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Editoração Eletrônica e Arte finalCR Gráfica e Editora Ltda.

Avenida Campinas, 632 – Cidade Jardim – Limeira SP – CEP: 13480 -290 CNPJ: 53.477.329/0001-04 - Insc. Estadual: 417.042.122.115.

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Pesquisa – Textos - IconografiaJosé Eduardo Heflinger Júnior

Projeto Imigração ResgateRua Odete Boralli Gialuca 286 - Limeira SP- CEP: 13 483-220

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Pesquisa empreendida em documentos originais captados em arquivos brasileiros e europeus, produzidos em português arcaico, alemão gótico, francês e italiano.

Traduções

Alemão Gótico (corrente) - português: IEBA - Instituto de Ensino Brasil Alemanha (Ribeirão Preto) - Prof. Rudolf Schallenmüller

Dra. Eva Maria A. Boeckh HaebischFrancês - Português:

Idéia Escola de LínguasMárcio Versinhassi

Isaura Yuko Miyamoto MiikePortuguês - Inglês:

Irene Sinnecker LevinPeter John Walker

Originais manuscritos (Italiano): Giuseppe Bressan - Rubano-ItáliaItaliano - português: Augusta Schulz

Maria Sílvia Scotonni Levy

Junho/2012

“Um Pouco da História de Limeira”Manual de uso exclusivo do professor

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Durante décadas, a lenda do Frei que promove a internacionalidade da João das Mercês foi adotada como a nossa história e o resgate da memória do história oficial do município de Limeira. município mais importante do Brasil, no Nossos munícipes foram lesados no que se que se refere à substituição do braço refere ao conhecimento de seus escravo pelo livre, fato esse, que foi verdadeiros referenciais, enquanto essa imprescindível para a abolição dos fábula tomou o lugar de nossa história. escravos e para o desenvolvimento do Esse trabalho, embasado em farto Estado de São Paulo. documental existente em acervos públicos e particulares do Brasil, Portugal, Inserimos textos e fotos sobre Alemanha, Suíça e Itália objetiva a algumas de nossas fazendas históricas, preservação de nossa memória. preservadas ao longo dos séculos, que se

constituem em um patrimônio de valor É um grande prazer disponibilizar imensurável e instilam nos munícipes o

nossas pesquisas alusivas aos primeiros exercício da cidadania. habitantes da região conhecida como Os alunos da rede pública terão o “Morro Azul e Tatuhiby”, sobre as prazer de conhecer belas imagens e uma fazendas históricas, a origem do povoado, incrível história que valoriza a terra em o ciclo da cana-de-açúcar, do café e da q u e n a s c e r a m o u q u e s e u s p a i s laranja. escolheram para viver, independente de

Não poderiamos esquecer a suas origens. Sem dúvida, é importante contribuição da raça negra para o instilar nos infantes o orgulho de viver na desenvolvimento da região, a chegada da cidade “Berço da Imigração Europeia pelo estrada de ferro e o evento da Imigração, Sistema de Parceria”.

Limeira “Berço da Imigração Européiapelo Sistema de Parceria”

José Eduardo Heflinger Júnior

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Antecedentes Históricos da Regiãode

Morro Azul e Tatuhiby

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Morro Azul: ponto mais alto da região de Morro Azul e Tatuhiby.A elevação serviu de referência para viajantes. Foto Vagner Morente - 2010

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e seu curso, seguindo-se as do Ribeirão do DenominaçãoPinhal e do Furquim, até o Rio Jaguari, as vertentes do Ribeirão Tatu e seu curso, até desaguar no Rio Piracicaba, as da margem A região onde hoje está situada a direita do Rio Pirapitingui até desembocar c i d a d e d e L i m e i r a , a s s i m c o m o no Rio Jaguari e deste até a confluência Cordeirópolis e Iracemápolis, era com o Rio Atibaia para originar o Rio conhecida por “Morro Azul e Tatuhiby”. Piracicaba”.Essa afirmação é comprovada por farto

documental existente nos acervos do Arquivo do Estado de São Paulo, Cartórios

Os primeiros povoadores do de Piracicaba, Centro de Memória Histórica de Limeira e em inúmeros Morro Azul e Tatuhibyarquivos públicos e particulares.

Antes de mencionarmos os dados Localização da Região de Morro encontrados nos originais, datados desde

Azul e Tatuhiby o início do século XIX, creio que não podemos descartar a presença do índio na

Conforme as pesquisas do Dr. r e g i ã o . N o e n t a n t o , a n t e s d e Reynaldo Kuntz Busch, a região de Morro empreendermos uma viagem à maionese, Azul e Tatuhiby “era compreendida entre a devemos aguardar os resultados de uma margem direita do Rio Piracicaba até a p e s q u i s a a r q u e o l ó g i c a p a r a n o s barra do Ribeirão da Geada, ou pouco c e r t i f i c a r m o s d e s s a n ã o r e m o t a abaixo, as vertentes do Ribeirão do Pinhal possibilidade.

Antecedentes Históricos da Região

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Entre as peças documentais que José Ferraz de Campos (Barão de mencionam dados sobre a população da Cacalho): Nascido em Itu, sexto filho do região do Morro Azul e Tatuhiby, onde Sargento-Mor Antonio Ferraz de Campos surgiu a povoação que deu origem à e de Maria da Cunha de Almeida. Em 1806, cidade de Limeira, a mais antiga é o censo casou-se em São Carlos (Campinas) com realizado na Vila de Itu, em 1809, ocorrido Umbelina de Camargo. Foi pioneiro no antes da criação da Vila Nova da plantio de cana-de-açúcar na região que, C o n s t i t u i ç ã o q u e , n e s s a é p o c a , futuramente, se constituiria a cidade de d e n o m i n a v a - s e “ F r e g u e s i a d e Limeira (Cordeirópolis). Piracicaba”, então pertencente à citada vila. Interessante repetir que, no início

da povoação, a região pertenceu à Encontramos a seguinte citação Piracicaba (Vila Nova da Constituição).

no recenseamento de 1809: José Ferraz de Campos foi senhor de “Morador sertanista número 48: engenho, proprietário da Fazenda

José Ferraz de Campos, casado, senhor Cascalho, produtora de açúcar. Serviu d e e n g e n h o ” . E m b a s a d o s e m como soldado miliciano nas lutas da documental encontrado até o momento, Independência, membro da Guarda esse registro nos leva a crer que o citado Nacional de 1833, mordomo da Sociedade senhor de engenho foi o primeiro entre os do Bem Comum de Limeira e vereador. inúmeros sesmeiros que contribuíram para o surgimento do povoado de Nossa Em 14 de agosto de 1867, foi Senhora das Dores de Tatuhiby a mudar- agraciado pelo Imperador D. Pedro II com se para a região. o título de Barão de Cascalho.

