca i m portan te para o

estu d o d o azu l ej o e d a tal h a d ou rad a associ ad a

a n ú cl eos rel evan tes para a h i stóri a d a

azu l ej ari a portu gu esa, com o as obras d e

G abri el d el B arco para a i grej a d e S an ti ago e

d e Ol i vei ra B ern ard es para a i grej a d os Lói os e

d a M i seri córd i a d e Évora. N a tal h a d ou rad a

pod em os m en ci on ar a títu l o d e exem pl o os

d ocu m en tos rel aci on ad os com as cam pan h as

protagon i zad as pel o m estre en tal h ad or

Fran ci sco M ach ad o para a i grej a d e S an to

An tão, d e Fran ci sco d a S i l va para a

M i seri córd i a d e Évora e d e S ebasti ão Abreu d o

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E u reka! U m a em oção prazen tei ra, q u ase i n fan ti l , recom pen sa o

i nvesti gad or q u an d o en con tra u m d ocu m en to rel aci on ad o com o u m a

obra d e arte. É com o se, d epoi s d e fasti d i osas h oras d e pesq u i sa n os

arq u i vos, o esq u eci m en to e as d ú vi d as d essem l u gar a certeza d a

au tori a, a cl ari fi cação d a cron ol ogi a e d o esti l o h i stóri co, con cei tos

ch aves q u e organ i zam , ai n d a q u e d e form a i m perfei ta, as n ossas i d ei as

sobre a h i stóri a d a arte. A própri a con d i ção d o h i stori ad or, geral m en te

i m ersa n o carácter d u vi d oso d e u m j u ízo críti co arbi trári o, gan h a u m a

n ova cred i bi l i d ad e com a d i vu l gação d esses factos i n d esm en tívei s ,

con feri n d o u m a espéci e d e bi l h ete d e i d en ti d ad e aos con j u n tos d e

tal h a d ou rad a e azu l ej ari a, com o os q u e se fazem referên ci a n essa

exposi ção sobre os d ocu m en tos d o Arq u i vo D i stri tal d e Évora.

M as ao con trári o d o q u e pod eríam os i m agi n ar – e sem d esval ori zar

a en orm e i m portân ci a d o aporte d as n otíci as trazi d as pel os

d ocu m en tos -, o m om en to exu l tan te d e Arq u i m ed es é rel ati vam en te

passagei ro, assu m i n d o-se com o o pon to d e parti d a para u m sem

n ú m ero d e tarefas q u e, au xi l i ad as por ou tros cam pos d e con h eci m en to,

aj u d am a con stru i r a al teri d ad e d as artes d ecorati vas, al go rebel d e em

se en cai xar n aq u el as categori as pré-d efi n i d as.

U m d os pri m ei ros d esafi os q u e se col oca ao i nvesti gad or é

com pati bi l i zar as i n form ações trazi d as pel os d ocu m en tos com a

real i d ad e m ateri al d a obra d e arte. N ão é raro terem ocorri d o

tran sform ações posteri ores ao proj ecto i n i ci al e, m u i to m en os, o

d ocu m en to ser “ apen as” u m a m em óri a escri ta d e u m a obra pl ásti ca

perd i d a.

U l trapassad o esse pri m ei ro obstácu l o e vol tan d o as n ossas

categori as fu n d am en tai s , os d ocu m en tos, n a m ai or parte d as vezes, n ão

são su fi ci en tem en te cl aros para d i ri m i r a q u estão d e au tori a. É provável

A CONDIÇÃO DE AUTOR NAS CAMPANHAS DE TALHADOURADA E AZULEJOS

Cel so Mangucci . CHAIA Universidade de Évora

A CON D I ÇÃOD E AU TOR

N AS CAM PAN H ASD E TALH A

D OU RADA EAZU LE J OS

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paroq u i al d e S ão Ped ro d e Évora.

Fora d o con texto d os d ocu m en tos escri tos

q u e estam os an al i san d o, é ai n d a possível traçar

paral el os bastan te aproxi m ad os com as

gravu ras q u e servi ram d e base tan to d as

com posi ções d os azu l ej os q u an to d a

arq u i tectu ra d a tal h a d ou rad a, o q u e abre

cam i n h o para o recon h eci m en to d e u m a

trad i ção artísti ca e d e u m a cu l tu ra específi ca

d os arq u i tectos e pi n tores.

N o caso d os azu l ej os, os con tratos real i zam -

se q u ase sem pre com os m estres l ad ri l h ad ores,

respon sávei s pel a total i d ad e d a en com en d a, o

q u e provocou con fu sões s i stem áti cas sobre a

au tori a d as obras, atri bu i n d o-se a M an u el

B orges as obras pi n tad as por An tón i o Ol i vei ra

B ern ard es, a B artol om eu An tu n es os trabal h os

d e N i col au d e Frei tas , Val en ti m d e Al m ei d a e

S ebasti ão d e Al m ei d a. E ssa con fu são ai n d a

perd u ra n o caso d e D om i n gos d e Al m ei d a,

m estre l ad ri l h ad or con h eci d o pel a su a

acti vi d ad e n o Al garve, q u e, para baral h ar m ai s

as con tas, foi au tor d o d esen h o d e u m

retábu l o 4, e n o d e Fran ci sco J orge d a Costa5 ,

“ m estre azu l ej ad or d a Casa d o I n fan tad o e d a

Real Casa d as Obras” , l i gad o às obras régi as e

à Fabri ca d o Rato.

M as esse é o m en or d os probl em as d e se

u ti l i zar u m a categori a d em asi ad o d ecal cad a d a

n oção con tem porân ea d o arti sta en q u an to

respon sável por tod o o processo artísti co d esd e

a con cepção até o fi n al d a obra. A d i fi cu l d ad e

pri m ei ra em d efi n i r u m a en ti d ad e au toral ú n i ca

q u e m u i tos m estres en tal h ad ores n ão sej am os

au tores d os d esen h os, proj ectos ou rascu n h os,

e cu m pram apen as o papel d e execu tores d e

obras pl an ead as por ou tros arti stas . U m d as

excepções, o con trato n otari al cel ebrad o em

Évora, em 1 749 , i d en ti fi ca o actu al m en te pou co

con h eci d o m estre en tal h ad or J oão Lu ís com o

au tor d o “ ri sco” d o retábu l o d a capel a-m or d o

conven to d e S ão J osé 1 , obra em bl em áti ca d o

rococó al en tej an o, q u e seri a execu tad o por

S ebasti ão Abreu d o Ó, n a época h erd ei ro d e

u m a ofi ci n a con cei tu ad a n a ci d ad e d e Évora.

Apesar d e só recen tem en te val ori zad a n a

bi bl i ografi a d a especi al i d ad e, tam bém para os

azu l ej os pod em os con fi rm ar a exi stên ci a d e

d esen h os “ d e con cepção” , com o o q u e o pi n tor

M arcos d a Cru z el aborou , em 1 675 , para os

azu l ej os d o l avatóri o d a sacri sti a d a i grej a d o

Loreto 2 , em Li sboa. Com u m i m pacto acresci d o

foram os cartões el aborad os pel o pi n tor

Vi tori n o M an u el d a S erra (1 6 9 2 - 1 747) , a crer

n as pal avras d o seu bi ógrafo, u m d os gran d es

respon sávei s pel a i n trod u ção d a orn am en tação

rocai l l e 3 , e ass i m d a própri a ren ovação d a

azu l ej ari a d o períod o.

Tam bém para os tectos d e bru tescos h ou ve

cu i d ad o em preparar e an al i sar m od el os:

pod em os l em brar os q u e J osé Ferrei ra d e

Araú j o apresen tou para os cai xotões d a I grej a

d e S an tos-o-Vel h o, em Li sboa, ou o pagam en to

d e q u atro m oed as d e ou ro, real i zad o pel o

arcebi spo d e Évora, Frei Lu ís d a S i l va Tel es,

para o d esen h o d o d esapareci d o tecto d a i grej a

Page 11: Azulejos e talha dourada em Évora

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ad vém d a própri a n atu reza col ecti va d a

execu ção d as en com en d as d e azu l ej os, tal h a

d ou rad a e pi n tu ras d e tecto. S ó ofi ci n as bem

estru tu rad as ou com pan h i as form ad as por

vári os m estres são capazes d e execu tar

con j u n tos tão exten sos em cu rtos espaços d e

tem po. Com o exem pl o d essa feéri ca acti vi d ad e,

a ofi ci n a d e G abri el d el B arco 6 execu ta, en tre

os an os d e 1 6 9 9 e 1 700, o m on u m en tal

revesti m en to d a n ave d a i grej a d o Conven to d e

N ossa S en h ora d a Assu n ção d e Arrai ol os, os

azu l ej os para a n ave d a i grej a d e S an ti ago e

ai n d a para a casa d a I rm an d ad e d o S an tíss i m o

S acram en to d e S ão M am ed e en q u an to a ofi ci n a

d e Fran ci sco M ach ad o execu ta os vári os

retábu l os d a i grej a d e S ão Ped ro e o d a capel a-

m or d e S an to An tão, n os an os a segu i r, en tre

1 700 e 1 702 .

N ão só as ofi ci n as con gregam d i versos

m estres, ofi ci ai s e apren d i zes, m u i tas vezes

l i gad os por l aços d e paren tesco, m as,

provavel m en te, em fu n ção d a exten são e d os

prazos restri tos d e execu ção, u m a m esm a

en com en d a pod eri a ser su bd i vi d i d a por

d i versas ofi ci n as. É o q u e se pod e d epreen d er

d a d ocu m en tação rel aci on ad a com o

apu ram en to d a h eran ça d e B artol om eu

An tu n es 7 q u e, para al ém d o seu gen ro N i col au

d e Frei tas , revel a vári os pi n tores, al gu n s ai n d a

com obra por i d en ti fi car, ao servi ço d e u m d os

m ai s i m portan tes m estres l ad ri l h ad ores d e

Li sboa, n o segu n d o q u artel d o sécu l o XVI I I .

A n oção d e percu rso i n d i vi d u al artísti co,

ou tra d as característi cas q u e n orm al m en te

associ am os à con d i ção d o arti sta, tam bém d eve

ser u ti l i zad a com precau ção, j á q u e os

d ocu m en tos n om ei am , por i n d i cação d os

com i ten tes, d i versas obras m od el o, cri an d o

si tu ações d e con ti n u i d ad e en tre obras d e

au tores d i feren tes. É esse o caso q u ase cari cato

d o retábu l o d e N ossa S en h ora d as D ores q u e

J oão d e Al m ei d a N egrão real i zou para u m a d as

capel as col aterai s d a i grej a d e S an ti ago d e

Évora8 e q u e d everi a reprod u zi r n ad a m ai s n ad a

m en os q u e o m od el o d o retábu l o d e S an tan a d a

m esm a i grej a, o pavi l h ão su peri or d os retábu l os

d as capel as col aterai s d o Conven to d e S ão J osé

(d e S ebasti ão Abreu d o Ó) , os sacrári os d o

retábu l o d as capel as col aterai s d a i grej a d o

conven to d e N ossa S en h ora d a G raça,

ch egan d o-se ao porm en or d e i n d i car para a

vi tri n a d o S en h or M orto o m od el o d e u m a porta

d e correr i d ên ti ca ao al tar d a m esm a i nvocação

d este ú l ti m o conven to. Ai n d a n a i grej a d e

S an ti ago, o retábu l o d a capel a-m or real i zad o,

em 1 71 9 , por u m m estre secu n d ári o, d evi a

reprod u zi r o agora d esapareci d o retábu l o d a

capel a-m or d e S ão Ped ro, real i zad o cerca d e

d u as d écad as an tes pel o m estre en tal h ad or

Fran ci sco M ach ad o 9 .

E m sen ti d o n egati vo, é parti cu l arm en te

i n teressan te a com paração estabel eci d a n o

con trato para a i grej a d os Lói os d e Évora,

cel ebrad o em 1 71 0, em q u e se cri ti ca a

q u al i d ad e d os azu l ej os q u e, n a d écad a an teri or,

G abri el d el B arco real i zou para o conven to d a

Page 12: Azulejos e talha dourada em Évora

con j u gam d oi s pl an os d i feren tes, u m

d ecorati vo e ou tro i con ográfi co. N u m a pri m ei ra

l ei tu ra, o pl an o i con ográfi co é i m ed i atam en te

perceptível com o o fi o con d u tor d a obra, e os

passos d a vi d a d e S ão Lou ren ço J u sti n i an o,

paten te n os azu l ej os d a i grej a d os Lói os d e

Arrai ol os e Évora, en con tra-se d escri ta n a obra

d o h i stori ad or Fran ci sco d e S an ta M ari a,

pu bl i cad a em 1 6 9 9 . M as esse rel ato escri to

tam bém será ad aptad o n u m a n ova n arrati va

vi su al por u m pl an o i con ográfi co q u e tam bém

recl am a au tori a: em Arrai ol os, pel o pi n tor

G abri el d el B arco segu n d o o pl an o con cebi d o

por Frei B ern ard o d e S ão J erón i m o e, em Évora,

por An tón i o d e Ol i vei ra B ern ard es segu n d o as

i n d i cações d o bi spo coad j u tor D . D i ogo

J u sti n i an o d a An u n ci ação (m .1 71 3 ) , con frad e

l ói o q u e efecti vam en te d i ri gi a os d esti n os d o

arcebi spad o n as au sên ci as prol on gad as d e D .

S i m ão d a G am a.

O con trol o d o program a i con ográfi co, tem a

fu n d am en tal d a teori a artísti ca pós Con cíl i o d e

Tren to, apoi a-se n a própri a h i erarq u i a

i n sti tu ci on al ecl es i ásti ca, e os d ocu m en tos

com provam a su bm i ssão d a I rm an d ad e d o

S an tíss i m o S acram en to d e S an ti ago 1 1 aos

d esígn i os d o arcebi spo Lu ís d a S i l va Tel es,

ai n d a q u e h ou vesse a con tri bu i ção fi n an cei ra

d e tod os os fregu eses e i rm an d ad es d a

paróq u i a. A exi stên ci a d e u m pl an o

i con ográfi co sem el h an te tan to para os azu l ej os

e frescos d a n ave d a i grej a d e S an ti ago q u an to

para a casa d a i rm an d ad e d o S an tíss i m o

m esm a con gregação em Arrai ol os. E xi ge-se u m

azu l ej o “ m el h or, m ai s cl aro, e m ai s fi n o” ,

d em on stran d o a en orm e i m portân ci a d a

express i vi d ad e i n trín seca d e cad a u m d os

m ateri ai s q u e, com o sabem os, d epen d e

tam bém d as con d i ções técn i cas d as ol ari as e

d o saber d os m estres ol ei ros e, n o caso d a

tal h a d ou rad a, d os pi n tores d ou rad ores, ou tras

d as d u as especi al i d ad es pel a q u al se d eve

d i vi d i r a respon sabi l i d ad e d a au tori a. Com o

d em on stra o term o d o con trato para a tal h a d a

M i seri córd i a d e Évora, real i zad a com q u atro

pi n tores d a ci d ad e, o d ou ram en to u ti l i za vári os

recu rsos pi ctóri cos com a ad i ção d e

pol i crom i a, efei tos d e “ en carn ação” e

al tern ân ci a d o tratam en to d e su perfíci e en tre

fosco e bri l h an te, n u m a i n terven ção geral m en te

d i spen d i osa e n orm al m en te real i zad a an os

após a con cl u são d a obra d e en tal h e. É

evi d en te, pel a q u al i d ad e d o vocabu l ári o

técn i co em pregu e n a red acção d o con trato, q u e

a i rm an d ad e possu i u m con su l tor técn i co,

al gu ém com recon h eci d a experi ên ci a n a área,

e q u e as opções estéti cas em ú l ti m a i n stân ci a

são d a respon sabi l i d ad e d a d i recção: “ e

paressen d o a esta m eza q u e se l h e fação al gu n s

foscos serão feytos sobre ou ro o q u e fi cara ao

arbi tri o d a m esm a d eterm i n ar se h á d e l evar a

d i ta obra os taes foscos ou se h á d e tu d o ser

bu rn i d o” 1 0.

N esse períod o, os frescos, a tal h a d ou rad a,

os azu l ej os e as pi n tu ras a ól eo com bi n am -se

para cri ar u m a “ obra d e arte total ” , q u e

Page 13: Azulejos e talha dourada em Évora

15

S acram en to d e S ão M am ed e perm i te-n os, m ai s

u m a vez, aval i ar o peso d eci s i vo d a su a

i n terven ção n a real i zação d essas d u as obras 1 2 .

S erá tam bém sob a su pervi são e patrocín i o

d o Arcebi spo d e Évora, D . S i m ão d a G am a, ao

acu m u l ar o cargo d e proved or d a M i seri córd i a

Évora, “ por especi al provi zão d e su a

m agestad e” , q u e, n o an o d e 1 71 0, se form al i za

o con trato com Fran ci sco d a S i l va para a

en orm e em prei tad a d e tal h a, com u m cu sto d e

4 m i l cru zad os. Com u m program a d ecorati vo

d e total ren ovação d o espaço i n tern o, o

program a i con ográfi co, m u i to provavel m en te d e

au tori a d e D . D i ogo d a An u n ci ação J u sti n i an o,

d i stri bu i -se pel as tel as d e Fran ci sco Lopes

M en d es e pel os azu l ej os d e An tón i o d e Ol i vei ra

B ern ard es 1 3 . O con trato com o m estre

l ad ri l h ad or M an u el B orges m en ci on a a

exi stên ci a d e u m d esen h o, u m pl an o

i con ográfi co, com a d i stri bu i ção d os tem as, q u e

servi ri a tam bém para o con trol e fi n al d a obra:

“ q u e azu l i asse reparti n d o o azu l ei i o em sete

Sofrer as in júrias com paciência. António de Ol ivei ra Bernardes, 1 71 6. I greja da Misericórdia de Évora. Foto Joaquim Carrapato.

Page 14: Azulejos e talha dourada em Évora

passos d as obras espi ri tu ai s d a m i zeri cord i a

com vari os em bl em as por baxo d os d i tos

passos d e q u e se l h e d ara u m papel

d ecl aran d o-se os passos e em bl em as em q u e

sera ass i gn ad o pel l o th ezou rei ro d esta m eza o

q u al m ostrara d epoi s d o d i to azol ei i o as i n tad o

n a i grei a para ver se esta fei to n a form a d o

estrato q u e se l h e d er ass i gn ad o… ” 1 4.

Ao con trári o d o q u e às vezes é assu m i d o

pel a h i stori ografi a d o B arroco portu gu ês, m ai s

d i fíci l é com provar a exi stên ci a d e u m pl an o

d ecorati vo u n ívoco execu tad o com ri gor, tan to

m ai s q u e as cam pan h as ten d em a prol on gar-se

n o tem po, n ão raro por vári as d écad as.

S abem os q u e o arq u i tecto Pero Vaz Perei ra,

au tor d a traça d a I grej a d e S an ta M ari a d e

M ach ed e, em 1 6 0 4, m ercê d a su a form ação

rom an a e d a su a experi ên ci a n o

acom pan h am en to d as cam pan h as d o Paço

D u cal d e Vi l a Vi çosa, certam en te pl an eou a

d ecoração d e frescos, estu q u es e azu l ej os

d aq u el a i grej a1 5 e tam bém as d ecorações d a

N ossa S en h ora d a G raça d o D i vor. Com

propósi tos ai n d a m ai s i n fl u en tes n a con cepção

i n tern a d o espaço rel i gi oso, o arq u i tecto J oão

An tu n es, n a su a m em óri a d escri ti va d a

cam pan h a d e recon stru ção d a actu al m en te

d esapareci d a i grej a d e N ossa S en h ora d a

Vi tóri a, previ u a preparação m ateri al n ecessári a

para a col ocação d os azu l ej os d as capel as e

su gere a sol u ção m ai s econ óm i ca d a real i zação

d os retábu l os d e m árm ores col ori d os em

m ad ei ra pi n tad a1 6 . E m bora n os fal te m ai s d ad os

para u m a correcta aval i ação, am bos os casos

são bon s i n d íci os d o papel d esem pen h ad o

pel os arq u i tectos n a con cepção d e proj ectos d e

ed i fi cação acom pan h ad os por u m pl an o

d ecorati vo geral .

Para al ém d os pl an os d ecorati vos m ai s

eru d i tos, a i d ei a d e exi sti r u m a certa

con ti n u i d ad e express i va en tre a tal h a d ou rad a

e os azu l ej os parece en rai zad a n os program as

d ecorati vos d a pri m ei ra m etad e d o sécu l o XVI I ,

q u an d o os azu l ej os en xaq u etad os receberam

apl i cações a ou ro, ou q u an d o áreas con tígu as

aos al tares d ou rad os foram d ecorad as com u m a

pad ron agem real i zad a apen as em am arel o-

torrad o, i m i tan d o ou ro, com o é o caso d o

revesti m en to azu l ej ar d a I grej a d o S al vad or d e

Évora.

U m a tercei ra sol u ção para a tran si ção

crom áti ca en tre a tal h a d ou rad a e a

arq u i tectu ra, em voga d esd e as pri m ei ras

d écad as d o sécu l o XVI I , são os bru tescos

real i zad os a ou ro sobre bran co, com o

vocabu l ári o orn am en tal d a ferron eri e fl am en ga,

com o o con j u n to rel ati vam en te tard i o q u e se

con serva n a i grej a d o conven to d e S ão J oão d e

D eu s em M on tem or-o-N ovo 1 7, d ecoran d o

pi l astras, os arcos e o i n trad orso d as capel as

l aterai s . A u n i d ad e d o con j u n to é reforçad a por

tod os os ci n co retábu l os segu i rem o m esm o

m od el o estru tu ral , e tam bém por prol on garem

a corn i j a d a n ave, cri an d o u m a sol u ção d e

con ti n u i d ad e en tre a arq u i tectu ra e a tal h a

d ou rad a. D e n otar q u e a pi n tu ra d os bru tescos

Page 15: Azulejos e talha dourada em Évora

17

repete u m m esm o cartão, em cam pan h as

su cess i vas, cron ografad as en tre os an os d e

1 6 6 6 e 1 673 .

Com o d em on stra o

d esen rol ar d a cam pan h a d a

M i seri córd i a d e Évora,

real i zad a n o fu n d am en tal en tre

os an os d e 1 71 0 e 1 71 6 , e

col ocan d o-se a h i pótese m ai s

provável d a exi stên ci a d e u m

pl an o geral , o própri o

en cad eam en to d as obras, ao

d efi n i r áreas específi cas d e

actu ação, perm i te u m a sol u ção

d e arti cu l ação sati sfatóri a en tre

a tal h a, os azu l ej os e as tel as a

ól eo. N o con trato com o

m estre en tal h ad or Fran ci sco

S i l va j á estava previ sta a área

“ em raso” d o espaço para as

tel as d o pi n tor Fran ci sco Lopes

M en d es, e o con trato com o

m estre l ad ri l h ad or M an u el

B orges só será cel ebrad o após

a con cl u são d a em prei tad a d e

tal h a, d efi n i n d o perfei tam en te

a área q u e será coberta pel os

azu l ej os, sen d o pl au sível q u e

os d esen h os m en ci on ad os n o

con trato d a tal h a d ou rad a,

j u n to com o l evan tam en to d as

m ed i d as el aborad o pel o m estre

l ad ri l h ad or, pu d essem ser

Retábulo da capela de Nossa Senhora do Carmo.I greja do Convento de São João de Deus, Montemor-o-Novo. Foto CMM.

Page 16: Azulejos e talha dourada em Évora

l evad os por M an u el B orges para a ofi ci n a d e

An tón i o Ol i vei ra B ern ard es, em Li sboa. N u m

d os m el h ores exem pl os d e con ti n u i d ad e

d ecorati va en tre os azu l ej os e a tal h a d ou rad a -

e d a exi stên ci a d e u m a arti cu l ação

com pl em en tar -, n a parte i n feri or d a gran d e

ci m al h a q u e reveste os d oi s l ad os d a n ave

en q u ad ran d o as pi n tu ras, corre u m

en tabl am en to em tal h a d ou rad a com rem ates

sal i en tes, fazen d o a l i gação exacta com os

capi téi s d as pi l astras pi n tad as n os azu l ej os.

A q u al i d ad e artísti ca e a en orm e experi ên ci a

d o pi n tor An tón i o d e Ol i vei ra B ern ard es, o seu

vín cu l o fam i l i ar com o cu n h ad o J osé Ferrei ra

d e Araú j o, q u e d i ri ge u m a ofi ci n a

especi al i zad a n a pi n tu ra d e tectos, é o m ai s

próxi m o q u e actu al m en te con h ecem os d e u m

arti sta m u l ti facetad o, ci en te d a gl obal i d ad e d o

espaço B arroco, execu tan d o obras d e pi n tu ra a

fresco, tel as e azu l ej os. Ai n d a ass i m , a su a

i n terven ção m u l ti d i sci pl i n ar para o m esm o

espaço rel i gi oso terá s i d o excepci on al ,

con fi rm an d o-se a su a i n terven ção n os tectos a

fresco e n as tel as d a I grej a d e N ossa S en h ora

d os Prazeres, em B ej a, n as tel as d a n ave e n o

tecto d a i grej a d o Conven to d e S an ta Cl ara, em

Évora, n os azu l ej os e o tecto d a capel a d a

Ram ad a e n as tel as , tecto e azu l ej os d o

Conven to d e N ossa S en h ora d a Con cei ção d a

Lu z, d e Carn i d e em Li sboa1 8 , u m n ú m ero

rel ati vam en te peq u en o se com parad o com os

con j u n tos d e tel as e azu l ej os q u e fazem parte

d o corpu s d a su a obra. Al i ás é s i n tom áti co q u e

a atri bu i ção d os frescos d o tecto d a i grej a d e

S an ti ago ao pi n tor G abri el d el B arco ten h a si d o

revi sta, efecti vam en te separan d o a su a obra d e

azu l ej os d e u m a pri m ei ra fase com o pi n tor d e

bru tescos 1 9 .

O con trol o i d eol ógi co m u i to cen trad o n o

pl an o i con ográfi co n ão n os d eve fazer esq u ecer

u m a gen u ín a von tad e d e i n ovação e

m od ern i d ad e artísti ca por parte d os

com i ten tes, e d e u m a escol h a preferen ci al por

d eterm i n ad os arti stas , com o a m an i festad a pel o

arcebi spo Frei Lu ís d a S i l va Tel l es em rel ação a

B en to Coel h o d a S i l vei ra e d o m estre

en tal h ad or Fran ci sco M ach ad o, a q u em

en com en d ou d i versas obras, obri gan d o a

i n stal ar ofi ci n a n o própri o Paço

Arq u i epi scopal . N os con tratos é freq u en te as

exortações a q u e a obra sej a con creti zad a n a

m áxi m a perfei ção ou , para os azu l ej os, pel os

m el h ores pi n tores d a corte. N o con trato com

S ebasti ão Abreu d o Ó, os pad res d o conven to

d e N ossa S en h ora d os Rem éd i os recl am avam a

execu ção d e tal h a “ à fran cesa” , ou sej a com

orn am en tação rococó, com o u m a d as

con d i ções para a sati sfação d a en com en d a d o

retábu l o d a capel a-m or, a m el h or obra d o

períod o n o Al en tej o.

O d esen h o serve ai n d a d e d ocu m en to d e

com prom i sso, obj ecto d e acord o com a

ass i n atu ra d e com i ten tes e os arti stas , e é

m u i tas vezes obj ecto d e al terações e ad i ções

n o d ecorrer d a escri ta d os con tratos. E m j ei to

d e exam e fi n al , o arcebi spo Frei Lu ís d a S i l va

Page 17: Azulejos e talha dourada em Évora

19

i n s i ste em i n d i car a Fran ci sco M ach ad o a

real i zação d e d oi s an j os q u e su sten tam u m a

coroa para a exposi ção d o S an tíss i m o

S acram en to n o al to d o tron o, com o ai n d a

pod em os observar n a I grej a d e S an to An tão, e

os i rm ãos d a M i seri córd i a sol i ci tam o

acrésci m o d e col u n as e fi gu ras ao d esen h o d e

Fran ci sco d a S i l va para o retábu l o d a

M i seri córd i a d e Évora: “ … e ass i m m ai s sera

obri gad o el l e d i to Fran ci sco d a S yl va a fazer

d u as col u n as em cad a cappel l a d as tai s , al em

d e d u as fi gu ras q u e h a d e fi car n os l ad os d a

cappel l a m ai or, d e gran d eza q u e a obra o

pri m i ti r, sem em bargo d e as tai s col u n as n ão

estarem n o ri sco” 2 0.

A i d ei a d e “ bel com posto” , forj ad a a parti r

d a obra d e Loren zo B ern i n i , refere-se

n orm al m en te ao con j u n to q u e resu l ta d a

u n i fi cação d a pi n tu ra, escu l tu ra e arq u i tetu ra

em espaços proj etad os d e form a abran gen te.

M as o arq u i tecto e escu l tor i tal i an o, n a

persegu i ção d esse d esi d erato, q u ebrou as

fron tei ras cl áss i cas, u l trapassou a i d ei a d e

si m pl es com pl em en tari d ad e e red efi n i u as

propri ed ad es e a fu n ção d e cad a d om ín i o

artísti co. N o espaço portu gu ês, a preferên ci a

pel a tal h a d ou rad a, en q u an to pon to d e fu são

en tre arq u i tectu ra, escu l tu ra e pi n tu ra, e d o

própri o azu l ej o fi gu rati vo azu l e bran co

en q u an to u m a com bi n ação exóti ca d e pi n tu ra

arq u i tectón i ca e porcel an a ch i n esa, são

si n tom a d essa tran sgressão provocad a pel o

gosto d o “ bel com posto” , d essa preferên ci a

pel as artes “ m i stas” fora d o regi sto can ón i co

ren ascen ti sta. E ssa con j u gação d e tod as as artes

represen tou tam bém m u d an ças profu n d as n a

form ação d os arti stas e n a arti cu l ação d as

en com en d as, fazen d o convergi r arq u i tectos,

i con ógrafos, m estres en tal h ad ores, d ou rad ores,

m estres l ad ri l h ad ores, pi n tores d e azu l ej o,

m estres ol ei ros, e ou tros artífi ces n u m a form a

d e col aboração d e con torn os n em sem pre bem

d efi n i d os, e tam bém por i sso, n em sem pre fáci l

d e i d en ti fi car e recon sti tu i r.

Page 18: Azulejos e talha dourada em Évora

NOTAS

1 Para u m a reaval i ação d a i m portân ci a d a acti vi d ad e d o

m estre en tal h ad or vej a-se Artu r G ou l art d e M el o B ORG E S ,

2 005 : 5 3 .

2 S u san a Varel a FLOR, 2 01 0-2 01 1 .

3 A afi rm ação con sta d a bi ografi a escri ta pel o pi n tor

J erón i m o d e An d rad e. Vítor S E RRÃO, 2 003 : 2 57-2 5 8 .

4 E m 1 761 , assen ta os azu l ej os d o tecto d a I grej a d a Ord em

Tercei ra d e S ão Fran ci sco d e Faro, e em 1 78 0 real i za o

d esen h o para o retábu l o d a capel a-m or. Vítor S E RRÃO,

1 9 9 9 : 2 2 0; Fran ci sco L AM E I RA, 2 000: 2 9 3 .

5 S an d ra Costa SALDAN H A, 2 01 3 .

6 Para u m a reaval i ação d a obra e d os col aborad ores d e

G abri el d el B arco vej a-se a tese d e d ou torad o apresen tad a

por Rosári o S al em a d e CARVALH O, 2 01 2 .

7 Cel so M AN G U CCI , 2 003 .

8 AD E , CN E , Tabel i ão, l i vro 1 1 6 3 .

9 AD E , CN E , Tabel i ão Fran ci sco Rosad o, l i vro 1 1 3 3 , fl s . 51 -

51 v. º . Tú l i o E S PAN CA, 1 9 8 4-1 9 8 5 : 1 1 5 .

1 0 E sse pri m ei ro con trato n ão foi efeti vad o e a obra d e

d ou ram en to seri a real i zad a pel o pi n tor Fel i pe d e S an ti ago

n o an o segu i n te. AD E , M i seri córd i a d e Évora, l i vro n . º 27,

Lem bran ças d as m ezas com eçou em 1 72 8 ath e 1 73 9 , fl s . 1 9

e 1 9 v. º .

11 Pau l i n a ARAÚ J O, 2 01 3 . AD E , CE AE , Li vro d os E statu tos

d a I rm an d ad e d o S an tíss i m o S acram en to d a I grej a d e

S an ti ago, fl . 1 1 e 1 1 vº.

1 2 Cel so M AN G U CCI , 2 01 3 .

1 3 Cel so M AN G U CCI , 2 008 .

1 4 AD E . CN E , Tabel i ão M an u el Pi n h ei ro, l i vro 1 1 3 0, fl s .

2 vº - 4.

1 5 Cf. Vítor S E RRÃO, 2 001 : 2 6 9 -270. O proj ecto i n i ci al

sofreu tran sform ações posteri ores com a i n cl u são d e n ovos

s i l h ares d e azu l ej os d e pad rão n os m ead os d o sécu l o XVI I .

1 6 CAE TAN O e S I LVA, 1 9 9 3 : 1 6 5 -1 6 6 .

17 Cf. Tú l i o E S PAN CA, 1 975 : I , 3 5 9 -3 61 ; Fran ci sco

L AM E I RA, 2 00 4: 1 46 -1 5 5 .

1 8 Vítor S E RRÃO, 2 01 3 .

1 9 Vítor S E RRÃO, 1 9 9 8 -1 9 9 9 .

20 Cel so M AN G U CCI , 2 008 .

Page 19: Azulejos e talha dourada em Évora

As rel ações artísti cas en tre Portu gal e E s p an h a, n om ead am en te n as

regi ões fron tei ri ças d e am bos os p aís es , foram u m a con stan te ao

l on go d os s écu l os XVI I e XVI I I .

N o cam p o es p ecífi co d os retábu l os con stata-s e a ci rcu l ação, ai n d a

q u e p on tu al , d e m estres en tal h ad ores p ortu gu es es em E s p an h a e d e

es p an h ói s em Portu gal . M ai s rara era a i m p ortação d e ri s cos ou

p roj ectos . O p res en te arti go abord a u m exem p l o d esta ú l ti m a

s i tu ação, atri bu i n d o n ós a au tori a d o p roj ecto d o retábu l o d a cap el a-

m or d a i grej a d o M ostei ro d e N os s a S en h ora d e S cal a Coel i em É vora

ao p resti gi ad o arq u i tecto e es cu l tor es p an h ol J os é B en i to d e

Ch u rri gu era, ai n d a q u e o retábu l o s u bs i sten te d en ote al gu m as

m od i fi cações real i z ad as p or u m arti s ta p ortu gu ês , even tu al m en te o

m estre en tal h ad or Fran ci s co M ach ad o, ori gi n ári o d e Li s boa m as com

ofi ci n a aberta n a ci d ad e d e É vora d es d e 1 6 8 4 .

