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AVALIAÇÃO QUALI-QUANTITATIVA DA ESPÉCIE Licania tomentosa (Benth.) Fritsch. NA ARBORIZAÇÃO VIÁRIA DE BONITO-MS
QUALI-QUANTITATIVE EVALUATION OF Licania tomentosa (Benth.) Fritsch. AT
STREET AFFORESTATION OF BONITO-MS
Kendra Zamproni1, Daniela Biondi2, Rogério Bobrowski3
RESUMO A avaliação da arborização de ruas é fundamental para o planejamento e manutenção deste patrimônio
de modo a maximizar os benefícios proporcionados pelas árvores nas cidades. O objetivo deste trabalho
foi avaliar de forma quantitativa e qualitativa os indivíduos da espécie Licania tomentosa (Benth.) Fritsch.
(oiti) na arborização viária do município de Bonito-MS. Foram contabilizadas todas as árvores da área
urbanizada do município e para a avaliação qualitativa realizou-se um inventário por amostragem
aleatória com parcelas lineares de 400m. Para a caracterização dos oitis foram obtidas as seguintes
variáveis: CAP, altura total, altura de bifurcação, diâmetro de copa, condição física e sanitária,
necessidade de tratamento e condição de raiz. Foram amostrados ao todo 589 indivíduos de oiti,
distribuídos em 17 unidades amostrais. Analisando as distribuições diamétrica e hipsométrica verifica-se
a predominância de indivíduos com pequena e média altura. A altura de bifurcação média foi de 0,84m.
Mais de 60% dos indivíduos foram classificados como regulares, com condição física e vigor medianos.
É aconselhável a suspensão de novos plantios desta espécie para o equilíbrio com a frequência das
demais espécies, a fim de aumentar a diversidade e contribuir para a melhoria estética e ecológica da
cidade.
Palavras-chave: Inventário; Diagnóstico; Planejamento; Oiti; Ecologia urbana.
ABSTRACT
The evaluation of street afforestation is essential for planning and maintenance of this patrimony in order
to maximize the benefit provided by trees in the street. This study aimed to evaluated quantitatively and
qualitatively the individuals of the species Licania tomentosa (Benth.) Fritsch. (oiti) in the street
afforestation of Bonito-MS. There were counted all trees in the municipality’s urbanized area and for the
qualitative analysis a random sampling inventory was performed with linear parcels of 400m. For the
characterization of L. tomentosa individuals there were obtained the following variables: CBH, total
height, bifurcation height, canopy diameter, physical and phytosanitary condition, need of treatment and
root condition. A total of 589 individuals of oiti were characterized, distributed in 17 parcels. Analyzing the
diametric and hypsometric distributions, it was possible to verify the predominance of individuals with
small and medium height. The average of bifurcation height founded was 0.84m. More than 60% of
individual were classified as regulars, with median physical condition and vitality. It is advisable the
suspension of new planting of this species for the balance with the frequency of other species, in order to
increase diversity and contribute for the aesthetic and ecological improvement of the city.
Keywords: Inventory, Diagnostic, Planning. Oiti, Urban ecology.
Recebido em 26.04.2016 e aceito em 17.06.2016
1 Engenheira Florestal, Mestranda do Programa de pós-graduação em Engenharia Florestal da Universidade Federal do Paraná. Curitiba/PR. Email: [email protected]
2 Engenheira Florestal, Profª Drª da Universidade Federal do Paraná. Curitiba/PR. Email: [email protected]
3 Engenheiro Florestal, Profº Drº da Universidade Estadual do Centro-Oeste. Irati/PR. Email: [email protected]
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INTRODUÇÃO
A arborização de ruas é um elemento essencial para a recuperação do equilíbrio
ambiental do meio urbano. Sua importância reside na promoção de uma melhor qualidade de
vida para a população, amenizando os efeitos artificiais desse ambiente.
De acordo com Biondi e Althaus (2005), a arborização de ruas, além de ser um serviço
público, é um patrimônio que deve ser conhecido e conservado para as futuras gerações,
devido às suas inúmeras contribuições. As autoras elencam alguns benefícios exercidos pela
arborização tais como: beleza paisagística, equilíbrio do solo, regulação do microclima,
promoção de abrigo à fauna, diminuição da velocidade do vento e poluição sonora, redução da
temperatura do ar por meio do aumento da umidade relativa e produção de oxigênio, sensação
de bem-estar à população, agindo na saúde física e mental.
