Aventura Em Bagd

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AVENTURA EM BAGDA AGATHA CHRISTIE

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  • AVENTURA EM BAGDA

    AGATHA CHRISTIE

  • O CAPITO CROSBIE saiu do banco com o ar de quem tinha cobrado um cheque e descoberto que havia um pouquinho mais em sua conta do que pensara. O Capito Crosbie freqentemente parecia contente consigo mesmo. Era essa espcie de homem. De aparncia era baixo e atarracado, com um rosto extremamente vermelho e um bigode militar de escovinha. Empertigava-se um pouco ao andar. Suas roupas eram talvez um pouco berrantes demais e ele gostava de uma boa histria. Era popular entre outros homens. Um homem alegre, lugar-comum mas gentil, solteiro. Nada notvel a seu respeito. H montes de Crosbies no Leste. A rua na qual o Capito Crosbie saiu era chamada Rua dos Bancos, pela excelente razo de que a maioria dos bancos da cidade estava localizada nela. Dentro do banco estava fresco e escuro e bastante bolorento. O rudo predominante era de grandes quantidades de mquinas de escrever crepitando ao fundo. Fora na Rua dos Bancos havia sol e poeira redemoinhante e os rudos eram terrficos e variados. Havia o persistente barulho de buzinas de automvel, os gritos dos vendedores de diversas espcies de mercadorias. Havia disputas acirradas entre pequenos grupos de pessoas que pareciam a ponto de matar-se uns aos outros, mas na realidade eram amigos ntimos; homens, meninos e meninas estavam vendendo toda a sorte de rvores, doces, laranjas e bananas, toalhas de banho, pentes, lminas de barbear e outras mercadorias sortidas, carregados rapidamente pelas ruas em travessas. Havia tambm um rudo perptuo e perenemente renovado de pigarros ao serem limpos e cusparadas e sbre tudo isso o tnue lamento melanclico de homens conduzindo asnos e cavalos pela torrente de carros e pedestres, gritando: "Balek-Balek!" Eram onze horas da manh na Cidade de Bagd. O Capito Crosbie parou um menino que passava correndo rapidamente com um molho de jornais debaixo do brao e comprou um. Dobrou a esquina da Rua dos Bancos e chegou a Rashid Street, que a rua principal de Bagd, que a percorre por cerca de seis quilmetros, paralela ao Rio Tigre. O Capito Crosbie olhou as manchetes do jornal, caminhou uns duzentos metros e em seguida dobrou para uma leazinha que dava para um grande khan, ou ptio. Do outro lado do mesmo, empurrou uma porta abrindo-a e encontrou-se num escritrio. Um empregado iraquiano bem arrumado deixou a sua mquina de escrever e veio ao seu encontro sorrindo as boasvindas. Bom dia, Capito Crosbie. Em que lhe posso ser til? O Sr. Dakin est na sua sala? timo, vou passar. Passou por uma porta, subiu uma escada de degraus bem inclinados e seguiu por uma passagem bastante suja. Bateu na porta ao fundo e uma voz disse: "Entre!" Era uma sala extremamente alta e vazia. Havia uma estufa a leo com pires com gua colocado em cima, um assento longo almofadado e uma pequenina mesa de caf na sua frente e uma escrivaninha esmolambada. A luz eltrica estava acesa e a luz do dia cuidadosamente excluda. Atrs da escrivaninha esmolambada estava sentado um homem tambm esmolambado de rosto cansado e indeciso - o rosto de algum que no tinha progredido no mundo, sabe disso e deixou de preocupar-se com isso. Os dois homens, o alegre e autoconfiante Crosbie e o melanclico e fatigado Dakin, olharam um para o outro. Dakin falou- Ol, Crosbie. Acaba de chegar de Kirkuk? O outro assentiu com a cabea. Fechou a porta cuidadosamente atrs de si. Era uma porta de aspecto esmolambado, mal pintada, mas tinha uma qualidade inesperada; ajustava-se bem, sem frestas e sem espao por baixo. Era, na realidade, prova de som. Com o fechar da porta as personalidades de ambos os homens mudaram apenas perceptivelmente. O Capito Crosbie tornou-se menos agressivo e determinado. Os ombros do Sr. Dakin ficaram menos cados e seus modos ficaram menos hesitantes. Se algum tivesse estado na sala ouvindo, poderia ter ficado surpreso ao constatar que Dakin era o homem com autoridade. - Alguma novidade? - perguntou Crosbie. - Sim. - Dakin suspirou. Diante dele havia um papel que tinha estado a descodificar. Rabiscou mais duas letras e disse: - Ter lugar em Bagd. Em seguida riscou um fsforo, tocou fogo no papel e observou-o queimar. Quando tinha sido reduzido a cinzas, soprou suavemente. As cinzas ergueram-se e se dispersaram. - Sim - comentou. - Decidiram que seria Bagd. Dia vinte do ms que vem. Temos que "guardar o maior segredo". - Estiveram comentando isso no Suq... durante quatro dias - disse Crosbie secamente.

  • O homem alto sorriu seu sorriso cansado. - Segredo mximo! No h segredos mximos no Oriente, no mesmo, Crosbie? - No senhor. Se quiser a minha opinio, no h segredos mximos em lugar algum. Durante a guerra notei freqentemente que um barbeiro de Londres sabia mais do que o Alto Comando. - No tem muita importncia neste caso. Se o encontro deve realizar-se em Bagd, em breve ter que ser tornado pblico. E depois a farra... a nossa farrinha particular... comea. - Acha que vai comear? - perguntou Crosbie ceticamente. - O Grande Ditador acha (assim desrespeitosamente se referia Crosbie ao chefe de uma grande potncia europia) e pretende realmente vir? - Acho que desta vez sim, Crosbie - disse Dakin pensativamente. - Acho que sim. E se o encontro se realizar... se se realizar sem qualquer embarao... bem, pode ser a salvao de tudo. Se apenas se pudesse chegar a qualquer espcie de entendimento... - e interrompeu-se. Crosbie ainda parecia ligeiramente ctico. - Existe... desculpe-me, senhor... existe a possibilidade de um entendimento de qualquer espcie? - No sentido que voc quer dizer, Crosbie, provavelmente no! Se fosse apenas o encontro de dois homens que representam ideologias completamente diferentes, provavelmente a coisa toda terminaria como de costume... em suspeita e m compreenso aumentadas. Mas h um terceiro elemento. Se aquela histria fantstica de Carmichael verdadeira... Interrompeu-se de novo. - Mas certamente, senhor, no pode ser verdadeira. fantstica demais! O outro ficou em silncio por alguns momentos. Estava vendo, bem vividamente, um rosto srio, preocupado, escutando uma voz calma, indiferente, dizendo coisas fantsticas e inacre-ditveis. Estava dizendo a si mesmo, como ento o tinha feito: - Ou o meu melhor homem, o mais digno de confiana, ficou louco, ou ento essa coisa verdadeira... Disse, na mesma voz tnue e melanclica: - Carmichael acreditava nisso. Tudo que ele fora capaz de descobrir confirmava-lhe sua hiptese. Ele queria ir l para descobrir mais, trazer provas... Se foi acertado eu t-lo deixado ir, eu no sei. Se ele no voltar apenas a minha histria do que ele me contou, que por sua vez a histria do que algum contou a ele. Isso bastante? Eu no penso assim. , como voc diz, uma histria to fantstica... Mas se o homem mesmo estiver aqui em Bagd, no dia vinte, para contar a sua histria, a histria de uma testemunha ocular, e apresentar provas... - Provas? - perguntou Crosbie asperamente. O outro anuiu. - Sim, ele tem provas. - Como que sabe?. - A frmula combinada. A mensagem veio por intermedio de Salah Hassan - citou cuidadosamente: - Um camelo branco com uma carga de aveia est vindo por sobre o Passo. Fez uma pausa e continuou: - De modo que Carmichael, conseguiu o que veio procurar, mas no consegue escapar sem suspeita. Esto na sua pista. Qualquer que seja o caminho que ele tomar, ser vigiado e, o que muito mais perigoso, estaro espera dele... aqui. Primeiro na fronteira. E se ele conseguir passar pela fronteira, haver um cordo estendido em volta das embaixadas e dos consulados. Olhe para isso. Mexeu em alguns papis sobre a sua escrivaninha e comeou a ler: - Um ingls viajando em seu carro da Prsia para o Iraque morto a tiros, supostamente por bandidos. Um mercador curdo viajando colinas abaixo emboscado e morto. Outro curdo, Abdul Hassan, suspeito de ser um contrabandista de cigarros, morto a tiros pela polcia. Corpo de um homem, posteriormente identificado como um motorista de caminho armemo, encontrado na estrada de Rowanduz. Todos eles, preste ateno, de aproximadamente a mesma descrio. Altura, peso, cabelo, corpo, corresponde a uma descrio de Carmichael. No esto se arriscando em nada. Esto dispostos a peg-lo. Uma vez que ele estiver no Iraque o perigo ainda maior. Um jardineiro na Embaixada, um empregado do Consulado, um funcionrio no Aeroporto, na Alfndega, na estao da Estrada de Ferro... todos os hotis vigiados... Um cordo bem apertado. Crosbie levantou as sobrancelhas. Acha que to espalhado assim? No tenho a menor dvida. Mesmo no nosso espetculo tm havido vazamentos. Como posso ter certeza de que as medidas que estamos adotando para trazer Carmichael seguramente para

  • Bagd no so conhecidas j do outro lado? um dos movimentos elementares do jogo, como sabe, ter algum na folha de pagamento do campo oposto. - H algum de quem suspeita? Lentamente Dakin meneou a cabea. Crosbie suspirou. - Enquanto isso - perguntou - ns continuamos? - Sim. - E com referncia a Crofton Lee? - Concordou em vir para Bagd. - Todo mundo est vindo para Bagd - disse Crosbie. Mesmo o Grande Ditador, de acordo com o que diz, senhor. Mas se algo acontecesse ao Presidente - enquanto ele estiver aqui - o foguete ir subir, com um estrondo. - Nada deve acontecer - afirmou Dakin. - Essa a nossa parte. Providenciar para que nada acontea. Quando Crosbie tinha-se retirado, Dakin dobrou-se sobre a sua mesa. Estava murmurando: - Eles vieram para Bagd... Traou um crculo no mata-borro e escreveu embaixo Bagd. - Em seguida fez pontinhos em volta, esboou um camelo, um avio, um navio, um pequeno trem de chamin bafejante, todos convergindo sobre o crculo. Em seguida no canto da folha desenhou uma teia de aranha. No meio da teia escreveu um nome: Ana Scheele. Por baixo colocou um grande ponto de interrogao. Em seguida pegou seu chapu e saiu do escritrio. Ao passar por Rashid Street um homem perguntou a outro quem era ele. - Aquele? Oh, Dakin. De uma das companhias de petrleo. Bom sujeito, mas no chega a lugar nenhum. Letrgico demais. Dizem que bebe. Nunca chegar a ser nada. preciso ter energia para chegar a ser alguma coisa nesta parte do mundo. - Est com os relatrios sobre a propriedade Krugenhorf, Srta. Scheele? - Sim, Sr. Morganthal. A Srta. Scheele, fria e eficiente, colocou os papis frente do seu empregador. Este grunhiu enquanto lia. - Satisfatrio, acho eu. - Eu certamente penso assim, Sr. Morganthal. - Schwartz est aqui? - Est esperando na ante-sala. - Mande-o entrar agora. A Srta. Scheele apertou uma campainha - uma das seis que havia. - Ainda precisa de mim, Sr. Morganthal? - No, acho que no Srta. Scheele. Ana Scheele esgueirou-se silenciosamente para fora da sala. Era uma loura platinada, mas no uma loura glamorosa. Seu cabelo plido alourado estava repuxado liso da sua testa para formar um rolo ordenado em seu pescoo. Seus olhos azul-plido, inteligentes, olhavam o mundo por detrs de lentes fortes. O rosto tinha feies lmpidas e midas, mas era bastante inexpressivo. Tinha subido na carreira no pelos seus encantos, mas por simples eficincia. Era capaz de decorar qualquer coisa, no importa quo complicada, e reproduzir nomes, datas e horas sem consultar apontamentos. Era capaz de organizar a equipe de um grande escritrio de tal forma que tudo funcionava como uma mquina bem azeitada. Era a discrio em pessoa e sua energia, embora controlada e discipli-nada, nunca esmorecia. Otto Morganthal, chefe da firma nova-lorquina de Morganthal, Brow & Shipperke, banqueiros internacionais, estava bem consciente do fato de que devia a sua Scheele mais do que simples dinheiro poderia pagar. Confiava plenamente nela. Sua memria, sua experincia, seu julgamento e sua cabea fria e equilibrada eram impagaveis. le lhe pagava um alto salrio e o teria aumentado se ela o tivesse pedido. Ela conhecia no somente os detalhes do seu negcio, mas os detalhes de sua vida particular tambm. Quando ele a tinha consultado no assunto da segunda Sra. Morganthal, ela tinha aconselhado o divrcio e sugerido a importncia exata dos alimentos. No expressara nem simpatia nem curiosidade. No era, diria ele, essa espcie de mulher. Ele no pensava que ela tivesse quaisquer sentimentos e nunca lhe ocorreu pensar o que ela pensava a respeito. Na realidade teria ficado espantado se lhe contassem que ela abrigava quaisquer pensamentos - a no ser, claro, pensamentos ligados a Morganthal, Brown & Shipperke e aos problemas de Otto Morganthal. Assim foi com surpresa completa que ele a ouviu dizer ao sair do escritrio:

  • - Eu gostaria de ter umas frias de trs semanas fora de Nova York, se for possvel, Sr. Morganthal. A partir da prxima tera-feira. Olhando para ela, falou, embaraado: - Seria embaraoso, muito embaraoso. - No acho que seria difcil demais, Sr. Morganthal. A Srta. Wygate perfeitamente competente para tratar das coisas. Vou deixar-lhe minhas anotaes e instrues completas. O Sr. Cornwall pode se ocupar da Fuso Ascher. Ainda embaraado, ele perguntou: - No est doente, ou algo assim? No podia imaginar a Srta. Scheele estando doente. Mesmo os germes respeitavam Ana Scheele e ficavam fora do seu caminho. - Oh, no, Sr. Morganthal. Eu quero ir a Londres para ver minha irm. Sua irm? Ele no sabia que ela tivesse uma irm. Nunca concebeu a Srta. Scheele como tendo qualquer famlia ou parentes. Nunca mencionou t-los. E aqui estava ela, casualmente se referindo a Londres. No outono passado tinha estado em Londres com ele, mas nunca havia mencionado ter uma irm l. Com um sentimento de ofensa declarou: - Nunca soube que tivesse uma irm na Inglaterra. A Srta. Scheele sorriu muito suavemente: - Oh, sim, Sr. Morganthal. casada com um ingls, ligado ao Museu Britnico. Ela ter que se submeter a uma operao muito sria. Quer que eu esteja com ela. Eu gostaria de ir. Em outras palavras, viu o Sr. Morganthal, tinha resolvido ir. Resmungou: - Muito bem, muito bem... Volte logo que puder. Nunca vi o mercado to varivel. Todo esse maldito comunismo. A guerra pode estourar a qualquer momento. s vezes penso que a nica soluo. Todo o pas est crivado com isso... crivado com isso. E agora o Presidente decidiu ir a essa Conferncia em Bagd. uma encenao na minha opinio. Esto querendo peg-lo. Bagd! De todos os lugares o mais esquisito! - Oh, tenho a certeza de que ser bem guardado disse a Srta. Scheele apaziguadoramente. - Apanharam o X da Prsia o ano passado, no foi? Pegaram Bernadotte na Palestina. loucura... isso o que ... loucura. - Mas ento - acrescentou o Sr. Morganthal pesadamente - o mundo todo est louco. inerentes do emprego dos prprios talentos particulares no momento errado. VICTORIA era, como a maioria de ns, uma moa com qualidades tanto quanto defeitos. Do lado do crdito era generosa, de corao quente e corajosa. A sua inclinao natural para a aventura pode ser considerada ou como meritria ou o contrrio nesta idade moderna que avalia muito alto o valor de segurana. Seu defeito principal era mentir tanto nos momentos oportunos quanto nos inoportunos. A fascinao superior da fico ao fato sempre tinha sido irresistvel para VICTORIA. Tinha mentido com fluncia, facilidade e fervor artsticos. Se VICTORIA chegasse atrasada a um encontro (o que freqentemente era o caso), para ela no era o bastante murmurar uma desculpa do seu relgio ter parado (o que realmente acontecia com bastante freqncia) ou de um nibus inexplicavelmente atrasado. Para VICTORIA pareceria prefervel fornecer a desculpa esfarrapada de que tinha sido impedida por um elefante fugido, deitado atravessado na estrada principal do nibus, ou por um excitante reide relmpago da polcia, na qual ela mesma tinha tomado parte para ajudar a polcia. Para VICTORIA um mundo agradvel seria aquele no qual tigres estavam de atalaia no Strand e bandidos perigosos infestavam Tooting. Uma moa magra, com uma figura agradvel e pernas de primeira classe, as feies de VICTORIA poderiam ser descritas na realidade como comuns. Eram midas e lnipidas. Mas havia algo estimulante nela, pois a "carinha de borracha", como um dos seus admiradores a tinha apelidado, podia destorcer aquela expresso imvel para um arremedo espantoso de praticamente qualquer pessoa. Foi este seu talento mencionado por ltimo que a levara sua presente entalada. Empregada como datilgrafa pelo Sr. Greenholtz de Greenholtz, Simmon & Lederbetter, da Rua Graysholme, de Londres, W.C. , VICTORIA tinha matado o tempo de uma manh paulificante entretendo trs outras datilgrafas e o moo de recados com uma performance vvida da Sra. Greenholtz ao fazer uma visita ao escritrio do seu marido. Segura no conhecimento de que o Sr. Greenholtz tinha sado para visitar seus clientes, VICTORIA tinha deixado arrebatar-se. - Porque ns no podemos ter aquele banquinho Knole, paie? - perguntava ela em voz alta e lamurienta. A Sra. Dievatakis ela tem um em cetim azul eltrico.

  • Voc diz que o dinheiro est curto? Mas quando voc sai com aquela loura para jantar e danar - Ali! pensa que eu no sei - e se voc sai com aquela pequena, ento vou ter um banquinho todo em cor de ameixa, de almofadas de ouro. E quando voc diz que um jantar de negcios, voce um trouxa perfeito - sim - e volta com batom na camisa. Ento, vou ter o banquinho Knole e vou encomendar uma capa de pele -muito bonita - toda com arminho, mas no realmente arminho e eu vou consegui-la muito barato e vai ser um bom negcio. A falha sbita do seu auditrio - a princpio arrebatado, mas agora subitamente voltado ao trabalho com concordncia espontnea, fez VICTORIA interromper e voltar-se para onde o Sr. Greenholtz estava de p no umbral da porta, observando-a. VICTORIA, incapaz de pensar em algo reievante para dizer, simplesmente exclamou: - Oh! O Sr. Greenholtz grunhiu. Tirando seu casaco, o Sr. Greenholtz encaminhou-se para seu escritrio particular e fechou a porta com estrondo. Quase que imediatamente a campainha soou, dois curtos e um longo. Era um chamado para VICTORIA. - para voc, Johnezinha - comentou uma colega desnecessriamente, de olhos brilhantes pelo prazer causado pela desgraa dos outros. As outras datilgrafas colaboravam neste sentimento, ejaculando: - a sua vez, Jones. - Para a berlinda, Joezinha. O mensageiro, uma criana desagradvel, contentou-se puxando o indicador diante do pescoo e proferindo um som sinistro. VICTORIA levantou seu caderno de apontamentos e lpis e foi para o escritrio do Sr. Greenholtz, com tanta segurana quanto conseguia reunir. - Est me chamando, Sr. Greenholtz? - murmurou, fixando um olhar lmpido nele. O Sr. Greenholtz estava amarfanhando trs notas de uma libra e procurando em seus bolsos moedas do Tesouro. - Ora, a est voc - observou ele. - Para mim chega de sua parte, minha jovem. V alguma razo especial pela qual no lhe deva pagar uma semana de salrio em lugar de aviso prvio e mand-la embora agora mesmo? VICTORIA (uma rf) tinha acabado de abrir a boca para explicar como a aflio de uma me, neste momento sofrendo uma operao sria a tinha desmoralizado tanto que tinha ficado de cabea completamente area e como o seu salrio minguado era tudo que a me acima citada tinha para sustentar-se, quando, lanando um olhar de soslaio para a face desagradvel do Sr. Greenholtz, fechou a boca e mudou de pensamento. - No poderia estar mais de acordo com o senhor disse ela aberta e agradvelmente. - Penso que est absolutamente certo, se sabe o que quero dizer. O Sr. Greenholtz parecia ligeiramente espantado. No estava acostumado a ter suas despedidas tratadas com esse esprito aprovador e congratulatrio. Para esconder um ligeiro mal-estar, remexeu a pilha de moedas sua frente na escrivaninha. Em seguida mais uma vez procurou pelos seus bolsos. - Faltam nove pence - murmurou soturnamente. - No tem importncia - disse VICTORIA gentilmente. V ao cinema ou compre umas balas. - Parece que no tenho nem selos. - No importa. Eu nunca escrevo cartas. - Poderia mandar pelo correio - disse o Sr. Grenholtz, mas sem muita convico. - No se incomode. Que tal uma referncia? - perguntou VICTORIA. A clera do Sr. Greenholtz voltou. - Por que diabo deveria eu lhe dar uma referncia? perguntou ele furiosamente. - costumeiro - retrucou VICTORIA. O Sr. Greenholtz puxou de um pedao de papel e rabiscou algumas linhas. Empurrou o papel em sua direo. - Est bom assim? A Srta. Jones esteve comigo por dois meses como estenodatilgrafa. Sua taquigrafia e inexata e no sabe ortografia. Est saindo devido perda de tempo durante o expediente. VICTORIA fez uma careta. - Dificilmente uma recomendao - observou. - No pretendia que fosse - observou o Sr. Greenboltz. - Acho - disse VICTORIA - que poderia pelo menos dizer que sou honesta, sbria e respeitvel. Eu sou, como sabe. E talvez pudesse acrescentar que sou discreta. - Discreta? - latiu o Sr. Greenholtz. VICTORIA encontrou seu olhar com uma expresso inocente.