O CLI E N TE

A i n stal ação em Portu gal d os rel i gi os os d e S ão B ru n o ou Cartu xos

s ó ocorreu em 1 5 87, ten d o o p ri m ei ro cen óbi o, e cabeça d esta O rd em

rel i gi os a, s i d o fu n d ad o n a ci d ad e d e É vora, s ed e d e u m i m p ortan te

arcebi s p ad o.

Ap es ar d a i n i ci ati va d a fu n d ação ter s i d o d o i l u stre p rel ad o D .

Teotón i o, fi l h o d e D . J ai m e, 3 . º d u q u e d a Cas a d e B ragan ça e p ri m o

d o rei D . Fi l i p e I I d e E s p an h a, este cen óbi o con tou s em p re com o

ap oi o d os vári os m on arcas d a d i n asti a fi l i p i n a.

Com o recom p en s a d o avu l tad o ap oi o p restad o p or D . Teotón i o d e

B ragan ça, o Pri or G eral ofereceu ao d u q u e d e B ragan ça o ch ão

O retábulo da capela-mor da igreja do Mostei ro daCartuxa de Évora (projecto de José Beni to deChurriguera? )

O RE TÁB U LO

DA CAPE L A-M OR

DA I G RE J A D O M OSTE I RO

DA CARTU XA

D E ÉVORA

Franci sco Lameira. Universidade do Algarve

Page 20: Azulejos e talha dourada em Évora

s agrad o d a i grej a d este con ven to p ara p an teão

d a Cas a bragan ti n a1 .

Com a Restau ração d a i n d ep en d ên ci a em

1 6 4 0 , os d u q u es d e B ragan ça as s u m i ram o

p od er em Portu gal . D u ran te os con fl i tos

m i l i tares q u e s e s egu i ram , a ci d ad e d e É vora

foi ocu p ad a d u ran te al gu m tem p o, d e 2 2 d e

M ai o a 2 5 d e J u n h o d e 1 6 6 3 , p el as trop as

caste l h an as com an d ad as p or D . J oão d e

Áu stri a, fi l h o bastard o d e E l -Rei , q u e acabara

d e s u j e i tar os Catal ães 2 .

G raves estragos ocorreram n a i grej a d o

Con ven to d os Cartu xos , q u e ch egou a s er

ocu p ad a p el o exérci to es p an h ol . E sta

com u n i d ad e con ven tu al , l em bran d o a rem ota

l i gação d este cen óbi o à Cas a d e B ragan ça,

s o l i c i tou a i n terven ção régi a p ara rep arar os

d an os en tão cau s ad os . Com o res p osta E l -Rei

D . Ped ro, q u e D eu s ten h a em gl óri a, tom ou

este Con ven to d ebai xo d a Real p rotecção e

d eu p or Pad roei ro d el e s eu fi l h o D . J oão,

s en d o ai n d a p rín ci p e 3 . N este con texto s e d eve

en ten d er o avan taj ad o ap oi o fi n an cei ro d ad o

p or D . Ped ro I I , n om ead am en te a p arti r d e

1 6 9 4 , p ara cu stear as obras d e recon stru ção d a

i grej a4 . E ste m on arca ch egou m es m o a as s u m i r

ofi ci al m en te o p ad road o d este tem p l o n u m

au to p ú bl i co l avrad o em Li s boa, n o d i a 1 7 d e

Feverei ro d e 1 701 5 . O s eu fi l h o e s u ces s or, D .

J oão V, m ostrou -s e i gu al m en te m u i to gen eros o

com esta com u n i d ad e, d an d o m ai s d e u m a vez

avu l tad as es m ol as p ara a orn am en tação d a

i grej a6 .

Ap es ar d e terem votos d e cl au s u ra, as

com u n i d ad es cartu xas m an ti n h am rel ações

en tre el as . Aq u an d o d a fu n d ação d a Cartu xa

d e É vora, os p ri m ei ros rel i gi os os vi eram d a

Cartu xa d e S cal a D ei d e Tarragon a. E sta

p roxi m i d ad e p os s i b i l i tou i gu al m en te o

estre i tam en to d e rel ações artísti cas . Vítor

S errão ap on ta d oi s exem p l os con cretos : a

d es p es a efectu ad a p el a com u n i d ad e Cartu xa

d e É vora, n o d i a 1 4 d e O u tu bro d e 1 5 8 9 , n o

val or d e 7. 0 0 0 $ 0 0 0 réi s com a i m agem d e

Cri sto Cru ci fi cad o em vu l to p erfe i to

p roven i en te d e M ad ri d e, em 1 5 91 , com a

i m agem d o E cce H om o q u e vei o d e M ad ri d

p ara a Cartu xa7.

A I G RE J A CO N VE N TU AL

Ap ós a fu n d ação em 1 5 87, a con stru ção d o

M ostei ro d e N os s a S en h ora d e S cal a Coel i d e

É vora, i n cl u i n d o a i grej a, s ó fi cou con cl u íd a

em 1 6 2 5 , an o em q u e ofi ci al m en te foram

d ad as p or en cerrad as as obras 8 .

U m a n ova cam p an h a foi p rom ovi d a n os

fi n ai s d o s écu l o XVI I , ten d o p or obj ecti vo

rep arar este tem p l o d o estad o d e d estru i ção

p rovocad o p el a ocu p ação d o exérci to

es p an h ol , n u m a cam p an h a m i l i tar ocorri d a em

M ai o e J u n h o d e 1 6 6 3 e d o vi o l en to i n cên d i o

q u e s e s egu i u . D e real çar q u e as obras d e

recon stru ção d ecorreram n os an os d e 1 6 9 5 ,

1 6 9 6 e 1 6 97, ten d o-s e gasto el evad as q u an ti as .

N esta i n terven ção real ça-s e o p ap el as s u m i d o

p el o m estre p ed rei ro M an u el J oão Pen al vo 9 .

Page 21: Azulejos e talha dourada em Évora

23

n ovo aj u ste n otari al 1 2 d esta vez com B ern ard o

Lu ís , u m d os s u s p ei tos atrás referi d os . N esta

ú l ti m a es cri tu ra, o m estre d ou rad or

com p rom eteu -s e a traz er ci n co p es s oas cad a

d i a efecti vam en te até fi n al e con cl u s ão d a d i ta

U m a vez con cl u íd a a recon stru ção d a i grej a,

torn ava-s e n eces s ári o m an d á-l a p rover d e

n ovos eq u i p am en tos l i tú rgi cos , n om ead am en te

retábu l os e cad ei rai s .

A FE I TU RA D O RE TÁB U LO D A CAPE LA -M O R

D A I G RE J A

Ap es ar d e o Pad re An tón i o

Fran co referi r q u e o retábu l o

p ri n ci p al fo i fe i to ap ós a

con cl u s ão d as obras d a i grej a

(acabou-se a igreja e se lhe fez

o retábulo ) 1 0 , n ão n os i n d i ca a

d ata p reci s a. A d ocu m en tação

rem an es cen te s om en te é

es cl areced ora em rel ação ao

d ou ram en to d o retábu l o. U m

p ri m ei ro con trato n otari al fo i

aj u stad o n o d i a 31 d e M arço d e

1 72 9 en tre o Pri or Frei I n áci o

d e S ão J os é e o m estre

d ou rad or eboren s e Fi l i p e d e

S an ti ago N eves 1 1 . Aten d en d o a

q u e este p rofi s s i on al n ão

acei tou q u e, ap ós a con cl u s ão

d o d ou ram en to, a s u a

i n terven ção fos s e vi stori ad a p or

q u atro col egas s eu s d e É vora,

n om ead am en te B ern ard o Lu ís ,

Fran ci s co Ferrei ra, M an u el d a

M ai a e J os é Correi a p orq u e os

d á p or s u s p ei tos , os cartu xos

real i z aram , d oi s d i as d ep oi s ,

Retábulo da capela-mor do Convento da Cartuxa. Foto Artur Goulart

Page 22: Azulejos e talha dourada em Évora

obra, o q u e d en ota a u rgên ci a em ap ron tar o

d ou ram en to, p oi s o en tal h e d o retábu l o j á

ti n h a s i d o con cl u íd o h á tri n ta an os 1 3 , com o

verem os d e s egu i d a.

E m rel ação ao ri s co e ao en tal h e d o

retábu l o n ão tem os con h eci m en to d e n en h u m

d ad o d ocu m en tal con creto.

Com ecem os p el o ri s co, é p rovável q u e,

ai n d a n o an o d e 1 6 97, q u an d o as obras d os

p ed rei ros estavam em vi as d e con cl u s ão, a

com u n i d ad e Cartu xa ti ves s e s ol i ci tad o vári os

p roj ectos p el o m en os a três arti s tas d i feren tes ,

com o en tão era costu m e. N atu ral m en te

en com en d aram ri s cos a m estres eboren s es e a

arti s tas s ed ead os n a ci d ad e d e Li s boa,

p ri n ci p al cen tro artísti co p ortu gu ês .

Pos s i vel m en te terão p ed i d o tam bém aos

res p on s ávei s d a com u n i d ad e Cartu xa d e

M ad ri d , d an d o con ti n u i d ad e às estre i tas

rel ações exi sten tes en tre am bas , q u e l h es

arran j as s em u m ri s co d a au tori a d e u m arti s ta

p resti gi ad o n a cap i tal es p an h ol a. A p arti r d o

m om en to em q u e os res p on s ávei s d a

com u n i d ad e Cartu xa d e É vora esti veram n a

p os s e d os ri s cos s ol i c i tad os , reu n i ram -s e e

es col h eram o exem p l ar d a s u a p referên ci a.

As s i m s en d o, é p os s ível q u e a s u a op ção

ti ves s e recaíd o n o p roj ecto ori u n d o d e

E s p an h a, p rovavel m en te d a au tori a d o fam os o

arq u i tecto e es cu l tor J os é B en i to Ch u rri gu era

(1 6 6 5 -1 72 5 ) , ai n d a q u e al gu n s el em en tos

ti ves s em s i d o ad aptad os às n eces s i d ad es

l i tú rgi cas p ortu gu es as . D es con h ecem os a

i d en ti d ad e d o res p on s ável p or estas al terações .

Tan to p od e ter s i d o u m rel i gi os o cartu xo, p oi s

al gu n s ti n h am form ação artísti ca1 4 , com o o

p róp ri o m estre q u e as s u m i u a execu ção d o

en tal h e d o retábu l o. O p roj ecto em q u estão

ap res en ta i n ú m eras s em el h an ças com p os i ti vas

com o n otável retábu l o d a cap el a-m or d a i grej a

d o Con ven to d e S an to E stêvão em S al am an ca1 5 ,

obra m áxi m a d aq u el e arti s ta es p an h ol ,

en tal h ad o en tre 1 6 9 2 e 1 6 9 41 6 .

Por s u a vez a execu ção d o en tal h e esteve

p os s i vel m en te a con cu rs o, d es con h ecen d o-s e

q u ai s foram as ofi ci n as d e en tal h e, s ed ead as

ou n ão n a ci d ad e d e É vora, q u e p arti ci p aram

n a arrem atação d a obra. É p rovável q u e o

referi d o con cu rs o ti ves s e s i d o gan h o p el o

m estre en tal h ad or Fran ci s co M ach ad o,

p rofi s s i on al ori u n d o d e Li s boa m as

estabel eci d o n a ci d ad e d e É vora, p el o m en os

d es d e 1 6 8 4 , p ri m ei ro n a Ru a d o Rai m u n d o,

d ep oi s n o Páti o d os Con d es d e B asto e m ai s

tard e n a Ru a d o Al con ch el . E ste m estre d eti n h a

u m a d as ofi ci n as d e en tal h e d e m ad ei ra m ai s

i m p ortan tes n este bi s p ad o 1 7. O s s eu s

con corren tes m ai s afam ad os eram os m estres

Fran ci s co d a S i l va1 8 , tam bém ori gi n ári o d e

Li s boa e i gu al m en te estabel eci d o em É vora e o

m estre I n áci o Carrei ra1 9 . Com o even tu ai s

con corren tes com m en or categori a, tod os el es

com ofi ci n a em É vora, referi m os os m estres

An tón i o d e O l i vei ra2 0 , M an u el M orei ra2 1 ,

D om i n gos G om es Aran h a2 2 e I n áci o d e Fari a2 3 .

O aj u ste d o en tal h e d o retábu l o p ri n ci p al d a

Page 23: Azulejos e talha dourada em Évora

25

s écu l o XVI I I , n ão s ó n a ci d ad e d e É vora m as

tam bém em vári as l ocal i d ad es al en tej an as . A

atri bu i ção d o retábu l o d a cap el a-m or d a i grej a

d o Con ven to d a Cartu xa a este p rofi s s i on al

rem on ta aos fi n ai s d o s écu l o XI X, d even d o-s e

ao i l u stre h i stori ad or eboren s e: Cu n h a

i grej a d o M ostei ro d a Cartu xa d eve ter s i d o

as s u m i d o ai n d a n o an o d e 1 6 97, ocorren d o a

con cl u s ão d a obra e o as s en tam en to n a p ared e

teste i ra d a cap el a-m or n os m es es d o verão d e

1 6 9 8 . E m Agosto d este an o j á o m estre

Fran ci s co M ach ad o estava l i vre, as s u m i n d o a

execu ção d o retábu l o d e S ão

Al berto, exem p l ar ai n d a

rem an es cen te n u m a cap el a

l ateral d a i grej a d o Con ven to d e

N os s a S en h ora d o Carm o d e

É vora2 4 . E m D ez em bro d o an o

s egu i n te, este m estre con tratava

com o Arcebi s p o d e É vora, D .

Frei Lu ís d a S i l va, o retábu l o d e

N os s a s en h ora d o An j o p ara a

i grej a d a S é Cated ral 2 5 ,

exem p l ar ai n d a s u bs i sten te. Por

s u a vez , em Abri l d e 1 701 ,

aj u stava com o referi d o

Arcebi s p o o en tal h e d o retábu l o

d a cap el a-m or d a i grej a m atri z

d e S an to An tão d e É vora, d e

acord o com o ri s co q u e

ap res en tou 2 6 . D e real çar q u e

este exem p l ar d en ota al gu m as

i n fl u ên ci as d o retábu l o

p ri n ci p al d a i grej a d o Con ven to

d a Cartu xa2 7.

E xcl u ím os d esta an ál i s e o

m estre en tal h ad or M an u el d e

Abreu d o Ó , cu j a ofi ci n a s e

afi rm ou n o s egu n d o terço n o

Retábulo da capela-mor de Santo Estêvão, Beni to Churriguera, 1 692 . Foto Zarateman

Page 24: Azulejos e talha dourada em Évora

Ri vara2 8 . E sta atri bu i ção foi -s e m an ten d o,

ten d o s i d o ad optad a s u ces s i vam en te p or Tú l i o

E s p an ca2 9 , Robert S m i th 3 0 , I l íd i o S al te i ro 3 1 ,

J os é Fern an d es Perei ra3 2 , M arcos H i l l 3 3 ,

Fran ci s co Lam ei ra3 4 e Vítor S errão 3 5 . O s d ad os

actu al m en te exi sten tes p erm i tem -n os afi rm ar

com s egu ran ça q u e o m estre M an u el d e Abreu

d o Ó n ão p od e ter s i d o o res p on s ável p el o

en tal h e d o retábu l o p ri n ci p al d a i grej a d o

Con ven to d a Cartu xa, p oi s s ó d ei xou o

Al garve, con cretam en te a ci d ad e d e Tavi ra, em

1 724 , en tão com vi n te e ci n co an os d e i d ad e,

ten d o i d o trabal h ar com o can tei ro n a

con stru ção d a n ova cap el a-m or d a S é d e

É vora3 6 .

D e s al i en tar q u e recen tem en te Cel s o

M an gu ci , n o s eu arti go s obre os m estres

M an u el e S ebasti ão Abreu d o Ó , afi rm a d e

form a p ers p i caz s er muito pouco provável a

sua participação no retábulo da capela-mor

do Conven to da Cartuxa 3 7. Acres ce referi r q u e,

d es d e 1 71 8 , n a ci d ad e d e É vora com eçavam a

s er ap l i cad os os p ri m ei ros exem p l ares d e u m

n ovo form u l ári o artísti co 3 8 , cu j a i n terven ção

p i on ei ra p arece ter s i d o as s u m i d a p or u m

m estre en tal h ad or ori gi n ári o d a ci d ad e d e

Li s boa, M i gu el Rod ri gu es , q u e aj u stou a

fei tu ra d e d u as cap el as d e tal h a m od ern a p ara

a i grej a d o Con ven to d e S an ta Cl ara3 9 .

AN ÁLI S E D O RE TÁB U LO PRI N CI PAL

O retábu l o p ri n ci p al d a i grej a d o M ostei ro

d a Cartu xa d e É vora é u m exem p l ar

eu carísti co, d e gran d es d i m en s ões , q u e

p reen ch e a total i d ad e d a p ared e teste i ra d a

cap el a-m or. Ti n h a com o p ri n ci p al u s o ou

fu n ção a exp os i ção s ol en e d o S an tís s i m o

S acram en to n os m om en tos l i tú rgi cos m ai s

re l evan tes , n om ead am en te n os J u bi l eu s . N o

n i ch o d o áti co estari a p rovavel m en te a

rep res en tação es cu l tóri ca d o orago d o tem p l o.

Por s u a vez os n i ch os col aterai s ao s acrári o

s eri am d esti n ad os a i m agen s s ecu n d ári as d e

vu l to p erfe i to .

A s u a p l an ta é em p ers p ecti va côn cava,

ap res en tan d o con tu d o u m a s ol u ção ím p ar, n ão

s ó em Portu gal m as tam bém em E s p an h a4 0 , n a

m ed i d a em q u e os el em en tos arq u i tectón i cos

u s ad os (d oi s p ares d e col u n as e u m p ar d e

p i l astras ) s u rgem em d i feren tes p l an os :

en q u an to q u e os d oi s exteri ores estão

i n terl i gad os , o tercei ro, m ai s recu ad o, está

l i gei ram en te afastad o d os restan tes ,

p rop orci on an d o u m a z on a s om bri a.

O em bas am en to ap res en ta d u p l o regi sto ,

p rovavel m en te com p rop orções d i feren tes d o

p roj ecto es p an h ol 41 . N o s otoban co s u rgem

p ed estai s d e p ed rari a com em bu ti d os d e vári as

cores , m od a m u i to em voga n a ci d ad e d e

Li s boa. Por s u a vez n o ban co s obres s aem d oi s

p ares d e m ís u l as , orn am en tad as com

exu beran te fol h agem , q u e s u p ortam as col u n as

tors as d o corp o d o retábu l o. Ao cen tro, as s en te

n a ban q u eta e com o tal n u m regi sto u m p ou co

i n feri or ao d o ban co, res u l tad o d a al teração

p rop osta p el o m estre p ortu gu ês , s u rge u m

Page 25: Azulejos e talha dourada em Évora

27

An tão, aj u stad o p el o m estre en tal h ad or

Fran ci s co M ach ad o, n o d i a 1 d e Abri l d e 1 701 ,

com o j á referi m os an teri orm en te.

Retom an d o a an ál i s e d o retábu l o p ri n ci p al

d a i grej a d o Con ven to d a Cartu xa, o

en tabl am en to restri n ge-s e aos el em en tos

arq u i tectón i cos , acom p an h an d o a p l an ta d o

retábu l o.

Fi n al m en te o áti co tam bém n ão s e en q u ad ra

n as n orm as p ortu gu es as , ten d o em con ta a

i m p ortân ci a atri bu íd a ao n i ch o cen tral , q u e d á

con ti n u i d ad e ao s acrári o , e ao facto d e s er

d el i m i tad o p or d oi s p ares d e col u n as tors as em

p ers p ecti va côn cava. D e real çar a i m p ortân ci a

d as d u as arq u i vol tas p l en as q u e d el i m i tam o

retábu l o, s en d o m ai s acen tu ad a a q u e rem ata

as col u n as d as i l h argas . Am bas as p i l astras s ão

cortad as tran s vers al m en te p or q u atro ad u el as 4 4

e p or u m a carte l a cen tral on d e fi gu ram as

i n s ígn i as d os Cartu xos . N as i l h argas h á u rn as

q u e rem atam as col u n as cen trai s 4 5 .

s acrári o m on u m en tal . E ste tem d oi s corp os e

ap res en ta com o es p eci fi c i d ad e com p os i ti va o

facto d e o fron ti s p íci o d o corp o i n feri or s er

d el i m i tad o p or d oi s p ares d e col u n as tors as

em p ers p ecti va côn cava, en q u an to q u e os

q u arte l ões 4 2 d o s egu n d o corp o s ão em

p ers p ecti va con vexa. M erecem tam bém u m a

referên ci a p arti cu l ar os d oi s n i ch os q u e

l ad ei am p arte d o referi d o s acrári o . Am bos s ão

em ol d u rad os p or col u n as tors as e arcos

s al om ón i cos con cên tri cos , s en d o esta ú l ti m a

s ol u ção excl u s i va d a i d en ti d ad e p ortu gu es a.

S ão o res u l tad o d e m ai s u m a i n terven ção d o

p rofi s s i on al res p on s ável p el o en tal h e. D e

an otar q u e a col ocação d estes n i ch os ao n ível

d o ban co i n terfere n a l e i tu ra d o s acrári o .

O s el em en tos arq u i tectón i cos u s ad os d e

form a m agi stral , n om ead am en te as col u n as

tors as com s ete es p i ras total m en te revesti d as

p or cach os d e u vas e p arras , en q u ad ram o

cam ari m cen tral . E ste é p reen ch i d o p or u m

m od esto tron o p i ram i d al em d egrau s , d e m od o

a q u e s e p erceba a p rofu n d i d ad e d o cam ari m .

A s u bord i n ação d este ú l ti m o ao corp o d o

retábu l o ad q u i re u m a exp res s ão q u e n ão é

m u i to freq u en te em Portu gal 4 3 , s en d o m ai s

vu l gar em E s p an h a.

Regi stam os ai n d a u m ou tro cas o p on tu al

d esta s ol u ção, q u e cu ri os am en te ocorre

tam bém em É vora, m as j á com o res u l tad o d a

i n fl u ên ci a d o retábu l o d a Cartu xa. Trata-s e d e

u m exem p l ar d e m en or q u al i d ad e artísti ca, o

d a cap el a-m or d a i grej a m atri z d e S an to

Page 26: Azulejos e talha dourada em Évora

1 Tú l i o E S PAN CA, Inventário Artístico de Portugal. VI I .

Ci d ad e e Con cel h o, Li sboa, 1 9 6 6 , p.

2 Pad re An tón i o FRAN CO, Évora Ilustrada , Évora, 1 9 45 ,

pp. 1 8 6 a 1 9 0.

3 B i bl i oteca Pú bl i ca d e Évora, Li vro d a Reparti ção d as

H erd ad es e ou tras n otíci as n ecessári as para bem d este

conven to d a Cartu xa d e N ossa S en h ora d e S cal a Coel i , fl s .

3 5 .

4 O Pad re An tón i o FRAN CO especi fi ca i n cl u s i vam en te as

parcel as d a aj u d a régi a: n a pri m ei ra oi to m i l cru zad os, n a

segu n d a d oze m i l cru zad os e fi n al m en te m ai s sei s m i l

cru zad os. Ver op. ci t. , p. 3 5 8 .

5 Tú l i o E S PAN CA, Inventário Artístico de Portugal. VII .

Concelho de Évora . L i sboa: 1 9 6 6 , p.

6 B i bl i oteca Pú bl i ca d e Évora, Livro da Repartição das

Herdades e outras notícias necessárias para bem deste

convento da Cartuxa de Nossa Senhora de Scala Coeli , fl s .

3 5 e 3 5 v. º: “ E l Rei D . J oão V, q u e D eu s ten h a em gl óri a,

d eu por u m a con su l ta ci n co m i l cru zad os q u e se cobraram

n o Al m oxari fad o d e Évoram on te e n o an o d e 1 72 9 d eu

ou tros ci n co m i l cru zad os n a ocasi ão d as passagen s d as

Pri n cesas para Portu gal e Castel a q u e tod os se apl i caram às

obras d a i grej a, d ou rad os e pi n tu ra e com o ai n d a fal tava o

d ou rad o d os retábu l os, o N osso Pad re Pri or fez sú pl i ca ao

m esm o S en h or D . J oão V, q u e l ogo segu n d o a su a

costu m ad a pi ed ad e e gran d eza d eu ou tros d oi s m i l

cru zad os com q u e se acabou o d ou rad o” .

7 “ U m d esen h o d e Fern ão G om es, para o M ostei ro d a

S cal a Coel i d e Évora” , Monumentos . Revi sta S em estral d e

E d i fíci os e M on u m en tos, n . º 1 0, Li sboa, 1 9 9 9 , pp. 3 4 e 3 5 .

8 M i gu el S OROM E N H O, “As possívei s fon tes ti pol ógi cas

d a fach ad a d a I grej a” , Monumentos . Revi sta S em estral d e

E d i fíci os e M on u m en tos, n . º 1 0, Li sboa, 1 9 9 9 , p. 1 0.

9 I d em , I bi d em , p. 1 0 e Vítor S E RRÃO, “ U m d esen h o d e

Fern ão G om es, para o M ostei ro d a S cal a Coel i d e Évora” ,

M on u m en tos. Revi sta S em estral d e E d i fíci os e M on u m en tos,

n . º 1 0, p. 37.

1 0 Op ci t. , p. 3 5 8 .

11 Tú l i o E S PAN CA, “ N ova M i scel ân ea” , A Cidade de Évora .

B ol eti m d e Cu l tu ra d a Câm ara M u n i ci pal , n . º 67-6 8 , Évora,

1 9 8 4-1 9 8 5 , p. 1 1 6 e ARQU I VO D I STRI TAL D E ÉVORA,

Cartóri o N otari al d e Évora, Li vro d e N otas n . º 1 2 61 , fl s . 7 e

v. º .

1 2 Tú l i o E S PAN CA, “ N ova M i scel ân ea” , A Ci d ad e d e

Évora, n . º 67-6 8 , p. 1 1 6 e Arq u i vo D i stri tal d e Évora,

Cartóri o N otari al d e Évora, Li vro d e N otas n . º 1 2 61 , fl s . 8 e

v. º .

1 3 E n tre o en tal h e d e u m retábu l o e o seu d ou ram en to era

freq u en te esperar al gu n s an os, por vezes d u as e três

d écad as, poi s o d ou ram en to era tão d i spen d i oso com o o

en tal h e.

1 4 A títu l o d e exem pl o refere-se q u e, em 1 6 2 5 , o Pad re

Tom é, Pri or d o Conven to d a Cartu xa d e Évora, fez u m ri sco

para u m retábu l o d a capel a d e N ossa S en h ora d o Rosári o

d esti n ad o à i grej a d o Conven to d e S ão D om i n gos d e Évora

(Tú l i o E span ca, “ N ova M i scel ân ea” , A Ci d ad e d e Évora, n . º

67-6 8 , p. 1 07) .

1 5 D estacam os a d i n am i zação d a pl an ta, q u er d o retábu l o,

q u er d o sacrári o, a su bord i n ação d o cam ari m ao

en tabl am en to, al gu m as sol u ções d o áti co, n om ead am en te a

arq u i vol ta q u e d el i m i ta o con j u n to, u m espaço cen tral

exposi ti vo d ed i cad o à represen tação i con ográfi ca d o orago,

l ad ead o por pl i n tos ou u rn as e q u e rem atam as col u n as d o

corpo.

1 6 Al fon so ROD RÍG U E Z CE B ALLOS , “ E l retabl o barroco en

S al am an ca: m ateri al es , form as, ti pol ogías” , IMAFRONTE,

n . ºs 3 -4-5 , 1 9 87-8 8 -8 9 , pp. 2 3 9 e 242 .

NOTAS

Page 27: Azulejos e talha dourada em Évora

29

28 “ Obras d e tal h a em Évora” , Noites de Évora . M i scel l an ea

poéti ca, rom ân ti ca e d e vari a h i stori a, Évora, 1 8 97, p. 8 3

29 Évora, Évora, 1 9 61 , p. 6 0 e Inventário Artístico de

Portugal. VII . Concelho de Évora . L i sboa: 1 9 6 6 , p. 31 0.

Cu ri osam en te n a fase fi n al d a su a vi d a j á n ão m an tém a

atri bu i ção e d i z: d escon h ecem os os n om es d os arti stas d o

n otável retábu l o (“ N ova M i scel ân ea” , A Cidade de Évora ,

1 9 8 4-1 9 8 5 , n . º 67-6 8 , p. 1 2 6 ) .

30 A Talha em Portugal, L i sboa, 1 9 6 3 , p. 74.

31 “ Ó, M an u el d e Abreu e S ebasti ão d e Abreu ” , Dicionário

da Arte Barroca em Portugal, L i sboa, 1 9 8 9 , p. 3 24.

32 “ O barroco d o sécu l o XVI I : tran s i ção e m u d an ça. A

tal h a” , História da Arte Portuguesa , I I I vol u m e, Li sboa,

1 9 9 5 , p. 2 3 .

33 A Talha Barroca em Évora . Séculos XVII-XVIII , Évora,

1 9 9 8 , pp. 31 a 5 3 .

34 Fran ci sco Lam ei ra, “A Tal h a” , Monumentos . Revi sta

S em estral d e E d i fíci os e M on u m en tos, n . º 1 0, Li sboa, 1 9 9 9 ,

pp. 27 e 2 8 . E m 2 00 4 j á recon h eci a q u e esta atri bu i ção era

u m eq u ívoco (“ Con tri bu i ções para o estu d o d o retábu l o

barroco n o Al en tej o: a ofi ci n a d o i n s i gn e escu l tor M an u el

d e Abreu d o Ó” , Promonoria . Revi sta d o D epartam en to d e

H i stóri a, Arq u eol i ga e Patri m ón i o d a U n i vers i d ad e d o

Al garve, Faro, 2 00 4, p. 2 87)

35 História da Arte em Portugal. O Barroco , L i sboa, 2 003 ,

p. 2 0 4.

36 Artu r G ou l art d e M el o B orges, “As obras d a n ova

Capel a-m or d a S é – escol a d e arti stas” , Eborensia , n . º 3 5 ,

p.

37 “A Tal h a m ai s m od ern a. O percu rso artísti co d e M an u el

e S ebasti ão Abreu d o Ó, em Évora” , Cenáculo. Boletim on

line do Museu de Évora (n . º 4) , S etem bro d e 2 01 0, p. 4 .

17 Cfr. Cel so M AN G U CCI , “ Fran ci sco M ach ad o e a ofi ci n a

d e retábu l os d o arcebi spo d e Évora” , Cenáculo . B ol eti m

on l i n e d o M u seu d e Évora, n . º 2 , 2 007.

1 8 Os d ad os d ocu m en tai s con h eci d os s i tu am -n o en tre

1 6 9 4 e 1 746 , ten d o fei to retábu l os para d i versas

l ocal i d ad es al en tej an as, a saber: B ej a, E strem oz, Évora,

Ferrei ra, M on forte, M ou ra, S ão M arcos d o Cam po n o term o

d e M on saraz e Vi m i ei ro.

1 9 Os d ad os d ocu m en tai s con h eci d os s i tu am -n o en tre

1 6 9 2 e 1 71 0, an o em q u e fal eceu e foi sepu l tad o em Évora.

20 Os d ad os d ocu m en tai s con h eci d os s i tu am -n o en tre 1 674

e 1 701 , an o em q u e fal eceu e foi sepu l tad o em Évora.

21 Os d ad os d ocu m en tai s con h eci d os d i zem respei to a

1 6 9 2 e 1 6 9 3 . E m 1 6 9 2 resi d i a em Portal egre e n o an o

segu i n te em Évora.

22 A ú n i ca obra con h eci d a d ata d e 1 703 .

23 Os d ad os d ocu m en tai s con h eci d os s i tu am -n o en tre os

fi n ai s d o sécu l o XVI I e 1 71 3 .

24 M i gu el Án gel VALLE CI LLO TE OD ORO, “ Cen tros

Artísti cos y E sbozo d e Arti stas en el Al to-Al en tej o” ,

Callipole , n . º 3 /4, Vi l a Vi çosa, 1 9 9 5 -1 9 9 6 , p. 1 51 e

ARQU I VO D I STRI TAL D E ÉVORA, Cartóri o N otari al d e

Évora, Li vro d e N otas n . º 9 02 , fl . 2 5 .

25 I d em , Retablística Alto Alentejana (Elvas, Villacisiosa y

Olivenza) en los siglos XVII-XVIII , M éri d a, 1 9 9 6 , p. 1 51 .

26 I d em , I bi d em , p. 1 51 e ARQU I VO D I STRI TAL D E

ÉVORA, Cartóri o N otari al d e Évora, Li vro d e N otas n . º

1 02 6 , fl . 3 2 .

27 Para al ém d a su bord i n ação d o cam ari m ao corpo d o

retábu l o, ou tra i n fl u ên ci a é o facto d e apresen tar u m

espaço d esti n ad o a u m a represen tação fi gu rati va n o ei xo

d o áti co.

Page 28: Azulejos e talha dourada em Évora

38 Fran ci sco Lam ei ra e Vítor S errão, “ O retábu l o em

Portu gal : o B arroco Fi n al (1 71 3 -1 746 ) ” , Promontoria .

Revi sta d o D epartam en to d e H i stóri a, Arq u eol ogi a e

Patri m ón i o d a U n i vers i d ad e d o Al garve, Faro, 2 005 , p. 2 87.

39 I n form ação i n éd i ta ced i d a gen ti l m en te pel o D i rector d o

I n sti tu to d e H i stóri a d a Arte d a Facu l d ad e d e Letras d e

Li sboa, Prof. D ou tor Vítor S errão.

40 É possível en con trar al gu m paral el i sm o com o j á

referi d o retábu l o d a capel a-m or d a i grej a d o Conven to d e

S an to E stêvão em S al am an ca, apesar d e este ú l ti m o

exem pl ar ser bastan te m ai s i n teressan te n a m ed i d a em q u e

apresen ta pl an ta m i sta. E m com u m regi sta-se a zon a d e

pen u m bra e con seq u en tem en te d e ten são proporci on ad a

pel os pl an os d i feren tes d as ord en s arq u i tectón i cas. Al fon so

Cebal l os afi rm a a propósi to d o retábu l o d e S al am an ca: " su a

pl an ta es absol u tam en te sem i ci rcu l ar resu el ta com u n a

m estri a pocas vezes al can zad a" (Op. ci t, p. 2 3 9 ) .