Censo da Vila de Itu 1809:

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Senador Nicolau Pereira de Campos Vergueiro(Senador Vergueiro) Litogravura Sisson

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Ferraz de Campos, Cap. Bento Pais de Moradores da Região de Morro Barros, Brigadeiro Manoel Rodrigues Azul e TatuhibyJordão, José Joaquim de Sampaio e Estevão Cardoso de Negreiros.

Os assentamentos do censo foram efetuados sob a estrutura da Guarda

B e n t o M a n o e l d e B a r r o s Nacional, que mantinha em cada bairro

(futuramente Barão de Campinas) e um cabo responsável. Os bairros que

outros expoentes da primitiva povoação, constam do censo, que compunham a

eram cultivadores de milho, feijão e região de “Morro Azul e Tatuhiby” eram:

criadores de porcos e gado.Rio Acima, margem direita, dividido em quatro esquadras, Pinhal com duas, Morro Azul com uma, Boa Vista com duas, Geada com duas, somando 11 esquadras e abrangendo 231 unidades habitacionais. A região abrigava engenhos com numerosos escravos. A população era constituída de 951 pessoas livres e 546 escravos.

Proprietários de grandes engenhos de fabricação de açúcar

registrados no censo

Dr. Nicolau Pereira de Campos Vergueiro, Manoel de Barros Ferraz, José

Recenseamento de 1822 Vila Nova da Constituição (Piracicaba)

Óleo sobre tela de Bento Manoel de BarrosBarão de Campinas

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Produtores em menor escala

Alferes Manoel de Toledo Silva, José Joaquim da Silva, Luiz de Sampaio, Policarpo Joaquim de Oliveira, Manoel Pires de Almeida e José Joaquim de Almeida Lima.

Grande parte dos recenseados eram posseiros.

Curiosidades do Censo

“Morador número 57: Manoel, escravo, preto, de 40 anos, administrador do Dr. Nicolau Pereira de Campos Vergueiro, senhor de engenho, residente na vila (Piracicaba), que tem 36 escravos e produziu 758 arrobas de açúcar branco, 299 de redondo e 10 de mascavo. Colheu 700 alqueires de milho e 56 de feijão”.

Interessante notar, que o então advogado e deputado à Constituinte Portuguesa que, futuramente, seria membro da Regência Trina Provisória (1831) e Senador do Império, Nicolau Pereira de Campos Vergueiro, foi r e l a c i o n a d o e n t r e o s p r i m e i r o s proprietários de engenho de açúcar

Filhos de escravos da Fazenda IbicabaAcervo José Eduardo Heflinger Júnior

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redondo exportável na região do Morro fato curioso é que na região de Morro Azul Azul e Tatuhiby, mais precisamente, na e Tatuhiby havia um grande número de recém formada Fazenda Ibicaba, negros recenseados, muitos deles livres, constituída a partir da divisão da Sesmaria apesar do censo ter ocorrido, em 1822, do Morro Azul, concedida em 1817, ao portanto, 66 anos antes da abolição.Tenente Joaquim Galvão de França e Manoel de Barros Ferraz. Nessa propriedade, o nobre Senador fundaria, em 1841, a primeira colônia de imigrantes sob Sistema de Parceria do Brasil imperial. Vergueiro saiu de São Paulo, onde trabalhava como advogado e juiz ordinário e de sesmaria, para estabelecer-se em Piracicaba, onde permaneceu até 1825, quando mudou-se para sua famosa Fazenda Ibicaba. Durante o tempo que esteve morando em Vila Nova da Constituição (Piracicaba), ele deixou um escravo africano como administrador de sua propriedade, fato incomum à época. Vergueiro já era casado com Maria Angélica de Vasconcellos, que o apoiou Censo de 1824e m s u a s a ç õ e s f u t u r í s t i c a s e empreendedoras. Apesar de não ter sido o O Bairro do tatu, que abrigava a primeiro agricultor da região foi o maior fazenda que tinha o mesmo nome, responsável por seu desenvolvimento e pertencente ao Capitão Luiz Manoel da pelo surgimento do povoado que deu Cunha Bastos, foi recenseado a partir do origem à cidade de Limeira (1826). Outro ano de 1824.

Escravos daFazenda Ibicaba

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Brigadeiro Manuel Rodrigues Jordão - proprietário da Fazenda Morro Azul

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Através do recenseamento de Segundo as pesquisas de Reynaldo Piracicaba, de 1822, localizamos os bairros Kuntz Busch, cada engenho, fazenda ou do Rio Acima, Pinhal, Morro Azul, Geada, sítio, possuía o seu caminho particular, Boa Vista e Tatu (este figurando no censo a mais ou menos precário, interligando as partir de 1824), que compreendiam as propriedades às vilas de “Constituição” terras que, a partir de 1830, viriam a (Piracicaba), “Mogi- Mirim” e “São Carlos” constituir a Freguesia de Nossa Senhora (Campinas).das Dores de Tatuhiby, verificamos que os A estrada de ligação de São Paulo a a t u a i s m u n i c í p i o s d e L i m e i r a , Piracicaba, passava por Itu. Da Capital Iracemápolis e Cordeirópolis, já eram para São Carlos (Campinas) havia estrada habitados por proprietários, escravos e via Jundiaí, ambas carroçáveis e em empregados rurais, alguns anos antes de péssimo estado.nossa independência.

O Surgimento do Povoado deNossa Senhora das Dores de Tatuhiby

Litogravura da Fazenda Ibicaba - At Yccca. A.

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Tropa de Mulas – Foto Marc Ferrez - 1886

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Os engenhos do Ibicaba, Morro r e g i ã o , f o r m u l a n d o p e d i d o d o s Azul, Geada e Cascalho, pertencentes ao moradores do Morro Azul e adjacências, Sr. Nicolau P. de Campos Vergueiro, para abertura de nova estrada de Jundiaí a Brigadeiro Manoel Rodrigues Jordão, José Campinas e dessa localidade ao Morro Joaquim de Sampaio e José Ferraz de Azul, por onde já passava a estrada de Campos, respectivamente, com grande Piracicaba a Rio Claro e Araraquara. A produção exportável, precisavam de solicitação foi atendida, principalmente, estrada direta para a Capital da Província, pelo prestígio pessoal de Vergueiro, a via São Carlos Campinas. O transporte era quem o governador Oeynhausen nomeou feito por tropas de mulas, cada uma inspetor da obra. Não podemos ignorar a carregando dez arrobas. Essas tropas de influência do Brigadeiro Manuel Rodrgues muares empreendiam viagens de seis a Jordão, proprietário da Fazenda Morro oito léguas, com pequenas paradas de dia Azul, junto ao Governo da Província de e repouso noturno, em pousadas situadas São Paulo. A estrada condicionou o ao longo dos caminhos. progresso rural e a fundação de nossa

Era muito dificultosa a viagem cidade. Ela foi iniciada em 1823, e aberta com carruagens pesadas, carros tocados a ao trânsito público, no início de 1826, bois ou burros, utilizados para transportar colaborando para o aparecimento da famílias, móveis, maquinários, etc. Era povoação de Nossa Senhora das Dores de imperioso que as estradas tivessem rumo Tatuhiby (Limeira). O surgimento do mais ou menos direto para economia do povoado ocorreu ao mesmo tempo da transporte e menor cansaço das bestas de construção de uma capela. Esse fato cargas. consta nos assentamentos do “Livro de

Em 1820, o povoador, político e Registros das Paróquias da Cúria colonizador Dr. Vergueiro, liderou os Metropolitana”, em português arcaico, da citados lavradores e exportadores da seguinte forma:

A Primeira Estrada do Morro Azul a São Carlos (Campinas)

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“Teve comêço esta povoação no anno de 1826, edificando-selogo a Capella, que teve o título de N.S.das Dores de Tatuhiby”.

