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LUCAS VINÍCIUS FRANCISCO ALVES
AVULSÃO DENTÁRIA: REVISÃO DE LITERATURA
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Departamento de Odontologia Restauradora da Universidade Estadual de Londrina, como requisito à obtenção do título de cirurgião-dentista.
____________________________________
Orientador: Prof. Me. Victor Hugo Dechandt Brochado
Universidade Estadual de Londrina – UEL
Prof. Dr. Pablo Andrés Amoroso Silva Universidade Estadual de Londrina – UEL
Londrina, 24 de novembro de 2017
LUCAS VINÍCIUS FRANCISCO ALVES
AVULSÃO DENTÁRIA: REVISÃO DE LITERATURA
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Departamento de Odontologia Restauradora da Universidade Estadual de Londrina, como requisito à obtenção do título de cirurgião-dentista. Orientador: Prof. Me. Victor Hugo Dechandt Brochado
Londrina
2017
Agradecimentos
Agradeço, primeiramente, à minha família por ter me criado da melhor maneira
possível, sempre dando muita importância à minha educação, o que permitiu que eu
estivesse onde estou hoje. Sem vocês eu não seria nada.
Gostaria de agradecer também meu professor orientador Victor Hugo Dechandt
Brochado, pela paciência, disponibilidade, atenção e educação em todos os
momentos.
À todos os professores que me deram aula pelo menos uma vez durante a minha
formação, sempre se prontificando a repassar seus conhecimentos.
À minha querida e eterna dupla, Paula Chechin, pela amizade, parceria e ajuda
em todas as vezes que precisei, sem exceções.
Aos meus colegas de turma que viveram os momentos de glória e dificuldades
juntamente comigo durante todos esses cinco anos.
E por último, e não menos importante, às minhas amizades, sejam elas feitas
antes ou durante a faculdade, pois sempre me forneceram forças e me fizeram
perceber que sem amigos a vida não tem graça.
ALVES, Lucas Vinícius Francisco. Avulsâo dentária: revisão de literatura. 2017.
21fls. Trabalho de Conclusâo de Curso (Graduação de Odontologia – Universidade
Estadual de Londrina, 2017.
Resumo
A avulsão dentária é um dos vários tipos de traumatismos que envolvem a cavidade
bucal, principalmente na fase de transição da infância para a adolescência. Sendo
classificada como o deslocamento do dente para fora de seu alvéolo, acaba
ocasionando lesões nas estruturas adjacentes, como o ligamento periodontal, tecido
gengival, e dependendo da intensidade do trauma, o osso alveolar. A conduta para
dentes permanentes, é o reimplante do elemento dentário de volta ao seu alvéolo,
mantendo-o em posição através de um processo chamado esplintagem, seguido pela
medicação sistêmica e do tratamento endodôntico. Nas situações em que dentes
decíduos são envolvidos, o reimplante não está indicado. Apesar de ser um
traumatismo considerado grave, seu prognóstico pode ser favorável e varia de acordo
com o meio em que o dente foi conservado, se houve ou não fratura do osso alveolar,
o tempo decorrido entre o momento da avulsão e o reimplante, o estágio de
desenvolvimento dentário e alguns outros fatores individuais de cada paciente.
Descritores: avulsão dentária, traumatismos, reimplante, tratamento endodôntico
ALVES, Lucas Vinícius Francisco. Dental avulsion: literature review. 2017. 21fls.
Completion of course work (undergraduate Dentistry) - State University of Londrina,
Londrina, 2017.
Abstract
Tooth avulsion is one of many types of traumatisms involving buccal cavity, mainly
in the transition phase from childhood to adolescence. It is classified as the
displacement of the tooth out of its socket, causing lesions in the adjacent structures,
such as the periodontal ligament, gingival tissue, and depending on the intensity of the
trauma, the alveolar bone. Treatment for avulsed permanent teeth is the replantation
of the dental element back into its alveolus, keeping it in position through a process
called splinting, followed by systemic medication and endodontic treatment. In
situations where deciduous teeth are involved replantation is not indicated. Although
trauma is severe, its prognosis may be favorable and varies according to the
environment in which the tooth was preserved, whether or not there was fracture of the
alveolar bone, the time elapsed between the moment of the avulsion and the
replantation, the stage of dental development and some other individual factors of each
patient.