41 É i n teressan te con fron tar esta sol u ção com a d o retábu l o

d a capel a-m or d a i grej a d o Conven to d e S an to E stêvão em

S al am an ca.

42 D e an otar a i m portân ci a d os estípi tes n a retabu l ísti ca

espan h ol a q u e J osé d e Ch u rri gu era h abi a em pl ead o

ti m i d am en te en el retabl o d e S an to E steban (Cfr. Al fon so

Cebal l os , Op. ci t. , p. 245 ) .

43 E m Portu gal a sol u ção m ai s gen eral i zad a con si ste n o

u so d e u m cam ari m n os exem pl ares m ai s gran d i osos e n u m

n i ch o cen tral n os exem pl ares m ai s m od estos. E m am bos os

casos assu m em u m a gran d e evi d ên ci a, i n terrom pen d o o

en tabl am en to e d eterm i n an d o a com posi ção d o áti co

através d e arcos sal om ón i cos e/ou arq u i vol tas pl en as e

con cên tri cas. J . J . M arti n G on ál ez perfi l h a esta opi n i ão, n o

en tan to, retom an d o as pal avras d o estu d i oso am eri can o

Robert S m i th , escri tas em 1 9 6 3 , tam bém d i z: “ E n u n a

pri m era fase (retabl o m ayor d e l a cartu j a d e Évora) l a

h orn aci n a q u ed a ci rcu n scri ta a d i ch o cu erpo” “ E l Retabl o

en Portu gal . Afi n i d ad es y d i feren ci as com l os d e E spañ a” ,

Actas d o S i m pósi o As relações artísticas entre Portugal e

Espanha na época dos Descobrimentos . Coi m bra: 1 9 87, p.

2 3 6 . D e facto os pri m ei ros retábu l os com cam ari m e tron o

i n corporad o n o seu i n teri or, ai n d a n a época protobarroca,

j á rom pem o corpo, apon tan d o-se com o exem pl o pi on ei ro

o retábu l o d a capel a-m or d a i grej a m atri z d e Al cáçovas, n a

d i ocese d e Évora, con stru íd o em 1 6 3 8 . U m ou tro m od el o

m en os u su al , tam bém cri ad o n a época protobarroca, u ti l i za

o cam ari m su bord i n ad o ao en tabl am en to, apon tan d o-se

com o exem pl o rel evan te o m on u m en tal retábu l o d a capel a-

m or d a i grej a d o an ti go Conven to d e S ão Fran ci sco d e G oa,

cu j o ri sco é i n d u bi tavel m en te d e u m arti sta portu gu ês, q u e

ad optou u m m od el o pou co vi gen te n a m etrópol e.

44 A i n cl u são d as ad u el as n as arq u i vol tas é m ai s u m a

i n terven ção d o m estre en tal h ad or portu gu ês para respon d er

a u m a n orm a acei te em Portu gal .

45 D e an otar q u e esta sol u ção tam bém ocorre n o rem ate

d as col u n as m ai s recu ad as d o retábu l o d e S an to E stêvão d e

S al am an ca

Page 29: Azulejos e talha dourada em Évora

OS CON TRATOS D E OB RAD E TALH A E M PORTU G AL

N A ÉPOCA B ARROCA

O CON TRATO D E OB RA D E TALH A1

A execu ção d e u m a obra d e tal h a, em prei tad a h abi tu al m en te

on erosa tan to para en com en d ad ores com o para en tal h ad ores, estava

am i ú d e su j ei ta à form a l egal d o con trato d e obra. E ste, cel ebrad o por

u m tabel i ão cred en ci ad o, abran gi a tan to as gran d es en com en d as,

com o eram os retábu l os m ores, com o as m ai s s i n gel as , caso d a obra

d e tal h a com pl em en tar: pú l pi tos, san efas, m ol d u ras, cai xas d e órgãos,

en tre ou tras.

U m con trato d e en com en d a d e obra d e tal h a d i vi d i a-se grosso

m od o em q u atro partes fu n d am en tai s . N a pri m ei ra, o tabel i ão

apon tava a d ata d a escri tu ra, o l ocal d e cel ebração d a m esm a e os

i n terven i en tes presen tes ou au sen tes (caso em q u e a fi gu ra d o

procu rad or teri a d e con star) . N a segu n d a parte era i n d i cad a a obra a

execu tar, o l ocal d e d esti n o, o m on tan te total a ser pago pel a su a

execu ção ao m estre, a form a d e pagam en to e as respecti vas

m od al i d ad es. A tercei ra parte d o con trato d ed i cava-se a certi fi car os

d i rei tos e d everes d e am bas as partes, esti pu l an d o con traparti d as n o

caso d e i n cu m pri m en to d as cl áu su l as d o acord o l egal e

correspon d en tes trâm i tes q u e pod eri am ser acci on ad os em caso d e

fal ta ao acord ad o. A q u arta e ú l ti m a parte, corol ári o d o acord o l egal

en tre os con traen tes, regi stava os n om es e, por vezes, profi ssões e

m orad as d as testem u n h as. O processo con cl u ía-se com o aval d o

tabel i ão d e n otas, tam bém el e testem u n h a e red actor d o acord o q u e

n aq u el e m om en to se fi rm ava.

Os con tratos, req u eri d os e ass i n ad os d i rectam en te pel os

en com en d ad ores e en tal h ad ores, ou pel os seu s procu rad ores,

conven ci on avam u m a séri e d e cl áu su l as q u e teri am d e ser

escru pu l osam en te cu m pri d as por am bas as partes . E sta precau ção

N AS M ALH AS D A LE I : OS CON TRATOS D E OB RA D E TALH AE M PORTU G AL N A ÉPOCA B ARROCA

Sílvia Ferrei ra. Universidade Nova de Li sboa

Page 30: Azulejos e talha dourada em Évora

d eterm i n ad o en com en d ad or e u m m estre

en tal h ad or. E sta, cel ebrad a sem pre n a presen ça

d e u m tabel i ão e d as testem u n h as

arregi m en tad as para o efei to, teri a ass i m força

l egal q u e obri gava am bas as partes ao seu

cu m pri m en to.

U m a d as cl áu su l as pri n ci pai s d estes

con tratos era aq u el a q u e esti pu l ava a form a e as

m od al i d ad es d o pagam en to ao m estre

con tratad o. D e u m m od o geral , os pagam en tos

eram fracci on ad os em três partes : O pri m ei ro

seri a en tregu e n o acto d e ass i n ar a escri tu ra, o

segu n d o n o m ei o d o prazo estabel eci d o para

en trega e assen tam en to d a obra e o tercei ro, n o

fi n al , j á com a obra obra pron ta e col ocad a em

seu l u gar d efi n i ti vo. E sta form a d e pagam en to

sal vagu ard ava a posi ção d o en com en d ad or, q u e

n ão corri a o ri sco d e en tregar a q u an ti a n a su a

total i d ad e, an tes d e ver al gu m resu l tad o d a

en com en d a, para al ém d o facto, n ão

d espi ci en d o n este processo, q u e era a

poss i bi l i d ad e d e gran j ear m ai s tem po para

an gari ar os fu n d os totai s n ecessári os .

Ass i m , a escri tu ra n otari al , el aborad a e

ass i n ad a pel o tabel i ão, por am bas as partes e

pel as testem u n h as, apresen tava-se com o

pri n ci pal obj ecti vo d e m i n i m i zar os ri scos q u e

pod eri am ad vi r d e u m a con tratação efectu ad a

som en te por pal avra. As cl áu su l as l egai s q u e

en cerrava perm i ti am , tan to ao en com en d ad or

com o ao m estre, recorrer peran te a j u sti ça n o

caso d e al gu m d os trâm i tes d o acord o ser

vi ol ad o e ver as su as preten sões serem tom ad as

ti n h a em vi sta, fu n d am en tal m en te, evi tar

“ aci d en tes” q u e pod eri am ocorrer d u ran te o

tem po d e execu ção d a obra.

Cu ri oso n este âm bi to é, sem d ú vi d a, o caso

d e en com en d as fei tas por con gregações

rel i gi osas fem i n i n as, n as q u ai s q u em actu ava

em n om e d as frei ras era, h abi tu al m en te, u m

m em bro m ascu l i n o d a ord em , sem n o en tan to

d i spen sar a ass i n atu ra d as con traen tes n o fi n al

d o d ocu m en to n otari al . O m em bro d o ram o

m ascu l i n o d a ord em actu ava, ass i m , com o

procu rad or d as su as i rm ãs, n ão perd en d o

n u n ca o h ori zon te d e q u e el e seri a u m m ero

represen tan te d a von tad e d as rel i gi osas.

Ou tra s i tu ação i n teressan te, ai n d a n o âm bi to

d a en com en d a d e obra d e tal h a a arti stas d a

capi tal , por parte d e ord en s rel i gi osas q u e

ti n h am as su as casas fora d e Li sboa, era a

cel ebração d e escri tu ra n otari al por m em bros

d essas ord en s a h abi tar n a capi tal . D e form a

sem el h an te, q u an d o as obras se d esti n avam a

i grej as secu l ares, a m esm a acção era am i ú d e

i n ten tad a por pessoas q u e se d esl ocavam à

ci d ad e para, em n om e d os com i ten tes,

proced erem à cel ebração d o con trato. J á n o

q u e se refere aos arti stas , a s i tu ação i nverti a-se,

poi s , o q u e se veri fi cava com m ai or freq u ên ci a

era a d esl ocação pessoal às terras q u e

sol i ci tavam as su as obras, sen d o a procu ração

u m a fi gu ra m ai s rara.

A escri tu ra d a obra d e tal h a era, com o

vi m os, o exped i en te m ai s u ti l i zad o para fi rm ar

u m acord o d e prestação d e servi ços en tre u m

Page 31: Azulejos e talha dourada em Évora

33

os com i ten tes, à m i n gu a d e recu rsos

fi n an cei ros, recorreram a essa form a d e

con tratação, m as n a m ai ori a d os exem pl os por

n ós recon h eci d os, os q u ai s envol vem bastas

vezes m estres con sagrad os, tal n ão foi o caso.

E n tre as cau sas para tal proced i m en to, para

al ém d as aci m a expostas, pod e ai n d a referi r-se

a feroz con corrên ci a exi sten te en tre as

i n ú m eras ofi ci n as d e tal h a q u e povoavam

Li sboa por esses an os. E ssa con corrên ci a

obri gava n atu ral m en te tam bém a q u e

d eterm i n ad as ofi ci n as oferecessem preços m ai s

convi d ati vos aos seu s poten ci ai s cl i en tes. U m

facto i n teressan te n este processo era a

rei n ci d ên ci a n a con tratação d e d eterm i n ad os

arti stas por parte d os en com en d ad ores. Tal

proced i m en to é am i ú d e observável n as

m ú l ti pl as casas d e u m a m esm a Ord em

Rel i gi osa. Qu an d o u m arti sta execu tava obra

d esti n ad a ao conven to ou m ostei ro d e

d eterm i n ad a Ord em , estabel eci a n ão só d e

i m ed i ato con tacto com essa casa, m as, m ai s

rel evan te d o q u e i sso, en trava n o sei o d a

Ord em , abri n d o portas para real i zações fu tu ras,

n ão só n aq u el e cen óbi o específi co, m as em

tod os os ou tros espal h ad os n a su a área d e

i n fl u ên ci a. M u i tos arti stas sed i ad os em Li sboa

an gari avam trabal h o segu n d o esta fórm u l a. Tai s

foram os casos sem pre em bl em áti cos d e M ati as

Rod ri gu es d e Carval h o, q u e trabal h ou

preferen ci al m en te para as i grej as d a Com pan h i a

d e J esu s e para as d as Com en d ad ei ras d a

Ord em d e Avi s , ou d e J osé Rod ri gu es Ram al h o

em con ta pel o acci on am en to d os m ecan i sm os

l egai s , os q u ai s pen al i zari am o fal toso ao

d i sposto n o con trato 2 .

M OD OS D E CON TRATAÇÃO

A d ocu m en tação coeva i n form a-n os q u e u m

d os recu rsos m ai s com u n s u sad os para

con tratar u m m estre en tal h ad or seri a col ocar a

obra a pregão, i sto é, afi xar n a ci d ad e, em l ocal

d esti n ad o ao efei to, a d ecl aração d e q u al a

obra a ser execu tad a. O arti sta q u e

apresen tasse o preço m ai s bai xo para a

real i zação d e tal em prei tad a seri a en tão o

escol h i d o para a real i zar3 . N o en tan to, em bora

ten h am os provas d e q u e este exped i en te d e

con tratação d e profi ss i on ai s en tal h ad ores

vi gorou d u ran te a época em estu d o, sabem os

tam bém q u e a form a m ai s freq u en te n a

con tratação d e m estres d a ci d ad e d e Li sboa, era

a sol i ci tação d i recta. E sta preferên ci a d os

en com en d ad ores pod e j u sti fi car-se, em parte,

pel a n atu reza e fu n ção d a obra d e tal h a. E sta,

d esti n ad a a en gran d ecer e a con feri r

m agn i fi cên ci a aos tem pl os era sem pre exi gi d a

pel os seu s en com en d ad ores execu tad a com a

m áxi m a perfei ção possível . S abem os tam bém

q u e, a m ai or parte d as vezes, estas obras

obed eci am a u m pl an eam en to ri goroso n o q u e

à su a traça ou ao seu m od el o d i z i a respei to.

Por tal , a al eatori ed ad e d a escol h a d e u m

m estre, apen as pel o preço m ai s bai xo prati cad o

por este, n ão parece coad u n ar-se com estes

req u i s i tos . Certam en te q u e casos h ou ve em q u e

Page 32: Azulejos e talha dourada em Évora

q u e trabal h ou para vári as Ord en s Rel i gi osas

com o aq u el a d a S an tíss i m a Tri n d ad e, ou d o

Carm o, en tre ou tras, ou d e J osé An tu n es q u e

en tal h ou para a Ord em M i l i tar d e S . B en to d e

Avi s e para a Ord em d e M al ta d e E strem oz, ou

ai n d a a d e D om i n gos Lopes q u e l aborou n os

conven tos d a Ord em d e S . B ern ard o, ou ai n d a

Fran ci sco M ach ad o, ori u n d o d e Li sboa, m as

sed i ad o em Évora, l ocal on d e trabal h ou

afi n cad am en te para i n ú m eras i grej as d esse

arcebi spad o, m ai ori tari am en te n a época d o

arcebi spo D . Frei Lu ís d a S i l va Tel es, seu

en com en d ad or assíd u o 4. Obvi am en te, n estes

casos, terá s i d o a sati sfação d os cl i en tes com as

provas j á d ad as por estes arti stas q u e os l evari a

a con tratá-l os m ai s d e u m a vez. Poss i vel m en te,

h averi a até u m en ten d i m en to táci to en tre

am bas as partes n o q u e con cern e a possívei s

d escon tos por parte d o arti sta a

en com en d ad ores q u e se fi d el i zassem com a su a

ofi ci n a. N o caso d i verso d as obras d esti n ad as a

i grej as paroq u i ai s fora d e Li sboa, em

l ocal i d ad es m ai s peq u en as e rem otas, a fi gu ra

d o pregão pod eri a col h er m ai or su cesso j u n to

d os en com en d ad ores. I sto j u sti fi ca-se tam bém

pel a poss i bi l i d ad e d e esta cl i en tel a, m ai s

afastad a d a corte, d escon h ecer as obras

em bl em áti cas d e cad a arti sta. N o en tan to,

tam bém n ão n os pod em os esq u ecer q u e, a

parti r d o m om en to em q u e u m a d eterm i n ad a

obra d e u m m estre en tal h ad or con sagrad o se

i m pl an tava em d eterm i n ad a i grej a, a ten d ên ci a

era para q u e os ou tros tem pl os d a regi ão, e

d aq u el as su as vi z i n h as, q u i sessem tam bém

possu i r u m exem pl ar saíd o d a ofi ci n a d e tal

arti sta. Con h eci d os são os casos d e J osé

Rod ri gu es Ram al h o n as obras q u e efectu ou para

a ci d ad e d e B ej a e arred ores ou para a ci d ad e

d e S etú bal e o d e M an u el J oão d a Fon seca q u e

trabal h ou tam bém exau sti vam en te para B ej a.

E n fi m , m ú l ti pl os seri am certam en te os

m ean d ros q u e en form avam tod os estes

com pl exos processos e q u e n ão se resol vem n a

apresen tação d e si tu ações l i n eares; por d etrás

d estas exi sti a u m a am pl a tram a d e red es d e

con h eci m en tos, fi d el i zações à obra d e

d eterm i n ad os arti stas , con d i ções fi n an cei ras

m ai s ou m en os van taj osa, resu m i n d o, u m a

m i ríad e d e si tu ações q u e n ão n os perm i te

ti pi fi car d e form a taxati va u m m od el o exacto d e

con tratação d a obra d e tal h a n o períod o em

cau sa.

D I RE I TOS E OB RI G AÇÕE S D O

E N COM E N D AD OR D E OB RA D E TALH A

Parti n d o d o con trato com as su as prem i ssas

h abi tu ai s e con fi gu rad oras d a obra d e tal h a, os

d i rei tos d os en com en d ad ores pod em ser

resu m i d os n os segu i n tes pon tos: esti pu l ar u m

prazo para a en trega d a obra acabad a e

assen tad a n o l ocal com bi n ad o; receber os

reci bos d a m ão d o arti sta, com provan d o os

pagam en tos q u e peri od i cam en te teri a d e fazer;

cobrar u m a q u an ti a d eterm i n ad a por cad a d i a

d e atraso n a en trega d a obra segu n d o o q u e foi

con tratad o; ser ressarci d o com os ben s d o

Page 33: Azulejos e talha dourada em Évora

35

arti sta n o caso d e h aver i n cu m pri m en to d o

con trato por parte d este; req u erer a pri são

d o arti sta n o caso em q u e este n ão

cu m pri sse as cl áu su l as d o con trato, d epoi s

d e esgotad os os exped i en tes d e

en ten d i m en to; exi gi r a apresen tação d e

fi ad or por parte d o arti sta, a fi m d e q u e

este se respon sabi l i zasse pel o

cu m pri m en to d as obri gações d o m estre -

tal com o se esti pu l a por exem pl o n o

con trato d e obra d e tal h a en tre a

i rm an d ad e d e S an ta Lu zi a, sed i ad a n o

col égi o d e S an to An tão-o-N ovo, e o m estre

en tal h ad or An tón i o d a Costa5 , receber a

obra q u e en com en d ou n o prazo d escri to

n o con trato; fazer-se represen tar por

procu rad or ou pel o j u i z d o l u gar on d e a

obra foi con tratad a; n om ear ou tro arti sta

para fi n al i zar a obra, n o caso d e

i n cu m pri m en to por parte d o arti sta

con tratad o, fi can d o os en cargos a expen sas

d este; fi car com as peças j á en tal h ad as, em

caso d e i n cu m pri m en to por parte d o

m estre; sol i ci tar a aval i ação d a obra n o

fi n al .

Qu an to às obri gações d o

en com en d ad or estas eram gen eri cam en te

as segu i n tes: respei tar i n tei ram en te as

cl áu su l as d o con trato e n ão u sar d e

n en h u m exped i en te para as al terar; pagar

ao m estre a pri m ei ra parcel a d o preço total

d a obra n o m om en to d a ass i n atu ra d o

con trato; ass i n ar, a par d o arti sta, a pl an ta

Retábulo da capela-mor de Santo Antão, Franci sco Machado, 1 700. Foto Artur Goulart.

Page 34: Azulejos e talha dourada em Évora

Ál vares e a i rm an d ad e d o S an tíss i m o

S acram en to d a i grej a d e S an ta M ari a d e Lou res,

a fi m d e este ú l ti m o revesti r d e tal h a o arco

tri u n fal d a capel a-m or d a m esm a i grej a, refere:

“ E su posto n o d i to rascu n h o m ostre n os

segu i n tes d u as Agu i as em l u gar d el l as m etera

el l e m estre d ou s An j os q u e m ostrem tod a a

u al en ti a posi u el ” 9 e o segu n d o en tre o

arcebi spo d e Évora, D . S i m ão d a G am a e o

m estre en tal h ad or Fran ci sco d a S i l va, a fi m d e

este execu tar o retábu l o-m or e d oi s col aterai s

d a i grej a d a M i seri córd i a d a m esm a ci d ad e:

“ (… ) e ass i m m ai s sera obri gad o el l e d i to

Fran ci sco d a S yl va a fazer/ d u as col u n as em

cad a cappel l a d as tai s , al em d e d u as fi gu ras

q u e h a d e/ fi car n os l ad os d a Cappel l a m ai or,

d e gran d eza q u e a obra o pri m i ti r, sem /

em bargo d e as tai s col u n as n ão estarem n o

ri sco” 1 0; ass i n ar, a par d o en com en d ad or, a

pl an ta d a obra apresen tad a em con trato;

execu tar a obra com o m áxi m o ri gor e

perfei ção, u san d o m ad ei ras sãs, n orm al m en te

escol h i d as pel o en com en d ad or; n ão exced er o

preço aj u stad o, sem o acord o d o

en com en d ad or; forn ecer as m ad ei ras, os

ofi ci ai s e os m ateri ai s d e fi xação d o retábu l o

(ferragen s e pregos) ; en tregar obra aj u stad a ao

preço; passar reci bos d as q u an ti as q u e for

receben d o n o d ecu rso d a obra; em en d ar à su a

cu sta as fal tas q u e n a obra o(s ) aval i ad or (es)

en con trarem ; pagar m u l ta em caso d e atraso n a

en trega d a obra; apresen tar os seu s ben s

m óvei s e i m óvei s com o garan ti a d o

d a obra apresen tad a n o m om en to d o con trato;

cu m pri r n os prazos estabel eci d os os

pagam en tos aj u stad os; pagar o tran sporte d a

obra até ao seu l ocal d e col ocação 6 , ou pel o

m en os d i vi d i r esta d espesa com o arti sta,

q u an d o a obra era execu tad a para fora d e

Li sboa7; pagar ao m estre os cu stos i n eren tes às

d esl ocações ao l ocal d a obra, com o foi o caso

d o su ced i d o com a obra d e tal h a en com en d ad a

pel a i rm an d ad e d e N . ª S . ª d o Rosári o d a i grej a

d e S an ta M ari a d a Fei ra, em B ej a, ao m estre

en tal h ad or l i sboeta M an u el J oão d a Fon seca:

“ (. . . ) E estan d o d e tod o perfei ta E acabad a a

h j ra asen tar n a d i tta cappel a fazen d o por con ta

e Ri sco d a d i ta j rm an d ad e os gastos e d espezas

q u e fi zer tod a a d i tta obra com os d e su a pesoa

d esta ci d ad e ath e a d e B ej a (. . . ) ” 8 .

O E STATU TO D O M E STRE E N TALH AD OR:

OB RI G AÇÕE S E D I RE I TOS RE LATI VAM E N TE

AO E N COM E N D AD OR

As obri gações d o m estre en tal h ad or eram

gen eri cam en te as segu i n tes: respei tar tod as as

cl áu su l as d o con trato e n ão u sar d e n en h u m

exped i en te para as al terar em seu ben efíci o;

en tregar a obra pron ta e assen tad a n o l ocal

escol h i d o, n a d ata com bi n ad a; cu m pri r o

“ ri sco” el ei to para a obra, sal vo i n d i cação em

con trári o d ad a pel o en com en d ad or, bem com o

as especi fi cações à m esm a, esti pu l ad as em

con trato, com o exem pl i fi cam os segu i n tes

trech os d os aj u stes d e obra: O pri m ei ro,

cel ebrad o en tre o m estre en tal h ad or M an u el

Page 35: Azulejos e talha dourada em Évora

37

m ed i d as para a obra, para a en tal h ar ou para

su pervi s i on ar a su a m on tagem ; n o caso d o seu

fal eci m en to, a su a fam íl i a teri a d i rei to a receber

os m on tan tes d evi d os pel o trabal h o

efecti vam en te efectu ad o 1 1 .

O E STATU TO D OS FI AD ORE S

U m a fi gu ra rel evan te e tam bém i n terven i en te

n o con trato d e obra, para al ém d o

en com en d ad or, d o m estre, d o tabel i ão d e n otas

e d as testem u n h as, era o fi ad or apresen tad o

pel o m estre execu tan te d a obra. Aos fi ad ores

cabi a-l h es a respon sabi l i zação pel o trabal h o

q u e o arti sta i ri a execu tar, arcan d o com as

con seq u ên ci as l egai s n o caso d e

i n cu m pri m en to por parte d o m esm o. U m

exem pl o cabal d o aci m a exposto é o d o

con trato para execu ção d o retábu l o-m or d a

i grej a m atri z d e S . J u l i ão d o Toj al , n os

cu m pri m en to d os seu s d everes; provi d en ci ar o

tran sporte d a obra para o seu d esti n o;

acom pan h ar o processo d e m on tagem d a obra;

n o caso d e i n cu m pri m en to n a fi n al i zação d o

trabal h o con tratad o, en trega d as partes j á

execu tad as.

Rel ati vam en te aos d i rei tos d os en tal h ad ores,

estes eram grosso m od o os segu i n tes: receber

u m a parte d o pagam en to d a obra n o m om en to

d e ass i n atu ra d o con trato n otari al para a su a

execu ção; ter d i rei to a u m a com pen sação

m on etári a ou em ou tros ben s d o

en com en d ad or, n o caso d e i n cu m pri m en to d e

pagam en to d a obra; apresen tar fi ad or para a

obra q u e con trata; fazer-se represen tar por

procu rad or ou pel o j u i z d o l ocal on d e con trata

a obra; ter d i rei to a al oj am en to e al i m en tação

q u an d o se d esl oca para terra d i stan te d a su a,

q u er sej a para cel ebrar con trato, para ti rar

D etal h e d as ass i n atu ras d o con trato en tre a I rm an d ad e d a M i seri córd i a e Fran ci sco d a S i l va, 1 71 0.

Page 36: Azulejos e talha dourada em Évora

arti stas e artífi ces d os m ai s d i versos ofíci os e d e

9 % ou n ão se referi a profi ssão ou si m pl esm en te

n ão ti n h am profi ssão l i gad a às artes .

A parti r d os d ad os d esta estatísti ca aq u i

apresen tad a é-n os l egíti m o con cl u i r q u e a

gran d e m ai ori a d os con tratos d e obra n ão

apresen tava fi ad or. A expl i cação cabal para tal

facto n ão é perceptível som en te através d as

i n form ações d e q u e d i spom os, o texto d os

con tratos d e obra. Ass i m sen d o, apen as

pod em os especu l ar com base n aq u i l o q u e n os é

d ad o a recon h ecer n estes con tratos acerca d o

papel d os fi ad ores, e q u e é efecti vam en te a

gran d e respon sabi l i zação q u e ti n h am

rel ati vam en te à con d u ta d o m estre con tratad o.

O fi ad or era o pri m ei ro a ser ch am ad o n o caso

d e i n cu m pri m en to por parte d o en tal h ad or, tal

com o se pod e l er n este excerto d a n oti fi cação

q u e a i rm an d ad e d e S an ta Catari n a d os

Li vrei ros, d a i grej a h om ón i m a, fez ch egar ao

tri bu n al d o cível d e Li sboa, a fi m d e req u erer o

pagam en to d a pen a pel o i n cu m pri m en to d os

prazos para en trega d e obra, por parte d o

m estre M ati as Rod ri gu es d e Carval h o: “ (. . . ) e l l e

M an oel d e Azeu ed o se obri ga ou trosi m d e l ogo

d ar, e pagar aos j rm ãos q u e h ora sam , e ao

d i an te forem d a d i ta j rm an d ad e d e S an ta

Cath eri n a, tod as as q u an th i as as i m a d ecl arad as,

e bem asi m os si n q u oen ta m i l rei s d a d i ta pen n a

com m ai s u i n te q u e a el l a acresçen ta, tu d o

l ogo, e com efei to em d i n h ei ro d e con tad o, e d e

su a casa, ben s, e fazen d a, q u e d esd e l ogo tom a,

e rem ou e sobre sy, e d e q u e se con stetu e

arred ores d e Li sboa, n o q u al a i rm an d ad e d o

S an tíss i m o S acram en to se con trata com os

m estres en tal h ad ores Fel i pe Ram al h o e seu

gen ro M an u el M ateu s, q u e apresen tam por seu

fi ad or a M an u el J oão, m estre en tal h ad or

tam bém m orad or em Li sboa, às Fan gas d a

Fari n h a (actu al Ru a N ova d o Al m ad a) . U m

excerto d o con trato el u ci d a-n os: “ ( . . . ) E

estan d o ou tro si m prezen te M an oel J oão

tam bem M estre em tal h ad or m orad or n as d i tas

Fan gas d a Fari n h a d i se peran te m j m tabal i am e

as d i tas testem u n h as q u e d e su a boa e l i u re

von tad e se oferese per fi ad or e pren cepal

pagad or d el l es M estres E d e q u al q u er d el l es se

obri ga a pagar por el l es aos ofes i ai s d a d i ta

j rm an d ad e tu d o o q u e el l es M estres l h es forem

obri gad os em rezão d esta escretu ra em

d i n h ei ro d e con tad o d e su a caza ben s e

fazen d a com o d eu i d a E obri gação su a propri a

q u e d esd e l ogo tom a e rem ou e sobre sj e d e

q u e se con stetu e d eu ed or e obri gad o (. . . ) E as

l ei s d os fi ad ores pren cepai s pagad ores e fi ei s

d eposi tari os d e cu j o com pri m en to e

pagam en to obri ga tod os seu s ben s au i d os e per

au er (. . . ) ” 1 2 .

S egu n d o apu rám os, através d a l ei tu ra d os

con tratos d e obra a q u e ti vem os acesso n a

i nvesti gação q u e d ecorreu d a el aboração d a

n ossa tese d e d ou toram en to, 6 8 % d os m esm os

n ão apresen tavam fi ad or, sen d o q u e os 3 2 %

restan tes estavam reparti d os d o segu i n te m od o:

7% eram carpi n tei ros, 6 % eram pi n tores

d ou rad ores, 6 % eram en tal h ad ores, 4% eram

Page 37: Azulejos e talha dourada em Évora

39

apl i cável a J osé Rod ri gu es Ram al h o.

S e esta s i tu ação era freq u en te em 6 8 % d os

con tratos d e obra q u e el en cám os, os restan tes

3 2 % , con tu d o, apresen tam o fi ad or com o fi gu ra

essen ci al d a escri tu ra cel ebrad a. D estes, ao

con trári o d o q u e se pod eri a pen sar a pri ori , só

6 % eram m estres en tal h ad ores, os restan tes,

apesar d e al gu n s apresen tarem profi ssões

aparen tad as com a d e en tal h ad or ou

com pl em en tares, exem pl i fi cad as n os

carpi n tei ros e n os pi n tores d ou rad ores,

perten ci am , q u er a ou tras artes, q u er a

profi ssões n ão con otad as com a arte.

U m caso i n teressan te em q u e os fi ad ores são

m estres en tal h ad ores e, n as su as obri gações

com o tal , se pron ti fi cam a acabar a obra q u e o

seu col ega con trata n aq u el e m om en to, é

exem pl i fi cad o por d oi s aj u stes n otari ai s . O

pri m ei ro d ata d e 1 2 d e M arço d e 1 6 8 0 e refere-

se ao aci m a ci tad o con trato en tre os m estres

en tal h ad ores Fi l i pe Ram al h o e M an u el M ateu s e

a i rm an d ad e d o S an tíss i m o S acram en to d a

i grej a m atri z d a vi l a d e S . J u l i ão d o Toj al ,

con trato q u e pressu pu n h a fi ad or. Apresen ta-se

n este estatu to, o col ega d e profi ssão, M an u el

J oão, com a acei tação d e “ (. . . ) q u e su ced en d o

q u e el l es M estres n ão acabem a d i ta obra por

q u al q u er cau za q u e sej a sera obri gad o el l e

M an oel J oão seu fi ad or d e a acabar e asen ta l l a

n a m esm a form a em q u e el l es por esta escretu ra

fi cam obri gad os (. . . ) ” 1 4 .

O ou tro caso d i z respei to a u m a escri tu ra

cel ebrad a a 6 d e Agosto d e 1 71 1 en tre o m estre

d eu ed or, e obri gad o, sem se h au er respei to aos

ben s, e fazen d a d o d i to M ath i as Rod ri gu es,

sen ão aos d el l e seu fi ad or, porq u e com o tal e

pri n ci pal pagad or tu d o por el l e d ará, e pagará

n a form a sobred i ta (. . . ) ” 1 3 .

U m a d as expl i cações possívei s para a

au sên ci a d e fi ad or em tan tos con tratos por n ós

com pu l sad os, seri a efecti vam en te o gran d e

ri sco em q u e esta fi gu ra i n corri a, n o caso d e

i n cu m pri m en to por parte d o con tratad o. Para

al ém d o óbvi o ri sco para o fi ad or, e q u e

pod eri a torn ar d i fíci l ao m estre en tal h ad or

assegu rar q u e al gu ém se com prom etesse por s i

n u m con trato d e obra, é tam bém pl au sível u m a

ou tra s i tu ação e q u e seri a a con fi an ça n o

m estre en tal h ad or por parte d os

en com en d ad ores. Tal ocorri a, por exem pl o,

com o m estre J osé Rod ri gu es Ram al h o q u e

n u n ca apresen tava fi ad or para os seu s con tratos

d e obra. A d i m en são d a su a ofi ci n a, j á h erd ad a

d e seu pai , q u e l h e perm i ti a acei tar vári os

con tratos d e obra n u m m esm o an o, o seu

prestígi o com o m estre e, poss i vel m en te, a

au sên ci a d e probl em as d e i n cu m pri m en to d as

su as em prei tad as terão con tri bu íd o para esta

s i tu ação q u e, com o d i ssem os, é revel ad a em

tod os os con tratos d e obra con h eci d os,

ad j u d i cad os à su a ofi ci n a. U m a ou tra h i pótese

q u e pod e ser ai n d a l evan tad a é j u stam en te

aq u el a q u e d efen d e a au sên ci a d o fi ad or em

vi rtu d e d os ben s d o m estre serem su fi ci en tes

para cobri rem q u al q u er i n cu m pri m en to por

parte d este, o q u e seri a certam en te a si tu ação

Page 38: Azulejos e talha dourada em Évora

l i gad as às artes, q u er sej am en tal h ad ores,

m arcen ei ros, ped rei ros e ou tros ofi ci ai s

m ecân i cos, q u e m u i tas vezes, freq u en tavam os

m esm os espaços e por vezes fazi am tam bém

parte d e i rm an d ad es vocaci on ad as para o

acol h i m en to a artífi ces 1 6 .