  • - Discreta - repetiu gentilmente. Lembrando-se de diversas cartas que foram ditadas a VICTORIA e datilografadas por ela, o Sr. Greenholtz decidiu que a prudncia era a parte melhor do rancor. Agarrou o papel de volta, rasgou-o e comeou uma folha nova. A Srta. Jones esteve comigo por dois meses como estenodatilgrafa. Est nos deixando por estar sendo diminudo o pessoal de escritrio. - Que tal isso? - Podia ser melhor - disse VICTORIA - mas servir. Foi assim com o salrio de uma semana (menos nove pence) na bolsa que VICTORIA estava sentada num banco nos Jardins Fitz James, que so uma plantao triangular de arbustos extremamente tristes, ao lado de uma igreja e dominada por um armazm alto. Era hbito de VICTORIA, em qualquer dia em que no estivesse realmente chovendo, comprar um queijo e um sanduche de alface e tomate numa lanchonete e comer esse lanche simples nesta paisagem pseudo-rural. Agora, ao mastigar meditativamente, estava dizendo a si mesma, no pela primeira vez, que havia um tempo e um lugar para cada coisa - e que o escritrio no era certamente o lugar para imitaes da mulher do patro. No futuro teria que dominar a sua exuberncia natural que a levou a iluminar o desempenho de uma tarefa paulificante. Enquanto isso, ela estava livre de GreenhoItz, Siminon & Lederbetter e a perspectiva de conseguir um emprego em outro lugar enchia-a de antecipao agradvel. VICTORIA estava sempre deliciada quando estava em vias de assumir um novo emprego. Nunca se sabia, sentia ela, o que poderia acontecer. Tinha acabado de distribuir o ltimo farelo de po entre trs pardais atentos, que imediatamente comearam a brigar com fria entre si pelo po, quando se apercebeu de um jovem que estava sentado na outra ponta do banco. VICTORIA o tinha notado j vagamente, mas com a sua mente cheia de boas resolues para o futuro, no o observara atentamente at agora. Do que via (pelo rabo do olho) gostava muito. Era um jovem de boa aparncia, querubicamente bonito, mas com um queixo firme e olhos extremamente azuis que tinham estado, ela gostava de imaginar, a examin-la com admirao encoberta por algum tempo. VICTORIA no tinha inibies a respeito de fazer amigos com jovens estranhos e lugares pblicos. Considerava a si mesma um excelente juiz de caracteres e bem capaz de controlar quaisquer manifestaes de ousadia por parte de homens desacompanhados. Comeou a sorrir francamente a ele e o jovem reagiu como um marionete quando se puxa a corda. - Ol - disse o jovem. - Bonito lugar este. Sempre vem para c? - Quase todos os dias. - bem a minha sorte que nunca vim para c antes. Foi esse o seu almo que estava comendo? - Sim. - Acho que voc no come bastante. Eu morreria de fome se comesse apenas dois sanduches. Que tal vir comigo e comer uma lingia no SPO na estrada de Tottenham Court? - No obrigada. Eu estou bem. No poderia comer mais nada agora. Ela quase que esperava que ele dissesse: "Outro dia, ento", mas ele no o fez. Simplesmente suspirou e em seguida falou: - Meu nome Edward, qual o seu? - VICTORIA. - Por que que seus pais a quiseram chamar por um nome de estao de estrada de ferro? - VICTORIA no somente uma estao de estrada de ferro indicou a Srta. Jones. - Tambm h a Rainha VICTORIA. - MMM... hum, sim. Qual o seu outro nome? - Jones. - VICTORIA Jones - disse Edward, experimentando o nome na lngua. Meneou a cabea. - No combinam. - Voc tem muita razo - disse VICTORIA com sentimento. - Se eu fosse Jenny seria bem bonito... Jenny Jones. Mas VICTORIA requer algo com mais classe. VICTORIA Sackville-West, por exemplo. Essa a espcie de coisa de que a gente precisa. Algo para fazer rolar pela boca. - Voc poderia acrescentar algo ao Jones - sugeriu Edward com interesse simpatizante. - Bedford Jones. - Carisbrooke Jones. - Sta. Clair Jones. - Lonsdale Jones. ste jogo agradvel foi interrompido pelo olhar de Edward ao seu relgio e sua exclamao horrorizada.

  • - Tenho que correr de volta ao meu maldito patro.. hem, e voc? - Estou sem emprego. Fui despedida hoje pela manh. - Oh, quero dizer, sinto muito - disse Edward com real preocupao. - No desperdice a sua simpatia, porque no estou nem UM pouquinho triste. Por um lado, vou conseguir outro emprego com facilidade e, depois, tudo isso foi deveras engraado. Da E, atrasando a volta de Edward ao dever ainda mais, ela lhe fez uma reproduo espirituosa da cena de de manh, reapresentando a sua personificao da Sra. Greenholtz para imenso divertimento de Edward. - Voc realmente maravilhosa, VICTORIA - disse ele. Voc devia estar no palco. VICTORIA aceitou este tributo com um sorriso agradecido e comentou que Edward devia ir andando se no quisesse receber ele mesmo o bilhetinho azul. - Sim, e eu no conseguiria um outro emprgo com a mesma facilidade que voc. Deve ser maravilhoso ser uma boa estenodatilgrafa - disse Edward com inveja na voz, - Bem, na realidade no sou boa estenodatilgrafa -admitiu VICTORIA francamente - mas tenho sorte de que as piores estenodatilgrafas hoje em dia podem conseguir um emprego de qualquer espcie - pelo menos um educacional ou de caridade - estes no podem pagar muito, de modo que conseguem pessoal como eu. Prefiro a espcie de emprego intelectual. Esses nomes e lugares e trnos cientficos de qualquer forma so to assustadores, mesmo quando no souber escrev-los corretamente, na realidade isso no lhe far vergonha nenhuma, porque ningum seria capaz. Qual o seu emprego? Presumo que voc saiu de uma das armas da RAF?? - Bom palpite. - Piloto de caa? Acertou de novo. So muito amveis em nos conseguir emprego e tudo mais, mas, veja voc, o problema que somos especialmente inteligentes. Quero dizer que no era preciso ser muito inteligente na RAF. Eles me colocaram num escritrio com um monte de arquivos e nmeros e algo em que pensar, e eu simplesmente entreguei os pontos. Toda a coisa, de qualquer forma, parecia compeltamente sem propsito. Mas isso. Acho que deprime um pouco saber que voc no serve absolutamente para nada. VICTORIA anuiu solidria. Edward continuou amargamente: - Sem contato. Completamente fora do mapa. Estava tudo certo durante a guerra... era possvel a gente agentar as pontas... eu por exemplo ganhei a DFC (cruz por servios relevantes em vo, nota do tradutor)... mas agora, bem posso considerar-me muito bem fora do mapa. Mas devia haver... VICTORIA interrompeu-se. Sentia-se completamente incapaz de colocar em palavras a sua convico de que as qualidades que trouxeram uma DFC a seu proprietrio de algum modo de-veriam ter seu lugar designado no mundo de . - Isso quase que me arrasou - disse Edward. - No ser bom em nada, quero dizer. Bem... melhor eu ir andando... quero dizer... voc se importaria... no seria muita presuno... se eu apenas pudesse... Quando VICTORIA abriu olhos surpresos, um Edward balbuciante e de faces repentinamente coradas tirou uma pequena cmera. - Eu gostaria muito de ter um retrato seu. Voc sabe, vou para Bagd amanh. - A Bagd? - exclamou VICTORIA com vivo desapontamento. - Sim. Quero dizer, gostaria que no fosse... agora. Antes, pela manh, eu estava bastante animado com isso; foi a razo pela qual na realidade aceitei esse emprego... para sair do pas. - Que espcie de trabalho ? - Horroroso. Cultura, poesia, toda essa espcie de coisas. Um tal de Dr. Ratlibone meu chefe. Uma poro de ttulos depois do none, olha a gente comoventemente por um pince-nez. Ele terrivelmente entusiasmado por instruo e espalha-a perto e longe. Abre livrarias em lugares remotos. est comeando uma em Bagd. Faz traduzir as obras de Shakespeare e Milton para o rabe e curdo, e persa e aririnio e tem todas elas mo. Bobagem, acho eu, porque temos o Conselho Britnico fazendo a mesma coisa em todos os lugares. No entanto, a est. A mim me da um emprego, de modo que eu no devia reclamar. - Que que voc faz na realidade? - perguntou VICTORIA. Bem, no fim de contas tudo se resume em ser o puxasaco pessoal do velhote e capachildo. Comprar os bilhetes, fazer as reservas, preencher os formulrios de passaporte, conferir a embalagem de todos aqueles pequenos manuais horrendos de poesia, correr para c, para l e para todo lugar. Ento, quando chegarmos l devo fraternizar - uma espcie de movimento glorificado de juventude - todas as naes juntas para uma campanha unida pela instruo - o tom de Edward se tornou mais e mais melanclico. - Francamente, bem aterrador, no ?

  • VICTORIA foi incapaz de administrar qualquer confrto. - De modo que voc v - disse Edward. - Se voc no se importar demais... uma de lado e uma olhando de frente para mim... oh, assim est maravilhoso... A cmera deu dois cliques e VICTORIA demonstrou aquela complacncia ronronante demonstrada por mulheres jovens que sabem que causaram uma impresso num membro atraente do sexo oposto. - Mas bastante chato realmente ter que ir embora, justamente quando a encontrei - disse Edward. - Eu tenho uma meia idia de mandar tudo s favas... mas acho que no poderia agora, no ltimo momento, no depois de todos aqueles formulrios tenebrosos e vistos e tudo. No seria um bom desempenho, no ? - Pode sair melhor do que voc pensa - disse VICTORIA consoladoramente. - N-no - replicou Edward em dvida. - A coisa mais gozada - acrescentou - que tenho um pressentimento de que h algo podre nisso tudo. - Podre? - Sim. Vigarice. No me pergunte por qu. No tenho motivo algum. uma espcie de palpite que a gente tem s vezes. Uma vez tive isso a respeito do meu leo de bombordo. Comecei a fuar a maldita coisa e no que havia uma arruela encravada na bomba da cremalheira? Os termos tcnicos nos quais isso foi ministrado tornava tudo bastante ininteligvel para VICTORIA, mas conseguiu captar a idia geral. Acha que ele virou vigarista... Rathbone? No vejo como ele possa ser. Quero dizer, assustadoramente respeitvel e estudado e scio de todas essas sociedades; e uma espcie de chapa de arcebispos e diretores de colgios. No apenas um palpite. Bem, o tempo mostrar. At logo. Eu gostaria que voc viesse tambm. - Eu tambm - disse VICTORIA. - Que que voc vai fazer? - ir para a Agncia St. Guildric na Rua Gower e procurar outro emprego - disse VICTORIA sombriamente. - Adeus, VICTORIA. Partir, say mourir un peu - acrescentou Edward com um sotaque muito britnico; - aqules rapazes franceses sabem do que se trata. Nossos colegas inglses apenas vo se lamentando sobre a partida que uma doce dorzinha... asnticos. - Adeus, Edward. Boa sorte. - No creio que voce pensar em mim novamente. - Sim, pensarei. - Voc completamente diferente de qualquer moa que vi antes... eu apenas gostaria. - O relgio -deu a badalada do quarto de hora e Edward disse: - Diabo, tenho que ir voando... Retirando-se rapidamente, foi engolido pelo grande bucho de Londres. VICTORIA, ficando para trs em seu lugar absorta em meditao, estava consciente de duas correntes distintas de pensamentos. Uma tratava do tema de Romeu e Julieta. Ela e Edward, sentia ela, estavam de algum modo na posio daquele casal infeliz, embora talvez Romeu e Julieta tivessem expressado seus sentimentos em linguagem um pouco de classe mais elevada. Mas a situao, pensava VICTORIA, era a mesma. Encontro, atrao instantnea - frustrao - dois coraes que se queriam separados fora. A lembrana de uma rima, h muito tempo freqentemente recitada pela sua bab velha lhe veio mente. Jumbo said to Alice "I love you". Alice said to Jumbo, "I dont believe you do, If you really loved me, as you say you do, You wouldont go to America and leave me in the Zoo." Substitua Bagd no lugar de Amrica e a coisa est a! VICTORIA finalmente levantou-se, escovando farelo do colo e andou decididamente para fora dos Jardins Fitz James na direo da Rua Gower. VICTORIA tinha chegado a duas decises: a primeira era que (como Julieta) ela amava esse jovem e estava decidida a t-lo. A segunda deciso qual VICTORIA tinha chegado era que, como Edward em breve estaria em Bagd, a nica coisa para ela fazer seria ir a Bagd tambm. O que agora estava ocupando a sua mente era como isso poderia ser feito. Que isso pudesse ser feito de um modo ou de outro, VICTORIA no duvidava. Era uma moa de otimismo e fora de carter. Parting is such sweet sorraw (Partir uma dorzinha to doce), como sentimento, a atraa to pouco quanto a Edward. - De algum modo - VICTORIA estava dizendo para si mesma - tenho que ir a Bagd! O HOTEL SAvoy deu as boas-vindas a Ana Scheele com todo o emppenho devido a um cliente antigo e valioso - perguntaram pela sade do Sr. Morganthal - e lhe asseguraram que, se a suite no estivesse ao seu gosto, ela somente teria de diz-lo - pois Ana Scheele representava dlares.