Pouso de Jundiaí - desenho de Hercules Florence - Ínicio do século XIX

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Não podemos afirmar que Vergueiro desenvolveu nas terras doadas pelo tenha sido o único fundador da cidade de Capitão Luiz Manoel da Cunha Bastos, Limeira. Essa honra deve ser dividida com natural do Porto, 41 anos, solteiro, branco, outros fazendeiros influentes, que eram que atuava como comerciante e era proprietários de engenhos na região de pessoa de destaque na sociedade Morro Azul e Tatuhiby. Além dos nomes já paulistana da época. O Capitão Cunha citados, não podemos esquecer a Bastos doou 112,5 alqueires, onde a citada contribuição de Bento Manoel de Barros povoação já estava em formação. Cunha (Barão de Campinas), Alferes Joaquim Bastos além de Procurador do Conselho Franco de Camargo, Antonio José da Silva da Cidade de São Paulo, cargo equivalente Gordo e outros que colaboraram para a ao de prefeito, era proprietário de terras const ituição do povoado que se nos bairros do Tatu e na Lagoa Nova.

Os Fundadores e o doador

A região de Morro Azul e Tatuhiby pertencia a Vila Nova da Constituição (Piracicaba)

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Sede da Fazenda Tatu pertencente ao Capitão Luiz Manoel da Cunha Bastos

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período compreendido entre os anos de Criação da Freguesia de N. S. das 1826 a 1828, atuou como deputado geral Dores de Tatuhibypor São Paulo e, a partir de 1828, como senador. Provavelmente, inúmeros

Pelo decreto de 09 de dezembro c o m p r o m i s s o s o a f a s t a r a m ,

de 1830 foi criada a Freguesia e no citado temporariamente, do Ibicaba. Presume-

documento o governo declarou que s e q u e , a p r o v e i t a n d o a s f é r i a s

marcaria as divisas da mesma.parlamentares, Vergueiro pode levar o Capitão Cunha Bastos ao Ibicaba, a fim de

Legalização da doação legalizar a escritura da doação, feita anteriormente.

A 26/02/1832, a sala de visitas do Senador Vergueiro, no Engenho da Fazenda Ibicaba, foi palco de mais um episódio importante para a história de Limeira. Na citada data, Vergueiro recebeu o Capitão Luiz Manoel da Cunha Bastos, dono de muitas terras na recém-criada Freguesia de Tatuhiby. O evento objetivava legalizar a doação, mediante escritura de 112 alqueires e meio, que deveriam ser aplicados para o uso público da povoação, sob a administração da Sociedade do Bem Comum da Limeira, cujo mordomo era Nicolau Pereira de Campos Vergueiro.

Possivelmente, a demora no registro da escritura decorreu dos encargos do Dr. Vergueiro que, durante o Senador Vergueiro

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Antiga sede da Fazenda Ibicaba - Foto Século XIX - Acervo Dra. Lotte Kölher

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O doador das terras onde se Coincidência ou não, o primeiro formou o povoado de Nossa Senhora das livro-tombo da Igreja, onde constavam os Dores de Tatuhiby foi assassinado em assentamentos das propr iedades 1835, depois de ter assinado a doação das existentes no recém-criado povoado, o referidas terras (1832). processo referente ao crime e os

documentos da Sociedade do Bem Comum de Limeira, entidade que funcionou como administradora da citada doação, desapareceram.

Outro fato que nos chamou atenção foi que, quando Cunha Bastos faleceu, ele era senhor de engenhos, aliás, um dos maiores da freguesia, no entanto, o recenseador desconsiderou sua produção, omitindo dados referentes ao citado cidadão, no censo posterior à sua morte.

O assassinato do Capitão Cunha Bastos

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Limeira.

Elevação a Vila - Lei de 08 de março de 1842

O deputado Nicolau Pereira de Campos Vergueiro, principal fundador e planificador da povoação de Limeira, encarregou-se de apresentar o projeto que sugeria a elevação da Freguesia da Limeira à categoria de Vila, centralizando a administração de extenso território. É importante ressaltar que, conforme documentos originais, a partir da década de 1830, a povoação já era conhecida pelo nome de

Limeira passou à categoria de Vila, através da lei de 08 de março de 1842, sancionada pelo Presidente da Província de São Paulo.

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“Aos vinte e dois dias do mês de julho interesses do município, na conformidade do de 1844, em casa destinada para as sessões da artigo quarto, do decreto de 13 de novembro Câmara Municipal, desta nova Vila de Limeira, de 1832, providenciando a instalação da achando-se presente e sentado no topo da presente Câmara, na forma do artigo terceiro mesa o vereador mais votado, o Capitão deste decreto e, em virtude da Lei provincial Manoel José de Carvalho, o qual já havendo número vinte e cinco, de oito de março de prestado o juramento perante a Câmara 1842, que elevou à categoria de Vila, esta Municipal da Vila da Constituição, na anteriormente Freguesia, sendo determinada conformidade da autorização dada pelo a extração de uma cópia autenticada deste Excelentíssimo Senhor Presidente da presente auto, para ser remetida ao Província, em portaria datada de 04 de maio do Excelentíssimo Governo da Província, segundo corrente ano, na qualidade de presidente desta a determinação do artigo quarto, do já citado nova câmara e em virtude do decreto, de 22 de decreto, de 13 de novembro de 1832, de que julho de 1833, deferiu o juramento aos para constar, lavrei o presente auto, assinado vereadores: Antonio José da Silva, Antonio Luiz pelo presidente e demais vereadores da da Rocha Camargo, Rafael Antonio de Câmara presentes e eu, Antonio Luiz da Rocha Sampaio, Antonio Alves de Almeida Lima, José Camargo, vereador, servindo de secretário o Pedroso do Amaral, fazendo com que os escrevi.mesmos colocassem suas mãos (direita), no Assinaram o documento: Manoel José livro dos Santos Evangelhos, declarassem de Carvalho, Antonio José da Silva, Antonio desempenhar as obrigações de vereadores e Luiz da Rocha Camargo, Rafael Antonio de promovessem, quanto a si coubesse os meios, Sampaio, Antonio Alves de Almeida Lima, José de sustentar a felicidade pública. Depois do Pedroso do Amaral.dito juramento, tomaram os vereadores os Eu, Aurélio Justino Franco, secretário, competentes assentos a fim de tratarem dos o escrevi. Está conforme o original.