Key-words: tooth avulsion, traumatisms, replantation, endodontic treatment
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 7
2 REVISÃO DE LITERATURA ..................................................................................7
2.1 CONSIDERAÇÕES GERAIS................................................................................7
2.2 MEIOS DE ARMAZENAMENTO...........................................................................8
2.3 PROTOCOLOS DE ATENDIMENTO...................................................................10
2.4 TIPOS DE ESPLINTAGEM..................................................................................13
2.5 TERAPIA ANTIBIÓTICA .....................................................................................14
2.6 TERAPIA ENDODÔNTICA..................................................................................15
2.7 POSSÍVEIS COMPLICAÇÕES............................................................................15
3 DISCUSSÃO ..........................................................................................................17
4 CONCLUSÃO ........................................................................................................19
REFERÊNCIAS .........................................................................................................20
7
1 INTRODUÇÃO
Os traumatismos dento-alveolares são um dos inúmeros problemas que
acometem a cavidade bucal e estruturas adjacentes, causando problemas tanto
funcionais quanto estéticos, sendo assim, considerados um problema de saúde
pública. Têm uma maior prevalência em pessoas do sexo masculino, principalmente
na fase transição da infância para a adolescência. Em adultos, acidentes envolvendo
motocicletas e a prática de esportes ocupam uma boa porcentagem dos casos
(ANDREASEN et al., 1995).
A avulsão dentária é um desses traumatismos, consistindo no deslocamento
total do dente (coroa juntamente com a raiz) para fora de seu alvéolo. Apesar de não
ser o mais frequente, representando aproximadamente de 1% a 16% dos traumas, é
considerado uma das mais graves injúrias porque, além de romper as fibras do
ligamento periodontal, romper o feixe vásculo-nervoso, danificar tecidos, vasos e
nervos, pode causar grandes fraturas na estrutura óssea de suporte e envolver
estruturas anatômicas importantes. Os dentes mais envolvidos nesse tipo de
traumatismo são os incisivos centrais superiores, seguidos dos incisivos laterais
superiores e incisivos inferiores por possuírem menos raízes. (ANDREASEN &
ANDREASEN, 2007).
O objetivo desse trabalho é realizar uma revisão de literatura, observando os
fatores que influenciam no sucesso do tratamento e a diferença dos protocolos de
atendimento para vários tipos de situações.
2 REVISÃO DE LITERATURA
2.1 CONSIDERAÇÕES GERAIS
O principal tratamento de escolha para dentes avulsionados, em dentes
permanentes, é o reimplante do elemento dentário de volta ao seu local de inserção
para que se dê uma menor contaminação e desvitalização das fibras do ligamento
periodontal, provendo assim uma melhor reparação tecidual. Esse reimplante é
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apenas contraindicado em alguns casos no qual o paciente tenha uma saúde
imunologicamente comprometida, alguma anomalia cardíaca severa, diabetes
descontrolada, alguma desordem mental que o deixe limitado, condições periodontais
graves, grandes lesões cariosas, dentes com células do ligamento periodontal
remanescentes inviáveis e em acidentes que envolvam a dentição decídua, para que
não haja nenhum dano no germe do dente sucessor.
O prognóstico do reimplante está diretamente relacionado a vários fatores,
tais como o tempo em que o dente ficou em meio extra-alveolar, o local no qual foi
mantido, os tecidos e estruturas envolvidos no trauma, o tipo e tempo de contenção
utilizada, situação de desenvolvimento do elemento, momento do tratamento
endodôntico, idade e condições fisiológicas do paciente (SOARES et al., 2008).
2.2 MEIOS DE ARMAZENAMENTO
São muito raras as situações em que o reimplante imediato é possível, por
isso, é muito importante a escolha do meio em que esse dente será mantido para
conservar a viabilidade das células que ficaram aderidas à superfície radicular até que
uma conduta profissional seja tomada.
Existem várias substâncias em que o elemento poderá ser armazenado, e os
de preferência são as líquidas para que não haja ressecamento, e,
consequentemente, morte das células do ligamento e da polpa. As mais utilizadas
pela população, através de estudos epidemiológicos, são a água, a saliva e o leite,
por conta de seu fácil acesso.
A água não se mostra tão efetiva pois causa lise da membrana das células
por ser hipotônica, além de não possuir osmolaridade e pH compatíveis com as
mesmas (deve apresentar uma osmolaridade acima de 230 mOsm kg-1, e seus
valores atingem apenas 30 mOsm kg-1,) (POI, 2013).