  • A Srta. Scheele tomou banho, vestiu-se, fez um chamado telefnico para um nmero em Kensington e em seguida desceu pelo elevador. Passou pela porta giratria e pediu um txi. Este chegou e ela o encaminhou a Certier em Bond Street. Quando o txi saiu da entrada do Savoy para o Strand, um pequeno homem moreno, que tinha estado a admirar a vitrina de uma loja, subitamente olhou seu relgio e fez sinal a um txi que estava passando convenientemente e que tinha estado singularmente cego aos acenos de uma mulher agitada, cheia de embrulhos uns momentos antes. O txi seguiu pelo Strand, no perdendo o primeiro txi de vista. Quando ambos foram detidos pelas luzes de trfego circundando a Praa Trafalgar, o homem do segundo txi olhou pela janela da esquerda e fez um pequeno gesto com a mo. Um carro particular que tinha estado parado na travessa ao lado do Arco do Almirante, acionou seu motor e entrou na torrente de trfego atrs do segundo txi. O trfego tinha comeado novamente a se movimentar. O txi de Ana Scheele seguiu a torrente de trfego que ia para a esquerda para o Par Mall, o txi no qual estava o pequeno homem moreno dobrou direita, continuando em volta da Praa Trafalgar. O carro particular, um Standard cinza, agora estava bem perto, atrs do txi de Ana Acheele. Continha dois passageiros um jovem louro, de olhar bastante vcuo no volante e uma mulher jovem, elegantemente vestida a seu lado. O Standard seguiu o txi de Ana Scheele por Piccadilly e Bond Street acima. Aqui por um momento, parou junto ao meio-fio e a mulher jovem saiu. Gritou alegre e convencionalmente: - Muito obrigada. O carro seguiu viagem. A mulher continuava olhando de vez em quando para uma vitrina. Um engarrafamento parou o trfego. A mulher jovem passou tanto pelo Standard quanto pelo txi de Ana Scheele. Chegou a Certier e entrou. Ana Scheele pagou o seu txi e entrou na joalheria. Gastou algum tempo olhando para diversas jias. Finalmente escolheu um anel de safira e brilhante. Pagou por ele com um cheque sbre um banco de Londres. vista do nome escrito nle, um pouco mais de urbanidade extra veio aos modos do assistente. - Prazer em v-la novamente em Londres, Srta. Scheele. O Sr. Morganthal veio? - No. - Eu estava curioso. Temos uma linda safira-estrela aqui... eu sei que ele se interessa por safiras-estrelas. Gostaria de v-la? A Srta. Scheele expressou seu desejo de v-la, admiroudevidamente e prometeu mencion-la ao Sr. Morganthal. Saiu novamente para Bond Street e a mulher jovem que tinha estado olhando clipes de orelha, expressou-se incapaz de decidir e tambm saiu. O carro Standard cinza, tendo virado na Rua Grafton e descido pelo Piccadilly, estava justamente subindo novamente pela Bond Street. A mulher jovem no mostrou sinais de reco-nhecimento. Ana Scheele tinha entrado para a Arcada. Entrou na loja de um florista. Encomendou trs dzias de rosas de cabos compridos, uma concha cheia de grandes e doces violetas prpuras, uma dzia de brotos de lrios brancos e uma jarra cheia de mimosas. Deu um endereo para a entrega. - So doze libras e dezoito xelins, madame. Ana Scheele pagou e saiu. A jovem mulher que tinha acabado de entrar perguntou pelo preo de um mao de primaveras, mas no as comprou. Ana Scheele cruzou Bond Street, foi pela Rua Burlington e dobrou para Savile Row. Ali entrou no estabelecimento de um dsses alfaiates que, enquanto trabalham exclusivamente para homens, ocasionalmente condescendem em cortar um tailleur para certos membros favorecidos do sexo feminino. O Sr. Bolford recebeu a Srta. Scheele com os cumprimentos concedidos a um cliente apreciado e foram tomados em considerao os tecidos para um costume. - Felizmente posso dar-lhe nossa qualidade de exportao. Quando vai voltar a Nova York,, Srta. Scheele? - No dia vinte e trs. - Dar bastante tempo. Pelo Cliper, suponho? - Sim. - E como esto as coisas na Amrica? Aqui esto bastante tristes... bastante tristes na verdade. O Sr. Bolford meneou a cabea como um mdico descrevendo um paciente. - O corao no est nas coisas, se que me entende. E no aparece ningum que tenha prazer num bom trabalho. Sabe quem que vai cortar o seu costume, Srta. Scheele? O Sr. Lantwick -

  • tem setenta e dois anos de idade e ele o nico em quem posso realmente confiar para os nossos melhores fregueses. Todos os outros... As mos gorduchas do Sr. Bolford os varriam embora. - Qualidade - disse ele. - o que fez esta terra clebre. Qualidade! Nada barato, nada gritante. Quando tentamos produo em massa no somos bons nisso, e isso um fato. Esta a especialidade do seu pas, Srta. Scheele. O que nos temos que defender, e eu o digo de novo, qualidade. Levar tempo e incmodo para as coisas e produzir um artigo que ningum no mundo pode superar. Agora, que dia vamos marcar para a primeira prova. Daqui a uma semana? s hm? Muito obrigado. Abrindo seu caminho pela claridade arcaica em volta de peas de tecido, Ana Scheele chegou novamente luz do dia. Parou um txi e voltou ao Savoy. Um txi que estava estacionado do lado oposto da rua e continha um homenzinho moreno foi pelo mesmo caminho, mas no dobrou para o Savoy. Seguiu para o lado do dique e ali apanhou uma mulher baixa e gorda que tinha recentemente sado da entrada de servio do Savoy. - E a respeito de Lusa? Vasculhou o quarto dela? - Sim. Nada. Ana Scheele almoou no restaurante do hotel. Uma mesa tinha sido reservada para ela ao lado da janela. O maitre dh)lei tinha perguntado afetuosamente pela sade de Otto Morganthal. Depois do almoo Ana Scheele tomou sua chave e subiu para a suite. A cama tinha sido feita, toalhas frescas estavam no banheiro e tudo estava em excelente forma. Dirigiu-se para as duas malas leves de avio que constituam a sua bagagem, uma estava aberta e a outra fechada, Passou o olhar pelo contedo da que estava aberta; em seguida, tirando as chaves da blsa, abriu a outra. Tudo estava em ordem, dobrado, como ela dobrava as coisas, nada tinha sido aparentemente tocado ou perturbado. Uma pasta de couro encontrava-se em cima. Uma pequena cmera Leica e dois rolos de filme estavam num canto. Os filmes estavam ainda colados sem terem sido abertos. Passou uma unha sobre a dobra e puxou-a. Em seguida sorriu gentilmente. O cabelo touro isolado que tinha estado ali, no mais estava. Destramente polvilhou um pouco de p-de-arroz sobre o couro luzidio da pasta e soprou. A pasta permaneceu clara e lustrosa. No havia impresses digitais. Mas esta manh, depois de ter passado um pouco de brilhantina sbre a coberta suave de seus cabelos louros, tinha manuseado a pasta. Devia haver impresses digitais sobre ela, as suas prprias. Sorriu novamente. - Bom trabalho - disse para si mesma. - Mas no bastante bom... Destramente fez a mala pequena de pernoite e dirigiu-se para baixo. Um txi foi chamado e ela novamente mandou o motorista tocar para os Jard ins Elmsleig n . Os Jardins Elmsleigh eram uma espcie de praa Kensington, bastante encardido. Ana pagou o txi e correu escadas acima para a porta que estava descascando. Apertou a campainha. Depois de alguns minutos uma mulher idosa abriu a porta com um rosto suspeitoso, que imediatamente se transformou num brilho de boas-vindas. - A Srta. Elsie ficar to contente em v-la! Ela est no estdio dos fundos. somente o pensamento de sua vinda que a tem conservado disposta. Ana foi rapidamente pelo longo corredor escuro e abriu a porta na outra extremidade. Era um quarto pequeno e esfarrapado com grandes poltronas de couro desgastadas. A mulher sentada em uma delas pulou. - Ana querida. - Elsie. Ambas beijaram-se afetuosamente. - Est tudo arranjado - disse Elsie. - Eu irei hoje noite. Espero... - Anime-se - interrompeu Ana; - tudo estar perfeitamente bem. O homenzinho moreno de capa de chuva entrou num telefone pblico na estao de Kensington de High Street e discou um numero. - Companhia de Gramofones Valhalla? - Sim. - Aqui Sanders. - Sanders do Rio? Que rio? - Rio Tigre. Relatrio sobre A.S.. Chegou esta manh de Nova York. Foi para Certier. Comprou anel de safira e brilhante custando cento e vinte libras. Foi ao florista, Jane Kent - doze libras e dezoito xelins de flores para serem entregues a uma casa de sade na Praa Porfiand. Encomendou um casaco e saia no Bolford & Acory. Nenhuma dessas firmas que se saiba tem contatos suspeitos, mas no futuro sero objeto de ateno especial. Quarto de A.S. no Savoy revistado. No foi achado nada de suspeito. Pasta na mala contendo papis relacionados com a fuso de aes com Wolfensteins. Tudo legtimo. Cmera e dois rolos de filmes aparentemente

  • virgens. Possibilidade de os filmes serem cpias fotostticas, substitudos por outros filmes, mas filmes originais relacionados como sendo filmes virgens honestamente no expostos. A. S. levou uma malinha de pernoite e foi visitar irm em Jardins Elmsleigh . Irm internando-se na casa de sade da Praa Portland para uma operao interna. Isso confirmado pela casa de sade e tambm pelo livro de apontamentos do cirurgio. A visita de A. S. parece perfeitamente legtima. No demonstrou qualquer desassossgo ou conscincia de ter sido seguida. Compreendo que vai passar esta noite na casa de sade. Conservou seu quarto no Savoy. Passagem de regresso para Nova York, pelo Cliper, reservada para o dia vinte e trs. O homem que se chamava Sanders do Rio fez uma pausa e acrescentou um ps-escrito, por assim dizer, por sua conta: - E se quiser saber o que penso disso, tudo pestana de minhoca! Jogando dinheiro fora, s o que ela est fazendo. Doze libras e dezoito para flores! V se te agrada! A possibilidade de fracassar no seu intento no ter ocorrido nem por um momento a VICTORIA, fala bem a favor da leveza do seu temperamento. Versos sobre navios que passam dentro da noite no eram para ela. Era certamente desafortunado se tinha - bem - francamente - cado por um jovem atraente, que este jovem teria que resultar justamente em vias de partir para um lugar distante cerca de cinco mil quilmetros. Ele to facilmente poderia ter ido para Aberdeen ou Bruxelas ou mesmo Birmingham. Mas tinha que ser Bagd, pensou VICTORIA, era bem a espcie de sorte que tinha! No obstante, por difcil que fosse, ela tencionava ir para Bagd de um modo ou de outro. VICTORIA caminhava decididamente ao longo da estrada de Tottenham Court, remoendo caminhos e meios. Bagd. Que estava acontecendo em Bagd? De acordo com Edward: "Cultura". Poderia ela, de alguma forma interpretar cultura? UNESCO? A UNESCO estava sempre mandando gente para aqui, acl e para todos os lugares, s vezes aos lugares mais deleitosos. Mas essas eram geralmente, refletia VICTORIA, jovens mulheres superiores, com graus universitrios, que tinham entrado para a Mfia muito mais cedo. VICTORIA, resolvendo que as primeiras coisas vinham em primeiro lugar, finalmente dirigiu seus passos para uma agncia de viagens e ali fez as suas indagaes. No havia dificuldade, ao que parecia, em viajar para Bagd. Podia-se ir pelo ar, por alto mar at Basrah, por trem para Marselha e por navio para Beirute e atravs do deserto por carro. Podia-se ir via Egito. Podia-se ir todo o caminho por trem, se estivesse disposto a assim fazer, mas os vistos presentemente estavam difceis e incertos e estavam sujeitos a terem expirado na realidade at a hora de receb-los. Bagd se encontrava na rea de influncia da libra esterlina e dinheiro por isso no apresentava dificuldades. Isto , na aceitao da palavra do funcionrio. Tudo ficava, pois, reduzido a que no havia dificuldades em ir para Bagd, desde que se tivesse entre sessenta e cem libras em dinheiro. Como VICTORIA tinha neste momento trs libras e dez (menos nove pence), uns doze xelins extras e cinco libras na Caixa Econmica do Correio, o caminho simples e direto estava fora de cogitao. Ela fez perguntas inquiridoras sobre um emprego como recepcionista de bordo ou comissria area, mas estes, ela descobriu, eram postos altamente cobiados para os quais havia uma lista de espera. VICTORIA em seguida visitou a Agncia St. Guildric, onde a Srta. Spenser, sentada sua eficiente escrivaninha, a saudou como uma daquelas que estavam destinadas a passar pelo seu escritrio com freqncia razovel. - Nossa, Srta. Jones, no est sem emprego outra vez. Eu realmente esperei que este ltimo... - Completamente impossvel - disse VICTORIA firmemente. - Eu realmente no poderia tentar contar-lhe o que tive que agentar. Um rubor prazeroso subiu s faces plidas da Srta. Spenser. - No - comeou ela. - Eu espero que no... Ele me parecia realmente essa espcie de homem; mas naturalmente um pouco grosso... eu realmente espero. - Est tudo muito bem - disse VICTORIA. Conseguiu produzir um plido sorriso corajoso. - Sei tomar conta de mim mesma. - Naturalmente, mas desagradvel. - Sim - anuiu VICTORIA. - desagradvel. No entanto... - de novo sorriu corajosamente. A Srta. Spenser consultou seus livros. - A Assistncia de So Leonardo para Mes Solteiras procura uma datilgrafa - informou a Srta. Spenser. - Naturalmente, eles no pagam muito. - Existe alguma possibilidade - perguntou VICTORIA abruptamente - de um emprego em Bagd? - Em Bagd? - perguntou a Srta. Spenser com vvido espanto.