Instalação da Câmara Municipal

A instalação da Câmara Municipal, com posse de seus primeiros vereadores, ocorreu no dia 22 de julho de 1844.

Auto de Instalação e posse dos vereadores da Câmara da Vila de Limeira(documento pertencente ao Arquivo do Estado, adaptado para o português atual)

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Escravos africanos presos ao tronco - acervo José Eduardo Heflinger Jr.

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As informações alusivas aos escravos africanos inseridas nesse manual foram captadas em originais produzidos em um momento polêmico da História do Brasil. Os documentos e imagens devem ser apresentados somente por monitores que tenham conhecimento de que os dados e fatos polêmicos enfocados nesse manual poderão ser mal interpretados. Por essa razão, esse compêndio deverá ser utilizado somente pelos professores.

Como embasamos esse estudo em curiosidades alusivas aos escravos africanos, inseridas em documentos originais, datados do século XIX, a linguagem muitas vezes desrespeitosa empregada no tocante aos negros poderá ser questionada.

Inserimos nessa apresentação dados do Manual do Agricultor Brasileiro de Carlos Augusto Taunay, editado em 1839 (Acervo Biblioteca Nacional – MinC). exibição conhecerão os absurdos Trata-se de um compêndio publicado para adotados como regras que deveriam ser orientação dos agricultores brasileiros. cumpridas para que a elite agrária pudesse Um dos capítulos é alusivo ao modelo alcançar o “sucesso” na administração de ideal para o tratamento dos escravos. Os uma fazenda modelo. Certamente, todas usuários e monitores envolvidos com essa as pessoas sensatas que tiverem acesso a

Nota Importante

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esse produto compreenderão o quanto o realidade de um momento insólito de ser humano é escravo da vaidade e não nossa história, quando subjugamos seres tem escrúpulos para alcançar seus humanos a uma condição deplorável, objetivos. Os manuscritos do Dr. Jean tratando-os como animais, visando Jackes Tschudi, traduzidos do alemão lucros, objetivando concretizar uma visão gótico, também demonstram a loucura de e q u i v o c a d a p a r a a l c a n ç a r o nossa raça, que se considerava superior “desenvolvimento” do Brasil.aos escravos africanos. Tschudi foi um dos enviados pelo governo suíço (1860) para promover sindicâncias nas colônias de parceria da Província de São Paulo. A vinda de suíços para avaliar os nossos estabelecimentos coloniais foi provocada, a partir da Revolta dos Colonos da Fazenda Ibicaba (1856). As fotos dos escravos da propriedade do Senador Vergueiro, produzidas durante a administração de seu filho José Vergueiro, são raridades de valor imensurável e, certamente, são os exemplares mais valiosos do acervo nacional.

Também apresentamos excertos do diário de Carlota Brune, neta de José Vergueiro, proprietário da Fazenda Ibicaba, no qual percebemos seu carinho pelos escravos que a serviam, revelando o frescor de sua inocência, diante da brutalidade implícita na escravatura. Enfim, nossa intenção foi revelar a

Escravas da Fazenda Ibicaba peneirando caféAcervo Dra. Lotte Köhler

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Antes de registrarmos o conteúdo “Os escravos eram originários de de documentos que relatam a participação várias partes da África. Pertenciam a dos escravos africanos na fundação e d i v e r s a s e t n i a s , c o m m o d e l o s d e desenvolvimento da cidade de Limeira, é organização social e cultura diferenciados. bom que o leitor saiba que a hedionda Entre os povos de origem havia alguns que prática de subjugar seres humanos, apresentavam grandes conhecimentos na equivocadamente considerados inferiores, pecuária e artesanato, suplantando vem de longa data, no entanto, a algumas técnicas européias (Jacob intervenção dos portugueses no continente Gorender).”africano, teve seu início, em meados do C o n c l u í m o s à l u z d e r a r a século XV (alguns autores mencionam o ano d o c u m e n t a ç ã o h i s t ó r i c a q u e f o i de 1443). Após terem realizado o contorno imensurável a força empreendida pela raça da terra negra e batizado sua costa, negra na colonização e desenvolvimento do estudado as reentrâncias das baías, nosso Brasil. Barbáries não mencionáveis penínsulas e outros detalhes estratégicos, o foram cometidas, separando membros de Rei de Portugal determinou que esta fosse uma mesma família, desconsiderando invadida, objetivando submeter às nações todos os princípios cristãos.que ali habitavam. No início do século XVI, Na sociedade açucareira o negro foi os seus navios chegavam à África com transformado em moeda para obtenção de m e r c a d o r i a s v a r i a d a s e v o l t a v a m terras e poder. O número de escravos carregados de negros destinados ao nefasto definia o status de um cidadão. A loucura mercado. Essa prática colaborou para que a chegou a tal ponto que para ser considerado caça ao negro africano, plebeu ou de família um cidadão livre se fazia necessário real, se tornasse desabusada. Conforme ostentar a posse de pelo menos um negro. acordo estabelecido com o Rei do Congo, Mesmo as famílias mais pobres tinham seu desde 1443, nossos “descobridores” já escravo que, muitas vezes, trabalhava para traficavam seres humanos da África para as conseguir o sustento de todos os seus ilhas do Atlântico e da Europa. membros.

Antecedentes Históricos

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Escravos africanos de diferentes naçõesJ. B. Debret

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Os escravos africanos contribuíam holandesas. Foi em Portugal que mais se com a mão-de-obra nos engenhos de d e s e n v o l v e u o t r á f i c o n e g r e i r o , açúcar e plantações de café do Brasil, cuja principalmente, porque o país mantinha o produção se encontrava em franca domínio exclusivo da África colonial. A ascensão. A escravatura, que violava Coroa Espanhola, através dos “asientos”, todos os direitos naturais, representando concedia a determinados súditos o direito a f u s ã o e n t r e a v i o l ê n c i a e a exclusivo de fornecer escravos às suas impossibilidade da resistência, por mais possessões de ultramar. O negócio era incrível que pareça, tornou-se o “mal v a n t a j o s o e m u i t o s s o b e r a n o s necessário” para a existência nacional. Os estrangeiros faziam tudo para obter esses povos que a adotaram pagaram um preço tratados ou contratos. Mais ou menos, muito alto, obrigando-os à manutenção entre os anos de 1517 e 1743, holandeses, d e s s a i n s t i t u i ç ã o n e f a s t a , s o b espanhóis, franceses, portugueses e justificativas absurdas, que permitiam ingleses, gozaram desse monopólio. distorções, conduzindo-os a um raciocínio Esses negócios geravam lucros vultosos e, desumano que contribuía para a sua por mais intrigante que pareça, eram continuidade. “abençoados” em nome da “Santíssima

É difícil saber, se coube aos Trindade”, por S. Majestade Católica de portugueses ou aos espanhóis a Espanha. prioridade do tráfico de escravos. Já em Sempre atentos ao aparecimento meados do século XV, ele era considerado de documentos que venham embasar o meio regular de colonização de ambos com maior segurança os fatos relativos à os países. Durante os duzentos anos nossa história, aceitamos com reserva o seguintes, foram abastecidas, além das ano de 1532, como o início da introdução colônias espanholas e portuguesas, as do elemento negro nos engenhos de possessões inglesas, francesas e açúcar de São Vicente (Estado de São

Escravos, a força motriz do Brasil Imperial

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Escravos na moenda de açúcar. Gravura de Jean Baptiste Debret, 1835.