A falta de diretrizes e normas para a arborização viária permite que iniciativas
particulares desprovidas de conhecimento técnico tomem espaço por meio de plantios
irregulares, acarretando na redução dos benefícios proporcionados pelas árvores e muitas
trazendo vezes transtornos para a população (ALMEIDA; RONDON NETO, 2010). Dessa
forma, conhecer a condição das árvores no ecossistema urbano é fundamental para um
manejo adequado, visando uma maior eficiência das múltiplas contribuições trazidas por estas
ao ambiente.
Nesse sentido, Bobrowski (2011) afirma que prefeituras e instituições de pesquisa têm
realizado inventários florestais para verificar a qualidade, compreender o comportamento e
detectar prejuízos e problemas advindos da arborização de uma cidade.
Uma das espécies frequentemente utilizada para compor a arborização de ruas nas
cidades de regiões quentes do Brasil é Licania tomentosa (Benth.) Fritsch., da família
Chrysobalanaceae, popularmente conhecida como oiti. Esta é uma árvore nativa, perenifólia e
ocorre na floresta pluvial atlântica, desde Pernambuco até o norte do Espírito Santo e vale do
Rio Doce em Minas Gerais. Sua altura varia de 6 a 15 m, com tronco de 30 a 50 cm de
diâmetro. Possui folhas simples, tomentosas em ambas as faces, de 7 a 14 cm de comprimento
por 3 a 5 cm de largura. Floresce durante os meses de junho-agosto e seus frutos amadurecem
em janeiro-março (LORENZI, 2008). Quando não são impostas restrições ao seu crescimento
em altura por meio de podas, apresenta copa frondosa que proporciona sombra, característica
bastante atrativa que justifica seu uso em larga escala na arborização urbana por quase todo o
Brasil, especialmente a partir do estado de São Paulo em direção ao norte do país (FERREIRA;
GASPAROTTO; LIMA, 2001).
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Dentro deste contexto, o objetivo deste trabalho foi avaliar de forma quantitativa e
qualitativa os indivíduos da espécie Licania tomentosa presentes na arborização viária do
município de Bonito-MS.
MATERIAL E MÉTODOS
Este estudo foi realizado no município de Bonito, localizado a sudoeste do estado do
Mato Grosso do Sul, na região centro-oeste do Brasil (FIGURA 1), integrando a unidade
geomorfológica denominada Serra da Bodoquena. O núcleo urbano do município (21º07’16” S
e 56º28’55” O) está a 250 km da capital do estado, Campo Grande (FEHLAUER et al., 2010).
Figura 1. Localização geográfica de Bonito-MS, com destaque para a área urbana do município
Figure 1. Geographic location of Bonito-MS, highlighting the urban area of the city
O clima da região é o Aw (tropical úmido), segundo a classificação de Köppen,
caracterizado por estação seca acentuada entre os meses de abril e setembro com
precipitações concentradas entre novembro e janeiro. A temperatura média anual é de 23,9ºC
e a precipitação varia entre 1200 e 1500 mm ao ano (SILVA et al., 2013).
De acordo com o IBGE (2014), o município de Bonito-MS possui uma área de
4.934,414 km², sendo 3,483 km² de área urbana, e uma população estimada de 20.825
habitantes. Mais de 16 mil pessoas (82,5%) vivem na área urbana, enquanto 17,5% residem na
área rural.
A coleta de dados ocorreu nos meses de junho e julho de 2015. Primeiramente,
realizou-se uma estratificação da área urbanizada do município e esta foi dividida em área
pavimentada e área não pavimentada. Esta divisão foi feita para que o inventário quali-
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quantitativo contemplasse a área da cidade com o mínimo de infraestrutura urbana implantada
(asfalto).
O inventário quantitativo foi do tipo censo, sendo percorridas de carro todas as ruas da
cidade inseridas na área pavimentada previamente delimitada, para contabilizar todos os
indivíduos presentes na calçada. O inventário qualitativo foi realizado por amostragem
aleatória, dentro da área estratificada, com parcelas lineares de 400 metros. A intensidade
amostral foi calculada com um nível de confiança de 95%, para um erro de 10%.
Nas unidades amostrais sorteadas foram contabilizados quantitativamente todos os
indivíduos arbóreos, herbáceos e palmeiras. Para a análise dendrométrica e da qualidade dos
indivíduos de L. tomentosa, foram obtidas as seguintes variáveis (FIGURA 2): CAP
(circunferência a altura do peito), altura total, altura de bifurcação, diâmetro de copa (em quatro
raios), condição física e sanitária, necessidade de tratamento e condição de raiz.