  • VICTORIA percebeu que poderia ter dito da mesma forma em Kamchatka ou no Polo Sul. - Eu gostaria muito de ir para Bagd - disse VICTORIA. - Eu acho difcil... acha que quer dizer como secretria? - De qualquer jeito - respondeu VICTORIA. - Como enfermeira, ou cozinheira, ou tomando conta de um luntico. Do jeito que puder. A Srta. Spenser meneou a cabea. - Temo que no possa oferecer muita esperana. Ontem uma senhora esteve aqui com duas menininhas oferecendo uma passagem para a Austrlia. VICTORIA varreu a Austrlia com a mo e levantou-se. - Se souber de alguma coisa. S a passagem de ida. tudo de que preciso - enfrentou a curiosidade nos olhos da outra moa explicando: - Tenho parentes... l. E soube que h uma poro de empregos bem pagos. Mas, naturalmente, preciso chegar l primeiro. - Sim - repetiu VICTORIA para si mesma, ao sair do escritrio de St. Guildric. - preciso chegar l. Era um aborrecimento adicional para VICTORIA que, como de costume, quando a ateno da gente fica focalizada subitamente sobre um determinado nome ou assunto, tudo parece ter conspirado de repente para forar o pensamento de Bagd ateno. Um breve pargrafo no jornal da noite que ela comprou dizia que o Sr. Pauncefoot Jones, o afamado arquelogo, comeara as escavaes da antiga cidade de Murik, situada a cento e oitenta quilmetros de Bagd. Um anncio mencionava linhas de navegao para Basrah (e de l para Bagd, Mosul etc. ). No jornal que forrava a sua gaveta das meias, umas linhas im-pressas sobre estudantes em Bagd saltaram aos seus olhos. O Ladro de Bagd estava em cartaz no cinema local e na vitrina da livraria altamente intelectual, a qual sempre olhava, estava exposta proeminentemente uma Nova Biografia de Harun All Rashid, Califa de Bagd. O mundo todo, parecia-lhe, estava subitamente se tornando consciente de Bagd. E at aquela tarde, aproximadamente hm, para todos os fins e propsitos, ela nunca tinha ouvido falar de Bagd e certamente nunca tinha pensado a respeito. As perspectivas para chegar l eram insatisfatrias, mas VICTORIA no tinha a menor idia de desistir. Tinha uma imaginao frtil e o ponto de vista otimista de que, se voc quer fazer uma coisa, sempre h uma maneira de faz-la. Gastou a tarde fazendo uma lista de abordagens possveis. Constava do seguinte: Publicar anncio? Tentar Ministrio do Exterior? Tentar a Legao do Iraque? que tal firmas de encontros? Idem, firmas de exportao? Conselho Britnico? Escritrio de Informaes Selfridge? Escritrio de Conselho aos Cidados? Nada disso, era forada a admitir, parecia muito promissor. Acrescentou lista: De uma forma ou de outra, conseguir cem libras? Os esforos mentais intensos de concentrao que VICTORIA tinha exercido a noite e possivelmente a satisfao subconsciente de no mais ter que estar pontualmente s nove no escritrio, fizeram com que VICTORIA dormisse demais. Acordou s dez e quinze e imediatamente saltou da cama, e comeou a vestir-se. Estava justamente passando uma penteadela final pelo cabelo escuro rebelde, quando o telefone tocou. VICTORIA apanhou o fone. Uma Srta. Spenser positivamente agitada estava o outro lado. - To contente de t-la alcanado. Realmente a coincidncia mais extraordinria. - Sim? - gritou VICTORIA. - Como digo, uma coincidncia realmente extraordinria. Uma tal Sra. Hamilton Clipp, viajando para Bagd, dentro de trs dias, quebrou o brao e precisa de algum para ajud-la na viagem; telefonei-lhe imediatamente. Naturalmente no sei se no consultou tambm outras agncias... - J estou a caminho - respondeu VICTORIA. - Onde que ela est? - No Savoy. - E qual o nome estpido? Tripp? - Clipp, querida. Como um clip de papel, mas com dois PP... No sei por que, mas ela americana - terminou a Srta. Spenser, como se isso explicasse tudo. - Sra. Clipp, no Savoy. - Sr. e Sra. Hamilton Clipp. Realmente foi o marido quem telefonou. - Voc um anjo - declarou VICTORIA. - At logo. Apressadamente escovou seu costume marrom e desejou que fosse menos esmolambado, repenteou seu cabelo para faz-lo parecer menos exuberante e mais de acordo com o papel do

  • anjo oficiante e viajante experimentada. Em seguida tirou da bolsa a recomendao do Sr. Greenholtz e meneou a cabea sobre ela. - Temos que fazer melhor que isso. VICTORIA saltou de um nibus em Green Park e entrou no Hotel Ritz. Um breve olhar sobre o ombro de uma mulher lendo no nibus resultara compensador. Entrando na sala de estar, VICTORIA escreveu para si mesma algumas linhas de elogio generoso de Lady Cynthia Bradbury, que tinha sido anunciada como tendo acabado de sair da Inglaterra para a frica Oriental... "excelente na doena", escreveu VICTORIA "e muito capaz em todos os sentidos... " Saindo do Ritz cruzou a rua e caminhou um curto pedao Albemarle Street acima, at que veio para o Hotel Balderton, renomado como o refgio do clero mais alto e de velhas herdeiras do interior. Numa letra menos ousada e fazendo esses gregos pequenos e bonitos, ela escreveu uma recomendao do Bispo de Llangow. Assim equipada, VICTORIA pegou um nibus n.O e seguiu para o Savoy. Na recepo perguntou pela Sra. Hamilton Clipp e deu seu nome como vindo da Agncia St. Guildric. O empregado estava j puxando o telefone para si quando parou, olhou em frente e disse: - Olhe, ali est o Sr. Hamilton Clipp. O Sr. Hamilton Clipp era um americano imensamente comprido e muito magro, de cabelos grisalhos, de aspecto bondoso e fala lenta e deliberada. VICTORIA deu-lhe seu nome e mencionou a agncia. - Ora, ento, Srta. Jones, melhor subir e ver a Sra. Clipp. Ela ainda est no nosso apartamento. Acho que est entrevistando alguma outra jovem, mas pode ser que j tenha sado. Um frio pnico agarrou o corao de VICTORIA. Ser que deveria estar to prximo e ao mesmo tempo to longe? Foram de elevador subindo ao terceiro andar. Quando estavam indo pelo corredor de tapetes grossos, uma jovem saiu de uma porta do extremo oposto e veio em sua direo. VICTORIA teve uma espcie de alucinao de que era ela mesma que estava se aproximando. Possivelmente, pensava ela, porque o tailleur feito sob medida era to exatamente aquilo que ela gostaria de estar vestindo ela mesma. E me assentaria bem. Sou bem do tamanho dela. Como gostaria de arranc-lo dela, pensou VICTORIA com uma reverso selvageria feminina primitiva. A jovem passou por eles. Um pequeno chapu de veludo, colocado de um lado da cabea, parcialmente escondia o rosto, mas o Sr. Hamilton Clipp voltou-se para olhar atrs dela com um ar de surpresa. - Ora, sim senhor - disse para si mesmo. - Quem teria pensado? Ana Scheele. Acrescentou de maneira explanatria. - Desculpe-me Srta. Jones. Fiquei surpreso ao reconhecer uma jovem senhora que encontrei em Nova York h apenas uma semana. Secretria de um dos nossos grandes banqueiros internacionais. Parou ao chegar a uma porta do corredor. A chave estav pendurada na fechadura e com uma breve batida o Sr. Hamilton Clipp abriu a porta e ficou de lado para que VICTORIA o precedesse para dentro do quarto. A Sra. Hamilton Clipp estava sentada numa cadeira de espaldar alto perto da janela e pulou levantando-se quando eles entraram. Era uma mulherzinha baixa, parecia com um passarinho de olhar penetrante. Seu brao direito estava num molde de gesso. Seu marido apresentou VICTORIA. - Veja, tem sido tudo to infeliz - exclamou a Sra. Clipp, sem respirao. - A estvamos nos com um itinerrio cheio e apreciando Londres e todos os nossos planos feitos e minha passagem reservada. Estou indo fazer uma visita minha filha casada no Iraque, Srta. Jones. Faz quase dois anos que no a vejo. E ento que acontece, levo um tombo... na realidade foi na Abadia de Westminster, descendo uns degraus de pedra... e a estava eu. Levaram-me para o hospital s carreiras e colocaram tudo no lugar e considerando todas as coisas no me sinto por demais inconfortvel... mas a est. Eu estou um tanto desamparada e como vou conseguir viajar no sei. E George a, est completamente abafado com negcios e simplesmente no pode sair daqui por mais de umas trs semanas pelos menos. Ele sugeriu que eu levasse uma enfermeira comigo... mas, no final de contas, uma vez que eu esteja l, no vou precisar de uma enfermeira minha volta. Sadie pode fazer tudo que for preciso - e isso significa pagar a ela passagem de volta tambm, de modo que pensei que iria consultar as agncias para ver se encontrava algum disposta a vir junto apenas pela passagem de ida. - No sou exatamente uma enfermeira - disse VICTORIA, conseguindo causar a impresso de que isso era praticamente o que era. - Mas tive um bocado de experincia de enfermagem - apresentou o primeiro testemunho. - Estive com Lady Cynthia Bradbury por mais de um ano. E