A saliva, apesar de ser o meio mais prontamente disponível, também é
levemente hipotônica e apresenta substâncias que podem ser prejudiciais para a
cicatrização dos tecidos lesionados, como enzimas, bactérias e seus subprodutos
(ANDREASEN & ANDREASEN, 2001).
9
O leite, por sua vez, possui pH e osmolaridade (400 mOsm kg-1) mais
compatíveis com os das células do ligamento periodontal, não tem uma concentração
de bactérias tão elevada quando comparado à água e à saliva, é isotônico e rico em
nutrientes e fatores de crescimento celular (PEARSON et al., 2003).
Alguns estudos avaliaram a eficácia de alguns outros meios de conservação
que, apesar de não serem tão utilizados quanto os citados acima, são considerados
acessíveis, tais como: chá verde, própolis, água de coco, clara de ovo e Gatorade. O
chá verde e o própolis possuem ações antibacterianas (mais voltadas para as
bactérias Gram-positivas) e anti-inflamatórias, que os permitem inibir a síntese de
prostaglandinas, dar suporte para o sistema imune frente às atividades, patógenas e
promover a cura no tecido epitelial injuriado e, além disso, possuem componentes
antioxidantes que podem ajudar no prognóstico do dente reimplantado pois
influenciam na modulação das atividades dos osteoblastos e osteoclastos (HWANG
et al., 2011; CASAROTO et al., 2010). Ainda existem partículas de ferro e zinco na
estrutura do própolis, que são importantes na síntese de colágeno, e bioflavonóides,
que ajudam a estancar a hemorragia do tecido periodontal e a estimular enzimas a
fortificarem os vasos sanguíneos do periodonto. (CASAROTO et al., 2010).
A água de coco é um líquido estéril que aumenta a nutrição e a manutenção
das células periodontais pois possui nutrientes como proteínas, aminoácidos,
vitaminas e minerais (GOPIKRISHNA, 2008).
A clara de ovo, apesar de apresentar resultados satisfatórios em relação à
viabilidade celular em períodos até 12 horas, ainda é estudada para ter uma maior
referência quanto aos outros aspectos necessários para se obter o resultado desejado
(POI, 2013).
O Gatorade é considerado também uma alternativa pois está presente em
ambientes onde há prática de esportes, lugares susceptíveis a ocorrer traumas
dentários e possui em sua composição carboidratos, importante para a nutrição
celular, e uma osmolaridade aceitável. Em contrapartida, possui pH não tão desejado
para a viabilidade das células, indo contra a ideia de alguns autores quanto à ser um
bom meio de conservação (HARKACZ et al., 1997).
Existem ainda alguns meios que são considerados os essenciais para manter
o dente enquanto não é reimplantado, porém não são acessíveis à população por
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serem de um custo mais elevado ou por estarem restritos à profissionais. O HBSS,
solução salina balanceada de Hank’s, introduzido no mercado como “Save-a-tooth®”,
‘‘Dentosafe®’’ ou ‘‘SOS Dentbox®” e é comercializado em um kit que contém um
pequeno cesto em que o dente avulsionado é submerso e os nutrientes perdidos
podem ser repostos antes do reimplante (ANDREASEN, 1981). É a solução
recomendada pela Associação Americana de Endodontistas e pela Associação
Internacional de Traumatologia Dentária e pode preservar um dente avulsionado por
pelo menos 24 horas. Existe também o Viaspan®, que desenvolvido para
armazenagem a frio de órgãos durante transplantes, e na sua composição encontra-
se principalmente hidróxido de sódio e hidróxido potássio contém, o que faz com que
ele seja um meio muito eficaz para a manutenção e crescimento das células do
ligamento periodontal. Ambos possuem ótima osmolaridade e pH à temperatura
ambiente, favorecendo o sucesso do tratamento dos dentes avulsionados (POI, 2013).
2.3 PROTOCOLOS DE ATENDIMENTO
O sucesso do tratamento está relacionado a vários fatores, porém os que mais
interferem nos resultados são o estágio de desenvolvimento da raiz e a condição das
células do ligamento periodontal (WESTPHALEN et al., 2007).
Primeiramente, é essencial saber sobre a história médica do paciente,
levando em consideração possíveis desordens sistêmicas, e a história do trauma para
saber quanto tempo o elemento traumatizado passou a seco até o momento do
atendimento ou até ser colocado em um meio de armazenamento apropriado
(FLORES et al., 2007).