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P a u l o ) . N a o p i n i ã o d e d i v e r s o s africanos, que nem ao menos eram historiadores eles chegaram através da considerados humanos, muito pelo expedição, datada do mesmo ano, contrár io, eram concebidos, por chefiada por Martim Afonso de Sousa. A “inteligências privilegiadas” e escritores utilização do escravo africano no Brasil afamados, como uma raça inferior. Outros representava uma determinante sócio- ainda ousaram afirmar, que a partir de um e c o n ô m i c a i m p o r t a n t e p a r a a “estudo mais pormenorizado”, haviam emancipação colonial. Esse fato era concluído que o tratamento recebido nas reconhecido por lobos vorazes, com senzalas brasileiras constituía-se um aparência de cordeiros, como os célebres bálsamo, em comparação à vida que eles Nóbrega, o bispo D. José Joaquim da levavam anteriormente. Afirmaram que Cunha Azeredo Coutinho e o famoso seria mais sofrível deixá-los sujeitos ao padre Antonil, que em sua obra “Cultura e grau de organização social deficiente que Opulência do Brasil por suas Drogas e adotavam, levando-se em conta os Minas”, escreveu: “os escravos são as costumes das tribos africanas e a forma mãos e os pés do senhor de engenho, c o m o s e r e l a c i o n a v a m e n t r e s i , porque, sem eles não é possível fazer, permitindo que seus guerreiros gozassem conservar e aumentar fazenda, nem ter de vantagens de sua semi-civilização, engenho corrente”. Ele poderia ser mais oprimindo e aprisionando seus patrícios. verdadeiro, confessando que concordava Depois de escravizados, eram tratados com essa loucura, para continuar a como animais, vivendo em habitações usufruir dos dízimos e ofertas que os q u e s e c o m p a r a v a m a p e n a s a o s líderes religiosos costumavam receber chiqueiros das fazendas brasileiras. Fazia para cumprir o seu vil papel dentro do parte da cultura da grande maioria das contexto do recém-criado, mas, já tribos africanas: suportar jejuns intensos, decadente, Império Brasileiro. dormir a maior parte do tempo e, quando

As declamações e discursos dos necessário, sair à caça de feras e de antagonistas ao tráfico negreiro não homens. Imaginem o choque cultural que retratam a realidade enfrentada pelos o s a f r i c a n o s e n f r e n t a v a m , a p ó s

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Na sapataria, senhor pune escravo com a palmatória. (Debret)

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experimentarem uma viagem que um clima que privilegiava o espírito causava a morte de muitos, tendo que se manso, diante da violência imposta pela submeter ao trabalho forçado, sempre f o r ç a . A s s i m e r a m m a n i p u l a d o s , acompanhado do açoite como meio de assemelhando-se, na prática, aos animais mantê-los regularmente em atividade não domésticos e não aos seres humanos. remunerada. Para enfrentar os problemas d a i n d i s c i p l i n a e p r e g u i ç a e r a m Os negros eram vendidos aos ministrados castigos que variavam, desde portugueses pelos seus “Sobas” (chefes a privação de assistir aos exercícios e das tribos africanas) e trazidos ao Brasil, divertimentos, que ocorriam nos raros onde eram negociados, primeiramente, dias de folga, à utilização de colares de por um sistema de troca, utilizando todo o f e r r o , v i s a n d o e n v e r g o n h a r o s tipo de miçangas, vidrilhos, panos, armas desobedientes. Normalmente, era e utensílios de ferro necessários à lavoura utilizado o Bacalhau, um chicote de uma africana. só perna, com o qual aplicavam pancadas nos “rebeldes”. Durante certo período, o Em 8 de agosto de 1845, foi governo, além de admitir, utilizava cepos, assinado o tratado de Aberdeen, troncos e anjinhos. Alguns particulares conferindo aos ingleses o direito de continuaram a fazer uso desse aparato, interdição dos navios brasileiros que acompanhado de um arsenal de máquinas estivessem a serviço do tráfico. A partir de de tortura. Outra prática exercida pelos 1850, com a intensificação das pressões da senhores, era conferir elogios e prêmios Inglaterra, que passou a perseguir os aos escravos de boa conduta, além de navios negreiros na costa brasileira, o promovê-los a feitores inferiores, quando p r e ç o d o e s c r a v o f o i s u b i n d o se destacavam, não só pela disciplina, mas gradativamente. Na verdade, mesmo também por apresentarem inteligência antes da assinatura do Aberdeen, os suficiente para assumir a função. ingleses interferiam, aprisionando Aproveitando-se da condição à qual embarcações e aplicando punições aos estavam subjugados, os patrões criavam tumbeiros. Após a leitura dos relatórios do

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Algema, gargalheira, palmatória, peia e vira-mundo: objetos do castigo. Séc. XVIII e XIX, Ouro Preto

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Ministro dos Negócios Estrangeiros do Brasil, datados entre 1841 e 1844, observamos que os membros da Comissão Mista do Rio de Janeiro condenavam o procedimento dos navios britânicos que abordavam, vistoriavam e capturavam barcos brasileiros dentro de nossos portos. Eles chegaram a manter uma prisão inglesa nos domínios marítimos do Brasil, onde encarceravam os acusados de tráfico, transferindo-os para o Cabo da Boa Esperança, onde 350 mil réis em 1835, subindo, a partir da atuava um tribunal do Almirantado Inglês. década de cinquenta, para mais de um A Inglaterra, pós-industrialização, conto de réis. b u s c a v a s e u s i n t e r e s s e s e , Em 1875, a dificuldade para provavelmente, por esse motivo se obtenção de escravos tornou-se ainda arvorou em “defensora” da raça maior, consequentemente o seu valor maltratada. t a m b é m a u m e n t o u , a t i n g i n d o

aproximadamente a 1:300$000 réis (Um Independentemente dos motivos conto e trezentos mil réis). Analisando os

que levaram os ingleses a patrulhar nossa manuscritos do século XIX, constatamos costa, essa iniciativa dificultou o tráfico, que os africanos eram empregados na mas, não foi suficiente para suprimi-lo agricultura, limpeza pública, construção e definitivamente. Para se ter uma idéia, manutenção de estradas, casas, templos depois de avaliarmos documentos de religiosos, tulhas e outros edifícios. Alguns época, principalmente inventários, a eram escolhidos para o serviço doméstico grosso modo, pois o preço variava de e na amamentação e criação dos filhos do acordo com a idade, sexo e aptidões, o “senhor”. Essas escravas eram chamadas valor médio do negro africano chegou a de mães pretas ou babás.