  • se quiser algum trabalho de correspondncia ou de secretria, fui secretria do meu tio por alguns meses. Meu tio - declarou VICTORIA modestamente - o Bisbo de Llangow. - Ento seu tio Bispo. Ora, que interessante. Ambos os Hamilton Clipp estavam, ao que VICTORIA pensava, decididamente impressionados. E tambm deveriam ter ficado depois de todo o trabalho que tinha tido! A Sra. Hamilton Clipp estendeu ambos os testemunhos ao seu marido. - Parece realmente to maravilhoso - disse ela reverentemente. - Bem providencial. uma resposta prece. - Vai assumir algum cargo l? Ou indo encontrar um parente? - perguntou a Sra. Hamilton Clipp. Na pressa de fabricar testemunhos VICTORIA tinha esquecido completamente que teria que prestar contas de suas razes para viajar para Bagd. Apanhada desprevenida, tinha que impro-visar rapidamente. O pargrafo que tinha lido na vspera lhe veio mente. - Vou encontrar meu tio l. Dr. Pauncefoot Jones explicou. - Realmente? O arquelogo? - Sim - por um momento VICTORIA cismou que talvez estivesse se munindo de tios famosos em demasia. - Estou terrivelmente interessada em seu trabalho, mas naturalmente no tenho qualificaes especiais, de modo que estava fora de cogitao a expedio pagar a minha passagem para l. No esto providos de fundos demasiados. Mas se posso ir por conta prpria, posso me juntar a eles e me tornar til. - Deve ser trabalho muito interessante - interps o Sr. Hamilton Clipp - e a Mesopotmia certamente um grande campo para a arqueologia. - Temo - disse VICTORIA, voltando-se para a Sra. Clipp que o meu tio, o Bispo, esteja na Esccia neste momento. Mas posso dar-lhe o nmero do telefone da secretria dele. Ela no momento est em Londres. Pblico : uma das extenses do Palcio Fulham. Ela estar l a qualquer hora (o olhar de VICTORIA escorregou para o relgio sbre o rebordo da lareira) depois das hm se quiser telefonar-lhe e perguntar-lhe sobre mim. O que era exatamente o que era, pensou VICTORIA. - Ora, tenho certeza - comeou a Sra. Clipp, mas seu marido interrompeu. - O tempo muito curto, sabe. O avio sai de-pois de amanh. Agora, tem um passaporte Srta. Jones? - Sim - VICTORIA sentiu-se agradecida que, devido a uma pequena viagem de frias para a Frana no ano anterior, seu passaporte estava em dia. - Acrescentou: - Trouxe-o comigo, caso fosse necessrio. - Isso que eu chamo de eficincia - disse o Sr. Clipp aprovadoramente. Se qualquer outra candidata tivesse estado em considerao, obviamente no estava mais. VICTORIA, com as suas boas recomendaes e seus tios e seu passaporte mo, tinha vitoriosamente conquistado os louros. - Vai precisar dos vistos necessrios - disse o Sr. Clipp, tomando o passaporte. Vou at o nosso amigo, Sr. Burgeon, no American Express e ele vai tratar de tudo. Talvez seja melhor passar aqui hoje tarde, para poder assinar o que for preciso. VICTORIA concordou em fazer isso. Quando a porta do apartamento se fechou por trs dela, ela escutou a Sra. Hamilton dizer ao Sr. Hamilton Clipp: - Uma menina to boa e direitinha. Ns realmente estamos de sorte. VICTORIA teve o decoro de enrubescer. Voltou ao seu apartamento e ficou grudada no telefone, preparada a assumir o sotaque graciosamente refinado da secretria de um bispo, para o caso de a Sra. Clipp querer a con-firmao da sua capacidade. Mas a Sra. Clipp obviamente tinha ficado to impressionada pela sua personalidade to honesta e direta que no iria se incomodar com esses detalhes tcnicos. No final de contas o contrato era apenas por alguns dias como companhia de viagem. No devido tempo, papis foram preenchidos e assinados, os vistos necessrios foram obtidos e VICTORIA recebeu o pedido de passar a ltima noite no Savoy, de modo a estar mo para ajudar a Sra. Clipp a levantar s horas da manh seguinte para estar no terminal das linhas areas do Aeroporto de Heathrow. O BARCO TINHA sado do pntano dois dias antes, patinava suavemente ao longo do Shatt el. Arab. A correnteza era rpida e o velho que o estava manejando tinha que fazer muito pouco. Seus olhos estavam semicerrados. Quase sussurrando cantava muito suavemente uma cantiga rabe, triste e interminvel: Asri bi lel ya yamali Hadhi alek ya ibn al Desta forma, em inmeras outras ocasies Abdul Suleiman dos rabes do Pntano tinha descido o rio a Basrah. Havia outro homem no barco, uma figura vista freqentemente hoje em

  • dia, com uma mistura pattica de Leste e Oeste em sua vestimenta. Sobre a camisa comprida de algodo listrado, usava uma tnica cqui descartada, velha, manchada e rasgada. Um leno vermelho desbotado de malha estava enfiado no casaco esfarrapado. Sua cabea ostentava de novo a dignidade do costume rabe, a keffiy inevitvel de branco e preto, segura e presa pelo agal de seda negra. Seus olhos, fora de foco num olhar amplo, perscrutavam turvamente as margens do rio. Agora ele tambm comeava a zumbir na mesma clave e no mesmo tom. Era uma figura como milhares de outras figuras na paisagem da Mesopotmia. Nada havia para mostrar que era um ingls e que levava consigo um segredo que homens influentes em quase cada pas do mundo estavam empenhados a interceptar e destruir, juntamente com o homem que o carregava. Sua mente retrocedeu nebulosamente sobre as ltimas semanas. A emboscada na montanha. O frio de neve vindo por sobre o Passo. A caravana de camelos. Os quatro dias gastos em andar a p sobre o deserto vazio em companhia de dois homens que levavam um cinema porttil. Os dias na barraca preta e a viagem com a tribo Aneizeli, seus velhos amigos. Tudo difcil, tudo permeado de perigo - escorregando cada vez de novo pelo cordo estendido para olhar por le e para intercept-lo. "Henry Carmichael. Agente britnico. Idade cerca de trinta anos. Cabelos castanhos, olhos escuros,metro e de altura. Fala rabe, curdo, persa, arinnio, hindustani, turco e muitos dialetos de montanheses. Amigo das tribos. Perigoso." Carmichael. tinha nascido em Kashgar, onde seu pai era funcionrio do Governo. Sua lngua de criana tinha balbuciado diversos dialetos e grias - suas babs, e mais tarde seus carregadores, tinham sido nativos de muitas raas diferentes. Em quase todos os lugares selvagens do Oriente Mdio tinha amigos. Somente nas cidades grandes e pequenas que contatos lhe faltavam. Agora, aproximando-se de Basrah, ele soube que o momento crtico da sua misso tinha vindo. Mais cedo ou mais tarde tinha que reentrar na zona civilizada. Embora Bagd fosse seu destino final, ele tinha julgado prudente no se aproximar diretamente. Em cada cidade do Iraque facilidades estavam a sua espera, cuidadosamente discutidas e arranjadas com muitos meses de antecedncia. Tinha sido deixado a seu prprio juzo onde devia, por assim dizer, fazer a sua aterragem. No tinha mandado notcias aos seus superiores, nem mesmo pelos canais indiretos, pelos quais poderia t-lo feito. Assim era mais seguro. O plano fcil, o avio esperando no lugar de encontro combinado, tinha falhado, como ele havia suspeitado que falharia. Aquele encontro tinha sido conhecido dos seus inimigos. Vazamento! Sempre aquele mortfero, incompreensvel vazamento. E foi assim que suas apreenses de perigo ficaram aumentadas. Aqui em Basrah, vista da segurana, sentiu-se instintivamente certo de que o perigo seria maior do que durante os azares loucos da sua viagem. E falhar na ltima estirada isso nem era bom pensar. Puxando seus remos ritmicamente, o velho rabe murmurou sem voltar a cabea: - O momento se aproxima meu filho. Al te favorea. - No demore na cidade, meu pai. Volte aos pntanos. No gostaria que nada de ruim lhe acontecesse. - Isso como Al dispe. Est em suas mos. - In Sh Allah - repetiu o outro. Por um momento ansiava intensamente ser um homem de sangue oriental no ocidental. No se preocupar com as chances de sucesso ou fracasso, no calcular sempre de novo as pro-babilidades, repetidamente perguntando a si mesmo se tinha pensado sabiamente e com previso. Atirar a responsabilidade sobre o Todo-Piedoso, o Onisciente. - In Sh Allah, vencerei! Mesmo pronunciando essas palavras ele sentiu a calma e o fatalismo do pas sobrepujando-o e agradecia isso. Agora, dentro de alguns momentos, tinha que sair do abrigo do barco, andar pelas ruas da cidade, arriscar-se ao gume de olhares afiados. Somente poderia ter sucesso sentindo-se tanto quanto parecendo um rabe. O barco entrou suavemente na via aqutica que se encontrava em ngulo reto para com o rio. Ali toda espcie de veculos do rio estava amarrada e outros barcos estavam vindo na frente deles e por trs. Era uma cena adorvel, quase veneziana; os barcos com suas proas altas esculpidas e as cores levemente esmaecidas de suas pinturas. Havia centenas deles amarrados perto uns dos outros. O velho perguntou baixinho: - chegado o momento. Foram feitos preparativos para voc? - Sim. Realmente, meus planos esto feitos. chegada a hora de eu partir. -- Que Deus torne seu caminho reto e que aumente os anos de sua vida.

  • Carmichael juntou suas saias listradas em sua volta e subiu pelos degraus de pedra escorregadios para o ancoradouro em cima. Em toda a sua volta estavam as costumeiras figuras de beira de cais. Meninos pequenos, vendedores de laranja, agachados ao lado de suas travessas de mercadoria. Quadrados pegajosos de bolos e doces, travessas de cordes de sapato e pentes baratos e pedaos de elstico. Transeuntes contempladores, cuspindo roucamente de tempos a tempos, andando com contas estalando em seus dedos. Do outro lado da rua, onde estavam as lojas e os bancos, elendis ocupados estavam caminhando energicamente em ternos europeus de uma tonalidade levemente prpura. Havia tambm europeus inglses e estrangeiros. E em lugar algum foi demonstrado interesse ou curiosidade porque um dos cinqenta ou mais rabes tinha acabado de subir ao ancoradouro saindo de um barco. Carmichael caminhava muito quieto, seus olhos absorvendo a cena com exatamente o toque infantil e vendo certo desprazer em seus arredores. De vez em quando limpava o pigarro e cuspia, no violentamente demais, apenas para no destoar do quadro. Duas vezes soprou o nariz com os dedos. E assim o estranho que veio para a cidade, alcanou a ponte na cabeceira do canal, caminhou por sobre ela e dobrou para o Suq. Ali tudo era barulho e movimento. Homens enrgicos de tribos iam passando, empurrando outros para fora do seu caminho - burricos carregados abriam seu caminho, com seus tropeiros gritando roucamente. Balek-Balek... Crianas brigavam e guinchavam e corriam atrs dos europeus chamando esperanosos: Bakhsheesh, madame. Bakhsheesh. Meskinmeskin... Aqui os produtos de Leste e Oeste estavam igualmente venda, lado a lado. Panelas de alumnio, xcaras, pires e chaleiras, artigos de cobre batido, prataria de Amara, relgios baratos, canecas de esmalte, bordados e tapetes de padres alegres da Prsia. Arcas chapeadas de cobre do Kuwait, casacos e calas de segunda mo e suteres de l para crianas. Edredons feitos a mo, locais, lmpadas de vidro pintado, pilhas de moringas e potes de barro. Toda a mercadoria barata da civilizao junto com os produtos nativos. Tudo como normal e costumeiro. Depois de sua longa estada nos espaos mais selvagens, a azfama e a confuso pareciam estranhas a Carmichael, mas estava tudo como devia estar, ele no pde detectar nenhuma nota dissonante, nenhum sinal de interesse pela sua presena. E no entanto, com o instinto de algum que tinha conhecido por muitos anos o que significa ser um homem caado, ele sentiu um desassossego crescente, - um vago senso de ameaa. No conseguiu encontrar nada fora do lugar. Ningum tinha olhado para ele. Ningum, ele tinha quase certeza, o estava seguindo ou tendo-o sob observao. No entanto, ele tinha aquela certeza indefinvel de perigo. Foi para uma curva estreita e escura, novamente para a direita, em seguida para a esquerda. Ali entre as barracas pequenas, veio para a abertura do Khan e entrou pela porteira para o ptio. Diversas lojas se encontravam em toda a sua volta. Carmichael foi para uma onde estavam pendurados ferwahs, os casacos de pele de carneiro do Norte. Ficou ali apalpando-os experimentalmente. O proprietrio da loja estava oferecendo caf a um fregus, um homem alto, de barba, de presena fina, que usava verde em volta do seu ferwah, mostrando ser um hadji, que tinha estado em Meca. Carmichael estava ali apalpando o ferwah. - Besh Hadha? - perguntou ele. - Sete dinares. - Demais. O hadji perguntou: amanh? - Vai entregar os tapetes no meu Khan? - Sem falta - respondeu o comerciante. - Vai partir - Ao amanhecer para Kerbela. - a minha cidade, Kerbela - disse Carmichael. - J faz quinze anos desde que vi o tmulo do Hussein. - uma cidade sagrada - disse o hadji. O comerciante disse por sobre o ombro a Carmichael: - H ferwahs mais baratos l dentro. - Um ferwah branco do Norte, do que eu preciso. - Tenho um assim na sala afastada. mercador indicou a porta embutida na parede interna. ritual tinha ido de acordo com um padro - uma conversa tal como pode ser ouvida qualquer dia em qualquer Suq - mas a seqncia foi exata - as palavras-chaves estavam todas ali - Kerbela, ferwah branco.