Assim, segundo a Associação de Traumatologia Dental (IADT), é interessante
para o cirurgião dentista dividir a condição das células remanescentes de acordo com
o relato do paciente para estabelecer um plano de tratamento mais apropriado. Essa
divisão se apresenta em três categorias: as células do ligamento provavelmente estão
viáveis, que é quando o dente é reimplantado imediatamente ou após um curto
período após o trauma; as células do ligamento estão viáveis, porém comprometidas,
para quando o dente foi mantido a seco em um tempo inferior a 60 minutos e então
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colocado em um meio de armazenamento; e as células do ligamento não estão
viáveis, que é quando o dente não foi reposicionado e nem mantido em nenhuma
substância e em um tempo superior a 60 minutos (ANDREASEN & ANDREASEN,
2001).
A partir disso, o dentista deverá também analisar se o ápice da raiz encontra-
se aberto ou fechado e assim, com todas as informações que precisa, começar o
tratamento mais indicado para a presente situação.
1) Para os casos em que o paciente chegou no consultório com o dente já
reimplantado, segundo o IADT:
- Rizogênese completa: manter o dente em posição; limpar bem a área
utilizando água, solução fisiológica ou clorexidina; se houver lacerações gengivais,
realizar suturas; verificar a posição normal do dente reimplanto tanto clinicamente
quanto radiograficamente; aplicar uma contenção flexível (esplintagem semirrígida)
por 2 semanas e instruir o paciente sobre; administração de antibióticos; verificar se a
vacina antitetânica encontra-se em dia; iniciar a terapia endodôntica de 7 a 10 dias
após o reimplante e antes de remover a contenção.
- Rizogênese incompleta: manter o dente em posição; limpar bem a área
utilizando água, solução fisiológica ou clorexidina; se houver lacerações gengivais,
realizar suturas; verificar a posição normal do dente reimplanto tanto clinicamente
quanto radiograficamente; aplicar uma contenção flexível (esplintagem semirrígida)
por 2 semanas e instruir o paciente sobre; administração de antibióticos; verificar se a
vacina antitetânica encontra-se em dia. A terapia endodôntica nesse casos apenas se
faz necessária caso não ocorra a revascularização da câmara pulpar.
2) O dente foi mantido em um meio de armazenamento fisiológico e/ou
mantido a seco por um tempo inferior a 60 minutos:
- Rizogênese completa: lavar a superfície radicular e o forame apical com um
jato de solução salina e embeber o dente nessa solução para remover a contaminação
e as células mortas da raiz; administrar anestesia local; irrigar o alvéolo com solução
salina; se houver fratura do alvéolo, reposicionar o fragmento com um instrumento
delicado; reimplantar o dente cuidadosamente com pressão digital, sem usar força; se
houver lacerações gengivais, realizar suturas; verificar a posição normal do dente
12
reimplanto tanto clinicamente quanto radiograficamente; aplicar uma contenção
flexível (esplintagem semirrígida) por 2 semanas instruir o paciente sobre;
administração de antibióticos; verificar se a vacina antitetânica encontra-se em dia;
iniciar a terapia endodôntica de 7 a 10 dias após o reimplante e antes de remover a
contenção.
- Rizogênese incompleta: se contaminada, limpar a superfície radicular com
um jato de solução salina; se estiverem disponíveis, antibióticos de aplicação tópica
aumentam as chances de revascularização da polpa e podem ser considerados;
administrar anestesia local; examinar o alvéolo; e houver fratura do alvéolo,
reposicionar o fragmento com um instrumento delicado; remover o coágulo do alvéolo
e reimplantar o dente delicadamente com pressão digital, sem usar força; verificar a
posição normal do dente reimplanto tanto clinicamente quanto radiograficamente;
aplicar uma contenção flexível (esplintagem semirrígida) por 2 semanas instruir o
paciente sobre; administração de antibióticos; verificar se a vacina antitetânica
encontra-se em dia; A terapia endodôntica nesse caso apenas se faz necessária caso
não ocorra a revascularização da câmara pulpar.