Feitores castigando negros. (Debret)

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Relatos sobre os negrosda Fazenda Ibicaba

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Traduzimos o diário de Carlota Brune (original escrito em alemão gótico), filha de Catherina, filha adotiva de José Vergueiro (proprietário da fazenda Ibicaba) e de sua esposa Maria Umbelina, o n d e e s t ã o r e g i s t r a d o s f a t o s concernentes aos escravos que serviam a família Vergueiro. Carlota escreveu esse diário, acompanhada de sua preceptora, a Srta. Düring, quando completou 18 anos e já estava morando na Alemanha.Trata-se de uma raridade documental de valor imensurável, hoje pertencente ao pesquisador José Eduardo Heflinger Júnior. A l inguagem foi mantida conservando-se as expressões de época. Abaixo, excertos dessa obra:

“Às oito horas começava nossa aula. Às dez horas Tilo, o mordomo do duas horas, na qual nós saboreávamos um meu avô, tocava o sino e, logo após, nós copo de leite, um pedaço de bolo ou íamos todos juntos para o café da manhã. biscoitos. Às quatro horas, os estudos

Até às doze horas, brincávamos eram interrompidos. Daí vinha a velha nos terreiros de secagem de café. Ao meio babá Eva que, diariamente, nos banhava e dia, continuávamos os estudos com a trocava nossa roupa. Ela já tinha servido à governanta, com uma pausa maior, às minha mãe e, durante o banho, nos

Relatos sobre os negros da Fazenda Ibicaba

Carlota Brune, neta adotiva de José VergueiroAcervo José Eduardo Heflinger Júnior

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José Vergueiro, filho do Senador, sua esposa Maria Umbelina e a filha adotiva Catherina DrenkhanAcervo digital José Eduardo Heflinger Júnior

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contava lindas histórias. Eu tinha uma abanadores, que não eram de penas, mas, marca em forma de feijão nas costas e ela de tiras de papel presas numa vara longa; me convencia que era um feijão que tinha com os quais espantavam as moscas e entrado na minha pele. Eva me contou faziam vento para refrescar. Mais tarde, que minha mãe, quando pequena, tinha meu avô trouxe da Europa dois suportes cabelo bem fino, mas, depois que ela foi que tinham duas hélices que giravam com os seus pais à praia e tomou muito s i l e n c i o s a m e n t e , r e f r e s c a n d o e banho de mar, seu cabelo ficou tão forte espantando os insetos”que ela ganhou grossas tranças”.

“Uma das minhas atividades era “Às cinco horas, vinha o Tilo e pescar. Os laguinhos tinham muitos

tocava o sino da "Sala de Margar" (sala de peixinhos, entre os quais alguns ferozes. jantar). Agora eu quero contar como Dava-me muita satisfação pescar uma acontecia à mesa: Quando todos estavam porção para dar para os negros, sentados, a comida era servida por três ou enriquecendo suas refeições, porque eles quatro negros; quase todos os dias a eram proibidos de pescar”.mesma comida, mas, eram tantas opções que, todos os dias, a gente podia variar. “Assim, aos domingos, no grande G e r a l m e n t e , m i n h a m ã e s e m p r e jardim embaixo de grandes cajazeiras, destrinchava as aves, meu pai os assados e podíamos cozinhar sob os cuidados da meu avô os lombos. A Srta. Düring, nossa babá negra. Pegávamos dois tijolos e governanta alemã, servia o arroz, feijão acendíamos um foguinho entre eles, e preto e várias verduras. Os negros davam cozinhávamos uma panela com arroz e a volta à mesa perguntavam o que a gente outra de feijão preto. Essas delícias eram desejava. Quando tudo estava escolhido, preparadas com muitas risadas, piadas e, eles devolviam o prato servido conforme o logo em seguida, saboreadas”. pedido de cada um. Nos primeiros anos da minha infância, havia um ou dois “As babás negras tinham grande negrinhos ao lado da mesa com i n f l u ê n c i a . E n t r e a s f i l h a s d o s

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Lago da Fazenda Ibicaba - Cordeirópolis - SP. - Foto Renato SoaresAcervo Secretaria de Turismo e Eventos de Limeira, SP

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quatrocentos escravos eram selecionadas somente um bicho de estimação as melhores para cuidar das crianças, amaria.Tinha seu próprio quarto, que para enfim, elas brincavam conosco. Eu me mim era sempre um pouco misterioso. recordo com alegria de Micelina e Agida, Também era ela que cozinhava a goiaba, elas sabiam nos entreter gostosamente. A refinava o açúcar e fazia os bombons para Felizarda, a escrava da mamãe, gostava o vovô. Nós saboreávamos essas iguarias, muito de nós. Ela tinha que arrumar os à noite, à hora de deitar. Quando fazia os nossos quartos e passar roupa o dia todo. bombons ela permitia que provássemos. Uma outra negra, a lavadeira, trazia as Ela sempre nos levava no colo. A Eva nos peças todos os dias para que a Felizarda relatava fatos referentes à infância de pudesse passá-las A lavagem não era feita minha mãe. Seu filho, o Tito, era o criado numa lavanderia, mas sim fora, numa do meu avô. Ele tinha o rosto muito sagaz nascente que foi transformada em um e o comportamento de um gentleman. Ele pequeno laguinho e ficava a céu aberto, sempre acompanhava o vovô em suas assim, como o caldeirão de ferver roupa. viagens. O Raimundo, um outro criado, Depois de fervida, ela era batida em não gozava de nossa confiança, o que pedras lisas, enxaguada e estendida na mais tarde se justificou. Anselmo, o grama para secar. Por isso a roupa ficava cocheiro, marido da minha babá, nos com um tom esverdeado, que deixava a tratava com indiferença. Uma boa amiga minha tia que morava na Alemanha era Rite, a cozinheira, quando íamos à espantada. Ela reparou nesse colorido cozinha, ela tinha sempre alguma coisa diferente quando a visitamos, em 1888. interessante para nos mostrar e contar. A Lembro-me com carinho da Eva, a velha Adelina era importante, porque ela fazia preta com características de beduína, cor os bolos, biscoitos e confeitos. Ela de café com leite, que ocupava um cargo representava muito para vovó. A senhora de confiança. Eu a estimava tanto e ela Augusta, uma portuguesa pela qual nós gostava muito das crianças. Como eu já t í n h a m o s m u i t a s i m p a t i a , e r a contei, ela já havia pajeado a minha mãe e acompanhante e costureira da vovó. Ela amava tanto os meus avós, como dirigia a sala de costura, com o auxílio de

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Escravas da Fazenda Ibicaba peneirando café na casa de máquinasFoto século XIX - Album José Vergueiro (Dra. Lotte Köhler) - Acervo digital - José Eduardo Heflinger Júnior

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Terreiro da Fazenda Ibicaba: Escravas peneirando café à frente da casa de máquinasFoto século XIX - Album José Vergueiro (Dra. Lotte Köhler) - Acervo digital - José Eduardo Heflinger Júnior