Figura 2. Caracterização dos indivíduos de L. tomentosa. A- Altura de bifurcação; B- altura total
Figure 2. Characterization of L. tomentosa individuals. A- bifurcation height; B– total height
Para a avaliação da condição física e sanitária, as árvores foram classificadas,
baseado em Milano (1984), em: 1) Árvore boa - que não apresenta sinais de pragas, doenças
ou injúrias mecânicas, que apresenta a forma característica da espécie; 2) Árvore regular -
apresenta condição física e vigor medianos, que sofreu podas pesadas, mas que conseguiu se
reestabelecer satisfatoriamente ou necessita reparo de danos físicos ou controle de pragas ou
doenças; 3) Árvore ruim - apresenta muitos danos físicos, ataque de pragas ou doenças,
tortuosidade; 4) Árvores muito ruins - apresentam danos físicos severos, que requerem muito
trabalho de recuperação, morte iminente; 5) Árvore morta.
Os indivíduos amostrados foram diagnosticados de acordo com as seguintes
necessidades de tratamento: 1) Poda de adequação/direcional – amenizar conflitos entre os
galhos das árvores e equipamentos urbanos, principalmente a rede elétrica; 2) Poda de
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limpeza – retirada de galhos finos, secos e/ou senis afim de evitar quedas destes materiais; 3)
Poda de formação/levamentamento de copa – direcionar o desenvolvimento da copa em
árvores jovens e livrar o tronco de ramificações que dificultem o trânsito de pedestres na
calçada; 4) Controle de pragas e/ou doenças e 5) Remoção. As árvores que devem ser
retiradas são aquelas mortas, atacadas por cupins, com rachadura no fuste e/ou estão
inseridas em lugares inadequados, causando transtornos e oferecendo riscos para a
população.
O sistema radicular foi avaliado em três categorias: 1) Profundo, sem danos à calçada;
2) Pouco superficial, causando pequenos danos e superficial, 3) Superficial, causando danos à
calçada.
Os dados obtidos com as medições foram transformados em planilhas no Microsoft
Office Excel 2013, para posteriormente serem analisados em forma de gráficos e tabelas.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Contabilizou-se 947 indivíduos arbóreos, herbáceos e palmeiras em 17 unidades
amostais, sendo 589 árvores da espécie L. tomentosa, que representam 63,27% da
arborização viária de Bonito-MS. Foram encontradas 20 mudas de oiti (3,39%), não sendo
estas avaliadas qualitativamente. A frequência de L. tomentosa excede o proposto por Grey e
Deneke (1978), que recomendam uma frequência entre 10 e 15% em zonas urbanas de uma
mesma espécie para evitar que a arborização de ruas de uma cidade seja dizimada por um
surto de pragas e doenças.
A Tabela 1 apresenta a relação das unidades amostrais inventariadas com as
respectivas quantidades de indivíduos (árvores, arbustos e palmeiras) e oitis encontrados, bem
como a porcentagem de oitis por amostra.
Quando analisada a proporção de oitis em cada amostra, percebe-se que em
nenhuma delas a frequência recomendada é atendida, sendo que em duas delas (amostras 82
e 28), a frequência de oitis atinge aproximadamente 90% do total, muito além do ideal.
Stranghetti e Silva (2010) afirmam que a diversidade da vegetação é de grande importância
para a ampliação, fixação e manutenção do equilíbrio ecológico no meio urbano. Entretanto, a
adaptabilidade das espécies às condições do ambiente urbano é que deve ser um fator de
importância no planejamento da arborização da cidade (RAUPP; CUMMING; RAUPP, 2006).