Ou tra s i tu ação m u i to m en os freq u en te era

aq u el a em q u e h avi a l i gações fam i l i ares en tre

arti sta e fi ad or com o é o caso d o aci m a

referi d o m estre en tal h ad or J osé An tu n es q u e

fi ca por fi ad or d e seu gen ro J osé N u n es

M on tei ro n a obra d e tal h a d a capel a d e S .

G on çal o, s i ta n a i grej a d a E n carn ação, d e

Li sboa. Regra geral , estas s i tu ações eram

excepções, tal com o aq u el as em q u e u m

fam i l i ar d o arti sta testem u n h ava n o seu

con trato d e obra. Tal é, por exem pl o, o caso d e

J osé Rod ri gu es Ram al h o, em cu j o con trato d e

execu ção d o al tar-m or e col aterai s d a i grej a d e

N . ª S . ª d o Li vram en to d a Ord em d a S an tíss i m a

Tri n d ad e, ass i n a com o testem u n h a o seu i rm ão

e col ega Fran ci sco Lopes Ram al h o 1 7.

OS AB ON AD ORE S AOS FI AD ORE S

U m a si tu ação d e excepção era aq u el a q u e

con sagrava o reforço d o estatu to d a fi an ça. E m

d oi s exem pl os por n ós recol h i d os n a

d ocu m en tação d e obra q u e el en cám os n a n ossa

tese d e d ou toram en to, os com i ten tes d e obra

exi gem a presen ça d e abon ad or ao fi ad or

apresen tad o pel o arti sta con tratad o. E sta acção

vi sava garan ti r a m ai or segu ran ça d o esti pu l ad o

em con trato e sal vagu ard ar o i nvesti m en to d o

en tal h ad or J osé An tu n es e a i rm an d ad e d e S .

G on çal o s i ta n a i grej a d e N . ª S . ª d a E n carn ação

d e Li sboa, a fi m d e q u e este m estre, com o

fi ad or q u e era d e seu gen ro J osé N u n es

M on tei ro, acabe a obra d e tal h a q u e o d i to seu

gen ro ti n h a an teri orm en te con tratad o com a

referi d a i rm an d ad e, a q u al n ão con segu i u

en tregar n o tem po esti pu l ad o em con trato,

razão pel a q u al se en con trava n o presen te

m om en to, preso. O texto d o con trato refere:

“ ( . . . ) ped i u el l e J ozeph An tu n es ao d i to j u i s e

m ai s ofi ci ai s d a d i ta m eza d o gl ori ozo S ão

G on çal o q u i zessem sol tar ao d i to J ozeph

N u n es M on tei ro seu gen ro d a pri zão on d e esta

e q u e el l e se obri gari a por el l e com o seu fi ad or

e pri n ci pal pagad or e com o d i u i d a e obri gação

su a propri a (. . . ) ” 1 5 .

Para al ém d estas d u as s i tu ações exem pl ares,

n ão en con trám os m ai s n en h u m caso em q u e o

fi ad or, en tal h ad or ou n ão, se com prom etesse a

fi n al i zar a obra caso o con tratad o para esse

efei to o n ão fi zesse n os prazos con tratad os.

Pod em os ass i m i n feri r q u e estes d oi s casos se

con sti tu íram com o excepção à regra q u e

vi gorava, e q u e era a si m pl es

respon sabi l i zação, d an d o com o fi an ça os ben s

m óvei s e i m óvei s . N o caso d as s i tu ações d e

fi an ça q u e l ocal i zám os em con tratos d e obra e

em ou tros d ocu m en tos, pod em os afi rm ar n ão

exi sti r u m pad rão fi xo, e q u e os fi ad ores seri am

n atu ral m en te aq u el es q u e a i sso se

pred i spu sessem , sen d o n atu ral q u e apareçam

n estes d ocu m en tos pessoas m ai ori tari am en te

Page 39: Azulejos e talha dourada em Évora

41

se respon sabi l i zou o abon ad or, o capi tão

An tón i o d e S á d e Carval h o e Ol i vei ra, m orad or

n o M on ti j o. Ass i m : “ (. . . ) d i go eu S an tos

M arq u es q u e eu abon o ao S en h or An ton i o

M arti n s em tod o o con trato q u e el l e fi zer o

seru i ço d a h obra d e S am Ped ro ci ta n a I grej a

M atri x d e Al d agal ega e fi co por fi ad or e

pri n ci apal pagad or d e tod o o d i n h ei ro q u e

cobrou em S ati sfaçam d a h obra (. . . ) e Logo por

estar prezen te o Capi tam An ton i o d e S aa d e

Caru al h o e Ol i u ei ra m orad or n esta vi l l a por

el l e foi d i tto peran te m i m tabel i am e as d i ttas

testem u n h as q u e el l e se obri gau a e abon au a o

d i tto S an tos M arq u es (. . . ) ” 1 9 .

E stes d oi s testem u n h os, em bora

apresen tan d o-se com o excepções n o pan oram a

geral d as cl áu su l as n orm al m en te ad optad as n os

con tratos d e obra d e tal h a, n ão d ei xam d e

con sti tu i r el em en tos d e estu d o rel evan tes n o

côm pu to geral d os m ecan i sm os d e con tratação

d estas obras. E sta m od al i d ad e q u e, para al ém

d o fi ad or, req u eri a a presen ça d e u m a ou tra

fi gu ra j u ríd i ca, a d o abon ad or, d em on stra q u e

as s i tu ações con cretas d e rel ação en tre as

partes i n terven i en tes n estes acord os com força

l egal ai n d a n os escapam n a su a total i d ad e. O

q u e pod em os con statar, u m a vez m ai s através

d a l ei tu ra d a d ocu m en tação prod u zi d a à época,

é q u e n ão era raro u m m estre en tal h ad or n ão

con segu i r cu m pri r os prazos para a execu ção

d a obra q u e con tratou e até exced ê-l os em

m u i to. Por tal m oti vo, a fi gu ra d o fi ad or fari a

tod o o sen ti d o n esse con texto e, poss i vel m en te,

en com en d ad or.

O pri m ei ro exem pl o d i z respei to à

con tratação d o m estre D om i n gos d e S am pai o

por parte d as rel i gi osas cl ari ssas d o conven to

d e E l vas. O m estre ti n h a j á apresen tad o com o

fi ad or, u m seu col ega d e ofíci o d e n om e

G eral d o Perei ra, j u n tan d o-se agora a este,

D om i n gos Fern an d es com o abon ad or ao fi ad or:

” ( . . . ) e para m aes segu ran ca d o sobred i to

aprezen tou per seu fi ad or ao G eral d o Perei ra e

aB on ad or ao m esm o o d i to D om i n gos

Fern an d es (. . . ) ” 1 8 .

A presen ça d a fi gu ra d o abon ad or n este

caso, q u e n em seq u er envol vi a q u an ti as

avu l tad as, poi s a su a factu ra orçou -se em

1 40. 000 réi s , pod e tam bém ser expl i cad a pel a

extrem a d i stân ci a q u e àq u el e tem po separava a

ci d ad e d e Li sboa d a d e E l vas. A i n segu ran ça

q u e as rel i gi osas certam en te experi m en tavam

ao i nvesti r o q u e para el as d everi a ser u m a

som a con si d erável , d everá ter con tri bu íd o para

esta d eci são d e reforço d a garan ti a d ad a pel o

fi ad or q u e, tal com o o en tal h ad or, estava

d i stan te em term os geográfi cos.

Ou tro caso sem el h an te a este, l ocal i zám o-l o

n o con trato d e execu ção d o retábu l o d ed i cad o

a S ão Ped ro si tu ad o n a i grej a m atri z d o

M on ti j o. S egu n d o o aj u ste n otari al acord ad o

en tre a i rm an d ad e d o m esm o san to e o m estre

en tal h ad or An tón i o M arti n s Cal h ei ros, este

ú l ti m o apresen tou por fi ad or u m seu col ega

d ou rad or d e n om e S an tos M arq u es, q u e era

pi n tor-d ou rad or d e “ S u a M agestad e” , pel o q u al

Page 40: Azulejos e talha dourada em Évora

face a si tu ações em q u e até o fi ad or n ão

cu m pri a com o esti pu l ad o, a i n terven ção d o

abon ad or seri a com o u m a segu n d a segu ran ça,

com o u m a reserva, n o caso d e fal h arem com

as su as obri gações tan to o en tal h ad or com o o

fi ad or.

B RE VE S CON CLU S ÕE S

N as ú l ti m as d écad as d e S ei scen tos, em

Portu gal , u m a profi ssão em ergi u com força. A

arte d a tal h a teve u m a acei tação gen eral i zad a

por tod o o país e con seq u en tem en te u m a

procu ra i n ten si va por parte d e

en com en d ad ores tão d i versos com o as ord en s

rel i gi osas, as i rm an d ad es, os parti cu l ares e até

a real eza. E sta arte, q u e pau l ati n am en te

en gran d eceu os tem pl os d o rei n o, apresen tava-

se com carácter su m ptu oso, em prestan d o

m agn i fi cên ci a aos i n teri ores sacros. A su a

procu ra era i n ten sa e os req u i s i tos d e perfei ção

e gran d eza d a obra estavam sem pre n o

h ori zon te d os seu s com i ten tes. Tal d em an d a,

i n ten sa e geografi cam en te abran gen te,

con tri bu i u para o d esenvol vi m en to e

con sol i d ação d a arte d o en tal h e, d estacan d o

u m a profi ssão n esse processo: o en tal h ad or.

D u ran te a época barroca ass i sti m os ao

cresci m en to expon en ci al d as ofi ci n as d e tal h a

n a capi tal d o rei n o e u m pou co por tod o o

país . M u i tas foram as ofi ci n as q u e por esses

an os se estabel eceram n a ci d ad e d e Li sboa,

ou tras j á sed i ad as n a capi tal e com u m a

cl i en tel a fi d el i zad a, ati n gi ram o seu au ge d e

prod u ção. A com pl exi d ad e d e rel ações q u e se

estabel eceram en tre en com en d ad ores e arti stas ,

os pri m ei ros com i ss i on an d o obras, por vezes d e

gran d e d i spên d i o fi n an cei ro, os segu n d os

apl i can d o os m ateri ai s e a m ão-d e-obra à

sati sfação d as en com en d as, proporci on ou a

fi xação em con trato d as cl au su l as regu l ad oras

d a rel ação estabel eci d a en tre estes parcei ros.

Foi ass i m q u e o con trato d e obra d e tal h a se

gen eral i zou , esti pu l an d o l egal m en te os d i rei tos

e d everes d e com i ten tes e en tal h ad ores.

Pod em os con cl u i r q u e foi o cresci m en to e

con sol i d ação d a arte d o en tal h e, q u e

con tri bu íram d eci s i vam en te para o

apareci m en to d e con tratos-ti po, n os q u ai s as

cl áu su l as m ai s rel evan tes eram repeti d as d e

con trato para con trato, fi xan d o ass i m u m

m od el o q u e, gen eral i zad o, faci l i tava as rel ações

l egai s en tre en com en d ad ores e arti stas n as

em prei tad as d e obra d e tal h a, poss i bi l i tan d o

tam bém a su a expan são. A força l egal q u e os

con tratos d e obra apresen tavam ,

sal vagu ard an d o os d i rei tos e d everes d as partes

envol vi d as, proporci on ava u m a m ai or con fi an ça

d os i n terven i en tes em tod o o processo d e

execu ção d a obra d e tal h a. E m ú l ti m a i n stân ci a,

essa m esm a con fi an ça e créd i to q u e o processo

assegu rava vei o expon en ci ar as en com en d as d e

obra e con tri bu i r para a cred i bi l i d ad e d a arte

em apreço, el evan d o-a a patam ares d e

excel ên ci a.

Page 41: Azulejos e talha dourada em Évora

43

1 E ste tem a j á foi tratad o n a n ossa tese d e d ou toram en to,

i n ti tu l ad a: A Talha Barroca de Lisboa (1 670-1 72 0) . Os

arti stas e as obras (tese d e d ou toram en to em H i stóri a –

especi al i d ad e Arte, Patri m ón i o e Restau ro - apresen tad a à

Facu l d ad e d e Letras d a U n i vers i d ad e d e Li sboa) , 2 009 , Vol .

I , pp. 1 3 9 -1 6 4. O texto aq u i apresen tad o tem por base o

q u e en tão escrevem os sobre o tem a.

2 S obre este processo com pl exo q u e era a con tratação d a

obra d e tal h a e os trâm i tes l egai s a esta associ ad os, vej a-se

Fran ci sco Xavi er H E RRE RA G ARCÍA, El Retablo Sevillano

en la Primera Mitad del Siglo XVIII , S evi l h a, D i pu taci on d e

S evi l l a, 2 001 , pp. 74-1 1 4.

3 Cf. N atál i a M ari n h o FE RRE I RA-ALVE S , A Arte da Talha

no Porto na Época Barroca . Arti stas e Cl i en tel a, M ateri ai s e

Técn i ca, Porto, Câm ara M u n i ci pal d o Porto, 1 9 8 9 , p. 1 5 9 .

4 S obre a acti vi d ad e profi ss i on al d este m estre en tal h ad or,

em Évora, e a pri vi l egi ad a rel ação d e trabal h o q u e m an teve

com o arcebi spo d essa m esm a ci d ad e, D . Lu ís d a S i l va

Tel es, vej a-se d e Cel so M AN G U CCI , “ Fran ci sco M ach ad o e

a ofi ci n a d e retábu l os d o arcebi spo d e Évora” i n Cenáculo,

Boletim on line do Museu de Évora , n . º 2 , 2 007, pp. 2 -1 7

5 “ (. . . ) E estan d o ou trosj prezen te J oão d a Costa m orad or a

Ru a d a Fee por el l e foi d i to peran te m j tabal i am e d i tas

testem u n h as q u e d e su a l i u re von tad e fi ca por fi ad or e

pri n ci pal pagad or d o d i to m estre An ton i o d a Costa a fi m d e

q u e faça a d i ta obra n a form a q u e se d ecl ara n esta

escri ptu ra e se con th em n o d i to rescu n h o para q u e n ão se

posa segu i r perd a ou d am n o al gu m a d i ta i rm an d ad e

porq u e tu d o l h e com porá com o d i u i d a su a propri a q u e

tom a e rem ou e sobre sj com o fi ad or e pri n ci pal pagad or e

fi el d epozi tari o d e j u i zo a cu j as l ei s se sobm ete e su gei ta e

cl au zu l l as d esta escri ptu ra q u e tem ou u i d o e en ten d i d o

(. . . ) ” . ARQU I VO N ACI ON AL TORRE D O TOM B O Cartóri o

N otari al d e Li sboa, n . º 1 5 (an ti go n . º 7A) , Cx. 8 3 , L. º 4 47,

fl . 2 8 . Con trato d atad o d e 2 0 d e Abri l d e 1 70 4. Pu bl i cad o

por Fran ci sco L AM E I RA e S íl vi a FE RRE I RA, “ Os

an teced en tes artísti cos d e Caetan o d a Costa. A fase

l i sboeta” , i n Laboratorio de Arte, Revista del Departamento

de Historia del Arte , n . º 2 0, U n i vers i d ad d e S evi l l a, 2 009 ,

pp. 2 00-2 02 . Vi d e S íl vi a FE RRE I RA, op. ci t. , Vol . I I , D oc.

87.

6 Tal é o caso, por exem pl o, d o con trato d e obra en tre a

i rm an d ad e d e N ossa S en h ora d a Ressu rrei ção d e Cascai s

para a execu ção d o retábu l o-m or d a su a i grej a d e i nvocação

h om ón i m a, e o m estre en tal h ad or E stêvão d a S i l va, o q u al

esti pu l a q u e as d espesas d e d esl ocação d a obra d esd e

Li sboa até Cascai s fi cari am por con ta d a referi d a

i rm an d ad e. Cf. AN TT, CN L, n . º 1 5 (an ti go n . º 7A) , Cx 76 ,

L. º 3 9 0, fl s . 2 2 -2 3 . Pu bl i cad o por Ayres d e CARVALH O, D.

João V e a Arte do seu Tempo , L i sboa, E d i ção d o Au tor,

1 9 6 0-6 2 , Vol . I I , p . 1 09 . Vi d e S íl vi a FE RRE I RA, op. ci t. ,

Vol . I I , D oc. n . º 3 9 .

7 U m d os exem pl os em q u e a d espesa seri a d i vi d i d a en tre

en com en d ad or e m estre é aq u el a d o con trato d e obra

cel ebrad o en tre as rel i gi osas d o m ostei ro d e N ossa S en h ora

d a E speran ça d e B ej a e o m estre en tal h ad or M an u el J oão d a

Fon seca. D i z o con trato n este pon to: “ (. . . ) a pora el l e

M estre [a obra d e tal h a] a su a cu sta a bord a d a agoa d a

praj a d esta ci d ad e [d e Li sboa] e d aj para o d i to com u en to

fara por con ta e cu sto d a pri oreza e Rel egi ozas d el l e (. . . ) ” .

Cf. AN TT, CN L, n . º 3 (an ti go n . º 1 1 ) , Cx. 8 4, L. º 3 2 3 , fl . 24,

referi d o por Ayres d e CARVALH O, D. João V e a Arte do

seu Tempo , Vol . I I , ( . . . ) , pp. 1 06 -1 07. N o en tan to, exi sti am

excepções a esta regra geral , tal é o caso d o con trato d e

obra d e tal h a cel ebrad o en tre o m estre D om i n gos Lopes e

as rel i gi osas d e S ão B ern ard o d o m ostei ro d e Cós, segu n d o

o q u al a d espesa d o carreto d a obra até ao seu l ocal d e

assen tam en to seri a su portad a excl u s i vam en te pel o m estre,

com o refere o texto d o con trato: “ ( . . . ) E q u e a d ará E sera

posta n o d i to con u en to por su a con ta d el l e d i to E se obri ga

/fl . 1 3 9 v. º/ aos carretos d el l a (. . . ) ” . Cf. AN TT, CN L, n . º 3

(an ti go n . º 1 1 ) , Cx. 8 2 , L. º 31 2 , fl s . 1 3 9 -1 40 v. º,

referen ci ad o por Vítor S E RRÃO, História da Arte em

Portugal – O Barroco , L i sboa: 2 003 , p. 9 9 .

NOTAS

Page 42: Azulejos e talha dourada em Évora

8 AN TT, CN L, n . º 2 (an ti go n . º 1 ) , Cx. 5 5 , L. º 277, fl . 9 .

Con trato d atad o d e 2 9 d e S etem bro d e 1 676 , referen ci ad o

por Ayres d e CARVALH O, D. João V e a Arte do seu

Tempo , vol u m e I I , pp. 1 0 4-1 06 e pu bl i cad o por Vítor

S E RRÃO, “ O Con cei to d e Total i d ad e n os E spaços d o

B arroco N aci on al : A obra d a I grej a d e N ossa S en h ora d os

Prazeres em B ej a (1 672 -1 6 9 8 ) ” , Lusofonia , Revista da

Faculdade de Letras de Lisboa , n . ºs 21 /2 2 , 1 9 9 6 -97, p.

2 5 0. Vi d e S íl vi a FE RRE I RA, op. ci t. , vol u m e I I , d oc. n . º 1 2 .

9 AN TT, C. N . L. , n . º 1 (an ti go n . º 1 2 A) , Cx. 67, L. º 2 8 5 , fl .

5 6 . Con trato d atad o d e 1 d e J u n h o d e 1 6 8 8 .

1 0 ARQU I VO D I STRI TAL D E ÉVORA, Cartóri os N otari ai s

d e Évora, Tabel i ão An d ré Vi d i gal d a S i l va, l i vro 1 009 , fl .

2 2 5 e v. º, ci tad o e parci al m en te tran scri to por Cel so

M AN G U CCI , “ Fran ci sco d a S i l va, An tón i o d e Ol i vei ra

B ern ard es e Fran ci sco Lopes M en d es n a I grej a d a

M i seri córd i a em Évora” , i n Cenáculo , bol eti m on l i n e d o

M u seu d e Évora, n . º 3 , 2 008 , pp. 3 -1 8 .

11 D ad os reti rad os d o texto d e vári os con tratos d e obra

tran scri tos e apresen tad os em S íl vi a FE RRE I RA, op. ci t. ,

Vol . I I .

1 2 AN TT, CN L, n . º 3 (an ti go n . º 1 1 ) , Cx. 8 4, L. º 3 2 0, fl . 77.

1 3 ARQU I VO PAROQU I AL DA I G RE J A D E SAN TA

CATARI N A, I rm an d ad e d e S an ta Catari n a, “ Li vro d e róes e

reci bos d i versos d as casas perten cen tes ás i rm an d ad es e

d espezas com a E grej a. 1 6 61 a 1 79 9 ” , Cx. n . º 6 . D oc.

avu l so, s . n . º . p.

1 4 AN TT, CN L, n . º 3 (an ti go n . º 1 1 ) , Cx. 8 4, L. º 3 2 0, fl . 77.

1 5 AN TT, CN L, n . º 1 (an ti go n . º 1 2 A) , Cx. 8 2 , L. º 3 6 0, fl .

9 3 .

1 6 Tal é o caso d a i m portan te i rm an d ad e d e N ossa S en h ora

d a D ou tri n a, sed i ad a n a i grej a d e S ão Roq u e, ou d a Ord em

Tercei ra d e S ão Fran ci sco, l ocal i zad a n o cl au stro d o

conven to d e S ão Fran ci sco d a Ci d ad e, ou m esm o d a d e S ão

J osé d os Carpi n tei ros, l ocal i zad a n a i grej a d e S ão J osé ou

d a d e S ão Lu cas, en tre ou tras.

17 AN TT, CN L, n . º 1 (an ti go n . º 1 2 B ) , Cx. 2 5 , L. º 45 0, fl s .

87-8 8 . Con trato d atad o d e 1 6 d e N ovem bro d e 1 6 8 9 , pu bl .

por Vítor S E RRÃO, “ U m a Obra Pri m a d o E sti l o N aci on al : O

Retábu l o d a I grej a d e S an ta M ari a d a G raça, d e S etú bal

(1 6 97-1 700) ” , Boletim Cultural da Póvoa do Varzim , Póvoa

d o Varzi m , Câm ara M u n i ci pal d a Póvoa d o Varzi m , Vol .

XXVI , n . º 2 , 1 9 8 9 , p. 1 0. Vi d e S íl vi a FE RRE I RA, op. ci t. ,

Vol . I I , D oc. n . º 4 4.

1 8 ARQU I VO D I STRI TAL D E PORTALE G RE , Cartóri o

N otari al d e E l vas, CN E LV0 4/001 /= 1 43 , fl s . 3 2 -3 4 v. º,

pu bl i cad o por M i gu el Án gel VALLE CI LLO TE OD ORO,

Retablística Alto Alentejana (Elvas, Villaviciosa Y Olivenza)

en los Siglos XVII-XVIII , M éri d a, U n i vers i d ad N aci on al d e

E d u caci ón A D i stan ci a, 1 9 9 6 , pp. 2 9 6 -2 9 8 . Con trato

d atad o d e 1 6 d e N ovem bro d e 1 6 8 9 . D oc. n . º 45 d o vol u m e

I I d e S íl vi a FE RRE I RA, op. ci t.

1 9 ARQU I VO D I STRI TAL D E S E TÚ BAL, Cartóri o N otari al ,

M on ti j o (Al d ei a G al ega) , L. º n . º 1 3 , 1 . º ofíci o, tabel i ão

Fran ci sco Card oso fl s . 242 -243 v. º. Con trato d atad o d e 24

d e Feverei ro d e 1 701 , pu bl . por Fran ci sco J osé Ol ei ro

LU CAS , “ O Retábu l o d e S . Ped ro n a I grej a M atri z d o

M on ti j o” , Arti s n . º 3 , D ezem bro d e 2 00 4. Cf. S íl vi a

FE RRE I RA, op. ci t. , Vol . I I , D oc. n . º 73 .

Page 43: Azulejos e talha dourada em Évora

I RM AN D AD E D EN OS S A S E N H ORA

D O ROS ÁRI OD A I G RE J A

D O CON VE N TOD E S ÃO

D OM I N G OS

Q u em s e d e d ed i ca ao estu d o d a arte s acra d os s écu l os XVI I e

XVI I I faci l m en te con stata a i m p ortân ci a d as con stru ções retabu l ares

d e cap el as e oratóri os , n o en q u ad ram en to i con ográfi co e cateq u éti co

d os al tares d as i grej as , favoreci d as com o gran d e au m en to d as

d evoções e con s eq u en te organ i z ação d e con frari as .

O s retábu l os afres cad os q u i n h en ti s tas , com u n s n as i grej as

al en tej an as , vão s en d o s u bsti tu íd os p el os en tal h ad os , q u er p or

n eces s i tarem d e restau ro, q u er p el a ap rop ri ação d e n ovos gostos e

m od el os , às vez es p rovocad a p or u m a freq u en te em u l ação en tre

con frari as .

A p rocu ra d a q u al i d ad e n o ri s co e n a execu ção d e tai s retábu l os

l eva à con tratação d e m estres recon h eci d os , geral m en te com ofi ci n a

em Li s boa p or m oti vos óbvi os rel aci on ad os com as en com en d as e o

m ei o artísti co. Tod avi a, con tratar en tal h ad ores d e fora e, s obretu d o,

acei tar q u e os retábu l os fos s em fei tos n as res p ecti vas ofi ci n as

i m p l i cava u m aci d en tad o tran s p orte e u m acres ci d o au m en to d os

cu stos d a obra. S u rgem as s i m d u as s i tu ações : ou o retábu l o é fei to n a

ofi ci n a d o en tal h ad or, l on ge d o s íti o p ara q u e está d esti n ad o (p or

exem p l o, L i s boa e É vora) , ou s ão os en tal h ad ores q u e s e d es l ocam

p ara on d e vai s er col ocad o o retábu l o e aí m on tam ofi ci n a, com tu d o

o q u e i s s o tam bém com p orta. E m vi rtu d e d i s s o, s ão vári os os cas os

em q u e al gu n s d es s es m estres acabam p or s e estabel ecer em É vora,

com ofi ci n a p róp ri a, ap rovei tan d o as n ovas op ortu n i d ad es q u e o

fervor d evoci on al e u m certo d es afogo econ óm i co p rop orci on avam .

U m exem p l o d e É vora, a p arti r d o Li vro d e D es p es as 1 d e u m a

con frari a, é s i gn i fi cati vo d os m u i tos trabal h os e d i s p ên d i os d a

con stru ção d e u m retábu l o.

AS AN D AN ÇAS D E U M RE TÁB U LO ATRAVÉS D E U M LI VRO D ED E S PE S AS

Artur Goulart de Melo Borges Coordenador do I nventário Artísti co

da Arquidiocese de Évora

Page 44: Azulejos e talha dourada em Évora

trabal h os .

O retábu l o ch egou a É vora em 1 6 d e Abri l

d e 1 6 6 6 d ep oi s d e u m a l on ga vi agem .

E m barcad o em Li s boa, s egu i u Tej o aci m a até

Al d ei a G al ega, h oj e M on ti j o , com o cu sto d e

2 . 70 0 réi s , p agos p el a con frari a. D aí p arti u

p ara É vora em d oz e carretas , ao p reço d e

2 . 2 0 0 réi s cad a, n u m total d e 2 6 . 4 0 0 réi s e

d estes j á ti n h am s i d o p agos p or con ta em

Li s boa 5 0 0 réi s . S ó p ara os cai xotes em q u e

vi n h am acon d i ci on ad os o retábu l o e as

i m agen s foram d es p en d i d os 1 4 . 6 5 0 réi s .

E n tretan to, j á em É vora, fo i n eces s ári o faz er os

an d ai m es , d es m on tar e m u d ar o retábu l o

vel h o p or 6 4 0 réi s , e p agar 81 0 réi s p or

d es carregarem o n ovo e “ arm ar a grad e e

ou tras m i u d ez as ” .

Acom p an h aram o retábu l o os en tal h ad ores ,

m estre, ofi ci ai s e en s am bl ad ores , vi n d os d e

Li s boa p ara a res p ecti va m on tagem . Fi caram

al oj ad os n o con ven to, caben d o à con frari a

p agar a al i m en tação, d u ran te os q u i n z e d i as

q u e aí p erm an eceram . Fi cou tu d o em 8 .1 0 0

réi s , en tregu es ao Pri or.

U m a vez q u e o retábu l o rep res en tava a

Árvore d e J es s é, ti n h a fei to p arte d o con trato

n ão s ó a estru tu ra d o con j u n to e d a árvore a

execu tar p el o en tal h ad or, m as as i m agen s , a

s er fe i tas p or u m es cu l tor, d e vu l to p l en o e em

n ú m ero d e d oz e: J es s é, m ai s d ez rei s d e J u d á a

d i stri bu i r p el o ram os d a árvore e, n o ci m o,

N os s a S en h ora com o M en i n o. O tem a

p restava-s e a u m a gran d e com p os i ção

A con frari a d e N os s a S en h ora d o Ros ári o 2 ,

erecta n a i grej a d o con ven to d e S ão

D om i n gos , h oj e exti n to e d estru íd o, era u m a

d as m ai s an ti gas eboren s es . E m 1 576 , q u an d o

foi ed i tad a em É vora a 3 ª ed i ção d o Livro do

Rosayro de Nossa Senhora , n a ti p ografi a d e

An d ré d e B u rgos , a con frari a j á exi sti a d es d e

d ata q u e s e i gn ora. Ti n h a cap el a p róp ri a e

al tar com u m retábu l o d a Árvore d e J es s é,

s i tu ad a n o l ad o d a ep ísto l a, j u n to à p orta

traves s a, e s al i en tava-s e d e tod as as ou tras ,

s egu n d o a d es cri ção d o Pad re M an u el Fi al h o,

n a s u a Évora Ilustrada 3 . Tod avi a, n os p ri m ei ros

an os d a d écad a d e 6 0 d o s écu l o XVI I , a

con frari a, d evi d o ao m au estad o d e

con s ervação d o retábu l o, res ol veu m an d ar

faz er u m n ovo a Li s boa.

N ão ti n h a m u i tos an os o “ vel h o” retábu l o.

E m 1 6 2 5 ti n h am s i d o con tratad os o carp i n te i ro

e en s am bl ad or J oão N obre e o es cu l tor Ad ri ão

Pi res d e Fari a p ara execu tarem a Árvore d e

J es s é, con form e o ri s co d e D . Tom é, p ri or d a

Cartu xa4 .

D o n ovo retábu l o d es con h ece-s e q u em fez

o ri s co, em bora p os s a tal vez s er atri bu íd o ao

p i n tor Fran ci s co N u n es Varel a, com o ad i an te

s e verá, bem com o o en tal h ad or com q u em foi

aj u stad a a obra, e o cu sto total . M u i to

p rovavel m en te o ti p o d e m ad ei ra e o

res p ecti vo cu sto estavam i n cl u íd os , com o

q u as e s em p re acon teci a, n o con trato com o

en tal h ad or, p oi s i s s o n ão con sta d o Li vro d e

D es p es as , q u e é m i n u ci os o n os restan tes

Page 45: Azulejos e talha dourada em Évora

47

Ped ro N u n es e tam bém p i n tor com vasta obra

n o Al en tej o , com o p or exem p l o os p ai n éi s d o

retábu l o-m or d a M atri z d e M on s araz . A el e

cou be o d ou ram en to d o retábu l o, p el o p reço

d e 2 5 0 m i l ré i s , bem com o o estofo d e tod as as

i m agen s . É m u i to p rovável , d ad as as estre i tas

rel ações d el e com a con frari a, q u e ten h a s i d o

el e o au tor d o ri s co d o retábu l o.

E n tretan to, p ara faz erem p arte d o con j u n to

retabu l ar, a con frari a m an d ou ai n d a faz er ao

i m agi n ári o d e Li s boa d oi s An j os p el o cu sto d e

24 m i l ré i s . N ova d es p es a com o tran s p orte d os

An j os : 5 4 0 réi s d e Li s boa p ara Al d ei a G al ega e

2 0 0 0 d esta p ara É vora. N ão s e fi cou p or aq u i ,

tod avi a, p oi s em vi rtu d e d e “ vi rem m al

tratad os e q u ebrad os em al gu m as p artes ” fo i

n eces s ári o s erem con certad os p el o i m agi n ári o

com n ovo cu sto d e tran s p orte, 3 . 6 0 0 réi s .

O en ri q u eci m en to d a Cap el a con ti n u ou ,

p ara al ém d o retábu l o, e em 2 8 d e M ai o d e

1 672 , a con frari a aj u sta, p or 1 5 5 m i l ré i s , com

B artol om eu Ri bei ro o en tal h e d as p ared es

l aterai s , abran gen d o m ol d u ras p ara catorz e

p ai n éi s al u s i vos ao Ros ári o d a au tori a d e três

p i n tores : ci n co a Fran ci s co Pestan a p or 3 2 . 5 0 0

réi s ; s e i s ao I rm ão Fran ci s co N u n es Varel a p el o

m es m o p reço d e 2 . 2 0 0 réi s cad a, ten d o

recebi d o ap en as 3 6 m i l , p oi s d eu d e es m ol a

3 0 0 0 réi s ; três gran d es e d oi s p eq u en os p or

2 6 . 0 0 0 réi s a Fran ci s co B otad o, p ri m o d e

Fran ci s co N . Varel a.

O d ou ram en to d o en tal h e d as p ared es e

m ol d u ras , p or 70 . 2 0 0 réi s , bem com o d as

retabu l ar, à s em el h an ça d a m ai s an ti ga, d atad a

d e 1 6 3 8 , q u e ai n d a h oj e s e p od e ver em S ão

Fran ci s co d e E strem oz .

O p agam en to ao m estre en tal h ad or e

i n cl u s i ve ao i m agi n ári o era h abi tu al m en te

fas ead o p or d i s p os i ção con tratu al : u m n o

i n íci o d a obra, ou tro d u ran te a execu ção e o

ú l ti m o acabad a a m on tagem e vi stori ad a p el o

en com en d an te e p el o p eri to p or el e es col h i d o.

O Li vro d e D es p es as d a con frari a ap en as

refere estas ú l ti m as tran ch es p agas q u er ao

en tal h ad or, q u er ao es cu l tor. Ao p ri m ei ro, q u e

fez a árvore, foram en tregu es 1 2 0 m i l ré i s

“ com q u e s e l h e acabou d e p agar” e “ ao q u e

fes as i m agen s ” 5 5 m i l ré i s .

Para i n tegrar a com p os i ção retabu l ar a

con frari a ti n h a m an d ad o faz er d ez casti çai s

p eq u en os d e p rata “ p ara as m ãos d os rei s ” .

Tod avi a vei o a veri fi car-s e q u e n ão s ervi am n o

retábu l o e acord aram q u e fos s em ven d i d os ,

ten d o s i d o com p rad os , p el o p es o d a p rata,

p el o ou ri ves G as p ar Correi a, com l oj a n a ru a

d a S el ari a em É vora, p or 2 3 . 8 0 0 réi s .