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uma negra, cujo nome não me recordo. Dona Joaquina era quem cuidava dos mantimentos fornecidos aos escravos como: açúcar, sal, toucinho, etc. Ela nos tratava de maneira muito gostosa. Eu acho que ela me incentivou a me dedicar às artes, contribuindo para que eu desenvolvesse habilidades. Ela nos ensinava a fazer pequenos pratos de massas de modelar, travessas, bules, que, depois, seu marido mandava para a olaria, onde eram queimados. Eu ficava feliz, quando uma peça ficava bonita. O velho preto, Pedro, era meu amigo especial. Ele tinha a padaria e fazia todos os dias pão de milho e café para os quatrocentos pretos. Era muito interessante quando ele acendia o fogo e colocava os pães para assar. Ele tinha um papagaio que se pelo seu nome, “Maria da Bunda”, com chamava "Laura", que sabia muitos sua bunda gorda que a diferenciava das truques e graças. Nós gostávamos muito outras Marias. Entre os negros, tinha um de ficar com ele. Em 1884, quando meu pai que sempre andava com corrente na e eu viajamos para a Alemanha, ele perna e colar de ferro, como castigo para esculpiu uma colher, um garfo e uma faca quem havia fugido. Ele sempre nos pedia, muito bonitos. Ele fez esses utensílios g e m e n d o e c o m l á g r i m a s , q u e com uma madeira branca para que eu pedíssemos ao meu avô para livrá-lo dos levasse para minhas tias”. ferros. Ele prometia que ele nunca mais

“Entre as negras que trabalhavam fugiria. Certa ocasião, nós intercedemos na colina de café, ficou na minha memória por ele e conseguimos libertá-lo, mas, no

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dia seguinte, ele fugiu e nós ficamos muito uma negra após a outra e recebia o seu decepcionados, mas serviu como lição. corte. Muitas vezes, as negras vinham Nós tínhamos também na carpintaria a n t e s , p e d i n d o - n o s p a r a q u e muitos amigos negros que faziam caixas intercedêssemos por elas, para que de borboletas e muitas outras coisas”. recebessem um determinado padrão

escolhido, antecipadamente, pelas “ Q u a n d o v i a j a m o s p a r a a m e s m a s . N o r m a l m e n t e , n ó s

Alemanha, eu me senti importante nos conseguíamos. Também cada um momentos em que fizemos as compras de ganhava um novo chapéu de palha. À presentes para levar a Limeira. Eu não tarde se realizava a dança dos negros. No queria esquecer ninguém. Primeiro para pátio, eles faziam um grande círculo; um mamãe, os avós e irmãos. Depois, para a homem batia num tambor coberto de pele Eva, assim como para todos os pretos e os que estavam no círculo marcavam o amigos e amigas. Nós compramos compasso com palmas. No meio do algumas dúzias de broches baratos, para círculo tinha uma escrava que dançava minha ama um medalhão prateado com grotescamente à moda selvagem. Todos corrente, com minha fotografia inserida e que estavam nos visitando nesse tempo muitas coisas mais”. assistiam ao espetáculo. Também se

“Uma festa muito comemorada cantava e o tambor tocava sem parar, até era a de São João, dia 24 de junho. Com alta noite. Os melhores negros serviam e semanas de antecedência os pretos trabalhavam em casa, dançavam na sala, faziam seus preparativos. Caixas de fogos dança de roda. À noite, havia uma grande eram encomendadas pelo meu avô. queima de fogos, rojões, chuvas de prata, Muitas peças de tecidos vinham do Porto rodas de fogo, bolas de fogo, etc. Os fogos de Santos, porque as negras ganhavam tinham que pipocar e faziam um enorme novos vestidos para a festa. Na sala de barulho. Eram acesos dois barris de piche, jantar, vovó, mamãe, a Srta. Düring e à direita e à esquerda da casa e, quando o algumas negras, cortavam o pano para os fogo estava bem baixo, alguns negros vestidos e quando terminavam, entravam atravessavam sobre as brasas. Isso tinha

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algum significado, mas não me recordo mastro, não conseguindo continuar. De qual era. Para os negros mais moços era repente, ele escorregou e em algum lugar plantado um mastro untado com sebo. encheu os bolsos com cinzas, Com as Quem conseguia subir ganhava um mãos cobertas ele tentou escalar prêmio do vovô. Eu ainda vejo, à minha novamente e passando as cinzas no frente, um moço negro pendurado no mastro chegou triunfalmente ao topo”.

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“O carnaval era comemorado de esse momento. Uma vez iniciado, se um modo diferente. Eu vou descrever desenvolvia uma verdadeira batalha, como nós festejávamos esse evento. Vejo como aqui (na Alemanha) com bolas de meus irmãos e eu de mãos dadas com neve e, quanto mais nós acertávamos, m e u s a v ó s , s o r r i d e n t e s e c o m maior era nossa alegria. Nessa época do incontrolável impaciência, pela casa ano, no Brasil, ainda é verão e todos usam, grande e pelo pátio, passando por linho, batista e gaze. Quanto mais pequenas fontes, em caminhos largos inesperada vinha a bola de água maior era para o hospital dos nossos negros. Íamos a alegria. Nós esperávamos a passagem depressa, cheios de expectativa, tentando de nossa mãe, vovó e a Srta. Düring nos adivinhar o que o Jacinto, um artista arbustos do jardim e, quanto mais negro, t inha preparado. Quando indefesas eram elas ao nosso ataque, chegávamos, ele já estava esperando à maior era nossa alegria. O mais porta e nos mostrava cheio de orgulho interessante foi quando um visitante da suas criações. Lá tinha, às centenas: Alemanha esteve conosco. Ele não tinha laranjas, bananas, abacates, assim como n o ç ã o a l g u m a d a b r i n c a d e i r a . outras frutas em forma de pêra, moldadas Provavelmente, ele julgou que todos nós em cera, cheias de água de cheiro. Nós nos éramos loucos e não conseguia se divertir apossávamos de alguns desses projéteis. com a brincadeira. Quanto mais ele se Os restantes, eram transportados em escondia, mais raivosamente ele era tabuleiros para a casa de máquinas, à perseguido, até que, de repente, no plantação, ao terraço, enfim, para toda caminho, ele encontrou uma bola cheia e parte. Nós aguardávamos com caras de daí partiu para a defesa. Foi engraçado, inocentes, o momento propício para porque o visitante pegou gosto pela bombardear o bom avô (José Vergueiro) e brincadeira. A pior batalha era à tarde. Às ele, logo em seguida, nos proporcionava quatro horas, nós tomávamos banho, nos

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José Vergueiro, sua esposa, Maria Umbelina e netosAcervo Dra. Lotte Köhler - Arquivo digital J. E. Heflinger Jr.