  • Somente quando Carmichael passou para atravessar a sala e entrar na parte interna, levantou seu olhar para o rosto do mercador e soube instantaneamente que o rosto no era aquele que ele tinha esperado ver. Embora tivesse visto esse homem particular apenas uma vez antes, a sua memria aguada no estava em falta. Havia uma semelhana, uma semelhana muito ntima, mas no era o mesmo homem. Parou. Disse num tom de surpresa leve: - Onde, ento, est Salah Hassan? - Era meu irmo. Morreu h trs dias. Seus negcios esto em minhas mos. Sim, este provvelmente era um irmo. A semelhana era muito ntima. E era possvel que o irmo tambm estivesse empregado pelo departamento. Certamente as reaes tinham sido corretas. No entanto foi com uma percepo aumentada que Carmichael passou para o aposento interno sombrio. Ali de novo havia mercadoria empilhada sobre prateleiras, cafeteiras e piles de acar de bronze e cobre, prataria persa velha, montes de bordados, abas dobradas, bandejas esmaltadas de Damasco e jogos para caf. Um ferwah branco estava cuidadosamente dobrado sbre uma pequena mesa de caf. Carmichael foi at ele e levantou-o. Por baixo dela estava um conjunto de roupas europias, um terno de trivial usado, ligeiramente espalhafatoso. A carteira com dinheiro e credenciais j se encontravam no bolso do peito. Um rabe desconhecido tinha entrado na loja: o Sr. Walter Williams, de Cross & Co., Importadores e Agentes de Despachos, surgiria e teria que cumprir certos compromissos feitos para ele com antecedncia. Havia naturalmente-um verdadeiro Sr. Williams - era tudo to cuidadoso assim - um homem com um passado de negcios aberto e respeitvel. Tudo de acordo com o plano. Com um suspiro de alvio Carmichael comeou a desabotoar seu dlm militar esfarrapado. Estava tudo em ordem. Se um revlver tivesse sido escolhido como arma, a misso de Carmichael teria terminado ento ali. Mas h vantagens numa faca - notavelmente a ausncia de rudo. Na prateleira em frente a Carmichael estava uma grande cafeteira de cobre e essa cafeteira tinha sido recentemente polida a pedido de um turista americano que viria apanh-la. O brilho da faca estava refletido naquela superfcie arredondada - um quadro completo, destorcido mas aparente, estava refletido ali. O homem, esgueirando-se pelas cortinas atrs de Carnuchael, a longa faca curva, que tinha acabado de tirar por debaixo de suas vestes. Num momento aquela faca estaria enterrada nas costas de Carmichael. Como um relmpago Carmichael voltou-se. Com um mergulho para as pernas do outro, levou-o ao cho. A faca voou pelo quarto. Carmichael desembaraou-se rapidamente e correu para a outra sala, onde teve um vislumbre do rosto malevolente espantado do mercador e a plcida surpresa do hadji gordo. Em seguida estava do lado de fora, atravs do Khan, novamente no Suq apinhado, indo primeiro para um lugar, voltando em seguida para outro, caminhando novamente agora, no demonstrando pressa num pas onde a pressa pareceria incomum. E, andando assim, quase sem destino, parando para examinar uma pea de fazenda, sentir a tessitura, seu crebro estava trabalhando com atividade furiosa. A maquinaria tinha quebrado! Mais uma vez ele estava por sua conta, em pas alheio. E le estava desagradvelmente consciente do significado do que tinha acabado de acontecer. No eram apenas os inimigos no seu rastro que ele tinha que temer. Nem eram os inimigos guardando as aproximaes para a civilizao. Havia inimigos a temer dentro do sistema. Pois as palavras de senha tinham sido conhecidas, as reaes tinham vindas pronta e corretamente. O ataque tinha sido calculado para exatamente o momento em que ele estaria embalado numa iluso- de segurana. No era de surpreender, talvez, que houvesse traio por dentro. Devia ter sido sempre meta do inimigo introduzir um ou mais dos seus homens para dentro do sistema. Ou talvez, comprar o homem de que eles precisavam. Comprar um homem era mais fcil do que se possa pensar podia-se comprar com outras coisas que no dinheiro. Bem, no importa como tenha acontecido, a estava fugindo, de volta para seus prprios recursos. Sem dinheiro, sem a ajuda de uma nova personalidade e sua aparncia conhecida. Talvez que neste mesmo momento estivesse sendo mansamente seguido. No voltou sua cabea. De que adiantaria? Aqueles que o seguiam no eram novatos no jogo. Calmamente, sem destino, continuava a passear. Por trs de sua maneira despreocupada, estava revendo vrias possibilidades. Saiu finalmente do Suq e atravessou a pequena ponte sobre o canal. Continuou a andar at que viu a grande tabuleta com o braso pintado sobre o portal e a legenda: Consulado Britnico. Olhou a rua para cima e para baixo. Ningum parecia prestar a mnima ateno a ele. Nada, ao que parecia, era mais fcil do que simplesmente entrar no Consulado Britnico. Pensou, um momento, numa ratoeira, uma ratoeira aberta com seu pedao de queijo provocador. Isso tambm era simples e fcil para o camundongo. Bem, o risco tinha que ser tomado. No via o que mais podia fazer.

  • Entrou pelo portal adentro. RICHARD BAKER estava sentado no escritrio externo do Consulado Britnico, esperando at que o Cnsul estivesse livre. Tinha descido terra do Indian Queen esta manh e desembaraado a sua bagagem pela alfndega. Consistia quase que completamente de livros. Pijamas e camisas estavam espalhados entre eles, quase como uma lembrana de ltima hora. O Indian Queen tinha chegado no horrio e Richard, que tinha dado uma margem de dois dias, j que barcos de carga pequenos, tais como o Indian Queen freqentemente eram atrasados, tinha agora dois dias sua disposio, antes de prosseguir, via Bagd, para seu destino final, Tell Aswad, na localizao da antiga cidade de Murik. Seus planos j estavam feitos a respeito do que fazer com esses dois dias. O fato de uma certa elevao reputada conter antiguidades num lugar perto da praia em Kuwait j h muito tinha aguado a sua curiosidade. Essa era uma oportunidade mandada do cu para investigar a mesma. Dirigiu-se para o Hotel do Aeroporto e perguntou acerca dos mtodos para ir a Kuwait. Um avio saa s dez horas da manh seguinte, disseram-lhe, e ele poderia voltar no dia seguinte. Tudo assim estava barra limpa. Havia, naturalmente, as formalidades inevitveis, visto de sada e visto para Kuwait -Para esses ele teria de encaminhar-se ao Consulado Britnico. Richard tinha encontrado o Cnsul-Geral de Basrah, Sr. Clayton, alguns anos antes, na Prsia. Seria agradvel, pensou Richard, v-lo de novo. O Consulado tinha diversas entradas. Um porto principal para carros. Outro portozinho saindo do jardim estrada que ia ao longo do Shatt e[ Arab. A entrada de negcios do Consu-lado estava na rua principal. Richard entrou, deu seu carto para o homem de servio, recebeu a informao de que o Cnsul estava ocupado no momento, mas em breve estaria livre e foi levado para uma pequena sala de espera a esquerda da passagem que ia diretamente da entrada para o jardim alm. J havia diversas pessoas na sala de espera. Richard quase no olhou para elas. Ele, de qualquer forma, raramente estava interessado em membros da raa humana. Um fragmento de cermica antiga para ele era sempre mais excitante do que um simples ser humano nascido em algum lugar do sclo vinte. Deixou que seus pensamentos se detivessem agradvelmente sobre alguns aspectos dos caracteres Mari e os movimentos das tribos benjaminitas em A.C. Seria difcil dizer exatamente o que o despertou a um senso vvido do presente e dos seus companheiros seres humanos. Era a princpio um desassossego, uma sensao de tenso. Veio a ele, pensou, ao passo que no podia ter certeza, pelo seu nariz. Nada que se pudesse diagnosticar em termos concretos - mas estava ali, inconfundivelmente, levando-o de volta para os dias da ltima guerra. Uma ocasio em particular, quando ele e dois outros tinham saltado de pra-quedas de um avio e tinham esperado nas horas frias antes do crepsculo para fazerem seu servio. Um momento em que o moral estava baixo, em que todos os azares da empresa eram claramente percebidos, um momento de temor em que a gente poderia ver no ser ade-quada, um encolher da carne. A mesma coisa acre, intangvel, estava no ar. O cheiro do medo... Por alguns momentos isso teve registro apenas do subconsciente. Metade de sua mente ainda se esforava para focalizar-se antes de Cristo, mas o empuxo do presente era forte demais. Algum nesta sala estava com medo mortal... Ele olhou em volta. Um rabe numa tnica #cqui esfarrapada, seus dedos indolentemente escorregando sobre as contas de mbar que segurava nas mos. Um ingls gorducho com um bigode cinzento - o tipo do viajante comercial - que estava rabiscando nmeros num pequeno caderninho de notas, e parecendo absorto e importante. Um jovem de aspecto cansado, de compleio muito escura, que estava recostado numa atitude respeitosa, sua face plcida e desinteressada. Um homem que parecia um empregado iraquiano. Um persa de idade, em rou-pas esvoaantes de neve. Todos pareciam bastante preocupados. O estalo das contas de mbar caiu num ritmo definido. Parecia familiar de uma forma estranha. Richard forou-se a prestar ateno. Tinha estado quase adormecido. Curto-longo-longo-curto-longo era Morse, definitivamente sinalizao Morse. Ele estava familiarizado com Morse: parte do seu trabalho na guerra tinha que ver com sinalizao. Podia l-lo com bastante facilidade. OWL. F.L.O.R.E.A.T.E.T.O.N.A. Que diabo? Sim, era isso. Estava sendo repetido Floreat Etona. Batido, (ou melhor, estalado). por um rabe andrajoso. ol, que era isso? "Owl. Eton. Owl." Seu prprio apelido em Eton - para onde tinha sido mandado com um par de culos especialmente grande e slido. Olhou atravs da sala para o rabe, notando cada detalhe de sua aparncia - a roupa listrada - a velha tunica caqu -o leno vermelho esfarrapado, tricotado a mo, cheio de pontos falhados.