É freq u en te q u e, ap ós a con cl u s ão d os

retábu l os , p as s em vári os an os até s e p roced er

ao s eu d ou ram en to, con s oan te as

d i s p on i b i l i d ad es fi n an cei ras d os p rop ri etári os .

N ão foi este o cas o, p oi s em M ai o d e 1 6 67 j á

s e m on tavam os an d ai m es p ara o d ou rar. Crei o

q u e a cel eri d ad e s e terá fi cad o a d ever, n ão s ó

à cap aci d ad e fi n an cei ra d a con frari a, m as à

d i s p on i b i l i d ad e d e u m d os I rm ãos , Fran ci s co

N u n es Varel a (1 6 21 -1 6 9 9 ) , fi l h o d o p i n tor

Page 46: Azulejos e talha dourada em Évora

goz ava bem d os I rm ãos , e Fi e i s D evotos , q u e

l h e tri bu tao h u m a p arti cu l ar d evoção tod a esta

Ci d ad e” 6 .

Logo n o d i a s egu i n te a obra foi en tregu e ao

arq u i tecto d e B orba, An tón i o Fran co Pai n h o,

s egu n d o u m d os ri s cos q u e ap res en tou , p el a

q u an ti a d e 1 . 3 5 0 m i l ré i s . Al gu m tem p o d ep oi s

d a exti n ção d o con ven to, em 1 8 3 6 , a con frari a

com os s eu s p erten ces , exceptu an d o u m

gran d e n ú cl eo d e p ratari a en tregu e aos

fran ces es , fo i tran s feri d a p ara a p aróq u i a d e

S an to An tão, e o al tar d a S en h ora d o Ros ári o

fo i rem on tad o n a cap el a col ateral d o l ad o d o

evan gel h o, on d e ai n d a h oj e s e en con tra.

grad es d a Cap el a p or 1 2 m i l ré i s , cou be ao

Pad re M an u el Fern an d es M oren o.

D o q u e fos s e a Cap el a d á n otíci a o Pad re

M an u el Fi al h o:

“ Tem h u m ri co retabol o, q u e l h e fi z eram os

s eos d evotos i rm ãos : n el l e está a árvore d os

As cen d en tes d a S en h ora, e p or rem ate, fl or, e

fru cto está a i m agem d a m es m a M ay d e D eos

d e estatu ra n atu ral , obrad a em m ad ei ra, com o

tu d o o m ai s , com val en te arte e es cu l ptu ra, d e

d ou rad o; e com tal agrad o, q u e rou ba os

corações , con corre a ad oral l a tod a a Ci d ad e

com m u i ta freq u ên ci a, p el os favores , q u e

con ti n u am en te está d i s p en d en d o l i beral . ( . . . )

Tem a S en h ora s obre o braço es q u erd o o s eu

M en i n o J E S U S , oferecen d o o a q u em o q u i s er.

E stá a cap el a tod a em rod a, e d e al to a baxo

orn ad a d e p i n tu ras d os m i stéri os d o S . to

Ros ari o . ” 5

Pou co m ai s d e cem an os d u rou o retábu l o.

E m acórd ão d e 2 9 d e N ovem bro d e 1 797, a

con frari a res ol ve en com en d ar u m n ovo, d esta

vez d e “ p ed ra d e três cores bran ca, M on tes

Cl aros , e verm el h a com s u a tri bu n a on d e s e

p u d es s e a S . m a Vi rgem col ocar em tron o com

m ai or d ecên ci a e abu n d ân ci a d e l u m es ” , p oi s

n o an teri or estava em ” gran d e p eri go, e ri s co”

col ocad a n o fi m d a árvore, p oi s o retábu l o

estava “ m u i to al u íd o e ter d ad o d e s i p ara

bai xo; q u e p ara ter al gu m a s egu ran ça, e evi tar

ter cah i d o, era n eces s ári o estar a S . m a I m agem

l i ata com cord éi s , e p arafu s ad a, com o taobem

p el l a el evas ão, e al tu ra em q u e estava s e n ão

Page 47: Azulejos e talha dourada em Évora

49

1 ARQU I VO D A PARÓQU I A D E S AN TO AN TÃO,

I rm an d ad e d e N ossa S en h ora d o Rosari o d o Conven to d e S .

D om i n gos d e Évora, Livro de registo de receita e despesa ,

1663 -1683 , l i vro 1 1 .

2 B ORG E S , Artu r G ou l art d e M el o – “A con frari a d e N ossa

S en h ora d o Rosári o” . I n Tesouros de Arte e Devoção.

Évora : Fu n d ação E u gén i o d e Al m ei d a, 2 003 , p. 1 51 -1 5 3 .

3 B PE , CXXX/1 -1 1 – Pad re M an u el Fi al h o. Évora Illustrada ,

4º tom o [1 708 ] .

4 S E RRÃO, Vi tor – “ Fran ci sco N u n es Varel a e as ofi ci n as

d e pi n tu ra em Évora n o sécu l o XVI I ” . A Cidade de Évora , I I

séri e, n º3 (1 9 9 8 -1 9 9 9 ) p.1 1 3 .

5 B PE , ob. ci t, fl 43 6 .

6 ARQU I VO D A PARÓQU I A D E S AN TO AN TÃO, Livro dos

Acordãos da Mesa da Irmandade de Nossa Senhora do

Rosario , 1 6 8 3 , fl s 2 9 -3 0.

NOTAS

Page 48: Azulejos e talha dourada em Évora

I G RE J A DA RE ALCOLE G I ADA D E

SAN TI AG O

O ARCEBISPO DE ÉVORA E PROGRAMA

ICONOGRÁFICO DA IGREJA DE SANTIAGO

Con h ecem os com al gu m a profu n d i d ad e as

cam pan h as d e fresco e azu l ej o q u e ren ovaram

por com pl eto o i n teri or d a I grej a d e S an ti ago d e

Évora, i d en ti fi cad as pel a ass i n atu ra d o fam oso

pi n tor G abri el d el B arco e pel os cron ogram as

d e 1 6 9 9 e 1 700, n os azu l ej os e n o tecto. S ão

O Retorno do Fi lho Pródigo. Gabriel del Barco, 1700. Foto Miguel Cardoso

Page 49: Azulejos e talha dourada em Évora

51

u m d os m ai s i m portan tes con j u n tos barrocos d a

ci d ad e, com bi n ad o os frescos d o tecto e os

azu l ej os d a n ave.

O program a i con ográfi co, com u m a exten sa

j u sti fcação d o d ogm a d o S an tíss i m o

S acram en to, apoi ad a em epi sód i os d o An ti go e

d o N ovo Testam en to, é o verd ad ei ro fi o

con d u tor d a cam pan h a d ecorati va, d ei xan d o

tran sparecer os pri n cípi os m orai s e fi l osófi cos

d a escol asti ca d e S ão Tom ás d e Aq u i n o q u e i n-

form aram a escol h a d os epi sód i os d os patri -

arcas M oi sés e Abraão, d a parábol a d o Fi l h o

Pród i go e os associ a às vi rtu d es teol ogai s d a

Fortal eza, d a J u sti ça, d a S abed ori a e d a Tem pe-

ran ça pi n tad as a fresco n o tecto.

E m pesq u i sas recen tes ti vem os a

oportu n i d ad e d e con fi rm ar a fu n d ação d a

I rm an d ad e d o S an tíss i m o S acram en to, em 1 6 9 3 ,

pel a m ão d o pri or Cri stóvão S oares d e

Al bergari a, q u e fal ece n esse m esm o an o, sem

ch egar a assu m i r os d esti n os d a con frari a. O

program a i con ográfi co será en tão d i ri gi d o pel o

i n can sável Frei Lu ís d a S i l va Tel es, arcebi spo d e

Évora, q u e j á n o processo d e aprovação d os

estatu tos perfi l ava-se com o o pri n ci pal

protector d a i rm an d ad e. Patroci n ad or d e

n u m erosas obras n a ci d ad e, estabel ecen d o

vín cu l os próxi m os com os arti stas d e q u e m ai s

gostava, o Arcebi spo i rá com eter a G abri el d el

B arco u m program a i con ográfi co sem el h an te

para a sal a d a con frari a d o S an tíss i m o

S acram en to d a I grej a Paroq u i al d e S ão M am ed e.

As gravu ras d o i tal i an o Pi etro Testa e d o

fran cês J ean Le Pau tre q u e esti veram n a base

d as com posi ções d a parábol a d o Fi l h o Pród i go

e d a M oi sés tam bém são con h eci d as graças aos

estu d os d e Rosári o Carval h o.

A cam pan h a d ecorati va d e ren ovação d o

tem pl o d e S an ti ago, con form e i n form a o d ísti co

d o coro, foi paga pel os fregu eses d a paróq u i a, e

os l i vros d a tesou rari a d a I rm an d ad e d e N ossa

S en h ora d a E speran ça con fi rm am a col aboração

O Retorno do Fi lho Pródigo. Gabriel del Barco, 1700. Foto Miguel Cardoso

Page 50: Azulejos e talha dourada em Évora

BIBLIOGRAFIA

CARVALHO, 201 2; ARAÚJO, 201 3

e MAN GUCCI 201 3.

Aos sei s d i as d o m ês d e J an ei ro d e sei scen tos

n oven ta e n ove an os/ estan d o em m eza o j u i z e

m ord om os d a Vi rgem N ossa S en h ora d a/

E speran ça n esta paroch i al d e/ S an ti ago, sen d o j u i z

o Reveren d o Con ego Vi cen te Ri j o Cou ti n h o se

acen tou por votto d e tod os os i rm ãos pre/zen tes,

q u e abaxo asen arão q u e se to/m acem con tas ao

i rm ão th ezou rei ro/ J erón i m o d e Ol i vei ra e q u e o

d i n h ei ro q u e d os an n os passad os q u e ti n h a

sobrad o d as/ festas, e ti n h a em seu pod er o pod i a/

d ar para ai u d a d o azu l ej o com q u e se a d e/

azu l ej ar a d i tta i grej a e se l h e l evari a

em con ta n as pri m eras, q u e d er e eu /

An tón i o Fern an d es M al i gro [? ]

escri vão q u e sou d a d i tta/ I rm an d ad e

fi z este term o, q u e ass i n ei d i a/ e

an n o e u t su pra.

[ass i n atu ras] An tón i o Fern an d es

M al i gro [? ] / Vi cen te Ri ggi o

Cou tti n h o/ pad re M an oel Coel h o/

pad re I gn aci o Lopes/ M i gu el

B au ti sta/ pad re M an u el d e An d rad e/

S ebasti ão d e [i l egível ] Pessan h a/ Lu i s

Pessan h a Fal cão

ADE.CEEVR. Livro da Recei ta e Despesa da

I rmandade de Nossa Senhora da Esperança da

I greja de Santiago, fl . 1 1 e 11 vº.

Termo de contas da I rmandade daEsperança da I greja de Santiago

d essa con frari a, com a d oação d a i m portân ci a

d e 5 0 m i l réi s para d ar pri n cípi o à obra d os

azu l ej os, em 1 6 9 9 .

A tal h a d ou rad a, ci rcu n scri ta d esta vez às

capel as, su rge com o u m program a

com pl em en tar d e ren ovação i n i ci ad a com os

azu l ej os, com a obra para o retábu l o d a capel a-

m or, real i zad o em 1 71 9 , pel o en tal h ad or J oão

M i gu el , cu ri osam en te, n u m a espéci e d e j u sti ça

poéti ca, segu i n d o o m od el o d o d esapareci d o

retábu l o d a capel a-m or d a i grej a d e S ão Ped ro,

real i zad o pel o en tal h ad or Fran ci sco M ach ad o,

para o arcebi spo D . Frei Lu ís d a S i l va Tel es, em

1 701 . S ó vári as d écad as m ai s tard e, e j á d optan-

d o u m vocabu l ári o rococó, será

a vez d a ren ovação d as capel as

col aterai s , com a en com en d a d o

retábu l o d e J oão Al m ei d a

N egrão para a capel a d e N ossa

S en h ora d as D ores, real i zad o a

sem el h an ça d a capel a d e S an ta-

n a, d essa m esm a i grej a.

Page 51: Azulejos e talha dourada em Évora

53

[fl .1 1 ] Term o d e obed i en ci a e soj ei ção q u e/

fazem os fregu eses d a i grej a paroch i al d e

S an ti ago d esta ci d ad e d e E vora abaxo/

ass i n ad os

E m os sete d i as d o m es d e M ayo d e m i l /

sei scen tos e n oven ta e tres [? ] an n os em / esta

ci d ad e d e E vora corte ecl es i asti ca/ d este

arcebi spad o n as casas d a m ora/d a d e m i m

escri vão d a cam ara ao d i an te n om ead o

paresserão pessoal /m en te os fregu eses d a i grej a

paroch i al d e S an ti ago d esta d i tta ci d ad e/ d e

E vora abaxo ass i n ad os e por el es/

e cad a h u m d el es foi d i to q u e

para/ efei to d e terem I rm an d ad e

d o S an ti ss i /m o S acram en to n a

d i ta i grej a d e/ su a própri a e l i vre

von tad e sem for/ça n em

con stran gi m en to d e pessoal

al /gu m a e som en te por zel l o e

servi ço d e D eos sen h or n osso

d esd e l ogo para/ tod o o sem pre

se som eti a a soj ei tavão/ à

obed i ên ci a e su j ei ção d o

i l l u stri ss i /m o e excel en ti ss i m o

sen h or Arcebi spo/ d este

arcebi spad o d e E vora D om Frei

Lu i s d a S i l va com o o seu

l egi ti m o e verd ad ei ro prel ad o para q u e os

ti vesse d ebai xo d e seu am paro e protecção e

gozassem d e tod as as graças pri vi l égi os e

i n d u l gen ci as q u e costu m am gozar as

i rm an d ad es soj ei tas aos sen h ores arcebi spos

d este arcebi spad o d e E vora [fl . 1 1 v. º ] E

prom eti ão em tu d o aq u i l l o q u e pel l o d i /to

sen h or Arcebi spo e seu s su ccessores l h e fosse

m an d ad o obed ecer l h es para con ser/vação d a

su a i rm an d ad e e ou tross i m / d i sserão e

prom eterão d e d ar con tas/ d as recei tas e

d espezas q u e se fi zessem n a/ sobred i ta

i rm an d ad e n a form a q u e/ o cu stu m ão fazer as

i rm an d ad es so/j ei tas aos i l u stri ss i m os sen h ores

Arcebi spos e B i spos d este rei n o

d e Portu /gal d e q u e tu d o

m an d arão fazer oj e/ term o d e

soj ei ção e obed i en ci a q u e/

com i go ass i n arão B erth ol om eo

Lo/bo d a S i l vera escri vão d a

Cam ara/ Arch i epi scopal d este

arcebi spad o/ o escrevi e ass i n ei

[ass i n atu ras] B erth ol om eo

Lobo d e S i l vei ra/ J oseph

Ri bei ro, ou ri ves/ d e B rás

G od i n h o/ J orge d a Cu n h a/ J oão

Rod ri gu es/ Lu i s d e S ou sa/

D om i n gos J orge/ I n aci o Perei ra/

M an u el G on çal ves/ Fran ci sco

d a S i l va/ An ton i o Ri bei ro/ B ras

d e Ol i vei ra/ An ton i o S i m oi s/ An ton i o

Rod ri gu es/ M arçal Perei ra G al vão/ J oseph d a

S i l va/ I l d i fon so d a Costa

ADE. CEEVR. Livro dos Estatutos da I rmandade do

Santíssimo Sacramento da I greja de Santiago, fl . 1 1 e 11 vº.

Termo de obediência da I rmandade doSantíssimo Sacramento

Page 52: Azulejos e talha dourada em Évora

Con trato q u e faz revered o d ou tor j oao

gri zos… / com j oao d e al m ei d a N egram

E m n om e d e D eos am en saybão q u an tos este

pu bl i co i n strom en to d e/ con trato vi rem q u e n o

an n o d o n asci m en to d e N osso S en h or J ezu s

Ch ri sto/ d e m i l setecen tos s i n coen ta e si n co

an n os aos sete d i as d o m es d e J an ei ro d o d i to/

an n o n esta ci d ad e d e E vora e cazas d e m orad a d e

m i m Tabel i ão ao d i an te/ n om ead o pareceo

prezen te Reveren d o D ou tor J oão G ri zostom o e

J oão d e/ Al m ei d a N egrão en tal h ad or pessoas

m orad oras n esta ci d ad e q u e eu tabal l i /am

recon h eso q u e certi /fi co serem os própri os d e

q u e d ou m i n h a fee. E l ogo pe/l l o d i to reveren d o

d ou tor J oão G ri zostom o foi d i to em a m i n h a

presen ça/ e d as testem u n h as abaxo ass i gn ad as

q u e el l e estava con tratad o com o d i to/ J oão d e

Al m ei d a N egrão en tal h ad or para efei to d o m esm o

l h e fazer h u /m a capel l a para N ossa S en h ora d as

D ores s i ta n a Real I grej a d e S ão Th i ago/ d esta

ci d ad e n a capel l a em q u e h oj e h á S en h ora S an ta

B arbara a q u /al a d e ser em sei stavo com as

con d i ções e obri gações segu i n tes q u e el l e d i to/

J oão d e Al m ei d a N egrão a d i ta obra a capel l a d e

castan h o d e m on xi q u e d e/ boa q u al i d ad e, e seco

sem n os n em ven tos [? ] tan to n o Retabol l o d a

S en h ora com o n os/ arcos e n a acom od ação d o

al tar d a sen h ora com os d oi s arcos q u e h á h u m

por fora e ou tro/ d en tro d a d i ta capel l a e estes

Contrato Notarial para a real i zação doretábulo da capela de Nossa Senhoradas Dores da I greja de Santiago

h ão d e ter ped rastai s q u e as fara gu arn ecer com / a

d i ta capel l a e serão os d i tos arcos o en tal h ad os

em o arco d e fora e n o m ei o a d e l e/var h u m a

targe gran d e com d oi s an j os e em el l a a d e estar o

coração d e oração [? ] / d a sen h ora trespassad o com

sete espad as será a d i ta capel l a en tal h ad a com o/ a

capel l a d a sen h ora S an ta An n a q u e esta n a m esm a

i grej a ou m el h or se pu d er ser e i sto h e d a si m al h a

para baxo e n as segu i n tes d e si m a l evará h u m /

pavi l h ão com o tem as capel l as col l atrai s d o

Conven to N ovo, e o m esm o en ta/l l ad o con form e

o ped i r o rem ate d a d i ta obra com tod a a

perfei ção terá tam /bem seo sacrári o d o fei ti o d os

q u e estão n os al tares col l atrai s d e N ossa S en h o/ra

d a G raça q u e este possa acom od ar h u m a i m agem

d e N ossa S en h ora d e d oi s pal /m os e m ei o para h i r

n a pross i ção d os tersei ros D om i n gos o q u al

gu arn esera/ com a m esm a obra. Terá a S en h ora

su a tri bu n a en tal h ad a esta será d e coa/tro pal m os

e m ei o d e fu n d o será o seo tron o en tal h ad o

porposi on ad o/ a d i ta S en h ora terá seo respl en d or

n as festas, e terá porta n a tri bu n a/ on d e se pu d er

fazer m ai s acom od ad a terá h u m al tar d e m ad ei ra

pa/ra o sen h or m orto d o m esm o castan h o com su a

ren d a em rod a e com por/ta ti rad i ssa d a sorte q u e

esta n o al tar d o S en h or M orto d o Conven to d e

N o/ssa S en h ora d a G raça, e será obri gad o a d ar a

d i ta obra assen tad a ath e d i a/ d e S ão Th i ago d este

an n o d e setecen tos s i n coen ta e si n co n o seo

l u /gar, e sera m ai s obri gad o a tu d o m ai s q u e for

n ecessári o para assen tar/ a d i ta obra fei ta e

acabad a d e tu d o e estan d o d oen te ou con stan d o

ter/ trabal h os em caza d e E l Rei n osso sen h or

Page 53: Azulejos e talha dourada em Évora

55

m ostran d o por certi /d ão se l h e l evara em con ta e

fal tan d o a d i ta obra o estar acabad a/ e assen tad a

com tod a a perfei ção sem ter m ol esti a ou vexação

pel a cau /sa asi m a d i ta ath e o d i a d e S ão Ti ago

d esse m esm o an o d e setecen /tos e ci n q u en ta e

ci n co perd erá o u l ti m o q u artel q u e são sessen ta

m i l rei s e/ se fara a obra a su a cu sta e d e seu

fi ad or n esta ass i n ad o sem q u e sej a n esse/ssari o

ser j u d i ci al m en te cu j a obra é aj u stad a pel a

q u an ti a d e cen /to e vi n te m i l rei s e ao ass i n ar

n esta escri tu ra recebeu em m i n h a/ prezen ça e d as

testem u n h as tri n ta m i l rei s q u e e o pri m ei ro

q u artel e/ con stan d o estar a obra em m ei o d epoi s

d a Pascoa se l h e d ara ou tros tri n ta m i l [97 vº] e

n o cabo d a obra estan d o acabad a e perfei ta se/

l h e d ara sessen ta m i l rei s com q u e com pl eta o

aj u ste d esta obra e n ão estan /d o o d i to retabol o

fei to com tod a a perfei ção ass i m a d i ta e con stan te

d o reveren /d o pri or e j u i z e ben efi ci ari os e

i rm ãos d evotos d a d i ta i rm an d ad e q u e cocorrem /

para o d i to retabol o e con form e o con trato tan to

n o en tal h ad o e perfei ção/ d el l e n o con trato

aj u stad o com o n a m ad ei ra e q u al i d ad es se botara

d i /to retabol o abaxo e se m an d ara fazer ou tro por

ofi ci ai s a sati sfação d os sobre/d i tos a cu sta d el e

m estre e seu fi ad or sem q u e para i sso sej a

n esessari o ou n ovi /d ad e d e j u sti ça e sati sfarão a

d i ta q u an ti a d o retabol o n ovo q u e se fi zer ath e/

se assen tar o d i to a su a sati sfação d e q u e se fará

rol pel os ofi ci ai s q u e fi zerem / a obra e pel o d i to

J oam d e Al m ei d a N egrão foi d i to q u e el l a

th om ava a acei ta/va este i n strom en to e a d i ta obra

pel l o d i to preco ten d o sob obri gação d e su a/

pessoa e ben s m ovei s e d e rai z presen tes e fu tu ros

q u e obri gou e q u e para m ai s/ segu ran ça d i sso

d ava por seu fi ad or e pri n ci pal pagad or

d epozi tari o d o q u e d e [? ] / j u i zo a S i l vestre Xavi er

Correa q u e prezen te estava pel o q u al foi d i to q u e/

el l e fi cava por fi ad or e pri n ci pal pagad or

d epozi tari o d o q u e d e [? ] j u i zo pel l o/ d i to sen h or

J oão d e Al m ei d a N egrão para q u e n o cazo q u e

fal te ao d i to con trato e per/fei ção d a d i ta obra e

d i n h ei ro q u e receber se obri ga a tod as as

cl au zu l as e con d i /ções d essa escri ptu ra e por tod o

o con th eu d o n este i n strom en to ou q u al q u er/ parte

n el l e se obri gam respon d erem a serem ci tad os

peran te as j u sti ças q u e os q u i se/rem d em an d ar

para o q u e ren u n ci am ao j u i z d e seu s foros e se

obri gam a pagar ao re/q u eren te q u e n a tal

d em an d a an d ar ass i m n esta ci d ad e com o fora

d el l a/ a d u zen tos rei s por d i a ath e ser acabad a e

em fee e testem u n h o d a verd ad e a/ss i m ou torgarão

e a sei tarão sen d o testem u n h as M an u el d o

N asi m en to/ e J osé Lopes d e Agu i ar e eu Caetan o

J osé d e S eq u ei ra, Tabal l i ão/ d e n otas o escrevi

Pad re J oão Ch ri sostom o/ J oão d e Al m ei d a

N egrão/ S i l vestre Xavi er Correa/ J osé Lopes d e

Agu i ar/ M an u el d o N asci m en to

ADE. CNE. Tabel ião Caetano José Sequei ra , l i vro 11 63 , fl .

97 e 97 vº.

Page 54: Azulejos e talha dourada em Évora

I G RE J A PAROQU I AL D ESAN TO AN TÃO

A obra e a i mportânci a do mestre entalhador

l i sboeta Franci sco Machado foi sendo reconheci da

através dos pri mei ros trabalhos de Túl i o Espanca,

Vítor Serrão, Franci sco Lamei ra e, de forma mai s

extensa, pelas i nvesti gações de Val leci l lo Teodoro, a

quem se deve a i denti fi cação dos contratos notari ai s

para as mai s i mportantes obras do mestre entalhador

e uma pri mei ra vi são de conjunto da sua obra.

Pelo que sabemos, foram os jesuítas os pri mei ros a

patroci narem o talento de Franci sco Machado. Das

suas onze obras i denti fi cadas, as pri mei ras quatro, o

retábulo de São Sebasti ão para a capela da Qui nta

dos Apóstolos, o de São Franci sco Xavi er para a

i greja do Espíri to Santo, e os doi s retábulos para a

actual i greja de São Bartolomeu, em Vi la Vi çosa,

foram real i zadas para os padres da Companhi a de

Jesus. Essa frutuosa relação valeu-lhe ai nda a

encomenda, em 1 703, do retábulo de Nossa

Senhora da Boa Morte, a úl ti ma obra documentada

do mestre entalhador. Mas é com o apoi o do

Arcebi spo de Évora que Machado vai ter a

oportuni dade de executar os seus pri nci pai s

trabalhos, onde se destacam o retábulo da Nossa

Senhora do Anjo, na Sé, o majestoso retábulo da

capela-mor da i greja de Santo Antão, e o

desapareci do retábulo da i greja de São Pedro. Essas

três obras, real i zadas num fôlego contínuo,

estabeleceram uma forma i nusi tada de cooperação,

já que Frei Luís da Si lva vai obri gar a i nstalação da

ofi ci na de marcenari a de Franci sco Machado no

O mestre entalhador Franci scoMachado e o arcebi spo de Évora

Page 55: Azulejos e talha dourada em Évora

57

própri o Paço Epi scopal , assumi ndo também os

pagamentos semanai s aos seus ofi ci ai s. Se por um

lado, essa obri gação contratual era um

constrangi mento à l i berdade de acção do mestre

entalhador, assi m colocado sob a supervi são e

vi gi lânci a constante do Arcebi spo, foi um suporte

essenci al para que Machado actuasse como um

verdadei ro arqui tecto de retábulos, real i zando os

desenhos, di ri gi ndo os ofi ci ai s entalhadores e

responsabi l i zando-se pela montagem fi nal de

estruturas cada vez mai s complexas em prazos

exíguos e ri gorosos.

Em 1 701 , o septuagenári o arcebi spo, com a saúde

debi l i tada, reúne forças para a encomenda do

monumental retábulo da capela-mor da i greja de

Santo Antão, pela exorbi tante soma de 5 mi l

cruzados, um dos mai s caros projectos de talha

dourada em Évora, no século XVI I I . Fazendo mai s

uma vez prova da capaci dade de i nterpretação das

i ntenções dos comi tentes e da capaci dade de

di álogo com os valores da arqui tectura preexi stente,

Franci sco Machado propõe, para as elevadas naves

do templo mandado erguer pelo Cardeal -Infante, um

retábulo-pórti co ladeado por duas colunas colossai s,

com o grande arco da tri buna normalmente fechado

por uma tela do omni presente Bento Coelho. De

forma i novadora, para o áti co, cri ou um segundo

regi sto formado por uma edícula manei ri sta com

uma tela rodeada por um grupo escultóri co. Como

homenagem ao seu patrono, na parte superi or das

colunas, sentam-se duas esculturas douradas em

vulto, representando a Fortaleza e a Prudênci a,

vi rtudes cardeai s que personi fi cam as qual i dades do

governo do Arcebi spo. Anunci ando a fama póstuma,

num plano mai s recuado arcanjos trombetei ros e

turi ferári os ladei am as armas do prelado. É também

Santo Antão o úni co conjunto que conserva uma

i ndi cação repeti damente i mposta por D. Luís da

Si lva para aos desenhos das tri bunas dos retábulos

mai ores de Franci sco Machado. Preocupado com a

funci onal i dade l i túrgi ca das máqui nas, o arcebi spo

exi gi a que, para a exposi ção do Santíssi mo

Sacramento, nomeadamente durante as ceri móni as

do Lausperene, o i nteri or da casa da tri buna também

fosse lavrado e dourado e sobre o trono houvesse

um baldaqui no formado por uma coroa i mperi al

ladeada por doi s anjos tochei ros.

Exatamente por comparação entre algumas soluções

semelhantes entre o retábulo da Cartuxa e o de

Santo Antão, Franci sco Lamei ra, em texto i nseri do

nesse catálogo, propõem ao mestre Franci sco

Machado a execução do retábulo da capela-mor da

i greja do convento eborense, talvez sob o ri sco do

arqui tecto espanhol José de Churri guera.

BIBLIOGRAFIA

TEODORO VALLECILO, 1 996; SERRÃO, 1 996-1 997;

MANGUCCI, 2001 E 2008.

Page 56: Azulejos e talha dourada em Évora

retabol o para/ o al tar m or, d i go para a cappel a

m or d a i grei i a d e S an to An tão com su a tri bu n a

e/ tron o e a caza d a d i ta tri bu n a forrad a tod a d e

em tal h ad o e n a m esm a tri bu n a h a/ d e fazer u m a

coroa em pereal com seos An j os e i sto h a d e

fazer tu d o com for/m e o Ri sco q u e el l e d i to

Fran ci sco M ach ad o h avi a aprezen tad o ao d i to

i l l u stri ss i m o S en h or Arcebi spo. E n o d i to Ri sco

h á d e acrescen tar a d i ta coroa em pereal e os

An j os e a d e fazer/ h u as portas n a d i ta tri bu n a e

ass i m m ai s fara o acrescen tam en to q u e o d i to

S en h or/ Arci bi spo m an d ou fazer e tu d o por

con ta d o d i to Fran ci sco M ach ad o em tal h ad or. / E

h ora com o efei to l ogo por este pu bl i co

i n strom en to d i sse el l e d i to Fran ci sco M ach ad o/

em tal h ad or se obri gava com o em effei to obri gou

a fazer a d i to retabol o para/ a d i ta cappel a m or

d a d i ta i grei i a d e S an to An tão com form e el l e

d i to sen h or tem aj u stad o/ e i sto sem fal ta n em

d i m i n u i ssão al gu m a o q u al retabol o e tri bu n a e

tron o/ e o forro d a d i ta caza em tal h ad o se

obri gava fazer tod o d e pao d e bord o d esd e/ o

pren ci pi o/ th e o rem ate e fi m d a d i ta obra tu d o

por su a com ta d el l e d i to Fran ci sco M a/ch ad o

ass i m d e m ad ei ra com o d e ferrai e q u e for

n essessari a para a segu ran ça d a d i ta ob/ra com o

tu d o o m ai s q u e n essessari o for para a m esm a o

q u al se obri gou a fazer d e/m tro em caza d o d i to

i l u stri ss i m o sen h or Arci bi spo e d en tro d o tem po

d e h u m an n o o q u /al com eçava d o d i a d a

ch egad a d a d i ta m ad ei ra a esta d i ta ci d ad e em

d i an te. E se obri ga/el l e d i to sen h or Arci bi spo

q u e fazen d o o d i to Fran ci sco M ach ad o

[fl . 3 2 ] Com trato q u e fez o i l l u stríss i m o

S en h or Arci bi spo D om Frei Lu i z/ d a S yl va com

Fran ci sco M ach ad o en tal h ad or para l h e fazer/

o retabol o d o al tar m or d a i grei i a d e S an to

An tão d esta ci d ad e

S ai bão q u an tos este i n strom en to d e con trato

e obri gasão vi rem q u e n o an n o d o n asi m en to

d e n osso sen h or J esu s Ch ri sto d e m i l e

setecen tos e h u m an n os, / em o pri m ei ro d i a d o

m es d e Abri l d o d i to an n o, n esta ci d ad e d e

E vora, n os passos po/n ti fi ci ai s d o i l l u stri ss i m o

e excel en ti ss i m o S en h or D . Frei Lu i s d a S yl va,

Arci bi spo d esta/ d i ta ci d ad e d e E vora, e tod o

seo Arci bi spad o, e d o con sel h o d e el Rey

N osso S en h or, / q u e D eu s gu ard e, on d e eu

tabel i ão, ao d i an te n om ead o, fu i , estan d o ah i

prezen te o d i to/ sen h or, pessoa q u e eu tabel i ão

recon h esso e bem assi m estan d o m ai s prezen te

Fran ci sco/ M ach ad o en tal h ad or e m orad or

n esta Ci d ad e, n a Ru a d o Rai m u n d o, pessoa q u e

eu tabel i ão re/con h eço. E l ogo por el l e d i to

Fran ci sco M ach ad o, em tal h ad or, foi d i to, em

m i n h a prezen ssa e d as testem u n h as ao d i an te

n om ead as e ass i gn ad as, q u e era verd ad e e

n el l a passava/ q u e el l e estava aj u stad o, avi n d o

e con tratad o com o d i to i l l u stri ss i m o S en h or

Arci bi spo para e/ffei to d e l h e h aver d e fazer,

el l e, d i to Fran ci sco M ach ad o, em tal h ad or, h u m

Contrato Notarial de Frei Lui s da Si lva,arcebi spo de Évora com o mestreentalhador Franci sco Machado para oretábulo da capela-mor de Santo Antão