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Tabela 1. Relação das amostras inventariadas com os respectivos totais de indivíduos encontrados e árvores de oiti e porcentagem desta espécie
Table 1. Relation of inventoried samples with respective total individuals founded, L. tomentosa trees and percentage of this species
AMOSTRA TOTAL DE
INDIVÍDUOS TOTAL DE
OITIS (%) OITIS
6 62 40 64,5
7 62 31 50,0
71 53 39 73,6
68 42 14 33,3
1 63 47 74,6
103 80 43 53,8
126 62 32 51,6
19 52 23 44,2
44 48 33 68,8
82 48 43 89,6
28 54 49 90,7
48 44 24 54,5
79 55 31 56,4
112 46 22 47,8
46 70 48 68,6
4 44 16 36,4
93 62 34 54,8
TOTAL 947 589
A predominância desta espécie também foi verificada na arborização de ruas de
outras cidades como: Goiandira-GO (PIRES et al., 2007), Assis-SP (ROSSATO; TSUBOY;
FREI, 2008), Uchôa-SP (STRANGHETTI; SILVA, 2010), Matupá-MT e Colíder-MT (ALMEIDA;
RONDON NETO, 2010), São João Evangelista-MG (BRANDÃO et al., 2011), Jerônimo
Monteiro-ES (SILVA; CARDOSO; RAPHAEL, 2012), Cajuri-MG (SILVA; GONÇALVES, 2012) e
Israelândia-GO (LARA; ALVES; CARNEIRO, 2014). Isto pode ser um reflexo da adaptabilidade
da espécie a condições adversas do ecossistema urbano, crescendo e desenvolvendo de
forma satisfatória.
A preferência por esta espécie na composição da arborização viária pode ser
justificada por sua copa densa e perenifólia, que proporciona excelente sombreamento e por
ter um sistema radicular profundo. Além disso, adapta-se a regiões de clima quente, como o
norte do país e regiões litorâneas (LORENZI, 2008).
Entretanto, Ferreira, Gasparotto e Lima (2001) alertam que o plantio em larga escala
de L. tomentosa deve ser evitado em função do aparecimento de ferrugem causada por
Phakopsora tomentosae, que ocasiona a morte da árvore, conforme encontrado pelos autores
em Manaus-AM. Dessa forma, a homogeneidade da arborização em Bonito-MS é preocupante,
pois os indivíduos de oiti estão susceptíveis ao ataque de fitopatógenos que podem acarretar
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na morte das árvores e consequentemente um déficit expressivo na quantidade de árvores na
cidade. Apesar disso, Raupp, Cumming e Raupp (2006) afirmam que baixas proporções de
composição para algumas espécies não consegue extinguir os problemas com pragas e
doenças porque alguns patógenos podem atacar mais de uma espécie. Sendo assim, ao
compor a arborização viária é necessário considerar o equilíbrio de frequência entre espécies
conjuntamente com a adaptabilidade das mesmas.
Com relação à caracterização dendrométrica, as figuras 3 e 4 apresentam,
respectivamente, as distribuições diamétrica e hipsométrica das árvores de L. tomentosa
inventariadas.
Figura 3. Distribuição diamétrica dos indivíduos de L. tomentosa inventariados
Figure 3. Diametric distribution of L. tomentosa individuals inventoried
Figura 4. Distribuição hipsométrica dos indivíduos de L. tomentosa inventariados
Figure 4. Hypsometric distribution of L. tomentosa individuals inventoried
Na distribuição das classes diamétricas encontrou-se maior frequência de indivíduos
na classe de 10 a 20 cm, caracterizados como indivíduos de pequeno e médio porte. O mesmo
foi verificado com relação à altura, já que a maioria das árvores se enquadrou nas classes de 3
a 9 metros. Infere-se, portanto, que a maioria dos indivíduos ainda são jovens (não atingiram
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sua maturidade) e não atingiram suas dimensões máximas, já que de acordo com a literatura, a
espécie L. tomentosa possui altura entre 6 a 15 m, com tronco de 30 a 50 cm de diâmetro
(LORENZI, 2008). Dessa maneira, é importante considerar medidas de manutenção e manejo
dessas árvores, para que não haja danos e conflitos com os equipamentos urbanos no futuro,
bem como perdas dos potenciais benefícios que essas possam oferecer à cidade.
Cabe ressaltar, porém, que a distribuição em classes de altura da arborização sofre
influência direta do tipo de poda realizada, principalmente por podas drásticas, em que toda ou
a maioria da copa foi retirada, e de rebaixamento de copa (comuns em Bonito-MS, conforme
observado nesse estudo), que alteram as características naturais de altura e arquitetura de
copa das espécies (BOBROWSKI, 2011).
Essa mesma condição de predominância de indivíduos da espécie L. tomentosa nas
primeiras classes de altura devido às podas de rebaixamento de copa também foi constatado
por Silva, Cardoso e Raphael (2012), na cidade de Jerônimo Monteiro-ES,
Em relação à copa, a figura 5 mostra a distribuição dos indivíduos amostrados em
classes de área de copa.