3) Se o dente foi mantido a seco por um tempo superior a 60 minutos ou por
outras razões que possam ter deixado as células inviáveis:
- Rizogênese completa: remover restos de tecidos moles aderidos à raiz com
uma gaze úmida; o tratamento do canal radicular pode ser realizado tanto antes do
reimplante quanto depois; administrar anestesia local, irrigar o alvéolo com solução
salina; se houver fratura do alvéolo, reposicionar o fragmento com um instrumento
delicado; reimplantar o dente cuidadosamente com pressão digital, sem usar força; se
houver lacerações gengivais, realizar suturas; verificar a posição normal do dente
reimplanto tanto clinicamente quanto radiograficamente; aplicar uma contenção
flexível (esplintagem semirrígida) por 4 semanas instruir o paciente sobre;
administração de antibióticos; verificar se a vacina antitetânica encontra-se em dia;
- Rizogênese incompleta: remover restos de tecidos moles aderidos à raiz
com uma gaze úmida; o tratamento do canal radicular pode ser realizado tanto antes
do reimplante quanto depois; administrar anestesia local; remover o coágulo do
álveolo e reimplantar o dente delicadamente com pressão digital, sem usar força;
verificar a posição normal do dente reimplanto tanto clinicamente quanto
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radiograficamente; aplicar uma contenção flexível (esplintagem semirrígida) por 4
semanas instruir o paciente sobre; administração de antibióticos; verificar se a vacina
antitetânica encontra-se em dia;
Para dentes em que as células do periodonto se encontram inviáveis para o
um processo de reparo e é recomendado a remoção dos restos do ligamento, o
tratamento da superfície deve ser feito embebendo o elemento dentário em uma
solução de fluoreto de sódio a 2.4% e pH de 5.5, por 20 minutos, ou fazer a aplicação
uma matriz derivada do esmalte que possui proteínas da família das amelogeninas,
comercialmente conhecido como Emdogain®, para tentar impedir o processo de
reabsorção radicular externa por substituição (LEE et al, 2001; ANDREASEN &
ANDREASEN, 2001; ASHKENAZI & SHAKED, 2006).
2.4 TIPOS DE ESPLINTAGEM
A manutenção do dente reimplantado em posição é realizada através de um
procedimento chamado esplintagem, que é dividido em contenções rígidas (fixas) e
semirrígidas (flexíveis) e suas indicações variam de acordo com as estruturas que
foram acometidas. Se apenas tecidos moles foram lesionados, é recomendado que
faça a sutura dos mesmos se necessário e fazer uma contenção semirrígida,
utilizando fio ortodôntico flexível 0,5 mm ou fio de nylon, adaptados ao dente com
resina composta, que permitem movimento do dente sem causar pressão sobre a
gengiva, atrapalhar a manutenção da higiene oral, e mantê-la por um período de 7 a
10-14 dias, considerado o suficiente para as fibras do ligamento periodontal criarem
uma estabilidade suficiente para manter o dente em posição dentro de seu alvéolo
(McDONALD & STRASSLER, 1999). Dentes reimplantados e submetidos à uma
contenção maior que esse período demonstraram maiores indícios de reabsorção
radicular e anquilose. (NASJLETE e cols., 1982). Existe ainda outra técnica,
recomendada por ANDREASEN & ANDREASEN (2001), que é apenas a aplicação
de resina composta nos pontos de contatos do dente avulsionado com os dentes
adjacentes.
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Se o trauma envolveu fratura do osso alveolar adjacente, a contenção fixa
utilizando fio ortodôntico multifilamentado é mais recomendada para que o fragmento
fique estabilizado na posição inicial a fim de estimular o reparo sem interferir na
oclusão do paciente. O período será determinado de acordo com avaliações
periódicas analisando o processo de cicatrização óssea, porém varia de 4 a 8
semanas (ANDREASEN & ANDREASEN, 2001). Uma dieta leve por duas semanas e
higienização local com escovas macias e bochechos de clorexidina a 0.12% durante
uma semana devem ser utilizados como orientação pós esplintagem. (ANDREASEN
& ANDREASEN, 2001).
2.5 TERAPIA ANTIBIÓTICA
Após realizado o reimplante e a esplintagem necessária, o cirurgião-dentista
deve fazer a prescrição de medicações sistêmicas (antibióticos e anti-inflamatórios)
(WESTPHALEN et al., 1999) para evitar o risco de infecções, apesar de sua eficácia
ainda ser discutida por não apresentar resultados clínicos. Entretanto, segundo a
IADT, alguns estudos demonstraram que antibióticos apresentaram bons resultados
para a cura periodontal e pulpar quando aplicados de maneira tópica (doxiciclina
1mg/20ml de soro fisiológico durante 5 minutos), aumentando a chance de
revascularização pulpar e cura periodontal em dentes com rizogênese incompleta. Por
isso acredita-se que, se administrados sistemicamente, podem surtir algum efeito
também.