Page 57: Azulejos e talha dourada em Évora

59

em tal h ad or a d i ta obra n o d i to/ an n o, a l h e d ar

e bem pagar s i n co m i l cru zad os sob pen a d e

q u e n ão fazen /d o a d i ta obra el l e d i to Fran ci sco

M ach ad o d em tro d o tem po d e h u m an n o

perd er/ d u zen tos e s i n coen ta m i l rei s , a d an d o

acabad a n o d i to tem po q u e fi cara fi n d o e

acabad o n a form a d o d i to ri sco e tam bem com

o acrescem tam en to q u e o d i to sen h or m an d ou

fazer e tu d o o m ai s as i m a d ecl arad o. E i sto

sen ão en ten d en d o/ [fol . 3 2 v. º] n o cazo em q u e

por fal ta d e sau d e ou fal ta d e m ad ei ra q u e o

d i to Fran ci sco M ach ad o te/n h a para n ão fazer a

d i ta obra m as sen d o por su a u m i ssão o d i xar d e

fazer a d i ta obra e n ão a d an d o

acabad a n o d i to tem po d e h u m

an o cah i rá n a d i ta pen n a d e

per/d er os d i tos d u zen tos e

s i n coen ta m i l rei s a q u al obra se

obri gava fa/zer n a form a q u e d i to

h e pon d o d e tod o corren te tu d o

por su a con ta por pre/sso e

q u an ti a d e si n co m i l cru zad os em

d i n h ei ro d e con tad o os q u ai s

d i sse/ se l h e d ari ão e pagari ão

com form e se l h e d erão e fi zeram

os pagam en tos d a obra d o

retabol o d e N ossa S en h ora d o

B i spo d a vi l a d e M on tem or-o-

N ovo q u e el l e Fran ci sco

M ach ad o en tal h ad or fez por

con ta d o d i to i l l u stri ss i m o sen h or

Arci bi spo E n esta/ form a d i sse estar aj u stad o

h avi d o e con tratad o com o d i to porq u e com

tu d o se/ obri gava a com pri r e gu ard ar com

i n tei ro e real efei to com o n este i n /strom en to se

con th em sob obri gasão d e tod os os seu s ben s

m ovei s e d e/ rai z avi n d os e por aver q u e para

el l e em geral obri gou e h e por tu d o o con te/u d o

n este i n strom en to ou q u al q u er parte d el l e

ou torgou e se obri gou res/pon d er e ser ci tad o e

req u eri d o se com pri r peran te o j u i z d e fora d o

geral d es/ta ci d ad e d e E vora q u e h ora h e ou

ad i an te for ou j u i z execu tor d as rem /d as d a d i ta

m en za pon ti fi cal e peran te q u al q u er d el l es fazer

d e si tod o/ o com pri m en to d e i n fi ca e d i n h ei ro

e i m tei ro pagam en to d e pri n ci pal e cu stas/

ren u n ci an d o l ogo d e si para

este h aver efei to j u i s e j u i ses d e

seo foro/ e d a terra d on d e a tal

tem po vi ver ou vi s i tar d e tod os

os m ai s/ pri vi l egi os grasas e

l i berd ad es vi s con d en assoi n s

rezom i n s e/ ci tasom i n s e tod o

ou tro rem ed i o d e d i n h ei ro

ord i n ari a e extraord i n a/ri o q u e

per s i al egar possa al vi e

d i n h ei ro q u e d i z q u e a geral

ren u n ci asão n ão va/l h a os d ez

d i as d e em bargos aos

d em an d ad os e os n ove d a/ an te

e a n oi ad o e as fereas gerai s e

especi ai s porq u e d e n ad a

q u eri a u sar/ n em gozar sal vo a

tu d o m u i to i n teri am en te

cu m pri r e gu ard ar com o a aq u i / h e d ecl arad o e

a n ão al egar em bargos al gu n s d e n en h u m a

Page 58: Azulejos e talha dourada em Évora

cal i d ad e e/ com d i são q u e sei am com q u e

q u ei ra con trad i zer an u l l ar ou i m pu gn ar/ este

i n strom en to com parte n em em tod o e vi n d o

com el l es ou al egan d o al /gu m a cou za n ão

pod era ser ou vi d o em j u i z e n ão fora d el l es

sem pri m ei ro d e/pu zi tar tu d o o q u e por bem

d este i n strom en to esti ver d even d o e l h e for/

d em an d ad o em d i n h ei ro d e com tad o em m am

e pod er d o d i to i l u stri ss i m o sen h or Ar/ci bi spo

ou d a pessoa q u e seu pod er ti ver ou proved or

sem para i sso l h e ped i r fi an /ça n em cou sa

al gu m a porq u e d esd e agora para en tão os h avi a

para o tal d epo/zi to por segu ros e abon ad os e

n ão n ou tra provi zão d el Rey n osso sen h or para

d ei /xar e d epu zi tar o q u e d i to h e e q u e aven d o-

a d el l a n ão pod era u zar n em go/zar an tes

d esd e agora para o tal tem po a ren u m ci a a q u al

cl au zu l a d epu zi /tari a ped i o el l e d i to Fran ci sco

M ach ad o a m i m tabel i ão q u e aq u i l h e pu zesse

es/crevesse por d el l a ser com ten te o q u e eu fi z

a seo rogo q u an to em d i n h ei ro poso e d eva/ n a

form a d a provi zão se su a M agestad e e su a n ova

l ei sobre os d epo/zi tos e d e ser ci tad o em seo

n om e pel l o con th eu d o n este i n strom en to [fl . 3 3 ]

i n strom en to ou q u al q u er parte d el l e o foro d a

Cam ara d esta ci d ad e d e E vora/ q u e h ora h e ou

ad i an te for ass i m para i n stan ci a d a au são com o

para/ o d a ven d a pregom i n s arrem atasão d e

seos ben s e q u e pagari a pessoa req u eren te ou

cam i n h ei ro q u e n a tal d em an d a execu /são

arrecad asão an d ar ass i m n esta ci d ad e com o

fora d el l a a d u zen tos rei s/ por d i a d o d i a d a

au são por esta ath e d e tod o ser fi n d o e

acabad o e real / em trega d e pri n ci pal e cu stas

sob obri gasão d os d i tos seos ben s E pel l o d i to/

i l u stri ss i m o e excel en ti ss i m o sen h or arci bi spo

q u e prezen te estava foi d i to q u e el l e tom ava e

asei tava/ com si e em seu n om e este

i n strom en to d a m ão e pod er d o d i to Fran ci sco

M ach ad o em tal h /ad or com tod as as cl au zu l as

com d i som i n s pen n as e obri gasom i n s n el l e

con teu d /as e d ecl arad as e q u e ou tross i m se

obri gava a q u e com pri n d o el l e d i to Fran ci sco

M ach ad o/ em tal h ad or com tod o o com teu d o

n este i n strom en to em i spi ci al fazen d o/ o d i to

retabol o para a d i tta capel l a m or d a d i ta i grej a

d e S an to An tão tu d o n a form a d oo d i to/ ri sco e

d o q u e d i to h e d e bom pao d e bord o d esd e o

pri n ci pi o th e o rem ate e pon d o/ el l e d i to

Fran ci sco M ach ad o tu d o o q u e n esesari o for

para a d i ta obra e segu ran sa d el l a/ e fazen d o

d en tro d as d i tas cazas pon tefi cai s e d en tro d o

tem po d e/cl arad o E el l e d i to sen h or arci bi spo se

obri gava a fazer l h e os d i tos pagam en tos/ com o

d i to h e i sto sem d u vi d a n em em bargos al gu n s

sob obi rgasão d os be/n s e rem d as d a d i ta

m en za pon ti fi cal q u e para em q u e obri gou e

em /fee e testem u n h o d e verd ad e ass i m

ou torgarão e m an d arão d el l o se fei to/ este

i n strom en to com o se n el l e con th em q u e tod o

l h e foi l i d o e d ecl a/rad o e os q u e d esta n otta e

th eor com pri rem q u e asei tarão e em

testem u n h a/ o asei tes em n om e d as pessoas a

esta absen tes o q u e perten cer/ pod e sen d o

testem u n h as presen tes M an u el d a G u erra

portei ro d a Cassa d o d i to/ sen h or e Am aro D i as

Page 59: Azulejos e talha dourada em Évora

61

m eri n h o tod os m orad ores n esta ci d ad e d e

E vora pe/ssoas q u e eu tabel i ão recon h eso e

ass i n arão com o d i to I l u stri ss i m o e

E xcel en ti ss i m o sen h or/ e com o d i to

Fran ci sco M ach ad o e eu D om i n gos N u n es

M oren o tabel i ão d e n otas/ q u e o escrevi

[ass i n atu ras] arcebi spo/ Am aro D i as/

M an oel d a G u erra/ Fran ci sco M ach ad o

Retábulo da capela-mor de Santo Antão

Franci sco Machado, 1701 . Foto Artur Goulart

ADE, CNE, Tabel ião Domingos Nunes Moreno, Livro

1 026, fl . 32 -33 .

Page 60: Azulejos e talha dourada em Évora

I G RE J AD OS LÓI OS D EÉVORA

A recente reaval i ação do percurso artísti co de

Antóni o Ol i vei ra Bernardes, anteri ormente

reconheci do na hi stori ografi a apenas como pi ntor de

azulejos, é parti cularmente i mportante para a

compreensão dos novos cami nhos que a produção

das artes decorati vas tomou nesse período. Nasci do,

em Beja em 1 662, o pi ntor era conheci do como

Antóni o Ol i vei ra "do Alentejo" nos pri mei ros anos de

Li sboa, onde parece ter-se fi xado por volta de 1 684,

data da sua i nscri ção na Irmandade de São Lucas.

O seu casamento, em 1 694, com a fi lha de Franci sco

Ferrei ra de Araújo "pi ntor de têmpera de Sua

Majestade" e responsável pela mai s i mportante

ofi ci na de pi ntura de tectos, é uma forma de

reconheci mento l i sboeta e marca a sua plena

i ntegração no mei o artísti co da capi tal , ampl i ando o

âmbi to das encomendas e os contactos com mecenas

i mportantes. Esse percurso anteri or é, al i ás, algo

semelhante ao de Gabri el del Barco, documentado

na pi ntura de tectos de duas desapareci das i grejas de

Li sboa, e casado com uma cunhada do pi ntor Marcos

da Cruz.

O i níci o da dedi cação de Bernardes à pi ntura dos

azulejos coi nci de com o fi nal da década glori osa de

Gabri el del Barco (1 690-1 700), e uma das suas

pri mei ras obras para a Qui nta da Ramada merece um

i nédi to elogi o escri to do padre Agosti nho de Santa

Mari a, equi parando-a à qual i dade do azulejo

holandês, que tanto agradava à cl i entela portuguesa.

A ICONOGRAFIA DE SÃO LOURENÇOJUSTIN IANO NOS AZULEJOS DOSLÓIOS DE ÉVORA

Page 61: Azulejos e talha dourada em Évora

63

No plano técni co, se não for uti l i zada nenhuma

preparação mai s complexa das ti ntas, a pi ntura de

azulejos é extremamente exi gente, já que é

executada "al la pri ma", i sto é, o valor e a forma da

pi ncelada fi cam i ndelevelmente expressas no

vi drado que recobre a superfíci e cerâmi ca.

Naturalmente, fi cam favoreci das, por exemplo, a

abordagem vi gorosa e movi mentada de Gabri el del

Barco ou a tradi ção holandesa, onde as pi nceladas

são di spostas como o tracejado regular das gravuras.

Aproxi mando-se da sua própri a experi ênci a

pi ctóri ca, Antóni o de Ol i vei ra Bernardes preferi u

contrari ar tanto o contraste vi goroso presente nos

azulejos holandeses quanto a valori zação excessi va

da expressão da pi ncelada, cri ando nos seus

azulejos uma escala cromáti ca alargada com

sucessi vas aguadas de mei os tons azui s.

Em 1 696, Antóni o de Ol i vei ra Bernardes executou as

pi nturas para a nave da i greja de Santa Clara que,

actualmente, em di ferentes fases de restauro,

encontram-se expostas na nave da Sé de Évora.

Nessas obras reconhecemos as fi guras al teadas, a

correcção do desenho e uma cui dada estruturação

do espaço que i ndi cam uma sól i da cultura pi ctóri ca,

apoi ada numa lei tura pessoal do classi ci smo francês.

Mai s do que qualquer outro pi ntor, foi Bernardes

quem aproxi mou a pi ntura de cavalete das

campanhas fi gurati vas em azulejo.

A cri ação de expressões vi gorosas e patéti cas, mai s

uma vez i nfluenci ada pelo academi smo francês³⁴, é

notável no pai nel da prédi ca de São Lourenço

Justi ni ano, onde os seus ouvi ntes exteri ori zam

emoções di versas perante a ameaça de uma

tempestade. Para esses azulejos que sobrepujam o

púlpi to, Bernardes escolheu um esquema

composi ti vo que se adapta à i rregulari dade do espaço

arqui tectóni co, solução que, em si tuação semelhante,

repete no revesti mento da i greja da Mi seri córdi a de

Évora, de 1 71 6.

No caso da Congregação dos Lói os, as estruturadas

composi ções de Antóni o de Ol i vei ra Bernardes não

poderi am encontrar melhor cl i entela,

correspondendo a um renovado i nteresse pela cultura

emi nentemente pi ctóri ca na i ndi vi dual i zação dos

temas escolhi dos para a hagi ografi a de São Lourenço

Justi ni ano, peça central do di scurso da construção da

i denti dade i nsti tuci onal da Congregação.

BIBLIOGRAFIA

SERRÃO, 1 996-1 997; CARVALHO, 201 2;

MANGUCCI, 201 3.

Page 62: Azulejos e talha dourada em Évora

o m esm o aq u i con th eu d o e q u e a esto

i n tervi er/ão. A saber o d i to Reveren d o Pad re

Reytor, e m ai s pad res d epu tad os em n om e/ d o

d i to seu conven to, e o d i to M an u el B orges em

seu propri o n om e. E l ogo pel l o/ d i to reveren d o

pad re reytor, e m ai s pad res d epu tad os foi d i to

em m i n h a pre/zen sa é d as testem u n h as ao

d i an te n om ead as e escri ptas e ass i gn ad as q u e/

ass i m era verd ad e e n el l a passava q u e el l es

estavão h avi n d os e/ com tratad os com o l ogo em

effei to por este pu bl i co i n strom en to/ se

ou verão, e con tratarão com o d i to M an oel

B orges m estre d e al azi /j ad or q u e prezen te

estava para effei to d o m esm o l h es h aver se

azu l i /j ar a d i ta su a i grej a d e S ão J oão

E van gel i sta d este d i to seu conven to/ tod a d esd e

o an d ar d a m esm a ath e d on d e fei ch a abbobad a

em / cad a h u m d os cal l an os [s i c] d el l a e por

bai xo os croces [s i c] e os com [fl . 1 70] com

su as col l u n as n a form a d a pl an ta q u e se m ostra

ass i n ad a pel l o d i to pad re reveren d o reytor

d este d i tto conven to, e d i to m estre M an oel

B orges e n as pared es su as sah i rem coad ros com

m ol d u ras em q u e se m ostrarão a vi /d a d o

gl ori ozo sam Lou ren ço J u sti n i an n o ass i m com o

esta prezen te n o seu / conven to d e S ão J oão

E van gel i sta d a vi l a d e Arrayol os, n a m ayor e

m el h or/ form a q u e pu d er ser; e as j an el as q u e

d am l u x a esta i grej a q u e tem su as/ vi d rassas

serem tod as forrad as por d en tro d e azol ej o

com o tam bem a/ face d o ch oro d as grad es d el l e

ath e o arco com d ou s an j os n os vãos [? ] / q u e

com as m ãos estej am pegan d o n os pes d e h u m a

[fl . 1 6 9 v. º] obra d e em prei tad a d o

al i gi am en to [s i c] d a i grej a d e S ão J oão,

E van ge/l i sta d esta ci d ad e q u e con tratarão os

d i tos pad res reytor e d epu tad os/ d o d i to

conven to com M an u el B orges m estre al ei j ad or

[s i c] m orad or em Li sboa/

S ai bam q u an tos este i n stru m en to d e

con trato, e obra d e em prei tad a d o

al u gi a/m en to d a i grej a d e S ão J oão E van gel i sta

d esta ci d ad e d e E vora e obri gação vi rem / q u e

sen d o n o an n o d o n asci m en to d e n osso sen h or

J esu s Ch ri sto d e m i l e setecen tos/ e d es an n os

em os q u atorze d i as d o m es d e N ovem bro d o

d i to an n o n esta/ ci d ad e d e E vora d en tro d o

conven to d e S ão J oão E van gel i sta d os con egos

regran tes/ n a sel l a d o Reveren d o Pad re An tón i o

d a Pu ri fi cação reytor d o d i to conven to a d on d e

eu / tabel i am ao d i an te n om ead o fu i sen d o el l e

ah i prezen te e os reveren d os pad res

d e/pu tad os d o d i to conven to, e procu rad or

d el l e n o fi m d este i n strom en to/ ass i n ad os, q u e

tod os form a j u n tos e con gregad os para effei to

d e sati sfa/zerem d o cazo segu i n te E sen d o

ou tross i m ah i m ai s prezen te M an oel / B orges

m estre d e al u gi ad or m orad or n a ci d ad e d e

Li sboa e h ora estan te/ n esta d e E vora pessoa

recon h eci d a d o d i to reveren d o pad re reytor e

procu rad or d o d i to/ conven to q u e d i sserão ser

Contrato Notarial com o mestreladrlhador Manuel Borges para areal i zação dos azulejos do conventode São João Evangel i sta de Évora

Page 63: Azulejos e talha dourada em Évora

65

form oza agu i a/ q u e fi cara sobre o arco d o d i to

ch oro ath e abbobod a d el l e; e o Fron ti s/pi o d a

cappel l a m or q u e esta tu d o azu l egi ad o se

ti rara d el l e tod o/ o azu l ej o q u e n el l e esta, e se

torn ara azu l l ei ar d e n ovo d o m esm o/ azu l l ej o

d a d i ta i grej a o q u al d i to azu l ej o sera fi n o, e o

m el h or ass i m / d a cor com o d a bon d ad e d o

azu l , estan d o com o h ora se prati ca, m e/l h or,

m ai s cl aro, e m ai s fi n o d aq u el l e d e q u e esta

azu l ei ad a a/ su a i grej a d a Vi l a d e Arayol l os

q u e sera m u i to bem d escarq u i l h ad o [s i c] e

a/ssen tad o, e apl u m o [s i c] tu d o por con ta d el l e

d i to m estre M an oel B orges/ ass i m d e ofi ci ai s ,

serven tes, cal , e areya, e tu d o o

m ai s a d i ta obra per/ten sen te,

porq u e para efeti va d el l a, el l e

d i to reveren d o pad re reytor, e

m ai s pad res/ n ão fi cam

obri gad os a d ar m ai s q u e as

m ad eyras q u e forem n ecessa/ri as

para os an d am os d o assen to d o

d i to azu l ej o n a form a re/feri d a. E

ou tross i m d ecl arão el l es d i ttos

reveren d o pad re rey/tor e m ai s

pad res q u e o d i to m estre M an oel

B orges sera obri gad o a l a/gi ar a

cappel a d o S an to Ch ri sto q u e

esta n a d i ta su a i grej a com o

azu l ej o q u e ti rar d o fron ti spi o

d a capel l a m or d esd e os

carrei /ros d e azu l ej o q u e n el l a

estam ath e a abobad a. E tod a a d i tta/ obra fara

el l e d i to m estre M an oel B orges n a sobred i ta

form a tu d o/ por presso e q u an ti a d e sei scen tos

m i l rei s em d i n h ei ro d e con tad o/ pagos

em tregu es e sati sfei ttos em tres pagam en tos

i gu ai s a saber/ d u zen tos m i l rei s q u an d o n o d i to

conven to esti ver m etad e d o d i to/ azu l ej o, e os

ou tros d u zen tos m i l rei s q u an d o n o d i to

conven to/ esti ver a ou tra m etad e d o d i to azol ej o

e os ou tros d u zen tos/ m i l rei s com os q u ai s se

acabam d e prefazer os d i ttos sei scen ttos/ m i l

rei s presso d este con trato e sati sfação d a d i ta

obra l h e d aram / e em tregarão d epoi s d e fei ta e

acabad a a d i ta obra, n a form a d e/cl arad a n este

i n strom en to a q u al obra sen d o ass i m fei ta e/

acabad a sera vi sta por d oi s

offi ci ai s q u e bem a en ten d ão, e

a/ch an d o n el l a q u al q u er d efei to

o d i to m estre sera obri gad o a/

em m en d al l o a su a propri a

cu sta; e em m en d ad o o tal

d efei to/e se n ão se l h e ach an d o

em tão l h e serão em tregu es os

d i tos u l ti m os/ d u zen tos m i l

rei s ; a cu j os pagam en tos d os

d i ttos sei scen ttos m i l / rei s pel l o

m od o e form a refferi d a

d eseram el l es d i ttos reveren d os

pad res/ reytor, e d epu tad os, em

seu s n om es e d o d i to conven to

se obri gavão/ a d as pagar,

em tregar, e sati sfazer ao d i to

m estre M an oel B orges/ [fl . 1 70

vº] n os d i ttos tres pagam en tos n a form a atras

d ecl arad as sem d u /vi d a ou em bargo al gu m . E

Page 64: Azulejos e talha dourada em Évora

ou tross i m d i sseram el l es d i tos reveren d o pad re

rey/tor e m ai s pad res q u e os d espach os d o d i to

azu l ej o q u e se pagam n a ci /d ad e d e Li sboa

sei am tod os por con ta d o d i to m estre i n sol i d u m

e/ som en te el l es reveren d os pad res se obri gam

a pagar, e sati sfazer m eta/d e d o cu sto q u e fi zer

a com d u ção d o d i to azu l egi o ath e este

conven to por/ verd ad e d o d i to m estre. Com o

ou tross i m se obri gão a q u e d u ran /te a obra d o

assen to d o d i to azu l ej o d arem cam a e m en za a

el l e/ d i to m estre, e offi ci ai s q u e n a d i ta obra se

ocu parem : A q u al obra fei /ta prefei ta e acabad a

el l e d i to m estre M an oel B orges sera obri gad o/

d ar ath e os vi n te d i as d o m ês d e d ezem bro d o

an n o q u e em /bora a d e vi r d e m i l , e setecen ttos

e on ce an n os. S ob pen a d e q u e fal tan /d o a esta

con d i ção pagar para a com u n i d ad e vi n te m i l

rei s q u e l h e/ serão d escon tad os n os u l ti m os

d u zen tos rei s q u e receber/ acabad a a d i ta obra

n a referi d a form a. E para ass i m com pri /rem

terem m an terem e pagarem com si n cero e

verd ad ei ro effei /to d i sserão ou tross i m el l es

d i tos reveren d os pad re reytor, e m ai s pad res/

d epu tad os d i to conven to obri gação tod os os

ben s, e ren d as d o/ d i to seu conven to q u e para

el l e em geral obri garão. E l ogo pel l o/ d i tto

m estre M an oel B orges q u e ou tross i m prezen te

estava/ foi d i to q u e el l e em seu n om e tom ava e

asei tava este i n strom en to/ com tod as as

cl au zu l l as , e com d i ssoi s n el l e con th eu d as, e

d ecl a/rad as e a d i ta obra d o al ai j i am en to d a

d i ta i grej a d e S am / J oão E van gel i sta d esta d i tta

ci d ad e n a form a q u e n este i n s/trom en to se

d ecl ara e a d ar a d i ta obra prefei ta e acabad a/

n o d i to d i a d e vi n te d e D ezem bro d o an n o d e

m i l e sete/cen ttos e h on ce an n os vi sta e

aprovad a e ai n d a por m el h or, e m ai s/ bem fei ta

d o q u e esta a obra d o conven to d e S am J oao

E van /gel i sta d a vi l l a d e Arayol l os e para tu d o

ass i m com pri r/ ter m an ter e sati sfazer com

i n teyro e verd ad eyro effei to/ e sem fal ta

al gu m a; e d i sse o m estre M an oel B orges/ q u e

obri ga su a pessoa, e tod os os seu s ben s m ovei s

e d e rai z/ h avi d os e por h aver q u e por el l es em

geral obri gão. E com em bargos n ecessári o

n este i n strom en to/ n em a q u al q u er cl au su l l a

d el l e e q u e vi n d o com el l as/ ou al egan d o

al gu m a cau sa afi m d e i m ped i r arrecad ar a/ d i ta

obra, e a n ão d ar fi n d a prefei ta e acabad a

d en tro d o/ d i to tem po pagar os vi n te m i l rei s d e

pen a con sertad a/ e h a por bem pi rm ei ro q u e

sei a servi d o em j u i so em fee d el l e/ d epozi tar

n a m ão d o d i to reveren d o pad re rei tor ou

procu rad or d este/ conven to d e S ão J oão

E van gel i sta d esta d i tta ci d ad e os d i ttos

sei s/cen tos m i l rei s preso d o d i to con trato e

em q u an to n ão/ d epozi tar a d i ta q u an ti a n ão

sera ou vi d o em j u i zo n em / tera d el l e e l h e sera

d en egad a tod a a au d i en ci a [fl . 1 71 ] acção e

n em n o caso d a execu ção pod era vi r com

em bargos/ sem pri m ei ro d epozi tar pel o m od o

[i l egível ] sen d o caso q u e su ced a al gu m a

sen ten ça d efi n i ti va aj u n tara ci tatori a e se l h e

q u e se d ara e d eposi tara com o ass i m a d i sse a

q u al cl au su l a d a percatori a el l e d i to m estre

M an u el B orges peran te as d i tas testem u n h as

Page 65: Azulejos e talha dourada em Évora

67

ped i u a m i m tabel i am l h e escrevesse aq u i pera

ser d el l e con ten te con form e é n a l ei / sobre a

d i sposi çoi n s d e q u e h á fi z a seu rogo tan to

q u an to [i l egível ] posso e d e respon d er se

cu m pri r por tod o con th eu d o n esse i n strom en to

ou por q u al q u er sem el h a d el l e peran te o j u i z

d e fora d o geral d esta d i ta ci d ad e e o

correged or d el l a q u e h ora sam e pel l o tem po/

em d i an te forem per su as cartas percatori as ,

ci tatori as/ sem el h as e peran te geral govern ad or

d el l es fazer ass i m tod o o cu m /pri m en to d e

d i rei to e j u sti ça e i n tei ro pagam en to.

Ren u n ci n an d o pera esta h aver efei to j u i s d e seu

foro e d a terra/ d on d e ao tal tem po vi ver e

tod os os m ai s pri vi l egi os/ l i berd ad es, l ei s ,

ord en açoi s q u e em seu [i l egível ] fação sej am

q u e d e/ n ad a q u er u sar n em zel ar, m as s i m em

tu d o cu m pri r se d a/ con th eu d o n esse

i n stru m en to e q u e pagara ao cam i n h ei ro q u e

an d ar n a execu ção/ d esassete rei s por d i a d a

pri m ei ra ci tação [i l egível ] d o pri n ci pal e con tas

e recon cecu ti vos as l ei s q u e em seu / facu l tor [? ]

e a l ei q u e d i z q u e a geral ren con ci ação n ão

val h a e a d e/ d ez d i as q u e se d ão aos

d em an d ad os per exem pl ar/ j u sti ça e feri as

gerai s [i l egível ] tu d o cu m pri r com o se

execu th am n este i n stru m en to. E para em seu

n om e para a d i ta/ cau za ser ci tad o Fran ci sco d a

Cru z, portei ro d a cam ara d esta ci d ad e em

q u em fez l ogo/ com tal ci tação se proced a n a

cau za ti re sen ten ça faça pen h ora arrem atação

em seu s ben s sem em tem po al gu m pod er

al egar d effei to d e ci taçoi s/ ou req u eri m en to

porq u e para a d i ta cau sa a faz seu procu rad or

em cau sa propri a e i r/revogavel e em fee e

testem u n h o d a verd ad e ass i m ou torgarão e

acei tarão e d el l e o m an d ei ser fei to este

i n strom en to e a q u al d esta n ota em com pri rem

q u e tu d o l h es foi l i d o e d ecl arad o por m i m

tabel i am peran te as testem u n h as em q u e

ass i n aram d e seu s s i n ai s e eu tabel i am com o

pessoa/ pu bl i ca esti pol ar-se e acei tar-se em

n om e d as pessoas absen tes a q u em este pu d er/

vi r tocar e perten cer pod e por l ei e acei tei e

testem u n h as q u e presen te foram J osé Rod ri gu es

Ru faxo barbei ro m orad or n a Ru a d as Fon tes, e

Fran ci sco Pi n to Tei xei ra ass i n a-se n o d i to

con certo q u e tod os aq u i ass i n arão e eu Tom as

d e Azeved o Tabel i am d e n otas q u e o escrevi .

An tón i o d a Pu ri fi cação Rei tor/ M estre

An tón i o d a Con cei ção/ M an u el B orges/ An tón i o

d e S ão Rai m u n d o/ J oão d e S ão B ern ard o/

M an u el d e S ão B . [? ] / J osé Rod ri gu es Ru fach o/

Fran ci sco Pi n to Tei xei ra

ADE, CNE, Tabel ião Tomás de Azevedo, Livro 91 5 , fl .

1 69v.º - 1 71 .

Page 66: Azulejos e talha dourada em Évora

I G RE J A DA SAN TA CASADA M I S E RI CÓRD I A D E

ÉVORA

O BEL COMPOSTO NA IGREJA DA MISERICÓRDIA

DE ÉVORA

A I grej a d a M i seri córd i a exi be u m n otável

con j u n to d ecorati vo d e tal h a d ou rad a, azu l ej os

e pi n tu ras sobre tel a, n u m a d as cam pan h as

d ecorati vas m ai s coeren tes d as i grej as d a

ci d ad e. A i n terven ção com pl eta d e

reorgan i zação i n tern a d o tem pl o m an ei ri sta

d u rou m ai s d e três d écad as a con creti zar e

i n i ci a-se com obras n o cru zei ro, con cl u íd as em

Nave da I greja da Misericórdia de Évora. Foto J oaquim Carrapato

Page 67: Azulejos e talha dourada em Évora

69

1 6 9 3 . S egu e-se a ren ovação d a capel a d o Cri sto

M orto, ai n d a n o tran septo, com o retábu l o

real i zad o pel o m estre en tal h ad or I n áci o

Carrei ra, em 1 702 .

O con trato com o m estre en tal h ad or

Fran ci sco d a S i l va, cel ebrad o em 1 71 0, sob os

au spíci os d o arcebi spo S i m ão d a G am a, m as

com o acom pan h am en to efeti vo d o bi spo

govern ad or Lou ren ço J u sti n i an o d a

An u n ci ação, é a ch ave d e tod a a reorgan i zação

d o espaço com a su a en orm e fach ad a d a

capel a-m or, “ o fron ti spíci o d ou rad o” , q u e se

prol on ga pel as pared es l aterai s d a n ave

d efi n i n d o os espaços para as tel as d e Fran ci sco

Lopes M en d es on d e se represen tam o program a

d e acção soci al d a i n sti tu i ção com as sete obras

d e M i seri córd i a Corporai s : “ d ar d e com er a

q u em tem fom e” , “ d ar d e beber a q u em tem

sed e” , “ vesti r os n u s” , “ vi s i tar os en ferm os e

en carcerad os” , “ d ar pou sad a aos peregri n os” ,

“ rem i r os cati vos” e “ en terrar os m ortos” .

A fu n ção estru tu ran te d o espaço foi

d esem pen h ad a pel o trabal h o d o en tal h ad or,

q u e n u m m od u s operan d i com u m a cu l tu ra

arq u i tectón i ca e artísti ca d as ofi ci n as d o

períod o, ad opta o ri tm o proporci on al d os

tram os expressos tam bém n as n ervu ras d a

abóbad a, su bd i vi d i n d o o espaço d a n ave

respecti vam en te em três e q u atro secções.

Apesar d o con trato esti pu l ar o prazo d e u m an o

e m ei o para execu ção, as obras d e en tal h e e

m on tagem d em oraram m ai s d e q u atro an os a

con cl u i r-se, n aq u el a q u e con sti tu i a m ai s

i m portan te obra d e Fran ci sco d a S i l va,

experi en te m estre recon h eci d o tam bém com o

respon sável pel a con cl u são d a tal h a d a I grej a

d e N ossa S en h ora d os Prazeres, em B ej a (com

tecto e tel as d e B ern ard es e azu l ej os d e G abri el

d el B arco) . E m am bos os con j u n tos n ota-se a

evol u ção d o vocabu l ári o d o “ barroco n aci on al ”

e a u ti l i zação d e atl an tes e an j os al ad os

d i stan ci an d o-se d o d i scu rso d as ord en s

cl áss i cas d a arq u i tectu ra su geri n d o u m a

“ arq u i tectu ra m etafóri ca” ao gosto d o tratad o d e

Nave da I greja da Misericórdia de Évora. Foto J oaquim Carrapato

Page 68: Azulejos e talha dourada em Évora

Caram u el Lobkowi tz.

O con trato para os azu l ej os com M an u el

B orges real i za-se em 1 71 5 , d epoi s d a con cl u são

d a cam pan h a d a tal h a, garan ti d o a perfei ta

con ti n u i d ad e d ecorati va en tre as d u as Artes, e

n os azu l ej os as d i vi sões d os tram os m arcam -se

por pi l astras q u e con ti n u am a l i n h a d os

atl an tes d a tal h a d ou rad a. O program a

i con ográfi co j á se en con tra d efi n i d o pel os

com i ten tes, esti pu l an d o-se n o con trato o

program a i con ográfi co d as sete obras d e

M i seri córd i a E spi ri tu ai s : “ d ar bom con sel h o” ,

“ en si n ar os i gn oran tes” , “ con sol ar os tri stes” ,

“ casti gar os q u e erram ” , “ perd oar as i n j ú ri as” ,

“ sofrer as fraq u ezas d o próxi m o” e “ rogar a

D eu s pel os vi vos e d efu n tos” fi gu rad a através

d e ou tros tan tos epi sód i os d a h agi ografi a d o

M essi as . O con trato regi sta o pl an o d os

em bl em as, col ocad os d ebai xo d os pai n éi s

pri n ci pai s , q u e i ri am ser con feri d os d epoi s d os

azu l ej os col ocad os.

O d ou ram en to, ou tra cu stosa em prei tad a,

vai ser obj ecto d e d oi s con tratos, u m pri m ei ro,

con sti tu i n d o u m a eq u i pa d os q u atro m el h ores

artífi ces d a ci d ad e, reu n i n d o M an u el d a M ai a,

B ern ard o Lu ís , Fran ci sco Ferrei ra e J osé

Correi a. A red ação, por al gu ém com profu n d os

con h eci m en tos d a Arte, d á con ta d e tod o u m

aparato “ pi ctóri co” propon d o refl exos

verm el h os e verd es sobre d ou rad o, a

al tern ân ci a d e áreas em fosco e bri l h an tes, as

l acas “ m ai s su bi d as” e as carn ações d os an j os

por pol i m en to sem recu rso a pi n céi s . A obra só

será efeti vam en te execu tad a em 1 72 9 , por

Fel i pe S an ti ago q u e se q u ei xava d a S an ta Casa

d a M i seri córd i a, n u m a si tu ação i n j u sta para o

pi n tor q u e, trabal h an d o com ou ro para u m a

i n sti tu i ção ass i sten ci al , se vê a bei ra d a

m i séri a.

Por razões q u e d escon h ecem os, ci n co d as

sete “ Obras d e M i seri córd i a” foram refei tas

pel o pi n tor J osé Xavi er d e Castro, em 1 737,

m an ten d o-se apen as d u as tel as d e Fran ci sco

Lopes M en d es: “ d ar d e com er a q u em tem

fom e” e “ d ar d e beber a q u em tem sed e” ,

m arcad as por al gu m a d u reza n a apl i cação d as

cores, e por u m a i n gen u i d ad e n a com posi ção.