Figura 5. Distribuição em classes de altura dos indivíduos de L. tomentosa inventariados
Figure 5. Distribution into canopy area classes of the L. tomentosa individual inventoried
Verifica-se a predominância de árvores com áreas de copas pequenas (0-10m²),
reflexo da arborização jovem e do tipo de poda inadequado frequentemente realizado na
cidade (poda drástica e de rebaixamento de copa). Esta característica não é interessante em
uma cidade como Bonito-MS, a qual apresenta temperaturas elevadas, pois acarreta em menor
sombreamento e menor evapotranspiração. A copa das árvores é a principal fonte de
benefícios ambientais e estéticos para os centros urbanos e como consequência das podas
malfeitas tem-se a perda destes benefícios (BOBROWSKI; BIONDI, 2012).
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A altura de bifurcação média encontrada nos indivíduos de L. tomentosa foi de 0,84 m,
sendo que 1,94% possui bifurcação rente ao solo. Recomenda-se que a altura da primeira
bifurcação não seja menor que 1,8 metros, pois representa um problema com relação ao
trânsito livre entre os pedestres, principalmente para aqueles com mobilidade reduzida (LIMA
NETO et al., 2010).
A Tabela 2 apresenta a distribuição dos indivíduos amostrados de acordo com a
classificação de condição física e fitossanitária.
Tabela 2. Classificação da condição física e fitossanitária das árvores inventariadas, com respectivas frequências absoluta e relativa
Table 2. Classification of the physical and phytosanitary condition of the trees inventories with respective relative and absolute frequencies
Condição FA FR (%)
Árvore boa 152 26,71
Árvore regular 345 60,63
Árvore ruim 67 11,78
Árvore muito ruim 5 0,88
A maioria das árvores foi considerada regular, com condição fisíca e vigor medianos,
demonstrando recuperação satisfatória após sofrerem danos. Diversos indivíduos
apresentaram danos no fuste e nos galhos decorrentes de podas mal executadas, acidentes
com veículos ou vandalismo. Alguns destes danos são severos, comprometendo a estabilidade
da árvore e aumentando a susteptibilidade à ataque de patógenos (FIGURA 6).
Figura 6. Danos físicos e defeitos estruturais encontrados em oitis na cidade de Bonito-MS. A, B – galhos quebrados com podridão associada e cancro pós lesão. C – Rachadura em fissura de galhos com bifurcação em “V”
Figure 6. Physical damages and structural defects founded in L.tomentosa trees in Bonito-MS. A,B – broken branches with associated rot and canker post injury. C – splitting in fissure of branches in “V” bifurcation
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De acordo com Zem e Biondi (2014), mesmo com os inúmeros benefícios
proporcionados pelas árvores de ruas, estas continuam sendo danificadas devido à falta de
planejamento quanto ao local onde serão plantadas e falta de envolvimento da população, que
deveria ser uma prioridade em todas as fases da arborização de uma cidade.
Com relação aos aspectos fitossanitários foram diagnosticadas nove árvores com
presença de percevejo, oito árvores com presença de formiga, uma árvore com ataque de
cupim e uma árvore com presença de fungo, indicando boa resistência da espécie L.
tomentosa a ataque de pragas e doenças, mesmo o plantio da espécie sendo caracterizado
como uma monocultura na cidade, havendo condições favoráveis para a proliferação de pragas
e doenças.
A Tabela 3 apresenta as necessidades de tratamento indicadas para os indivíduos
amostrados, sendo que uma árvore pode apresentar mais de uma recomendação (FIGURA 7).
Tabela 3. Necessidades de tratamento indicadas para as árvores inventariadas com respectivas frequências absoluta e relativa
Table 3. Treatment needs indicated for the inventoried trees with respective absolute and relative frequencies
Necessidade de tratamento FA FR (%)
Poda de adequação/direcional 335 58,88
Poda de limpeza 232 40,77
Poda de formação/levantamento 113 19,86
Controle de praga e/ou doença 17 2,99
Remoção 8 1,41
De acordo com Biondi e Althaus (2005), a poda é uma prática de manutenção muito
importante nas árvores de rua, devendo ser executada por pessoas habilitadas de modo a não
afetar a saúde e a estética das árvores.