A tetraciclina é o antibiótico de escolha para tratamento sistêmico durante a
primeira semana após o reimplante, em doses de acordo com a idade e peso do
paciente e considerando o risco do escurecimento do elemento dentário em pacientes
jovens. Como tetraciclina não é recomendada para crianças menores de 12 anos de
idade, utiliza-se pen-ve-oral ou amoxicilina como alternativa. (FLORES et al., 2007).
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2.6 TERAPIA ENDODÔNTICA
A cicatrização do processo, após o reimplante e contenção do elemento
dentário, ocorre na seguinte ordem: revascularização do ligamento periodontal
rompido, união das fibras de Sharpey rompidas, formação de uma nova adesão
gengival e revascularização e reinervação da polpa. A revascularização pulpar ocorre
na ordem de 0,5mm/ dia, tendo início geralmente quatro dias após o trauma. Em torno
de 30 a 40 dias a polpa de um incisivo jovem poderá estar revascularizada
(ANDREASEN & ANDREASEN, 2001). A realização do tratamento endodôntico se faz
necessária nos casos em que não se espera que esse processo ocorra e haja necrose
pulpar, que se mostram como a maioria’’.
Em elementos em que o desenvolvimento da raíz já se deu por completo e já
se sabe que não haverá revitalização da polpa radicular, é recomendado inicar o
procedimento de 7 a 10 dias após ocorrido o trauma para minimizar as chances de
causar algum tipo de sequela.
É utilizada a pasta de hidróxido de cálcio como medicação intracanal por um
mês ou mais e a obturação com guta percha só deve ser realizada a partir do momento
em que se observar a formação de uma lâmina dura na imagem radiográfica.
(ANDREASEN & ANDREASEN, 2001; TROPE, 2000). Como alternativa, uma pasta
com antibiótico/corticosteroide pode ser utilizada, porém deve ser colocada
imediatamente após o reimplante dentário e ser mantida por pelo menos 2 semanas.
É de grande importância avaliar a profilaxia antitetânica de acordo com o
estado imunológico em que o paciente se encontra (ANDREASEN & ANDREASEN,
2001).
2.7 POSSÍVEIS COMPLICAÇÕES
É muito importante verificar a condição dos tecidos periodontais e pulpares
em casos em que o dente não foi mantido em lugar adequado e por um longo período
de tempo porque seu reimplante pode acabar gerando alguns tipos de complicações.
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A reabsorção inflamatória acontece através da infecção da polpa necrótica por
conta de um grande dano causado no cemento, permitindo assim que toxinas
bacterianas migrem para o ligamento periodontal através de túbulos dentinários. O
processo inflamatório originado então pode causar reabsorção tanto da raiz quanto do
osso adjacente (HAMMARSTROM et al., 1989). Na imagem radiográfica, se apresenta
como áreas radiolúcidas irregulares por todo o canal radicular.
Já a reabsorção por substituição ocorre quando há um grande dano tanto no
ligamento periodontal quanto no cemento, fazendo com que as células do osso
alveolar realizem o processo de reparação no lugar das células do tecido conjuntivo,
o que gera uma anquilose, assim, a raiz é progressivamente reabsorvida e substituída
por osso alveolar. Esse tipo de reabsorção é considerada uma das interferências mais
graves e a principal causa de perda do elemento reimplantado, pois atrapalha no
crescimento do processo alveolar, o que pode deixar o dente em infra-oclusão
(HAMMARSTROM et al., 1989). Radiograficamente, se caracteriza pela substituição
da imagem da raiz pela do osso radicular.
Uma pesquisa realizada em 2008 por SOARES et al. observou reabsorções
radiculares em 63% dos dentes que sofreram avulsão, sendo a mais frequentemente
encontrada a anquilose, ou reabsorção por substituição, representando 41% desses
casos.
Para todas as situações de reimplante, um minucioso acompanhamento
periodicamente é fundamental para que se atinja os resultados esperados. Avaliações
clínicas e radiográficas por no mínimo 5 anos devem ser realizadas, com frequência
semanal durante os dois primeiros meses e, após isso, semestralmente, até que se
complete um ano e o acompanhamento torne-se necessário apenas uma vez por ano
(SORIANO et al., 2004).