N o en tan to, com parati vam en te, são as

m el h ores obras d o pi n tor, n as q u ai s preval ece o

regi sto an ed óti co, com a represen tação d e

costu m es trad i ci on ai s , com o n o caso d e u m

gru po q u e tem pera u m pão com azei te

aq u ecen d o-se a vol ta d a fogu ei ra.

BIBLIOGRAFIA

PEREIRA, 1 948; SIMÕES, 1 944; MEN DEIROS, 1 987;

TEODORO VALLECILO, 1 996; SERRÃO, 1 996-1 997;

MANGUCCI, 2001 E 2008 e CARVALHO, 201 2.

Page 69: Azulejos e talha dourada em Évora

71

Contrato Notarial entre a Misericórdia deÉvora e o entalhador Francisco da Silva

[fl .1 2 5 ] Con tracto sobre a factu ra d e h u m a

obra q u e fazem os/ i rm aos d a m en za d a S an ta

Caza d a M i zeri cord i a d esta ci d ad e com

fran ci sco d a S i l va d e Évora e o en tal h ad or

Fran ci sco d a S yl va

S ai bam q u an tos este pu bl i co i n strom en to d e

con tracto sobre a factu ra d e/ h u m a obra

d een tal h ad o e obri gação vi rem q u e n o an n o d o

n asci m en to d e n osso sen h or J e/su s Ch ri sto d e

m i l setecen tos e d ez an n os, aos d ezasete d i as

d o m ês d e n ovem /bro, d o d i to an n o n esta

ci d ad e d e E vora em a caza e

com si stori o d a S an cta

M i zeri cord i a/ d on d e eu

tabal l i ão ao d i an te n om ead o fu i

sen d o prezen tes em m en /za

segu n d o u so e estatu tos d a d i ta

caza e su a con frari a para

sati sfa/zerem ao cazo segu i n te,

a [i l egível ] o i l u stríss i m o

proved or D om S i m ão d a/ G am a

arcebi spo d este arcebi spad o d e

E vora, D om J osé d e M el l o,

fi d al go/ d a caza d e su a

M agestad e e escri vão d a m en za

e Cu stod i o Vi l a Lobos d e/

Al m ei d a th ezou rei ro d a d i ta

caza, e os m ai s i rm ãos n o fi m d esse

i n strom en to/ ass i gn ad os tod os d a m en za esse

prezen te an n o q u e por especi al provi /zão d e

su a m agestad e q u e D eu s tem o cargo d e reger e

govern ar e ad m i n i strar/ os ben s e fazen d a d a

d i ta caza e su a con frari a e bem assi m sen d o

m a/i s prezen te Fran ci sco d a S yl l va offi ci al d e

en tal h ad or m orad or n esta ci d ad e/ em a Ru a d os

E m fan tes pessoas recon h eci d as d e m i m

tabel i am Logo pel os/ d i tos i rm ãos d a m en za foi

d i to em m i n h a prezen ça e d as testem u n h as/ ao

d i an te n om ead as e asi gn ad as q u e el l es estavão

avi n d os e con tratad os/ com o l ogo em effei to

por este pu bl i co i n strom en to se con tratarão

com / o d i to Fran ci sco d a S yl va para h aver d e o

m esm o fazer d e obra en tal h ad a/ a fron tari ad a

cappel l a m ayor d a i grej a d a d i ta S an cta caza e

seu s al /tares col aterai s th e ao soco

d a abobad a segu n d o o ri sco m ai or

e m ai s/ l evan tad o n a fol h a q u e

para a m esm a obra esta fei to

fazen d o el l e d i to/ Fran ci sco d a

S yl va e cobri n d o d e en tal h ad o os

l ad os d a d i ta i grej a d o fri zo/

d on d e com esão os arcos d a abod a

th e o capi tel d e m arm ore preto d a

ca/pel l a d o S an to Ch ri sto,

en tran d o n esta obra ou d ei xan d o

em el l l a sem / en tal h ar o cl aro d e

d ou s pal m os d e al tu ra em q u e se

h a d e pi n tar as/ obras d a

M i seri cord i a e ass i m m ai s sera

obri gad o el l e d i to Fran ci sco d a

S yl va a fazer/ d u as col u n as em cad a cappel l a

d as tai s , al em d e d u as fi gu ras q u e h a d e/ fi car

n os l ad os d a Cappel l a m ai or, d e gran d eza q u e

Page 70: Azulejos e talha dourada em Évora

a obra o pri m i ti r, sem / em bargo d e as tai s

col u n as n ão estarem n o ri sco, e as m ol d u ras

d os coa/d ros serão d e d ez pal m os e m eyo bem

fol gad os d e l argu ra d o fei ti o/ q u e m ostra o

rascu n h o com obri gação d e a tal h a ter tod a a

al tu ra q u e/ for n ecessari a para a tal h a e

avi a/m en to d e tod a a obra e a tal m ad ei ra sera

m u i to em ch u ta e seca e se pod erá/ j u l gar por

d oi s offi ci ai s d e seu offi ci o se tem a tal h a a

al tu ra n ecessari a q u e/ [fl . 1 2 5 v. º] ped e a d i ta

obra segu n d o os rascu n h os q u e para a m esm a

se fi zerão pon d o/ el l e d i to Fran ci sco d a S i l va e

com corren d o com tod o o n ecessari o para a d i ta

obra q u e/ d ara prefei ta e acabad a d en tro d e

an n o e m eyo d a factu ra d este se en d i /an te e n o

fi m d o d i to tem po ser a d i ta obra fi n d a e

acabad a sem q u e n el l a/ possa h aver a m ín i m a

m an ch a e n ota e para q u e d en tro n o d i to tem po

ass i m / fi n d e e acabe a tal obra será obri gad o a

com correr com os offi ci ai s/ q u e forem

n ecesari os e avi am en tos para a factu ra d a obra

e i sto tu d o/ pel o preso e q u an ti a d e q u atro m i l

cru zad os en tregan d o l ogo el l es/ d i tos i rm ãos d a

m en za a el l e d i to Fran ci sco d a S yl va ao asi gn ar

d esta es/cri ptu ra m i l cru zad os com obri gação

d el l e e seu s su cessores i rem com /ti n u an d o com

a en trega d o m ai s d i n h ei ro pel l o tem po

en d i an te traba/l h an d o-se n a d i ta obra o q u e se

obri gavam real m en te com pri r e gu ard ar com /

i n tei ro e real effei to, sob obri gação d os ben s e

ren d as d a d i ta S an ta Ca/sa e l ogo pel o d i to

Fran ci sco d a S yl va foi d i to q u e ass i m era e se

passava/ n a verd ad e e el l e por esse pu bl i co

i n strom en to se obri gava a fazer e acabar/ a d i ta

obra n a form a q u e d ecl arad o era pel l o d i tto

presso d e q u atro m i l cru /zad os cobran d o l ogo

m i l cru zad os ao ass i n ar d este i n strom en to e o

m ai s/ d i n h ei ro convi n h a e era con ten te q u e

pel o tem po en d i an te trabal h an d o/ n a d i ta obra

se l h e fosse en tregan d o pel o bem d o q u e l ogo

pel l os d i tos i r/m ãos d a M i seri cord i a em

prezen ça d e m i m tabel i am e d i tas testem u n h as

d erão con tarão en tregarão ao d i to Fran ci sco d a

S yl va os d i tos m i l cru zad os por/ con ta d a d i ta

obra e para pri n ci pi o d a m esm a tod as em

d i n h ei ro d e con tad o/ m oed as corren tes n este

reyn o d e Pu rtu gal q u e el e d i to Fran ci sco tom ou /

con tou e recebeu e d epoi s d e bem con tad o

recebi d os d i sse e con fe/ssou estar a ah i tod a a

d i ta q u an ti a d os d i tos m i l cru zad os e d el l es/ se

d ava per en tregu e pago e sati sfei to e aos d i tos

i rm ãos/ d a m en za por l i vres e d esobri gad os e se

obri gava a d ar verd ad ei ro com /pri m en to a tod o

este i n stru m en to com o n el e era d ecl arad o sob

obri ga/ção d e su a pessoa e tod os os seu s ben s

m ovei n s e d e rai z acçoi n s e pertem /soi n s

h avi d os e por h aver q u e para el l o em geral

obri gou e em especi al d i /sse q u e obri gava as

fazen d as segu i n tes u m a m orad a d e casas q u e

tem / e possu i l i vres e i zen tas n a ru a d a Fon tes

d i go Ru a d os E m fan tes q u e/ partem com casas

d e Th eresa Col assa e cazas d e M an u el d a

Costa, com /fei tei ro, e ou tra m orad a d e casas n a

m esm a ru a j u n to as as i m a/ forei ras ao Cabi d o

em q u i n h en tos e s i n coen ta rei s e ass i m m ai s

tres/ q u artéi s d e vi n h a mysti cas q u e possu e n os

Page 71: Azulejos e talha dourada em Évora

73

cou tos d esta ci d ad e/ [i l egível ] q u e partem com

vi n h a d e Th i ago d a Costa e ou tro q u artel d e

vi /n h a q u e tem n os cou tos d esta m esm a posta

[? ] d a Pi ram an ca q u e parte [fl . ] com vi n h a d o

D r. M an u el B ravo d a S i l va e com vi n h a d e

Th om as d e An d rad e/ as q u ai s fazen d as tod as

eram su as l i vres d e ou tra obri gação e ah i

possu a e com o/ tai s as obri gava para q u e por

el as e pel o m ai s bem [? ] d el l as ten h a este/

i n strom en to seu verd ad ei ro e real cu m pri m en to

fal tan d o a sati sfação d el l e o q u e tu d o obri ga/va

em seu n om e e d e su a m ol h er Catari n a Lopes

pessoa recon h eci d a d e m i m tabel i /ão, a q u al

eu tabel i ão em casas d e su a m orad a l h e

n oti ci ei e n oti fi q u ei esta/ escri tu ra em com o o

d i to seu m ari d o Fran ci sco d a S yl va se avi a

con tratad o/ com os i rm ãos d a m en za d a S an ta

Casa d a M i seri cord i a d esta ci d ad e para h aver

d e l h e fazer/ u m a obra d e en tal h ad o em a

i grej a d a d i ta S an ta Casa n a form a d ecl arad a/

em esta escri tu ra pel o preço d e q u atro m i l

cru zad os d e q u e o d i to seu m ari d o/ cobrou

l ogo ao ass i n ar esta m i l cru zad os fi can d o para

se l h e i r com /ti n u an d o com o m ai s d i n h ei ro

pel o tem po em d i an te q u e for fazen d o em a

d i ta obra/ q u e d ara fi n d a e acabad a d en tro d e

an o e m eyo d a factu ra d es/ta escri tu ra em d i an te

a cu j o cu m pri m en to h avi a o d i to seu m ari d o

obri ga/d o tod o os seu s ben s em geral e em

especi al as fazen d as con teu d as em esta d i ta/

escri ptu ra q u e tu d o l h e foi l i d a e d ecl arad a por

m i m tabel i ão e sen d o tu /d o por el a m u i to bem

ou vi d o e en ten d i d o m e respon d eu e d eu em

resposta/ q u e d e tu d o era sabed ora e q u e d e

seu con sen ti m en to o d i to seu m ari d o h avi a/

aj u stad o a d i ta obra pel o d i to preço d e q u atro

m i l cru zad os d e q u e recebera/ os d i tos m i l

cru zad os a con ta d e q u e tu d o se h avi a fei to a

presen te escri ptu ra/ e ao cu m pri m en to d el a

obri gad a o d i to seu m ari d o as d i tas fazen d as e

se/ n ecessari o ser pel a parte q u e por d i rei to l h e

tocava d e n ovo tu d o obri gava re/ti fi can d o tu d o

per bem fei to fi rm e e val i oso d e q u e eu

tabel i am / d ou m i n h a fé e por tod o o con th eu d o

n este i n strom en to q u al q u er parte/ d el l e

respon d er ass i m ci tad o sem i sso for [? ] el l e d i to

Fran ci sco d a S yl va peran te/ o j u i z d e fora d o

geral d esta ci d ad e ou correged or d el a q u e h ora

são os q u e ao d i an /te forem e servi rem por su as

cartas precatori as ci tatori as e sem el h as per/an te

q u al q u er d el as fazer d o si tad o o cu m pri m en to

d o d i to e j u sti ça e i n te/i ro pagam en to d o

pri n ci pal e cu stas ren u n ci an d o l ogo d i sse para

se h a/ver efei to d o j u i z d e seu foro d a terra e

d om i ci l i o d on d e ao tal tem po/ vi ver ou esti ver e

tod os os m ai s pri vi l egi os graças e l i berd ad es

l ei s/ e ord en asoi n s, razoi n s e excepções e tu d o

ou tro q u al q u er rem ed i o d e d i rei to/ ou d i rei to

extraord i n ari o q u e per s i al egar possa e a l ei d e

d i rei to q u e faz geral ren u n /ci ação n ão val h a e

os d ez d i as q u e se d ão aos d em an d ad os/ por

escri ptu ras pu bl i cas e as feri as gerai s e

especi ai s porq u e d e n ad a q u er/ u sar n em gozar

an tes tu d o cu m pri r e gu ard ar e d e n ão al egar

em /bargos al gu n s d e q u al q u er cal i d ad e ou

con d i ção q u e sej am com q u e q u ei ra/ an u l ar

Page 72: Azulejos e talha dourada em Évora

Arquivo Distrital de Évora. Cartórios Notariais de Évora.

Tabelião André Vidigal da Silva, Livro 1009, fl.225 e v.º.

con trad i zer ou i m pu gn ar este i n strom en to em

parte ou em tod o [fl . 1 2 6 v. º] e ven d o com el l e

ou al egan d o al gu m a cou sa n ão q u er ser

ou vi d o/ em j u ízo ou fora d el e n em ad m i ti d o a

req u eri m en to al gu m sem pri m ei ro d epo/zi tar

tu d o o q u e por bem d este i n strom en to con star

estar d even d o pel a j u sti ça/ l h e for d em an d ad o

tu d o em d i n h ei ro d e con tad o em m aos e pod er

d o tesou rei ro/ d a d i ta san ta casa sem para i sso

l h e ped i r n em n ecessari o ser d ar fi an ça cau /são

ou abon ação al gu m a porq u e d e agora para

en tão o h á por segu ro e abo/n ad o e fi el

d eposi tari o en q u an to n ão fi zer o d i to d eposi to

l h e sera d en e/gad a tod a au d i en ci a razão acção

e req u eri m en to q u e em j u i zo em fora d el e

q u i /ser fazer a q u al cl au su l a d eposi tari a el l e

d i to Fran ci sco d a S i l va ped i o/ a m i m tabel i ão

q u e l h a pu zece e escrevece pu rq u e d ecl ara

com /ten te e eu tabel i ão aq u i l h a pu s e escrevi

por m a ped i r e tan to q u an to/ em d i rei to posso e

d evo n a form a d a provi são d e su a m agestad e

sobre os d i /tos d eposi tos e d e respon d er e ser

ci tad o se n ecessari o for em n om e d el e d i to/

Fran ci sco d a S yl va o portei ro d a cam ara d esta

ci d ad e ass i m para a pri m ei ra i m portan /ci a d a

acção com o para a d a ven d a pregoi s e

arrem ataçoi s d e seu s/ ben s sem em tem po

al gu m pod er al egar i gn oran ci a n em d effei /to d e

ci tação porq u e d e agora para en tão o faz seu

procu rad or em cau za/ propri a e i rrevogavel e

d e pagar ao req u eren te cam i n h ei ro ou pe/ssoa

q u e n a tal execu ção an d ar ass i m n esta ci d ad e

com o fora d el a a d u /zen tos rei s por d i a q u e se

con tarão d o d i a d a pri m ei ra acçao posta th e d e

tu d o ser/ acabad a [? ] real en trega d o pri n ci pal e

n estas em fee e [i l egível ] term o d e verd ad e

ass i m / o ou torgaram e d el e m an d aram ser fei to

este i n strom en to e os q u e d esta n ossa/

cu m pri rem q u e tu d o l h es foi l i d o por m i m

tabel i am com o n el e se con th em / q u e assei tarão

e eu tabel i ão em n om e d os absen tes a q u e i sso

per/ten cer pod e este pu bl i ca j u sti ça sen d o

presen tes per s i e por testem u n h as/ o pad re

J oão An tu n es secretari a d a d i ta san ta casa d a

m i seri cord i a e M an u el Froes/ req u eren te e servo

d a d i ta san ta casa pessoas recon h eci d as d e m i m

tabel i am q u e/ tod as aq u i ass i n aram eu An d re

Vi d i gal d a S i l va Tabel i am d e n otas q u e escre/vi

D om Rod ri go d e M el o/ Cri stovão d e Ch avez

d e Abreu Corte Real / J ose B arreto d e

Val d evi n os/ Cu stod i o d e Vi l al obos d e Al m ei d a/

Al varo J ose d e Carval h o/ Ped ro Rod ri gu es

B ottão/ Cath eri n a Lopes/ Fran ci sco d a S i l va/

Pad re J oão An tu n es/ M an u el Froes

Page 73: Azulejos e talha dourada em Évora

75

Ru a d o Re/m u n d o pessoa recon h eci d a d e m i m

tabal i am q u e certi fi co ser a pro/pi a aq u i

con th eu d a e d ecl arad a. E l ogu o pel l o d i to

Reveren d o/ D eão e Th ezou rei ro, e m ai s i rm ãos

foi d i to em presen ça d e m i m taba/l i am e d i tas

testem u n h as q u e el l es ti n h am d etri m i n ad o

m an /d ar azu l i gar a i grei a e coro d esta caza para

o q u e estavam aser/tad os com o d i to M an u el

B orges a q u e azu l i asse

reparti n /d o o azu l ei i o em sete

passos d as obras espi ri tu ai s d a

m i zeri cord i a/ com vari os

em bl em as por baxo d os d i tos

passos d e q u e se l h e d ara/ u m

papel d ecl aran d o-se os passos e

em bl em as em h u m d i go/

em bl em as em q u e sera

ass i gn ad o pel l o th ezou rei ro

d esta m e/za o q u al m ostrara

d epoi s d o d i to azol ei i o as i n tad o

n a i grei a pa/ra ver se esta fei to

n a form a d o estrato q u e se l h e

d er as i gn ad o/ pel l o d i to

th ezou rei ro e o d i to azu l ei i o

sera d o m ai s fi n o e m e/l h or q u e

ou ver fei to n o tem po presen te n os tem pl os d a

corte e/ se l h e d a por cad a m i l h ei ro q u e asen tar

q u aren ta m i l rei s l i vre/ d e tod os os cu stos

d espezas e com d u çoi s q u e o m esm o fi zer

d es/d e a h ora q u e esti ver fei to e pi n tad o ath e

ch egar a esta caza e/por q u an to tod as as d i tas

d espezas sam por con ta d esta m eza e as

d espe/zas m i u d as e d espach os d e tu d o o m ai s

[fl . 2 v. º ] Con trato q u e faz os i rm ãos d a

M i seri cord i a/ d esta ci d ad e com M an u el B orges

m orad or em Li sboa so/bre o azol ei i o d a i grei a

E m n om e d e D eos, am em , sai bão q u an tos

este pu bl i co i n strom en to d e

con /trato e obri gu açam vi rem

q u e n o an n o d o n asci m en to d e

n osso sen h or/ J esu s Ch ri sto, d e

m i l e setecen tos e q u i n ze an n os,

n esta ci d ad e, / d i gu o, an n os, aos

vi n te e h u m d i as d o m es d e

S etem bro d o d i to an n o, / n esta

ci d ad e d e E vora, n as cazas d a

M i zeri cord i a d el l a, estan /d o ah i ,

em m eza, o Reveren d o D i ão

Ch ri stovão d e Ch aves d e Abreu /

Corte Ri al , escri vam e

prezi d en te d a d i ta m eza, e o

sargen to m or/ M an u el D u arte d e

Ol i vei ra, th ezou rei ro d a m esm a,

e os m ai s i r/m ãos d a d i ta m eza,

n o fi m d este i n strom en to n om ead as/ e

ass i n ad as, estan d o m ai s prezen te M an u el

B orges, m estre/ [fl . 3 ] m estre d e azu l ei i o,

m orad or n a ci d ad e d e Li sboa, as G i n el l as

Verd es, pe/ssoa recon h eci d a d as testem u n h as

ao d i an te n om ead as/ e ass i gn ad as, e bem assi m

M an oel G om es, m estre d e pe/d rei ro, m orad or

n esta Ci d ad e n a Ru a d os M ercad ores, d i gu o, n a

Contrato notarial entre a Misericórdia deÉvora e o mestre ladrilhador ManuelBorges

Page 74: Azulejos e talha dourada em Évora

n esecari o para se com d u /zi r o d i to azu l ei i o

ath e Al d ei a G u al egu a sera fei ta esta

com /d u çam pel l o d i to M an oel B orges e tu d o

l h e sera pagu o pel l o th e/zou rei ro d esta m eza

ao d i to M an oel B orges e sera cri d o por su a/

verd ad e d e q u e d ara h u m rol d a d espeza para

l h e ser sati sfei /ta, ass i m d e q u aren ta m i l rei s

q u e a d e h aver por cad a m i l rei s/ d e azol ei i o

q u e assen tar e tod os os h om es q u e l h e forem

n eseça/ri os para o aj u d arem a asen tar o d i to

azol ei i o sam por/ con ta d el l e d i to M an oel

B orges porem a cal a area e m ad ei ra/ q u e for

n esecari o para se assen tar o d i to azol ei i o sera

por con ta/ d esta m eza q u e sati sfara o

th esou rei ro d el l a e o d i to azol ei i o d a/ i grei a e

coro sera obri gad o assen tal l o ath e d i a d a

vi z i tação d e S an /ta I zabel q u e h e a d oi s d e

J u l h o e o corpo/ d a i grei a o d ara th e a Coresm a

n ão h aven d o emvern ad a/ q u e o i m peça e fi n d a

a obra seram con tad os os m i l h ei ros d e

azo/l ei i o q u e a d esta i grei a e coro e l evara por

cad a h u m m i l h ei ro/ se d aram os d i tos q u aren ta

m i l rei s abaten d o-se tod a aq u el l a/ q u an ti a q u e

ti ver recebi d o por con ta d a d i ta obra e

su ced en d o/ q u e vi n d o o d i to M an u el B orges a

fazer a obra d o azol ei i o e n ão a fi n /d ar por

h u m a vez ath e o d i to tem po sei a pers i zo

recol h er-se/ a corte esta m eza l h e pagara o

carro d as bestas d el l e d i to M an u el / B orges e

seu s ofi ci ai s d e Al d ei a G u al ega ath e esta

ci d ad e e se/ l h e d ará por m ão d o th esu rei ro n o

m ês q u e vem d e Ou tu bro d u zen tos/ m i l rei s

postos em Li sboa e n o com esso e pri n ci pi o d a

obra ou tros d u /zen tos m i l rei s e n o fi m d a obra

sera sati sfei to d e tod o o/ restan te q u e se l h e

d ever com tad os os m i l h ei ros al em d as

d espe/zas m i ú d as q u e fi zer com a con d u zam

d o azu l ei o q u e/ l ogo l h e foram sati sfei tas e

fal tan d o esta m eza ou ou tra/ q u e vi er ass i m

q u e fi n d ar a obra a sati sfazer-se tu d o o q u e/ se

d ever ao d i to M an u el B orges se l h e pagu ara a

sei scen tos rei s por/ d i a em q u an to n ão for

sati sfei to d a d i ta i m portân ci a [fl . 3 v. º ]

i m portan ci a ass i m d as perd as e d an os q u e ti ver

por cau /sa d e n ão acu d i r ao seu ofi ci o pel l a

rezam d o n ão pagam en to. E pel l o d i to M an u el

B orges foi d i to q u e passava n a verd ad e q u e/

estava aj u stad o a assen tar o d i to azu l ei o n a

form a q u e d i gu o/ n a form a com as con d i ções

referi d as d el as pel l os d i tos/ i rm ãos d a m eza e

se obri gu a a com pri r tu d o o porposto pel l a/

d i ta m eza n ão se fal tan d o aos pagu am en tos e

para segu ran ça/ e fi rm eza d e fazer a d i ta obra

referi d a obi gu a su a pe/ssoa e ben s h avi d os e

por h aver [sob] pen a d e q u e fal tan d o a por o

d i to azo/l ei o n a form a e tem po d ecl arad o

com sen te q u e esta m eza/ ou a q u al soced er por

el l e M an u el B orges fal tar a q u e m an d em fi n /d ar

o d i to azol ei i o a su a cu sta e n este caso q u er

en tam q u e/ as d espezas m i ú d as sei aj am

tam bém por su a con ta e a segu ran /ça d este

com trato e ao d i n h ei ro q u e receber d ará por

fi ad or/ e pri n ci pal pagad or e d eposi tári o d e fee

d e j u ízo pel o d i tto M an u el B or/ges d i gu o d e

j u ízo ao d i tto M an u el G om es ped rei ro atras

d e/cl arad o e l ogu o pel l o d i tto M an u el G om es

Page 75: Azulejos e talha dourada em Évora

77

q u e prezen te estava/ foi d i to q u e el l e sem

con trad i sam d e pessoa al gu m a e m u i to/ d e su a

l i vre von tad e fi cava por fi ad or e pri n ci pal

pagad or/ d e fee d e j u ízo a q u e o d i to M an u el

B orges n ão/ fal te a tod o o con teú d o n este

i n strom en to e a tu d o o q u e cobrar e fal an d o se

obri gu a por su a pessoa e ben s a sati sfazer tu d o

a esta m eza d a M i zeri cord i a e a pagu ar tod os

os cu stos d espezas/ q u e a m eza fi zer por cau za

d o d i to M an u el B orges fal tar tu d o por/

j u ram en to d o d esem bargad or [? ] q u e h oj e h e

ou ao d i an te for e a com pri r/ tu d o o q u e atras

se d ecl ara n esta escri tu ra. E n esta/ form a se

h ou veram por aj u stad os e cad a h u m pel l a

parte/ q u e l h e toca se obri gu a tu d o com pri r e

gu ard ar com i n tei ra/ e real efei to e d e

respon d er e serem ci tad os e a com pri r/ se

n esseçari o for por tu d o con teu d o n este

i n strom en to ou q u al /q u er parte d el l e peran te o

j u i z d e fora d o geral d esta ci d ad e/ q u e h ora h e

ou ao d i an te for e servi r ou o correged or d el l a/

por su as cartas percatori as recatori as ecom

el l as peran te/ q u al q u er d el es fazer d esse tod o o

com pri m en to d e d i rei to/ e j u sti ça para o q u e

ren u n ci avam o j u i z e j u ízes d e seu s fei tos e d a

corte ou d om i s i l i o d on d e esti verem e tod os os

m ai s pri vi l égi os graças e l i berd ad es/

con d en açoi s q u e por se al egu ar possam sen am

tu d o com /pri rem e gu ard arem com i m tei ro e

real efei to. E em / fee e testem u n h o d e verd ad e

ass i m o ou trogaram e se/ com an d aram ser fei to

este i n stru m en to e os q u e esta n otas/

com pri rem em n ecessári o forem q u e tod o l h e

foi l i d o e d ecl arad o por m i m tabel i am com o

n el l e se com th em / q u e assei taram e eu tabel i am

em n om e d os au sen tes/ a q u e este comvem

com u n i car sen d o testem u n h as os reveren d os

pad res M an u el E van gel i sta e J oseph Fran ci sco

q u e tod os aq u i as i /gn aram e eu M an u el Pi n to

d e Carval h o tabel i am d e n otas q u e o escre/vi

[ass i n atu ras] D eão Cri stovão d e Ch aves

Abreu Corte Real / Lu i s d a G am a Lobo/ [fl . 4 ]

M an u el D u arte d e Ol i vei ra/Lu i s B ern ard o [? ]

Zagal o S ei xas/ D om i n gos [i l egível ] / I gn aci o d os

S an tos/ M an u el d e S ou sa/ M an u el Rozed o/

M an u el Rod ri gu es N ol e/ An tón i o Con ti l h am osa

[? ] /M an oel S i m oi s/ M an oel B orges/ M an oel

G om es/ Pad re M an oel E van gel i sta/ J oseph

Fran ci sco M i n i stro [? ]

ADE. CNE. Tabel ião Manuel Pinhei ro de Carvalho. Livro

11 30, fl s. 2 v. º a 4.

Page 76: Azulejos e talha dourada em Évora

pi ntarão de jalde para que a pa/rede com a brandura

da cal não deslus/tre o dourado. As fi guras, serafi ns,

es/cul tura e a mai s obra que estofarem sera/ tudo

sobre ouro e não sobre prata ou ti n/ta alguma, e as

encarnações serão de pol i /mento, e não de pi ncel

toda a obra se/ aparelhará com nove mãos de

aparelho/ em sua conta, que será de retalho de luva/

fi no e os estofados das fi guras e azas dos/ serafi ns se

estofarão com as cores mai s/ fi nas e os reglaxos desta

obra de verdes/ esti lhados, e lacras mui to fi nas e

subi das [fl . 20] que o ouro sera todo burni do, e

aparessen/do a essa meza que se lhe fação alguns/

foscos e serão feytos sobre ouro, o que fi cara/ ao

arbi tri o da mesma determi nar se há de/ levar a di ta

obra os taes Toscos ou se ha de ser/ do de burni do e

paressen/do a esta meza que se lhe fação alguns/

foscos serão feytos sobre ouro o que fi cara ao

arbi tri o da mesma determi nar se há de/ levar a di ta

obra os taes foscos ou se há de tudo ser burni do.

Que os sobredi tos mestres/ douradores serão

obi gados a dazer os/ andai mes a sua custa

desmanxa-los,/ conduzi r tudo o necessari o para

el les, e recon/duzi r as madeyras dos mesmos e

pagar/ carretos e rui nas del las e avendo-a por sua/

conta grudar, pregar, e repregar toda a o/bra

sobredi ta que persi zar do referi do que/ sera vi sta

pri mei ro que se aparelhe para se exami /nar se fi ca

segura e boa como tãobem/ antes que se desmanxe

qualquer andai me/ se mandará por quem o entenda

exami nar/ e ver tudo o que esti ver feyto para ver se o

está/ na forma contratada para que não estando/ se

obri garem a fazer prontamente que pas/sado hum

anno completamente depoi s que a o/bra for fi da e de

[fl .1 9] Termo de obri gação dos di tos offi ci aes/

fei to em 24 de Julho de 728

[fl . 1 9 v.º] aos vi nte e quatro di as do mes de Julho

de/ mi l setecentos e vi nte outo nesta se/cratari a da

Santa Caza da Mi zeri cordi a da/ ci dade de Evora

pareserão prezentes Ma/noel da Maya, Bernardo

Lui s, Franci sco/ Ferreyra, e Joseph Correa, todos

mestres/ douradores e moradores nesta ci dade/ e

pessoas bem conheci das nel la, e por el les/ foi di tto,

que pera fi rmeza, e lembrança/ do ajuste que havi ão

feyto no di a antece/dente com a meza desta Santa

Caza de doura/rem o frontespi ci o de entalhado da

i /greja del la herão contentes se fi zesse/ por mi m

escri vão da mesma, este termo/ com as condi ções, e

declarações i nsertas/ nel le as quai s todas el les

l i vremente se o/bri gavão i nteyramente a cumpri r, e

en/cher por suas pessoas, e bens prompta, e

cabal/mente, e desde agora se someti ão a todas/ as

pennas clauzul las, e obri gações que neste/ termo

forem postas, e as mai s todas essensi /aes que por

esqueci mento senão declararem/ aqui para a boa

concluzão e perfei ção da/ sobredi tta: pri meyramente

se obri /garão a dourar toda a obra de madeyra que

es/ti ver no frontespi ci o da i greja com o ouro/ mai s

corado que ouver e alguns vãos que ti ver o

en/talhado porque paresse em que está a/centado os

Termo de contrato entre aMisericórdia de Évora e os mestresdouradores Manuel da Maia, BernardoLuís, Franci sco Ferrei ra e José Correiapara dourarem o retábulo da capela-mor

Page 77: Azulejos e talha dourada em Évora

79

todo acabada se fará/ nel la exame por pessoas

i ntel i gentes para/ verem se tem alguma rui na, ou

fal ta/ do ajustado e havendo-as se mandará/ reparar a

custa dos di tos mestres douradores; que os mesmos

se obri gão a dar de todo perfei ta e acabada a di ta

obra/ di a de Rei s próxi mo futuro enão o fa/zendo

assi m podera a meza meter os/ offi ci aes que lhe

paresser para acabar e pagar/lhe os di as ou tempo

que gastarem pel los/ pressos que lhe paresser

tãobem tudo/ a custa dos bens del les di tos mestres e

ni s/to, e nas mai s despeza que fi zer esta santa caza/

sera somente cri da por juramento do i rmão/ ou

pessoa que fi zer a di ta despeza porque/ a sati sfação

de todo o sobredi to se obri gão el les di ttos mestres

por suas pessoas e [fl . 20 v.º]” pessoas e bens e hum

por todos e todos por ca/da hum del les, e esta meza

a entregar-lhe/ em di nheyro corrente pro mão do

i rmão/ thezourei ro del la sei scentos e outenta mi l/

rei s presso porque ajsutarão e contratarão/ dar a di tta

obra acabada com as condi çoes e na forma assi ma

declarada sem/ esta Santa Caza ter obri gação de lhe

dar ou/sati sfazer mai s couza alguma fora dos/ di tos

sei scentos e outenta mi l rei s, por/que se ajsutarãoi a

tal obra de que logo ao assi /nar este termo receberão

da mão do/ i rmão thezourei ro Domi ngos de

Medeyros e/ Pi na quatrocentos mi l rei s, para se

avi a/rem do necessari o para pri nci pi arem/ a obra dos

quai s logo aqui da plenari a/ qui tação a esta Caza da

Mi seri cordi a dezo/bri gada del les; e logo no mesmo

di a/ Caza e hora paresseu Manoel Perreyra/ mestre

atafoneyro morador na rua que atra/vessa da Rua de

Alconchel para o Terrei ro dos Mercadores pessoa

tãobem conheci da/ nesta di ta ci dade e pel lo mesmo

ADE, SCMEVR, n.º 27, Lembranças das mezas começou

em 1728 athe 1739

foi di to que el le/ per si e por todos os seus bens

fi cava por/ fi ador pri nci pal pagador e depozi tari o de/

jui zo ao compri mento de tudo sobredi to e que/ vi a

em sua pessoa e bens ser executado/ para sati sfação

de tudo e da quanti a, ou/ quanti as que recebem e

receberem em di an/te os di tos mestres porque todos

e a cada hum/ per si hera contente de afi ansar na di ta

for/ma e ao compri mento de todo este ajus/te e

contrato em feé do que se fez este termo que/

assi anrão comi go escri vãoo sendo teste/munhas

prezentes João Galvão de Ol i /veyra e Sylva e o

reverendo doutor o padre Ma/noel Alvres secretari o e

capel lão/ desta Santa Caza da Mi seri cordi a e Joseph

da/ Cunha Esti beyro todos moradores/ [fl . 21 ]

moradores besta ci dade de Evora/ que todos

assi narão e eu antoni o Ma/tel la de Tavora escri vão

desta i r/mandade da Mi seri cordi a de Evora que/ fi s e

assi nei o sobredi to termo aos quatro duas do mês de

Julho de mi l/e setecentos, e vi nte e outo annos.