Mais de 58% das árvores apresentam algum tipo de conflito ou então poderão
apresentar conflitos com componentes urbanos (fiação, construções) e, portanto, recomenda-
se a poda de adequação/direcional. A necessidade de podas de levantamento de copa está
intimamente relacionada à baixa altura de bifurcação encontrada nas árvores, problema
proveniente do plantio de mudas com características inadequadas para a implementação no
meio urbano. Essas características poderiam ser melhoradas com o manejo adequado das
mudas ainda no viveiro.
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Figura 7. Necessidade de tratamento das árvores de Bonito-MS: (1) poda de adequação/direcional, (2) poda de limpeza, (3) poda de formação/levantamento da copa.
Figure 7. Treatment needs in the trees of Bonito-MS: 1- adequacy/directional pruning, 2- cleaning pruning, 3- formation/canopy lifting pruning.
Com relação ao sistema radicular, a Tabela 4 mostra a classificação dos indivíduos
inventariados.
Tabela 4. Classificação do sistema radicular das espécies inventariadas, com respectivas frequências absoluta e relativa
Table 4. Treatment needs in the trees of Bonito-MS: 1- adequacy/directional pruning, 2- cleaning pruning, 3- formation/canopy lifting pruning
Raiz FA FR (%)
Profunda 414 72,76
Pouco superficial 115 20,21
Superficial 40 7,03
Não foram verificados problemas significativos de incompatibilidade da raiz com o
calçamento, já que mais de 72% das árvores apresentou sistema radicular profundo, como
também descrito em literatura sobre a espécie. Em estudo sobre a arborização viária do
município de São João Evangelista-MG, Brandão et al. (2011), diagnosticaram apenas 0,6%
dos indivíduos de L. tomentosa com raízes superficiais causando danos ao calçamento.
Esta característica está também relacionada à manutenção dos canteiros permeáveis,
que interferem diretamente no desenvolvimento das árvores. Bobrowski, Biondi e Baggenstoss
(2009) ressaltam a importância das áreas permeáveis no entorno das árvores de rua numa
extensão tão maior quanto o possível, para efetivamente proporcionar o crescimento destas e
evitar gastos com substituições de árvores em consequência de local inapropriado ao
desenvolvimento e danos acarretados em função disto. De acordo com Lima Neto et al. (2010),
árvores com raízes que se desenvolvem acima do solo, danificando as calçadas, são um
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impedimento para a acessibilidade dos pedestres, em especial dos deficientes e com
mobilidade reduzida.
Em seis indivíduos foi constatado enovelamento/retorcimento da raiz (FIGURA 8), que
pode causar o estrangulamento da base do tronco e consequentemente a queda da árvore.
Isto provém da produção de mudas de má qualidade no viveiro ou de práticas inadequadas de
plantio.
Figura 8. Raiz enovelada em indivíduos adultos de oiti
Figure 8. Coiled root in adult individuals of L.tomentosa
CONCLUSÕES
A partir dos resultados obtidos verifica-se uma homogeneização da arborização viária
do município de Bonito-MS com a predominância da espécie L. tomentosa. Assim, sugere-se a
adoção de medidas de introdução de novas espécies a fim de diminuir a frequência de oitis,
bem como a suspensão de novos plantios desta espécie, de modo a contribuir para a melhoria
estética e ecológica da cidade e evitar a perda do patrimônio arbóreo do município em caso de
um surto de praga ou doença.
No que diz respeito à qualidade das árvores, constata-se pela avaliação dendrométrica
que grande parte dos indivíduos de L. tomentosa presentes na arborização de Bonito- MS
ainda são jovens. A altura de bifurcação encontrada é problemática, pois a grande maioria está
abaixo dos padrões técnicos que recomendam altura mínima de 1,8m. Sugere-se a adoção de
podas de levantamento de copa para as árvores já implantadas nas ruas.
Para os novos plantios, sugere-se estabelecer um padrão de qualidade das mudas
referente a altura e diâmetro. Não foram detectados problemas significativos com relação a
pragas e doenças, porém foram observados vários danos físicos e até mesmo podas drásticas.
Dessa maneira, recomenda-se a adoção de programas de educação ambiental no município
para maior conscientização da população a respeito da importância das árvores no meio
urbano.
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AGRADECIMENTOS
À Fundação Neotrópica do Brasil e à Prefeitura Municipal de Bonito, pelo apoio
financeiro e oportunidade de realização desta pequisa.
REFERÊNCIAS
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BOBROWSKI, R.; BIONDI, D; BAGGENSTOSS, D. Composição de canteiros na arborização
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