  • Uma figura como se viam centenas na beira do cais. Os olhos encontraram os dle vagamente, sem sinal de reconhecimento. Mas as contas continuaram a estalar. Faquir aqui. Preste ateno. Encrenca. Faquir? Faquir? Claro! Faquir Carmichael. Um menino que tinha nascido ou que tinha morado em alguma parte estranha do mundo - Turquesto- Afeganisto? Richard tirou seu cachimbo. Deu uma baforada exploradora, olhou para dentro do forninho e em seguida bateu-o num cinzeiro perto: Mensagem recebida. Depois disso, as coisas aconteceram muito rapidamente. Mais tarde Richard teve dificuldade em separ-las. O rabe da jaqueta militar esfarrapada levantou-se e encaminhou-se para a porta. Tropeou quando passou por Richard, sua mo saiu das vestes e agarrou-se a Richard para levantar-se. Em seguida se endireitou, pediu desculpas e foi em direo porta. Foi to surpreendente e aconteceu com tanta rapidez que pareceu a Richard uma cena de cinema antes que algo da vida real. O viajante comercial gordo deixou cair seu caderninho de notas e puxou alguma coisa no bolso do seu casaco. Por causa da sua gordura e o aperto do casaco levou um ou dois segundos para tir-lo e neste segundo ou dois Richard entrou em ao. Ao tirar o revlver, Richard o arrebatou da mo dele. Disparou e uma bala enterrou-se no assoalho. O rabe passou pela porta e tinha voltado para o lado do escritrio do Cnsul, mas estacou subitamente e, voltando-se, correu rapidamente para o outro lado, para a porta pela qual tinha entrado e para fora, para a rua movimentada. O kavass correu para o lado de Richard, onde ele estava segurando o brao do homem gordo. Dos outros ocupantes da sala, o empregado iraquiano estava danando excitadamente sobre seus ps, o homem escuro e magro estava olhando e o persa idoso olhava para o espao completamente imperturbvel. Richard disse: Que diabo est fazendo, acenando com um revlver assim? Houve uma pausa de apenas um momento e em seguida o homem gordo disse com uma voz lamurienta de cockney. - Sinto meu velho. Acidente absolutamente. Apenas desajeitado. - Mentira. Estava querendo atirar naquele rabe que acabou de correr para fora. - No, no, meu velho. No ia atirar nele. Apenas assust-lo. Reconheci-o subitamente como um sujeito que me enganou a respeito de umas antiguidades. Apenas um pouco de divertimento. Richard Baker era alma fastidiosa que no gostava de publicidade de qualquer espcie. Seus instintos eram a favor de aceitar a explicao pelo seu valor de face. No fim de contas, que poderia ele provar? E o velho Faquir Carmichael agradeceria a ele fazer do caso tanto espalhafato? Presumivelmente, se ele estivesse em algum negcio secreto de capa e espada, ele no o faria. Richard relaxou a garra no brao do outro. O sujeito estava suando, conforme notou. O kavass estava falando excitadamente. Estava muito errado, dizia ele, trazer armas de fogo para dentro do Consulado Britnico. No era permitido. O Cnsul ficaria bastante zangado. N. do T.: Sotaque londrino. - Peo desculpas - disse o homem gordo. - Pequeno acidente. Foi s. Atirou algum dinheiro para a mo do kavass, que o empurrou de volta indignadamente. - Melhor eu sair - disse o homem gordo. - No vou esperar para ver o Cnsul. Estendeu um carto subitamente a Richard: - Esse sou eu e estou no Hotel do Aeroporto e se houver alguma encrenca... mas na realidade, foi puro acidente. Apenas uma piada, se que sabe o que quero dizer. Relutantemente, Richard o viu sair da sala com um cambalear indeciso, e voltar-se para a rua. Ele esperava que tivesse agido certo, mas era uma coisa difcil saber o que fazer quando se estava no escuro tanto quanto ele estava. - O Sr. Clayton, ele est a disposio agora - disse o kavass. Richard seguiu o homem pelo corredor. O crculo aberto de luz do sol da outra ponta se tornou maior. A sala do Cnsul estava a direita naponta extrema da passagem. O Sr. Clayton estava sentado atrs de uma escrivaninha. Era um homem calmo, de cabelos grisalhos com um rosto pensativo. - No sei se lembra de mim - disse Richard. - Conheci-o no Teer h dois anos. - Naturalmente. Estava com o Dr. Pauncefoot Jones, no verdade? Est se reunindo a ele novamente este ano? - Sim, estou a caminho de l agora, mas tenho alguns dias de sobra e gostaria muito de ir a Kuwait. No h dificuldade, presumo?

  • - Oli, no, h um avio amanh de manh. apenas uma hora e meia. Vou telegrafar a Archie Gaunt... o Residente ali. Ele poder abrig-lo e ns podemos hosped-lo aqui esta noite. Richard protestou levemente. - Realmente... eu no quero incomodar o senhor nem Sra. Clayton. Posso ir para o hotel. O Hotel do Aeroporto est muito cheio. Ficaremos encantados em t-lo aqui. Sei que minha mulher gostaria de v-lo de novo. No momento... deixe-me ver... temos Crosbie, Da Companhia de Petrleo, e um jovem rapaz do Dr. Rathbone, a que est aqui para desembarcar algumas caixas de livros na alfndega. Venha para cima e veja Rosa... Levantou-se e acompanhou Richard pela porta para o jardim ensolarado. Um lance de escada levava s acomodaes domsticas do Consulado. Gerald Clayton empurrou abrindo a porta no alto dos degraus e fez seu hspede entrar para um longo corredor escuro com tapetes atraentes no cho e peas escolhidas de moblia de ambos os lados. Era agradvel vir para a penumbra fria depois do esplendor de fora. Clayton chamou: - Rosa, Rosa - e a Sra. Clayton, de quem Richard se lembrava como de uma personalidade vivaz com abundante vitalidade, saiu de um quarto no fim do corredor. - Voc se lembra de Richard Baker, querida? Ele veio ver-nos com o Dr. Pauncefoot Jones no Teer. - Naturalmente - respondeu a Sra. Clayton, apertando-lhe a mo. - Ns fomos juntos para os bazares e voc comprou uns tapetes adorveis. Era a delcia da Sra. Clayton, quando ela mesma no estava comprando coisas, de insistir com seus amigos e conhecidos para que procurassem pechinchas nos suqs locais. Ela sempre tinha um excelente senso de valores e era excelente pechincheira. - Uma das melhores compras que j fiz - disse Richard. E completamente pelos seus bons ofcios. - Baker quer voar para Kuwait amanh - disse Gerald Clayton. - Eu lhe disse que podemos acomod-lo aqui por esta noite. - Mas se algum incmodo... - comeou Richard. - Claro que no incmodo - interps a Sra. Clayton. No poder ficar com o melhor quarto de reserva, porque este o Capito Crosbie j tem, mas podemos acomod-lo com bastante confrto. No quer comprar algum ba lindo de Kuwait, no ? Porque h uns adorveis no Suq justamente agora. Gerald no me deixou comprar outro para aqui, embora tivesse sido bastante til para guardar lenis extras. Voc j tem trs, querida interps Clayton suavemente. - Agora, se me permitir, Baker, tenho que voltar ao escritrio. Parece ter havido uma confuso na sala exterior. Parece que algum disparou um revlver. - Um dos xeques locais, presumo - disse a Sra. Clayton. les so to excitveis e gostam tanto de armas de fogo. - Pelo contrrio - disse Richard. - Foi um ingls. Sua inteno parecia dar um tirinho num rabe - suavemente acrescentou. - Empurrei o brao dele para cima. - Ento voc estava metido nisso tudo - comentou Clayton. - Eu no sabia. Pescou um carto do seu blso. - Robert liall. Fbrica Aquiles, Enfield parece ser o nome dele. No sei a respeito de que queria falar comigo. No estava bbado, estava? - Ele disse que era uma brincadeira - disse Richard secamente - e que a arma disparou por acidente. Clayton levantou as sobrancelhas. - Viajantes comerciais no usam, costumeiramente, armas carregadas em seus bolsos. Clayton, pensou Richard, no era nenhum bobo. - Talvez eu o deveria ter impedido de escapar. - difcil saber o que se deveria ter feito quando essas coisas acontecem. O homem no qual ele atirou no ficou ferido? - No. - Ento provavelmente melhor deixar as coisas como esto. - ! que ser que estava por detrs disso? - Sim, sim... que ter sido? Clayton parecia um pouco desconfortvel. - Bem, tenho que voltar - disse e apressou-se para sair. A Sra. Clayton levou Richard para a sala de visitas, uma grande sala interna, com almofadas e cortinas verdes e ofereceu-lhe a escolha entre caf e cerveja. Escolheu cerveja que veio deliciosamente gelada. Ela perguntou por que estava indo para Kuwait e ele lhe disse.

  • Perguntou-lhe por que no tinha casado ainda e Richard replicou que achava que no era da espcie casadoura, ao qual a Sra. Clayton respondeu asperamente: - Bobagem. Arquelogos - disse ela - do excelentes maridos... e haveria alguma mulher jovem indo para as escavaes nesta temporada? - Uma ou duas - respondeu Richard - e naturalmente a Sra. Pauncefoot Jones. A Sra. Clayton perguntou esperanosa se havia moas bonitas entre as que estavam indo l e Richard confessou que no sabia, porque ainda no as conhecera. Eram bastante inexperientes disse ele. Por alguma razo isso fez a Sra. Clayton rir. Em seguida entrou um homem baixo, atarracado, de maneiras abruptas e foi apresentado como o Capito Crosbie. O Sr. Baker, disse a Sra. Clayton, era um arquelogo e escava as coisas mais selvagemente interessantes, de milhares de anos de idade. O Capito Crosbie disse que nunca tinha sido capaz de compreender como os arquelogos eram capazes de dizer to definidamente que idade tinham essas coisas. Sempre pensara que eram refinados mentirosos, ha, ha, disse o Capito Crosbie. Richard olhou-o de modo extremamente cansado. No, disse o Capito Crosbie, mas como que um arquelogo sabia que idade tinha uma coisa? Richard disse que isso levaria muito tempo para explicar e a Sra. Clayton rapidamente o afastou dali para mostrar-lhe o quarto onde ficaria. - Ele muito bom - disse a Sra. Clayton - mas no bem, bem, sabe. No tem o menor verniz de cultura. Richard achou o quarto extremamente confortvel e a sua apreciao da Sra. Clayton como hospedeira subiu ainda mais. Tateando no bolso do seu casaco, tirou um pedao de papel dobrado e sujo. Olhou-o com surpresa, pois bem sabia que no se encontrava ali antes, pela manh. Lembrou-se ento de como o rabe o tinha agarrado quando tropeara. Um homem de dedos ligeiros poderia t-lo enfiado em seu bolso sem que se apercebesse disso. Alisou o papel. Estava sujo e parecia ter sido dobrado e redobrado diversas vezes. Em seis linhas de escrita um tanto amontoada o Major John Wilberforce recomendava um certo Ahmed Mohammed como um trabalhador industrioso e dcil, capaz de dirigir um caminho, estritamente honesto. - Era, de fato, o tipo costumeiro de papel ou recomendao dada no Leste. Estava datada de h dezoito meses, o que tambm no fora do comum, pois esses papis so guardados zelosamente pelos seus proprietrios. Franzindo o sobrecenho para si mesmo, Richard repassou os acontecimentos da manh de maneira precisa e ordenada. O Faquir Carmichael estava agora bem seguro, tinha estado com medo mortal. Era um homem caado e tinha-searremessado para dentro do Consulado. Por qu? Para encontrar segurana? Mas em lugar disso tinha encontrado uma ameaa mais instantnea. O inimigo, ou um representante do inimigo tinha estado sua espera. Este sujeito, viajante comercial, deve ter tido ordens bem definidas, para estar disposto a arriscar-se a atirar em Carmichael no. Consulado, na presena de testemunhas. Deve, por isso, ter sido muito urgente. E Carmichael tinha apelado ao seu velho companheiro de escola por auxlio e conseguido passar este documento aparentemente inocente sua posse. Devia, por isso, ser muito importante e, se os inimigos de Carmichael dessem com ele e achassem que no mais possua o documento, sem dvida juntariam dois e dois e procurariam qualquer pessoa ou pessoas qual.Carmichael pos-sivelmente poderia t-lo passado. O que ento Richard Baker devia fazer com ele? Ele poderia pass-lo para Clayton como o representante de Sua Majestade Britnica. Ou ele poderia ficar com a sua posse at uma hora em que Carmichael o reclamasse? Depois de alguns minutos de reflexo optou pela ltima hiptese. Mas antes disso tomou algumas precaues. Arrancando uma meia folha de uma carta velha, sentou-se para compor uma carta de referncia para um motorista de caminho em termos idnticos, mas usando expresse