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vestíamos e a brincadeira tinha fim. Até mesma. Ele o fez. Um certo dia, fomos então, nós nos molhávamos e quase nos todos com dois pequenos troles para a afogávamos, porque a batalha sempre floresta. O negro subiu na jabuticabeira terminava no chafariz. Assim também com muita dificuldade, porque o tronco acontecia entre os pretos. Pode-se dela era muito liso. Ele colhia e descia as imaginar o barulho e o tumulto quando maravilhosas jabuticabas em pequenas quatrocentos negros gritavam e riam, c e s t a s . P a r a n ó s f o i u m g r a n d e mas, o carnaval ocorria só uma vez por acontecimento.Todos nós, adultos e ano. Nas cidades acontecia um evento crianças, estávamos tão contentes que semelhante. Velhos e jovens com a cara desejávamos que isso se repetisse”. muito alegre deixavam-se molhar, usando tubos com os quais dava-se um jato no rosto ou no pescoço de pessoas distraídas. A maioria dos estrangeiros achava essa brincadeira tola, principalmente, porque os adultos brincavam com o mesmo empenho das crianças. Tal julgamento era v ingado sem dó e a pessoa era ridicularizada por não querer brincar conosco”.

“Eu quero contar sobre uma incursão na floresta. Um negro sempre ia à “Quando a mamãe faleceu, nós a mata para cortar as pontas das palmeiras vimos só mais uma vez, às quatro horas da para a salada de palmito. Ele abria o manhã, e depositamos flores em seu caminho com um machado. Uma vez, ele caixão. De manhã, quatro negros descobriu uma maravilhosa jabuticabeira carregaram o caixão da fazenda até carregada de frutos. Foi resolvido que ele Limeira, sempre se revezando, porque abrisse um caminho mais largo para que todos eles queriam carregar o corpo da se pudesse chegar com um carrinho à mamãe por algum trecho do caminho”.

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José Vergueiro e as escravas da Fazenda IbicabaAcervo Dra. Lotte Köhler - Arquivo digital J. E. Heflinger Jr.

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Farto documental encontrado nos Nova da Constituição (Piracicaba), que a arquivos da Cúria Metropolitana de São região conhecida por Morro Azul e Paulo, cartórios de Piracicaba, Itu e Tatuhiby que, futuramente, abrigaria as região, nos Centros de Memória Histórica cidades de Limeira, Cordeirópolis e e Arquivo da cidade de Limeira, Arquivo do Iracemápolis se constituía de 951 pessoas Estado e outros, nos oferecem subsídios, livres e 546 escravos. A maioria dos para menção de detalhes sobre a africanos trabalhavam nos engenhos de participação do escravo na fundação, fabricação de açúcar redondo exportável, construção e desenvolvimento da cidade pertencentes a figuras ilustres do Brasil de Limeira. Imperial, como o Senador Nicolau Pereira

d e C a m p o s Ve r g u e i r o ( S e n a d o r Vergueiro), José Ferraz de Campos (Barão de Cascalho), Bento Manoel de Barros Estradas / Agricultura (Barão de Campinas), Brigadeiro Manoel Rodrigues Jordão, Joaquim Franco de As picadas abertas pelas bandeiras Camargo (Alferes Franco), Capitão Luiz q u e p o r a q u i p a s s a r a m , m a i s Manoel da Cunha Bastos e outros.p r e c i s a m e n t e , a s c h e f i a d a s p o r

Bartolomeu Bueno da Silva (Anhanguera), Essa região pertencia à Vila Nova em 1682, e pelo seu filho, o qual tinha o

da Constituição (Piracicaba). Em 1820, mesmo nome, datada de 1722, foram encabeçados pelo Senador Vergueiro, desbravadas com o auxílio do elemento “Senhor do Engenho do Ibicaba”, servil.inúmeros sesmeiros pediram ao Coronel Oeynhausen, Governador da Província de Identificamos no recenseamento São Paulo, a abertura de uma estrada de de 1822, empreendido sob a estrutura e Jundiaí a São Carlos (nome primitivo de disciplina da Guarda Nacional, na Vila

O Negro, a Colonização e o Desenvolvimento de Limeira

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Campinas) e dessa localidade ao Morro cultura da cana para a produção do açúcar, Azul, por onde já passava a estrada de outorga-lhes o direito de reivindicar a Piracicaba para Rio Claro e Araraquara. A menção do escravo africano como a força participação dos escravos, tanto na feitura motriz que deu origem a uma das cidades da estrada, como no desenvolvimento da mais promissoras do Estado de São Paulo.

Povoado de Nossa Senhora das Dores de Tatuibi (Limeira - SP) - Cópia do desenho de Hercules Florence - 1839Acervo Museu Histórico e Pedagógico Major José Levy Sobrinho - Limeira - SP.

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pique”. Podemos citar como exemplos: o Construções: Inúmeros documentos templo da Boa Morte (1856), o casarão do originais, datados do século XIX, Tatu (final do século XVIII, início do XIX), a registram a participação do negro nas Gruta da Fazenda Morro Azul e as construções de casas, templos religiosos, edificações das fazendas Ibicaba, grutas, palacetes, utilizando-se das Q u i l o m b o , I t a p e m a e o u t r a s .técnicas de “taipa de pilão” e “pau a

J. B. Debret

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Templo da Boa Morte construído pelos escravos na técnica de Taipa de Pilão

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constatamos que Limeira, Ubatuba, Limpeza PúblicaTaubaté, São Luiz, Queluz e Cunha, expediram as primeiras cartas de Farto documental comprova a liberdade suportadas pelo fundo de participação do negro na limpeza pública emancipação que somava 414:882$124.da Vila da Limeira, obviamente não

recebendo nenhuma remuneração pelos Escassez de mão-de-obra para a trabalhos.

agricultura Limeira, pioneira na emancipação

Ao contrário do que se propaga, os dos escravosdocumentos de época indicam que a mão-de-obra que movimentava o Brasil, com Apesar de termos reunido fatos requintes de precariedade e ausência de q u e ev i d e n c i a m a v e r g o n h a e a q u a l i d a d e , e r a d e s p r e p a r a d a e desumanidade praticadas com os negros, desconhecia técnicas modernas para a podemos pinçar iniciativas nobres, racionalização do trabalho.ocorridas em Limeira, as quais diferem do

c o n t e x t o d o B r a s i l I m p é r i o , A partir da assinatura do Tratado principalmente por terem sido tomadas,

de Aberdeen, em oito de agosto de 1845, muito antes da Abolição. os ingleses passaram a fiscalizar a costa brasileira com maior rigor. Essa ação Segundo relatório elaborado pelo provocou uma alta nos preços e grande Presidente da Província, Dr. Sebastião dificuldade na obtenção de escravos. José Pereira, datado de fevereiro de 1877, Mesmo diante dessas represálias, o tráfico apresentado à Assembléia Legislativa da negreiro continuou assombrando as Província de São Paulo, tratando da águas tupiniquins e a nos envergonhar c l a s s i f i c a ç ã o d e e s c r a v o s , m a i s com atos de extrema crueldade.precisamente da primeira distribuição do

fundo de emancipação dos mesmos,

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