[assi naturas] Antoni o Matel la de Tavora/ Manoel

da Maya/ Lourenço Vaz [?]/ Joseph Correa/ Franci sco

Ferrei ra/ Manoel Perei ra/ José Galvão de Ol i vei ra e

Sylva/ Joseph da Cunha Esti beyro/ Padre Manoel

Alvres

Page 78: Azulejos e talha dourada em Évora

CON VE N TO D E N OS SAS E N H ORA D OS

RE M ÉD I OS

A TALHA “FRANCESA” DOS RETÁBULOS

CARMELITAS DE ÉVORA

A pri m ei ra referên ci a a S ebasti ão Abreu

com o pri n ci pal respon sável d a ofi ci n a reporta-

se a 1 747, q u an d o ass i n a o con trato com o

conven to d e S ão D om i n gos, em E l vas, on d e o

m estre en tal h ad or real i zou u m a séri e d e

col u n as e capi tei s para gu arn ecerem o i n teri or

d o tem pl o. M as a experi ên ci a q u e vai red efi n i r

o seu percu rso artísti co foi a parti ci pação n a

execu ção d as em prei tad as d e tal h a d ou rad a

para os conven tos carm el i tas d e Évora. N os

retábu l os para o M ostei ro d e S ão J osé (Conven to

N ovo) e para o M ostei ro d e N ossa S en h ora d os

Rem éd i os abre-se u m segu n d o m om en to para a

tal h a Rococó n o Al en tej o, su peran d o pel a

pri m ei ra vez a experi ên ci a d a S é d e Évora q u e

até en tão n orteava o l abor d a ofi ci n a. E sse n ovo

períod o coi n ci d e com a fase d e m atu ri d ad e d e

S ebasti ão Abreu d o Ó, ao m esm o tem po q u e l h e

proporci on a os con tratos m ai s i m portan tes e

ren d osos. S egu n d o o d ocu m en to revel ad o por

Artu r G ou l art, o m estre J oão Lu ís B otel h o foi o

respon sável pel o “ ri sco” d o retábu l o d a capel a

d a Ord em Tercei ra n a I grej a d o Carm o, em

Évora. O d esen h o d o retábu l o d a capel a-m or d o

Conven to N ovo, ai n d a m arcad o por col u n as

recti l ín eas, u m a opção ori gi n al n o percu rso d e

J oão Lu ís B otel h o, e u m a sol u ção provavel m en te

i n fl u en ci ad a pel o retábu l o d a capel a-m or d a S é

d e Évora e ai n d a pel o m agn ífi co retábu l o d a

capel a d e S ão J oão d a i grej a j esu íta d e S ão

Page 79: Azulejos e talha dourada em Évora

81

Roq u e, em Li sboa. Parti cu l arm en te

i n teressan te são as i l h argas cu rvi l ín eas,

d em on stran d o u m a procu ra d e sol u ções

d i n âm i cas por parte d e J oão Lu ís . S erão os

retábu l os d o Conven to N ovo, cl aram en te

m arcad os pel o d esej o d e m od ern i d ad e d os

carm el i tas d e Évora, o pon to d e parti d a para

u m a séri e d e obras em q u e o n eocl aci ss i sm o

rom an o se fu n d e com o esti l o Rococó, q u e os

frad es preferem d en om i n ar d e “ tal h a fran cesa” .

Tu d o i n d i ca q u e J oão Lu ís foi tam bém o au tor

d o d esen h o os retábu l os col aterai s d a i grej a d o

Conven to N ovo, con tratad os em 1 75 3 , e q u e

serão execu tad os por S ebasti ão Abreu d o Ó,

com a pl an ta “ ch an frad a” ou “ sextavad a” , em

q u e as col u n as q u e l ad ei am a tri bu n a avan çam

em rel ação as d a i l h arga, n u m a sol u ção j á

en sai ad a n o retábu l o d a capel a d a Ord em

Tercei ra n a I grej a d o Carm o. Três an os d epoi s ,

em 1 75 6 , será a vez d os carm el i tas d os

Rem éd i os ren ovarem a capel a- m or, com o

retábu l o a ser execu tad o, m ai s u m a vez, por

S ebasti ão d e Abreu . N o con trato h á u m a séri e

d e recom en d ações d e carácter geral d a obra,

com o a abertu ra d o vão para d ar profu n d i d ad e

ao tron o ou a regu l ari zação d o n ível d os

d egrau s em rel ação aos retábu l os col aterai s

q u e d ão con ta d e u m a cu i d ad osa preparação

posta pel os frad es carm el i tas n a con d u ção d a

em prei tad a. D em on stran d o a con ti n u i d ad e n as

d i recti vas q u e m u i tas vezes pres i d em as obras

real i zad as n u m a m esm a ord em rel i gi osa, o

pri or, Frei An tón i o d e S ão J osé, faz q u estão d e

u ti l i zar os retábu l os d o Conven to N ovo com o

m od el o para a real i zação d o retábu l o d a capel a-

m or d os Rem éd i os. S egu n d o as cl áu su l as d esse

d ocu m en to, S ebasti ão d o Ó obri gava-se a:

“ … fazer u m sacrári o à i m i tação d o d a capel a-

m or d a I grej a d o Conven to N ovo, n o caso q u e o

oratóri o d a S en h ora n ão fi q u e sobre a ban q u eta;

os n i ch os d os san tos serão tam bém à i m i tação

d os q u e estão n a m esm a capel a-m or d o

Conven to N ovo, e tod a a obra será en tal h ad a

com tal h a fran cesa e m ai s n ova q u e h oj e se u sa;

e fará a ban q u eta d o al tar-m or d e cu m pri m en to

tal q u e possa l evar q u artel as en tal h ad as q u e el e

d i to m estre h á d e fazer; e as q u artel as d ebai xo

d as col u n as serão com o as d os al tares col aterai s

d o Conven to N ovo, e m el h or se pu d er ser… ”

Os cu i d ad os d escri ti vos d o con trato se

j u sti fi cam -se porq u e são acom pan h ad os apen as

por d esen h os parcel ares d a pl an ta, col u n a e d a

arcari a: “ E será fei ta pel l a pl an ta e cu l u n a q u e

esta/ ass i gn ad a pel l o Pri or d o d i to Conven to, e

tam bém / d e fazer h u m tron o para a caza

d atru bu n a q u e este e a arq u eri a d a d i ta obra

será fei ta pel o Ri sco/ tam bém assi gn ad o pel o

d i to Pri or”

É j u stam en te n a pl an ta d o retábu l o q u e se

n ota u m a i n ovação em rel ação ao protóti po d os

retábu l os d a I grej a d o Carm o e d o Conven to

N ovo, com as col u n as l aterai s d a tri bu n a

d i spostas obl i q u am en te, reforçan d o o sen ti d o

d ram áti co d a exposi ção d a i m agem d o Cri sto

Cru ci fi cad o, u m a sol u ção tam bém ad optad a

pel o arq u i tecto An d ré S oares, n o retábu l o d a

Page 80: Azulejos e talha dourada em Évora

[fl . 3 2 ] Con trato q u e fazem os reveren d os

pad res/ e m ai s rel i gi osos d e N ossa S en h ora d os

Rem éd i os com S ebasti ão d e Abreu d o Ó Lou-

ren ço B arboza a Fl . 4 E vora

E m n om e d e D eu s Am en sai bam q u an tos

este i n stro/m en to d e con trato vi rem q u e n o

an n o d o n asci m en to d e n osso se/n h or J esu s

Ch ri sto d e m i l setecen tos e ci n coen /ta e sei s

aos vi n te e ci n co d i as d o m es d e S etem bro, n a

ci d ad e d e E vora extram u ros d el l a/

n o conven to d e N ossa S en h ora d os

Rem éd i os aon d e eu / tabel i am fu i ,

estan d o j u n to em com u n i d ad e o

reveren d o pad re pri or/ e m ai s

reveren d os pad res d o govern o abaxo

ass i n ad os e bem / ass i m estan d o m ai s

presen te S ebasti am d e Abreu d o Ó/

en tal h ad or e m orad or n esta ci d ad e,

n a Ru a d e Avi s , pessoa/ recon h eci d a

d e m i m tabel i am q u e certi fi co ser o

própri o, / E l ogo pel l o reveren d o

pri or e m ai s rel i gi osos foi d i to a

m i m tabel i am / peran te as

testem u n h as n o fi m ass i gn ad as q u e

el l es estavam com /tratad os e

aj u stad os com o d i to S ebasti am d e

Abreu d o Ó/ para efei to d e o m esm o

l h e fazer h u m retabol l o e caza d a

tri bu n a tu d o em tal h ad o para a

Contrato notarial entre os religiosos doConvento de Nossa Senhora dos Remédios eo mestre entalhador Sebastião Abreu do Ó

capel a d e N ossa S en h ora d o Rosári o n a I grej a

d e S ão D om i n gos d e Vi an a d o Castel o, em

1 76 0.

Tod o o con j u n to, d e d i m en sões i m pon en tes,

d even d o-se tam bém m en ci on ar a bel íss i m a

cai xa d o pú l tpi to, é j u stam en te con si d erad o a

obra em bl em áti ca d e S ebasti ão Abreu d o Ó, e

a m el h or obra d e tal h a d ou rad a d o períod o em

Évora.

BIBLIOGRAFIA

SMITH, 1 962; BORGES, 2005 e MANGUCCI, 201 0.

Retábulos da I greja do Convento de Nossa Senhora dos Remédios. Foto António Severo.

Page 81: Azulejos e talha dourada em Évora

83

capel l a m or/ d o d i to conven to e por preço d e

sei scen tos m i l réi s . E d este recebeu l ogo ao

ass i gn ar d esta d u zen tos m i l rei s/ e n o fi m d o

m ês d e N ovem bro q u e vem d este m esm o/ an n o

n os obri garm os a d ar-l h e cen to e ci n q u en ta m i l

rei s , e ou tra tan ta q u an ti a d e cen to e ci n q u en ta

m i l réi s m o m ead o d o m ês d e Feverei ro q u e

vem d e setecen tos e ci n q u en ta e sete e os cem

m i l rei s q u e fal tam para com /pl etar os

sei scen tos m i l n os obri gam os a l h os sati sfazer

n o fi m d a obra estar acabad a e assen tad a/ e será

el l e d i to m estre obri gad o a com pri r as

obri gações segu i n tes; h a d e ser a obra fei ta d e

pi n h o d e fl an d res/ sem m ago ou cu rração [s i c]

al gu m a, e tod a a peça q u e l evar

tem obri gação d e fazer ou tra a

su a cu sta q u e esta h é a pri n ci pal

con d i ção d a obra. E será fei ta

pel l a pl ân ta e cu l u n a q u e esta/

ass i gn ad a pel l o Pri or d o d i to

Conven to, e tam bém / d e fazer

h u m tron o para a caza d a tru bu n a

q u e este [? ] / [fl . 3 2 v. º] este e a

arq u eri a d a d i ta obra será fei ta

pel o Ri sco/ tam bém assi gn ad o

pel o d i to pri or; e d e fazer os

pe/d estai s d e m ad ei ra com

zi m al h as e al m ofad as com o se

costu m a; e porá n o l ad o d o al tar

h u /m a porta com se tem aj u stad o

para serven ti a/ d a caza d a trebu n a, e d e fazer

n a m esm a caza d a/ trebu n a tod a en tal h ad a,

ad verti n d o q u e a tal h a/ q u e fi zer n o tecto h a d e

ser n a m esm a m ad ei ra e peça e n ão su porta [? ] ,

e d e m an d ar rom per a pared e para n o vão d el l a

se fazer a d i ta caza/ d a trebu n a; e d e fazer

escad a para su bi r ao tron o/ e d e rebach ar os

d egrau s d o al tar m or, e pu ch a/d os fora n o n ível

d os al tares cu l aterai s q u e/ h ão d e ser só d oi s

d egrau s q u e el l e d i to m estre en tal h ad or

[i l egível ] terá obri gação d e pagar aos ped rei ros

d os j orn ai s e tod os os avi am en tos n ecessári os

d e cal , ped ra, tei o [s i c] e arei a sem fi car con tas

d el l es aos Rel i gi osos; e fará tam bém o d i to

m estre h u m oratóri o sei s/tad ad o [s i c] para n el l e

se cu l u car N ossa S en h ora d os Re/m éd i os, e sem

en tal h ad o ou respal d o d o d i to orato/ri o, o q u al

se h a d e por on d e o reveren d o

pri or d etre/m i n ar, e d e fazer

h u m sacrari o a i m i tação/ d o d a

cappel a m or d a I grej a d o

Conven to N ovo n o/ cazo q u e o

oratóri o d a S en h ora n ão fi q u e

sobre/ a ban q u eta; os n i xos d os

san tos serão tam bém à i m i tação

d os q u e estão n a m esm a

capel l a m or/ d o Conven to

N ovo, e tod a a obra será

en tal h ad a com / tal h a fran ceça e

m ai s n ova q u e h oj e se u sa; e

fa/rá a ban q u eta d o al tar m or

d e cu m pri m en to tal / q u e poça

l evar q u artel l as en tal h ad as q u e

el l e d i to m estre h á d e fazer; e as q u artel l as

d eba/ch o d as col u n as serão com o as d os al tares

cu l ateraes d o Conven to N ovo, e m i l h or se

Page 82: Azulejos e talha dourada em Évora

ADE. CNE. Tabel ião Lourenço Franci sco Barbosa, l i vro

1117, fl s. 32 -33 v.º.

pu d er ser; e tam bém fará m ai s o cach ão d o

Al tar-m or com / a m ad ei ra q u e tem o vel h o, n o

cazo q u e estej a capaz, e com m ai s tábu as q u e

d o Retabu l l o vel h o/ se ti raram q u e el l es

Rel i gi osos l h e d arão para o d i to efei to; e será

m ai s obri gad o a d ar a obra acabad a n o fi m d o/

m ês d e d ezem bro q u e vem d o d i to an n o d e

m i l setecen tos e ci n q u en ta e sete [fl . 3 3 ] para

n el l a se fazer a fu n ção/ d as E n d u en ças, e cazo

q u e fal tem al gu m as cou zas para seu

com pri m en to com o se poça n el l a fa/zer a

fu n ção d i ta sem em prefei ção/ porq u e pod era

su /ced er fal tarem al gu m as fri zos n a tal obra

q u e l e/vem al gu m as sem an as d e trabal h o

d epassad as as/ em aven ças e q u e pu d era

acabar sem q u e ten h a per/ti m en to al gu m e l h e

con ced em tres sem an as d epoi s/ d e pazarem a

d i ta E n d oen ças porem sem pre/ obri gad o a por

a d i ta obra com trem os [? ] q u e se faça n el l a/ a

sobred i ta fu n ção d e E m d oen ças com as

d ecl ara/çoi s ass i m a d i tas e fal tan d o a el as n ão

aver el l e d i to/ m este l evar m ai s d e q u i n h en tos

m i l rei s pel l a d i ta/ obra, e os cem m i l rei s d a

el l e d i to m estre en tal h ad or/ d e esm ol a a N ossa

S en h ora d os Rem ed i os e os d i tos re/l i gi osos

assei tarão a d i ta con d i ção sem obri gação d e

per/d er o cem m i l rei s cazo q u e n a obra n ão

faça a d i ta fu n /ção d as E n d oen ças q u e

fazen d o-se n ão tem obri gação/ d e perd er coi za

al gu m a os cem m i l rei s ass i m a d i to n em / d e os

d ar d e esm ol l a cazo q u e o d i to m estre

en tal h ad or/ n ão ach e carpi n tei ros para l h e

trabal h arem n a d i ta/ obra tessera [? ] el l e d i to

reveren d o pad re pri or a por-l h os pr/on tos, e

fal tan d o a esta con d i ção n ão tera obri ga/ção d e

d ar a obra fei ta pera o tem po ass i n al l ad o,

e/n esta form a se con tratarão estas partes e em /

tu d o, por tu d o prom eti ão com pri r e gu ard ar e/

con tra el l e n ão al l egarem em bargos e em fee e

tes/tem u n h o d e ass i m d ou tras assei tarão/ e

ou tross i m d eve el l e d i to S ebasti ão d e Abreu

q u e segu ran /ça d este com trato e cal u zu l l as

d el l e d ava por/ seu fi ad or a seu cu n h ad o

J erón i m o Ri bei ro m erca/d or d e pan o d e l i n h o

m orad or n a Ru a An ch a d esta/ ci d ad e q u e

prezen te estava pessoa recon h eci d a d e/ m i m

tabel i am e por el l e d e foi d i to fi cava por fi ad or

d o d i to/ seu cu n h ad o a segu ran ça d este

com trato para/ o q u e obri gava su a pessoa e

ben s e ass i m o a assei /tarão el l es d i ttos

reveren d os rel i gi osos e sen d o pre/zen tes por

testem u n h as assyn atu ra d esta/ [fl . 3 3 vº]

[i l egível ] Rod ri gu es e M an oel [i l egível ] d esta

q u e aq u i ass i n arão [i l egível ]

[ass i n atu ras] Pri or An tón i o d e S ão J osé Pri or/

Frei J osé d e S an ta E u frozyn a savari o/S ebati am

d e Abreu Frei d o S acram en to savari o/ Frei

M an u el d o N asci m en to/Frei J ose Ros H ol gl o [? ]

H i eron i m o Ri bei ro/

Page 83: Azulejos e talha dourada em Évora

85

ARAÚ J O, 2 01 3 . Pau l i n a M argari d a Rod ri gu es

ARAÚ J O, Câm ara E cl es i ásti ca d e Évora.

Catál ogo/I nven tári o. Tese d e M estrad o

apresen tad a à U n i vers i d ad e d e Évora.

BARATA, 1 8 97. An tón i o Fran ci sco BARATA,

Obras d e tal h a em Évora i n N oi tes d e Évora.

M i scel l an ea poéti ca, rom ân ti ca e d e vari a

h i stori a. Évora, 1 8 97.

B ORG E S , 2 003 . Artu r G ou l art d e M el o

B ORG E S , A con frari a d e N ossa S en h ora d o

Rosári o i n Tesou ros d e Arte e D evoção. Évora:

Fu n d ação E u gén i o d e Al m ei d a, 2 003 .

B ORG E S , 2 005 . Artu r G ou l art d e M el o

B ORG E S , “As obras d a n ova Capel a-m or d a S é –

escol a d e arti stas” , E boren si a, n . º 3 5 , 2 005 , pp.

1 5 3 – 1 9 0.

CAE TAN O e S I LVA, 1 9 9 3 . J oaq u i m Ol i vei ra

CAE TAN O e N u n o Vassal o S I LVA , “ B reves

n otas para o estu d o d o arq u i tecto J oão An tu n es”

i n Pol i grafi a, n . º2 . Li sboa, 1 9 9 3 .

CARVALH O, 1 9 6 0-6 2 . Arm i n d o Ayres d e

CARVALH O, D . J oão V e a Arte d o seu Tem po.

Li sboa: E d i ção d o Au tor, 1 9 6 0-6 2 .

CARVALH O, 2 01 2 . M ari a d o Rosári o S al em a

Cord ei ro Correi a d e CARVALH O, A pi n tu ra d o

azu l ej o em Portu gal [1 675 -1 72 5 ] . Au tori as e

bi ografi as - u m n ovo parad i gm a. Texto

pol i copi ad o. Li sboa: tese d e d ou toram en to em

H i stóri a d a Arte apresen tad a à Facu l d ad e d e

Letras d a U n i vers i d ad e d e Li sboa, 2 01 2 .

E S PAN CA, 1 9 5 0. Tú l i o E S PAN CA, “Artes e

Arti stas em Évora n o sécu l o XVI I I ” i n A Ci d ad e

d e Évora, an o VI I , n . ºs 21 -2 2 , J an ei ro-J u n h o d e

1 9 5 0. Évora: Câm ara M u n i ci pal d e Évora.

E S PAN CA,1 9 6 6 . Tú l i o E S PAN CA, I nven tári o

Artísti co d e Portu gal , Con cel h o d e Évora. 2

vol u m es. Li sboa: Acad em i a N aci on al d e B el as

Artes, 1 9 6 6 .

E S PAN CA, 1 9 8 3 -1 9 8 5 . Tú l i o E S PAN CA,

“ D ocu m en tos N otari ai s i n éd i tos e arti stas

al en tej an os d os sécu l os XVI , XVI I e XVI I I ” i n A

Ci d ad e d e Évora, an o XL-XLI , n . ºs 67-6 8 , 1 9 8 3 -

1 9 8 5 , pp. 9 9 -1 2 6 . Évora: Câm ara M u n i ci pal d e

Évora.

E S PAN CA, 1 9 8 6 -1 9 87. Tú l i o E S PAN CA,

“ M em óri a d a vi d a e m orte d o 1 0º arcebi spo d e

Évora D . Frei Lu ís d a S i l va Tel es” i n A Ci d ad e

d e Évora, n . ºs 6 9 -70, an os XLI I I -XLI V, pp. 1 2 5 -

1 87. Évora: Câm ara M u n i ci pal d e Évora, 1 9 8 6 -

1 9 87.

FE RRE I RA, 2 009 . S íl vi a FE RRE I RA, A Tal h a

B arroca d e Li sboa (1 670-1 72 0) . Os arti stas e as

obras. Tese d e d ou toram en to em H i stóri a –

especi al i d ad e Arte, Patri m ón i o e Restau ro -

apresen tad a à Facu l d ad e d e l etras d a

U n i vers i d ad e d e Li sboa, 2 009 .

BIBLIOGRAFIA

Page 84: Azulejos e talha dourada em Évora

FE RRE I RA-ALVE S , 1 9 8 9 . N atál i a M ari n h o

FE RRE I RA-ALVE S , A Arte d a Tal h a n o Porto n a

Época B arroca. Arti stas e Cl i en tel a, M ateri ai s e

Técn i ca, Porto, Câm ara M u n i ci pal d o Porto,

1 9 8 9

FLOR, 2 01 0-2 01 1 . S u san a Varel a FLOR, “As

rel ações artísti cas en tre pi n tores a ól eo e d e

azu l ej o perspecti vad as a parti r d a ofi ci n a d e

M arcos d a Cru z (c. 1 6 37-1 6 8 3 ) ” i n Arti s Revi sta

d o I n sti tu to d e H i stóri a d a Arte d a Facu l d ad e d e

Letras d a U n i vers i d ad e d e Li sboa, I H AFLU L, n º

9 /1 0, 2 01 0/2 01 1 , pp. 2 91 -3 07.

G U E RRE I RO, 1 979 . Al cân tara G U E RRE I RO,

S u bsíd i os para a H i stóri a d a S an ta Casa d a

M i seri córd i a d e Évora, n os sécu l os XVI I a XX,

3 º vol u m e, 1 6 67-1 91 0. Évora: M i seri córd i a d e

Évora, 1 979 .

H I LL, 1 9 9 8 . M arcos H I LL, A Tal h a B arroca em

Évora. S écu l os XVI I -XVI I I . Évora: Cen tro d e

H i stóri a d a Arte, 1 9 9 8 .

H E RRE RA G ARCÍA, 2 001 . Fran ci sco Xavi er

H E RRE RA G ARCÍA, E l Retabl o S evi l l an o en l a

Pri m era M i tad d el S i gl o XVI I I . S evi l h a:

D i pu taci on d e S evi l l a, 2 001 .

L AM E I RA, 2 000. Fran ci sco I l d efon so L AM E I RA,

A Tal h a n o Al garve d u ran te o An ti go Regi m e.

Faro: Câm ara M u n i ci pal d e Faro, 2 000.

L AM E I RA, 2 00 4a. Fran ci sco I l d efon so L AM E I RA,

“ O retábu l o barroco n o con cel h o d e M on tem or-

o-N ovo” i n Al m an sor, Revi sta d e Cu l tu ra, 2 ª

séri e, n . º3 , pp. 1 2 9 -1 73 (em col aboração com

J orge Fon seca) . M on tem or-o-N ovo: Câm ara

M u n i ci pal d e M on tem or-o-N ovo, 2 00 4.

L AM E I RA, 2 00 4b. Fran ci sco I l d efon so

L AM E I RA, “ Con tri bu i ções para o estu d o d o

retábu l o barroco n o Al en tej o: a ofi ci n a d o

i n s i gn e escu l tor M an u el d e Abreu d o Ó” i n

Prom on tori a. Revi sta d o D epartam en to d e

H i stóri a, Arq u eol ogi a e Patri m ón i o d a

U n i vers i d ad e d o Al garve. Faro, 2 00 4.

L AM E I RA, 2 006 . Fran ci sco I l d efon so L AM E I RA,

O retábu l o d a Com pan h i a d e J esu s em Portu gal :

1 61 9 -1 75 9 . Faro: D epartam en to d e h i stóri a,

Arq u eol ogi a e Patri m ón i o d a U n i vers i d ad e d o

Al garve.

L AM E I RA, 2 009 . Fran ci sco L AM E I RA e S íl vi a

FE RRE I RA, “ Os an teced en tes artísti cos d e

Caetan o d a Costa. A fase l i sboeta” , i n

Laboratori o d e Arte, Revi sta d el D epartam en to

d e H i stori a d el Arte, n . º 2 0. S evi l h a:

U n i vers i d ad d e S evi l l a, 2 009 .

L AM E I RA E S E RRÃO, 2 005 . Fran ci sco L AM E I RA

e Vítor S E RRÃO, “ O retábu l o em Portu gal : o

B arroco Fi n al (1 71 3 -1 746 ) ” i n Prom on tori a.

Revi sta d o D epartam en to d e H i stóri a,

Arq u eol ogi a e Patri m ón i o d a U n i vers i d ad e d o

Al garve. Faro, 2 005 .

LU CAS , 2 00 4. Fran ci sco J osé Ol ei ro LU CAS , “ O

Retábu l o d e S . Ped ro n a I grej a M atri z d o

M on ti j o” , i n Arti s Revi sta d o I n sti tu to d e

H i stóri a d a Arte d a Facu l d ad e d e Letras d a

Page 85: Azulejos e talha dourada em Évora

87

U n i vers i d ad e d e Li sboa, I H AFLU L n . º 3 , 2 00 4.

M AN G U CCI , 2 003 ª . An tón i o Cel so

M AN G U CCI , Tal h a, azu l ej os e pi n tu ra: a

i con ografi a d a M i seri córd i a em Évora,

com u n i cação apresen tad a ao en con tro “As

M i seri córd i as com o fon te d e Cu l tu ra” . Câm ara

M u n i ci pal d e Pen afi el .

M AN G U CCI , 2 003 b. An tón i o Cel so

M AN G U CCI , “A E stratégi a d e B artol om eu

An tu n es: m estre l ad ri l h ad or d o Paço (1 6 8 8 -

1 75 3 ) ” . Al -M ad an , I I ª séri e, n . º 1 2 , D ezem bro

2 003 , pp. 1 3 5 -1 48 .

M AN G U CCI , 2 008 . An tón i o Cel so

M AN G U CCI , “ Fran ci sco d a S i l va, An tón i o d e

Ol i vei ra B ern ard es e Fran ci sco Lopes M en d es

n a I grej a d a M i seri córd i a em Évora” , i n

Cen ácu l o, B ol eti m on l i n e d o M u seu d e Évora,

n . º 3 , 2 008

M AN G U CCI , 2 01 0. An tón i o Cel so M AN G U CCI ,

“A Tal h a m ai s m od ern a. O percu rso artísti co d e

M an u el e S ebasti ão Abreu d o Ó, em Évora” ,

Cen ácu l o. O B ol eti m on l i n e d o M u seu d e

Évora, n . º 4, S etem bro d e 2 01 0. Évora: M u seu

d e Évora

M AN G U CCI , 2 01 3 . An tón i o Cel so M AN G U CCI ,

A i con ografi a d e S ão Lou ren ço J u sti n i an o n os

azu l ej os d os conven tos Lói os d e Évora e

Arrai ol os. Évora: Cen tro d e H i stóri a d a Arte e

I nvesti gação Artísti ca e Rota d o Azu l ej o n o

Al en tej o, 2 01 3 .

M AN G U CCI , 2 01 4. “ S ob o i m péri o d a Retóri ca.

Os program as i con ográfi cos d e S an ti ago e S ão

M am ed e d e Évora” i n I N VE N I RE , Revi sta d os

B en s Cu l tu rai s d a I grej a, n . º 8 , pp. 4 4-5 5 .

Li sboa: S ecretari ad o N aci on al d os B en s

Cu l tu rai s d a I grej a, 2 01 4.

M AN G U CCI , 2 01 4. An tón i o Cel so M AN G U CCI ,

“An atom i a d a Arq u i tectu ra d a I grej a d a

Col egi ad a d e S an ti ago d e Évora” i n B ol eti m d o

Arq u i vo D i stri tal d e Évora, n º 1 , pp. Évora:

Arq u i vo D i stri tal d e Évora.

M ARTI N G ON ZÁLE Z, 1 9 87. J . J . M ARTI N

G ON ZÁLE Z, E l Retabl o en Portu gal . Afi n i d ad es

y d i feren ci as com l os d e E spañ a i n Actas d o

S i m pósi o As rel ações artísti cas en tre Portu gal e

E span h a n a época d os D escobri m en tos.

Coi m bra, 1 9 87.

ROD RÍG U E Z CE BALLOS 1 9 87-1 9 8 9 . Al fon so

ROD RÍG U E Z CE BALLOS , “ E l retabl o barroco en

S al am an ca: m ateri al es , form as, ti pol ogías” i n

I M AFRON TE , n . ºs 3 -4-5 , 1 9 87-8 8 -8 9 , pp. 2 3 9 e

242 .

SALDAN H A, 2 01 3 , S an d ra Costa SALDAN H A,

Fran ci sco J orge d a Costa e os ci cl os

i con ográfi cos para o conven to d o S an tíss i m o

Coração d e J esu s. Ci cl os d e I con ografi a Cri stã

n a Azu l ej ari a. Actas d o I Col óq u i o S acrae

I m agi n es, pp. 1 05 -1 1 1 . L i sboa: S ecretari ad o

N aci on al para os B en s Cu l tu rai s d a I grej a, 2 01 3 .

S E RRÃO, 1 9 9 6 -1 9 97. Vítor S E RRÃO, “ O

Page 86: Azulejos e talha dourada em Évora

Con cei to d e Total i d ad e n os espaços d o B arroco

N aci on al : a obra d a i grej a d e N ossa S en h ora

d os Prazeres em B ej a (1 672 -1 6 9 8 ) ” , i n

Lu sofon i a, Revi sta d a Facu l d ad e d e Letras, 5 ª

séri e, n . º 21 -2 2 , pp. 2 3 5 -2 67. Li sboa:

Facu l d ad e d e Letras d a U n i vers i d ad e d e Li sboa,

1 9 9 6 -1 9 97.

S E RRÃO, 1 9 9 8 -1 9 9 9 . Vítor S E RRÃO, “ Fran ci sco

N u n es Varel a e as ofi ci n as d e pi n tu ra em Évora

n o sécu l o XVI I , i n A Ci d ad e d e Évora, I I ª séri e,

n . º 3 , pp. 8 5 -71 . Évora: Câm ara M u n i ci pal d e

Évora, 1 9 9 8 -1 9 9 9 .

S E RRÃO, 1 9 9 9 . Vítor S E RRÃO, “ U m d esen h o

d e Fern ão G om es, para o M ostei ro d a S cal a

Coel i d e Évora” , M on u m en tos. Revi sta

S em estral d e E d i fíci os e M on u m en tos, n . º 1 0,

1 9 9 9 .

S E RRÃO, 2 003 . Vítor, S E RRÃO, H i stóri a d a

Arte em Portu gal . O B arroco. Li sboa: E d i tori al

Presen ça, 2 003 .

S E RRÃO, 2 01 2 . Vítor S E RRÃO, O “ bru tesco

n aci on al ” e a pi n tu ra d e azu l ej os n o tem po d o

B arroco (1 6 40-1 72 5 ) i n Catál ogo d a E xposi ção

U m gosto portu gu ês. O u so d o azu l ej o n o

sécu l o XVI I , pp. 1 8 3 -2 00. Li sboa: M u seu

N aci on al d o Azu l ej o, 2 01 2 .

S M I TH ,1 9 6 2 . Robert S M I TH , A Tal h a em

Portu gal . L i sboa: Li vros H ori zon te, 1 9 6 2 .

S OB RAL, 1 9 9 9 . Lu ís d e M ou ra S OB RAL, U n

bel com posto: a obra d e arte total d o pri m ei ro

B arroco portu gu ês i n Stru ggl e for S yn th esi s . A

Obra d e Arte Total n os sécu l os XVI I e XVI I I ,

ed i tad o por Lu ís d e M ou ra S obral e D avi d W.

B ooth , vol u m e I , pp. 3 03 -31 5 . Li sboa:

M i n i stéri o d a Cu l tu ra e I n sti tu to Portu gu ês d o

Patri m ón i o Arq u i tectón i co, 1 9 9 9 .

S OROM E N H O, 1 9 9 9 . M i gu el S OROM E N H O,

“As possívei s fon tes ti pol ógi cas d a fach ad a d a

I grej a” i n M on u m en tos, Revi sta S em estral d e

E d i fíci os e M on u m en tos, n . º 1 0, Li sboa, 1 9 9 9 .

VALLE CI LLO TE OD ORO, 1 9 9 5 -1 9 9 6 . M i gu el

Án gel VALLE CI LLO TE OD ORO, “ Cen tros

Artísti cos y E sbozo d e Arti stas en el Al to-

Al en tej o” i n Cal l i pol e, n . º 3 /4, Vi l a Vi çosa,

1 9 9 5 -1 9 9 6 .

VALLE CI LLO TE OD ORO, 1 9 9 6 . M i gu el Án gel

VALLE CI LLO TE OD ORO, Retabl ísti ca al to

al en tej an a (E l vas, Vi l l avi ci osa y Ol i ven za) en

l os s i gl os XVI I -XVI I I . M éri d a: U n i vers i d ad

N aci on al d e E d u caci ón a D i stan ci a e Cen tro

Regi on al d e E xtrem ad u ra, 1 9 9 6 .

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ARQUIVO DISTRITAL DE ÉVORA