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3 DISCUSSÃO
De acordo com ANDREASEN & ANDREASEN (2001), o reimplante imediato
do dente é o mais indicado a fim de obter um melhor prognóstico em relação à
recuperação às fibras do ligamento periodontal, por isso, recomendam que, assim que
ocorrido o trauma, o paciente deve lavar o dente durante 10 segundos em água fria e
logo em seguida reimplantá-lo. Porém, dependendo de onde ocorreu o trauma, a
contaminação do elemento dentário pode ser muito alta. Então, o reimplante imediato
antes de o dente ser limpo, desinfetado e/ou imerso em algum meio de conservação
para dar maior nutrição às células remanescentes, como recomenda o IADT em seus
protocolos de atendimento, talvez possa apresentar um maior risco de sequelas que
se reimplantado tardiamente.
A escolha do meio no qual o elemento dentário será mantido até o momento
do atendimento deverá ser minuciosa a fim de minimizar danos. De acordo com alguns
estudos realizados, a efetividade dos mesmos é muito relativa, pois, mesmo
possuindo algumas substâncias essenciais, nem todos conseguem atingir o mínimo
de fatores necessários para manter a viabilidade das células por muito tempo. Por
exemplo, a água de coco e o leite possuem nutrientes importantes para a vitalidade
celular e possuem baixa concentração de microrganismos, porém, o fato de a água
de coco ser hipotônica diminui sua função de manutenção de fibroblastos em relação
ao leite, que é isotônico.
Quanto à manutenção do dente em posição, levando em consideração as
opções apresentadas por McDONALD & STRASSLER (1999) e ANDREASEN &
ANDREASEN (2001), a que aparenta ser mais utilizada é a contenção utilizando fios
ortodônticos, pela maior facilidade de higienização e por permitir uma melhor
movimentação do dente dentro do alvéolo, estimulando as fibras do ligamento
periodontal a suportar os impactos mastigatórios emitidos de vários pontos da coroa.
O uso da tetraciclina está sendo muito discutido hoje em dia quanto aos seus
efeitos adversos, então, apesar de ser recomendada, pode-se considerar sua
substituição por penicilinas, seguindo as doses e posologias indicadas para cada tipo
de paciente, de acordo com idade, peso, tamanho e verificando se não há nenhum
tipo de contraindicação, como citam ANDREASEN & ANDREASEN (2001).
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Os protocolos de atendimento diferem em alguns detalhes de um para o outro
porém todos visam uma menor contaminação daquela área a fim de conseguir obter
um melhor processo reparador e a manutenção dos elementos dentários e estruturas
adjacentes envolvidos no trauma.
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4 CONCLUSÃO
Saber orientar o paciente, realizar o diagnóstico adequado e conhecer qual
conduta a ser tomada para cada tipo de situação baseada na anamnese, exame
clínico e radiográfico é imprescindível para obter o sucesso do tratamento, pois, a não
realização de uma etapa do tratamento, pode ocasionar algum tipo de complicação,
e, por consequência, até mesmo a perda do elemento dentário. Seria indesejável,
também, a realização do tratamento endodôntico de um dente que ainda possua
chances de regeneração do seu tecido pulpar.
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REFERÊNCIAS
ANDREASEN, J.O.; ANDEASEN, F.M. Fundamentos de Traumatismo Dental: Guia de tratamento passo a passo. 2ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2001.
ANDREASEN, J.O. The effect of pulp extirpation or root canal treatment on periodontal healing after replantation of permanent incisors in monkeys. Journal of Endodontics, 1981.
ANDREASEN, J.O.; ANDEASEN, F.M. Texto e Atlas colorido de traumatismo dental. 3ª ed. Porto Alegre: Artmed. 2001.
ANDERSSON, L.; ANDREASEN, J. O.; Day, P.; HEITHERSAY, G.; TROPE, M., DiANGELIS, A. J.; KENNY, D. J.; Sigurdsson, A.; Bourguignon, C.; Flores, M. T.; HICKS, M. L.; Lenzi, A. R.; MALMGREN, B.; MOULE, A. J.; TSUKIBOSHI, M. International Association of Dental Traumatology guidelines for the management of traumatic dental injuries: 2. Avulsion of permanent teeth. Dent Traumatol, 2012; 28: 88–96.
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